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UNIVERSIDADE CESUMAR - UNICESUMAR CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIOMEDICINA

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UNIVERSIDADE CESUMAR - UNICESUMAR CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA

SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIOMEDICINA

ANÁLISE DE INTOXICAÇÃO POR BENZENO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

CAMILA RODRIGUES THOM MARIA LUIZA FRÓES DA MOTTA DACOME

MARINGÁ - PR 2020

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Camila Rodrigues Thom Maria Luiza Fróes da Motta Dacome

ANÁLISE DE INTOXICAÇÃO POR BENZENO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Biomedicina da Universidade Cesumar – UNICESUMAR como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel(a) em Biomedicina, sob a orientação do Prof. Dr. Rogério Aparecido Minini dos Santos.

MARINGÁ – PR 2020

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FOLHA DE APROVAÇÃO CAMILA RODRIGUES THOM

MARIA LUIZA FRÓES DA MOTTA DACOME

ANÁLISE DE INTOXICAÇÃO POR BENZENO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Biomedicina da Universidade Cesumar – UNICESUMAR como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel(a) em Biomedicina, sob a orientação do Prof. Dr. Rogério Aparecido Minini

dos Santos

Aprovado em: de _ de .

BANCA EXAMINADORA

Nome do professor – (Titulação, nome e Instituição)

Nome do professor - (Titulação, nome e Instituição)

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ANÁLISE DE INTOXICAÇÃO POR BENZENO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Camila Rodrigues Thom Maria Luiza Fróes da Motta Dacome

RESUMO

O benzeno é um hidrocarboneto utilizado em diversos processos ocupacionais, como em indústrias petroquímicas, borracharias, siderúrgicas e postos de gasolina. Esse xenobiótico é conhecido pelo seu potencial cancerígeno e hematotóxico. A população mais exposta se refere aos trabalhadores que atuam diretamente com o benzeno. Devido a exposição, tais indivíduos podem sofrer desde redução de células sanguíneas, até danos histológicos e mutações. O trabalho tem como objetivo a identificação das alterações crônicas e agudas da intoxicação, alterações a nível de DNA, a análise dos tipos de biomarcadores utilizados, epidemiologia e legislação sobre o benzeno. Para a realização desse trabalho, propusemos uma metodologia que se baseia em uma revisão bibliográfica, pautada em artigos publicados nas últimas duas décadas, selecionada de acordo com sua relevância para os objetivos traçados. Os resultados obtidos confirmam que ao longo da exposição, trabalhadores podem apresentar pancitopenia, alterações cromossômicas, desenvolvimento de leucemias e que existem novos biomarcadores mais confiáveis para detecção da exposição ao xenobiótico. As observações mostraram que as células brancas tendem a ser as mais afetadas, o biomarcador ácido trans-trans mucônico pode sofrer muitas interferências externas, ao tornar-se um marcador com baixa sensibilidade para exposição de pequenas doses. Os boletins epidemiológicos, juntamente com as pesquisas, afirmam que, a longo prazo, o benzeno pode levar ao aparecimento de leucemias, porém a forma em que o xenobiótico atua no organismo não está completamente clara. É importante citarmos que contamos apenas com o uso de equipamentos individuais de proteção, supervisão ambiental, fiscalização e exames regulares para evitarmos a intoxicação.

Palavras-chave intoxicação, benzeno, toxicologia

BENZENE INTOXICATION ANALYSIS: A LITERATURE REVIEW ABSTRACT

Benzene is a hydrocarbon used in several occupational processes, like the petrochemical industry, tire shops, steelworks and gas stations. This xenobiotic is known for its carcinogenic and hematotoxic potential. Workers that deal directly with benzene are the most exposed population, being able to suffer from decrease of blood cells, histologic damage and mutations. This research has its goals in identifying the chronic and acute effects caused by the intoxication; concerning DNA

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Alterations; analyze the most used biomarkers; epidemiological data and legislation about benzene. To carry out this work, we proposed a methodology that is focused on a bibliographic review, based on articles published in the last two decades, selected according to its relevance to the objectives already presented. The results confirm that through this long term exposition, workers may present pancytopenia, chromosomal alteration, leukemia development and that there are new biomarkers that are more reliable to detect the xenobiotic exposition. The results also show that white blood cells are the most affected, the biomarker trans-trans muconic acid may suffer external interference, making it a marker with low sensibility for low exposure dose and the epidemiological data associated with researches confirms that in a long term exposure benzene may lead to the development of leukemia, however, the process in which the xenobiotic works in the body is still not clear. It is important to mention that we only counted with individual protection equipment, ambiental supervision, oversight and regular exams to avoid intoxication.

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1 INTRODUÇÃO

O benzeno é um líquido incolor, volátil e de alta solubilidade, utilizado há muitos anos em diversos processos ocupacionais, ao ser as principais fontes de exposição em: indústrias petroquímicas - durante o processo de transferência e estocagem de produtos –, em siderúrgicas que utilizam carvão mineral e no transporte, estocagem e manuseio de gasolina (OGA, 2014).

As áreas que mais concentram esse composto no ar são regiões de postos de combustíveis, locais de alto fluxo automotivo próximos a locais de armazenamento e transporte de petróleo (REGO; BARBOSA, 2011). Em vista disso, a via respiratória é extremamente importante para a instalação do quadro de intoxicaçao, já que os alvéolos possuem uma grande área de contato, ao facilitarem a entrada do benzeno. (MILITÃO; RAFAELI, 2000).

Quando o benzeno é introduzido no organismo humano por meio da inspiração, 50% do composto é eliminado pelas vias aéreas e o restante é absorvido e metabolizado de modo a, então, ser distribuído pelos tecidos (NASCIMENTO, 2008).

Sua biotransformação é muito importante, visto que os metabólitos formados nesse processo são os principais responsáveis por sua toxicidade. Essa metabolização ocorre principalmente no fígado, em que será convertido em óxido de benzeno pela ação das enzimas do citocromo p450. A partir desse momento, a maior parte do óxido de benzeno é transformada naturalmente em fenol, que pode ser excretado, ou que então sofrerá a ação da enzima CYP2E1, ao formar a hidroquinona, que, posteriormente, pela ação da MPO dará origem a 1,4 benzoquinona. Já a menor parte do óxido de benzeno será quebrada, ao dar origem ao catecol e a 1,2- benzoquinona. Parte da metabolização se passa também na medula óssea, em que as substâncias mais tóxicas, como a quinona, são originadas, ao efetuar-se uma função importante nesse processo. (NOGUEIRA, 2016).

Outros metabólitos são formados ao longo desse processo, ao sofrerem a ação de outras enzimas importantes. O ácido trans-trans mucônico (ATTM) e o ácido S- fenilmercaptúrico (SPMA) são exemplos de compostos formados, que futuramente serão excretados pelos rins junto a outros metabólitos, como o fenol. (NOGUEIRA,.2016,.Figura.1).

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7 O benzeno em sua forma íntegra também é encontrado na urina, porém em uma concentração muito pequena. (GIARDINI, 2016).

Figura 1: Representação esquemática do metabolismo do benzeno no fígado.

Fonte: Santos et al. (2017) Segundo Gross e Paustenbach (2017), o termo “envenenamento por benzeno” tem sido utilizado para determinar anomalias específicas em sangue periférico de trabalhadores expostos a grandes concentrações de benzeno no ar, ao poder levar a diminuição de glóbulos brancos, células vermelhas e plaquetas, ou simplesmente levar a aparição de padrões específicos de anormalidades, como o cansaço, a susceptibilidade a doenças e a dificuldade de se recuperar destas.

Os metabólitos produzidos interferem na medula por meio da diminuição das células precursoras e ainda indiferenciadas, ao poder alcançar qualquer estágio do desenvolvimento celular; por danos ao estroma medular (hemorragias, fibrose, edema e necrose) que contribuem para a formação celular normal; e ainda por lesões cromossômicas no DNA celular, ao causar uma expansão clonal dessas células acometidas. (MOURA, et al., 2016).

Por se tratar de um composto que já demonstrou o ocasionamento de vários problemas à saúde dos trabalhadores, esse trabalho tem como objetivo realizar um levantamento bibliográfico de modo a analisar os aspectos de intoxicação e os efeitos causados pelo benzeno.

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2 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do presente trabalho foi realizado um levantamento bibliográfico, entre o período de 2000 a 2020, porém dêmos preferência às pesquisas publicadas mais recentemente. As plataformas utilizadas como fonte de acervo foram o Google Acadêmico e o Pubmed, em que foram buscados trabalhos que tivessem produções relacionadas ao tema benzeno e associado à: gasolina, leucemia e biomarcadores.

Tabela 1: Quantidade de artigos encontrados, entre os anos de 2000 a 2020, para cada plataforma e tema utilizados para a pesquisa.

Plataforma Benzeno Benzeno +

Gasolina Benzeno + Biomarcadores Benzeno + Leucemia PubMed 36.249 4.393 856 642 Google Acadêmico 16.500 5.820 1.300 2.330 Total 52.749 10.213 2.156 2.972

A pesquisa foi iniciada com a procura de artigos acerca do tema “benzeno”, posteriormente filtramos a seleção de artigos pela associação do tema “benzeno e gasolina”, pois este é um composto presente no combustível e muitos trabalhadores de postos de gasolina estão susceptíveis a intoxicação. No entanto, durante a leitura dos artigos, encontramos pesquisas que não se limitavam apenas a este grupo de trabalhadores. Após uma leitura geral, foram coletados artigos que analisavam a comparação de vários grupos de estudo além dos trabalhadores de postos de gasolina, como motoristas de ônibus e policiais.

Os biomarcadores, frequentemente utilizados para análise de exposição ao benzeno são o ATTM, SPMA, entre outros, mas novamente concluímos que, para fins científicos, seria interessante a análise de um comparativo entre os marcadores

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urinários mais utilizados para elucidar qual seria o mais relevante para a observação de exposição.

Frequentemente, a associação do benzeno com a leucemia foi questionada, os trabalhos selecionados estão de acordo com os dados epidemiológicos da relação benzeno e leucemia, as possíveis alterações hematológicas a curto e longo período e se há um meio de ação em que a exposição ao benzeno pode levar ao desenvolvimento de leucemias.

Por fim, foram escolhidos 34 artigos para o desenvolvimento desse trabalho. Os artigos foram selecionados de acordo com a sua relevância para os objetivos delimitados, como as alterações agudas, crônicas e os biomarcadores mais utilizados.

3 DISCUSSÕES

3.1 INTOXICAÇÃO AGUDA

A intoxicação por esse xenobiótico pode ocorrer em múltiplos órgãos, e tecidos (MOREIRA; GOMES, 2011), ao se apresentar de duas formas: aguda e crônica. Na forma aguda o indivíduo é exposto a uma dose alta do composto, ao ocorrer principalmente sinais e sintomas neurológicos, como: astenia, mialgia, sonolência, tontura, cefaleia e náuseas, sendo que nessas intoxicações mais leves as alterações são rapidamente reversíveis. Em casos mais graves, devido à exposição a uma concentração mais significante, apresentam convulsões, delírios, perda de consciência, arritmias e parada respiratória, ao poderem até chegar a óbito (MILITÃO; RAFAELI, 2000). São relatados casos fatais com exposição a concentrações de 20.000 ppm em torno de cinco minutos. Entretanto, se a vítima sobrevive, observa-se o aparecimento de sequelas (zumbido, cefaleia, dispneia, nistagmo etc.) (NASCIMENTO, 2008).

Nos primeiros momentos da intoxicação é ainda possível observar algumas mudanças quantitativas e qualitativas nas séries sanguíneas, que também podem ser reversíveis, como macrocitose, pontilhado basófilo, pseudo pelger e a depressão de um ou dois setores celulares, ao possuírem a leucopenia como a manifestação mais intensa (MOREIRA; GOMES, 2011), o que traz como um dos principais sintomas o surgimento de infecções recorrentes (LIMA, 2015). A e x p o s ic a o a o b e n zeno t a m b é m p r o v o c a ir r it a co es n a s m u c o s a s dos olhos, da pele, e até mesmo do pulmão, ao ser capaz de gerar edema pulmonar e hemorragias nas vias respiratórias

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10 (SANTOS, 2012). Tais sintomas nem sempre surgem agudamente, alguns aparecem após o afastamento da exposição ao benzeno (BONATES, et al., 2010).

3.2 INTOXICAÇÃO CRÔNICA

Na intoxicação crônica, a exposição ocorre por um longo período, mediante o contato com uma concentração mais baixa (MOURA, et al., 2016). Nesses casos, os efeitos importantes observados são a mielotoxicidade, que são alterações do tecido hematopoiético e a genotoxicidade, ao produzir seu efeito carcinogênico (NASCIMENTO, 2008). Nessa forma de exposição, os sinais e sintomas neurológicos não são tão evidentes (MOURA, et al., 2016), porém alguns sintomas podem aparecer (NASCIMENTO, 2008).

A neurotoxicidade do benzeno decorre de sua característica lipofílica, que permite a sua entrada no sistema nervoso central (GÓES, 2013). A exposição aguda provoca tonturas, tremores, cefaleia, dificuldade respiratória, sonolência após excitação etc. Já na intoxicação crônica podem ser observadas disfunções neurológicas e neuropsicológicas, como: alterações de memória, humor, capacidade motora, visão, raciocínio, linguagem e aprendizagem. (NOGUEIRA, 2016). Segundo Góes (2013), a presença das enzimas do citocromo p450 no encéfalo podem levar a produção de catecol (derivado da metabolização do benzeno) no SNC, substância que pode estar associada a patologias neurodegenerativas.

Um estudo realizado por Barreto (2005), demonstrou que a adição de catecol no cérebro de ratos resultou em uma redução da respiração mitocondrial das células neurais, sua respiração basal foi inibida em 44% quando 1mM de catecol foi incubado com a amostra homogênea do cérebro dos animais por 15 minutos. Ao supormos, então que o mecanismo dessa alteração se dá pela capacidade do catecol inibir a transferência de elétrons entre o complexo ll e o complexo lV da cadeia respiratória. Sugerimos que essa seria uma das formas em que o catecol induz a citotoxicidade.

Alguns fatores que podem estar relacionados a neurodegeneração causada pelo catecol são: capacidade de auto-oxidativa, ao produzir radicais livres e quinona (substâncias potencialmente tóxicas); polimorfismos da catecol O- metiltransferase; disfunções mitocondriais e acúmulos de proteínas mal dobradas, porém pouco se sabe desse metabólito no SNC (BARRETO, 2005).

De acordo com uma pesquisa realizada por Pereira et al. (2004) para determinação dos efeitos tóxicos do catecol em células da glia, é provável que ele exerça citotoxicidade principalmente pela formação de superóxido e quinonas por meio de auto-oxidação. Já em outro artigo publicado em 2014, por Bahadar et al.,

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11 foram apresentados estudos em animais, dessa maneira os ratos eram expostos a diferentes concentrações do benzeno por duas horas durante 30 dias. Em concentrações de 39,9 e 9.9 mg/m3 foi observado que o benzeno causava um decréscimo nos níveis de acetilcolinesterase comparado ao grupo controle. Contudo, ainda é cedo para afirmarmos que, por meio desse mecanismo, o benzeno possa contribuir para doenças como o Alzheimer.

Ao tratarmos do sistema auditivo, podemos observar perturbações no processamento da audição, aparecimento de zumbidos, vertigens e perda auditiva (CINTRA, 2016). Segundo estudiosos, o contato com solventes orgânicos no geral aumentam a possibilidade de se desenvolver hipoacusia, por meio da alteração das células ciliadas presentes no órgão de corti (SANTOS, ALMEIDA, 2018). Segundo uma revisão bibliográfica realizada para analisar a ototoxicidade e os hidrocarbonetos contidos na gasolina, o benzeno não apresentou alteração significante nas células ciliadas de ratos. Porém, devido à insuficiência de pesquisas em cima desse assunto, não é possível se concluir algo (SILVA, et al., 2018).

Algumas alterações oftalmológicas como dificuldade na distinção das cores e alteração do campo de visão também foram observadas (SANTOS, ALMEIDA, 2018). De acordo com Campos (2018), um estudo feito em trabalhadores de postos de combustíveis cronicamente expostos a mistura de solventes orgânicos (benzeno, tolueno e xileno), demonstra que mais de 70% apresentaram espessamento da retina e 5 pessoas apresentaram perda da discriminação das cores.

O efeito mielotóxico é o mais significante, ao produzir um decrescimento global nas células da medula óssea (REGO; BARBOSA, 2011). Essa redução se manifestará em todas as linhagens celulares, ao caracterizar uma pancitopenia (diminuição dos eritrócitos, trombócitos e leucócitos). Porém, o fenômeno mais frequente em casos de intoxicação é a linfocitopenia e a neutropenia (NASCIMENTO, 2008), em que as células granulocíticas são as mais acometidas (MOREIRA, GOMES, 2011). Em casos mais extremos, essa hipoplasia generalizada pode permitir que o indivíduo desenvolva um quadro de anemia aplásica (NASCIMENTO, 2008), o que já é um quadro irreversível (MAIORQUIN, 2020).

Como consequência desses efeitos no tecido hematopoiético, tem-se o aparecimento de algumas alterações periféricas, como: anemia, macrocitose, eritroblastos, policromasia, pontilhados basófilos etc. Além disso, o aparecimento de eosinofilia, monocitose, e alterações qualitativas do setor megacariocítico (micromegacariócitos e megacariócitos hipotróficos) associados com a hipocelularidade generalizada, apontam para uma lesão histológica medular

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12 (MOREIRA, GOMES, 2011).

3.3 DNA E O BENZENO

Outra consequência importante é a genotoxicidade do benzeno, ao apresentar como maior efeito o desenvolvimento de leucemias, e dentre todas elas a mais frequente é a mieloide aguda, fato que foi corroborado por meio da análise epidemiológica (MILITÃO, RAFAELI, 2000). Ademais, a toxicidade do benzeno está associada também ao desenvolvimento de outras doenças, como linfoma não-hodgkin, mieloma múltiplo e mielofibrose (CINTRA, 2016). Estudos concluem que a rota final dos metabólitos do benzeno é a medula óssea, em que essas substâncias causam o seu efeito tóxico, ao interagirem com os cromossomos e prejudicarem a mitose (LIMA, 2015).

Os danos ao DNA são vários, provocam modificações cromossômicas ao material genético das células hematopoiéticas, que podem ser identificadas por meio de exames de citogenética. As anomalias que aparecem com mais frequência são mutações numéricas e cromossômicas: trissomias, monossomias e poliploidias, cromossomos dicêntricos e fragmentos acêntricos, aumento de intercâmbio entre segmentos de cromátides irmãs, aumento do número de cromossomos do grupo C, clastogênese e cariótipo pseudodiplóide (MILITÃO, RAFAELI, 2000). Tais mutações conseguem atingir qualquer uma das células produzidas na medula e em qualquer uma de suas fases de desenvolvimento (LIMA, 2015).

Um dos mecanismos conhecidos que os intermediários do benzeno possuem para danificar o DNA é a capacidade de inibir a enzima topoisomerase ll, que tem grande importância na etapa de replicação e reparo genético, ao interromper o processo em certos momentos. Portanto, o bloqueio desta gera um aumento da divisão celular, ao favorecer o desenvolvimento de leucemias (LIMA, 2015).

Estudos mostram, também, que a maior parte das enzimas envolvidas no processo de metabolização do benzeno são altamente susceptíveis a sofrerem polimorfismos, que são mudanças das bases nitrogenadas nos genes que codificam as enzimas, ao levarem a alteração em seus funcionamentos. O que pode resultar na redução ou aumento da sua atividade, o que, assim, interferiria na concentração dos intermediários do benzeno. Existem evidências que demonstram a ideia de que os indivíduos que sofreram essa exposição possuem concentrações diferentes dos biomarcadores do benzeno, ao corroborar para o fato citado acima (NOGUEIRA, 2016).

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13 superfamília CYP (a principal operante é a CYP2E1), MPO (mieloperoxidase), GSTs (Glutationa-S-transferase) e a NQO1. A CYP2E1 catalisa uma reação que resulta na formação do catecol, porém o polimorfismo presente em seu gene gera o aumento de sua ação, ao fazer com que haja um acúmulo maior desse metabólito, o que, assim, expande a sua toxicidade. A MPO apresenta uma modificação em suas bases nitrogenadas, ao gerar uma redução de sua atividade e por sua função resultar na produção de metabólitos mais tóxicos, o risco é menor em relação a uma consequência pior. A NQO1 também tem sua ação reduzida, porém isso acarreta para uma maior ação tóxica, já que sua função é diminuir esses metabólitos mais perigosos. E, por último, a GST, que é uma das principais enzimas que fazem a eliminação de substâncias tóxicas do organismo, tem sua atividade anulada (NOGUEIRA, 2016).

Outro meio pelo qual os intermediários do benzeno atuam na medula óssea causando sua toxicidade, é através de ligações feitas entre essas substâncias e algumas moléculas importantes como proteínas e o DNA (CINTRA, 2016). A quantidade de espécies reativas de oxigênio (EROS) formada em excesso durante a metabolização do benzeno é também um fenômeno importante, em vista que esses radicais livres atuam ao danificarem proteínas, lipídeos e material genético. Consequentemente, alteram as funções biológicas, vias de sinalização e desencadeiam em uma instabilidade do equilíbrio corporal (SAUER, 2018). Além de produzir diversas modificações cromossômicas sérias, que acreditamos ser em genes específicos para divisão e diferenciação celular, ao ser um dos possíveis fatores que contribuem para o desenvolvimento de leucemias (GONÇALVES, 2008).

A exposição ao benzeno, em níveis menores que 1 p.p.m., também foi relacionada à aneuploidias dos cromossomos X, Y e 21 no esperma (SANTOS, ALMEIDA, 2018). Em 2012, um estudo realizado por Marchetti et al., selecionou trabalhadores de fábricas que utilizavam cola que continha benzeno para a produção de sacolas, sapatos e lixas. E, por meio da análise do esperma destes indivíduos, detectaram aberrações cromossômicas estruturais no cromossomo 1, também em concentrações menores que 1 p.p.m, porém as aneuploidias não foram encontradas neste.

As deleções e duplicações cromossômicas detectadas possuem dois mecanismos possíveis: indução de quebras do DNA durante a meiose, o que resulta em uma separação aleatória dos cromossomos, ou pelo dano causado no DNA das espermatogônias, o que impacta em rearranjos cromossômicos. As alterações cromossômicas geradas pelo segundo mecanismo representam danos persistentes ao indivíduo, já que as células precursoras dos espermatozóides podem durar por muito tempo no organismo do homem. No entanto, mais estudos precisam ser realizados para que possamos realizar a distinção em relação a qual dos dois

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14 mecanismos prevalecem. (MARCHETTI, et al., 2012).

A causa dos efeitos da intoxicação se dá principalmente pelos metabólitos do benzeno, porém a forma que atuam ainda não foi bem esclarecida. Contudo, sabemos que os polimorfismos das enzimas que surgem, ao alterarem a concentração dos metabólitos no corpo, e a dose de benzeno introduzida no organismo são de grande importância no quadro de intoxicação e no que diz respeito aos efeitos produzidos. (LIMA,2015; NOGUEIRA, 2016)

3.4 BENZENO E A LEGISLAÇÃO

Os sinais e sintomas manifestados não são exclusivos do benzeno, ao aparecerem, também, com outras substâncias (NASCIMENTO, 2008). Portanto, o reconhecimento da intoxicação pelo benzeno é dado por um conjunto de informações, que envolvem a clínica do paciente, exames hematológicos, história ocupacional e epidemiológica, ao poderem também ser realizada a investigação por meio de exames de medula óssea (MOREIRA, GOMES, 2011).

Diante dessas manifestações, não há um valor seguro de referência. O padrão é o estado normal do indivíduo (NASCIMENTO, 2008). Logo, trabalhadores que possuem contato com o benzeno e apresentam leucopenia isolada, ou acompanhada de anormalidades hematológicas, são classificados como suspeitos de possuírem lesão medular e caso essas alterações não sejam justificadas por outras patologias, a intoxicação é confirmada (MOREIRA, GOMES, 2011).

Após o diagnóstico de intoxicação, o distanciamento da fonte de exposição deve ocorrer imediatamente (MILITÃO, RAFAELI, 2000), a assistência médica deve ser contínua e por um longo período (MOREIRA, GOMES, 2011), ao buscar tratar os sintomas e fazer o monitoramento, já que a interferência medicamentosa específica não existe (MILITÃO, RAFAELI, 2000). É possível a remissão das alterações hematológicas periféricas após o afastamento, porém não significa uma recuperação completa (MOREIRA, GOMES, 2011), ao necessitar ainda de acompanhamento médico uma vez que manifestações tardias podem se desenrolar (NASCIMENTO, 2008).

Ao termos em vista todo o risco que envolve a exposição a esse agente tóxico, a maneira mais efetiva de se ter uma proteção é através de medidas preventivas (MILITÃO, RAFAELI, 2000). Ao prezar pela segurança dos trabalhadores, deve-se admitir ações de proteção individual, como o uso de máscaras, óculos, roupas impermeáveis, além da realização periódica de exames hematológicos (BONATES, et al., 2010). É igualmente importante à supervisão ambiental, ao objetivar a segurança coletiva, com a adoção de medidas que diminuam ou extingam o agente tóxico no

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15 local de trabalho, tal como: esquemas de ventilação.instruções de higienização, fiscalização sobre as concentrações da substância, separação de áreas, entre outras. Como também medidas que proporcionem a mínima exposição dos indivíduos por meio de redução do número de pessoas e da carga horária de trabalho. (MOREIRA, GOMES, 2011).

A fiscalização nesses locais é feita por meio do uso de dosímetros individuais posicionados na área respiratória dos funcionários e por meio de amostras de regiões onde há maior probabilidade de se ter um nível elevado de emissão do composto, coletadas no fim de cada período. E, assim, são levadas ao laboratório para que possam ser analisadas (REGO, BARBOSA, 2011). De acordo com o anexo 13-A da NR nº 15 adicionado através da portaria MTb nº 14, de 20 de dezembro de 1995, inclui-se o valor de referência tecnológico (VRT), que condiz com a concentração média de benzeno no ar em um turno de trabalho de 8 horas. Em que as quantidades limites determinadas são: 2,5 ppm para siderúrgicas, e 1 ppm para outros estabelecimentos englobados pelo acordo (NR 15- Atividades e operações insalubres).

Apesar de tudo, os estabelecimentos que possuem contato com o benzeno, comumente não possuem conhecimento claro sobre os riscos e deixam de cumprir as normas de segurança. São, também, acompanhados por falhas de monitoramento ou uso inadequado dos equipamentos de proteção individual (NASCIMENTO, 2008). Conforme a NR 09- anexo II, incluído pela portaria nº 1.109, de 21 de setembro de 2016, os trabalhadores que realizarem tarefas como: descarregamento do produto, medição do tanque, limpeza e manutenção dos equipamentos, entre outros, devem utilizar máscaras com filtro para vapores orgânicos e proteção para a pele. Entretanto, em atividades principalmente como abastecimento de veículos, o uso desses equipamentos são dispensados (NR 09- programa de prevenção de riscos ambientais).

Em questão da concentração do benzeno nos produtos, a portaria interministerial N.º 03, de 28 de abril de 1982 declara que é proibida, em território nacional, a fabricação de produtos que contenham o benzeno em concentrações maiores que 1%. No entanto, ele ainda é encontrado em concentrações não permitidas em alguns produtos no mercado. (NASCIMENTO, 2008).

Em razão de sua alta probabilidade de causar danos ao organismo, em 1987 o benzeno foi classificado pela International Agency for Research on Cancer-IARC em grupo 1, ao ser reconhecido como uma substância carcinogênica para o homem (LIMA, 2015). Já no Brasil, seu reconhecimento como substância carcinogênica possibilitou, em 1995, o surgimento do acordo do benzeno, que objetiva a proteção da saúde do empregado, ao conter um conjunto de normas que visam a prevenção da exposição ocupacional dos indivíduos. A partir disso, foi criada a Comissão Nacional permanente

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16 do Benzeno (CNPBz). Trata-se de uma comissão responsável por discussões e acompanhamento de projetos e acordos para prevenção da exposição ao benzeno (Acordo e legislação sobre o benzeno). Entretanto, por meio da portaria Nº 972, de 21 de agosto de 2019, o atual presidente destituiu a CNPBz e também outras que visavam a proteção da saúde dos trabalhadores. Com o fim dessas comissões, podemos apenas especular qual será o impacto na qualidade de vida dos trabalhadores.

3.5 EPIDEMIOLOGIA

Segundo Correa et al. (2017), o boletim epidemiológico de julho/2017 – Edição nº 12, ano VII, entre os anos de 2006 e 2011 no Brasil, aconteceram 21.049 óbitos por leucemia. Deste número, 1.917 faziam parte do grupo de trabalhadores potencialmente expostos ao benzeno. Com o cálculo do coeficiente médio anual de mortalidade, chega-se à conclusão de que, entre os indivíduos expostos, as chances de morrerem por leucemia era 73% maior quando comparada ao grupo de trabalhadores não expostos ocupacionalmente.

O manual de procedimentos para os serviços de saúde, elaborado pelo Ministério da Saúde em 2001, apresentou estudos epidemiológicos de avaliação de risco realizados pela Occupational Safety and Health Administration (OSHA) ao divulgarem que dentre 1000 trabalhadores expostos a um nível de 10 p.p.m, 95 chegaram a óbito devido ao desenvolvimento de leucemia, e, ainda, destacaram que, quando expostos em 1p.p.m, o número de trabalhadores que desenvolveram leucemia caiu para 10 em cada 1000 (Ministério da Saúde, 2001).

Em 2001, o departamento da Pennsylvania de Proteção ao Meio Ambiente, documentou que, em meados de 1993, uma grande quantidade de gasolina começou a vazar de um tanque armazenado no subterrâneo, posteriormente foi identificado como propriedade de um estabelecimento de gasolina. Esse incidente levou à contaminação dos lençóis freáticos e filtrado para o sistema sanitário.

À medida que o vapor da gasolina migrava através do sistema de esgoto, alguns residentes relataram que sentiam o cheiro do vapor em suas casas. Esses residentes da área afetada (cidade de Hazleton) entraram em observação, com o foco para investigação de leucemias devido a exposição crônica a esses vapores. Um total de 625 pessoas da região afetada foram analisadas ao longo dos anos (1995 até 2001), em que 5 delas desenvolveram leucemia e 3 destes foram identificados para leucemia mielóide aguda. Concluiu-se, portanto, que houve um elevado risco de desenvolvimento de leucemias entre os residentes da comunidade exposta durante o período após o vazamento. Esses resultados sugerem a possível associação entre a exposição crônica aos baixos níveis de benzeno e o aumento do risco do desenvolvimento de leucemias. (TALBOTT, et al. 2011).

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17 Na Noruega foi desenvolvido uma pesquisa em trabalhadores de plataformas de petróleo para examinar o risco de câncer de origem linfo hematopoiética. Foram estudados em torno de 25.000 trabalhadores, em que a grande maioria sofre de exposição por mais de 15 anos. Foram registrados 112 cânceres durante o período de 1999 a 2011 no grupo dos trabalhadores que reportaram a atuação prévia nas plataformas de petróleo durante os anos de 1965 e 1999. Foi observado que há evidências de risco em relação à dose de acordo com o acúmulo da exposição para leucemia mielóide, mieloma múltiplo e para leucemia linfocítica crônica. (STENEHJEM, 2015).

Como já mencionado acima, os boletins epidemiológicos reportam que os indivíduos expostos possuem maiores chances de desenvolverem leucemias e irem a óbito pela doença, as pesquisas de campo reforçam que novas pesquisas são necessárias para elucidar a forma como o benzeno atua no organismo para desenvolvimento de doenças hematológicas.

3.6 PESQUISAS DE CAMPO

3.6.1 MARCADORES HEMATOLÓGICOS

Em 2016, D’andrea e Reddy promoveram uma avaliação de pessoas fumantes expostas e não expostas ao benzeno em uma refinaria. A contagem de células brancas se mostrou significativamente maior em pessoas expostas ao benzeno do que as não expostas. Similarmente, a contagem de plaquetas também se mostrou maior em pessoas expostas comparada com o grupo não exposto. Os valores de hemoglobina e hematócrito demonstraram-se semelhantes nos dois grupos.

Na pesquisa realizada por Bassig et al. (2016) foi relatado que, durante a contagem de células brancas, houve uma queda significativa em trabalhadores expostos ao benzeno, tanto na diminuição de linfócitos totais, quanto, especificamente, de células TCD4+, células B e NK. A mesma pesquisa também relatou que houve diminuição de todas as células de origem mielóide em aos trabalhadores expostos ao benzeno comparado com pessoas não expostas. Liang et al. (2018), realizaram uma investigação de pessoas expostas e observaram um aumento significativo de plasminogênio circulante no sangue de pessoas expostas a baixas doses e a uma contagem anormal de células brancas.

Chen et al. (2019), em um estudo comparativo de pessoas expostas e não expostas ao benzeno, pesquisaram se havia diferença na expressão do lncRNA (RNA longo não codificante) que estão relacionados a vários processos biológicos como autofagia e apoptose, ao estudarem, mais precisamente, o lncRNAVNN3, que teve sua expressão aumentada em pessoas expostas ao benzeno. O estudo analisou a

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18 correlação entre a expressão do lncRNAVNN3 e os linfócitos, indicando que o lncRNAVNN3 mediado pelo benzeno induz a uma hematotoxicidade e que também está correlacionado a indução de autofagia e apoptose anormal. Esses achados sugerem que o lncRNAVNN3 pode ser um possível biomarcador para vigilância de exposição ao benzeno. Verificou-se, também, que o grupo de trabalhadores expostos e não expostos não tiveram diferenças significantes na contagem de células brancas, neutrófilos e alanina transaminase (ALT). Porém, notaram que plaquetas e linfócitos tiveram uma redução significativa no grupo de pessoas expostas.

Logo, conclui-se que pessoas que sofreram de intoxicação pelo benzeno, tiveram pelo menos uma linhagem hematológica alterada, ao ser a linhagem de células brancas a mais comumente afetada. (BASSIG et al, 2016; D’ANDREA, REDDY,2016; MOREIRA, GOMES, 2011). Como consequência dessas citopenias, os indivíduos expostos possuem manifestações clínicas como anemias, maior susceptibilidade a infecções, sangramentos, entre outros sintomas. (LIMA, 2015; SANTOS, 2012). Em casos mais extremos, a pancitopenia que se instala traz efeitos muito mais graves à saúde do trabalhador, como o desenvolvimento de anemia aplásica. (NASCIMENTO, 2008)

3.6.2 BIOMARCADORES URINÁRIOS

Os metabólitos mais comumente encontrados na urina são: fenol, ácido trans,trans-mucônico (ATTM) e o ácido ácido s-fenilmercaptúrico (SPMA) (WEISEL, 2010), em que na grande maioria das vezes, os dois últimos metabólitos são utilizados para pesquisa de exposição ao benzeno por meio da amostra de urina. Porém, alguns autores sugerem que o benzeno urinário (U-Be) é um marcador sensível e específico para monitoramento biológico (FUSTINONI, BURATTI, CAMPO et al.,2005).

Fustinoni et al. (2005) realizaram uma pesquisa para avaliar os biomarcadores de baixa exposição, ao ser eles o ATTM, SPMA e U-be. Os grupos de estudo foram divididos de acordo com o tipo de trabalho, local e hábitos de fumar. Foi observado que o biomarcador U-be estava presente em amostras de todos os grupos de estudo, porém em maior quantidade nos atendentes de postos de gasolina. As amostras do grupo de fumantes também indicaram uma presença elevada de U-be. Não foram detectados os marcadores ATTM ou SPMA em nenhum dos grupos de estudo.

Forsell, Liljelind, Ljungkvist et al. (2019) analisaram a exposição ao xenobiótico entre tripulações de convés na Suécia através do ar alveolar e biomarcadores urinários, ao ser estes o U-be e o ATTM. A tripulação, durante a pesquisa, foi separada em grupos de pessoas que desempenhavam tarefas que estavam diretamente expostas, trabalhadores não expostos, fumantes e não fumantes. Novamente, foi comprovado que houve um aumento significativo de U-be em fumantes em relação ao grupo de não

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19 fumantes nas amostras coletadas antes do expediente. Os dados indicaram, também, que houve um grande aumento de U-be durante o expediente entre o grupo não exposto, mas que trabalham no mesmo local de trabalho, ao mostrarem que também estão susceptíveis a intoxicação. O ATTM pré-expediente, em comparação às amostras pós expediente em trabalhadores não expostos e expostos, não apresentou grandes variações.

O ATTM é o biomarcador urinário mais utilizado, porém, algumas pesquisas alegam se é válido seu uso em pesquisas de baixos níveis de exposição, já que este também é um metabólito do ácido ascórbico e está presente em conservantes muito utilizados na comunidade. Em 2016, uma pesquisa no Irã abordou esse questionamento, o ATTM foi dosado em diversos trabalhadores, como trabalhadores de uma empresa química, policiais e civis da área urbana e rural da mesma cidade. O ATTM foi encontrado em todas as urinas de todos os grupos da pesquisa, em que o grupo de trabalhadores da empresa química apresentaram valores três vezes acima do valor de referência recomendado pela ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) e também pelos parâmetros do Irã. Ao considerarmos os resultados de exposição e a concentração de ATTM nos quatro grupos de estudo, inclusive em pessoas que não trabalhavam ou estavam diretamente expostas ao xenobiótico, concluiu-se que o ATTM não deveria ser utilizado como um marcador confiável para baixas doses de exposição (JALAI, RAMEZANI, EBRAHIM, 2016). Logo, conclui-se que o ATTM não deveria ser utilizado como um marcador confiável para baixas doses de exposição.

Por estarem relacionados às concentrações do benzeno menores que 1p.p.m. no ambiente, o ATTM e o SPMA são os melhores biomarcadores para serem utilizados no Brasil. O ácido s-fenilmercaptúrico é um metabolito muito específico, porém sua baixa concentração na urina requer equipamentos mais sensíveis e, consequentemente, mais caros para sua detecção. Dessa maneira, o ATTM, apesar de sua limitação, é o biomarcador empregado no Brasil, ao ter estabelecido um valor de referência de 0,2 mg/g de creatinina devido aos interferentes presentes em nossa vida. (SANTOS, et al. 2017).

Um estudo realizado por Maiorquin (2020) teve como objetivo analisar a quantidade de ATTM presente na urina de 58 trabalhadores de postos de combustíveis, em que a grande parte não fazia uso de nenhum equipamento, para avaliação da eficiência do uso dos EPIs. Foi realizado um ensaio experimental randomizado, ao serem selecionados, aleatoriamente, 30 frentistas para que fizessem o uso dos equipamentos de proteção individual durante 2 dias, enquanto o restante permanecia sem o uso. As amostras de urina foram coletadas ao fim do expediente antes e após o período de 2 dias, tanto no grupo paramentado quanto no outro. Os resultados obtidos demonstraram uma considerável diferença entre as duas coletas realizadas no grupo paramentado, o

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20 nível de ATTM detectado após a introdução dos equipamentos foi menor comparado com a coleta inicial, representando uma menor absorção de benzeno por esses indivíduos. Enquanto nas amostras do outro grupo de trabalhadores não houve diferença significativa entre os níveis do biomarcador. Evidenciando que o uso de EPI’S e outras medidas de prevenção auxiliam na redução da absorção do benzeno por trabalhadores expostos.

4 CONCLUSÃO

O benzeno, mesmo sendo um elemento estudado a muito tempo, ainda não tem elucidado por completo seu modo de ação biológica, ao necessitar de mais pesquisas para tal esclarecimento. As pesquisas mais recentes vêm abordando novas técnicas para a procura de novos biomarcadores que possam realmente se correlacionarem com o quadro de exposição a esse determinado elemento, como é o caso do U-benzeno urinário e o plasminogênio para o monitoramento de exposição, em especial as populações mais susceptíveis, como trabalhadores de postos de gasolina e refinarias.

Espera-se que ao longo das pesquisas e novas descobertas, seja possível o desenvolvimento de um tratamento para pessoas que estão sujeitas a exposição do benzeno, seja ela aguda ou crônica. Por hora, é possível apenas abordar estratégias para segurança de trabalhadores que estão expostos, como o uso de EPI’S e exames regulares.

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Referências

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