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E a internacionalização dos frigoríficos brasileiros

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Academic year: 2021

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KAREN KIRCHNER

BNDES E A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS FRIGORÍFICOS BRASILEIROS

Florianópolis 2017

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KAREN KIRCHNER

BNDES E A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS FRIGORÍFICOS BRASILEIROS

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito para Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Graciella Martignago, Dr.

Florianópolis 2017

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Para minha família e ao meu namorado, responsáveis pela minha motivação.

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AGRADECIMENTOS

Sou grata pelas energias que emanam pelo universo e respondem ao meu positivismo e aspiração. Sem algo em que acreditar, eu não estaria finalizando algo tão importante para meu futuro de vida.

Não tenho palavras que possam agradecer aos meus pais, Altair e Clarice, por tudo o que fizeram por mim, pelo apoio imenso que deram e dão para passar as dificuldades que aparecem na vida. Sou extremamente grata a vocês.

Agradeço aos meus familiares que estiveram presentes nesta etapa, que me apoiaram de diversas maneiras, com suas energias positivas pude chegar até onde cheguei.

Agradeço ao meu namorado, Válter, pela tamanha paciência e companheirismo neste período de muita dedicação. Sua compreensão, carinho e amor são e foram muito importantes para mim.

Agradeço aos meus amigos e colegas de faculdade, Gabriela, Gustavo, Lanúsia e Leon, que me apoiaram e ajudaram nesta jornada, sem o companheirismo de vocês eu não seria capaz de concluir esta etapa. E que esta amizade dure por mais anos. Agradeço também aos meus amigos que estiveram me apoiando e acompanhando minha jornada desde o colégio até este momento, são importantíssimos para mim, em especial Luiza e Victória.

Agradeço à minha orientadora Graciella, por toda paciência e compreensão, assim como, pelo grande apoio que me deu nesta etapa. Também agradeço aos professores que foram importantíssimos para meu desenvolvimento acadêmico.

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“Não perca a humildade. Além da planície, surge a montanha, e, depois da montanha surge o horizonte infinito” (André Luiz).

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RESUMO

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é o maior banco de desenvolvimento do Brasil e um dos maiores do mundo, cujos variados programas de financiamento têm sido importantes para a indústria brasileira. Um dos setores beneficiados pela política brasileira de internacionalização foi o setor de frigoríficos. Mostrou-se neste trabalho como o BNDES impulsionou a internacionalização dos frigoríficos brasileiros. Através de pesquisa bibliográfica e documental, descreveu-se as políticas brasileiras de incentivo à internacionalização, a indústria de carnes brasileira e, por fim, como o governo brasileiro usou um banco de desenvolvimento como um instrumento de incentivo à internacionalização da indústria brasileira, com o objetivo de impulsionar economia brasileira no mercado internacional através do estudo de três empresas do setor: a JBS, Marfrig e Brasil Foods (BRF). Constatou-se, assim, o grau de participação do BNDES, por meio de participação acionária e financiamentos, na internacionalização das multinacionais estudadas, do período de 2002 a 2016. E também, o quanto o governo brasileiro tem influência sobre a internacionalização da indústria de carnes.

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ABSTRACT

The Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) is the largest bank in Brazil and one of the world’s largest, whose varied programs in the recent years has been essential for the Brazilian industry. The meat industry was one of the sectors benefited by the Brazilian policy of internationalization. It was shown in this paper hoe the BNDES boosted the internationalization of the Brazilian’s meat industry. Through bibliographical and documentary research, it was described the Brazilian policies of incentive to internationalization, the Brazilian meat industry and, finally, how the Brazilian government used a development bank as an instrument to encourage the internationalization of Brazilian industry, with the objective of boosting the Brazilian economy in the international market through the study of three companies in the sector: JBS, Marfrig and Brazil Foods (BRF). The degree of BNDES participation, through equity participation and financing, was observed in the internationalization of the multinationals studied, from 2002 to 2016. And also, how much the Brazilian government has influence on the internationalization of the meat industry.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Investimento direto no exterior - Participação no capital - US$ (milhões). ... 32

Quadro 1 - Formas de apoio do BNDES à exportação. ... 35

Gráfico 2 - Destino da produção brasileira de carne bovina em 2015. ... 40

Gráfico 3 - Destino da produção brasileira de carne de frango em 2016. ... 41

Gráfico 4 - Destino da produção brasileira de carne suína em 2016. ... 42

Quadro 2 - Posições de maiores produtores, exportadores e importadores dos três principais segmentos industriais da carne. ... 43

Quadro 3 - Unidades de negócios da JBS. ... 48

Gráfico 5 - Participação acionária do BNDES no capital da JBS (%)... 54

Quadro 4 - Unidades de negócio da Marfrig. ... 56

Gráfico 6 - Participação acionária do BNDES no capital da Marfrig (%). ... 59

Quadro 5 - Unidades de negócio da BRF. ... 63

Gráfico 7 - Participação acionária do BNDES no capital da BRF (%). ... 68

Gráfico 8 - Composição da renda variável por instrumento (2016) (%). ... 70

Gráfico 9 - Composição da renda variável por setor (2016) (%). ... 70

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Exportação Pré-Embarque – JBS. ... 50

Tabela 2 - Renda Variável – JBS. ... 51

Tabela 3 - Operações diretas e indiretas não automáticas – JBS. ... 52

Tabela 4 - Operações indiretas automáticas – JBS. ... 53

Tabela 5 - Exportação Pré-Embarque – Marfrig. ... 56

Tabela 6 - Renda Variável – Marfrig. ... 57

Tabela 7 - Operações diretas e indiretas não automáticas – Marfrig. ... 58

Tabela 8 - Operações indiretas automáticas – Marfrig. ... 59

Tabela 9 - Exportação Pré-Embarque – BRF. ... 64

Tabela 10 - Renda Variável – BRF. ... 65

Tabela 11 - Operações diretas e indiretas não automáticas – BRF. ... 65

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 11 1.2 OBJETIVOS... 13 1.2.1 Objetivo geral ... 13 1.2.2 Objetivos específicos ... 13 1.3 JUSTIFICATIVA ... 14 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO... 17 2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO ... 17

2.1.1 Internacionalização e a relação com o Estado ... 23

3 POLÍTICAS BRASILEIRAS DE INCENTIVO À INTERNACIONALIZAÇÃO .... 28

3.1 BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES) ... 33

4 SETOR FRIGORÍFICO ... 39

5 INFLUÊNCIA DO ESTADO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DOS FRIGORÍFICOS BRASILEIROS ... 44 5.1 JBS ... 44 5.1.1 Marfrig ... 54 5.1.2 Brasil Foods (BRF)... 60 5.1.2.1 Sadia ... 60 5.1.2.2 Perdigão ... 61 5.1.2.3 Brasil Foods ... 62

5.1.3 BNDES como principal ferramenta de apoio ao setor frigorífico brasileiro. ... 68

6 CONCLUSÃO ... 74

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1 INTRODUÇÃO

A competitividade cada vez mais acirrada no mercado interno brasileiro e a recente globalização, que impulsionou o mercado econômico no ambiente internacional, influenciam as empresas a buscarem novos mercados, lançando-se para outros países. Porém, existem certas dificuldades, principalmente, para países emergentes como é o caso do Brasil, que veio a ter suas primeiras empresas internacionalizadas apenas na década de 90, enquanto as empresas dos países desenvolvidos estavam em diversos mercados há alguns anos. Nos estudos da teoria de internacionalização, o caso brasileiro é considerado ainda recente.

Apesar do atual modelo de mercado internacional se caracterizar principalmente como um sistema de mercado livre, guiado pela mão invisível (oferta e demanda), segundo Nardi et al (2015), o Estado obtêm certa influência ao intervir no mercado, com objetivo de corrigir as imperfeições que possam ocorrer no mesmo.

Com isso, em um ambiente em que a globalização tem tomado conta do mercado nos últimos anos, o Estado torna-se um personagem cada vez mais ativo nas mudanças, ou seja, o Estado passa a ser um guia social e responsável pela criação de demanda na sociedade (NARDI et al, 2015).

Ao pensar no termo internacionalização, há muitas dúvidas de como ocorre este fenômeno e o que está envolvido. É importante frisar que a internacionalização não se limita à exportação e importação de bens e serviços a partir de uma planta nacional. A internacionalização se dá através da inserção de uma empresa no exterior que envolve a produção através da aquisição de uma empresa estrangeira ou na criação de uma planta nova no exterior. Sendo assim, a empresa cria um vínculo com novos mercados em outros países e regiões, concorrendo com outras empresas do mesmo ramo nestes novos mercados, de forma que deve se adaptar a esses novos padrões e exigências (COELHO; OLIVEIRA JUNIOR, 2016; GILPIN, 2002; ROCHA, 2014).

No decorrer da última década, diversas empresas brasileiras começaram a se destacar em âmbito internacional, período que foi marcado pela expansão de companhias originadas de países emergentes, de ambientes internacionais instáveis, e que passaram a competir em novos mercados, mais fortemente estabelecidos, em conjunto com empresas multinacionais originadas de países desenvolvidos. Um dos principais motivos e incentivos às empresas brasileiras para tal ato foi devido à parceria do governo brasileiro na internacionalização dessas empresas, através, principalmente, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (ROCHA, 2014). O banco é um instrumento

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do governo brasileiro para fazer financiamento a longo prazo e investimentos em diversos segmentos pertencentes à economia brasileira, apoiando empreendedores em seus objetivos, sejam eles de modernização, expansão e concretização de seus negócios (BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2017b).

De acordo com Rocha (2014), muito embora o fluxo de Investimento Direto Externo (IDE) brasileiro seja baixo, comparado aos demais fluxos que abastassem a economia mundial, algumas empresas, na última década, cresceram de uma maneira rápida e apresentam-se na lista das maiores multinacionais do mundo e se tornaram empresas com grande influência em ambiente nacional. Um evento importante, o qual impactou a estrutura do país, não só economicamente, como politicamente.

Dentre os produtores da economia brasileira que se destacam, estão os da indústria frigorífica, de abate de carnes. Consolidado como potência na produção e exportação de carne bovina na década de 2000 e assumindo a primeira colocação dentre os exportadores no ano de 2004, o Brasil é, atualmente, o segundo maior produtor do mundo, ficando apenas atrás dos Estados Unidos. Há suposições de que, em uma média de cinco anos, o Brasil irá ultrapassar os EUA, e assumirá a primeira posição no ranking dos maiores produtores de carne bovina do mundo (SOCIDADE NACIONAL DE AGRICULTURA, 2016).

De acordo com dados do International Trade Centre (2015), o Brasil exportou em torno de 13 bilhões dólares em carnes para o mundo em 2015, ficando atrás dos Estados Unidos que vendeu em torno de 14 bilhões dólares. Deste modo, pode-se observar, a aproximação brasileira como líder mundial de exportação de carnes.

O fato de o governo brasileiro abster de uma política bem formulada e estruturada para incentivar as empresas nacionais (COELHO; OLIVEIRA JUNIOR, 2017; COSTA; SOUZA-SANTOS, 2010), a atuação do BNDES foi uma via importante de estímulo para internacionalização das empresas brasileiras, principalmente para fortalecimento da indústria nacional, maior competitividade e maiores exportações, além do acesso à tecnologia e a geração de divisas, e assim alavancando o crescimento das empresas através das filias no exterior (COSTA; SOUZA-SANTOS, 2010).

O crescimento do setor agroindustrial foi reconhecido pelo governo brasileiro, que chegou a implementar políticas industriais que objetivavam estimular a inserção destas empresas nos mercados externos, o que envolveu a participação de capital público na estrutura societária de empresas privadas e/ou a concessão de vultosos financiamentos do BNDES, transformando as empresas brasileiras desta indústria em multinacionais.

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As empresas multinacionais, como a JBS, Marfrig e Brasil Foods (BRF), receberam diversos financiamentos por parte do banco para que conseguissem fazer aquisições no exterior. Alguns desses financiamentos teve participação acionária por parte do banco, revelando que porcentagens das ações dessas empresas são parte do governo brasileiro. Esse fato é ainda um tanto quanto desconhecido pela sociedade e é de extrema importância para o mercado.

Sabe-se então que o governo brasileiro ainda não obtém uma estrutura política organizada o suficiente para gerar estímulos à internacionalização das empresas brasileiras, mas através do BNDES, banco estatal, essas empresas conseguiram um apoio e suporte para impulsionar-se no mercado estrangeiro. Um dos setores mais privilegiados por parte do banco, é o setor da agroindústria, principalmente no segmento de carnes, que curiosamente o primeiro financiamento para internacionalizar uma empresa foi com a empresa JBS, que hoje é uma das maiores processadoras de carne do mundo (ROCHA, 2014).

São essas informações que incentivaram o interesse de estudar a atuação do governo, através do BNDES, na internacionalização dos frigoríficos brasileiros, que hoje são grandes multinacionais, com grande importância no mercado, mas ainda casos pouco analisados pela academia.

Com interesse de contribuir com essa temática, a pergunta de pesquisa deste trabalho é: Como as políticas e incentivos do BNDES influenciaram a internacionalização dos frigoríficos brasileiros no período 2002 a 2016?

1.2 OBJETIVOS

A seguir serão apresentados os objetivos geral e específicos deste trabalho.

1.2.1 Objetivo geral

Descrever como as políticas e incentivos do BNDES influenciaram a internacionalização dos frigoríficos brasileiros no período 2002 até 2016.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Apresentar a estrutura do mercado de carnes;

b) Identificar as políticas e incentivos do BNDES para a internacionalização de empresas brasileiras; e

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c) Mostrar a participação acionária e os financiamentos concedidos pelo BNDES às multinacionais brasileiras da indústria de carnes.

1.3 JUSTIFICATIVA

A internacionalização das empresas brasileiras intensificou-se na década de 90, quando houve a abertura comercial e as mudanças nas políticas comerciais, que criaram um ambiente favorável para adentrar no mercado internacional. Estas mudanças institucionais fizeram com que as empresas brasileiras se tornassem atores presentes nessa nova onda de internacionalização que se estende até os dias atuais.

A importância dos investimentos da agroindústria brasileira no exterior foi reconhecida pelo governo brasileiro, que chegou a implementar políticas industriais que objetivavam estimular a inserção destas empresas nos mercados externos, o que envolveu a participação de capital público na estrutura societária de empresas privadas e/ou a concessão de financiamentos do BNDES, ou ainda, gerou participações acionárias em alguns casos de aquisição no exterior. Entretanto, estas políticas ainda foram pouco analisadas em estudos acadêmicos.

Por isso, dá-se a importância da análise da atuação de um banco estatal, o BNDES, na internacionalização das empresas no setor agroindustrial com foco na indústria de carnes, um dos setores mais importantes economicamente para o Brasil, no qual, o país tem grandes empresas, com enorme importância nacional quanto internacional, que obtêm títulos como uma das maiores processadoras de carnes bovinas, aviárias e suínas do mundo, como a JBS e BRF. Não apenas será analisado a atuação do banco na internacionalização dessas empresas, assim como demais empresas do ramo que obtiveram o apoio nas suas movimentações no exterior. Segundo Rocha (2014) trata-se de um acontecimento tão importante para o país, que é de grande importância estudá-lo não só em âmbito econômico, mas também político.

São poucos os estudos sobre a atuação do governo brasileiro na internacionalização dos frigoríficos brasileiros. A partir disso, cabe contribuir a esses estudos, ao analisar este ramo tão forte no mercado nacional e internacional, e também um dos principais pilares econômicos para o Brasil.

Este estudo contribui também com os formuladores de políticas públicas e gestores de empresas privadas ao apresentar como ocorreu o crescimento das empresas brasileiras no exterior. Contribui-se com a academia e a Universidade do Sul de Santa

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Catarina (UNISUL), para que fique disponível para demais colegas na área, para futuras e possíveis pesquisas em relação ao tema abordado. A pesquisa também é relevante para o autor a partir do momento que será um profissional na área de Relações Internacionais.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Abordar-se-á neste tópico os procedimentos metodológicos da pesquisa. A pesquisa é um desenvolvimento formal e sistemático, que tem como objetivo encontrar respostas para os problemas em questão através de um processo científico (GIL, 2008). Neste sentido, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa, ao descrever as políticas e instrumentos do BNDES para a internacionalização, e quantitativa, ao apresentar medidas de um comportamento observável (o ‘o quê’), e quanto dos recursos disponibilizados pelo banco foram captados pelas empresas estudadas, destacando que os dados pesquisados estavam fragmentados e dispersos em planilhas disponibilizadas pelo BNDES, dessa forma, com a agregação dos valores encontrados de cada empresa e cada operação separadamente, foi possível realizar a descrição total dos valores fornecidos pelo BNDES em seus programas para as empresas (MARSCHAN-PIEKKARI; WELCH, 2006).

A pesquisa desenvolvida foi explicativa porque explicou a atuação do BNDES na internacionalização dos frigoríficos brasileiros, fazendo uso essencialmente da coleta de dados do banco e das empresas estudadas. Identificou-se os fatores que determinam ou que contribuíram para a ocorrência dos fenômenos, mostrando a razão e porquê das coisas e acontecimentos, o que caracteriza uma pesquisa explicativa, de acordo com Gil (2008). Ao estudar a atuação do BNDES na internacionalização de frigoríficos brasileiros tem-se aqui um estudo de casos. Segundo Yin (2005, p.13, tradução nossa)1, “o estudo de caso é um estudo empírico que investiga um fenômeno atual dentro do seu contexto de realidade, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidas e no qual são utilizadas várias fontes de evidência”.

Os casos analisados foram definidos intencionalmente porque permitiram que se entendesse um fenômeno específico. Foram considerados revelatory case – aqueles que as informações descritas são reveladoras. Esta situação ocorre quando o investigador tem a oportunidade de observar e analisar uma investigação científica previamente não acessível

1 “A case study is an empirical inquiry that investigates a contemporary phenomenon within its real-life context,

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(MERRIAM, 2002, 2009; PATTON, 2002; TRIVIÑOS 1987; YIN, 1984). Foram escolhidas outlier companies ou situações onde certos atributos são salientados ou evidenciados (LERVIK, 2011).

Para a seleção das empresas a serem pesquisadas, foi considerado a relevância dessas para o processo de internacionalização de empresas brasileiras. Observou-se o histórico das empresas ao que se refere sua internacionalização em conjunto com dados do BNDES, localizando, assim, a relação da empresa com o banco através de participação acionária e outros instrumentos utilizados; a posição das empresas no ranking dos principais competidores internacionais do setor; a disponibilidade de acesso a dados primários.

Desenvolveu-se também uma pesquisa bibliográfica por esta estar baseada em estudos prévios sobre o tema, vindos de livros, artigos científicos e fontes secundárias, nas línguas portuguesa e inglesa. E também é uma pesquisa documental, ou seja, materiais como artigos de jornais especializados que envolvam o tema da internacionalização das empresas, bem como os relatórios das empresas estudadas, como o BNDES e os frigoríficos que serão parte da análise (GIL, 2008).

Assim, através de estudos bibliográficos foram conceituadas teorias de internacionalização, e a relação do Estado com a internacionalização de empresas, e em seguida serão apresentadas as políticas brasileiras à internacionalização e um levantamento histórico sobre o BNDES. Com base em duas principais associações, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne e Associação Brasileira de Proteína Animal, foi realizada uma análise do mercado de carnes brasileira e apresentada sua estrutura. Também foram utilizados relatórios financeiros e administrativos anuais das empresas estudadas, analisados ano a ano (de 2002 a 2016, sempre que possível encontrá-los no site das empresas), em conjunto com a história das empresas disponíveis nos sites, para que fosse possível analisar o histórico da internacionalização das empresas. E por meio de documentos disponíveis pelo BNDES no site do banco, através de consultas individuais de cada empresa estudada, foi possível analisar os valores concedidos às empresas selecionadas, que diz respeito aos financiamentos, participação acionária, debêntures, como também operações destinadas à exportação, aquisição de máquinas e equipamentos, melhoria de capital etc., com foco no período de 2002 a 2016. Logo, com os documentos analisados das empresas e banco, foi possível criar uma linha de análise, através do sistema Excel, que permitiu a ordenação e agregação dos dados, da influência do BNDES na internacionalização das empresas, ligando as aquisições das empresas e os desembolsos do banco concedidos a elas.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

É neste campo que serão abordados os fundamentos teóricos do tema de pesquisa deste trabalho. A partir de uma visão ampla para uma mais específica, serão apresentados conceitos de internacionalização de empresas e sua relação com o Estado, o mercado nacional da indústria de carnes, para que então se possa, posteriormente, compreender as políticas adotadas pelo governo brasileiro na internacionalização das empresas, com enfoque no setor de frigoríficos.

2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO

Temas referentes à internacionalização de empresas destacaram-se no período pós Segunda Guerra Mundial, que muito se deve à mobilização para reconstrução dos países afetados pela guerra. Assim, empresas originárias, principalmente dos Estados Unidos, e também países do continente europeu caracterizaram esse período com seu rápido avanço internacional (DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012; FLEURY; FLEURY, 2007). A partir desse fato, ao longo do tempo, adquiriu-se uma necessidade teórica de entender as motivações das empresas, e o que fez com que obtivessem parte ou um novo meio de produzir/vender seu produto ou serviço em um território estrangeiro.

Antes de iniciar a apresentação dos estudos teóricos sobre as motivações das empresas multinacionais à sua internacionalização, tem-se a importância de entender o que é esse processo.

Os termos “multinacionais e internacionalização” estão interligados. Multinacionais são empresas que obtêm e administram unidades em dois ou mais países. Suas aquisições são resultado da internacionalização, que são o fluxo de Investido Direto Externo (IDE) da empresa para um país estrangeiro, nas suas unidades sejam estas de serviços, indústrias extrativas ou fábricas. Expressando assim, uma extensão do controle administrativo da empresa através das fronteiras nacionais (GILPIN, 2002).

Segundo Urbasch (2004) há quatro formas ou etapas de internacionalizar, sendo elas: exportação; presença comercial; presença produtiva e; presença de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Propõe-se que a ordem natural do processo se dê na ordem apresentada, sendo de certa forma intuitiva. Contudo, as empresas não necessariamente têm de seguir esta ordem. Para Almeida (2007), as empresas adotam uma ordem natural ao ocupar o mercado internacional, contudo, dois momentos principais são caracterizados pelo autor no

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processo de internacionalização: atender o mercado internacional através das exportações e uso do Investimento Direto Externo (IDE), seja este para implantar um escritório comercial ou unidades produtivas.

Diferentes estratégias são adotadas pelas empresas para se internacionalizarem. Um dos principais motivos que levam as empresas a internacionalizarem é devido às barreiras comercias, como as tarifas aduaneiras, taxas e cotas de importação. Ou seja, quando um país obtém taxas altas para produtos importados, uma das opções mais adequadas para a empresa estrangeira é adentrar naquele mercado, passando através barreiras, pois a partir do momento que sua produção entra no país, seu produto não será mais taxado como produto importado. Outra opção considerável seria contratar uma empresa nacional daquele país para produzir seu produto. A última opção menos conveniente seria abandonar completamente aquele mercado (FORNARI, 2010).

Estudiosos observaram esse fenômeno em busca de teorias que pudessem explicar o que está por trás da internacionalização das empresas, ou seja, teóricos buscam responder aos porquês e o como esse processo ocorre às empresas.

Uma das primeiras teorias da época foi a teoria de Hymer. Em 1960, buscou entender o fluxo de IDE. Alegou que as empresas não seguem o padrão de driblar as taxas altas de juros, mas sim que o fluxo de IDE das empresas deve-se à expansão internacional de cada empresa, ou seja, vem da exploração das vantagens da propriedade ou ownership, que diz respeito à capacidade de investir o próprio capital e a sua presença física no exterior que é capaz de eliminar a concorrência naquele mercado. Outra vantagem a ser explorada é a vantagem de controle, que nada mais é que ultrapassar as imperfeições do mercado ao explorar e ampliar a empresa. Acrescentava-se que a ideia do fluxo de IDE ocorrer seria devido às taxas de juros serem maior em outro país e que esse fator seria o que as empresas buscavam, mas isso é uma consequência. A partir do momento que a empresa se instala em um território estrangeiro, esta busca financiar suas operações nas fontes locais, o que acaba por acontecer essa inversão no fluxo de capitais (AMATUCCI, 2009).

Os fluxos de comércio, assim como o local de produção internacional podem ser explicados pela evolução da tecnologia e a sua dispersão entre as demais economias/países e a mudança na vantagem comparativa entre as economias nacionais. É a partir disso, que em 1966, Vernon cria sua teoria do ciclo de vida do produto, ou seja, nesta teoria o autor considera a inovação tecnológica um ponto chave, que vem do intensivo uso de capital e mão-de-obra especializada. A ideia do ciclo de vida do produto é que em seu próprio mercado, a empresa passa a introduzir e produzir a inovação, usufruindo do meio até que se torne

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monopólio do produto. Então, quando os concorrentes passam a dominar a tecnologia, a empresa deve buscar a concorrência através do preço, levando a confecção de seu produto em outro país com as condições favoráveis, ou seja, com fatores de produção mais baratos. Assim, ao produzir mais barato em outro país e exportá-lo de volta para seu país de origem, a empresa conseguirá introduzir um produto mais competitivo na diferenciação de custo (AMATUCCI, 2009; GILPIN, 2002).

Outra teoria, e uma das mais famosas, é a Abordagem Eclética de Dunning, no qual, o teórico John H. Dunning em 1980 aborda que as empresas precisam obter tipos de vantagens que vençam a de seus competidores. Tem-se então a vantagem de propriedade que diz respeito aos ativos tangíveis e intangíveis, são alguns exemplos a marca, imagem, mão-de-obra barata, capacidade tecnológica etc., que fazem com que a empresa possa desfrutar das vantagens locais propostas pelos países, que são os recursos naturais, infraestrutura, tamanho do mercado competitivo etc. É a composição dessas vantagens que diferenciam as empresas multinacionais de países desenvolvidos daquelas de países em desenvolvimentos (ALMEIDA, 2007; AMATUCCI, 2009; FLEURY E FLEURY, 2007).

Dunning classifica, na teoria, algumas motivações que a empresas têm para internacionalizarem, assim, vão em busca de: recursos naturais (matérias primas e mão-de-obra baratos); comercialização (instalação de escritórios de representação); acesso a novos mercados (reflexo da disputa entre as empresas para participarem do mercado internacional); e ganhos de eficiência (a partir da divisão das etapas de produção têm-se a necessidade de explorar economias de especialização e localização em busca de vantagens específicas para cada etapa da produção) (ALMEIDA, 2007; DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012).

O modelo de Uppsala, criada por Johanson e Vahlne em 1977, considera que a entrada gradual de empresa no mercado internacional é um crescente comprometimento por parte da empresa para com o mercado externo, através do aprendizado, experiência e conhecimento. Cada etapa vencida implica em um maior recurso e conhecimento (ALMEIDA, 2007).

Um ponto extra na teoria, segundo Johanson e Vahlne (1977 apud ALMEIDA, 2007) é a distância psíquica que interfere no fluxo de informação, exemplo disso são fatores como a língua, educação, cultura, desenvolvimento, entre outros. Esses fatores podem interferir no fluxo de comércio entre os países, pois a partir do momento que os países têm uma proximidade cultural, por exemplo, fará com estes fiquem mais “próximos” apesar da distância física.

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A percepção do tema internacionalização ser tão atual e comentado deve-se ao fato de que, como foi rapidamente mencionado, no período pós Segunda Guerra Mundial, as empresas que se lançaram no mercado mundial tiveram grande movimentação pelo mundo, essas empresas têm destaque por serem originadas de países desenvolvidos, e um dos principais motivos de sua internacionalização deve-se pela busca de recursos naturais, outro ponto que foi consequência do aumento da movimentação das multinacionais deve-se pela participação das empresas norte-americanas na reconstrução da Europa no pós guerra (DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012).

Pode-se dividir o período pós-guerra, até os dias atuais, em três momentos, ou como é conhecido, as ondas de internacionalização. Em que na primeira onda de internacionalização se destaca as empresas norte-americanas. De acordo com Gilpin (2002) na década de 60 o IDE sofreu mudanças devido às novidades nos meios de transporte de comunicação, políticas governamentais favoráveis e também devido ao novo ambiente internacional, no qual surge a ascensão de poder e economia dos Estados Unidos. A partir do seu objetivo de acessar o mercado, que até então obtinha predominante característica a economia fechada, as empresas norte-americanas buscaram fazer forte investimento na Europa, de acordo com o autor, fora em resposta ao surgimento do Mercado Comum Europeu e a criação da tarifa externa comum.

As crises de petróleo na década de 70, foram cruciais para a mudança no mercado internacional, e com as mudanças de regimes de mercado, deu-se espaço para novos players, em particular os japoneses, seguidos pelos coreanos e demais países asiáticos, ou como pode-se dizer, os chamados NICs (Newly Industrializes Countries – Paípode-ses Recentemente Industrializados), que vieram a ser também membros da segunda onda de internacionalização. O que se pode destacar, ao que se refere a esses novos participantes no mercado internacional, a exemplo dos japoneses, que acabaram por desenvolver um novo tema de pesquisa, pois ao contrário do que até então as teorias de internacionalização contavam, os japoneses não possuíam nenhuma empresa oligopólio e nem suas características empresariais e tecnológicas eram conhecidas ainda. Houve então um período de reconstrução industrial por parte desses novos players na década de 80, para que pudessem competir em novos mercados, como o ocidente (FLEURY; FLEURY, 2011; GILPIN, 2002).

E por fim, foi na década de 90, até os dias atuais que se estende a terceira onda de internacionalização, em que os novos protagonistas tiveram que repensar e atualizar seu sistema de produção, gestão e projetos organizacionais para que pudessem competir internacionalmente. São os novos protagonistas, conhecidos como BRIC (Brasil, Rússia, Índia

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e China), os países em desenvolvimento, considerados tardiamente globalizados. Uma característica das empresas desses países é que no começo de seu processo de internacionalização, grande parte delas eram empresas estatais, e após tornarem-se empresas privadas, passaram a obter maior força nos anos 2000, consequentemente impulsionando a economia desses países emergentes. Outro ponto chave dessas empresas é que estas obtêm certas vantagens competitivas diferenciadas, o que abalou as empresas de países desenvolvidos, que se encontravam estagnadas. São essas vantagens o vasto recurso natural que alguns desses países têm, como é o caso do Brasil e Rússia. Já as vantagens competitivas da Índia e China deve-se ao seu vasto mercado interno e mão de obra barata (FLEURY; FLEURY, 2011; RAMAMURTI; SINGH, 2009).

A globalização e o processo de abertura econômica de países emergentes, como o Brasil, tem grande destaque. Nesse momento fica claro para as empresas dos países em desenvolvimento a necessidade de serem competitivas no mercado internacional, para que pudessem manter os mercados internos e ao mesmo tempo expandir-se no mercado internacional. Para isso buscou-se fazer acordos/alianças com outras empresas, até mesmo empresas estrangeiras, e instalar unidades de produção ou escritórios comerciais em países estrangeiros. É perceptível a consequência gerada pela globalização e interdependência no sistema internacional, pois as empresas deixam de ser afetadas apenas por sua economia nacional, como também pela competição internacional (ALMEIDA, 2007).

Segundo Fleury e Fleury (2007), os estudos referentes a essa participação de empresas originadas de países em desenvolvidos são ainda recentes, mas com grande importância. O termo designado para essas empresas é “late movers”, ou seja, “entrantes tardios”, ou até mesmo “multinacionais emergentes”. Atualmente, não existe uma teoria que possa explicar em especial e unicamente a internacionalização desses entrantes tardios. Fleury e Fleury (2007) explicam que a razão para isso se deve ao fato de que as teorias existentes foram lançadas em outra época, onde o ambiente internacional tinha características diferentes do que se tem hoje, além de que os objetivos de tais teorias era analisar as empresas multinacionais dos Estados Unidos, Japão, Escandinavas, Coreanas, etc. Logo, os autores consideram a busca por uma teoria que possa explicar, por exemplo, a internacionalização de empresas brasileiras que são late movers, encontra-se uma posição ambígua, pois não existem teorias especificas e as existentes são retratadas de um contexto diferente. Assim, tem-se que a teoria que possa explicar efetivamente a internacionalização dessas grandes multinacionais emergentes ainda está em processo de construção.

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Até então, as empresas dos países em desenvolvimento eram vistas exclusivamente como empresas exportadoras, contudo, o seu sucesso de hoje assumirem uma posição na produção mundial e operarem com fábricas em países estrangeiros, é visto como uma grande novidade. As multinacionais emergentes são caracterizadas como sendo empresas que cresceram em economias protegidas, ou seja, estavam longe da competição internacional, devido a governos protecionistas; utilizam e obtêm grande recursos naturais e mão-de-obra barata; sua competência tecnológica é baixa; suas competências gerenciais são um tanto atrasadas; e atuam em ambiente economicamente conturbados (FLEURY; FLEURY, 2007).

Os benefícios e importância da internacionalização para as empresas e países são numerosos. Segundo Almeida (2007, p. 268):

[...] em uma economia globalizada, a competitividade das firmas nacionais em mercados estrangeiros torna-se crescentemente importante para a performance do país como um todo. A internacionalização deve ser vista como um meio essencial para o aumento da competitividade internacional das empresas, promovendo o desenvolvimento dos países e facilitando: i) o acesso a recursos e a mercados; e ii) a reestruturação econômica.

Assim, o autor acrescenta que um país não consegue aprimorar seu desempenho econômico, sem empresas competitivas internacionalmente. Ainda, segundo Almeida (2007, p. 268):

A dispersão geográfica das atividades de P&D pode fortalecer a base tecnológica das empresas: i) em primeiro lugar, as firmas podem ter um maior acesso às tecnologias, o que não ocorreria sem a internacionalização; ii) em segundo lugar, a maior escala de produção dilui os custos com P&D. Ou seja, empreendimentos maiores via internacionalização podem “baratear” os custos de prospecção tecnológica, ou seja, os gastos com P&D.

Além disso, irá alavancar maior competitividade, dará acesso a novos mercados, reduzirá ociosidade, dará acesso a equipamentos, serviços, capital e financiamentos internacionais, gerará uma receita em moeda forte, aumentará a demanda e lucratividade a longo prazo, ganhará aprendizado, entre outros (ALMEIDA, 2007; URBASCH, 2004). De fato, é possível concordar com a afirmação de Almeida (2007): ‘’A questão passa a ser investir no exterior ou acabar sendo comprado por investidores mais poderosos’’, com tamanha globalização e necessidade de internacionalizar, diversas empresas correm risco de fecharem as portas ou serem compradas por empresas maiores, devido à falta de investimento para gerar aumento da sua competitividade, para não depender apenas do mercado nacional. Muitas vezes, a falta de investimento pode ser culpa em parte dos governos, que não preparam

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uma estrutura de incentivos nacional para suas empresas, para que estas possam desfrutar do mercado internacional, trazendo reconhecimento e diversos benefícios para empresa e país.

A seguir ver-se-á qual a relação do Estado com a internacionalização das empresas.

2.1.1 Internacionalização e a relação com o Estado

Muito embora existam acordos mercado internacionais que celebram e incentivam o livre comércio, no qual a intenção é de não interferência, ou seja, deixar o mercado ser guiado pela demanda e oferta, ainda assim, os governos têm influência no mercado, principalmente para proteger a economia e mercado nacional.

Estudos de Wang et al (2012) afirmam que os graus de envolvimento dos governos na internacionalização das empresas são diferentes e têm resultados diferentes, devido aos diversos motivos e objetivos. Assim como o relacionamento das empresas com a rede de network causam diferentes vantagens, criando diferentes impactos na internacionalização das empresas. São estabelecidos pelos autores que os envolvimentos do governo na internacionalização das empresas dependem de duas dimensões distintas, que são: o grau da propriedade estatal e o grau de afiliação da empresa com o governo. Ou seja, a primeira refere-se a casos em que o governo influencia a internacionalização através da aquisição de empresas ou parte dela e a segunda diz respeito ao momento que o governo afeta a internacionalização da empresa e sua trajetória, criando um relacionamento com as empresas.

Os diferentes níveis de envolvimento do governo facilitam o entendimento do comportamento da internacionalização das empresas multinacionais emergentes. Esse envolvimento do governo afeta a capacidade e a vontade dessas empresas na sua internacionalização. Essa influência pode afetar, no momento de expansão internacional, os objetivos estratégicos e decisões da empresa; a disponibilidade e custo de recursos e como são utilizados; as capacidades da empresa; divulgação de conhecimento, informação e serviço; e os custos de transação internacional. Vale ressaltar, que nem todo tipo de envolvimento de governo pode beneficiar igualmente todas as empresas (WANG et al., 2012).

Na década de 80, diversos países passaram a adotar programas de privatização2, o que começou na França e no Reino Unido, logo se espalhou para diversos países no mundo.

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Contudo, em países emergentes o processo ocorreu de forma mais lenta, e foram poucas empresas que passaram por esse processo, quando comparadas à grande movimentação nos países desenvolvidos (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).

De acordo com Cuervo-cazurra et al. (2014), esses processos de privatização não significaram o fim das propriedades estatais, o que aconteceu foi o contrário, marcou o início de uma série de organizações com capital compartilhado, estatal e privado, tanto em âmbito nacional como internacional. Logo, Cuervo-cazurra et al. (2014) indicam que isso pode ser visto como uma maneira do Estado atingir os seus objetivos na política externa em conjunto com objetivos sociais e financeiros.

Segundo Wang et al. (2012), a questão é que as empresas estatais dependem mais dos governos do que as empresas privadas, assim estas têm menos chances de sofrer com mudanças administrativas quando internacionalizar. O autor indica que eventos que conectem empresas e governo, como por exemplo, fóruns e/ou comitês de negócio, que envolva ambos em um objetivo comum, fazem com que o comportamento das empresas mude diante da afiliação governamental. É esse relacionamento que faz com que as expectativas do governo em influenciar as empresas nas decisões tenha certa eficácia, pois assim que são fornecidos aos governos os processos de tomada de decisão da empresa, o governo consegue de certa forma, moldar a maneira em que as empresas multinacionais emergentes fazem escolhas, influenciando seus objetivos, cultura e decisões, levando, assim, a desenvolver diferentes respostas de internacionalização.

Ao que diz respeito aos ambientes em que o país é menos liberal, o governo torna-se mais ativo, afirmam os autores Wang et al. (2012, tradução nossa), logo: “As empresas devem estabelecer um relacionamento estreito com o governo para aproveitar os favores, acessos a novos recursos e ser compensado pela falta de fatores”.3

Resume-se que a influência do governo na estruturação da internacionalização das empresas deve-se ao seu grau de envolvimento. Para empresas estatais há diversos benefícios ao serem diretamente ligadas ao governo, sendo essa uma forma do governo expor suas intenções e objetivos no ambiente internacional, em âmbito social e econômico. Para as empresas privadas, o seu grau de envolvimento com o governo pode guiar a sua internacionalização de diferentes maneiras, quanto maior o grau de afiliação com o governo, mais a empresa adquire vantagens e benefícios a serem oferecidos pelo governo. Lembrando

3 “Firms have to establish close ties with governments to enjoy state favors, access new resources and

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que nem todas as vantagens e benefícios oferecidos pelo governo, são igualmente bem recebidas e aproveitadas por todas as empresas.

Percebe-se a diferença também quando comparadas empresas multinacionais de economias emergentes e as de economias desenvolvidas. De acordo com Wang et al. (2012), os governos de economias emergentes estão mais preocupados em ter alta produção e grande receita local do que com a ideia de incentivar as empresas a internacionalizarem-se, não se tornou uma prioridade. Enquanto isso, nas economias desenvolvidas, a preocupação com a globalização, segurança e integração tem se tornado frequente. Então, a ideia é manter a estabilidade social e financeira, buscando novas estratégias e iniciativas, sendo uma delas progredir internacionalmente.

Outro ponto relevante é a proteção governamental de países emergentes, nestes o governo tem tendência a possuir uma economia fechada e mais controlada. A partir disso, para as empresas, é importante obter uma rede de network para que possa, de alguma maneira, aproveitar melhor o mercado, tanto nacional quanto internacional (WANG et al., 2012).

De forma simples, Musacchio e Lazzarini (2015) classificam as formas de envolvimento do Estado no mercado. Assim, de maneira decrescente, tem-se:

a) O governo como empreendedor: controlando empresas estatais de forma autônoma;

b) O governo como investidor majoritário: controlando a maior parte de ações da empresa e com parte do capital privado (economia mista);

c) O governo como investidor minoritário: empresas privadas com parte do capital estatal; e

d) Empresas privadas: sem qualquer participação governamental.

Os casos de estudo deste trabalho tratam justamente do governo como investidor minoritário e/ou como indutor do crescimento através do fornecimento de empréstimos. Ou seja, empresas podem ser gerenciadas de maneira privada, mas receberem apoio do governo a partir de recursos financeiros. Segundo Musacchio e Lazzarini (2015) esse tipo de participação governamental tem crescido em todo o mundo, e é um meio importante e ainda pouco estudado.

São diversas as maneiras que o governo pode atuar nesse modelo: obtendo ações da empresa e/ou utilizando-se de uma holding para obter participação minoritárias em empresas. Dentro deste campo, os governos também podem utilizar-se de bancos de desenvolvimento, fundos soberanos e fundos que sejam controlados pelo governo, como exemplo comum tem-se os fundos de pensão e seguradoras, com objetivo de fornecer

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empréstimo ou investir de outras formas nas empresas (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015). Como é o que o Brasil adotou nos últimos anos, que através do BNDES conseguiu fornecer empréstimo e investir nas empresas brasileiras para incentivar o desenvolvimento tanto da empresa quanto para o país.

E, nos últimos anos, ficou muito clara a movimentação de diversos países em incentivar e investir na internacionalização das suas empresas. Caso muito importante de se mencionar é a China, país que, por muitos anos, permaneceu com forte característica protecionista e recentemente começou gradualmente, desde a década de 80, a abrir o mercado fazendo reformas políticas, reorganizando estratégias para seu desenvolvimento. Foi então, que consolidada em 2002, a criação da política chamada “Go Global” que tem como objetivo incentivar as empresas a participarem do mercado internacional, investindo diretamente no exterior, para também impulsionar o aumento de empresas e marcas numa escala global. A atuação do governo na política “Go Global” é tão somente um guia, um provedor de serviço e um suporte para as empresas, sendo que a decisão de fazer ou não o investimento cabe somente às empresas (MASIERO; COELHO, 2014; NICOLAS; THOMSEN, 2008).

Algo parecido ocorreu com a Coreia do Sul, que até a década de 80, o governo controlava fortemente os negócios internacionais. Foi durante a década de 80 e depois com maior intensidade nos anos 90 que a Coreia do Sul aos poucos flexibilizou e aceitou algumas mudanças para que as empresas nacionais pudessem dar melhores respostas ao mercado internacional. A exemplos de mudança pode-se citar que o governo coreano adotou o Plano de Reforma do Comércio Internacional, para internacionalizar a economia do país e também passou a ser membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), consequentemente o país teve que eliminar algumas regulamentações para que pudesse fazer parte da organização. Depois de um tempo o governo implantou o Plano de Ativação de Investimentos Externos, para intensificar a expansão internacional, e ao longo dos anos diversas políticas e instrumentos são implantados pelo governo para fortalecer a competitividade coreana em âmbito internacional. Como instrumento de apoio, o governo fez uso de apoio financeiro, institucional, podendo ser fiscal e tributário, além de informação e de segurança. E para que fosse implantada essas políticas, o governo teve apoio de instituições e bancos importantes para dar apoio às empresas (NICOLAS; THOMSEN, 2008; RUPPERT; BERTELLA, 2010).

Como exemplo de país desenvolvido, os Estados Unidos também contaram com alguma instituição para dar apoio às empresas através de financiamentos, garantias e seguro contra riscos políticos, como é o caso da Overseas Private Investment Corporation (OPIC)

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que opera desde a década de 70, apoiando principalmente investidores de médio e pequeno porte. Além disso, apoios à exportação ocorreram desde a década de 30 no país, através de uma agência bancária chamada Eximbank, com objetivo de gerar emprego mediante financiamentos às exportações, além de fornecer garantias e seguros de exportação para as empresas (ALMEIDA, 2007; ROSA; RHODEN, 2007; SANTOS, 2015). No continente europeu, a União Europeia inseriu um programa chamado “Europa 2020” que tem como objetivo fazer uma nova revolução industrial, com intuito de um crescimento inteligente, promovendo a sustentabilidade e inclusão. Dentro dessa estratégia aparecem temas relacionados à indústria, como a criação de políticas que se enquadrem nos tempos da globalização para melhorar a capacidade empresarial das indústrias de concorrer no mercado internacional, focando principalmente nas pequenas e médias empresas, além de gerar acesso a financiamentos para incentivar a inovação industrial (UNIÃO EUROPEIA, 2014).

O sucesso dos países desenvolvidos em promover programas de apoio às exportações, fez com que os países em desenvolvimento adotassem programas parecidos nas décadas seguintes. Neste período, os países desenvolvidos já se preocupavam em diminuir o financiamento e aumentar a gestão em seguros e garantias para as empresas (SANTOS, 2015).

Sendo assim, entende-se que a atitude dos governos em beneficiar e apoiar sua indústria nacional através de financiamentos ou programas que facilitem a exportação/internacionalização das empresas, acabam por promover vantagens comparativas e a competitividade no mercado internacional (GILPIN, 2002).

A seguir, falar-se-á sobre a trajetória da política brasileira de incentivo à internacionalização.

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3 POLÍTICAS BRASILEIRAS DE INCENTIVO À INTERNACIONALIZAÇÃO

Antes do período marcante que é o pós-Segunda Guerra Mundial, no qual houve o notável momento em que as empresas atuam com maior intensidade no mercado internacional, o Brasil, segundo Musacchio e Lazzarini (2015), passava por um momento que o Estado se posicionava de modo a garantir a sobrevivência das empresas que estavam a falir e proporcionava alguns incentivos para algumas indústrias, como por exemplo, subsídios. Algumas dessas empresas, amparadas pelo governo, segundo os autores, que foram os primeiros campeões nacionais, eram empresas selecionadas pelo governo que passaram a obter maior privilégio frente às demais, e depois de dissolver as dificuldades, o governo injetou-lhes capital tornando-se o acionista controlador.

No primeiro momento do governo Vargas, em 1930, obtinha-se características um tanto quanto liberais, mas no fim da década de 30 e começo de 40, durante a Segunda Guerra Mundial, o governo tornou-se protecionista, pois percebeu-se que poderia haver dificuldade em depender de matéria-prima e produtos importados. Desde esse momento até 1990, os governos seguintes adotaram a política protecionista (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).

Nas décadas de 1940 e 50, diversas empresas estatais foram criadas para aumentar a capacidade industrial nacional, e dentre essas empresas como a Petrobrás, Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD), Companhia de Ferro e Aço de Vitória (Cofavi) entre outras, vieram a ser as maiores empresas nacionais na década de 70. Foi então, que na década de 50, criou-se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) com intuito de fornecer créditos de longo prazo com foco nas indústrias de energia e transporte, fruto de uma associação brasileira com os Estados Unidos para fins de estudos sobre o crescimento da infraestrutura do país. Nos anos seguintes, adquiriu outras funções e também mudou o nome para Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que permanece até os dias atuais (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).

Na década de 60, programas de apoio à exportação também foram intitulados para ampliar e diversificar a agenda, direcionando principalmente para a área de produtos manufaturados. Algumas das políticas adotadas para aumento das exportações brasileiras, foram as isenções fiscais, como por exemplo, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Criou-se, na época, o Fundo de Financiamento à Exportação (FINEX) que obteve significativo apoio para exportações de produtos de consumo durável como automóveis, televisão, geladeira, etc., como para com bens de produção, como por exemplo, peças de máquinas. Contudo, o FINEX foi encerrado

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na década de 80. Nos anos seguintes, em 1990, novos programas de incentivo à exportação foram criados. Como exemplos, o Programa de Financiamento às Exportações de Máquinas e Equipamentos (FINAMEX) por parte de BNDES e o Programa de Financiamento às Exportações (PROEX) pelo Banco do Brasil. Além desses programas, foram criados meios para facilitar a aquisição de crédito, como o Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), Seguradora Brasileira de Crédito às Exportações (SBCE) e o Fundo de Garantia de Promoção de Competitividade (FGPC) (SANTOS, 2015).

Nota-se que no período de 1930 até 1990 embora os governos tenham adotado políticas protecionistas, diversas políticas de apoio e incentivo à exportação foram criadas para aumentar a capacidade industrial brasileira. Mas nada específico para a internacionalização das empresas nacionais.

Para Santos (2015), esse período pode ser dividido em quatro ciclos, sendo o último dividido em dois momentos. O primeiro ciclo é destacado entre 1965 a 1976, no qual segundo o autor, o Estado focou em realizar o IDE através da estatal Petrobras, principalmente para abastecer o ambiente interno de petróleo e derivados, não havendo uma política de internacionalização para empresas privadas. Houve grandes incentivos direcionados à exportação, além do FINEX, criou-se, em 1972, o Benefícios Fiscais a Programas Especiais de Exportação (BEFIEX), através deste, havia a isenção de imposto sobre a importação, mas em respostas às empresas nacionais e estrangeiras deveriam se comprometer a exportar maior do que o dobro do importado.

O segundo ciclo ocorreu entre 1977 a 1982. Neste período, o fluxo de IDE destinados a países desenvolvidos caiu de 82% para 59%. Contudo, permaneceu sendo o principal destino de IDE mundial, também nesse momento houve aumento de 10% para 22% do fluxo de IDE com destino à América Latina, assim como em paraísos fiscais houve aumento de 6% para 17%. Isso se deve à expansão dos bancos, com objetivo de buscar recursos no exterior para incrementar a exportação brasileira e para fornecer empréstimos locais e para adiar dívidas públicas. Santos (2015) destaca que, nesse período, novamente o governo atuou na realização de IDE com estratégia na Petrobras. Nesse momento, as políticas governamentais às exportações foram importantes para se adaptar às crises externas.

O terceiro ciclo é classificado entre 1983 e 1992 e, segundo Santos (2015), neste período teve as seguintes características: “participação de empresas com vendas abaixo de US$ 500 milhões, aumento do número de subsidiárias no exterior, forte direcionamento dos IED a países vizinhos e maior diversificação dos investimentos no setor industrial”. Os casos de IDE, na época, ocorreram através de instalação de escritórios de importação e assistência

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técnica, joint venture e também algumas aquisições. Segundo o autor, a maior parte das linhas de crédito às exportações foram desativadas, devido à pressão dos parceiros comerciais e do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), atualmente a Organização Mundial do Comércio (OMC), e consequentemente, em resposta à crise econômica dos anos 80, conhecida como “década perdida”, o Brasil passou a estimular exportações através das isenções tributárias e política cambial ativa. Até mesmo, na época, o Banco do Brasil, Banespa e Banco Real se internacionalizaram, afim de investir nas estratégias das empresas brasileiras em internacionalizar sua produção.

Dois momentos são encontrados por Santos (2015) no quarto ciclo. Primeiro, entre 1992 e 1995, o autor destaca que o IDE ocorreu principalmente pela instalação de escritórios comerciais, assistência técnica e montagem de produtos. A partir de 1995, o fluxo de IDE aumentou e foi encaminhado para facilitar as exportações devido à desvalorização da moeda na época. O autor caracteriza os anos 90 como um ano em que as empresas reestruturaram as suas estratégias e, naquele momento, passaram a fazer parte da internacionalização produtiva, isso devido a abertura econômica, ou seja, o governo diminuiu sua atuação de controle sobre o mercado nacional.

De acordo com Musacchio e Lazzarini (2015), o auge do capitalismo de Estado atingiu o Brasil em 1970, pelo fato de que o comando do regime militar da época fez com que o número de empresas estatais aumentasse, sendo que o objetivo da criação dessas empresas era impulsionar a economia brasileira a partir de uma política industrial que desenvolvesse a indústria nacional. Essas empresas estatais obtiveram competência de ser um tanto quanto autônomas, mas para serem autônomas dependiam da lucratividade. Consequentemente, quanto mais autônoma eram as empresas menos o governo viria interferir. Para isso, as empresas estatais passavam a criar diversas subsidiárias em diversos setores, chegando ao ponto de algumas delas emitirem títulos de dívidas em moeda estrangeira para abrir essas subsidiárias no exterior e acabavam por competir entre si. Muito disso ocorria porque o governo não monitorava o fluxo de capital das empresas estatais. A partir de uma análise feita pelo BNDE na época, devido a essa atitude das estatais de criarem subsidiárias em diversos ramos industriais, acabavam por frear as empresas privadas, o que transmitia a sensação de que o plano do governo era a estatização de todos segmentos industrias. Neste contexto, o BNDE lança a ideia de que o governo poderia vir a privatizar algumas dessas subsidiárias, colocando o banco na posição de designar quais desses segmentos seriam privatizados, além de fornecer capital para dissolver as dívidas à medida que os lucros líquidos fossem gerados. Porém, na época, esse plano não foi concluído. Musacchio e Lazzarini (2015) citam que essa

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ideia por parte do BNDE “antecipou-se ao modelo subsequente do Leviatã como investidor minoritário”, ou seja, utilizou-se efetivamente esse plano nos seguintes. Em 1990, tornou o governo um investidor injetando capital estatal através do banco, para auxiliar as empresas. Foi então que no decorrer da década de 90, diversas empresas estatais passaram por programas de privatização, a exemplo, pode-se citar empresas como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Embraer e Vale do Rio Doce.

Ao mesmo tempo, houve a abertura comercial. Segundo Paulino e Sousa (2017), o Brasil mudou o mercado nacional, tornou-se mais competitivo, ocorreu a diminuição de barreiras de importação e investimentos, fazendo com que as empresas nacionais passassem a competir com a indústria estrangeira. Muitas das empresas não conseguiram concorrer e faliram, outras encontraram-se em um ambiente oportuno para importar novas tecnologias, modernizando e passando a competir junto ao mercado internacional. Contudo, tudo isso surtiu maior efeito nos anos 2000 como mostra o gráfico a seguir.

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Gráfico 1 - Investimento direto no exterior - Participação no capital - US$ (milhões).

Fonte: Adaptado de Brasil (2017a).

Nota-se, então, que o período de 2001 a 2005 houve pouca variação de fluxo de IDE brasileiro no exterior. Já de 2005 para 2007 houve um salto enorme de fluxo de IDE brasileiro no mercado internacional.

Isso se deve à criação de novas políticas nacionais destinadas à internacionalização de empresas, principalmente por parte do BNDES, que a partir de uma reorientação feita em 2002, passou a investir em formar empresas nacionais com capacidade de competir internacionalmente (ROCHA, 2014; SANTOS, 2015). Logo, no início da nova política direcionada à internacionalização, algumas empresas foram selecionadas para fazerem parte desse projeto. As chamadas “campeãs nacionais” foram as privilegiadas, obtendo acesso diferenciado e restrito à uma grande quantidade de capital (BRASIL, 2017).

Não só o BNDES, como também outros instrumentos, foram e são importantes para o comércio exterior brasileiro, como o Ministério das Relações Exteriores (MRE) que é um órgão público com objetivo de auxiliar o Presidente da República nas questões de política exterior do país, mantendo relações diplomáticas com demais países, organismos e organizações internacionais, procurando focar nos interesses do Estado e sociedade brasileira, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) que através da Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) e da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) que pratica sua influência no comércio exterior. Através da internet, a SECEX consegue atingir o público empreendedor fornecendo informações úteis sobre exportação, importação, produto, legislações, eventos, mecanismos e afins. Outro instrumento a ser citado é a Agência

0 200,000 400,000 600,000 800,000 1,000,000 1,200,000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

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Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX-Brasil), que atua em inserir mais empresas brasileiras no mercado internacional, além de procurar diversificar e agregar maior valor aos produtos brasileiros a serem exportados, como também, aumentar o volume de produção e comercialização, consolidando a posição dos produtos e serviços brasileiros no mercado estrangeiro (PEDROZO, 2010; REGO, 2015).

Além disso, a iniciativa de uma cooperação Sul-Sul na época e a integração econômica entre os países na América do Sul, influenciaram o aumento da internacionalização das empresas brasileiras, como a criação do Mercosul (DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012; ROCHA, 2014).

Em suma:

Até o início dos anos 1990, a atuação do Estado deu-se de forma direta, com a expansão de estatais do petróleo e bancos públicos, e indireta - por meio de isenções fiscais, financiamento às exportações (interrompida em meados dos anos 1980) e política cambial -, visando assegurar a reprodução das forças produtivas [...] A partir de meados dos anos 1990, houve a retomada das linhas de financiamento específicas visando o aumento das exportações de bens industriais e de serviços. Contudo, uma política de promoção da internacionalização por meio de IED ocorreu, de fato, apenas no início dos anos 2000, quando dos novos arranjos entre Estado e empresariado nacional (SANTOS, 2015, p.50).

É a partir desse momento, nos anos 2000, e com essa nova política focada na internacionalização das empresas, que houve um grande avanço nacional no exterior, o aumento do fluxo de IDE e o destaque brasileiro no ambiente internacional são notáveis.

Rocha (2014) afirma que apesar do IDE brasileiro ainda ser baixo comparado ao que circula na economia global, empresas nacionais ganharam tamanha relevância internacional que passaram a listar entre as maiores transnacionais do mundo.

3.1 BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES)

Para compreender melhor o BNDES é importante destacar a diferença entre o banco de desenvolvimento e bancos comerciais. De acordo com Musacchio e Lazzarini (2015, p.294):

Os bancos atuam no negócio de intermediação financeira. Recebem depósitos de poupadores e emprestam esses fundos a empreendedores ou a governos para financiar projetos que geram retornos pelo menos iguais às taxas de juros que pagam aos bancos.

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A partir do capital da sociedade e aplicando taxas de juros altas, os bancos fazem seus empréstimos aos empreendedores e projetos governamentais.

Diferentemente dos bancos comerciais, os bancos de desenvolvimento utilizam-se de fundos governamentais para financiar/investir nas empresas, com projetos a longo prazo. Por serem utilizados capitais direto do governo, a taxa sobre esse dinheiro é menor, consequentemente, em comparação aos bancos comerciais, os bancos de desenvolvimento obtêm uma margem menor de juros (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).

Criado em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem sido o principal instrumento de apoio às empresas nacionais nos dias atuais. Ao longo do tempo, o banco sofreu mudanças de acordo com as mudanças governamentais e econômicas do país. Em números comparativos, em 2010, o valor de créditos concedidos do BNDES, foi de US$ 96,32 bilhões, enquanto o Banco Mundial teria concedido apenas US$ 18,6 bilhões. Como o banco é um órgão público, os fundos vêm do Tesouro Nacional, impostos e contribuições públicas. Mas, também, o banco adquire recursos no mercado internacional, através de bancos estrangeiros, agências de fomento de outros países, e até mesmo do próprio Banco Mundial. Além disso, vale destacar a importância do seu estudo, pois o BNDES é um dos bancos de desenvolvimento mais antigos e um dos maiores do mundo, e também é um dos bancos mais eficientes (GARCIA, 2011; MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).

No início de sua criação, inicialmente nomeado como apenas Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), seu principal objetivo era fornecer créditos para investimentos a longo prazo em energia e transporte. Ainda nos primeiros anos de sua criação, no final de 1950 a 1960, o banco passou a operar como uma holding – empresa que tem controle sobre grande parte das ações de outra empresa – por meio de injeção de capital, passou a ser um investidor majoritário, mas com foco direcionado paras as indústrias siderúrgicas. Até então, tudo partia de projetos públicos (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).

Durante o período de regime militar, o BNDES passou a gerar financiamentos para empresas privadas também. Curiosamente, até 1964, os empréstimos concedidos pelo banco eram de praticamente 100% destinados aos projetos públicos. Já por volta de 1970, os empréstimos concedidos já atingiam 70% destinados às empresas privadas (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).

A maior mudança ocorreu em 1982, que além de acrescentar o “social” no nome (tornando-se o atual BNDES), passando a investir no desenvolvimento social, o banco criou

Referências

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