Revelia
Fonte: Didier Jr e Leonardo CunhaInicialmente cumpre salientar que a revelia é um ato-fato processual, quando o réu não apresenta a sua contestação.
Atenção! A revelia está no mundo do fatos, enquanto a presunção de veracidade é um de seus efeitos.
Efeitos:
A) Material: Presunção de veracidade das alegações de fatos feita pelo demandante;
B) Formal: Prazos fluem para o revel que não tenha advogado a partir da publicação da decisão;
C) Possibilidade de julgamento antecipado do mérito da causa, caso se produza o efeito material da revelia.
Em relação à Fazenda Pública, Leonardo da Cunha Leciona sobre o efeito formal: Aliás, o próprio art. 346 do CPC dispõe que “os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial”.
Essa situação, contudo, não é privativa da Fazenda Pública. Aplica-se para a situação de qualquer réu.
Em relação ao efeito material, leciona Leonardo:
O direito da Fazenda Pública é indisponível, devendo o magistrado, mesmo na hipótese de revelia, determinar a instrução do feito para que a parte autora possa se desincumbir do seu onus probandi. Aliás, assim dispõe o art.
345, II, do CPC: “A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis”. À evidência, a revelia, sendo ré a Fazenda Pública, não produz seu efeito material, de maneira que não haverá presunção de veracidade quanto aos fatos alegados pelo autor na petição inicial.
Atenção! O STJ entendeu que é aplicável o efeito material da revelia à fazenda pública quando estivermos diante de uma relação jurídica de direito privado, ou seja, quando não for relação administrativa. Ler RESP. 1.084.745/MG.
Atenção 2! De acordo com o STJ, não ocorre a presunção absoluta de veracidade dos fatos. Vejamos:
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente no sentido de que a caracterização da revelia não importa em presunção absoluta de veracidade dos fatos, a qual pode ser afastada pelo julgador à luz das provas existentes . AgInt no REsp 1816726 / RS DJe 03/10/2019.
Não se produzirá o efeito material da revelia quando:
a) Havendo pluralidade de réus, qualquer deles contestar a ação (o efeito é afastado somente em relação ao fato comum);
b) Se o direito versado for indisponível;
c) Se a inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere da substância do ato;
d) Se não houver o mínimo de verossimilhança nas alegações do autor.
Importante ressaltarmos que a revelia não implica necessariamente a vitória do autor, pois não se trata de reconhecimento da procedência do pedido, mas somente alguns efeitos processuais, como visto um pouco mais acima. Vejamos como o STJ já decidiu sobre o tema:
O entendimento do STJ já se firmou no sentido de que "a decretação da revelia do réu não resulta, necessariamente, em procedência do pedido deduzido pelo autor, sobretudo quando ausente a prova dos fatos constitutivos alegados na petição inicial." AgInt no AREsp 1536209 / RJ DJe 26/09/2019. Vale ressaltar também que mesmo ocorrendo a revelia o autor não pode alterar o pedido ou causa de pedir, salvo se promover nova citação do réu, conforme previsão do Código de Processo Civil.
O réu poderá intervir em qualquer fase do processo, recebendo-o no estado em que se encontrar. A partir daí será intimado em relação aos atos processuais, bem como poderá produzir provas (Art. 349, CPC e Súmula 231, STF). Vejamos alguns julgados do STF sobre o tema:
O revel, em processo cível, pode produzir provas, desde que compareça em tempo oportuno. Súmula 231
No caso, o juiz a quo deixou de aplicar os efeitos retóricos da revelia à ré, que, apesar de intempestivamente, compareceu a juízo oferecendo resposta (revelia relativa). Desde aí, qualquer que seja o resultado do extraordinário, a ré pode atuar normalmente no processo (art. 322 do CPC), até requerendo e produzindo provas (súmula 231) . [AC 776 MC, rel. min. Cezar Peluso, dec. monocrática, j. 25-5-2005, DJ de 1-6-2005.]
Atenção! Se houver revelia, não é possível que se estenda a coisa julgada à questão prejudicial incidental. Vejamos:
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida.
§ 1º O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se:
I - dessa resolução depender o julgamento do mérito;
II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia;
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal.
§ 2º A hipótese do § 1º não se aplica se no processo houver restrições probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial.
Informativos importantes:
1) A revelia em ação de divórcio na qual se pretende, também, a exclusão do patronímico adotado por ocasião do casamento não significa concordância tácita com a modificação do nome civil (informativo 631, STJ).
2) O curador especial tem legitimidade para propor reconvenção em favor de réu revel citado por edital (Informativo 613, STJ).
3) Reconhecida a revelia, a presunção de veracidade quanto aos danos narrados na petição inicial não alcança a definição do quantum indenizatório indicado pelo autor (Informativo 574, STJ).
4) Ainda que não ofertada contestação em peça autônoma, a apresentação de reconvenção na qual o réu efetivamente impugne o pedido do autor pode afastar a presunção de veracidade decorrente da revelia (art. 302 do CPC) (Informativo 546, STJ).
5) Incidem os efeitos materiais da revelia contra o Poder Público na hipótese em que, devidamente citado, deixa de contestar o pedido do autor, sempre que estiver em litígio uma obrigação de direito privado firmada pela Administração Pública, e não um contrato genuinamente administrativo (Informativo 508, STJ).
6) Não é cabível o arbitramento de verba de sucumbência em favor do réu revel, vitorioso em razão da sentença de improcedência, tendo em vista a inexistência de atuação de advogado. REsp 1403155 / SP DJe 23/11/2018 7) A ausência de impugnação do credor aos embargos à execução não é
suficiente para elidir a presunção de certeza consubstanciada no título judicial, não podendo ser aplicados os efeitos da revelia. REsp 1677161 DJe 07/11/2017.
8) Não é possível a concessão de assistência judiciária gratuita ao réu citado por edital que, quedando-se revel, passou a ser defendido por Defensor Público na qualidade de curador especial, pois inexiste nos autos a comprovação da hipossuficiência da parte, visto que, na hipótese de citação ficta, não cabe presumir a miserabilidade da parte e o curador, ainda que membro da Defensoria, não possui condições de conhecer ou demonstrar a situação econômica da parte ora agravante, muito menos requerer, em nome desta, a gratuidade de justiça. Precedentes. AgInt no AREsp 978895 SP 2016/0235671-0 (STJ) Data de publicação: 19/06/2018.
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Artigos sobre o tema:
DA REVELIA
Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor.
Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se:
I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato;
IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos.
Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial.
Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar.