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Novas formas residenciais na periferia do Espaço Metropolitano de Brasília

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Academic year: 2021

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JOESLEY DOURADO

Universidade de Brasília - UNB

joesleyb@gmail.com

Novas formas residenciais na periferia do Espaço Metropolitano de Brasília

FERNANDO LUIZ ARAUJO SOBRINHO

Universidade de Brasília - UNB

flasobrinho@gmail.com 1094

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8º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018)

Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

NOVAS FORMAS RESIDENCIAIS NA PERIFERIA DO ESPAÇO METROPOLITANO DE BRASÍLIA

J. Dourado, F. L. A. Sobrinho

RESUMO

O objetivo deste trabalho é analisar as novas formas habitacionais que surgiram em Valparaíso de Goiás após o ano de 2009. Parte-se da revisão bibliográfica para entender a relevância do estudo das formas geográficas e ainda investigar o processo de formação da periferia do Espaço Metropolitano de Brasília-EMB. Mediante pesquisa de campo, foram levantados os dados e feitos os registros fotográficos destas novas formas habitacionais que são descritas e analisadas. Elas foram divididas em dois grupos: o primeiro se refere à habitação na forma vertical, representada pelos edifícios, enquanto o segundo é voltado aos condomínios horizontais que ainda se subdivide em: condomínios fechados e falsos-condomínios. Valparaíso de Goiás revela as consequências do rígido controle do solo em Brasília e a ação do capital na produção do espaço urbano na periferia metropolitana.

1 INTRODUÇÃO

A cidade atual é fruto do processo histórico e das estratégias de reprodução do modo de produção capitalista. Dessa maneira, ao refletir sobre a cidade não é suficiente fazer uma análise voltada somente a paisagem, ao que é visível e perceptível aos sentidos de quem a observa. É preciso entender quais processos são responsáveis por modelar, produzir e reproduzir o espaço.

Com Valparaíso de Goiás não é diferente. Limítrofe ao Distrito Federal-DF, este município está sob a influência socioespacial da metrópole e tem passado por transformações, dentre as quais se destaca o surgimento de novas formas residenciais, como consequência do crescimento de Brasília para fora do quadrilátero inicialmente planejado, formando um verdadeiro Espaço Metropolitano em volta do núcleo urbano brasiliense.

Este município goiano revela em seu território as desigualdades impostas pelo rígido controle do solo no Distrito Federal-DF e, ao mesmo tempo, a ação do capital na produção do espaço urbano na periferia de Brasília. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar as novas formas habitacionais que surgiram em Valparaíso de Goiás após o ano de 2009. Elas foram divididas em dois grupos: o primeiro se refere à habitação na forma vertical, representada pelos edifícios, enquanto o segundo é voltado aos condomínios horizontais que ainda se subdivide em: condomínios fechados e falsos-condomínios.

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Parte-se da revisão bibliográfica para entender a relevância do estudo das formas geográficas e ainda investigar o processo de formação da periferia do Espaço Metropolitano de Brasília. Logo após, mediante pesquisa de campo (realizada em junho de 2017) foram levantados os dados e feitos os registros fotográficos destas novas formas habitacionais que por fim são descritas e analisadas.

2 A FORMA GEOGRÁFICA COMO OBJETO DE ESTUDO

Para analisar o espaço é necessário refletir acerca do processo dialético no qual estão inseridos a estrutura, as formas e suas funções por meio do tempo. Vistos independentemente representam apenas frações da realidade, já em conjunto, constroem uma discussão baseada na totalidade (Santos, 2014a).

Tratando especificamente do estudo do espaço urbano, ele pode ser definido como “fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais aparente, materializada nas formas espaciais. É este o nosso objeto de estudo” (Correa, 1989: 9). Destaca-se a relevância apontada pelo autor ao estudo das formas espaciais que segundo ele não tem existência autônoma, somente existem porque realizam funções e são socialmente produzidas por agentes concretos.

As transformações instantâneas na cidade apresentam a tendência de destruição dos referenciais urbanos devido à sua procura ininterrupta pelo novo, onde as profundas transformações na morfologia e as construções de novas formas constituem uma imagem da modernidade, que se traduz na constante transformação da paisagem (Carlos, 2007). Vasconcelos (2013) entende que os processos e formas socioespaciais são originários das mudanças atuais sobrepostas às inércias do passado. De acordo com o autor, estes processos e formas podem ser agrupados em três grandes blocos de noções: as ligadas aos espaços, as ligadas principalmente aos indivíduos e as vinculadas aos indivíduos e aos espaços.

A forma geográfica também pode ser analisada como “estrutura técnica revelada, portanto arquitetural, ou objeto responsável pela execução de determinada função, é produto do processo produtivo (pois também implica trabalho) e, consequentemente, histórico” (Souza, 1994: 88).

Forma e função estão diretamente relacionadas, uma vez que a função “é a atividade elementar de que a forma se reveste” (Santos, 2014a: 69), podendo ter – cada forma – mais de uma função. Esta forma é a estrutura revelada, sendo sua observação mais evidente, uma vez que é visível. Estudada fora do contexto da estrutura, a forma, conduzirá a conclusões equivocadas.

A forma ainda pode ser “imperfeitamente definida como uma estrutura técnica ou objeto responsável pela execução de determinada função” (Santos, 2014a: 69). Neste sentido, a forma geográfica é o objeto geográfico dotado de função. Assim, entende-se que “para alcançar o conhecimento, a forma nos dá um ponto de partida, mas está longe de nos dar um ponto de chegada, sendo insuficiente para oferecer, sozinha, uma explicação” (Santos, 2014b: 99).

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A função é determinada pela finalidade para qual foi criado determinado objeto. Logo um edifício de apartamentos – uma maneira de habitar – tem como finalidade abrigar pessoas (função habitacional). Um edifício composto por escritórios tem como propósito sediar atividades comerciais e terciárias (função comercial).

A forma geográfica além de conter sua função, ainda possui uma estrutura física – o que os arquitetos chamariam de “tipologia construtiva” – que é elaborada de maneira a satisfazer as necessidades sociais para qual o objeto fora criado. Com o intuito de promover o acesso a moradias, pode-se construir casas (forma horizontal) ou apartamentos no interior de edifícios (forma vertical), por exemplo.

3 O ESPAÇO METROPOLITANO DE BRASÍLIA

A cidade de Brasília, inaugurada em 1960, foi planejada, construída e consolidada sob a égide da arquitetura moderna e funcionalista, de maneira que sua vocação administrativa e terciária – com a função de cumprir somente as atribuições de Capital Federal – não pudesse ser atormentada com os infortúnios que permeiam as grandes cidades da contemporaneidade.

Brasília deve ser entendida como a sede do governo federal, a cidade idealizada, o núcleo metropolitano onde se agrupam as atividades do circuito superior da economia e onde os órgãos de governo, tanto federal como distrital, estão instalados e exercem seu comando. Com o intuito de preservar a “pureza” do território de Brasília, foi estabelecida uma área geometricamente delimitada na forma de quadrilátero que circunda a Capital Federal e que a inclui: o Distrito Federal. Desta forma, a gestão deste território possui especificidades que a tornam um caso ímpar e impacta diretamente a região a seu redor.

Enquanto as principais atividades geradoras de renda se concentram no núcleo da metrópole, a periferia surge “não como oposição, mas como complementação, como parte necessária de um todo: a cidade segmentada em classes e fragmentada espacialmente” (Ferreira, 1999: 140).

Ferreira e Penna (1996) destacam que o tecido urbano de Brasília se desenvolveu socialmente fragmentado, espacialmente polarizado de maneira que a população pobre se abriga em espaços voltados unicamente a função residencial, na periferia externa do DF. Segundo Paviani (1987), os municípios goianos limítrofes ao Distrito Federal recebem parte do contingente populacional que foi “empurrado” pelo Estado para fora do DF. Além de receber migrantes de todas as partes do Brasil que inicialmente se instalam no DF, existe também uma considerável participação de moradores já radicados há vários anos no território brasiliense que estão à procura de moradia a preços mais acessíveis e se deslocam rumo aos municípios da fronteira entre as duas unidades. Neste sentido, os municípios do estado de Goiás limítrofes ao DF, tornaram-se uma extensão informal – uma vez que estão fora do quadrilátero – do território da Capital Federal.

Um fator determinante para o crescimento de Brasília para fora dos limites do DF foi a propriedade pública da terra, que devido ao rígido processo de controle imposto pelo Estado, pressionou a ação do setor imobiliário e impulsionou a exploração de espaços alternativos, neste caso, no estado de Goiás. Um dos principais exemplos deste processo

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aconteceu no município de Luziânia, onde a terra agrícola foi destinada a loteamentos, conjuntos e vilas operárias funcionalmente dependentes de Brasília (Paviani, 2010).

A euforia dominava as classes dominantes dos municípios limítrofes ao DF durante a década de 1970. Estas aceleravam a transformação de terras rurais em urbanas, loteando fazendas onde o preço da terra era barato, aumentando a proporção do fenômeno. O município de Luziânia foi o que realizou o loteamento com maior intensidade, atingido o nível dos conjuntos habitacionais onde se destacam Cidade Ocidental, Novo Gama e Valparaíso de Goiás (Oliveira, 1987).

Soma-se a ação do setor imobiliário o que Ferreira (1999) chama de “duplo processo expulsivo” ao qual eram submetidos os mais pobres, uma vez que eram removidos do seu local original – favelas e invasões dentro de Brasília – e eram enviados para novos espaços sem infraestrutura urbana: as cidades-satélites. A medida que as melhorias chegavam, a valorização do preço dos imóveis novamente os deslocava para espaços cada vez mais distantes, concentrando-os nos municípios que circundam o Distrito Federal.

A primeira etapa do “duplo processo expulsivo” foi responsável por consolidar a periferia distrital de Brasília, aquela restrita ao quadrilátero do DF: as cidades-satélites. A segunda fase é aquela que expande a Capital Federal para fora de sua delimitação oficial, o “Entorno de Brasília”. Neste sentido, “muito grosseiramente pode-se aceitar que as cidades do entorno metropolitano brasiliense se constituem basicamente na grande periferia goiana da capital” (Catalão, 2009: 536).

O Espaço Metropolitano de Brasília-EMB engloba Brasília como núcleo e sete municípios do estado de Goiás: Luziânia, Cidade Ocidental, Novo Gama, Valparaíso de Goiás, Santo Antônio do Descoberto, Águas Lindas de Goiás e ainda Planaltina de Goiás. Dentro do EMB ainda destaca-se o “Entorno Sul”, composto pelos municípios do Novo Gama, Luziânia, Cidade Ocidental e Valparaíso de Goiás, conforme a Figura 1:

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Valparaíso de Goiás foi emancipado de Luziânia em 1995 e possui 61,45 km² de área territorial. É o município com maior densidade demográfica do estado de Goiás (IBGE, 2017). Se comparado com os 5.570 municípios do Brasil, ocupa a posição nº 54 no ranking que se refere a relação entre área e população.

O forte vínculo entre Valparaíso de Goiás e Brasília pode ser constatado em vários indicadores, sendo o deslocamento pendular, entendido como aquele deslocamento cotidiano para realizar atividades de estudo ou trabalho, um dos principais. O indivíduo mora em um município, porém atravessa a fronteira administrativa para estudar e trabalhar diariamente. De acordo com a Tabela 1, observamos que 45% dos moradores de Valparaíso de Goiás trabalham no Plano Piloto ou Gama, ambas regiões administrativas do DF. O tempo de deslocamento para trabalhar no núcleo metropolitano – Plano Piloto – varia entre 1h e 2h para cerca de 21% dos trabalhadores do município, evidenciando o baixo grau de mobilidade urbana, impactando diretamente na qualidade de vida destes indivíduos.

Tabela 1. População ocupada segundo o local onde trabalha e tempo para deslocamento – Valparaíso de Goiás.

Local de trabalho Até

20min De 20min a 40min De 40min a 1h De 1h a 1h30 De 1h30 a 2h De 2h a 3h Acima de 3h Total Valparaíso de Goiás 33% 10% 2% 1% 0% 46% Plano Piloto (DF) 1% 6% 11% 15% 6% 2% 0% 42% Gama 1% 1% 1% 0% 0% 0% 3% Outros 2% 2% 1% 2% 2% 0% 0% 9% Total 36% 19% 16% 17% 8% 3% 0% 100%

Fonte: CODEPLAN – Pesquisa Metropolitana por Amostra de Domicílios – PMAD – Valparaíso de Goiás – 2015.

Quanto a naturalidade do morador de Valparaíso de Goiás constata-se na Tabela 2, que 40,33% deles nasceram no Distrito Federal, revelando uma migração intrametropolitana, evidenciando o fato de que o município goiano recebe um contingente populacional que inicialmente pertencia ao DF.

Tabela 2. População segundo a naturalidade – Valparaíso de Goiás.

Unidade da Federação Nº % % de Imigrantes

Total 174,156 100

Goiás 19,842 11,39

Outras UFs 154,313 88,61 100

Distrito Federal 70,24 40,33 45,52

Fonte: CODEPLAN – Pesquisa Metropolitana por Amostra de Domicílios – PMAD – Valparaíso de Goiás – 2015.

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A relação entre Brasília e Valparaíso de Goiás é própria de um contexto metropolitano e reproduz ainda – mesmo que contrário ao planejamento inicial – o modelo de exclusão socioespacial que pode ser observado em diversas realidades urbanas no Brasil e no mundo. Valparaíso de Goiás revela em seu território as dinâmicas impostas pelo rígido controle do solo no DF e, ao mesmo tempo, a ação do capital na produção do espaço urbano na periferia de Brasília. Este processo se desdobra no surgimento de novas modalidades de habitação que até então não eram vistas naquele município goiano e se materializam no espaço por meio das formas geográficas.

4 AS NOVAS FORMAS RESIDENCIAIS NA PERIFERIA DA METRÓPOLE

O mercado imobiliário explora os municípios goianos do “Entorno Sul”, criando novos empreendimentos, voltados à população de baixa e média renda, atraindo aqueles que necessitam de moradia a preços acessíveis, ainda que distantes do centro metropolitano. No caso específico de Valparaíso de Goiás, outros dois fatores serão fundamentais para atração da atividade imobiliária: a alta densidade demográfica e a destinação fundiária da terra como 100% urbana, inexistindo áreas rurais. Assim, todo o município se torna um produto imobiliário urbano em potencial.

O processo de periferização da moradia permite a “revalorização de terras, para aumentar as possibilidades de lucro no mercado imobiliário, além da liberação de novas áreas para a destruição, construção e reconstrução de produtos imobiliários de maior valor” (Penna, 2016: 150-151).

Em Valparaíso de Goiás o bairro Parque das Cachoeiras é um exemplo concreto do processo de periferização da moradia. Neste bairro se destacam as moradias na forma vertical que surgem às margens da rodovia federal BR 040, a partir do ano de 2009. A partir daquele ano, foram construídos edifícios de 11 pavimentos, que além dos apartamentos, contam com aparelhos coletivos de lazer e segurança1.

Segundo Ramires (1998: 101) “a verticalização é própria do processo de urbanização brasileiro, um fenômeno dos tempos modernos, sendo responsável por consideráveis alterações na estrutura das cidades”. Para aquele autor, o processo de verticalização não deve ser visto como consequência natural da urbanização, mas uma alternativa escolhida pelos diversos atores que envolvem a estrutura interna das cidades. Souza (1994, 25-26) entende que “a produção da verticalização é materializada na produção dos edifícios, como consequência de uma articulação de múltiplas formas de capital num mesmo objeto, realizando, com louvor, a acumulação e a reprodução de capital”.

Para Mendes (1992), a forma material do processo de verticalização é o edifício de 4 (quatro) pavimentos ou mais. Acerca do processo de verticalização, o autor afirma que é um “processo intensivo de reprodução do solo urbano, oriundo de sua produção e apropriação de diferentes formas de capital, principalmente consubstanciado na forma de habitação como é o caso do Brasil” (Mendes, 1992: 55).

1 Uma das principais estratégias para promover a segurança das habitações verticais é o isolamento, mediante a utilização de muros, evidenciando a segregação urbana, já discutida em: BASTOS, J. D.; SOBRINHO, F. L. A. Verticalização urbana e autossegregação: estudo de caso do município de Valparaíso de Goiás. Building the way. Paisagens, Imagens e Imaginários. v. 7, n. 2, dezembro/2017. p. 77-86.

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Habitados a partir de 2011, no Parque das Cachoeiras foram entregues 3.684 apartamentos e estima-se que em 2018 mais 480 ainda serão entregues. Naquele bairro ainda há previsão legal para a construção de pelo menos mais quatro empreendimentos do porte daqueles que já existem e estão representados na figura 2.

Figura 2: Verticalização urbana no bairro Parque das Cachoeiras. Fonte: os autores, junho de 2017.

Aliado ao fato de que o preço da terra urbana na periferia da metrópole é menor que nas áreas centrais, outras duas características podem explicar os preços mais baixos destas unidades habitacionais em relação ao Distrito Federal: apartamentos pequenos (até sessenta m²) e a alta quantidade de unidades por condomínio (dentre os cinco condomínios já entregues, a quantidade total de apartamentos varia de 960 a 480 unidades).

No caso do bairro Parque das Cachoeiras é importante salientar que seu processo de verticalização é paralelo à valorização imobiliária daquela região, considerando a renovação e expansão que sofreu o shopping center e a instalação de uma filial da rede de fast food “Mc Donalds” localizados nas proximidades do bairro.

Outra vertente do processo de verticalização urbana em Valparaíso de Goiás se materializa na forma dos edifícios de quatro pavimentos. Estes se localizam em diversas regiões do município e devido à menor quantidade de pavimentos, dispensam na sua estrutura interna um equipamento coletivo que encarece o valor final da unidade e a manutenção mensal do condomínio: o elevador.

Em paralelo ao crescimento vertical surge outra nova forma de habitar no município. Ao contrário do que observamos nos modelos de crescimento urbano baseados no mercado imobiliário informal, que utiliza estratégias como invasão de terra (pública ou não), grilagem, venda de lotes vazios e carentes de infraestrutura básica – que em muito é aplicado aos municípios do EMB – em Valparaíso de Goiás a expansão horizontal tem suas especificidades.

Aqui, este processo baseou-se no mercado imobiliário formal, com a oferta de casas de até três quartos, em condomínio fechado, com acesso aos serviços públicos de água e energia

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elétrica, rede de captação de águas pluviais, pavimentação asfáltica, áreas de lazer (quadras de esportes, salão de festas, parques infantis) e dispositivos de segurança, como isolamento mediante a utilização de muros, rígido controle de acesso e segurança particular interna. Um exemplo deste processo é o bairro Florais do Planalto onde foram produzidas a partir do ano de 2010, em quatro condomínios diferentes, 1.416 unidades habitacionais.

Nestes condomínios destaca-se a construção “geminada” das unidades habitacionais que são produzidas simetricamente, compartilhando parte do telhado e estrutura construtiva, com o objetivo de reduzir os custos da obra (Figura 3). Um dos principais impactos na qualidade de vida dos moradores destes condomínios é a perda da privacidade, uma vez que devido ao uso da técnica que compartilha a estrutura das unidades, o isolamento acústico é pouco efetivo, desta maneira, são comuns as queixas dos moradores em relação aos sons produzidos pelo vizinho imediato.

Figura 3: Casas geminadas no Bairro Florais do Planalto. Fonte: os autores, junho de 2017.

Outra forma residencial que tem surgido após o ano de 2009 neste município é o “falso-condomínio”. São arranjos residenciais construídos em áreas onde inicialmente existiam unidades voltadas às atividades de lazer (chácaras) de no máximo 20.000 m² – em muitos casos lotes de 5.000 m² – que são desmembradas resultando em um aglomerado de habitações unifamiliares, que dividem a estrutura, alvenaria e telhado, com o intuito de diminuir o valor da construção e maximizar o lucro do construtor (construção “geminada”). Quase que por regra, são construídos em regiões periféricas do município, onde há pouca oferta de serviços públicos – ou eles são inexistentes – como transporte coletivo e coleta de esgoto (Figura 4).

Apesar de serem rotulados como condomínios, estes arranjos não possuem áreas de lazer (ou quando possuem são mínimas), não possuem espaços de convivência coletiva, como praças, não privilegiam a circulação interna dos pedestres e não oferecem serviços específicos aos seus moradores, sendo o acesso ao condomínio (a transposição da guarita, do muro para adentrar ao residencial) a principal característica que aproxima seus moradores em torno de um serviço em comum (Figura 5).

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Figura 4: Falsos-condomínios de Valparaíso de Goiás. Fonte: os autores, junho de 2017.

Devido ao fato de que possuem um baixo número de despesas em comum, a administração do espaço interno dispensa uma organização central ou quando se faz necessária ela é pouco eficaz. O rateio de despesas entre os moradores é quase inexistente, considerando que a estrutura física (muros, vias e portões) é entregue pelo construtor e os serviços coletivos inexistem. O descarte de resíduos e limpeza da área compartilhada é de responsabilidade individual, onde cada unidade deposita seus resíduos na via pública (extramuros) para o recolhimento via Prefeitura Municipal.

Figura 5: Estrutura interna dos falsos-condomínios de Valparaíso de Goiás. Fonte: os autores, junho de 2017.

Os serviços públicos de água e luz são tarifados de forma particular, o que também colabora para o baixo valor da manutenção interna do “condomínio”. Apesar da existência do muro, que é erguido com o intuito de proteger os moradores e garantir sua proteção, as

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casas são construídas como verdadeiros refúgios, repletas de grades, arames farpados e sistemas de segurança.

Assim, este arranjo denominado como condomínio pode ser melhor definido como “falso-condomínio”, uma vez que é registrado, produzido, vendido e comprado como condomínio, mas não possui características de tal. Essa forma residencial é uma evolução das moradias multifamiliares (cortiços, casas de cômodo, casas de fundo, entre outras formas subnormais destinadas a população de menor renda), agora com uma nova roupagem, sob o pretenso status obtido pelo uso do termo “condomínio” que na versão das classes médias e altas tem outras comodidades não presentes nestas versões populares. Em contraste com a primeira forma citada, a vertical, que sobrevalorizou uma área da cidade, próximo a principal via de ligação do DF à região sudeste (rodovia federal BR 040), os condomínios horizontais foram construídos na periferia, distante do centro de comércio e serviços (principalmente os falsos-condomínios), uma vez que a terra é menos valorizada.

Estas novas formas residenciais são construídas pelo mercado imobiliário formal, logo, se instalam em áreas regularizadas, garantindo o reconhecimento legal da propriedade do comprador. A instalação destes empreendimentos em uma área regularizada pelo poder público gera a possibilidade de compra mediante a utilização de subsídios e taxas de financiamento diferenciadas do programa do governo federal “Minha Casa Minha Vida”, com a possibilidade de utilização do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS e o financiamento bancário convencional, além de permitir o acesso a determinadas linhas de crédito voltadas à reforma e melhoria da moradia.

Para o comprador, em muitos casos, o financiamento destas unidades habitacionais acaba com prestações mensais com valores mais baixos do que o pagamento de aluguel no DF. Para as instituições de crédito, a própria casa ou apartamento se torna a garantia do acerto contratual. No que diz respeito as linhas de crédito voltadas à construção da moradia, a maioria delas tem como requisito a propriedade legal de onde se realizará a obra.

A produção destas formas residenciais, tanto verticais como horizontais, é voltada – principalmente – ao público que cumpre os requisitos do programa federal “Minha Casa Minha Vida”, que conta com subsídios e taxas de juros diferenciadas para a população de baixa e média renda. Assim, Valparaíso de Goiás se torna um polo de atração para a população destes segmentos sociais do Espaço Metropolitano de Brasília.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo da forma geográfica isoladamente das outras categorias analíticas não é o suficiente para apreendermos a totalidade do espaço. Vale ressaltar que "cada forma sobre a paisagem é criada como resposta a certas necessidades ou funções do presente” (Santos, 2014a: 73). Neste sentido, a forma deve ser estudada concomitantemente com sua função, com o propósito para qual ela foi gerada, considerando que a sociedade é quem impõe o seu valor.

A análise do município de Valparaíso de Goiás de nenhuma maneira pode renegar o contexto metropolitano no qual se insere em relação à Brasília. Por fazer parte do Espaço

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Metropolitano da Capital Federal, este município goiano sofre grande influência e sua dinâmica urbana em muito é ditada por esta realidade.

Devido ao aumento do número de indivíduos que não consegue estabelecer moradia no Distrito Federal, Valparaíso de Goiás se tornou uma alternativa e consequentemente polo atrativo para parte desta população. Assim, este município tem recebido um contingente demográfico que procura por moradias a baixo custo e com forma de pagamento acessível. Neste sentido, observa-se neste município, mais incisivamente após o ano de 2009, o surgimento de dois grupos de formas residenciais que tem se destacado na paisagem. O primeiro grupo se refere à forma vertical, enquanto o segundo é identificado pela forma horizontal, no modelo de condomínios fechados.

Na produção de ambos os grupos de habitação, foi perceptível que eles foram concebidos de modo a satisfazer a necessidade de reprodução do capital imobiliário. Houve uma expansão planejada e executada da mancha urbana da cidade de maneira que o solo urbano periférico fosse sobrevalorizado e vendido como mercadoria com alto valor agregado. A venda do imóvel pronto potencializa a margem de lucro dos agentes do mercado imobiliário, considerando as características destes empreendimentos: casas e apartamentos pequenos, alta densidade de unidades habitacionais por condomínio e uso de técnicas construtivas que reduzem custos, como no caso das unidades “geminadas” dos condomínios horizontais.

Outra característica que se destaca nestas novas formas residenciais que surgiram em Valparaíso de Goiás após o ano de 2009, é o fato de que elas emergem atreladas à política pública do governo federal de financiamento de imóveis mediante o programa “Minha Casa Minha Vida”. Estas moradias são voltadas a atender o público de baixa e média renda que – primordialmente – financiará o imóvel pela Caixa Econômica Federal, sendo este, inclusive, um dos principais argumentos utilizados pelo mercado imobiliário para vendê-los.

Apesar de promover inclusão social, incrementar a economia local e subsidiar o crescimento de Valparaíso de Goiás, o surgimento destas novas formas residenciais é dissociado de um planejamento central do poder público que não consegue oferecer a infraestrutura e os serviços necessários para resguardar a qualidade de vida dos moradores destes empreendimentos imobiliários que surgem em um ritmo maior do que a capacidade do município de prover as necessidades de sua população.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Portal Cidades. 2017. Disponível em: [https://cidades.ibge.gov.br/]

Acesso em 4 de julho de 2017.

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Oliveira, M. L. P. (1987) Contradições e conflitos no espaço de classes: centro versus periferia. In Paviani, A. (Org.) Urbanização e metropolização. Brasília: Editora Universidade de Brasília. p. 125-144.

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Vasconcelos, P. de A. (2013) Contribuição para o debate sobre processos e formas socioespaciais nas cidades. In: Vasconcelos, Corrêa e Pintaudi (Orgs.). A cidade contemporânea. Segregação Espacial. Ed. Contexto. São Paulo.

Referências

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