• Nenhum resultado encontrado

Urbanização e fragilidade ambiental na Bacia do Corrego Proença, Municipio de Campinas (SP)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Urbanização e fragilidade ambiental na Bacia do Corrego Proença, Municipio de Campinas (SP)"

Copied!
205
0
0

Texto

(1)

UNICAIIVIIP

Número: 37/2006 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

LUÍS RIBEIRO VILELA FILHO

Urbanização e Fragilidade Ambiental na Bacia do Córrego Proença,

Município de Campinas (SP)

Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geografia

Orientador: Pro[ Dr. Antonio Carlos Vitte

CAMPINAS- SÃO PAULO

(2)

© by Luis Ribeiro Vilela Filho, 2006

Catalogação na Publicação elaborada pela Biblioteca do

Instituto de Geociências/UNICAMP

Vilela Filho, Luis Ribeiro

V711 u Urbanização e fragilidade ambiental na bacia de drenagem do córrego Proença, Município de Campinas (SP) I Luis Ribeiro Vilela Filho.-- Campinas,SP.: [s.n.], 2006.

Orientador: Antonio Carlos Vitte

Dissertação (mestrado) Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

1. Urbanização- Campinas (SP). 2. Planejamento urbano. 3. Drenagem. 4. Riscos- Aspectos ambientais. 5. Inundações-Campinas (SP). I. Vitte, Antonio Carlos. ll. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências. ill Título.

Título em inglês: Urbanization and environmental fragility in the basin drainage, Proença Minicipality of Campinas (SP).

Keywords: - Urbanization Campinas(SP); - Environmental fragility; - Drainage basin;

- Risk; - Floods.

Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial Titulação: Mestre em Geografia

Banca examinadora: - Antonio Carlos Vitte;

- Paulo Roberto Teixeira de Godoy; - Jurandir Luciano Sanches Ross. Data da defesa: 21/08/2006

(3)

UNICAMP

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA ÁREA ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA

TERRITORIAL

AUTOR: LUIS RIBEIRO VILELA FILHO

Urbanização e Fragilidade Ambiental na Bacia do Córrego Proença,

Município de Campinas (SP)

ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Carlos Vitte

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Antonio Carlos Vitte Presidente

Prof. Dr. Paulo Roberto Teixeira de Godoy

Prof. Dr. Jurandyr Luciano Sanches Ross

(4)

À minha mulher Silvia, por todos os momentos que passamos e vamos passar juntos.

À nossa filha Julia Helena, a mawr alegria que aconteceu em nossas vidas.

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus pela vida, e a minha mãe "Dona Nena" (in memoriam) por ter me ensinado o caminho.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Antonio Carlos Vitte, por mais essa oportunidade e confiança, sempre apontando caminhos com sugestões pertinentes. Às vezes "paizão", às vezes "puxando a orelha", mas sempre no sentido de ajudar a desenvolver uma pesquisa digna e coerente.

A todos os amigos e professores do Instituto de Geociências (IG). Apesar do pouco contato durante o curso de Mestrado, devido às circunstâncias do dia-a-dia (trabalho, família, pesquisa, etc.).

Particularmente, aos amigos Camila e Cidão, companheiros de curso e de orientador. Ao amigo Luiz Henrique (Lique) pela providencial ajuda no abstract.

A todos os funcionários do IG, particularmente a Val e a Ednalva que sempre tiveram solução para nossos problemas, sempre dispostas a ajudar e com bom humor, algo raro no serviço público.

À historiadora Joana Tonon, do Arquivo Municipal de Campinas, pela relevante contribuição durante o levantamento dos dados históricos de Campinas e pelas sugestões que muito contribuíram para a organização do trabalho. Mas acima de tudo, pela dedicação e profissionalismo demonstrado no exercício de sua profissão.

À minha irmã Maria (Nê) e meu cunhado Deeb, pelo socorro com materiais e equipamentos e pela torcida.

À minha outra irmã e parceira de "loucuras de estudo", Luciane e meu cunhado Rodolfo que me incentivaram desde o início do curso, começando por me presentearem com o "Livro do Toninho" que foi a base histórica deste trabalho. E pelo computador, impressora, e claro, pelos socorros prestados pelo Rodolfo nas horas de pane no computador.

Às duas mulheres da minha vida, Silvia e Julia, por terem suportado todo esse tempo minhas inúmeras ausências, mau humor, falta de tempo ... há se não fossem vocês!

E a todos os demais familiares e amigos que de alguma forma acompanharam mais essa etapa da minha vida.

(6)

Sumário

Sumário ... . IX Índice de Figuras . . . .. . . .. . . . .. . . . ... . . ... .. ... .. . . x Índice de Tabelas ... ... ... .. . ... ... ... .. . ... ... .. . ... ... ... ... X! Índice de Mapas . . . X! Índice de Quadros . . . .. . . ... ... . . .. ... . . X! Índice de Estampas . . . ... . ... .. . ... ... X! Índice de Gráficos . .. . . .. . . ... .. . . ... . . .. . . ... . X!! Anexos ... . X!! Resumo ... . Xll1 Abstract ... . XV 1 -Introdução ... . 1

2 - A Fragilidade e os Riscos Ambientais ... . 15

2.1 -A Bacia de Drenagem como Sistema Ambiental . . . ... .... .. .. . ... . .. ... ... ... 19

2.1.1 -A Morfodinâmica da Bacia de Drenagem Segundo a Noção de Sistemas 20 3- A Produção Capitalista do Espaço Urbano ... . 23

3.1 -O Meio Ambiente Urbano ... . 35

4 - Histórico Sobre o Processo de Ocupação e Produção do Espaço Urbano em Campinas... 42

4.1 -O Início da Ocupação em Campinas... 42

4.2- A Expansão Canavieira e o Surgimento da Oligarquia Campineira ... 44

4.3 -A Economia Cafeeira e a Expansão Urbana de Campinas ... 47

4.4- O Século XX e a Consolidação das Funções Urbanas de Campinas... 61

4.5- A Urbanização da Bacia do Córrego Proença... 77

4.5.1- A Constituição dos Loteamentos na Bacia do Córrego Proença... 79

5- Caracterização Ambiental da Bacia do Córrego Proença... 91

5.1 -Caracterização Geológica . . . ... . . .. . .. . . 91

5.2- Aspectos Climáticos... ... ... 98

5.3 -Vegetação ... . 106 5.4 -Caracterização Geomorfológica . . . .. . . l 06

(7)

6 -Fragilidade Ambiental e Unidades de Paisagem na Bacia do Córrego Proença .... 117 6.1 - O Uso da Morfometria na Análise da Fragilidade da Paisagem .. . ... ... .. .. 118 6.2- As Unidades de Paisagem na Bacia do Córrego Proença ... .

7-Planejamento, Intervenções Urbanas e as Enchentes

8 - Considerações Finais ... . Bibliografia. Anexo I. Anexo2 ... . Anexo3.

Índice de Figuras

Figura 1 : Tipos de Leitos Fluviais .

Figura 2:Localização do Município de Campinas ... .

Figura 3: Bacia de Drenagem do Córrego Proença e Delimitação Aproximada dos Principais Bairros .

Figura 4 Planta da Cidade de Campinas para o Ano de 1878 Figura 5: Planta da Cidade de Campinas para o Ano de 1893 . Figura 6 Planta da Cidade de Campinas para o Ano de 1900 Figura 7 Planta da Cidade de Campinas para o Ano de 1929 Figura 8 Planta da Cidade de Campinas para o Ano de 1956 Figura 9 Geologia do Município de Campinas .

Figura 10: Perfil Transversal da Bacia do Córrego Proença Figura 11: Tipos de Terreno do Município de Campinas Figura 12: Geomorfologia do Município de Campinas

Figura 13: Unidades de Paisagem na Bacia do Córrego Proença

139 148 181 185 195 205 213 3 7 11 51 53 63 69 89 93 97 109 115 145

(8)

Figura 14: Planta com parte da área da bacia do córrego Proença no ano de 1968 . .. . !5l

Figura 15: Parte da carta topográfica contendo a área da bacia do córrego Proença.. 173

Índice de Tabelas

Tabela 1: Movimento imigratório europeu segundo nacionalidade e tipo de imigração em Campinas- 1882 a 1900 ... 58

Índice de Mapas

Mapa 1: Densidade de Drenagem da Bacia do Córrego Proença ... . Mapa 2: Hierarquia Fluvial da Bacia do Córrego Proença ... . Mapa 3: Comprimento das Vertentes da Bacia do Córrego Proença ... . Mapa 4: Declividades da Bacia do Córrego Proença ... .

Índice de Quadros

121 125 129 133 Quadro 1: Totais Anuais Pluviométricos- Município de Campinas-SP (1958-2003) ... 99

Quadro 2: Médias Mensais Pluviométricas Município de Campinas-SP (1958-2003) 100 Quadro 3: Terrenos Colinosos Suavemente Ondulados... 111

Quadro 4: Terrenos Colinosos Ondulados a Inclinados . ... ... .. ... . .. . ... ... ... . ... .. .... ... .. ... 112

Quadro 5: Densidade de Drenagem da Bacia do Córrego Proença . . .. . .. . .. ... .... .. . . . ... . . 119

Quadro 6: Hierarquia Fluvial da Bacia do Córrego Proença ... 123

Quadro 7: Comprimento das Vertentes da Bacia do Córrego Proença . . .. .... .. ... .. . ... . .. 128

Quadro 8: Evolução da População de Campinas- 1970 a 2005 ... 139

Índice de Estampas

Estampa 1: Enchente na Bacia do Córrego Proença ocorrida em 17/02/2003 ... . 137

(9)

Estampa 3: Padrão da Ocupação Urbana em Bairros do Setor de Alto Curso do

Proença ... . !55

Estampa 4: Obras Realizadas nos Setores de Médio e Baixo Curso do Proença na década de 1970 ... ... ... ... 161 Estampa 5: Pontos de enchentes no Médio e Alto Curso do Proença, identificados pelo programa de combate às enchentes em I 996 .

Estampa 6: Canalização subterrãnea e projeto de paisagismo sobre a àrea canalizada na via Norte-Sul, no setor de Baixo Curso do Proença ...

Estampa 7: Obras de captação de esgotos no Jardim São Fernando, setor de Alto Curso do Proença .

Índice de Gráficos

175

177

179

Gràfico 1: Precipitação Anual Total para o Município de Campinas- 1958 a 2003 101 Gràfico 2: Desvios Pluviais Mensais para o Município de Campinas- 1958 a 2003 102 Gràfico 3: Precipitação Média Mensal para o Município de Campinas- 1983 a 2003 I 03 Gràfico 4: Distribuição Mensal da Precipitação para o Município de Campinas- 1983 104 Gràfico 5: Distribuição Mensal da Precipitação para o Município de Campinas- 1982 105

Anexos

Anexo I: Relatórios Anuais dos Trabalhos da Prefeitura Municipal de Campinas . 195 Anexo 2: Ato Municipal n° 118 de 23/0411938.. ... 205 Anexo 3: Decretos, Leis e Atos da Prefeitura Municipal de Campinas... 213

(10)

UNICAMP

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

Urbanização e Fragilidade Ambiental na Bacia do Córrego Proença,

Município de Campinas (SP)

RESUMO

Dissertação de Mestrado

Luís Ribeiro Vilela Filho

O acelerado processo de expansão urbana verificado nas últimas décadas, particularmente nas grandes cidades brasileiras, fez com que os chamados problemas ambientais urbanos se avolumassem de forma generalizada Dentre esses problemas, a questão das enchentes tem se constituído em um dos mais relevantes por acarretar danos socioambientais por vezes irremediáveis. Em sua gênese, a incidência de enchentes em áreas urbanas está associada ás circunstâncias em que se consolida a apropriação do espaço urbano, que em geral são baseadas em posturas pouco abrangentes da gestão pública, na medida em que essas intervenções são regidas por interesses particulares em detrimento das características e propriedades do espaço natural. Essas intervenções alteram e desestabilizam o sistema natural, fazendo com que sua dinâmica passe a responder a novos estímulos e processos, podendo resultar na fragilidade do sistema, uma vez que, no meio fisico a fragilidade está associada à suscetibilidade desse meio sofrer alterações. Nesse contexto, o objeto de estudo deste trabalho é a bacia de drenagem do córrego Proença, situada nas imediações da área central da cidade de Campinas (SP) que, em função de um modelo de planejamento associado a uma lógica especulativa imobiliária, atrelada ao poder local, acabou por gerar um intenso e denso processo de urbanização na bacia, que acarretou em profundas intervenções no seu sistema natural, provocando seu desequilíbrio, o qual se reflete nas constantes situações de enchentes ocorridas anualmente na bacia. Tendo em vista estas questões, o objetivo deste trabalho é caracterizar a situação de risco ás enchentes na bacia do córrego Proença, a partir da relação entre a fragilidade potencial do relevo, e o processo de produção do espaço urbano em Campinas. Nesse sentido, a correlação entre os índices morfométricos obtidos possibilitou a identificação dos setores de fragilidade potencial da bacia, de tal forma que, a associação entre o modelo de gestão urbana adotado para a cidade, onde priorizaram-se as intervenções viárias e funcionais no sentido de fuvorecer a especulação imobiliária em detrimento dessas propriedades morfométricas do espaço natural, resultou em situações de risco à enchentes bacia do córrego Proença.

(11)

UNICAIVIIP

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ANÁLISE AMBIENTAL E DINÃMICA TERRITORIAL

Urbanization and Environmental Fragility in the Basin Proença Stream,

Municipality of Campinas (SP)

ABSTRACT

The acceleratered urban expansíon process that took place during the last decades ín most of Brazílían metropolís, made the so-called urban envíronmental problems íncrease in a generalízed way_ Among those problems, floods have become one of the most relevant sínce it may cause social-envíronmental hazards, which are, sometimes, incurable.

The incidence of floods in urban areas is associated to the circurnstances consolidated by the use of the urban space, generally based on not so wide-ranging public policies, since those interventions are ruled by private interests rather than the characteristics and specific aspects of the natural area.

Such interventions alter and make the natural system unstable, so that its dynamics react to the new stimulus and processes, resulting in its fragility, since in the physical environment this fragility is associated to its susceptibility of undergoíng changes.

In this context, the focus of present study is the Basín Drainage Proenca, located around the downtown area Campinas (SP) which, dueto a planning scheme associated to logic speculative real state aflàirs, connected to local power, caused a great urban process around the basín area which led to a deep impact in íts natural system, thus causing unstable status reflected by the frequent and hígh incidence of floods that annually take place.

Based in the above statement, the aim of study was characterize the situatíons of risks related to floods in the Basin Proenca, taking into account the relatíonship between the fragíle terrain and the urban developing process in Campinas.

The correlation between the morphemics rate found in this study enabled the ídentification of potentíal fragíle areas in the basin in such a way that, the association between urban management rnodels used by local government, where the íntervention of roads are given more attention in order to favor real state speculation rathen than to the morphemics characteristic of the natural area, resulted in the situation o f risks of floods in the Basin Proença.

(12)

1

Introdução

Dentre as diversas questões abrangidas pela problemática ambiental urbana, as enchentes têm se constituído em uma das mais relevantes por parte do poder público, particularmente nas grandes cidades brasileiras.

Nesse sentido, muitos têm sido os programas desenvolvidos nas esferas governamentais visando combater as enchentes. Entretanto, embora boa parte desses programas seja amparado por elevados investimentos financeiros, em geral, os resultados nem sempre conseguem atingir os objetivos previstos. E o que se vê, ano após ano, é a repetição do problema a cada estação chuvosa, com conseqüências socioambientais cada vez mais agravantes. Diante desse cenário, nas últimas décadas o fenômeno das enchentes em áreas urbanas tem sido objeto de pesquisa de inúmeros trabalhos nas mais variadas linhas de abordagem, dentre os quais pode-se citar: CUSTÓDIO (2001); GOMES (2000); MATTEDI (1999); OLIVEIRA (1998), e TUCCI (1993).

De maneira geral, os episódios de enchentes em áreas urbanas estão associados aos eventos de precipitação mais concentrada, quando são registrados grandes volumes de chuva em curto espaço de tempo.

Nesse sentido, HILTON SILVEIRA PINTO (2005), diretor do CEPAGRl!UNlCAMP, ressalta que as chuvas que causam danos à população são normalmente as de alta intensidade horária, quando os aguaceiros ultrapassam normalmente 30 mm causando alagamentos nas áreas de baixadas. Totais pluviométricos acima dos 100 mm/dia podem ser caracterizados como causadores de fortes danos à população. Ocorrem com uma freqüência média de aproximadamente 15% dos anos, com concentração maior no período caracterizado como chuvoso, para cada região. As chuvas de elevada intensidade diária, além dos alagamentos, são responsáveis por deslizamentos de terras principalmente quando incidem em terrenos já saturados pela água de chuvas anteriores. Nesse caso o índice meteorológico empregado para os alertas contra esse tipo de dano, recomendado pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos-CPTECIINPE - é dado quando a soma das chuvas ocorridas nas últimas 72h atinge 80 mm, no caso das áreas continentais ou l20mm para a faixa litorânea.

(13)

O aumento da freqüência com que esse fenômeno tem oconido nas áreas urbanas - nos eventos de precipitação mais concentrada - fez com que ele se tomasse parte do cotidiano da sociedade urbana, seja por esta ter sido afetada de forma direta, seja por meio de noticiários jornalísticos. Diante dessas circunstãncias, não são raras as vezes em que se vê a questão das enchentes sendo associada apenas a um fenômeno meramente urbano, além de, coniqueiramente, ser atribuída mais de uma denominação ao mesmo fenômeno. Assim, tomou-se comum um mesmo evento ser tratado como inundação, alagamento, cheia, ou enchente.

Esta questão também está presente entre aqueles que abordam esse fenômeno como objeto de pesqmsa. Nesses casos, as diferentes denominações se dão em função da área de especialização de cada um que se propõe a fazê-la.

Segundo CUSTÓDIO (1998), tecnicamente existem as cheias, enquanto o termo enchente se refere à uma denominação popular assimilada e de uso corrente nos meios técnico e científico_ Dessa forma, as cheias ou enchentes são fenômenos naturais próprios da dinãmica hidrológica dos rios.

De acordo com CHRJSTOFOLETTI (1980), sob o ponto de vista geomorfológico, essa dinàmica està associada aos tipos de leitos fluviais (Figura 1 ), os quais são distinguidos da seguinte forma:

leito de vazante, que está incluído no leito menor e é utilizado para o escoamento das águas baixas. Ele acompanha o talvegue, que é a linha de maior profundidade ao longo do leito_ leito menor, que é bem delimitado, encaixado entre margens geralmente bem definidas. O escoamento das águas nesse leito tem a freqüência suficiente para impedir o desenvolvimento de vegetação. Ao longo desse leito verifica-se a existência de irregularidades, com trechos mais profundos, as depressões, seguidas de partes menos profundas, mais retilíneas e oblíquas em relação ao eixo aparente do leito.

leito maior periódico ou sazonal é regularmente ocupado pelas cheias, pelo menos uma vez a cada ano.

leito maior excepcional por onde ocorrem as cheias mais elevadas. É submerso em intervalos irregulares, com periodo de retomo variáveL

A relação entre esses tipos de leito variam de um curso de água a outro, inclusive de um setor a outro de um mesmo rio. No que se refere às suas delimitações, estas são dificeis de serem

(14)

traçadas e a nitidez maior é a que existe entre o leito menor e o leito maior (CHRlSTOFOLETTI, 1980).

Figura 1: Tipos de leitos fluviais

~ Planície de

1 \ Inundação

.

.

.

Leito Maior Excepcional (Nivel de Cheia)

Leito Maior Periódico (Nivel de Cheia)

.

.

:···

..

. .. .

... v

. _ Leito Menor • • • • • • .

Dique Marginal .._ __..

\L. Vazante) DiqUe Marginal

"'--./

Fonte: CUSTÓDIO (2001); CHRISTOFOLETTI (1981).

Planicie de

1

Inundação

...

.

..

..

A Figura 1 mostra que o leito maior periódico e o leito maior excepcional correspondem às planícies de inundação (CHRlSTOFOLETTI, 1981). Assim, pode-se entender que as cheias e as enchentes correspondem ao mesmo fenômeno, na medida em que ambos dizem respeito ao extravasamento das àguas do leito menor de um rio, alcançando posteriormente os demais leitos, sendo esse conjunto de ações caracterizado também como um fenômeno natural.

CUSTÓDIO (1998) aponta que nesse fenômeno natural, a distinção estaria no fato de as cheias ou enchentes serem um fenômeno hidrológico que ocorrem quando as águas extravasam o leito menor dos cursos d'água e, o ato das águas atingirem as áreas marginais seria uma inundação, correspondendo a um fenômeno geomorfológico urna vez que agiria sobre diferentes níveis de relevo, ou seja, o leito maior periódico associado às planícies de inundação ocupadas pelas águas das cheias anuais e o leito maior excepcional associado às planícies de inundação ocupadas pelas águas das cheias que ocorrem em intervalos anuais irregulares.

Isso significa que, sob o ponto de vista geomorfológico, o fenômeno das enchentes em áreas urbanas não se configura como natural devido à interferência das inúmeras variáveis relacionadas ao processo de urbanização, como por exemplo, a canalização e retilinização dos rios; estrangulamento das seções transversais pela construção de pontes e viadutos; ocupação das

(15)

áreas margma~s aos cursos d'água; impermeabilização do solo, entre outros, que alterain as características naturais dos canais fluviais, e conseqüentemente sua dinâmica natural

Posto isso, não por acaso, torna-se consenso entre grande parte dos pesquisadores, que as enchentes urbanas são resultado de um longo processo de modificações e desestabilização do meio natural, decorrentes de intervenções humanas no espaço (MATTEDI, 1999).

No Brasil, essas intervenções se intensificarain com a consolidação do processo de expansão urbana por conta do modelo de desenvolvimento adotado pelo pais nas primeiras décadas do século XX, o qual primava pela racionalização dos processos de circulação, de tal forma que se fazia necessário a implantação de sistemas viários eficientes - elemento fundamental para a economia industrial capitalista - dado a necessidade da circulação de mercadorias.

Dentre os diversos exemplos da influência na aplicação desse modelo no Brasil, sem dúvida, a implantação das vias marginais expressas que compõem o complexo sistema viário instalado sobre as áreas de planícies inundáveis dos rios Tietê e Pinheiros 1 , na cidade de São

Paulo, foi o de maior expressão. Mas também outros projetos de menor envergadura, porém não menos relevantes, foram desenvolvidos com o mesmo intuito, mas desta feita, incorporando-se as questões sanitaristas, como são os casos das reformas de Pereira Passos no Rio de Janeiro, em 1903; das reformas sanitaristas em Santos, a partir de 1905, e os projetos implantados em Campinas, inicialmente com as obras sanitaristas em 1896, assim como em Santos, coordenadas pelo engenheiro e sanitarista Francisco Rodrigues Saturnino de Brito2 E posteriormente com a elaboração e implantação do Plano de Melhoramentos Urbanos de Campinas, coordenado pelo engenheiro e arquiteto Francisco Prestes Maia3 na década de 1930 (SANTOS, 2002).

1 Todo o processo de implantação desse plano é minuciosamente abordado por Odete Seabra em sua

tese de Doutorado intitulada Os meandros dos rios nos meandros do poder: Tietê e Pinheiros -Valorização dos rios e das várzeas na cidade de São Paulo. São Paulo, FFLCH- USP, 1987.

2 Engenheiro formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, Francisco Rodrigues Satumino de Brito

é o nome mais relevante da história do urbanismo sanitarista do Brasil. Esse seguimento urbanístico primava pelo conhecimento técnico aplicado ao saneamento e higiene urbana na remodelação das cidades. Era vinculado aos princípios do urbanismo moderno, o qual contrapunha-se ao chamado urbanismo "haussmanniano", modelo urbanístico prevalecente no Brasil no final do século XIX baseado nas obras efetuadas em Paris pelo Barão de Haussmann, cujas principais características eram a ~eometria das avenidas e bulevares (CAMPOS, 2002).

Engenheiro civil e arquiteto formado pela Escola Politécnica de São Paulo em 1917, Francisco Prestes Maia apresentava como currículo, anos de trabalho profissional na Diretoria de Obras Públicas da Secretaria de Viação e Obras Públicas. Ao mesmo tempo fora professor das disciplinas de Desenho Geométrico e à Mão Livre e Desenho Arquitetônico e Esboço do Natural-Desenho de Perspectiva, ambas

(16)

No período compreendido entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, esses planos tinham como fator primordial as preocupações higienistas, dado a onda de epidemias que assolou as cidades com grande concentração populacional naquele período, particularmente São Paulo, Santos e Campinas, as quais eram interligadas pelos trilhos das ferrovias, o que possibilitava o acesso relativamente rápido entre elas e, de certa forma, também a rápida proliferação de epidemias como a febre tifóide, a varíola, a peste e, principalmente, a febre amarela.

A implantação do modelo urbanístico sanitário (VILLAÇA, 1999), cujas obras de drenagem, canalização e retificação possibilitaram o ganho de terras antes destinadas aos cursos d'água e à inundação natural, e a posterior implantação de planos com enfoque prioritário para as questões funcionalistas e viárias, segundo o princípio da necessidade de sanear para viabilizar a implantação das redes viárias, e assim melhor circularem as mercadorias, demonstraram a preocupação em atender ao mercado especulativo imobiliário e a crescente demanda da economia industrial capitalista.

No entanto, o modelo de planejamento urbano adotado, se de um lado materializou o processo de especulação imobiliária e a conseqüente expansão urbana, por outro, gerou ambiente de risco à população e à infra-estrutura urbana, como as enchentes e os escorregamentos.

O município de Campinas é sede da RMC4 e está situado no interior do Estado de São Paulo, distando aproximadamente 1 00 quilômetros da capital, na direção noroeste, entre as latitudes 22° 45' 00" e 23° 02' 30" Se as longitudes de 46° 50' 00" e 47° 15' 00" W (Figura 2). Tem como principais vias de acesso as rodovias Anhangüera, D. Pedro I, Bandeirantes, e Santos Dumont. A área total do município é de 795,7 Km2 e a população em 2000 era de 969.396 habitantes, com projeção estimada de 1.045.706 habitantes em 2005, e com uma taxa de urbanização de 98,58% (IBGE, 2006).

A expansão urbana de Campinas passou a se intensificar a partir das últimas décadas do século XIX, baseada no desenvolvimento de funções secundárias e terciárias, desenvolvendo

daquela mesma escola. Dentre seus trabalhos, o de maior expressão foi o Plano de Avenidas de São Paulo, documento crucial do urbanismo paulistano, publicado em maio de 1930 (CAMPOS, 2002).

4

Criada pela Lei Complementar n° 870, de 19/06/2000, a RMC (Região Metropolitana de Campinas) é constituída pelos municípios de Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, lndaiatuba, ltatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Nova Odessa, Paulinia, Pedreira, Santa Bárbara D'Oeste, Santo Antonio de Posse, Suma ré, Valinhos e Vinhedo.

(17)

a indústria, transportes, comércio e serviços, em decorrência do apogeu da economia cafeeíra e da instalação das ferrovias5 .

Até o fim da década de 1920, a expansão urbana do município caracterizava-se pelo adensamento da área central, com a proliferação de unidades residenciais e dos setores de comércio e serviços. Enquanto as indústrias se instalavam predominantemente em áreas afastadas do perímetro urbanizado, suscitando a implantação de novos loteamentos residenciais. Por sua vez, por parte do poder público, a preocupação maior era com as obras de drenagem urbana e com os trabalhos de abastecimento de água e saneamento básico no município. Nesse sentido, os principais trabalhos eram desenvolvidos com o intuito de dizimar os possíveis focos de doença, particularmente de febre amarela, que já havia assolado a cidade em períodos anteriores, e assim propiciar maior conforto e segurança à população.

No entanto, a crise internacional de 1929 impôs à cidade transformações significativas em sua estrutura social e econômica. Ao contrário de períodos anteriores, a transferência de capital do setor agrícola para o ramo urbano-industrial surgiu como alternativa para superar a crise. Porém, devido às particularidades fundiárias do município, outro segmento econômico ganhou força: o setor imobiliário urbano, cujo foco principal era o parcelamento de chácaras e de antigas fazendas, incorporando-as ao núcleo urbano.

Mas o grande impulso nesse processo ocorreu na década de 1930 com a implantação do Plano de Melhoramentos Urbanos de Campinas, concebido pelo engenheiro e arquiteto Francisco Prestes Maia.

5 Criada em 1872, a Cia. Paulista de Vias Férreas ligava Campinas a Jundiaí. Dali a São Paulo e Santos,

o percurso era feito pela São Paulo Railway. Em 1875 foi criada a Cia. Mogiana estabelecendo assim a conexão com o interior no itinerário do café (BADARÓ, 1996).

(18)

Figura 2: Localização do município de Campinas Bacia de Drenagem do Ribeirão das Rio Capivari Rodovia Santos Dumonl

Estado de São Paulo

Rodovia D. Pedro I

Bacia Drenagem do Córrego Proença Rodovia Anhammera

Rodovia dos Bandeirantes

1- Campinas 2- V alinhos 3 -Nova Odessa 4- Pedreira 5 - ltatiba 6- 1ndaiatuba 7- Monte Mor 8 - Hortolândia 9- Holambra l 0- Paulínia 11-Jaguariúna 12- Sumaré 13- Vinhedo !4- Sta.B.n·oeste 15- Americana 16- Cosmóoolis N

A

Fonte: Meio Ambiente

(19)

Dada sua relevância, as propostas e instrumentos de ação do projeto influenciaram de forma significativa, por quase três décadas, a organização do espaço urbano de Campinas.

Porém, atrelado ao grande referencial urbanístico de Campinas, havia o interesse de expandir a cidade, o qual era compartilhado além do poder público, pelas frações do capital local, notadamente os proprietários de terras e os empresários do setor imobiliário e da construção civil (CARPINTERO, 1996).

Dessa forma, a partir da década de 1930, o desenvolvimento desse processo foi norteado por um profundo mecanismo de intervenção da terra no município, comandado pelas práticas de produção, apropriação e consumo do espaço urbano, assim como, pelas contradições inerentes a esse processo que determinaram a configuração espacial da morfologia urbana, não apenas da bacia do córrego Proença, como de toda a cidade de Campinas.

Esse mecanismo insere-se no contexto da lógica capitalista de produção urbana, cuJa dinâmica é permeada por diferentes escalas de relações que norteiam as necessidades de produção e reprodução da acumulação capitalista, as quais são engendradas por agentes sociais que produzem e consomem espaço por meio de ações complexas que incluem práticas que levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz por meio da incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade (CORRÊA, 1992).

Nesse contexto, o objeto de estudo dessa pesqmsa é a bacia de drenagem do córrego Proença, situada nas imediações da área central da cidade de Campinas - SP que, em função de um modelo de planejamento, associado a uma lógica especulativa imobiliária, atrelada ao poder local, acabou por gerar um intenso e denso processo de urbanização na bacia. Esta situação, associada às caracteristicas e propriedades do espaço natural na bacia gerou situação de riscoàs enchentes.

A bacia do córrego Proença, atualmente caracterizada pela densa urbanização e por problemas ambientais, onde se destacam as enchentes, está inserida em um processo em que os elementos que compõem a lógica capitalista de produção urbana se fizeram presentes na história de sua urbanização, particularmente, após no inicio da década de 1940, quando se iniciou a incorporação de suas várzeas ao espaço urbano de Campinas, com as primeiras obras de retificação e canalização do córrego Proença.

(20)

Essas obras viabilizaram o processo de especulação imobiliária com a valorização das terras das antigas propriedades fundiárias situadas na área que compreende a bacia, que a partir de então passaram a ser parceladas para constituição de loteamentos habitacionais.

Com isso, desencadeou-se um intenso processo de intervenções no meio físico-natural da bacia que, associado à estruturação dos bairros, resultou em constantes situações de risco com as enchentes, eventos que se tomaram mais freqüentes a partir da década de 1970 e que culminou no mês de fevereiro de 2003, em um dos mais graves episódios de enchente, quando foi registrado em um período de 24 horas, aproximadamente 140 mm de chuva, dos quais, 1 04 mm concentraram-se em um periodo de quarenta minutos (CEPAGRIIUN1CAMP).

Com uma área aproximada de 15 Km2, a bacia de drenagem do córrego Proença, situada

entre as coordenadas 7463.000 e 298.000 UTM e, 7460.000 e 301.000 UTM, além dos bairros constituídos a partir da década de I 940 possui também uma relação histórica com a origem do município de Campinas por abranger do seu sítio histórico. Atualmente os principais bairros situados na área compreendida pela bacia do córrego Proença são: Jardim Baronesa, Jardim Guarani, Jardim Itatiaia, Jardim Paraíso, Jardim Proença, Jardim Santa Eudóxia, Jardim São Fernando, Nova Campinas, Vila Lemos, Cambuí (parcialmente), Ponte Preta (parcialmente), além de parte do centro histórico (Figura 3).

(21)

Figura 3: Bacia do córrego Proença e delimitação aproximada dos principais bairros

Fotografia aérea pancromática de escala!: 25.000, vôo jun-1994 (0-554), faixa 37 no 4 Fonte·. Biblioteca IGIUNICAMP

Organizado por Luís Ribeiro Vilela Filho Data: jan/2006

(22)

Portanto, o objetivo deste trabalho é caracterizar a situação de risco às enchentes na bacia do córrego Proença, a partir da relação entre a fragilidade potencial do relevo e o processo de produção do espaço urbano em Campinas. Duas hipóteses fundamentam este trabalho:

a) O processo de consolidação da expansão urbana de Campinas foi baseado essencialmente na imposição de um modelo cujo mecanismo efetivo tinha por princípio a busca pela máxima lucratividade. Nesse processo participaram, o corpo técnico da prefeitura de Campinas, então dominado pelos profissionais da engenharia civil, as famílias que controlavam política e economicamente a cidade e o modelo de planejamento adotado.

b) O padrão de urbanização que hoje prevalece na bacia do córrego Proença, associado às características e propriedades do seu espaço natural, seu sítio, acabaram por gerar situações de risco ambiental, incluindo enchentes.

Os capítulos que compõem este trabalho estão estruturados da seguinte forma:

• A fragilidade e os riscos ambientais, abordando a instabilidade do sistema natural relacionada às características genéticas do espaço natural e às formas de uso e ocupação

socíoeconômica do espaço;

• A produção capitalista do espaço urbano, abordando as concepções teóricas que tratam do espaço urbano apresentado como condição e produto da economia capitalista contemporânea;

O meio ambiente urbano, enfocando a relação entre os elementos e processos do espaço natural com a produção do espaço urbano no modo de produção capitalista, a fun de que se possa compreender os chamados problemas ambientais urbanos;

• A urbanização de Campinas, ressaltando a expansão urbana da cidade a partir das últimas décadas do século XIX, com ênfase para o processo pelo qual se deu a incorporação da bacia do córrego Proença ao espaço urbano do município, e o papel dos agentes que atuaram nesse processo que acabou interferindo na dinâmica hidrológica da bacia, alterando seu sistema natural e resultando nos problemas ambientais urbanos inerentes a esse processo;

(23)

geológicas, climáticas, geomorfológicas e de vegetação do município de Campinas, com destaque para a área compreendida pela bacia;

• As unidades de prusagem e a morfologia urbana na bacia do córrego Proença, onde caracterizou-se a fragilidade potencial do relevo a partir do uso de índices morfométricos e hidrográficos e suas relações com as unidades de paisagem na bacia;

• Planejamento, íntervenções urbanas e as enchentes, com abordagem para o papel do poder público e da iniciativa privada na gestão urbana e da natureza na cidade, com destaque para as políticas públicas voltadas para o combate às enchentes;

• Considerações Finais, abordando os principais aspectos do trabalho, além de enfatizar as contribuições mais relevantes da pesquisa e as dificuldades encontradas para o seu desenvolvimento.

(24)

2 -

A Fragilidade e os Riscos Ambientais

Normalmente o termo fragilidade relaciona-se à suscetibilidade de algo sofrer intervenções, ou de ser alterado. No caso do meio físico, está ligado a fatores de desequilíbrio, tanto de ordem natural (alto grau de declividade, alto grau de erodibilidade, variações climáticas) quanto de ordem social (uso indevido das terras, intervenções em regimes fluviais, técnicas impróprias de cultivo, entre outros).

Adotando como base teórica a Teoria Geral dos Sistemas, ROSS (1994) analisa a fragilidade dos ambientes partindo do princípio de que na natureza, as trocas de energia e matéria se processam por meio de relações em equilíbrio dinâmico. No entanto, este equilíbrio é freqüentemente alterado pelas intervenções humanas nas diversas componentes da natureza, que podem resultar em desequilíbrios temporários ou mesmo permanentes.

Nesse sentido esse autor apresenta dois elementos como principais determinantes da instabilidade do sistema natural: a) as características genéticas do espaço natural, uma vez que os ambientes apresentam processos naturais que podem inferir fragilidade ao sistema; e b) segundo, as formas de uso e ocupação socioeconômica do espaço (FRAISOLI, 2005).

Trabalhando a relação morfogênese/pedogênese, TRICART (1977) desenvolveu o conceito de ecodinâmica dos meios. Para esse autor, quando um determinado sistema ambiental está em desequilíbrio, a morfogênese, ou erosão, predomina sobre a pedogênese, caracterizando um meio ecodinâmico instável. Por outro lado, nos meios onde ocorre o domínio da pedogênese sobre a morfogênese, estes se caracterizam pelo equilíbrio dinâmico e estável.

Na concepção de TRICART (1977), o desequilíbrio de um sistema ambiental ocorre em função de condições naturais, como mudanças climáticas ou estruturais, ou pela intervenção humana, com a organização do espaço.

Utilizando estes conceitos, ROSS (1991 e 1994) inseriu novos critérios para as unidades ecodinâmicas estáveis e instáveis, desenvolvendo assim o conceito de fragilidade ambiental.

Para que o conceito de fragilidade ambiental pudesse ser utilizado como subsídio ao planejamento ambiental, ROSS (1994) aprofundou o uso do conceito, estabelecendo as unidades ecodinâmicas instáveis em vários graus, desde instabilidade muito fraca à muito forte. Aplicou o mesmo critério para as unidades ecodinâmicas estáveis, que, embora estejam em equilíbrio dinâmico, apresentam instabilidade potencial qualitativamente previsível, face às suas

(25)

características naturais e à possível inserção antrópica.

De acordo com ROSS (1994), o conhecimento das potencialidades dos recursos naturais passa pelo levantamento de todos os componentes do estrato geográfico que dão suporte a vida. Estes estudos devem originar produtos cartográficos temáticos de geomorfologia, geologia, pedologia, climatologia e uso da terra/vegetação, sendo que da interação desses elementos pode-se constituir um mapa de fragilidade ambiental.

VITTE & SANTOS (1999) incluíram como critério para a confecção do mapa de fragilidade ambiental, a análise das declividades, a carta de energia do relevo, que inclui uma integração entre o mapa de declividades com o mapa de dissecação horizontal e o de dissecação vertical do relevo, a densidade de drenagem, a densidade de nascentes e o índice de erosividade das chuvas.

Aliado aos índices físico-naturais, faz-se necessário a inclusão de elementos da organização socioeconômica. Tais elementos tornam-se os componentes que comandarão a estruturação espacial de uma determinada paisagem por meio do uso e ocupação do solo. Eles também potencializam a sensibilidade da paisagem, que é compreendida como sendo a capacidade que um sistema têm de responder a uma determinada mudança que ocorre nos fatores que controlam o seu funcionamento.

Considerando o uso e ocupação do solo no ambiente urbano, FRAISOLI (2005), salienta que a análise da fragilidade ambiental possibilita a prevenção de situações de risco, além da possibilidade de composição de um planejamento urbano/ambiental que preserve os ambientes naturais, ao mesmo tempo em que promove um processo de ocupação segura do solo.

JACOBI (2000) também ressalta a estreita relação entre riscos e a questão do uso e ocupação do solo, apontando que é dessa relação que resultam as questões determinantes das condições ambientais do meio urbano. Nesse sentido esse autor aponta que a incidência de riscos no meio urbano se exacerbou, particularmente nas últimas três décadas, devido ao acentuado processo de expansão urbana, o qual caracterizou-se por dois movimentos simultâneos e significativos: a intensificação das intervenções nas redes de drenagem, com obras de retificação e canalização dos rios, aterramento das várzeas e sua incorporação à malha urbana, e a explosão na abertura de loteamentos de periferia.

Essas formas de apropriação do espaço, resultado da prioridade adotada pelo modelo de gestão urbana empregado, propiciaram a geração de ambiente de risco refletido em uma enorme

(26)

variedade de situações catastróficas ocorridas no meio urbano, como por exemplo as enchentes e os escorregamentos de encostas (JACOBI, 2000).

Tais situações remetem à importância de se compreender os processos que determinam os diferentes usos do ambiente natural e construção do ambiente propriamente dito pela sociedade, na sua dimensão social e produtiva, de tal forma que o conhecimento e as ações não fiquem restritos apenas ao produto do risco. Dai, a importância dos conhecimentos a cerca da avaliação e estimativa de riscos.

CASTRO et ai. (2005) apontam que o risco pode ser tomado como uma categoria de análise que a priori pode ser associada às noções de incerteza, exposição ao perigo, perda e prejuízos material, econômico e humano, em decorrência de processos de ordem natural, como os processos endógenos e exógenos da Terra, e/ou daqueles relacionados às ações humanas. Isso significa portanto que o risco estaria relacionado à probabilidade de ocorrência de processos no tempo e no espaço, não constantes e não-determinados, e à maneira como esses processos afetam direta ou indiretamente a vida humana.

De acordo com GONZÁLEZ (2006) a noção de risco têm vàrias aceitações, dependendo da àrea de pesquisa e o enfoque que se adote. Isso faz com que haja uma multiplicidade de interesses e perspectivas para sua resolução, fato que o torna uma questão bastante complexa.

Desta forma, para abordar essa complexidade essa autora propõe diferenciar, em termos analíticos, quatro dimensões como componentes do risco: periculosidade, vulnerabilidade, exposição e incerteza.

Desse modo, a periculosidade diz respeito ao perigo próprio dos fenômenos naturais e dos processos tecnológicos, sendo que, cada periculosidade possui especificidades próprias, motivo pelo qual sua análise requer conhecimento especializado proveniente do campo das ciências fisicas, bàsicas e naturais, para prever, até onde for possível, seu comportamento (GONZÁLEZ, 2006).

Por sua vez, a vulnerabilidade caracteriza-se pelas condições sociais, econômicas, culturais e institucionais, de uma sociedade. Essas caracteristicas prévias à ocorrência de eventos catastróficos predispõe a sociedade a sofrer danos e determinam o nível de dificuldade que ela terá para se recuperar autonomamente do impacto (GONZÁLEZ, 2006).

Assim essa autora enfatiza que isso significa que na análise da vulnerabilidade interessam as heterogeneidades da sociedade implicada, uma vez que serão elas que determinarão uma

(27)

parte considerável das conseqüências catastróficas da periculosidade, ou, em outras palavras, diferentes situações soc1ms, institucionais e econômicas, explicam como similares periculosidades podem ter diferentes conseqüências em distintas sociedades.

A outra dimensão do risco apontada por GONZÁLEZ (2006) é a exposição, a qual diz respeito à distribuição de pessoas e bens em um território potencialmente suscetível de ser afetado por periculosidade natural ou tecnológica, que não é outra coisa senão a expressão territorial da relação entre periculosidade e vulnerabilidade, sendo o seu resultado, a configuração de determinados usos do solo, distribuição de infra-estrutura, localização de assentamentos humanos, entre outros.

Por fim, a última dimensão é a incerteza, que tem a ver com as dimensões não quantificáveis do risco, ou seja, com o não conhecido. De acordo com GONZÁLEZ (2006), quando se fala de incerteza, como contexto de risco, entende-se que se desconhece o valor concreto que tomarão certas magnitudes, além das probabilidades de que um evento aparecerá. São situações que não podem ser resolvidas com base no conhecimento existente, mas que requerem soluções imediatas pela importância dos valores em questão.

Segundo GONZÁLEZ (2006), a incerteza tem ao menos duas dimensões: uma é a técnica, que se refere à falta de respostas da ciência em relação às caracteristicas das ameaças e da sociedade exposta; a outra é a política, que se refere à necessidade de se tomar decisões mesmo quando não haja certezas cientificas. O reconhecimento dessas carências faz com que se torne fundamental a incorporação à tomada de decisão, de todos os atores sociais que se encontram expostos ao risco, pois são eles que sofrem as conseqüências das catástrofes, e em geral, também são os que mais podem fazer para reduzir as margens da incerteza.

Esses componentes do risco apontados por GONZÁLEZ (2006) embora possuam uma dimensão espacial que pode ser desdobrada em vários aspectos, é no meio urbano onde, a princípio, pode-se perceber uma tendência de concentração espacial de riscos.

Mas para se identificar as áreas de risco e se obter a fragilidade ambiental de um meio, é necessário antes definir um recorte analítico que relacione tanto os processos fisico-naturais do relevo quanto os elementos da organização sócio-econômica. Desta forma, assume-se que a bacia de drenagem, por ser uma categoria escalar de origem natural, atende as condições para esta escala de abordagem.

(28)

2.1 -A Bacia de Drenagem como Sistema Ambiental

Segundo CUNHA (1998), é possível encontrar na bibliografia existente diversos conceitos para bacia de drenagem, sendo que, a maioria têm em comum a noção de um curso fluvial que recebe água da precipitação, diretamente sobre o espelho d'água, e do escoamento superficial de determinada área, a qual é definida por meio dos pontos altitudinais mais elevados, ou seja, os divisores de água. Além disso, estas definições enfatizam o fato destas águas sempre convergirem para um ponto comum, a foz. Outra semelhança nas citações de vários autores, é que os cursos fluviais de uma bacia de drenagem também são alimentados pela água oriunda do escoamento sub-superficial e pelo lençol freático.

Isso demonstra, quanto ao conceito de bacia de drenagem, que não existem divergências significativas, constatando-se apenas maior ou menor ênfase em determinados aspectos desta unidade espacial, em função do enfoque considerado por cada autor em particular.

Esta similaridade entre conceitos pode ser aglutinada naquele apresentado por SILVEIRA (1993) que define a bacia de drenagem como uma área de captação natural de água da precipitação que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saida, sendo composta por um conjunto de superficies vertentes e por uma rede de drenagem formada por cursos d'água que confluem até resultar um leito único.

Oficialmente a utilização da bacia de drenagem como unidade de planejamento ocorreu nos Estados Unidos em 1933 com a criação da Tennesse Valley Authority (TVA). Desde então, os estudos que têm como unidade de base as bacias de drenagem, proliferaram-se pelos mais diversos seguimentos da ciência moderna que visa o planejamento ambiental.

No Brasil, o uso da bacia de drenagem nos trabalhos de pesquisa se intensificou somente nas últimas décadas do século XX. BOTELHO (1999) ressalta que a década de 1980, e principalmente a de 1990, foram marcadas pela elaboração de diversos trabalhos que têm na bacia de drenagem sua unidade fundamental de pesquisa, em detrimento das áreas de estudo anteriormente utilizadas, como as unidades político-administrativas ou aquelas delimitadas por linhas de coordenadas cartográficas formando quadriculas definidas em cartas topográficas.

De acordo com VILELA FILHO (2002), essa intensificação pode ser atribuída à criação da lei de Política Agricola Lei n° 8.171/91 - que em seu artigo 20 determina que as bacias de drenagem constituem-se em unidades básicas de planejamento do uso, da conservação e da

(29)

recuperação dos recursos naturais. Posteriormente, a importância da bacia de drenagem como unidade de estudo se acentuou com a criação da Lei n° 9.433/97 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos .

Segundo BOTELHO (1999), a bacia de drenagem é uma célula natural que, a partir da sua seção de controle, pode ser delimitada sobre uma base cartográfica que contenha cotas altimétricas, como as cartas topográficas ou que possibilite a visão tridimensional da paisagem, como as fotografias aéreas, ou ainda a partir de imagens de satélite.

Dessa forma, tendo sua delimitação baseada em critérios geomorfológicos, as bacias de drenagem levam vantagens sobre outras unidades de planejamento definidas por atributos, que podem ter os traçados dos limites bastante imprecisos, como unidades definidas por atributos climáticos ou tipos de vegetação que podem não cobrir a paisagem de modo contínuo.

2.1.1 -A Morfodinâmica da Bacia de Drenagem Segundo a Noção de Sistemas

De acordo com CHRlSTOFOLETTI (1980), a Teoria Geral dos Sistemas (General Systems Theory) foi aplicada na Geomorfologia inicialmente pelos trabalhos de ARTHUR N. STRAHLER (1950; 1952), ruas os trabalhos básicos e essenciais para o desenvolvimento dessa problemática são de JOHN T. HACK (1960), R!CHARD J. CHORLEY (1962) e ALAN D. HOWARD (1965).

Para CHRlSTOFOLETTI (1980), entre as principais dificuldades em se conceituar os fenômenos como sistemas, está a identificação dos elementos, seus atributos e suas relações, as quais são essenciais para se delinear com clareza a extensão abrangida pelo sistema focado.

Os sistemas podem ser classificados pela complexidade estrutural ou pelo critério funcional. Considerando-se a estrutura, CHORLEY & KENNEDY (1971, apud CUNHA, 1998) ressaltam que os sistemas podem ser classificados em diversas categorias. Dentre elas, as que pertencem ao âmbito da Geomorfologia são:

a) sistema morfológico: composto pela associação das propriedades fisicas do fenômeno, onde, o sistema é caracterizado pela sua composição e geometria;

b) sistema em seqüência: constituído por um conjunto de subsistemas que matem inter-relações por meio de uma cascata de matéria ou energia. Nesta seqüência, a saida de matéria ou energia ( output) de um subsistema constitui-se na entrada (input) do subsistema adjacente;

(30)

c) sistema de processo-resposta: formado pela combinação dos sistemas anteriores, onde, o processo é representado pelo sistema em seqüência, e a forma, pelo sistema morfológico;

d) sistema controlado: composto pela integração dos sistemas morfológico; em seqüência e processo-resposta. Este sistema apresenta a atuação antrópica sobre determinadas variáveis do sistema de processo-resposta que produzem modificações no fluxo de matéria e energia dentro do sistema em seqüência, influenciando conseqüentemente, nas formas do sistema de processo-resposta.

Segundo CUNHA (1998), considerando-se a complexidade estrutural, a bacia hidrográfica se enquadra em diversas classificações. Para CHORLEY & KENNEDY (1971, apud CUNHA, 1998), ao estudar a morfometria de uma bacia hidrográfica, visando estabelecer a hierarquia fluvial, a densidade de drenagem ou atributos inerentes às vertentes, a abordagem realizada considera aspectos vinculados principalmente à sua geometria e composição, o que se caracteriza como um sistema morfológico.

Dentre outras maneiras de se estudar a bacia hidrográfica por meiO da estrutura, a abordagem pode ser realizada como sistema controlado, devido à suscetibilidade à atuação antrópica. Nesse sentido, CHRISTOFOLLETI (1980) ressalta que a simples remoção da cobertura vegetal de uma determinada área, gera alterações na distribuição de matéria e energia dentro do sistema em seqüência, influenciando conseqüentemente, nas formas que estão relacionadas com o sistema de processo-resposta.

Considerando-se o critério funcional, CRISTOFOLETTI (1980) aponta que FORSTER, RAPOPORT E TRUCCO, distinguem os sistemas em:

a) isolados: onde as condições iniciais não sofrem perda ou ganho de energia e matéria do ambiente que as circundam;

b) não-isolados: onde há relações com os demais sistemas do universo e podem ser subdivididos em:

- fechados: quando há recebimento e perda de energia, mas não de matéria. - abertos: quando há tanto a perda quanto o recebimento de matéria e energia.

Dentro dessa concepção sistêmica, a bacia hidrográfica estrutura-se segundo a noção de sistema aberto, onde a precipitação e a radiação solar representam fontes de energia, enquanto a perda de matéria é representada pela carga de sedimentos e solutos (VITTE, 1997).

(31)

CHORLEY & KENNEDY (1971, apud CUNHA 1998) apontam a existência de urna analogia direta entre os sistemas abertos e as bacias hidrográficas, onde, por meio da propriedade de auto-ajustamento dos sistemas abertos, a bacia de drenagem pode atingir um estado de equilíbrio dinâmico em que a importação e exportação de matéria e energia são equacionadas por meio do ajustamento das formas do sistema.

Segundo CUNHA (1998), quando se altera um elemento do sistema aberto, todo o sistema é afetado, e seu funcionamento passa a procurar um novo ponto de equilíbrio a fun de produzir um auto-ajustamento à nova situação. Neste tipo de sistema funcional, a relação entre forma e processo também são contemplados, uma vez que os limites são abertos para a recepção de massa e energia, as quais, ao circularem pelo sistema, podem alterar sua forma por meio dos processos que causam. Da mesma forma, a influência antrópica pode se processar livTemente, uma vez que o sistema aberto recebe massa e energia de qualquer agente externo que possa atuar sobre ele.

Nesse sentido, uma vez que as bacias hidrográficas são caracterizadas como sistemas abertos e de processo-resposta, qualquer mudança ocasionalmente ocorrida em um setor desta, refletirá sobre os outros.

No caso das intervenções humanas através da expansão urbana, esta relação é intrinsecamente complexa, visto que, qualquer alteração em seu meio fisico natural afetará todo o sistema da bacia. Dessa forma, o produto dessas intervenções como obras de engenharia hidráulica nas redes de drenagem; impermeabilização do solo; construção de pontes e viadutos ao longo dos canais, resultado do modelo de gestão urbana adotado, se constituem em intervenções que afetam os processos que funcionam de maneira lógica no interior da bacia.

(32)

3- A Produção capitalista do Espaço Urbano

As transformações econômicas e socJrus que caracterizaram o capitalismo em sua fase mercantil (SPOSITO, 1998), possibilitaram à cidade uma capacidade de produção que a diferenciava dos processos de urbanização ocorridos anteriormente. Segundo SPOSITO (1998), a cidade mercantil era o espaço de dominação e gestão do modo de produção, de exercício de poder, e fornecedora de serviços, tanto quanto as cidades antigas. No entanto diferenciava-se delas por seu caráter produtivo, ou seja, era o lugar da produção de mercadorias.

De acordo com SPOSITO (1998), na medida que as transformações no processo produtivo foram se consolidando - com o estabelecimento das formas de produção industrial - maior foi se tomando sua afinidade com a área urbana, fazendo com que a cidade cada vez mais se tomasse um espaço de produção, até. chegar ao ponto em que a atividade industrial exerceu total predomínio sobre as demais atividades econômicas, de tal forma que a industrialização e a urbanização se tomaram fenômenos correlatos, sendo dificil analisá-los sem relacionar um ao outro.

Simultaneamente, naquele período outros acontecimentos tiveram significativa importância no processo de estruturação do modo de produção capitalista, desde a emergência do trabalho assalariado - decorrente do surgimento da manufatura - até a introdução de novas máquinas e ferramentas no processo produtivo 6

A fase de transformações pelo qual passou o processo de produção industrial se estendeu até meados do século XVIII, quando a industrialização atingiu seu pleno desenvolvimento com a revolução industrial, advento símbolo da consolidação das bases do capitalismo.

Nesse sentido, a revolução industrial e a conseqüente instauração plena do capitalismo trouxeram consigo uma ampla divisão social e territorial do trabalho, tendo na cidade, o centro dessa dinãmica espacial.

A mercadoria sempre teve como principal finalidade, a satisfação das necessidades humanas. Mas com a consolidação do modo de produção capitalista essa finalidade se evidenciou, sobretudo no que concerne à sua acumulação, de tal forma que novos sentidos foram atribuídos às mercadorias, baseados especialmente na noção de valor. Dada sua importância no

6

Na verdade, a introdução de novas máquinas e ferramentas no processo produtivo, serviram para consolidar o controle da produção por parte dos capitalistas, pois eram os únicos que podiam fazer frente

(33)

contexto capitalista, a noção de valor foi fonte preponderante de consideração por parte de economistas políticos, sobretudo do século XIX (HARVEY, 1980).

Para os economistas clássicos, dentre eles Marx, cada mercadoria têm duplo aspecto de expressão na sociedade capitalista, valor de uso e valor de troca, sendo que o valor de uso se refere a utilidade particular que tem para um indivíduo o uso de uma mercadoria, enquanto o valor de troca está associado ao reconhecimento deste valor por parte dos demais indivíduos. Em outras palavras, esse conceito se materializa quando ocorre a relação de troca, de tal forrna que, nessa relação, uma mercadoria serve como valor de troca para quem a produziu e posteriormente como valor de uso para quem a adquiriu, então essa mercadoria se efetiva ao mesmo tempo como valor de uso e valor de troca.

HARVEY (1980) ressalta que nas considerações de Marx, um valor de uso só se realiza no processo de consumo, ou s~a, uma determinada mercadoria somente adquire um valor de uso quando efetivamente for consumida. Por outro lado, o valor de troca se manifesta como uma relação quantitativa dos valores de uso no processo, ou, na proporção pela qual valores de uso são trocados por outros. A partir daí passa a indagar então sobre as forças que geram o valor de troca na sociedade capitalista.

Segundo MARX (1978), dentre os elementos constitutivos das mercadorias, deve haver um elemento comum para que possam ser comparadas. Porém, esse elemento não pode ser uma propriedade natural das mercadorias, pois as propriedades fisicas só são consideradas na medida em que tornam as mercadorias utilizáveis e façam delas, valores de uso. Para se descobrir este elemento comum das mercadorias é preciso abstrair seus valores de uso, e ao fazê-lo, resta-lhes a qualidade de serem produto do trabalho.

Nesse sentido, CLEAVER (1981) destaca:

Na abstração de sua realidade material como valores de uso e como produtos de formas particulares de trabalho útil, essas mercadorias surgem apenas como prodotos do trabalho humano, abstraídos de qualquer particularidade. Esse trabalho humano que é comum a elas é chamado por Marx de trabalho abstrato. Como produtos do trabalho humano abstrato, elas são qualitativamente equivalentes e, como tal, ele as chama de valores (CLEA VER 1981, p. 125).

Isso significa que o trabalho é o caráter fundamental de agregação de valor das mercadorias. No entanto, embora o trabalho humano possa ser considerado o principal fator para a criação de valores das mercadorias, MARX (1978) aponta que três são os elementos a partir dos quais se estrutura o processo produtivo, do qual resultam as mercadorias: o objeto de trabalho, que

(34)

são as matérias-primas às qurus se aplica o trabalho; os meios de trabalho, que são os equipamentos e ferramentas necessários para a execução do trabalho, e a própria força de trabalho, responsável pela transformação das matérias-primas em mercadorias.

Desse modo, os três elementos possuem, cada qual, seu próprio valor de uso no processo produtivo, sendo o conjunto dessas condições, essenciais para esse processo.

Assim, apesar do trabalho humano poder ser considerado o principal elemento de geração de valor dentro do processo produtivo, pois, a partir de sua variação de tempo de realização, produtividade, quantidade e qualidade de trabalho empregado, pode agregar maior ou menor valor às mercadorias (FRAISOLI, 2005), da mesma forma, os objetos e os meios de trabalho possuem relevância no processo, considerando que são necessários, primeiro, como condições essenciais à produção e, segundo, por eles próprios se constituírem em mercadorias, com valor de uso e valor de troca.

Nesse sentido, considerando os objetos e os meios de trabalho como mercadorias, em princípio, os dois possuem como fonte básica a natureza. No entanto, como parte do processo produtivo, ambos podem estar vinculados tanto ao espaço natural, e posteriormente ao espaço produzido, assim como serem parte dele, uma vez que, ao espaço produzido vinculam-se todos os objetos construídos e concretizados, que por sua vez têm sua naturalidade na origem dos materiais com que foram construídos.

De acordo com FRAISOLI (2005), isso significa que tanto a natureza quanto o espaço produzido ao serem apropriados e incorporados ao processo produtivo pelo trabalho humano, constituem-se em mercadoria.

Desta forma, partindo da compreensão de que a mercadoria apresenta-se como a unidade essencial do modo de produção capitalista, PEREIRA (200 I) afirma:

O mecanismo essencial de produção da cidade capitalista baseia-se no principio econômico da busca do máximo beneficio, segundo o qual, o solo, bem escasso e de uso necessário para todos, é convertido em valor de troca, ao aplicar-se capital e trabalho mediante a urbanização e a construção, de tal forma que os elementos da cidade (solo, edificações, sistemas viários, entre outros) convertem-se em mercadorias, comercializada como qualquer outra. (PEREIRA, 2001, p. 36).

Nesse contexto, o espaço produzido, ou ainda, o espaço urbano, é condição e produto do modo de produção capitalista, pois ele é ao mesmo tempo, o local onde se encontram e se estabelecem as condições gerais da produção e, produto a ser consumido, dado as necessidades de vida da sociedade capitalista.

(35)

Entendido dessa forma, o espaço urbano além de ser base material e suporte das relações produtivas, ele próprio aparece como mercadoria a ser produzida e consumida segundo a lógica de reprodução do capital. No entanto, o espaço urbano enquanto mercadoria possui particularidades que não permitem que ele seja comparado a outra mercadoria qualquer. Essa situação é amplamente abordada nos trabalhos em que seus autores remetem suas análises ao uso do solo urbano.

Em sua análise, HARVEY (1980) salienta que na economia capitalista contemporânea o solo e suas benfeitorias, espaço urbano, são mercadorias. Mas não são mercadorias quaisquer, por isso os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situação diferenciada.

Nesse sentido, HARVEY (1980) aponta alguns aspectos que requerem particular atenção: i) O solo e as benfeitorias não podem se deslocar livremente por terem localização fixa, e

isso os diferenciam de outras mercadorias. Essa localização absoluta confere privilégios de monopólio à quem possui o direito de determinar o uso nessa I ocalização;

íi) O solo e as benfeitorias são mercadorias de uso necessário a todos, pois a existência de todo indivíduo está condicionada à ocupação de um lugar no espaço. Assim, para trabalhar, o indivíduo precisa ocupar um lugar e fazer uso dos objetos materiais ali localizados. Da mesma forma, qualquer indivíduo não pode viver sem moradia de alguma espécie. Não se pode existir sem alguma quantidade dessas mercadorias, e isso restringe muito a escolha do consumidor com respeito a elas;

iíi) O solo e as benfeitorias, mesmo que estejam constantemente em uso, vanam a freqüência com que mudam de mãos. No setor de aluguel do mercado de moradias, bem como no setor varejista do solo, por exemplo, o solo e as benfeitorias assumem a forma de mercadoria com mais freqüência. Em contrapartida, em setores estáveis do mercado de moradias, com ocupantes proprietários, ou em determinados tipos de realização de negócios - particularmente quando há elevado investimento de capital fixo, ou ainda no planejamento de facilidades públicas como, estradas, escolas, hospitais, entre outras, o solo e as benfeitorias assumem a forma de mercadoria com pouca freqüência;

Referências

Documentos relacionados

Outra indicação para a infiltração do ácido hialurônico é em pacientes que não possuem condições para serem submetidos a intervenção cirúrgica como uma

A realização desta dissertação tem como principal objectivo o melhoramento de um sistema protótipo já existente utilizando para isso tecnologia de reconhecimento

The MDS analysis similarly failed to correctly identify the driver variable subsets which fully control the PFES networks for three of the four motifs, and overshoots the minimum

O sistema SESI-Ba, buscando sintonizar com este novo contexto organizacional, implantou em 1996 um novo modelo de gestão, classificado como modelo da excelência

[r]

produção 3D. Mas, além de, no geral, não possuírem um forte caráter científico nos conteúdos, a maioria está voltada ao ensino de criação de personagens. Mesmo em livros

Declaro meu voto contrário ao Parecer referente à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresentado pelos Conselheiros Relatores da Comissão Bicameral da BNCC,

HLB é utilizado para prever a solubilidade do solvente em água, and OHLB é mais útil para prever o parcionamento do solvente em óleo/água.. ESTUDO