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(1)

UFRRJ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS EM

DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E

SOCIEDADE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E

SOCIEDADE.

TESE

OS SERTÕES DE SÃO PAULO DO MURIAHÉ

TERRA, RIQUEZA E FAMÍLIA NA ZONA DA

MATA MINEIRA: 1846-1888

Vitória Fernanda Schettini de Andrade

(2)

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS EM

DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E SOCIEDADE

OS SERTÕES DE SÃO PAULO DO MURIAHÉ

TERRA, RIQUEZA E FAMÍLIA NA ZONA DA MATA MINEIRA:

1846-1888

VITÓRIA FERNANDA SCHETTINI DE ANDRADE

Sob a Orientação do professor

Dr. Luiz Flávio de Carvalho Costa

e Co-orientação da professora

Drª Margarida Pereira Varela dos Santos Montenegro Durães

Tese submetida como grau de Doutora

em

Ciências

Sociais

em

Desenvolvimento,

Agricultura

e

Sociedade, no Curso de Pós graduação

em

Ciências

Sociais

em

Desenvolvimento,

Agricultura

e

Sociedade,

Área

de

Concentração

Estudo de Cultura e Mundo Rural

Seropédica, RJ

Junho de 2011

(3)

981.51 A553s T

Andrade, Vitória Fernanda Schettini de.

Os sertões de São Paulo do Muriahé. Terra, riqueza e família na Zona da Mata Mineira, 1846-1888 / Vitória Fernanda Schettini de Andrade, 2011.

232 f

Orientador: Luiz Flávio de Carvalho Costa

Tese (doutorado) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Ciências Humanas e Sociais.

Bibliografia: f. 213-226

1. Zona da Mata Mineira - Teses. 2. Terra – Teses. 3. Riqueza - Teses. 4. Família - Teses. I. Costa, Luiz Flávio de Carvalho. II. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Instituto de Ciências Humanas e Sociais. III. Título.

(4)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E SOCIEDADE

VITÓRIA FERNANDA SCHETTINI DE ANDRADE

Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Doutora em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, no curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, área de Concentração em Estudo de Cultura e Mundo Rural.

TESE APROVADA EM ____/____/_____

________________________________________________ Luiz Flávio de Carvalho Costa

Dr em História Econômica – USP (UFRRJ-CPDA) Orientador

________________________________________________ Maria Verònica Secreto de Ferreras

Drª em Ciências Econômicas – UNICAMP (UFF-PPGH) _______________________________________________

Jorge Luiz Prata de Sousa

Dr. em História Social – USP (Coordenador Mestrado em História UNIVERSO/Niterói) ________________________________________________

Eli de Fátima Napoleão de Lima

Drª em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade – UFRRJ/CPDA (UFRRJ-CPDA)

________________________________________________ Rômulo Garcia Andrade

Dr. em História Social – USP (UFRRJ – ICHS) SUPLENTES

________________________________________________ Susana Cesco

Drª em História Social - UFRJ (UFRRJ-CPDA) _______________________________________________

Rita de Cássia Silva Almico

(5)
(6)

AGRADECIMENTOS

Desafios perpassam a vida do pesquisador. Ás vezes solitário, em meio a arquivos organizados, às vezes em porões como um caça fantasmas, no meio de um emaranhado de papéis a deriva, dando vida nova às interpretações. Às vezes como um carrossel rodeado de amigos que juntos a brincar compartilham dos sofrimentos e nos faz sentir mais felizes numa cumplicidade de uma viagem longa e sem fim.

Vez em quando o carrossel girava mais rápido de forma a não controlá-lo, outras vezes mais lentamente, quase a encalhar nas engrenagens da viagem. Durante o girar, tanto em períodos mais conturbados, como em períodos mais calmos, lá estava à presença especial de alguns companheiros que seguiram por tempos mais longos ou mais curtos nesta viagem, mas que me levaram a aprender muito da Mata Mineira, de Portugal e de mim mesma.

Há de se entender que o carrossel não para, a não ser que o desliguemos. Chegamos, pois, a apenas a mais uma conquista, e que deve ser comemorada. Mas o divertimento, que sempre nos põe em movimento em torno do eixo de si mesmo, tem que continuar. Digamos, então, que colocaremos em descanso para comemorarmos o momento da conquista. E tenho muito a celebrar e a agradecer.

Tudo do que aqui se fez presente devo em certa maneira ao incentivo de diversas pessoas que pelo meu percurso acadêmico passaram. Mesmo que omita alguns nomes neste inventário, todos sem distinção foram imprescindíveis para este ponto de chegada A todos agradeço de coração, mesmo que os nomes me escapem neste momento.

O que apresento aqui não é um trabalho individual, e sim fruto de um trabalho coletivo, que não se encerra por aqui, mas que incentiva o carrossel a continuar vivo, atuante, nos próximos trabalhos que virão.

Não poderia esquecer da ousadia em procurar pela primeira vez, em Cataguases, o meu “guru”, professor Jorge Prata, no qual em uma conversa informal orientou-me brevemente sobre meu interesse em História Regional. Não tínhamos noção que dali surgiria uma cumplicidade de preservação documental da Zona da Mata Mineira e futuros trabalhos sobre a região. Com o passar dos anos entendemos o quanto é difícil, mas ao mesmo tempo gratificante salvar o que possuímos, mesmo que necessitemos de muita luta.

Neste girar constante lembro-me ainda na seleção do mestrado, alguns anos atrás, de Rodrigo Fialho, meu amigo de fé, irmão, camarada, que de uma maneira informal me ensinou muito do ofício do historiador, e eu numa escolha madura e consciente optei pelo papel

(7)

interdisciplinar, que é necessário a toda e qualquer ciência. Daí minha escolha pelo doutoramento que aqui se encerra.

Jamais me esquecerei do carinho dedicado pelo professor orientador Luiz Flávio de Carvalho Costa, aqui no Brasil, e pela co-orientadora professora Margarida Durães, em Portugal; que com dedicação e ao mesmo tempo sem privar-me de minha autonomia, faziam-me indicações de leituras, orientando-faziam-me sabiafaziam-mente. Mostraram sempre seguros em si e possibilitaram sempre que fora preciso, o apoio, a dedicação e o carinho que todo orientador deve ter. Meu muito obrigado de maneira especial.

Recém chegada a UFRRJ/CPDA, Henrique e Terêsa, mesmo sem ter a exata noção, foram fundamentais à minha adaptação, pois através de informações precisas, me mantinham informada de tudo, do início ao final da defesa.

Aos professores que na instituição se fizeram presentes, Maria Verònica Secreto, Eli Lima, Héctor Alimonda, Regina Bruno, Maria José Carneiro, Roberto Moreira, John Comeford, Fátima Portilho e tantos outros que de uma maneira ou outra me possibilitam sentir “em casa” em pleno centro do Rio de Janeiro.

São tantos especiais companheiros presentes neste período: Terezinha Cavalcante, Ricardo Marinho, Ana Lúcia Silveira, Emannuel Ogguri, Mariana Trotta, Ana Letícia, Laetícia, Júnior Wesz, Paulo Niederle, Cátia Griza, Sílvia Aquino, e tantos outros amigos que por lá me acolheram que perderia a conta em descrevê-los.

Agradeço ao amparo da Universidade do Minho, em Portugal, a todos os professores do Departamento de História, de maneira especial professora Isabel Sanches e Sá e ao senhor Antunes sempre a acolher-me carinhosamente.

Residência Universitária Santa Tecla, saudades ficarão! Amigos que jamais esquecerei. Ali pude compartilhar laços de amizades muito fortes, seja entre brasileiros, moçambicanos, e portugueses. Dentre eles destaco: Deolinda, Regina, Everton, Roberto, Juliana, Bárbara Quatin, Andréia Gomes, Isabel Pimenta, Celestino, Isaac e Marcelino. Jamais me esquecerei de vocês, seja pela alegria, pela ajuda, pela cumplicidade, pelo carinho, pela amizade. Santa Tecla com certeza jamais terá o mesmo sabor!

Neste convívio tive a alegria de conhecer Marangaze, minha fiel companheira. Sua fala constante acabou por conquistar-me como uma grande amiga a partir do primeiro encontro em um café, em uma noite fria da cidade de Braga. Amizades acadêmicas que se fizeram e se fazem presentes.

(8)

Não poderia esquecer da presença marcante de Emília Lagido, que sempre bem disposta me auxiliou em dicas de leituras que foram fundamentais para desenvolver a pesquisa.

A Tchuca, não apenas pela ajuda junto aos arquivos mineiros, mas pela amizade incondicional.

Agradeço também a atenção e o auxílio dos funcionários e dirigentes das diversas bibliotecas e arquivos nos quais trabalhei ao longo deste tempo, seja nos arquivos mineiros ou portugueses. De maneira especial ao Padre Xiko. Saiba que em qualquer lugar que estiver os frutos de sua confiança estão sendo colhidos.

O apoio da CAPES foi fundamental por acreditar no meu trabalho e muito me incentivou, seja aqui no Brasil durante o doutoramento, seja em Portugal, me agraciando com uma Bolsa Sanduíche para poder estar em Braga por alguns meses. Cidade que aprendi a amar e respeitar, num sentimento meio que de desespero e ódio a início e de intenso amor ao regressar para o Brasil.

Aos companheiros do grupo de pesquisa Sociedade, Cultura e Trabalho na Zona da Mata Mineira, séculos XVIII e XIX e Sociedades Escravistas nas Américas. De maneira especial a Márcia Amantino, Jonis Freire, Elione Guimarães, Rita Almico, Fernando Lamas, Luiz Fernando Saraiva, Rômulo Andrade. Obrigada por compartilharem conhecimentos em comuns e dialogarmos vez em quando.

Aos alunos e dirigentes da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Santa Marcelina e da Faculdade de Minas, que se fizeram presentes neste momento e muito me ajudaram nas pesquisas, de maneira especial a Jamila, Bia, Kaká, Antônio Anardino, Ronan e Sérgio, que sempre quando necessário estavam de prontidão a me darem suporte, seja nos arquivos, seja em trabalhos acadêmicos. A Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, que me possibilitou ausentar da faina diária para dedicação exclusiva à pesquisa.

A minha família não tenho a capacidade de expressar o que fizeram por mim. A meus pais, mesmo ausentes em vida, devo todo o sustento e gratidão. Exemplos de postura ética e por apenas ser, me ensinaram a ser íntegra. As minhas irmãs Stela, Nena, Cacau e Ceinha, que sempre acreditaram no meu potencial. Àqueles que de maneira mais presente sentiram meus sofrimentos, angústias e alegrias mais de perto: Jorge e Luciene.

(9)

RESUMO

ANDRADE, Vitória Fernanda Schettini de. Os sertões de São Paulo do Muriahé. Terra, riqueza e família. 2011. 229p Tese de Doutorado (Doutorado em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade). Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Departamento de Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2011.

Até recentemente, a Zona da Mata Mineira era uma região com poucos títulos em nossa historiografia, sobretudo por se tratar de área fora do eixo do Caminho Novo, direcionado mais ao vale do rio Pomba, Muriaé e Carangola. Com o objetivo de descortinar um passado pouco conhecido, este trabalho aborda as relações sociais e econômicas estabelecidas em São Paulo do Muriahé, uma freguesia agrária localizada no leste da Zona da Mata Mineira, entre meados do século XIX até o final da escravidão. Para melhor aproximar desta realidade, foram buscadas na longa duração as causas que levaram o adentrar pelos sertões do leste mineiro, para então compreender as bases de sua organização fundiária. A partir da expansão das fronteiras agrícolas são analisados os conflitos mediados pela posse da terra, os desmembramentos territoriais que originaram o município de Muriaé, os investimentos monetários, a fim de entender as variações e bens aplicáveis. Por fim, foram considerados a formação familiar e os mecanismos de sucessão de herança como meio de perpetuação ou mesmo de crescimento e poder pessoal, os casamentos consanguíneos, a ilegitimidade e os laços de parentescos gerados a partir do batismo, em esforço comparativo entre a região em foco e o Minho – Norte de Portugal.

(10)

ABSTRACT

ANDRADE, Vitória Fernanda Schettini de. The inland of São Paulo do Muriahé. Land, wealth and family, 2011. 229p Doctorate Thesis (Doctor‟s Degree in Social Science, Development, Agriculture and Society). Institute of Human and Social Science, Development Department, Agriculture and Society, The Federal Rural University of Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2011.

Until recently the Zona da Mata Mineira was a region that had few titles in our hitory, mainly concerning áreas out of the axle next to Caminho Novo, directing to the Pomba river valley, Muriaé and Carangola. Aiming at opening that unknow past, this work will approach social and economic relationships established in São Paulo do Muriahé, na agricultural community located in the eastern Zona da Mata Mineira, fron mid XIX th century up the end of the slavery period. In order to analyse that reality we wiill look for the causes which led explorers to penetrate the eastern countryside of Minas Gerais, so that we‟ll be able to understand the base for that fundiary oranizatoin. As of the agricultural expansion frontier we will study the conflicts mediated by land ownership, the terrytory divisions that originated the municipality of Muriaé, the financial investiments effected, in order to understond the variations and suitable assets. Ultimately we will dedicate our attention to family formation and to succession mechanisms of heritage as means of perpetuation or even increase of personal power, to the analyses of blood-related marriage, to illegitimate tiés and the family bonds generated fron baptism. In that sense, we will give special emphasis to comparative analyses between the focused region and the Minho – North of Portugal.

(11)

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ADB – Arquivo Distrital de Braga AHU – Arquivo Histórico de Ubá APM – Arquivo Público Mineiro

APMM - Arquivo da Prefeitura Municipal de Muriaé APMSP – Arquivo Paroquial da Matriz São Paulo

CEDEPLAR – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais CPAB – Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia

CSAB – Constituições Sinodais do Arcebispado de Braga CT – Concílio de Trento

DMM – Dispensas Matrimoniais de Mitra FTPM – Fórum Tabelião Pacheco de Medeiros OF – Ordenações Filipinas

(12)

LISTAS DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Quantidade de muares existentes em Muriaé e região

(1846-1864) 97

Gráfico 2 – Quantidade de muares existentes em Muriaé e região

(1865-1888) 97

Gráfico 3 – Quantidade de muares por região. 99

Gráfico 4 – Alocação da riqueza São Paulo do Muriahé e região (1846-1865) 106 Gráfico 5 – Alocação da riqueza em São Paulo do Muriahé e região

(1846-1858). 107

Gráfico 6 – Alocação da riqueza em São Paulo do Muriahé e região (1859-1865)

107

Gráfico 7 – Análise dos bens. São Paulo do Muriahé, 1850-1859. 110 Gráfico 8 – Análise dos bens. São Paulo do Muriahé, 1860-1869. 111 Gráfico 9 – Análise dos bens. São Paulo do Muriahé, 1870-1879. 112 Gráfico 10 – Análise dos bens. São Paulo do Muriahé, 1880-1888. 113 Gráfico 11 – Quantidade de escravos por ano constante nos inventários,

1858-1888. Muriaé-MG.

123

Gráfico 12 – Relação dos escravos por sexo, 1858-1868 e 1878-1888. 124 Gráfico 13 – Idade dos escravos, 1858-1868. Muriaé-MG. 125 Gráfico 14 – Idade dos escravos 1878-1888. Muriaé – MG. 126 Gráfico 15 – Quantidade de escravos por faixa etária, 1858-1868 e

1878-1888. Muriaé – MG. 126

Gráfico 16 – Valor dos escravos 1858-1868 e 1878-1888. Muriaé –MG. 129 Gráfico 17 – Variação de casamentos por categoria social. Matriz São Paulo

do Muriahé, 1855-1888. 177

Gráfico 18 – Nubentes com sobrenome iguais. Matriz São Paulo do

(13)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Batismos de índios. São Paulo do Muriahé, 1850-1889.

33 Tabela 2 – Relação de mães e pais que aparecem nos registros de batismos

de índios. São Paulo do Muriahé, 1850-1889.

34

Tabela 3 – Condição social do padrinho e madrinha. São Paulo do Muriahé,

1850-1889. 35

Tabela 4 – Forma de aquisição das propriedades, segundo os Registros

Paroquiais de Terras, Muriaé/Itamuri. 75

Tabela 5 – Relação Proporcional de Produção cafeeira da Zona da Nara na

Produção do Estado de Minas Gerais (períodos selecionados). 104 Tabela 6 – Os proprietários rurais de Muriaé e a concentração de escravos,

terra e café, 1872-84. 108

Tabela 7 – Comparações das inversões em escravos, terra e café. Muriaé,

1872-84. 108

Tabela 8 – Distribuição de livres e escravos por região, Minas Gerais,

1862/63. 117

Tabela 9 – Municípios e população da Zona da Mata Mineira em 1872. 118

Tabela 10 – Inventários por ano 1858/1868. 122

Tabela 11 – Inventários por ano 1878/1888. 123

Tabela 12 – Valor de escravos, 1858-1868/ 1878-1888. 129

Tabela 13 – Demonstrativo dos bens de raiz encontrados nos inventários

post-mortem, 1853. 137

Tabela 14 - Demonstrativo dos bens de raiz encontrados nos inventários

post-mortem, 1858. 138

Tabela 15 - Demonstrativo dos bens de raiz encontrados nos inventários

post-mortem, 1863. 139

Tabela 16 - Demonstrativo dos bens de raiz encontrados nos inventários

post-mortem, 1868. 140

Tabela 17 – Demonstrativo dos bens de raiz encontrados nos inventários

post-mortem, 1873. 141

Tabela 18 - Demonstrativo dos bens de raiz encontrados nos inventários

(14)

Tabela 19 - Demonstrativo dos bens de raiz encontrados nos inventários

post-mortem, 1883. 143

Tabela 20 - Demonstrativo dos bens de raiz encontrados nos inventários

post-mortem, 1888. 144

Tabela 21 – Distribuição dos títulos de posse do domínio útil. Adaúde

(1593-1609). 157

Tabela 22 – Casamentos consanguíneos, Matriz São Paulo, 1855-1888. 175 Tabela 23 – Dispensas Matrimonais da Mitra - Minho, 1848. 175

Tabela 24 – Casamentos consanguíneos – Minho, 1871. 176

Tabela 25 – Mulheres com sobrenome “de Jesus”. Matriz São Paulo do Muriahé, 1855-1888.

178

Tabela 26 – Cópulas - ADB, 1848. 179

Tabela 27 – Local de domicílio dos batizandos. Paróquia de São João do

Souto, Braga 1700-1799. 186

Tabela 28 – Local de domicílio dos batizandos. Paróquias Diversas – Braga,

1848-1888. 187

Tabela 29 – Local de domicílio dos batizandos. Paróquia São Paulo do

Muriahé, 1848-1888. 189

Tabela 30 – Local de domicílio dos batizandos de escravos. Paróquia de São

Paulo do Muriahé, 1848-1888. 190

Tabela 31 – Casamentos de escravos segundo a origem, Muriaé, 1852-1888. 192

LISTAS DE MAPAS

Mapa 1 – Mapa de localização do Porto de Diamantes. 22

Mapa 2 – Os sertões do rio Doce e Jequitinhonha, a Zona da Mata, a Zona de Mineração e a zona fronteiriça denominada Mato Dentro, com distribuição de

núcleos urbanos, 1808. 24

Mapa 3 – Criação de vilas entre 1710-1789. 41

Mapa 4 – Criação de vilas entre 1710-1820. 42

Mapa 5 – Criação de vilas entre 1710-1850. 43

(15)

Mapa 7 - Criação de vilas entre 1710-1910. 45 Mapa 8 - Zona da Mata de Minas Gerais. Destaque São Paulo do Muriahé,

1872.

46

Mapa 9 - Etapas da ocupação da zona de floresta de Minas Gerais, entre

1750-1819, usando como base o mapa da divisão em meso região da FIBE. 69

Mapa 10 – Província de Portugal, século XVIII. 151

LISTA DE FOTOS

Foto 1 – Planta Topographica. 85

Foto 2 – Chegada e embarque de tropas de burro nos armazéns da freguesia.

90

LISTA DE DIAGRAMAS

Diagrama 1 - Desmembramento (parcial) de Vila do Carmo (v.1711-1962). 53 Diagrama 2 – Desmembramento (parcial) de Rio Pomba (1718-1962). 54 Diagrama 3 – Desmembramento (parcial) de São João Nepomuceno

(1841-1962). 56

Diagrama 4 – Desmembramento (parcial) de São João Batista do Presídio

(1810-1962). 60

Diagrama 5 – Desmembramento (parcial) de São Paulo do Muriahé

(1852-1962). 61

QUADRO

Quadro 1 - Escravos do Município de Muriaé, segundo sexo, idade e tamanho do plantel, 1872.

120

Quadro 2 - Número de Inventários Analisados do Fórum tabelião Pacheco de Medeiros, 1848-1888.

134 Quadro 3 - Relação das benfeitorias, o número e o percentual de registros no

livro paroquial, 1855 a 1857.

135 Quadro 4 - Discriminação das culturas agrícolas e pasto nos registros do livro

paroquial. 1855 a 1857.

136 Quadro 5 - Homens disponíveis para casar. Concelho de Viana, Vila Real,

1848.

(16)

LISTA DE ORGANOGRAMA

Organograma 1 – Desmembramento (parcial) da Zona da Mata Mineira

(17)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 01

CAPÍTULO 1 A OCUPAÇÃO DO LESTE MINEIRO: UM OLHAR SOBRE O ESPAÇO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO 15

1.1 Das Minas aos sertões 15

1.2 A cristianização de índios Puris e Coroados na Matriz São Paulo 28

1.3 Modificação espacial e a complexa noção da divisão territorial administrativa da região 37

1.4 Traços de uma economia regional 64

1.5 Posse, poder e propriedade: a disputa pela terra 72

1.6 Posse e direito a terra 77

1.7 O caso da Fazenda Capivara 81

CAPÍTULO II A ECONOMIA NASCENTE E SUA CONSOLIDAÇÃO 86

2.1 Os tropeiros: um realce à parte 86

2.2 A alocação da riqueza 101

2.3 Um adentrar pelo maior bem aplicável: a análise das escravarias 116

2.4 A produção de alimentos: uma releitura ao cultivo do café 131

CAPÍTULO III JOGOS E INTERESSES: PARENTESCOS E REDES DE SOCIABILIDADES 146

3.1 Uma incursão comparativa entre as famílias minhotas e muriaenses 146

3.2 Conhecendo o Norte português: o quadro natural, econômico. Traços de um sistema sucessório 151

3.3 Se casando cessa todo o escândalo: a obediência a Igreja e seus preceitos. Casamentos e laços consanguíneos 164

3.4 Tramas familiares: a legitimidade nas bandas de lá e do lado de cá 182

3.5 Os santos óleos: o compadrio e as redes sociais ampliadas 194

(18)

5 FONTES MANUSCRITAS 208 6 FONTE ORAL 210 7 FONTES IMPRESSAS 210 8 FONTE DIGITALIZADA 210 9 FONTE INTERNET 210 10 FONTES IMPRESSAS 211 11 REFERÊNCIAS 213 12 ANEXOS 227

(19)

Canção da cidade no seu dia

Constantinopla Constantinópolis Constantilândia

Não tens nenhum desses nomes Nada sabes sobre eles

Não és grega bizantina estrangeira Muriaé, somente.

(20)

1 INTRODUÇÃO

A Zona da Mata permaneceu como terra sem história, uma área anecumência até o limiar do século XIX. Com estas palavras Orlando Valverde (1958:25) se refere à Zona da

Mata Mineira, quando descreve geográfica e historicamente a região. Tal dedução é feita, por levar em consideração a intensa cobertura florestal, que atravancava sua penetração, sendo vista como local inculto, incivilizado, de índios bravios, o que resultou numa falsa ideia da suposta visão inconsciente sobre os nativos como selvagens, uma área que não possuía registros documentais e muito menos histórias a contar.

Terras sem Histórias? Jamais. Esta afirmativa é fruto de trabalhos e mais trabalhos de discussões originados em grupos acadêmicos na região e que, de fato, traz à tona questões pertinentes e que jamais nos levam a pensar em passado morto, muito ao contrário, um passado vivo se faz presente e influencia definitivamente naquilo que, na região, se pensa, se reproduz e se idealiza na atualidade. A Zona da Mata Central é sim, uma região recém descoberta historicamente e com muito para produzir.

Desmistificar esta declaração será nosso principal objetivo; para tanto, buscaremos subsídios, antes da ocupação, para entender este espaço. Traremos para discussão as bases que originaram a formação, a constituição das fronteiras agrárias e os efeitos decorrentes deste campo. Assim, a pesquisa contribuirá para uma compreensão mais abrangente das relações econômico-sociais da população mineira nos oitocentos, além de desvendar uma parte da história dessa província, que possui um rico acervo documental ainda pouco visitado pelo olhar do pesquisador.

A proposta promoverá novos vínculos de análise como a organização territorial, a composição da riqueza e os vínculos familiares. A título de enriquecimento ao trabalho traremos os casamentos consignados por laços consanguíneos e/ou por interesses familiares em São Paulo do Muriahé e seus liames na região, em conexão com uma análise comparativa com a região minhota, Noroeste de Portugal. O tema é pertinente, uma vez que a vida social, política, econômica e cultural das duas regiões, na época analisada, girava em torno da posse da terra, e ainda, por serem regiões que se interligavam pelo intenso trânsito de portugueses para as áreas mineiras. Desta forma, muito do que aqui se produziu continha traços dos efeitos lançados no outro lado do Atlântico.

(21)

2 A forte concentração de terras nas mãos de algumas poucas famílias foi um fato constante nas histórias lusa e brasileira. Tais conquistas foram alcançadas mediante a transferência de algumas instituições portuguesas para o Novo Mundo, de maneira a possibilitar um maior domínio territorial dos desbravadores e uma reprodução e multiplicação de seus interesses. Automaticamente, esse fator estava ligado a uma maior vigilância sobre as tributações, as rendas e um controle das ações humanas (Oliveira, 2005), mesmo que tais atitudes fossem seguidas pelo viés da desobediência dos que residiam no Império português, a um simples acatar de regras impostas pela Coroa.

À medida que o território brasileiro vai sendo ocupado, amplas relações sociais são firmadas, acordos são feitos, tecendo extensas redes de compromissos, em nome da honra e do apreço, no sentido de multiplicar os interesses de antigos grupos dominantes. Tais combinações acabam por gerar um delineamento político e econômico, mediante a distribuição de privilégios, sendo permitido aos grupos que se formam agir de acordo com seus interesses pessoais e familiares.

No Noroeste português, o território estava praticamente todo ocupado pela nobreza e o clero, os quais negociavam suas rendas com foreiros que viviam na região, de forma a manterem firmes seus propósitos de senhorio, encurralando os pequenos proprietários, que se submetiam ao poder dos mais fortes. Todavia, nem por isso deixavam de criar estratégias de sobrevivência, seja com os contratos efetuados, seja com os laços instituídos. Vemos, assim, que independente do grupo social, quer em Portugal, quer no Brasil, mecanismos de sobrevivência foram criados mantendo viva, simultaneamente a chama do respeito e do poder.

Acredita-se que tanto em Muriaé como no Minho, a terra, bem sonhado por todos, seria a grande norteadora das relações estabelecidas entre os que ali se fixavam e os não residentes nas localidades que por ela adentravam a fim de ampliar seu patrimônio. Dela originaram-se as atividades de mercado, que dinamizaram uma economia intricada por intermináveis trocas de concessões e favores, consignados por vastas relações de amizade, muitas vezes concretizadas pelos casamentos endogâmicos, casamentos arranjados e pelos apadrinhamentos.

Por estar o tema intimamente ligado às bases da organização fundiária, as lentes estarão voltadas para a instalação e fundação dos primeiros povoados que faziam parte da freguesia de São Paulo do Muriaé, em um momento em que os limites, ainda móveis, definiriam de maneira conflituosa, o sistema agrário, a formação familiar e a organização administrativa da localidade. Somente na última parte desta pesquisa voltaremos a atenção

(22)

3 para o Minho em análise comparativa, de forma a acedermos aos aspectos culturais transportados por quantos se dirigiram e fixaram nesta região como já era previsto, mesmo antes do Estágio Doutoral.

Cabe esclarecer que, no recenseamento de 1872, São Paulo do Muriaé era geograficamente um vasto território, compostos por 11 (onze) distritos, descritos adiante com seus respectivos nomes atuais: São Paulo do Muriahé (Muriaé), Nossa Senhora das Dores da Vitória (Dores da Vitória), Nossa Senhora da Glória (Itamuri), São Francisco do Glória (São Francisco do Glória), Santa Luzia do Carangola (Carangola), Divino do Espírito Santo (Divino), São Sebastião da Cachoeira Alegre (Cachoeira Alegre), São Francisco de Assis da Capivara (Palma), São Francisco de Paula da Boa Família (Boa Família), São Sebastião da Mata (Eugenópolis)1 (Andrade, 1995: 155).

Para estudar o nascimento, o desenvolvimento do mercado e mesmo as atividades da terra também levar-se-á em consideração alguns aspectos como, por exemplo, a estrutura de posse de escravos, o estabelecimento de sociedades comerciais e as relações de parentesco, quer tenham sido estabelecidas através dos apadrinhamentos, quer tenham sido produzidas pelas alianças matrimoniais.

Acredita-se, tal como entende Karl Polanyi (2000:92) para a Inglaterra, que a instituição de mercado no período abordado, ainda não estava totalmente construída, não havendo separação institucional da sociedade em esferas econômicas e políticas, uma vez que outros valores, além do econômico, estavam em jogo na época não existindo ainda um mercado auto-regulável nem a sua base estava estruturada.

Outro fator relevante para entendermos a ocupação das terras na área brasileira estudada são as presenças indígenas e os conflitos surgidos entre nativos e brancos em torno de sua posse. As relações entre colonos e indígenas no período em que foram abertas as portas para a ocupação dos sertões são marcadas por tensões que passam por diversos desentendimentos sobre a propriedade agrária.

Esses conflitos, conforme salientou Maria Hilda Baqueiro Paraíso (1998: 337), fundamentam-se na resistência preconceituosa dos colonos em conviver com os indígenas. Tais desordens tornam-se ainda mais complexas diante da confusa legislação da primeira metade do século XIX, referente à questão da terra indígena (Machado, 2006: 67), resultado de uma complexa legislação agrária herdada de Portugal pelo Império brasileiro (Motta, 2007:424).

1 Os distritos de Nossa Senhora das Dores de Vitória e Divino Espírito Santo encontravam-se neste momento na situação de Curato, ou seja, sob a responsabilidade de um vigário, ou coadjutor de pároco.

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4 A resolução desses conflitos, especialmente na área Central da Mata, ocorreu, apenas a partir da década de 1820, quando o processo de “civilização” dos indígenas encabeçado por Guido Thomaz Marlièri, ao longo da década de 1810, culminou com a pacificação daqueles. Contudo, esta investida não se realizou de forma absolutamente pacífica, tal como indica o título pelo qual Marlièri ficou conhecido, mas foi marcado por muita violência até alcançar a resignação final dos indígenas.

Assim, para uma melhor aproximação desta realidade e até mesmo para uma confirmação de alguns traços questionados, pretende-se, neste trabalho, responder a algumas perguntas mediadas pelas interrogações decorrentes das fontes históricas utilizadas. A organização territorial era estabelecida com base em algum esquema pré-definido? Como se deu a organização fundiária na região Leste da Mata Mineira, mais especificamente na freguesia de São Paulo do Muriahé, a partir da chegada dos primeiros desbravadores? De que forma a exploração da terra, os investimentos monetários e as alianças familiares estabelecidas contribuíram para a manutenção e poder de antigos grupos sociais, reforçando a ideia de perpetuação econômica de algumas famílias? Qual a relação existente entre as organizações familiares na região mineira e portuguesa?

Para melhor entendimento das hipóteses propostas, torna-se necessário delinear brevemente algumas características sobre a ocupação da região mineira mencionada. Por ser o nosso principal foco de estudo é fundamental uma aproximação ao objeto analisado, mesmo sabendo que será um exagero abarcar, em poucos parágrafos, a sua complexidade. No terceiro capítulo, estaremos destacando algumas características centrais para o entendimento da região portuguesa.

A imensa região entre os rios Muriaé e Pomba e aquela região que fica no encontro desses rios com o rio Paraíba do Sul, no litoral fluminense campista, até as proximidades da Mantiqueira, era uma área ocupada por mata nativa. Uma floresta densa e montanhas quase intransponíveis tornavam-na numa barreira natural às povoações e numa zona onde se abrigavam índios e negros fugitivos.

Por mais de um século, a terra nesta região permaneceria com uma vegetação quase que intocável, apesar das “matas” serem caminho para negociantes que circulavam de São Paulo e Rio de Janeiro para o interior mineiro em busca de pedrarias e metais preciosos.

Devido às dificuldades em desbravar os sertões do Leste da Zona da Mata Mineira, no final do século XVIII - principalmente pela decisão política da Coroa em não ampliar as áreas de ocupação das fronteiras além-mineração de modo a reforçar a vigilância ao contrabando do

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5 metal – a região somente será habitada no início do século XIX. Esses condicionalismos, somados às dificuldades naturais, levarão a Zona da Mata a efetuar seu desenvolvimento tardiamente (Lanna, 1986: 82).

Porém, a possível obediência à Coroa pode ser vista por um viés da desobediência e descumprimento às normas determinadas pelo governo. A expansão da fronteira funcionaria mais como uma saída ou uma válvula de escape da classe dominante às pressões demográficas, econômicas e sociais, ocasionadas pela lógica da escassez do ouro e do crescimento no centro minerador, o que lhe levaria a desenhar novos contornos geográficos no território mineiro. Seria, pois, uma forma de fixação de grupos que estavam ligados a outras atividades na área mineradora, que se viram na necessidade de migrar para outras regiões da Capitania Mineira, mesmo burlando as leis estabelecidas pela Coroa, na necessidade de buscarem novas alternativas de sobrevivência.

Segundo Paulo Mercadante (1973: 30-32), o sertão, se observado de lugares já ocupados ou mesmo em locais de uma vegetação rasteira, parecia impenetrável. Na região estudada, encontravam-se em seu estado primitivo os índios Purís, e ao longo de todo sertão do rio Pomba fixavam-se os Croatos e Coropós.

Conforme Jean-Baptiste Debret (1975: 42-43), os Purís eram da grande família de tapuias, dividiam-se em várias tribos e tinham sua origem na língua dos Coroados. Esses

indígenas eram ainda selvagens, nas solidões que se estendem desde o mar e a margem setentrional do Paraíba, até o Rio da Pomba, na Província de Minas Gerais

Mercadante (1973:31-32) e Debret (1975:31 e 32) afirmam que à medida que se

processava a colonização do território fluminense, com a lavoura organizada e ocupação de território, trazia como consequência o deslocamento dos coroados para além das margens esquerdas do rio Paraíba. Definição que é constatada nas fontes pesquisadas junto aos

registros paroquiais da Matriz São Paulo, em Muriaé, sendo constante a presença de tais índios na administração de batismos e até mesmo casamentos 2.

A doação de parcelas de terra para cultura e estabelecimento familiar desses nativos foi uma grande aliada à sua fixação. Alguns tornaram-se agregados das fazendas e tinham sua morada própria. Este relacionamento entre as culturas indígena e branca possibilitou a sedentarização ou a semi-sedentarização de alguns índios possibilitando um maior convívio entre eles (Freire, 2004).

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6 No entanto, não entraremos na discussão acerca da discriminação injusta feita para a formação destes aldeamentos (Silva, 1996: 170-172), mas se deve aos nativos o início de uma pequena produção agrícola destinada ao consumo local.

Ricardo Bastos Cambraia e Fábio Faria Mendes (1988:141) salientam a necessidade de desbravar os sertões, sob o ponto de vista histórico, como forma de amenizar a “dita decadência” das minas:

Em carta ao Governador da Capitania, Pedro Maria Xavier de Athayde Mello ao Príncipe Regente, no ano de 1807, a visão dos “sertões do leste” como solução dos problemas da Capitania encontra sua forma mais elaborada... “esse importante objeto”, ganhava lugar de destaque no discurso oficial, assumindo desde já a forma de um projeto colonizador.

É ainda importante observar que a ocupação da região estava totalmente associada à ligação ao Caminho Novo, sem vínculo algum com o Caminho Velho. O último trajeto do Caminho Velho que ligava Parati a Minas Gerais, passando por Cunha e São Paulo tornava-se cada vez mais perigoso devido aos ataques de piratas, foi por isso que o governo colonial

julgou por bem abrir uma estrada que da região das minas levasse diretamente ao Rio, encurtando o caminho e evitando o percurso marítimo (Valverde, 1958: 26).

Diogo de Vasconcelos (1918: 39) ressalta que existiam vários colonos habitando a beira deste caminho, antes mesmo da distribuição de lotes de terras pelo governo, que permitiram a instalação de pousadas para os viajantes ao longo deste trajeto. A investigação feita por Renato Pinto Venâncio (1999: 181-187) confirma a visão do Caminho Novo, porém, na sua versão, não havia nada de novo, pois era uma rota indígena milenar.

Os indícios fazem acreditar que o fechamento das fronteiras demoraria alguns anos para se consolidar, por ser visível na documentação um número grande de ações de medição e demarcação de terras. Uma outra observação importante, feita por Márcia Menendes Motta (1998: 163,180), diz respeito ao Relatório da Repartição Geral das Terras Públicas feito em 1855. Este relatório aponta para o Rio de Janeiro e Minas Gerais várias terras devolutas, inclusive para a freguesia de Muriaé, reforçando a idéia da existência de conflitos agrários num período em que a terra começava a ter valor de troca.

De acordo com a Revista do Arquivo Público Mineiro (1897:16-17), coube ao Diretor Geral dos Índios, Guido Thomas Marlière, em 31 de Agosto de 1819, povoar e fundar um estabelecimento para os índios purís, no sertão do Muriaé, levantar uma Igreja para eles e demarcar suas terras, desde que fossem bastantes para sua cultura e sustento. A fixação dessas

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7 terras foi feita pelo medidor aprovado, Alferes Francisco de Paula Silveira, que utilizou um conjunto de recursos naturais para tal missão.

Paulo Mercadante (1990: 28), em sua obra, cita Maximiliano, Príncipe de Wied-Neuwied, que, quando da sua viagem ao Brasil, nos anos de 1815 a 1817, faz menção à grande produção de açúcar e à existência de engenhos junto ao “pequeno Rio Muriaé”, de modo que, quando Guido Tomás Marlière designou Constantino José Pinto para o primeiro

Diretor dos puris, em 1819, já havia fazendas desenvolvidas no lugar.

O local de desembarque de Constantino José Pinto foi próximo à Armação e Rosário. O povoado que se iniciara, receberia a princípio o nome de Quartel de Robinson Crusoé, e para lá Marlière mandaria mais tarde, João do Monte, um dos seus subordinados (José, 1958: 76).

Assim, no alvorecer dos oitocentos, nascia nesta região um outro Brasil, não destruído pelas escavações das minas, mas com uma fronteira agrícola imensa a ser desbravada em meio a currais, colinas, montanhas e com um clima e maneira de viver, talvez parecida, mas não idêntica a outras regiões mineiras.

Vemos assim, que a ocupação, a exploração e as relações sociais estabelecidas em São Paulo do Muriahé foram promovidas pela expansão da fronteira agrícola e que, aos poucos, foi-se constituindo um dos pólos de maior importância econômica da Província de Minas Gerais.

A nova configuração geográfica, marcada pela diminuição da extração do ouro levou vários grupos familiares a deslocarem-se para a região das matas. Vagarosamente, algumas famílias com certo poder aquisitivo adentram-se pelo sertão mineiro e acabam por dominar alguns poucos proprietários que na região residiam, por não possuírem recursos financeiros para se manterem donos do espaço ocupado.

Nesta lógica, a terra, que antes da criação da vila era um bem insignificante, sob o ponto de vista econômico, acabaria virando alvo de especulação financeira a partir da constituição da freguesia e conduziria a um aumento de prestígio social dos seus possuidores, dando origem a uma sociedade hierarquizada e pouco flexível.

Partindo destes pressupostos, mediados pela ocupação das terras, pelas disputas e pelos mecanismos de perpetuação de poder, afirmamos que a mudança da dinâmica ocupacional em São Paulo do Muriahé estava intimamente relacionada às características de uma região de fronteira aberta, por ser visível a criação de novas vilas, o crescimento

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8 demográfico, o aumento da produção, a variação da riqueza - fatores que interferiram de forma significativa na disputa pela sua posse.

Consideramos ainda, que tanto na região mineira, como na minhota a composição e organização dos grupos familiares estavam ligadas não só à tentativa de salvaguardar os bens oriundos de heranças, mas também estava subordinada a um conjunto de estratégias que tentavam alcançar prestígio econômico e/ou social. Tais acordos desencadeavam amplas redes de solidariedades consignadas através dos casamentos e batismos, reforçando as tentativas de permanência da posse da terra e, simultaneamente, evitando possíveis desigualdades na distribuição dos bens.

A pesquisa encontra-se no campo da História Regional, estabelecendo um constante diálogo com a História Agrária e a História Demográfica, mais especificamente a História da Família. Para tanto, buscaremos um apoio em alguns conceitos e ferramentas teóricas imprescindíveis para o diálogo e mobilização da pesquisa.

No que diz respeito à História Regional, o francês Pierre Goubert (1992) define-a como uma história vista pelo microscópio, o que possibilita o propósito de testar generalizações mais amplas através da utilização de dados-base. Ao fazê-lo, parte da análise de uma pequena região e de uma definição grosseiramente secular, efetuada com ajuda dos arquivos até então esquecidos pela academia.

Bebendo da definição de Goubert, Maria Yedda Leite Linhares, uma das primeiras historiadoras brasileiras a se embrenhar por este campo, entende que este conceito deve ser visto como um recorte a priori, não de caráter exclusivamente físico, mas estabelecido pelo historiador, não existindo manual, nem tão pouco subdivisões, podendo mudar de acordo com a época e locais estudados 3.

O recorte abordado não deve, necessariamente, obedecer a um critério geográfico ou administrativo, variando de acordo com o tempo histórico e a sociedade que se pretende estudar. Mas, deve-se basear num espaço construído a partir das relações sociais estabelecidas num determinado contexto e intelectualmente produzido (Corrêa, 2000: 22).

Neste sentido, a região torna-se um princípio relativamente abstrato de contornos e conteúdos incertos, que pode ser definido, sobretudo, pelas suas contradições. A partir desta definição, uma região é vista como uma situação histórica modelada pelas situações, pelos

3 Dados colhidos durante as discussões do GT de História regional, realizado na Universidade Severino Sombra, Vassouras – RJ, coordenado pelos professores doutores, Jorge Luiz Prata de Sousa, Maria Yedda Leite Linhares, Márcia Suely Amantino e Célia Muniz.

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9 debates e pelos conflitos que caracterizam um período e um lugar (Roncayolo, 1986: 185-187).

Vemos, assim, que o conceito de região está muito mais relacionado a um movimento constante, o que dificulta sua definição de maneira integral e definitiva. Através da ação humana a região pode transformar, a partir do momento em que possui uma ampla relação com a natureza, na qual o homem entra em processo, numa ação constante, nunca ficando estanque em si mesma.

Ao dialogar com a História Agrária, buscamos em Ciro Flamarion Cardoso (1979: 15) a explicação para seu conceito. Dos quatro modelos explicativos de História Agrária instituídos pelo autor, observa-se que o padrão que mais se aproxima deste projeto é o que diz respeito à História Agrária como uma modalidade de história social da agricultura, cujo objeto seria constituído não só pelas formas de apropriação e uso do solo, mas também pelo estatuto jurídico e social dos trabalhadores rurais.

Para entender a forma de apropriação do solo, é necessário perpassar pelo conceito de expansão de fronteira, pois a região em foco apresentava no período recortado, fronteiras abertas a expandir. Uma fronteira entendida como limite territorial implica definir traçados, condicionar usos, construir percepções e consequentemente, influenciar comportamentos humanos (Myskiw, 2005:229-230).

Considera-se que a expansão de fronteiras está ligada a diversas transformações porque, um determinado território, não dispondo de barreiras físicas e militares como forma de separar, isolar ou dificultar a mobilidade populacional entre os dois lados, passa por contínuas alterações. Antônio Marcos Myskiw (2005) corrobora essa visão ao afirmar que a

transformação de uma fronteira política entre dois países num espaço “transfronteriço” estimula a mobilidade no seu interior e confere uma nova centralidade política geográfica, econômica, social nos territórios fronteiriços.

A partir do momento em que a fronteira começa a fechar, a circulação de indivíduos será diminuída, principalmente quando nos referimos às elites agrárias que se fixam. Este grupo tende a definir um novo contorno político e econômico, que implica a destruição da

possibilidade de uma trajetória social ascendente do campesinato e o fortalecimento de uma subordinação estrita e imediata (Velho 1979: 101).

Por seu lado, a história demográfica dedicada principalmente à formação da família muriaeense e minhota terá uma função especial neste trabalho, sendo possível investigar mais profundamente a natureza das relações pessoais, que, na realidade, atuam como pano de fundo

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10 para a consolidação das relações econômicas, configurando-se num jogo de arranjos matrimoniais e/ou espirituais, que caracterizava esta sociedade oitocentista.

Para tanto, haverá um esforço em dialogar com alguns autores que refletem sobre o conceito de família brasileira, tendo em vista que o entendimento desse conceito muito nos aproximará da realidade e constituição das famílias da região analisada.

Gilberto Freyre (2004) esclarece-nos que o modelo de família patriarcal foi a forma predominante nas grandes fazendas nordestinas, que teve neste sistema, a Casa-Grande, o grande símbolo para onde fluíam todas as atenções, vivências sociais, econômicas e políticas da época. Essa família patriarcal incluía toda a parentela que residia na Casa-Grande e todos os agregados que moravam na propriedade, sob administração de um patriarca.

A ideia de um senhor “todo poderoso” que permeava a família patriarcal, e que determinava as ordens, o poder e o domínio territorial, compelindo os membros à obediência, não o impediu de criar uma relação mais íntima com seus agregados, principalmente as relações sexuais entre senhores e escravos (Freyre, 2004).

Seguindo esta linha de raciocínio, Antônio Cândido Mello e Souza (1951), ao estudar as fazendas de café da região paulista, também via as famílias dos caipiras como parte da família patriarcal, já que elas se relacionavam através das relações de clientelismo, caracterizando-as de forma anômica, sem identidade própria.

Analisando a complexidade da sociedade brasileira, Mariza Corrêa (1994: 24) enfatizou o contraste entre essa sociedade multifacetada, móvel, flexível e dispersa, e a

tentativa de acomodá-la dentro dos estreitos limites do engenho e da fazenda; lugares privilegiados do nascimento da sociedade brasileira.

Eni de Mesquita Samara critica a imprecisão dos conceitos de família e concluiu que estes conceitos se confundem por dois motivos:

1°) a família brasileira passou a ser sinônimo de patriarcal;

2°) o conceito de família patriarcal passou a ser usado como sinônimo de família extensa 4.

Nesta perspectiva, os conceitos passam a ter significados comuns (Samara, 1987: 30). A própria autora afirma não querer com isso dizer que as famílias constituídas, principalmente

4 Silvia Maria Jardim Brügger, em seu livro Minas Patriarcal. Família e Sociedade. São João Del Rei, séculos XVII e XIX, faz uma redefinição ao conceito de família patriarcal, no qual extrapola os modelos de definidos como família extensa. Toma como referência o sistema de valores, que coloca a família como centro da ação social firmada em alianças de amizades desiguais e como uma forma de conquista àqueles que buscavam alcançar o poder, fosse através das alianças com esferas de poder em Portugal, fosse a partir de sua influência no nível local. BRUGUER, Sílvia Maria Jardim. Minas patriarcal. Família e sociedade. São João Del Rei, séculos

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11 no Sudeste do país, não tenham sofrido influências desta família patriarcal. Pelo contrário, esta estrutura estava presente e deixou resquício na sociedade brasileira, mesmo no sul do

país. A formação de famílias do Sudeste são mais simplificadas e com menor número de integrantes (Samara, 1988: 82).

Cabe, então, numa tentativa de desmestificação das distintas utilizações do conceito de família, a visão pormenorizada dessas famílias, em âmbito regional, já que está provado que elas variam de lugar para lugar. E, como já observado, o conceito de família patriarcal não poderia ser aplicado a toda a sociedade brasileira. Ele necessita, de acordo com Silvia Brügger (2007), ter como referência alguns valores, que, em sua grande maioria, destaca a família como centro de poder entre solidificações de alianças, amizades e poderes.

Deste modo, tornam-se necessárias algumas definições do termo em dicionário de época e atual, para depois, mediante a análise das fontes trabalhadas aprofundar no contexto enfocado.

Em dicionário da época, Antônio de Moraes Silva enfatiza que família são as pessoas

de que se compõe a casa, e mais propriamente, as subordinadas aos chefes, ou pais de família. Os parentes e aliados (Silva, 1813: 9).

Para o período equivalente ao segundo decanato do século XX, família era composta e definida a partir das pessoas que vivem na mesma casa, do mesmo sangue, que vivem ou não

em comum. Membros de uma corporação (Figueiredo, 1925: 862).

Porém, o conceito de família, recentemente, restringiu totalmente a sua ótica referindo-se e aplicando-se exclusivamente às pessoas aparentadas que vivem em geral na

mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos (Ferreira, 2001).

Fica visível, a partir do exposto, que os conceitos podem variar de acordo com a época, lugar e visão dos autores. Quanto mais distante da atualidade, maior a ampliação da concepção do termo.

De acordo com o dicionário de Antônio de Moraes Silva a formação familiar não se esbarra na consanguinidade, mas é ampliada pelos não-moradores da mesma casa, podendo assim estabelecer vínculos de afinidades com outras pessoas, ampliando seu leque de dependência e automaticamente de poder.

O conceito utilizado no dicionário, datado de 1925, modifica parcialmente a ideia de Moraes Silva. Num primeiro momento, Cândido Figueiredo se fecha na consanguinidade de pessoas que moram numa mesma casa, e, num segundo momento, afirma que a constituição

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12 familiar está relacionada aos que vivem ou não em comunidade, dando idéia de uma expansão de coabitação indo além de um domicílio próprio.

Porém, de acordo com o conceito do dicionário Aurélio, o sentido de ser parente está intimamente ligado a poucas pessoas, sem qualquer conotação além da consanguinidade.

A análise de várias opiniões sobre o termo induz a necessidade de observar a variação e a complexidade da questão. Nota-se, claramente, que o conceito de família na atualidade apresenta uma redução, o termo parentesco, sozinho, já está desligado de qualquer conotação

que não a consanguinidade (Faria, 1998: 43). Hoje ser parente está muito longe de ser

compadre ou aliado, enquanto que, no século XIX, o conceito expandia-se e era reforçado por relações mais vastas.

Deste modo, entende-se que o trabalho poderá despertar o interesse dos pesquisadores para outros temas acerca da região mencionada, podendo contribuir para o debate e aprofundamento das configurações sociais, econômicas e políticas de São Paulo do Muriahé e seu entorno no período acima especificado.

Fazendo parte do sistema econômico, no qual o café era visto, até muito recentemente, como financeiramente predominante e sabendo que a infra-estrutura ou o suporte humano,

material e social sobre o qual se instituiu a economia cafeeira teve formação anterior a ela e não apenas concomitante (Marcílio, 2000:16), será delimitado um recorte cronológico. Este

terá como principal objetivo uma melhor compreensão das relações que antecederam a consolidação econômica da região, a fim de que as ações não se percam no emaranhado de informações ao mesmo tempo que será evitado um perigoso engessamento temporal. Assim, podemos aproximar e distanciar o período recortado de acordo com a necessidade, para melhor entendimento das estratégias proporcionadas.

Tomando como referência os primeiros registros de fontes existentes na localidade examinada, este trabalho inicia-se, cronologicamente, em 1846. Levamos também em consideração, que a partir de 1850 a mão-de-obra escrava entra num lento processo de extinção ocasionado pela Lei Euzébio de Queiroz, e, mais forte ainda, a partir deste ano teremos no Brasil a Lei de Terras, que previa um cadastramento imobiliário do domínio privado no país. Esta responsabilidade é transferida para os párocos das freguesias, que eram subordinados ao poder civil (Motta, 1998b). Estes são fatores a considerar já que vão interferir decisivamente nas mudanças verificadas em todas as estruturas do país.

A data limite será o ano de 1888. Esta data foi escolhida na medida em que ela permite fazer uma análise comparativa entre o período inicial da ocupação e as décadas finais do

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13 sistema escravista, permitindo observar as variações sócio-econômicas da população e, ainda, os mecanismos utilizados pelos senhores para a manutenção e perpetuação do mando.

Porém, quando referir a formação territorial da Zona da Mata Mineira existirá um retroceder e um avançar nestas datas para permitir uma compreensão mais abrangente da ocupação do espaço. Um recuo no tempo será feito desde a formação original das três vilas mineiras: Vila do Carmo, Vila Rica e Vila de Sabará em 1711, aos desmembramentos feitos em 1962. Porém, será dada atenção especial a Vila do Carmo, por ser a partir desta vila que surgem os desmembramentos que originarão a freguesia de São Paulo do Muriahé.

A relevância desta pesquisa reside na possibilidade de que ela venha, por um lado, contribuir com informações temáticas e metodológicas para novas pesquisas sobre a história de Minas Gerais e, por outro, continuar os nossos estudos sobre o tema que foi iniciado durante o curso de mestrado.

Para esta fase foi dedicado um bom tempo de pesquisa nos arquivos do Fórum local, nos quais foram observados um grande volume de documentos existentes e de uma grande riqueza de informações. Porém, na ocasião, pela escassez de tempo, faltou oportunidade de estender e aprofundar outras análises.

O trabalho contribuirá também para preencher uma lacuna existente na história da região, pois em consulta aos dados da Capes, bibliotecas diversas e alguns sites na internet, observa-se a raridade de trabalhos científicos que têm como foco a pesquisa histórica na Zona da Mata Leste, principalmente no que se refere ao município de Muriaé.

Desta forma, retomar esta pesquisa de maneira ampliada, utilizando um corpus documental extenso, permitirá traçar um panorama bem mais complexo e profundo da região, procurando remontar o cotidiano do campo eleito.

Sua realização foi possível devido ao fato da maioria das fontes primárias estarem disponíveis em arquivos locais da cidade mineira, como, por exemplo, o Cartório do 1º Ofício Cível do Fórum Tabelião Pacheco de Medeiros em Muriaé, Matriz São Paulo; além de arquivos diversos, como o Arquivo Público Mineiro (Registro Paroquial de Terras-Seção Provincial, Códice 134. Período 16/11/1854 à 05/10/1857, um total de 553 registros); Censo Geral do Brasil Império (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento-CEBRAP - CD-Room) e ainda a possibilidade de estar durante os meses de dezembro de 2009 a abril de 2010, em Estágio Doutoral, na Universidade do Minho, Portugal, no qual tivemos a oportunidade de frequentar o Arquivo Distrital de Braga, um dos maiores e mais organizados do país luso.

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14 Como observado acima, o número de trabalhos que versam temas comuns à pesquisa aqui proposta é acanhado para Muriaé. A maioria das investigações de cunho econômico e demográfico existentes é correspondente à macro região de Juiz de Fora, região Sul da Zona da Mata Mineira, que poderá fugir das feições históricas, se comparado a São Paulo do Muriahé.

Em meio ao emaranhado das fontes e informações descritas acima chegamos às conclusões que serão apresentadas nesta tese. No primeiro capítulo será feito um estudo do período anterior à ocupação, tendo como princípio o declínio da mineração. Será observada a ação dos desbravadores e a sua relação com os nativos e ainda a configuração geográfica das vilas, povoados e freguesias desde a fundação da Vila do Carmo até à criação da freguesia analisada e a alguns dos seus desmembramentos, durante os anos de 1711 a 1862. Serão discutidas as questões relacionadas a cristianização dos puris e coroados e ainda o conflito e à posse da terra.

No segundo capítulo, as atenções estarão voltadas para o entendimento da economia nascente e da sua consolidação. Para tanto, o tropeirismo terá um enfoque especial, além, da alocação da riqueza, no qual será mostrado panorama da sociedade muriaeense e região, no que diz respeito às aplicações econômicas, mediante o uso dos inventários post-mortem. Como os escravos são o maior bem aplicável, faremos uma análise da composição das escravarias. Abordaremos a diversidade e quantidade de sortimentos agrícolas nas unidades de produção, definindo quais os principais produtos consumidos e negociados.

Por fim, no terceiro e último capítulo faremos uma análise comparativa entre o Minho e São Paulo do Muriahé, no que diz respeito à formação familiar. Primeiramente mostraremos o cenário geográfico e econômico da região portuguesa, para então traçar um panorama do sistema sucessório, do casamento, das uniões consanguíneas, e, finalmente, realizar um estudo sobre as formas de apadrinhamentos, por acreditar que a grande maioria dos vínculos celebrados na pia batismal embutia outros interesses além do ato celebrado.

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CAPÍTULO I

A OCUPAÇÃO DO LESTE MINEIRO: UM OLHAR SOBRE O ESPAÇO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO

O lado oculto da lua...

Maria Yedda Leite Linhares

1.1 Das minas aos sertões

Meados do século XIX, São Paulo do Muriahé. Mais de cento e cinquenta anos de ocupação e pouco conhecida. Histórias perdidas no tempo. Distante das efervescências da Corte e do centro minerador, a freguesia se constituiu em um espaço geográfico e histórico de características ímpares para a compreensão das Gerais, mas só recentemente tem despertado o interesse em alguns pesquisadores. Dessa forma, essa pesquisa se justifica devido à importância do estudo desse rico universo cultural, principalmente, sobre o caráter naturalizado do espaço regional e do questionamento da própria identidade regional.

O que leva um pequeno grupo de interessados a revolver informações em papéis perdidos pelo tempo em arquivos locais, documentos que, na sua grande maioria servem de alimentos para traças e cupins, estando sujeitos às intempéries do tempo e tão desvalorizados pelos órgãos competentes? Esses arquivos não mereceriam um reconhecimento maior da própria comunidade pela singularidade que esta história representa? Por que só recentemente tem servido, mesmo que timidamente, para a intensificação dos holofotes das pesquisas nesta região?

Este modelo de descaso quanto à preservação documental serve de exemplo para a maioria dos arquivos espalhados pelo país afora, não muito diferente de Muriaé, Minas Gerais. Mas graças à atitude de um esforço conjunto envolvendo alguns professores, alunos e profissionais dedicados à tarefa de preservação histórica têm contribuído para que o mineiro, principalmente o interiorano, deixe de lado suas reservas pessoais e abra os olhos para o valor dos acervos de cunho cartorial, eclesiástico, jurídico, particular, dentre outros 5.

5 Não poderia deixar de agradecer ao professor Dr. Jorge Prata de Sousa pelo apoio sempre dispensado, para que tivéssemos uma orientação séria de preservação documental em Muriaé e região, no qual começamos a colher os frutos por ele plantados.

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16 Um trabalho lento, porém, contínuo e muitas vezes árduo vem ocorrendo, o que colabora para desvendar segredos escondidos no tempo. Pautados na nova elaboração, na identidade local e na ressignificação do regional, o passado vem sendo criado, não como de fato aconteceu, mas de maneira provável.

Cada vez que nos propomos a fazer história regional estamos, ao mesmo tempo, repondo em discussão, fazendo novamente ressoar e fazer sentido uma dada identidade regional, mas também a estamos modificando a partir da ótica, do olhar, da visibilidade e dizibilidade de nosso tempo, da qual não podemos escapar, embora estas não sejam homogêneas ou unitárias (Albuquerque Júnior, 2008).

A crença de que muitas destas incógnitas do passado podem ajudar a revelar traços e características do presente, e a confiança de que a História Regional contribui para a compreensão de uma história mais ampla, apenas reforça o posto de que as reconstruções das desigualdades regionais e culturais devem ser compreendidas em seu aspecto mais profundo (Linhares, 1990: 23-32).

Historicamente é impossível compreender toda uma estrutura desprezando o pensamento espaço-temporal. Fernand Braudel nos adverte que o tempo, a duração, a história

se impõem de fato, ou deveriam se impor a todas as ciências do homem (apud Dösse, 2003:

166-167). Perceber em um mesmo movimento a totalidade social é a grande ambição da história. Ao invés da busca de uma definição abstrata é preferível a observação de experiências concretas.

O mesmo autor afirma ser forçoso um diálogo entre a história e a geografia a fim de observar as ações humanas sobre o meio (1978: 21-22). Carl Sauer (1940:7), na mão inversa, afirma que a Geografia deve beber das águas límpidas da História, quando afirma que cada paisagem humana, cada habitação, é sempre uma acumulação de experiência prática e o pesquisador deve sempre ter como meta principal as origens dos fatos e os traços culturais dos processos de vida em comunidade. Para o autor, essa associação só se faz mediante a construção histórica.

Desta forma, ao debruçar por entre a imensidão das fontes locais fica fulgente a necessidade de mais e mais pessoas, como num entrelaçamento de correntes, juntarem forças para que a história não se perca. Ao mesmo tempo clarifica a necessidade de retroceder ao período anterior enfocado, para tentar entender o fio condutor que guia o investigador no labirinto documental e não ver o caso como isolado (Guinzburg, 2006, 51).

Partindo da premissa de ter que buscar na base o entendimento do período para achar o fio de Ariadne (Guinzburg, 2006), é necessário afirmar, que os sertões da Zona da Mata

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