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MÚTUO JUROS FORMA LEGAL NULIDADE RESTITUIÇÃO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

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MÚTUO

JUROS

FORMA LEGAL

NULIDADE

RESTITUIÇÃO

ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

I — As regras do enriquecimento sem causa não são aplicáveis no casa de mútuo

nulo por falta de forma.

II — Por isso, nos termos do artigos 289.º, n.º 1, do Código Civil, a prestação a

restituir em virtude da declaração de nulidade do negócio não pode ser actualizada. .

SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Acórdão de 12 de Março de 1998 Processo n.º 705/97

A

CORDAM no Supremo Tribunal de Justiça:

Eduarda e Domingos ins-tauraram na comarca de Valença a presente acção ordinária contra Arnaldo e mulher, Maria , pedindo que os réus sejam condenados a restituir à autora Eduarda a quantia de 7 350 000$00, acrescida de 3 105 000$00 a título de juros (frutos civis), além dos vincendos, à taxa legal, e a restituir ao autor Domingos a quantia de 5 000 000$00, acrescida de 2 000 000$00 a título de juros (frutos civis), bem como os vincendos, à taxa legal.

Como causa de pedir invocaram a celebração entre eles de contratos de mútuo correspondentes àqueles capitais não celebrados por escritura pública.

Citados, os réus não contestaram.

Proferiu-se sentença julgando a acção parcialmente procedente e condenando os réus a restituir aos autores aquelas importâncias de capital e juros à taxa anual de 10% a partir do trânsito em julgado da sentença.

Apelaram os autores para a Relação do Porto, que, julgando parcialmente pro-cedente a apelação, sempre manteve aquelas restituições de capital, mas condenou os réus nos juros legais a partir de 8 de Novembro de 1995, ou seja, da data da citação.

(2)

Ainda inconformados, recorrem agora os autores de revista para este Supremo Tribunal de Justiça, alegando e concluindo do seguinte modo:

1 — A nulidade do mútuo inválido por vício de forma opera retroacti-vamente;

2 — A obrigação de restituição, derivada da anulação de contrato, não parece que tenha de ser cumprida mediante restituição pura e simples do obtido, mas de harmonia com as regras do enriquecimento sem causa, por-que se trata de uma repetição do indevido;

3 — Consistindo a repetição numa prestação, deve proceder-se à sua actualização;

4 — Embora mantendo natureza subsidiária, o instituto do enriqueci-mento sem causa integra o conjunto de pressupostos que irão nortear a reposição natural após ser decretada a nulidade do contrato;

5 — Na restituição a lei visa a reposição actualizada;

6 — Tanto a declaração de nulidade como a anulação do negócio têm efeito retroactivo, devendo ser restituído tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituição em espécie não for possível, o valor correspondente; 7 — O mutuário não deve restituir apenas a quantia mutuada através do negócio nulo; o mutuário de boa fé faz seus os frutos civis correspon-dentes ao período decorrido até saber que está a lesar com a sua posse o direito do mutuante; o mutuário de boa fé deve restituir os frutos produzi-dos até ao termo da posse e respondendo pelo valor produzi-dos que um proprietá-rio diligente poderia ter obtido e pode ter que pagar juros;

8 — Os juros terão que ser contados desde a nulidade do negócio. Deve proceder o recurso, sob pena de violação do artigo 289.º do Có-digo Civil.

É a seguinte a matéria de facto que vem provada:

a) Em 14 de Março de 1990, a autora Eduarda emprestou aos réus, a pedido

destes, a quantia de 2 000 000$00, tendo para o efeito emitido e entregue aos réus o seu cheque n.º 0409100371, sobre União de Bancos Portugueses;

b) Em 2 de Abril de 1993, a mesma autora, a pedido dos réus, emprestou-lhes

a quantia de 5 350 000$00, tendo para o efeito emitido e entregue aos réus o seu cheque n.º 2902393411 sobre o citado banco;

c) Os réus comprometeram-se a restituir a quantia global de 7 350 000$00 a

partir de 1 de Julho de 1993, através de prestações periódicas;

d) Em 14 de Setembro de 1992, o autor Domingos, a pedido dos réus,

empres-tou-lhes a quantia de 5 000 000$00, através do cheque n° 3766531, emitido sobre o Banco Totta & Açores e com aquela data;

e) Os réus garantiram ao autor Domingos que aquela quantia ser-lhe-ia

resti-tuída no prazo de um ano;

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g) Até ao momento, e não obstante várias solicitações dos autores, os réus nada

restituíram;

h) Tendo sido notificados para esse efeito em 14 de Dezembro de 1994; i) Os autores dedicam-se à actividade comercial no âmbito do comércio de

artigos têxteis e de ménage.

Não foi apresentada impugnação sobre a matéria de facto. Não houve contra-alegações.

Isto posto, analisemos as conclusões de recurso, considerando que é por aque-las que se delimita objectivamente este — artigos 684.º, n.º 3, e 690.º do Código de Processo Civil.

Continua a ser pretensão dos recorrentes que os recorridos sejam condenados a pagar-lhes juros desde a data dos negócios anulados, para além da restituição das quantias mutuadas sem obediência a forma legal, e nisso consiste a questão aqui a resolver.

Estabelece o artigo 289.º, n.º 1, do Código Civil que «tanto a declaração de nulidade como a anulação do negócio têm efeito retroactivo, devendo ser restituído tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituição em espécie não for possível, o valor correspondente».

Os contratos de mútuo aqui invocados foram declarados nulos por falta de forma. A simples leitura daquele normativo inculca desde logo que a única consequência da declaração de nulidade ou anulação daqueles negócios jurídicos consiste no dever de restituir o que tiver sido prestado.

Desde logo e, assim, directamente fora do alcance deste dispositivo legal fi-cam os juros que os recorrentes pretendem que os recorridos lhes entreguem desde a celebração dos negócios anulados.

Estes valores, estes juros, não integram o prestado por aqueles negócios e, por isso, não podem ser objecto dessa restituição.

De resto, e como frutos civis, assim também tratados pelos recorrentes, nem sequer vem assente que eles existam, tenham caído ou pendam.

Pretendem os recorrentes, ainda que sem grande firmeza, pois o defendem sob a posição do «parece», que a restituição prevista naquele normativo não deve ser pura e simples, «mas de harmonia com as regras do enriquecimento sem causa, porque se trata de uma repetição do indevido».

Não têm razão.

E desde logo porque, se assim fosse, não se justificava a autonomização legal daquele dispositivo pelo que às consequências da declaração de nulidade respeita. Tudo estaria, nesse âmbito, resolvido já pelos artigos 473.º e seguintes do Có-digo Civil.

Depois, são diferentes as estruturas da restituição da declaração de nulidade e do enriquecimento sem causa ou da repetição do indevido.

Aquela é estabelecida como sanção objectiva pela violação cometida, no caso concreto até com a conivência de ambas as partes, ao celebrarem sem forma bas-tante os mútuos accionados.

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Na política de justiça imanente desse preceito legal não era legítimo que, sendo o negócio nulo por violação imputável a ambos os seus outorgantes, um deles, no caso os mutuantes, os recorrentes, dele sempre tirassem todo o proveito negocial, isto é, a restituição do prestado e a sua possível frutificação.

Não, aquela sanção objectiva só podia e pode ficar-se pela restituição do pres-tado, como é letra clara da lei.

No enriquecimento sem causa, como na repetição do indevido, a respectiva restituição não tem natureza de sanção, mas antes e ainda de restabelecimento do equilíbrio negocial ou paranegocial.

É assim que acolá se visa a reposição do real, a mera reposição do statu quo

ante, e aqui a reintegração patrimonial.

É neste encaramento da solução objectiva para a violação legal cometida por ambos os outorgantes do negócio anulado que se pode dizer, com H. E. Hoester,

Revista de Direito e Economia, VIII, pág. 138, que o n.º 1 do artigo 289.º do

Código Civil estabeleceu tão-só uma «situação inversa à do artigo 408.º, n.º 1: o direito real retransmite-se por mero efeito de sentença [...] são restituídas as pres-tações efectuadas para se voltar a uma situação material correspondente àquela situação jurídica já refeita, sem mais [...]».

Não são, assim, de aplicar, nem directa nem subsidiariamente, à restituição do artigo 289.º do Código Civil os institutos do enriquecimento sem causa ou da re-petição do indevido.

Neste mesmo sentido decidiu o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 3 de Fevereiro de 1983, Boletim do Ministério da Justiça, n.º 324, pág. 504.

O anteprojecto do actual Código Civil, no correspondente artigo 289.º, conti-nha um dispositivo estabelecendo a obrigação de restituição segundo as normas relativas ao enriquecimento sem causa — Boletim do Ministério da Justiça, n.º 89, pág. 235 — e no artigo 257.º, n.º 2, do projecto saído da 1.ª revisão ministerial manteve-se ainda esse comando.

Porém, doutrina diferente saiu já no artigo 274.º do projecto alcançado pela 2.ª revisão ministerial e foi a que veio a ser consagrada no referido artigo 289.º do Código Civil.

Assim, e como ensina A. Varela, Obrigação em Geral, vol. I, 8.ª ed., pág. 503, nota 1, «só fazendo tábua rasa desta manifesta mudança da orientação e da dife-rença flagrante proveniente da nulidade do negócio numa repetição do indevido». A regulamentação do caso dos autos tem, assim, de fazer-se adentro dos parâmetros do artigo 289.º do Código Civil, que totalmente o compreende.

Aliás, o enriquecimento sem causa tem natureza subsidiária, só pode aplicar--se quando a lei não faculte outro meio de reposição de direitos ou situações viola-das — artigo 474.º do Código Civil.

Aqui não se verifica essa omissão de meios e, por isso, também não pode a situação dos autos acolher-se às regras do enriquecimento sem causa, cujos con-tornos, de resto, não vêm assentes.

(5)

Sendo certo que, nos termos do n.º 3 do artigo 289.º do Código Civil, se apli-cam aos casos dos n.os 1 e 2 do mesmo preceito as regras do artigo 1269.º do

Código Civil, a verdade é que, como já se disse, nem sequer há matéria de facto assente que defina ou permita definir a existência dos alegados «frutos civis», caí-dos ou pendentes, enquanto os recorricaí-dos mutuários detiveram os valores mutuacaí-dos e com relação a estes.

Até já por aqui também os recorrentes não podem alcançar os juros pretendi-dos por negócios nulos e assim declarapretendi-dos.

Aliás, seria aberrante essa prestação como consequência da nulidade dos ne-gócios quando, se ela tivesse sido efectuada na pendência daqueles e como correspectiva obrigação dos mutuários, agora a estes teria de ser restituída, nos termos precisos do n.º 1 do artigo 289.º do Código Civil.

É nestes termos que improcedem todas as conclusões recursórias, emergindo o acórdão recorrido livre das censuras dos recorrentes.

Pelo exposto, nega-se revista. Custas pelos recorrentes. Lisboa, 12 de Março de 1998.

Lúcio Teixeira (Relator) — Matos Namora — Miranda Gusmão.

DECISÕES IMPUGNADAS:

I — Acórdão da 2.ª Secção do Tribunal da Relação do Porto. II — Sentença do Tribunal Judicial de Valença.

O douto acórdão resolveu no sentido já preconizado pelos acórdãos do Supremo Tribu-nal de Justiça de 13 de Fevereiro de 1992, Boletim, n.º 414, págs. 430 e segs.; de 26 de Abril de 1995, Boletim, n.º 446, pág. 262 (ver particularmente as fontes recenseadas a págs. 273--274); de 10 de Dezembro de 1987, processo n.º 754 942, de 12 de Dezembro de 1996, processo n° 5222 (estes dois últimos obtidos a partir de dados informatizados).

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