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Universidade Autónoma de Lisboa

Luís de Camões

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS I

GRUPO DOS 77

Rui Barreiros

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Índice

1. INTRODUÇÃO...3

2. GRUPO DOS 77...4

2.1 Breve Historial...5

2.2 Países formadores...7

3. ÁREAS DE INTERVENÇÃO ACTUAL...8

4. FUNCIONAMENTO ORGANIZACIONAL...18

5. CONCLUSÃO...21

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho, elaborado no âmbito da Unidade Curricular de Organizações Internacionais I, destina-se a mostrar como se formou, como funciona, e quais são as áreas de intervenção do chamado Grupo dos 77.

A Organização Internacional «Grupo dos 77» tem tido ao longo da sua história uma intervenção ao nível da influência dos Estados muito significativa, lutando afincadamente por chamar a atenção para os reais problemas que atingem os países em vias de desenvolvimento, os subdesenvolvidos e as ilhas que são Estados em desenvolvimento. Esta influência traduziu-se num apelo sistemático e contínuo para que a cooperação entre as regiões menos desenvolvidas e designadas de Sul-Sul e o diálogo e a cooperação com estas e as mais desenvolvidas, comummente chamadas de Sul-Norte, se tornassem realidades insofismáveis.

No que concerne à intervenção junto das outras Organizações Internacionais, o seu papel tem sido muito activo e preponderante, resultante dum afincado apelo internacional permanente para as mais diversas áreas sociais, económicas, organizacionais e políticas, entre outras, como as do campo do comércio e do desenvolvimento sustentável, tendo-se consubstanciado numa nova realidade positiva do Mundo.

Este Grupo tem um historial que emerge quer das múltiplas reuniões que vai organizando ao longo do tempo, quer dos fóruns em que participa. Deste modo, o estudo irá centrar-se na análise dos documentos, das declarações produzidas, das Cimeiras que marcam a evolução do pensamento e do modo de intervir, Cimeiras estas que se realizam, desde 2000, de 5 em 5 anos, constituindo-se como o momento onde as mais importantes decisões e posições são assumidas.

Este Grupo é sui generis, porque não dispõe dum Secretariado Permanente, próprio duma Organização Internacional, antes utilizando os recursos materiais e humanos das outras Organizações com as quais trabalha ou onde tem instalações, não hipotecando meios que outros podem fornecer, como por exemplo o uso do apoio que o Secretariado Permanente das Nações Unidas na sua sede em Nova Iorque pode prestar, ou os serviços de Secretariado da UNESCO em Paris, da UNEP em Nairobi, da UNIDO em Viena, do FMI e Banco Mundial em Washington, D.C.

Neste trabalho ir-se-á dar a conhecer o historial da formação deste Grupo, os países que estiveram na génese da sua formação, quais os motivos que enformam os seus objectivos, quais os países que actualmente o integram, em que áreas fundamentais se tem feito sentir a sua acção, como as têm trabalhado, como apelam, como funciona a estrutura que o apoia.

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2. GRUPO DOS 77

O Grupo dos 77, doravante designado G-77, foi criado a 15 de Junho de 1964, após a assinatura da chamada «Declaração Conjunta dos 77 Países».

Estes 77 países, que na altura eram considerados países em vias de desenvolvimento, participaram na 1.ª Sessão da Conferência para o Comércio e

Desenvolvimento das Nações Unidas (UNCTAD − United Nations Conference on Trade and Development), a qual teve lugar em Genebra, na Suíça.

A UNCTAD foi criada neste mesmo ano de 1964, e destinou-se a promover as políticas de integração dum desenvolvimento amigável dos países em vias de desenvolvimento no mundo económico. Mercê do acumular dos conhecimentos e das suas capacidades de intervenção, a UNCTAD passou a exercer uma acção preponderante nas questões de política interna e da influência internacional, no intuito de que estas se viessem a adequar às do desejado desenvolvimento sustentável. Os países desenvolvidos e que também participaram na 1.ª Conferência da UNCTAD deram um especial contributo para a criação do G-77. Os países desenvolvidos tinham considerado como ideal a finalidade de que este Grupo pudesse, de forma concertada e mais assertiva, tratar dos problemas específicos dos seus membros, concedendo-lhes, consequentemente, uma voz mais activa.

No ano de 1949 realizou-se em Havana uma importante reunião. Nela, os países desenvolvidos não foram capazes de chegar a consenso para a criação duma Organização Internacional para o Comércio, pelo que como resposta, e mais tarde, se criou, como vimos, a UNCTAD e o G-77.

A criação do G-77 foi considerada como um dos mais importantes acontecimentos após a II Guerra Mundial, dado que, e pela primeira vez na História, as Nações consideradas marginalizadas, fundaram uma forma de se afirmarem, de se fazerem ouvir a uma só voz, e assim serem capazes de intervir mundialmente.

O principal objectivo, inicialmente, foi o da redefinição das relações Norte-Sul, ou seja as relações entre o que se considerava os países pobres do Sul e os países ricos do Norte, forma como na altura se dividia o Mundo. A iniquidade que se verificava existir na ordem económica internacional percepcionou-se como um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento. No campo do comércio, das finanças e no da tecnologia, o G-77 encetou uma luta permanente contra a discriminação e a exclusão, bem como, pela obtenção de regras de maior igualdade social.

Julius Nyerere, uma das mais famosas vozes da história recente, fundador da Unidade Africana, e o primeiro Presidente da Tanzânia, afirmou, e em relação ao G-77, que a sua criação foi a oportunidade «para os Países em vias de desenvolvimento serem os principais responsáveis pelos seus próprios destinos».

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O principal papel do G-77 na defesa e projecção de interesses dos países em vias de desenvolvimento é o testemunho da relevância continuada do diálogo desenvolvido globalmente.

Os princípios básicos defendidos por esta Organização são os seguintes: − A defesa do multilateralismo no campo político e económico;

− A necessidade de garantir espaço suficiente para que os países possam implementar as suas políticas nacionais, em paridade com o empenhamento internacional;

− A procura de regras mais equitativas no sistema de comércio internacional;

− Manter a grande referência da importância da cooperação entre os países em vias de desenvolvimento;

− O tratamento das questões de interesse abrangerem o maior número de países, e especialmente, serem referentes aos menos desenvolvidos.

O G-77 é o maior grupo do Mundo e tem desempenhado um papel determinante nas relações económicas internacionais. Tem colocado um especial enfoque na diminuição das desigualdades entre os países em vias de desenvolvimento e os países desenvolvidos. Nota-se um papel de elevado empenho nas iniciativas relacionadas com o desenvolvimento das relações de cooperação económicas entre os países em desenvolvimento.

Analisemos agora como este Grupo tem evoluído ao longo dos anos.

2.1 Breve Historial

Após a formalização da sua constituição, consubstanciada pela assinatura do Acto dos países que o compõem, em 1964, o G-77 realizou o primeiro encontro oficial e ministerial na cidade de Argel, situada na Argélia. Neste evento foi adoptada a Carta de Argel, a qual se transformou no documento onde a visão e a vontade deste Grupo ficou devidamente reflectida, e cujos princípios de intervenção e espírito se mantêm ainda actuais.

A Carta de Argel expressa como fundamentais as seguintes referências:

 Os países têm a responsabilidade primária do seu próprio desenvolvimento;

 Os países estão determinados para poderem contribuir para o mútuo desenvolvimento;  A expansão comercial e a cooperação económica entre os países é um importante elemento para uma estratégia global para o desenvolvimento, e eles estão desta forma determinados por empreender esforços nesse sentido;

 Nos próximos anos um número significante de iniciativas será tomado.

Nos anos subsequentes foram levados a cabo diversos eventos, os quais tiveram como natural objectivo, tornar consequente o empenhamento para a expansão do comércio através dos países em vias de desenvolvimento. Alguns destes programas, eventos onde se reafirmou a manifestação de

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vontades que se encontra na génese do Grupo, foram o Programa de Mútua Confiança de Aruba e o Programa para as Negociações de 1979; o Programa de Acção de Caracas de 1981; e a Declaração do Cairo para a Cooperação Económica entre os Países em Vias de Desenvolvimento de 1986.

A Agenda para o Desenvolvimento de Doha, lançada em Novembro de 2001 no Qatar, voltou nessa altura a assegurar a colocação do desenvolvimento e da agricultura no centro das negociações multilaterais da Organização Mundial do Comércio (World Trade Organisation − WTO), algo essencial para a afirmação e o apoio aos países do G-77, bem como aos que não fazendo dele parte, se inscrevem dentro das condições daqueles sobre os quais encetam os constantes apelos e tentam influenciar a ajuda e o reconhecimento internacionais.

No 40.º Encontro Ministerial realizado a 11 de Junho de 2004, em São Paulo − Brasil, Rubens Ricupero então na qualidade de Secretário-Geral da UNCTAD, disse que o G-77 tinha que ser a entidade responsável por manter na agenda permanente das Nações Unidas o processo relativo ao desenvolvimento, e que este Grupo deveria contribuir para que este esforço fosse conseguido duma forma activa. Continuou na sua prelecção a falar sobre a discussão que nos últimos 30 anos se desenvolveu em torno do comércio na região Sul-Sul. Abordou a problemática dos países asiáticos estarem a crescer sem terem sido afectados pelas crises que entretanto haviam afectando outros países, com a China a transformar-se no maior mercado, e que estas alterações permitiram mostrar que a contribuição dos países em vias de desenvolvimento se vinha efectivamente tornado cada vez mais significativa.

Neste momento, e através da dinâmica que o G-77 tem mostrado, os países que o integram na actualidade são mais que os formadores. Contudo, o nome manteve-se para que não fosse alterada/ desvirtuada a história da sua criação, a qual assume já um valor histórico no capítulo das relações internacionais. O G-77 é actualmente composto por 132 países.

Desde 1970 que a Presidência do Grupo se faz através da rotação anual entre os países membros.

Refira-se, para uma melhor compreensão dos dados aflorados, que a partir de 1987, houve uma alteração na rotação das presidências. Esta alteração foi instituída para que a Presidência do G-77 ficasse sedeada em Nova Iorque, e ao mesmo tempo, para que o país que passasse a assumir a presidência, iniciasse o mandato na data coincidente com a abertura da 1.ª sessão anual da Assembleia Geral das Nações Unidas, e se encerrasse na última sessão, desse mesmo ano.

Na história deste Grupo aparece uma personagem venezuelana, de nome Manuel Perez-Guerrero o qual deu um contributo assaz importante nas relação e cooperação Sul-Sul. Foi também um elemento chave em muitas das negociações críticas Norte-Sul. Entre 1975-77 foi vice-presidente da Conferência para a Cooperação Económica Internacional, e em 1980-81 foi o Presidente do G-77. Ele recebeu o apoio total do Grupo para que em 1983 a Assembleia-Geral das

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Nações Unidas criassem o Fundo para o ECDC/TCDC, o qual e em 1986, em reconhecimento do trabalho desenvolvido, se passou a designar por Perez-Guerrero Trust Fund for ECDC/TCDC.

Vejamos quais foram até hoje os países que presidiram e presidem aos destinos deste Grupo:

Veremos seguidamente quais foram os países que estiveram na génese da formação do G-77.

2.2 Países formadores

Os 77 países formadores do G-77, e que participaram na 1.ª da Conferência da UNCTAD, pertenciam quase todos à designada região Sul, logo, a dos países considerados menos desenvolvidos. Vejamos então quais foram os países fundadores:

Índia 1970 – 1971 Bolívia 1990 Peru 1971 – 1972 Gana 1991 Egipto 1972 – 1973 Paquistão 1992 Irão 1973 – 1974 Colômbia 1993 México 1974 – 1975 Argélia 1994 Madagáscar 1975 – 1976 Filipinas 1995

Paquistão 1976 – 1977 Costa Rica 1996

Jamaica 1977 – 1978 Tanzânia 1997

Tunísia 1978 – 1979 Indonésia 1998

Índia 1979 – 1980 Guiana 1999

Venezuela 1980 – 1981 Nigéria 2000

Argélia 1981 – 1982 República Islâmica do Irão 2001

Bangladeche 1982 – 1983 Venezuela 2002

México 1983 – 1984 Marrocos 2003

Egipto 1984 – 1985 Qatar 2004

Jugoslávia (ex) 1985 – 1986 Jamaica 2005

Guatemala 1987 África do Sul 2006

Tunísia 1988 Paquistão 2007

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1 – Afeganistão 27 – Guatemala 53 - Nigéria

2 – Argélia 28 – Guine 54 - Panamá

3 - Alto Volta 29 – Haiti 55 - Paquistão

4 - Arábia Saudita 30 – Honduras 56 - Paraguai

5 – Argentina 31 – Iémen 57 - Peru

6 - Benim (Dahomey) 32 – Índia 58 - Quénia

7 – Bolívia 33 – Indonésia 59 - República Árabe Unida

8 – Brasil 34 – Irão 60 - República Centro Africana

9 – Bruma 35 – Iraque 61 - República da Coreia

10 – Burundi 36 – Jamaica 62 - República do Vietname 11 – Camarões 37 – Jordânia 63 - República Dominicana 12 – Camboja 38 – Jugoslávia 64 - República da Tanzânia

13 – Ceilão 39 – Kuwait 65 - Ruanda

14 – Chade 40 – Laos 66 - Senegal

15 – Chile 41 – Líbano 67 - Serra Leoa

16 – Chipre 42 – Libéria 68 - Síria

17 – Colômbia 43 – Líbia 69 - Somália

18 - Congo (Brazzaville) 44 – Madagáscar 70 - Sudão 19 - Congo (Léopoldville) 45 – Malásia 71 - Tailândia

20 - Costa Rica 46 – Mali 72 - Togo

21 - El Salvador 47 – Marrocos 73 - Trinidade e Tobago

22 – Equador 48 – Mauritânia 74 - Tunísia

23 – Etiópia 49 – México 75 - Uganda

24 – Filipinas 50 - Nepal 76 - Uruguai

25 – Gabão 51 - Nicarágua 77 - Venezuela

26 – Gana 52 - Níger

Refira-se, como conhecimento histórico, que a República da Tanzânia (64) era à altura conhecida como República Unida de Tanganica e Zanzibar.

3.

ÁREAS DE INTERVENÇÃO ACTUAL

Neste capítulo iremos abordar como o G-77 se afirma no quadro das relações internacionais, através da participação em múltiplas reuniões e as decisões que resultam das mesmas, constituindo-se como o constituindo-seu mais importante acervo e meio de compreender e fazer história.

Na Declaração do Cairo, que resultou duma reunião realizada ao mais alto nível entre 18 a 23 de Agosto de 1986, o G-77 reafirmou o seu total empenhamento para a consecução do trabalho conjunto para a cooperação com os países em vias de desenvolvimento, e ao mesmo tempo se avaliar o Programa de Acção de Caracas, adoptado em Maio de 1981. Este programa previa a adopção das medidas necessárias para operacionalizar a cooperação a ser estabelecida entre os países em vias de desenvolvimento, na redução das vulnerabilidades aos factores externos, e na

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aceleração do desenvolvimento das respectivas economias. Desta maneira se visaria adoptar as medidas necessárias para uma maior e melhor implementação dos actos necessários para a objectivação antes abordada. Neste intuito, concordaram nos seguintes pressupostos:

− Integrar, ao nível das políticas e planos nacionais, os objectivos e prioridades para a cooperação económica, especificando quais os programas e quais os projectos que são necessários para o efeito;

− Estabelecer, sector a sector, uma escala de prioridades, incluindo a integração sectorial baseada no critério do interesse mútuo, do benefício económico, da visibilidade e exequibilidade dos projectos programados;

− Encorajar, a participação das entidades não-governamentais;

− Encorajar, a maior mobilidade de capital, de recursos humanos, científicos e tecnológicos entre as fronteiras dos países em vias de desenvolvimento;

− Aumentar, a capacidade de circulação da informação de suporte económico, fazendo-se uso de todas as capacidades das redes das Nações Unidas e das suas organizações regionais;

− Encorajar, as populações a terem uma participação mais activa em todos estes projectos e actividades.

No 25.º aniversário reuniram-se em Caracas − Venezuela, de 21 a 23 de Junho de 1989, os Ministros dos Negócios Estrangeiros do G-77. Nesta reunião procedeu-se a uma revisão dos factos que davam conta do estado da situação em relação aos 25 anos transactos. No decorrer deste período de tempo, o Grupo tornou-se o maior actor internacional no quadro das relações económicas, e o principal promotor de ideias, conceitos e propostas para o desenvolvimento da cooperação. Ao encetar acções conjuntas com o Movimento dos Países Não Alinhados, o G-77 tornou-se no símbolo da unidade e solidariedade dos países em vias de desenvolvimento, representando-os na sua visão económica e mundial.

Um dos maiores resultados durante este tempo foi a adopção, por consenso, da Declaração e Programa de Acção para o Estabelecimento duma Nova Ordem Económica Internacional, durante a sexta sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Na comemoração destes 25 anos foi afirmado que o diálogo Norte-Sul, na maior parte dos anos 80, se afirmou como um diálogo de surdos, tendo a actividade da cooperação multilateral económica sido ineficiente, o que, num momento em que ela mais era necessária, mostra o quanto os países em vias de desenvolvimento retrocederam nas mais-valias que já tinham entretanto alcançado. A reunião foi pródiga nos resultados que produziu. Chamou-se a atenção para a reactivação do crescimento do desenvolvimento dos países em vias de desenvolvimento mais desfavorecidos, os países subdesenvolvidos, e para os quais a Segunda Conferência das Nações

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Unidas para os Países Menos Desenvolvidos, a ter lugar em 1990, assumiria uma relevante importância. Para esta Conferência previa-se vir a ser adoptado um plano de acção para o desenvolvimento sustentável dos países subdesenvolvidos. Um outro ponto focado foi o do enorme problema que enfrentam as ilhas que são Estados em vias de desenvolvimento, e os países fechados, ou seja, aqueles que estão rodeados por outros e sem possibilidade de ligação ao mar, e para os quais a comunidade internacional teria de encontrar uma forma de agir. Foi requerido que o Programa de Acção das Nações Unidas para a Recuperação e Desenvolvimento Económico Africano no período de 1986 a 1990 tivesse uma mais plena afirmação regional, dado que em África a situação económica se continuava a caracterizar pelo baixo crescimento. Um outro aspecto que neste encontro mereceu especial enfoque foi o da condenação do colonialismo, do neocolonialismo, da interferência nos assuntos internos de outros Estados, do apartheid, do racismo e de todas as formas de descriminação social, agressão estrangeira, ocupação, dominação, exploração e desestabilização, como sendo dos principais obstáculos para o desenvolvimento social e económico dos países em vias de desenvolvimento. Solicitou-se à comunidade internacional que fossem adoptadas algumas medidas, urgentes e efectivas, para a eliminação do uso das medidas coercivas, dos bloqueios, dos embargos, e do congelamento de contas, contra os países subdesenvolvidos. Em acto posterior, e ainda no decorrer deste evento, foi reafirmado o empenhamento do Grupo no incremento da cooperação internacional para a protecção do meio ambiente, o qual requeria uma abordagem global e multilateral, e cujo esforço deveria ser feito através dos fóruns especializados das Nações Unidas, local apropriado para lidar com todas estas questões.

A República da África do Sul ingressou em 1994 no G-77, tendo participado na reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros, comemorativa dos 30 anos, a qual teve lugar em Nova Iorque a 24 de Junho. Neste evento, o Grupo expressou a esperança de que os compromissos assumidos na conclusão do Uruguai Round de Marraquexe − Marrocos, realizado a 15 de Abril de 1994, (neste acto do Uruguai Round, foi finalmente criada a Organização Mundial do Comércio) ajudassem na constituição dum sistema de comércio multilateral aberto, estável, predizível, equitativo e transparente, tendo reiterado a necessidade de se abolirem unilateralmente as medidas e práticas arbitrárias unilaterais. Foram tecidas outras considerações sobre a preocupante e crítica situação em África, bem como a deterioração das condições económicas nos países subdesenvolvidos, devido ao particular e inadequado suporte internacional. O G-77 solicitou, então, a completa implementação da cooperação internacional inscrita nas Resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas, e expressou a determinação e o empenhamento para que esta sua acção passasse a exercer-se a novos níveis, tendo para o desiderato definido os princípios de funcionamento dos seus Capítulos, ou seja, as dependências descentradas da Organização, e estabelecidas noutras cidades ou países, para que

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assim a sua capacidade de intervenção e de apelo aos mais diversos níveis pudesse ser mais consequente. Participaram nesta reunião comemorativa dos 30 anos, 130 países em vias de desenvolvimento, integrantes do G-77 e a China.

Numa reunião que foi organizada mais tarde, e que teve lugar em São José − Costa Rica, entre os dias 13 a 15 de Janeiro de 1997, os países Membros do G-77 e a China debateram o Plano de Acção do Comércio Sul-Sul, adoptado numa Conferência de Alto Nível realizada em Caracas, em Maio de 1981. Reconheceram que «ninguém faria por eles o que não fossem capazes de fazer por eles próprios». Assim, manifestaram a crença de que a concretização de todas as potenciais oportunidades que a cooperação Sul-Sul pode oferecer, está ligada aos favoráveis factores ambientais económicos externos, e que estes impedem os países em vias de desenvolvimento de desempenharem um papel mais activo nas regras políticas internacionais e no processo da tomada de decisão. Nesta reunião, considerou o G-77 e a China ser desejável desenvolver e aumentar a associação entre os diferentes actores, incluindo os empresários dos sectores públicos e privados, bem como entre as organizações não governamentais, as organizações comunitárias e a sociedade civil. Esta associação visaria assim optimizar a capacidade económica e colectiva de autoconfiança dos países do Sul, no contexto duma economia mundial global, e interdependente. As Nações Unidas foram chamadas a desempenhar um papel mais interveniente na expansão da cooperação Sul-Sul como sendo uma das mais importantes questões para a segurança, a paz mundial, e o desenvolvimento dos países. O designado Plano de São José, que resultou deste encontro do G-77 e China, designou para o comércio as seguintes medidas:

− Implementar, completa e seguramente, o Acordo do Uruguai Round, e em especial, todos os meios que resultem numa maior intervenção para as áreas de interesse dos países em vias de desenvolvimento, como sejam a dos têxteis e da agricultura;

− Desenvolver uma agenda a ser prosseguida para a liberalização e consulta às questões relacionadas com o investimento, com as políticas de competição, com o comércio e com o meio ambiente;

− Usar, efectivamente, o Mecanismo de Disputa de Acordos da Organização Mundial do Trabalho (WTO − World Trade Organisation), para a salvaguarda dos respectivos direitos;

− Implementar, o Plano de Acção e das Decisões a favor dos países subdesenvolvidos. Neste mesmo acto e no que ao investimento diz respeito, clamaram para que os países em vias de desenvolvimento fizessem crescer os seus mercados de capitais e estimulassem o investimento privado doméstico; procurassem o investimento estrangeiro directo através do estabelecimento de associações económicas, concretizando a importante ligação entre o comércio e o investimento directo. Finalmente, foi decidido serem estabelecidas as medidas a adoptar, ou seja, as que

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encorajem o investimento na manufactura e nos sectores de serviços, chamando os investimentos directos através da assinatura de acordos bilaterais ou multilaterais, e pela criação e introdução de novos mercados, nos quais se incluem as zonas de comércio livre. Para se conseguir este desiderato, os Bancos de Investimento do Sul e as Companhias de Desenvolvimento Financeiro precisariam de desenvolver as capacidades de execução de operações com o estrangeiro, de promoção dos investimentos de outros países do Sul através de instrumentos apropriados, e do aprofundamento do conhecimento, para que se fizessem investimentos em outros ambientes do Sul. No que concerne às relações entre as Nações Unidas e as Instituições Bretton Woods [Banco Mundial (WB) e Fundo Monetário Internacional (IMF)], o G-77 e a China propuseram-se a que a estrutura institucional se fortalecesse e assim permitisse o aumento da coordenação entre os diferentes Capítulos. Neste aumento da eficiência passaria a ser necessária a intensificação da interacção do Gabinete do Presidente do G-77 e China em Nova Iorque e em Genebra, e do Grupo 24 em Washington D.C. Num outro campo de intervenção, e neste mesmo encontro, foi solicitado que se reforçassem as bases da indústria dos países em vias de desenvolvimento, em particular dos países de África, dos países subdesenvolvidos e das pequenas ilhas consideradas Estados em desenvolvimento. Por outro lado, clamou-se pela viabilidade das infra-estruturas de transporte e comunicações, pela sua segurança, passível de ser conseguida através da realização de acordos bilaterais e regionais, encorajando-se os Bancos de Desenvolvimento Regional a concederem o crédito necessário para a criação e manutenção de todas as estruturas que permitissem a ligação entre as regiões e sub-regiões do Sul. Foi nesta reunião que se enalteceu o importante papel que as mulheres poderiam desempenhar no desenvolvimento, e como tal, a necessidade de se estabelecerem os mecanismos institucionais de cooperação da sociedade civil Sul-Sul. Seria como tal permitido que as mulheres empresárias, as ligadas ao campo da produção, das microempresas e as trabalhadoras beneficiassem de todas as possibilidades que o mercado colocaria à disposição, como o acesso ao financiamento, aos mercados, à tecnologia, à educação e treino, encorajando-as a com as suas redes de organizações a contribuírem para a expansão da cooperação Sul-Sul. Em todo este desiderato, assumiriam especial relevância os contributos que as instituições financeiras regionais como o Banco Africano de Desenvolvimento (ADB − African Development Bank), o Banco Asiático de Desenvolvimento (AsDB − Asian Development Bank) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB − Inter-American Development Bank), entre outros poderiam carrear para o processo.

A 26 de Setembro de 1997 os Ministros dos Negócios Estrangeiros do G-77 reuniram-se em Nova Iorque, onde analisaram alguns dos mais importantes problemas, a saber: o da economia mundial não ter gerado o necessário e adequado número de empregos para que se consubstanciasse a esperada redução da pobreza nos países em vias de desenvolvimento; e que o fosso entre países

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ricos e pobres continuava a crescer. Foi então, pelos Ministros expressa a necessidade urgente de serem eliminadas leis e regulamentos contrários ao impacto positivo que se pretendia obter, bem como de todas as outras formas e medidas económicas coercivas, incluindo-se as sanções unilaterais contra estes países, porque, em caso contrário, se contrariaria não só o espírito da Carta das Nações Unidas e da lei internacional, a par do princípio da soberania igualitária entre Estados, e do princípio da não intervenção e da não interferência nas questões internas, as quais constituem uma velada ameaça à liberdade, ao comércio e ao investimento, incluindo-se em toda esta questão os princípios estabelecidos pela WTO. Foi reafirmada a necessidade de que a erradicação da pobreza no Mundo se tornasse um imperativo económico ético, social e político, e para o qual urgiria um tratamento integrado multidimensional. Foi pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros abordada a problemática da comparticipação que os países desenvolvidos deveriam dar, de 0,7 % do Produto Interno Bruto para os países em vias de desenvolvimento − Agenda 21, e de 0,15 para os países subdesenvolvidos − Declaração de Paris e Plano de Acção adoptados em 1990, com efeitos a partir do ano 2000.

A 14 e a 29 de Outubro de 1997 o G-77 e a China apresentaram uma proposta para a reforma das Nações Unidas muito bem fundamentada, tendo-se tornado um documento revelador da atenção e da estreita ligação que une estes dois actores, e que permitiu mais uma vez demonstrar, a atenção e a capacidade de intervenção dedicada para o bem mundial, para a cooperação a todos os níveis, e para que o diálogo profícuo Sul-Sul e Norte-Sul, sejam uma realidade objectiva.

Na 22.ª Reunião Ministerial, dos Ministros dos Negócios Estrangeiros do G-77, a qual teve lugar a 25 de Setembro de 1998 em Nova Iorque, foi feito um apelo à comunidade internacional para dar uma especial atenção aos problemas e necessidades dos países fechados por terra, ou seja, aqueles cujas fronteiras são ladeadas por outros países, nos pontos que respeitam à cooperação e assistência financeira pelos países desenvolvidos, pelas instituições financeiras, para permitirem que estes países, que enfrentam maiores dificuldades, possam conseguir participar num mundo que caminha rapidamente para a globalização da economia e da internacionalização do comércio.

Na 1.ª Cimeira do Sul, realizada em Havana, entre os dias 10 a 14 de Abril de 2000, o G-77 representado ao mais alto nível pelos Chefes de Estado e de Governo adoptou o «Programa de Acção de Havana» o qual se destinou a implementar um determinado número de programas e iniciativas prioritárias, dentro dum período de realização específico. Esta Cimeira resultou num novo modo de operar e encarar os problemas e as diversas questões com as quais o Grupo se vem debatendo desde a sua criação, ou seja, constituiu a nova iniciativa, a nova estratégia. Desta Cimeira nasceu o G-77 com a China.

Destaquemos agora algumas das muitas questões evocadas neste Programa de Acção de Havana:

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− A necessidade de reforçar o sistema multilateral, para contrabalançar a diminuição do papel e da capacidade das Nações Unidas na área económica. Desta forma, desenvolver-se-ão esforços para que a Assembleia Geral das Nações Unidas reforce a sua intervençdesenvolver-se-ão nas questões económicas e em particular nas questões políticas relativas à macroeconomia; − O processo de globalização e liberalização produziu imensos benefícios entre os

países. Há necessidade duma estratégia global interligada a um desenvolvimento dentro dum processo global, o que requer uma grande coerência no desenvolvimento das estratégias nacionais, por um lado, e por outro, das obrigações internacionais, para se criar um ambiente externo favorável ao desenvolvimento. Existe a necessidade de se gerir a globalização para que os direitos de desenvolvimento sejam equitativos em todo o planeta. As decisões têm de ser tomadas através do diálogo a efectuar nos centros de discussão global;

− A questão do desenvolvimento das finanças e da dívida pública são críticas e necessitam que o sector público e privado do poder capital exerçam a sua natural influência, de diferentes maneiras, nos países em vias de desenvolvimento e nas decisões políticas e de soberania. Aqui assume especial relevância a adopção das recomendações de Monterrey;

− O desenvolvimento dum sistema de comércio internacional amigável foi por diversas vezes desconsiderado, e este é um requerimento essencial para se conseguir estabelecer as ligações entre o benefício que resulta do comércio, do desenvolvimento e da erradicação da pobreza. Neste campo, a Declaração Ministerial de Doha e o Programa de Trabalho com o mesmo nome constituíram-se como objectivos para os ganhos que se almejam obter nas negociações comerciais multilaterais em áreas chaves de interesse para os países em vias de desenvolvimento;

− O declínio e a continuada volatilidade nos preços acessíveis colocam sérios constrangimentos no sustentado crescimento económico e na erradicação da pobreza, bem como no desenvolvimento sustentável em muitos países.

O Programa de Acção de Havana é extenso, abrange várias áreas de intervenção, pelo que focaremos apenas alguns dos pontos mais importantes, de cada um dos títulos que o compõem.

Comecemos pelo campo da Globalização, onde se tentará responder aos desafios que a mesma coloca, tornando-a benéfica para todos os países e povos, através da promoção activa da participação dos países em vias de desenvolvimento nos processos de tomada de decisão e na política económica internacional. Para este efeito fala-se em intensificar os esforços para rever e reformar a WTO visando um trabalho mais focalizado nos países em vias de desenvolvimento; trabalhar na revisão da arquitectura financeira internacional, ajudando os países que têm de lidar

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com situações de graves emergências e com crises financeiras instituídas; prosseguirem-se os esforços de harmonização da posição do Sul em questões monetárias e financeiras e acordar a realização de reuniões de coordenação anuais entre o Presidente do G-77 e do G-24 com as Instituições Bretton Woods. Neste mesmo campo, ir-se-ão encetar as acções necessárias para revitalizar e reforçar o sistema das Nações Unidas na promoção do desenvolvimento da cooperação internacional.

No campo do Conhecimento e da Tecnologia o Grupo irá trabalhar no sentido de promover e desenvolver o nível de conhecimento e o da aplicação da tecnologia no Sul. Assim pretende-se atingir o objectivo da erradicação da iliteracia e promover-se o conceito da educação para todos durante toda a vida, através de medidas relacionadas com a educação básica, colocando-se um especial enfoque na educação feminina e no objectivo de se atingirem altos níveis de educação, ou seja, educação de nível superior ou universitário; encorajar as instituições do Sul para que se lancem iniciativas de melhoria do conhecimento nos países em vias de desenvolvimento, estabelecendo-se um consórcio nestas áreas, compreendendo representantes dos diversos governos, do sector privado e de outras organizações representativas ou relevantes, promovendo-se parcerias no Sul, no campo da ciência e da tecnologia; explorar o potencial de comunicações e de tecnologias de informação para o desenvolvimento do Sul; assegurar o acesso do Sul ao conhecimento e à tecnologia, e promover uma acção primordial das Nações Unidas na remoção das diferentes barreiras que o Sul tem de enfrentar no acesso a estas ferramentas.

No que à Cooperação Sul-Sul respeita, urge a renovação dos esforços de estímulo à expansão do comércio e do investimento para que se acelere o desenvolvimento e crescimento económico do Sul; encorajar os países fechados e em vias de desenvolvimento para que, através da realização de acordos, da colaboração e cooperação que deve ser estabelecida com os países fronteiriços, também estes em vias de desenvolvimento, lhes venham a permitir um melhor e mais eficaz sistema de trânsito, algo absolutamente necessário para que se permita o desenvolvimento do comércio; fortalecer a cooperação monetária e financeira no terreno; reforçar a cooperação na promoção e desenvolvimento social, incluindo o aumento da capacidade de construção e de recursos humanos; promover a cooperação multilateral para a expansão do Sul-Sul; trabalhar na operacionalização das Plataformas de Acção África-Ásia e África-América Latina para a implementação da Convenção das Nações Unidas do Combate à Desertificação.

Para finalizar, temos a relação Norte-Sul e demais factores a ela ligados, chamando à colação o encorajamento para a celebração de associações Norte-Sul, visando consequentemente a que se promova o consenso no desenvolvimento das questões chaves das relações económicas internacionais.

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Neste encontro, um aspecto abordado e sobre o qual recaiu a decisão de se ter de mudar de política foi o da criação e estabelecimento dum Secretariado do G-77. Por outro lado, foram atribuídos mais de 10 milhões de dólares para um fundo especial de assistência, o qual se destinaria à implementação das decisões emanadas desta Cimeira do Sul.

A história das grandes decisões, da renovação das linhas mestras do Grupo prossegue com a realização da 2.ª Cimeira do Sul, a qual teve lugar em Doha, no Qatar, entre os dias 14 a 16 de Junho de 2005. Desta Cimeira resultou a chamada Declaração de Doha, e a adopção do Plano de Acção com o mesmo nome. Analisemos os aspectos mais fundamentais deste Plano de Acção, nos moldes já anteriormente assumidos para o de Havana, colocando um especial enfoque naqueles que mais se diferenciam e são diferentes os mais abrangentes que os da anterior Cimeira.

Começando a nossa análise pelo campo da Globalização,temos a dedicação à realização dum trabalho conjunto, para se delinear uma estratégia comum, para tornar mais seguro o espaço para as políticas nacionais dos países em vias de desenvolvimento em áreas fundamentais, como as do comércio, do investimento, financeiro e política industrial, permitindo-lhes adoptar as medidas e acções prioritárias apropriadas ao respectivo interesse nacional; assegurar que os programas e políticas designadas no contexto da globalização respeitem integralmente os princípios e propósitos da Carta das Nações Unidas e do direito internacional, e em particular os que respeitam à equidade entre os Estados; através da WTO promover um justo e equitativo sistema de comércio, dando prioridade ao desenvolvimento dimensional, maximizando os benefícios do aumento da participação dos países no comércio internacional; assegurar que o suporte à integração e ajustamento ao comércio dos países em vias de desenvolvimento aumenta, construindo estes a capacidade de negociar e de implementar acordos comerciais; assegurar que os produtos produzidos nos países em vias de desenvolvimento cheguem aos países desenvolvidos, e que em face da vantagem comercial comparativa, estes não sejam sujeitos a quaisquer medidas proteccionistas ou outras de restrição de acessos; apoiar a construção de sociedades justas para todos, promovendo-se a igualdade do género e a completa participação da mulher em todos as matérias, eliminando-se a descriminação e a violência contra elas.

Noutro campo, o do Conhecimento e da Tecnologia, pretender-se-á promover a educação e garantir o acesso e o uso das Tecnologias de Informação; encorajar a adopção do e-government como meio de aumentar a eficiência e o acesso dos cidadãos aos serviços públicos, assistindo os países subdesenvolvidos na criação de infra-estruturas nesta área; aumentar os esforços de cooperação na criação e utilização de networks e da necessária capacidade institucional com peritos nesta área; reafirmar que se quer a erradicação da pobreza, através da alteração dos padrões de produção e consumo insustentáveis, protegendo-se os recursos naturais e gerindo-se o desenvolvimento económico e social, constituindo-se como objectivos prioritários.

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Passando à Cooperação Sul-Sul, o Programa de Havana foi considerado muito importante. Reafirmou-se que era necessário um empenhamento nas linhas nele definidas; foi decidido criar-se um Fundo do Sul para o Desenvolvimento e a Assistência Humanitária (The South Fund for Development and Humanitarian Assistance) a fim de se intervir nas áreas económicas, sociais, da saúde e do desenvolvimento da educação, bem como, para a resolução de problemas como a fome, a pobreza e as catástrofes humanas. Para este Fundo o Qatar contribuiu com 20 milhões de dólares, enquanto a China e a Índia contribuíram com 2 milhões cada um. Continua-se neste campo, dizendo-se que se irá fazer uso da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação nos países de África, os quais são os principais a sofrer os efeitos devastadores desta situação; suportar e encorajar as iniciativas bilaterais tomadas por alguns países em vias de desenvolvimento, na anulação das dívidas dos países subdesenvolvidos para que estes recolham os benefícios daí resultantes, e assim se demonstre ao espírito de solidariedade que deve existir para com este grupo mais desfavorecido; promover iniciativas a favor dos países subdesenvolvidos, através da implementação de projectos em áreas como a do aumento da capacidade de produção humana, da assistência técnica, e da troca de experiências no campo das melhores práticas; ajudar os países subdesenvolvidos a que saiam das situações de conflito ajudando-os a reabilitar e reconstruir, quando apropriado, as infra-estruturas políticas, sociais e económicas.

Já no que às Relações Norte-Sul respeita, neste Plano é definido que esta cooperação tem como finalidade facilitar os esforços dos países em vias de desenvolvimento a promoverem o respectivo desenvolvimento e a publicitarem e a obterem o reconhecimento internacional, nomeadamente os que se incluem nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas (Millennium Development Goals); foram novamente definidas percentagens de contribuição do Produto Interno Bruto dos países desenvolvidos para os em vias de desenvolvimento e para os países subdesenvolvidos, ou seja, 0,15 para os primeiros, e 0,20 para os últimos. Este valor é para vigorar durante a década de 2001-2010; utilizar os mecanismos e procedimentos existentes no Capítulo de Genebra para aumentar a capacidade de negociação e de segurança dos interesses dos países em vias de desenvolvimento nas questões do comércio; apelar à atenção da comunidade internacional para que esta tome medidas concretas e decisivas para se minimizar o desastre dos efeitos da HIV/ SIDA, da tuberculose, da malária e de outras doenças transmissíveis, encorajando a produção local de medicamentos e assegurando-se assim, um custo viável para os mesmos.

Estes são alguns dos muitos pontos focados no Plano de Acção e que vigorarão até à realização da próxima Cimeira, altura em que novas medidas e decisões serão tomadas. A próxima Cimeira do Sul irá realizar-se no ano de 2010.

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4. FUNCIONAMENTO ORGANIZACIONAL

Após termos visto o historial que constitui o acervo, importa compreender como se delineia o processo de decisão, como funciona.

O G-77 tem a sua sede nas Nações Unidas, em Nova Iorque. Em outros locais do Mundo possui os chamados seis Capítulos, os quais recebem os nomes das cidades onde estão implantados, ou seja, Genebra, Nairobi, Paris, Viena e Washington. Nesta última cidade, Washington D.C., existe uma determinada particularidade que é a do representante dum outro Grupo, o Grupo dos 24, assumir a representatividade do G-77.

Este Grupo não possui uma estrutura ou constituição institucional, como acontece nas outras Organizações Internacionais, nem tem regras de procedimento. Contudo, dispõe duma rotação de presidências efectuada pragmaticamente, e dispõe dum Secretariado mínimo.

O G-77 enfrentou nos anos oitenta a fase mais dura da sua existência, porquanto a tremenda crise que se fez sentir, com a dívida pública e a inflação a abalarem consideravelmente os países membros, tornou essa década num marco negativo e um tempo perdido para o desenvolvimento, impedindo-os de responderem capazmente aos novos desafios.

Anualmente realiza-se uma reunião de Ministros dos Negócios Estrangeiros do G-77, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, antecedendo a reunião regular da Assembleia Geral. Esta reunião terá a duração de um dia e nela serão expressas os diferentes pontos de vista em relação aos principais assuntos em destaque. Esta troca de opiniões será bem preparada, mediante a elaboração duma agenda que será sujeita à concordância, atempadamente.

Esta reunião é precedida duma outra, com a duração de dois dias, contando com a participação dos presidentes de cada um dos Capítulos, os quais farão uma abordagem das actividades realizadas no decorrer do ano transacto, e elaborarão as recomendações concretas para consideração pelos respectivos Ministros.

Sempre que haja importantes reuniões/conferências internacionais nas quais o G-77 tenha de participar, os Ministros deste Grupo continuarão, caso seja necessário, a organizar reuniões preparatórias.

Após cada sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas e de outros importantes órgãos, as demais organizações e subsistemas do sistema, incluindo o G-77, os vários Capítulos podem organizar pequenas reuniões para melhor aquilatarem dos resultados obtidos na sessão.

Cada Capítulo tem de ter um oficial de ligação o qual deve providenciar para arranjar contribuições voluntárias entre os seus membros.

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Anualmente os Capítulos reúnem-se duas vezes, ocorrendo uma no início do ano, onde são estabelecidas as prioridades para serem coordenadas, sendo a segunda para avaliar da implementação dos objectivos estabelecidos para o período. Se necessário, numa reunião realizada a nível ministerial pode ser chamado um Capítulo.

Todos os anos, no início, cada Capítulo elege um presidente e dois vice-presidentes, agindo o eleito sob a autoridade do anterior, durante o mandato de um ano, e mercê da distribuição regional.

Em cada Capítulo devem ser designados coordenadores para cada um dos temas fundamentais, ou para as questões em agenda, que requeiram uma maior experiência e perícia, a fim de o G-77 poder participar nas muitas sessões que se realizam nos diversos órgãos e corpos do sistema das Nações Unidas. Estes coordenadores assistem os presidentes dos Capítulos na elaboração dos documentos que contêm as posições provisórias, elaborando relatórios regularmente, no intuito de serem colocados à consideração do G-77, através da estrutura existente, e este último emitir a posição definitiva a ser assumida.

Ao nível dos Embaixadores, este Grupo realiza reuniões para os delegados/nível dos peritos, os quais são muitas vezes chamados, e sempre que as questões requeiram uma análise mais atenta para a decisão.

Para que entre os Capítulos do G-77 haja consistência na tomada de posições, e seja aumentada a coordenação e a comunicação, os respectivos presidentes têm de comunicar entre si e coordenar a posição do Grupo em todas as questões e actividades relevantes. Para o efeito, têm de fazer uso da estrutura do Gabinete do Presidente do Capítulo em Nova Iorque.

Vejamos agora o que em cada um dos Capítulos ressalta como de mais importante:  Capítulo de Genebra

Tem a sua sede na UNCTAD.  Capítulo de Nairobi

Está sedeado na UNEP (United Nations Environment Programme)  Capítulo de Paris

Este Capítulo trabalha em conjunto com o Secretariado da UNESCO. Regra geral, toda a actividade principal desenvolvida por este Capítulo se tem centrado dentro dos campos de actividade da UNESCO, e têm tido um grande impacto na construção da paz do Mundo, através da educação, da ciência, da cultura e da comunicação.

Capítulo de Roma

Tem a sede na FAO (Food and Agricultural Organisation of the United Nations)  Capítulo de Viena

Em Viena este Capítulo trabalha desde 1998 com a UNIDO (United Nations Industrial

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reuniões da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA − International Atomic

Energy Agency), a delegação das Nações Unidas (UNOV − United Nations Office at Vienna) e a Comissão Preparatória para a Organização de Compreensão dos Tratados de

Interdição de Testes Atómicos (CTBTO − Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty

Organisation). Este local serve também como depósito de memória institucional do G-77,

dado nele se guardarem todos os documentos e minutas das reuniões e outra informação relevante para consulta por todos os Estados Membros.

Capítulo de Washington D.C. − Grupo dos 24

O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional são os locais que este Capítulo utiliza para a realização das suas actividades normais.

Este Grupo dos 24 foi instituído em 1971, sendo intergovernamental e com o propósito estabelecido de pôr a trabalhar em conjunto os países em vias de desenvolvimento nas questões monetárias e no desenvolvimento financeiro.

Os países membros do G-77 participam nas reuniões do G-24 como Observadores, tendo sido concedido à China o estatuto de «Convidado Especial», participando nas sessões plenárias.

Este Grupo realiza as suas tarefas em dois níveis distintos, ou seja, ao nível político dos Ministros das Finanças e Governadores dos Bancos Centrais, e ao nível dos representantes oficiais designados como Deputados.

A presidência deste G-24 é anual. Um país eleito só pode assumir o cargo da Presidência, após passar em primeiro lugar pela Segunda Vice-Presidência e depois pela Primeira Vice-Presidência. Quer dizer que só no terceiro ano poderá então assumir o cargo para que foi eleito, de Presidência.

Este Grupo realiza duas reuniões anuais, na Primavera e no Outono, precedendo as do Comité Financeiro e Monetário Internacional (IMFC − International Monetary and

Financial Committee).

Acabamos de inferir, duma forma simplificada, como funciona, em termos de organização, o G-77.

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5. CONCLUSÃO

O G-77 tem assumido e mantido durante todo o período da sua existência um empenhamento continuado e assertivo para o desenvolvimento internacional, nomeadamente ao nível das mais diversas Instituições, celebrando compromissos internacionais multilaterais, incluindo-se nestes, os objectivos definidos no Desenvolvimento do Milénio «Millenium Development Goals» das Nações Unidas, nas quais a erradicação da pobreza assume um carácter de grande realização.

Ao longo deste trabalho foi possível apercebermo-nos de como se processou a evolução e de como os países em vias de desenvolvimento, o G-77, e mais tarde juntando-se à sua voz a China, e continuando a crescer continuamente, conseguiram exercer uma importante influência no diálogo e na cooperação Sul-Sul e Norte-Sul. Consequentemente, afirmaram-se pelo impulsionar das relações internacionais, mercê das declarações, dos acordos de cooperação que foram sendo firmados, entre outros.

Contribui o G-77 para que a actuação das Nações Unidas se pautasse por uma maior clarividência no que aos factores de desenvolvimento respeita, da erradicação da pobreza, e no cumprimento do consignado na própria Carta.

Por outro lado, o vigor e a durabilidade desta Organização assume um carácter ímpar, porquanto as Decisões são tomadas através de reuniões, com os representantes permanentes, e mais tarde ratificadas em outras reuniões ministeriais, normalmente de Ministros dos Negócios Estrangeiros, onde a linha condutora, o sentir e o desejo do que se pretende obter para o bem da Humanidade tem uma linha condutora, e onde se pretende galvanizar e chamar à actuação conjunta e concertada das principais organizações responsáveis pelo desenvolvimento, como seja a UNCTAD, a UNIDO, a UN, e as Instituições Brettoon Woods, entre outras.

A força e vitalidade deste Grupo têm sido demonstradas pelos êxitos obtidos ao longo dos anos. O trabalho que se tem desenvolvido por um Mundo onde exista uma maior igualdade social e maior justiça, onde a ordem económica se consiga estabelecer com base numa sólida formação, cujo objectivo seja o aumento da paz mundial, tem-se revelado como de importante influência dentro do quadro das relações multilaterais no campo comercial, financeiro e de desenvolvimento para a erradicação da pobreza.

Este Grupo assume assim um carácter ímpar dentro das Organizações Internacionais, com uma acção de dignificação e melhoria das condições de vida, de desenvolvimento do comércio, das finanças, da economia, e da educação, de todos os países menos desenvolvidos do Mundo, contribuindo para que haja um comprometimento e um diálogo entre estes e os países mais desenvolvidos, ou seja, para que a relação e a cooperação Sul-Sul e a Norte-Sul permaneçam e que com a última, haja um verdadeiro contributo para o desenvolvimento sustentável.

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Bibliografia

AAVV − Organizações Internacionais. 2.a ed. rev. e actul. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian, 2006. ISBN 972-31-1151-9.

MOREIRA, Adriano − Teoria das Relações Internacionais. 5.a ed. Coimbra: Almedina, 2005.

ISBN 972-40-2700-7

Referências

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