Faculdade de
Sociais
Humanas
Mestrado de Historia dos
Séculos
XIX
eXX
(Seccão
Século
XX)
Portugal
e a
Organiza^ão
das
Na^ôes
Unidas.
Uma
histôria
dapolítica
externa eultramarina
portuguesa
nopos-guerra
(Agosto
de!941- Setembrodel968)
Disserta^ão
para
aobten^ão
do grau de Mestre
Orientador:
Prof. Doutor
José
de Medeiros Ferreira
Candidato: Fernando
Manuel Santos
Martins
/YYØØ^iY^:
v^7
N ■?<" <\* ^
^'CaTisT^ãíú**-*
.-:■Lisboa
Fevereiro de 1995
QUADRO
DE
M
ATÉRIAS
LlSTA
DEABREVIATURAS
ESlGLAS
5NOTA
PRÉVIA
SOBRE ASREFERÊNCLAS
BIBLIOGRÁFICAS
9INTRODUCÃO
H0
problemae
ocontexto 1 1Metodologia
25
Notaacerca das fontes
26
CAPÍTULO
I:
PORTUGAL
E A ORDEMPOLÍTICA
LNTERNACIONAL DOSEGUNDO
PÔS-GUERRA.
OS
ANTECEDENTES(1941-1945)
29Do
"equilíbrio
de
poderes"
â"seguranga
colecîiva"
29
Agostode
1941:
A Cartado Aîlântico
34
A
Carta do
AtlânticoemPortugal
39
Política
internacional(1942-1945):
Da
Declaragão
das
Nagôes
Unidas
âONU
44Portugal:
DaDeclaragão
das
Nagôes
Unidas
âConferência
de S.Francisco
48
CAPÍTULO
II: PORTUGAL
NO SEGUNDOPÔS-GUERRA
(1945-1955)
67A
ONU
e adescolonizac-ão:
1943-1955
67O
processo de admissãoportuguesa
nasNacôes Unidas: 1946-1955
82
Os
impérios
coloniais europeuse adescolonizagão.
Uma histôriacomumadécada....98
C.APÍTULO
III:
PORTUGALE AONU
(1956-1960)
[ 13A
segunda
fase da descolonizacão. Da Conferência deBandung
ãResolugão
sobreIndependência
eAutodeterminagão
daXV Assembleia Geral das
Nac,ôes
Unidas 1 13A
política
externaportuguesae
aONU(1956-1960)
147Doutrina 147
Os
factos
158CAPÍTULOIV: PORTUGALEAONU(
1961-1963)
199
Desenvolvimentos
nacenainternacional
199A
última vida
dosimpérios
coloniais europeus203
Portugal
e a ONU. Aevolucão
daspolíticas
externaeultramannaportuguesas
212CAPÍTULOV:
PORTUGAL
E AONU
(1964-1968)
319Portugal
e aONU. Os últimos
anosdo salazarismo
319
C.APÍTULO VI:
SALAZAR,
O SALAZARISMOe aONU: concepcão
eAPLICACÃO
DE UMAPOLÍTICA
EXTERNA EULTRAMARINA 327Portugal,
oImpério
eacrise daspotências
médias
327Bases
elimites do
poder poiTuguês
nofinal do
consulado salazansta 347Considerac^ôes
finais.
Aposicão
portuguesa
ouos
limites
daimobilidade
salazarista 353FonteseBibliografl\
365ANEXOS 397
ANEXO
I:
NOTAS
BlOGRÁFICAS
399
ANEXOII:
CRONOLOGIA
431ANEXO
III:
CONFERÊNCIA
DEPOTSDAM.EXCERTO
DOCOMUNICADOÂ
IMPRENSADE2DEAGOSTODE1945
469A.NEXOlV:
CARTA DASNa
ØES
UNIDAS
(EXCERTOS)
471
ANEXO V:
COMISSÔES
DAASSEMBLEIA GERALDASNA^ÔES
UNIDAS
485
ANEXOVI:
RELATÔRIO
DOSSEIS 487ANEXOVII:
RESOLUCÃO
1542(XV)
-TRANSMISSÃO
DEINFOR-MACÔES
NOS TERMOS DOART°. 73°.
e)
DACARTA
49 1 ANEXOVIII:
RESOLUCÃO 1699
(XVI)
-NÃO-CUMPRIMENTO,
PELOGOVERNO
PORTUGUÊS,
DOCAPÍTULO
XI
DACARTA DASNACÔES
UNIDAS
E DARESOLUCÃO
1542
(XV)
DAASSEMBLEIA
GERAL
493ANEXOIX:
QUADROS
495LlSTA
DEABREVIATURAS
E
SlGLAS
AAPO: AU-African
People's Organisation
(Organizac,ão
de Todos osPovos
Afncanos).
AfDB: African
Development
Bank
(Banco
deDesenvolvimento
Africano).
AG: Assembleia Geral.
AHDMNE:
Arquivo
Histôrico
eDiplomático
doMinistério
dosNegôcios Estrangeiros.
AN:AssembleiaNacional.
ANI:
Agência
Noticiosa de
Informa^ão.
Anal. Soc:
Análise Social.
Arm°.:
Armário.Art0.:
Artigo.
BIRD:
Banco Internacional
deReconstru^ão
eDesenvolvimento.
Bibl. Altos
Est.:Biblioteca de
AltosEstuãos.
Bol.
Geral
CoL: BoletimGeral das Colônias.
Bol. Geral Ultram.:
BoletimGeral
do Ultramar.Bol. Soc. Geo.:
Boletim da
Sociedade de
Geografia.
CC:
CâmaraCorporativa.
CECA: Comunidade
Europeia
doCarvão
edo
A90.
CEE: Comunidade
EconémicaEuropeia.
CEPSJIU:
Centro deEstudos
PolíticoseSociais da Junta deInvestigacôes
do Ultramar CES: Conselho Econômicoe Social.CIA:
Central
Inteligence
Service.
CLNRF: Comissão do Livro
Negro
SobreoRegime
Fascista. COMECON: Conselho para aAssitência Econômica Mútua. CS: Conselho deSeguranca.
CT: Conselho
de
Tutela.Cur. Hist.i Current
History.
D.Lei: Decreto Lei.
DS:
Department
of State.ECA: Economic Commission for Africa
(Comissão
Economica
paraAfrica).
EFTA:
European
Free Trade Association(Associa^ão Europeia
deComércioLivre).
EN: Emissora
Nacional.Est. Comun.:
Estudos sobre
oComunismo.
Est. Econ.:
Estudos
de Economia.Est.
Ultram.: Estudos Ultramarinos.
EUA/EU: Estados Unidos da
América/EstadosUnidos.
FA:
Forcas
Armadas.FAO:
Organiza^ão
dasNacôes Unidas para
aAlimenta^ão
eAgricultura.
FLN: Front
deLiberátion Nacionale.
FMI: Fundo Monetáno
Internacional.
FO:
Foreign
Office.
For.
Affrs.: Foreign Affairs.
For.
Pol.
Rep.:
Foreign Policy Reports.
For. Rel.
US:
Foreign
Relations
ofthe
UnitedStates.
GATT: General
Agreement
onTradeand Tariffs
(Acordo
Geral deComércio
eTarifas).
GRAE: Governo
Revolucionáriode
Angola
noExího.
INCM:
Imprensa
Nacional-Casa da Moeda.
Jour.
Afr.
Hist: JournalofAfrican History.
Jour.
Europ.
Econ. Hist.:Journal
of European
EconomicHistory.
Jour.
Mod.Afr.
Stud.: JournalofModern African
Studies.
MNE:
Ministéno dosNegocios Estrangeiros.
MU:
Ministério doUltramar.
NA: National
Archives.NU:
Nacôes Unidas.NU-CI:
Nacôes Unidas-Centro deInformacão.
OAS:
Organisation
de TArmée Secrête.OCAM:
Organisation
CommuneAfricaine,
Malgache
etMauncienne.OECE:
Organizacão
Europeia
deCooperacão
Economica.
OCDE:
Orgumza^ão
paraaCooperacão
e DesenvolvimentoEconômico.OIT:
Organizacão
Intemacional doTrabalho.
OMS:
Organizacão
Mundial de Saúde.ONU:
Organiza^ão
dasNacôes
Unidas.OTAN:
Organiza^ão
do Tratadodo Atlântico
Norte. OUA:Organizacão
de Unidade Africana.PAIGC: Partido Africano Paraa
Independência
da Guiné eCabo Verde. PC: Partido Comunista.PCP: Partido Comunista
Português.
PCUS:
Partido Comunista da União Soviética.Lista de
Abreviaturas
eSiglas
7Pol. Internac: Política
înternacionai
P&P: Past &
Present.
PRO: Public Record Office.
PSP: Polícia
deSeguran^a
Pública.
PT: Partido Trabalhista.
RAF:
Royal
Air
ForceRAU:
República
Árabe
Unida.
RCA:
República
Centro Africana.
Rev. Crit. Cien.
Soc: Revista Crítica das Ciências Sociais.
Rev. Democ. Lib.: Revista
Democracia
eLiberdade.
Rev.
Gab. Est. Ultram.:
Revistado Gabinete de Estudos Ultramarinos.
Rev. Hist.Econ. Soc:
Revistade
Histôria Econômica
eSocial.
RFA:
República
Federal Alemã.
RNP:
Reparti^ão
dosNegôcios
Políticos.
RPC:
República
Popular
daChina.
RTP:
Radiotelevisão
Portuguesa.
RU:
ReinoUnido.
SEATO:
South-East Asia
Treaty
Organization (Organiza^ão
doTratado do Sudeste
Asiático).
SD:State
Department.
SDN: Sociedade
das Nacôes(também Liga
dasNac,ôes).
SE: Secretana de Estado.SG: Secretário
Geral.Temas Ultram.: Temas
Ultramarinos.
UAMCE:
Union Africaine
etMalgache
deCoopération
Économique
(União
Africana eMal-gache
deCooperac,ão
Econômica).
UEO: União
Europeia
Ocidental.
UN:United Nations.
UNA: United Nations
Archives.UNESCO:
Organizac,ão
dasNacôesUnidas para
aEducacão Ciência
eCultura.
UNRRA:
United Nations Relief and Rehabilitation
and Administration(Administra^ão
dasNa^ôes
Unidas paraaAjuda
eReabilitacão).
UPA: Uniãodos Povos de
Angola.
NOTA
PRÉVIA
SOBRE AS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Na
parte
deste trabalho relativo ås
"fontes
ebibliografia"
. encontra-se ainformacão
que
completa
asreferências
que
nele vão sendo
produzidas
em notasde
"rodapé".
Quando
nestas secita
um"estudo"
(livro
ouartigo),
apenas
serefere(m)
o(s)
apelido(s)
do(s) autor(es)
e adata de
publica^ão
do(s) livro(s)
ouartigo(s)
citado(s)
— mesmoquando
se tratade
umaprimeira
referência
—,
remetendo-se
oleitor para
alista
bibliográfica
localizada
entre o texto e os anexos.Naquilo
que diz
respeito
âs
fontes,
fixaram-se duas
opcôes
relativas â transmissão de
informacão
sobre
omateriai
consul-tado.
No
casodas
fontes
nãopublicadas,
indicam-se
assiglas
do
arquivo
etoda
infor-magão
complementar
que
ali,
epelo
menosá
data
emque
suaconsulta feita
para
are-daccão
deste
estudo,
permitia
o acesso aodocumento citado.
Relativamente âs fontes
publicadas,
é indicado
naprimeira
cita^ão
o nomedo(s) autor(es),
otítulo da obra
e adata da
suapublicacão.
No
casodas
compilagôes
de
documentos,
são sempre
referen-ciados
os nomesdas pessoas
ouassiglas
das
instituicôes
responsáveis.
De
forma
anãosobrecarregar
estetrabalho
com umnúmero excessivo de notas, que
aliás,
normalmente,
apenas dificultam
aleitura,
nãobeneficiando
emnada
atransmissão
de
informa^ôes
realmente úteis
enecessárias, optou-se
por referenciar
asexpressôes
entre
aspas
ou uma utilizacãomais
"livre" de fontes
ouestudos,
esalvo
rarasexcep^ôes,
exclusivamente
no momentodo
texto emque terminava
o recurso amaterial
produzido
Quanto
â
utilizac,ão,
nocorpo do
trabalho,
de
cita^ôes
feitas
apartir
de
documen-tac^ão
ou outrotipo
de
textosescritos
emidiomas
que
não
oportuguês,
apenas
seapre-senta a
versão
original
e arespectiva
traducão,
emcita^ôes
consideradas
longas,
isto
é,
que
ultrapassem
asduas linhas. Caso
contrário,
estetrabalho ver-se-ia inundado por
umiNTRODUgÃO
O PROBLEMA
e oContexto.
Sendo
favoráveis
ounão
osjuízos
produzidos,
osacontecimentos
que
marcam ahistôria de
Portugal,
desde.
pelo
menos, ofim da
Segunda
Guerra
Mundial
até
ao anode
1974,
são sobretudo
interpretados
enquanto
tentativa de
constru^ão
de
umarealidade â
margem,
oucontra acorrente, de tudo
oque
marcava oritmo
e adirecc,ão
da
histôria
—tanto
quanto
ás
manifestac,ôes
de
política
interna
como externa.Tendo
presente
essefacto,
apontado implícita
ouexplicitamente,
quer
pela historiografia
quer
pela
literatura
testemunhal
oumemonalista,
estetrabalho sobre
Portugal
e aOrganizagão
das
Nagôes
Unidas,
procura
explorá-lo
e, senãocontrariá-lo,
pelo
menoscompletá-lo.
Tendo
presente
que
nas suaslimitacôes
efracassos,
aONU
foi
umdos
principais
repositôrios
da ordem
política
internacional,
tal
comosaída da
Segunda
Guerra
Mundial,
o
estudo do relacionamento
entrePortugal
eaquela
organizacão
torna-seinstrumento de
compreensão
das
políticas
externa einterna
(ultramarina)
do Estado
Novo,
eda
forma
como
foram enfrentados variados acontecimentos das décadas
pôs-1945.
Contando "como"
aquelas políticas
foram sendo desenvolvidas
pelo
salazarismo
entre
1941
e1968,
eexpondo
o"porquê"
da
suaadopgão,
procura-se demonstrar que,
se a
forma
e osobjectivos
que
essaspolíticas
apresentavam
eperseguiam
iam
contraaquelas
outrasdesenvolvidas
pelas
suascongéneres europeias,
nomeadamente
asdas
velhas
potências
coloniais, tornando,
por isso
o casoportuguês
numaexcepc.ão
—pre-senciada
e, emboa
parte,
condenada
ecombatida
pela
sociedade internacional1
— .su-cede
também que
osobjectivos
estabelecidos
pelo
salazarismo,
eque naturalmente
cria-ram o caso
português,
não
contrariavam,
pelo
menosdurante
umespaco
de
tempo
apreciável
(até
meados da década de sessenta).
nem a naturezapolítica
do
regime,
nem,sobretudo,
abase
sobre
aqual
seconstruíra
a sualegitimidade.
Aspolíticas
externa eultramarina
adoptadas
eram umacontinuacão,
embora
comalgumas
ímportantes
altera-côes,
da
aplica^ão
de
velhos
princípios
nacionalistas
que
podemos
fazer
remontar,quer
em
Portugal
quer
emvários
países
europeus,
aoúltimo
quartel
do século
XIX,
como oreflexo de
algumas
das linhas
mestrasque
caracterizam
oconservadorismo
político.2
Em
última
análise,
estetrabalho,
além de visar
opapel
da ONU
naspolíticas
externa eultra-marina do governo
português, propôe-se
explicar
arazão
de
serda ausência dessa
con-tradicão
ou. sequisermos,
dessa
coerência,
e comoela
moldou
aimagem
de
Portugal
navida internacional
e,particularmente,
nasNU.
Apesar
da
atencão que
aatitude de
Portugal
emrelacão
aos seusterritorios
ultra-marinos
mereceu naconjuntura
do
segundo pôs-guerra
e, emespecial,
nadécada
de
setenta e na
primeira
metade dos
anossetenta,
averdade é que não sô
nãoexiste
qual-quer trabalho de
fôlego
que tenha estudado
orelacionamento
específico
de
Portugal
comas
NU,3
durante
atotalidade
ouparte
significativa
da
vigência
do
Estado
Novo,
comonão
existe
nenhum
textoque,
recorrendo
a uma vasta econsistente
base
empírica,
per-corra as
políticas
extema eultramarina
portuguesa
nosegundo pôs-guerra (seja
até
Se-tembro de
1968,
seja
até
Abril de
1974).
César Oliveira4
tratoudas linhas
gerais
da
polí-tica
externado
salazarismo,
mas,naquilo
que
respeita
aoperíodo pôs-1945,
recorrendo
sobretudo
ainforma^ão
que
consta emfontes
testemunhais
ounarrativas,
eapenas
utili-zando de
forma
indirecta material de
arquivo
para
asdécadas de trinta
equarenta.
Os
trabalhos de Fernando Rosas5
nestaárea,
epara
operíodo
do
pôs-guerra, padecem
das
1 Sobreas NUe adescolonizaeão cf. Kav, 1972, pp. 143-170. 2 Cf. Nisbet, 1987.
3
Â
excepcão
de um pequenoestuu■.introdutôrio.Cf.Teixeira,
1985,pp. 60-61. 4 Cf.
Oliveira.1989.
pp. 71-99.Introdugão
13mesmas
limita^ôes.
José de Medeiros Ferreira6 analisou
avida
instituicão
militar durante
boa
parte
do século XX
eâ luz
desta,
já
combase
emmaterial de maior
inedetismo,
pôde
pesar
arelacão
com asopcôes
de
política
externa eultramarina
do
governo de
Sa-lazar.
Simplesmente,
osujeito principal daquela investigacão
era ocomportamento
das
FA
e não aspolíticas
externa eultramarina. Medeiros Ferreira
temainda
desenvolvido
investigacão original
nocampo
da
histôria
da
política
externa,
masquer
apontando
assuas
linhas
ecaracterísticas
gerais7
quer
analisando
aimportância,
noperíodo
do
se-gundo pôs-guerra,
do factor
OTAN,8
dos
Agores9
oudo
"bilateralismo"10
naconcepgão
e
execucão da
política
externado
Estado Novo.
O trabalho
de Rui Silva sobre
apolítica
ultramarina
portuguesa11
tem,sobretudo,
características
prospectivas,
baseando
a suainvestigacão
nocorpo
legislativo
e emfon-tes
de
naturezatestemunhal,
faltando-lhe
aoriginalidade
e aprofundidade proprias
de
uma
apurada
investigac.ão
arquivística.
Antônio
Telo
temcanalizado
a suainvestiga^ão
sobre
temasde
política
externa eultramarina,
para
umperíodo cronolôgico
pouco
ouapenas
parcialmente
coincidente
com odeste
trabalho,12
embora
nostenha habituado ã
utilizacão
sistemática de
documenta^ão
oriunda de
vários
arquivos
nacionais
eestran-geiros.
Porém,
nocapítulo
da
política
ultramarina,
enaquilo
que
respeita
âs
décadas de
cinquenta
e sessenta,pouco mais
temadiantado
do
que
algumas
linhas
gerais
de leitura
daquele
fenômeno. Sob
esteponto
de
vista,
relativamente
aoultramar
português,
epossuindo
umamaior
profundidade
factual,
existe desde
adécada
de
setenta otrabalho
já
clássico
de Oliveira
Marques.13
Freitas do Amaral
publicou
também
umpequeno
estudo,
noqual
analisa
um casoda
política
externade Salazar â luz
daquestão
ultramarina
portuguesa
nosúltimos
meses daadministracão
Kennedy.14
Além
da
informacão
(re)produzida
e dasistematizacão
feita
6 Cf. Ferreira, 1992.
7 Cf. Idem, 1993. pp. 113-156. 8 Cf. Idem, 1990b.pp. 155-193. 9 Cf. Idem, 1990a,pp. 5-17.
10 Cf. Idem, s.d., pp. 395-401; 1989e 1994,pp. 71-85.
11 Cf. Silva, 1992.pp. 355-387.
12 Cf.
Telo,1992,
pp. 65-92;Idem,
1993eIdem, 1994.por
aquele professor
de
Direito,
oreduzido
leque
documental
utilizado,
apar
de
umaavaliacão
moral
da accão
política
dos
principais
inter\'enientes
noprocesso, diminuem
oalcance
e adimensão
historiográfica
do
trabalho.
O
jomalista
Freire
Antunes
temproduzido
vários
trabalhos
interligando
apolítica
externa e a
questão
ultramarina.15 Os
seusmais
importantes
estudos
assentam numaperspectiva
bilateral
(luso-americana),
naanálise das
políticas
externade Oliveira
Salazar
e
Marcello
Caetano,
sendo
no entantode
sublinhar
tanto o recurso acolec^ôes
docu-mentais
disponíveis
emvários
importantes arquivos
norte-americanos,
como aausência
de
umtrabalho
emarquivos
de
outrasnacionalidades.
Ainda
nodomínio da
política
externaportuguesa,
masnão
conferindo
umaimpor-tância
particular
âs
questôes
de
naturezaultramarina,
existe
umestudo de
Nuno
Seve-riano Teixeira sobre
aimportância
da assinatura por
Portugal
do
Pacto
do
Atlântico
naqualidade
de
membro tundador.lh Fernanda Rollo estudou todo
oprocesso
de
negocia-côes
diplomáticas
que conduziram â
aceita^ão
pelo
governo
português
da
segunda
fase
da
ajuda
Marshall,17
interpretando
aquele conjunto
de
eventosde
forma
errada
oupre-cipitada,
massobretudo
contraditôria.18
Existem
depois
variados trabalhos que
questionam
a vertentesocio-econômica
da
política
ultramarina
portuguesa
nosegundo
pôs-guerra.
É
o caso, entreoutros, dos
tra-balhos de
Maria Helena
Rato,19
Edgar
Rocha,20
Alfredo
de
Sousa21
ouJoana Pereira
Leite.22
15 Cf. Antunes, 1980; Idem. 1990;
Idem,
s.d. e Idem. s.d.a. 16 Cf.Teixeira, 1993,
pp. 55-80.17
Cf.RoIlo,
1994.18
Segundo
aautora, "OPlano Marshall foioelemento causador de umadas maissignificativas
alte-ra^ôes
dapolítica
externaponuguesa conduzidapelos
govemos de Oliveira Salazar." Paradepois
concluir que durante"todo"o"processo negocial"
a"diplomacia
ponuguesa[...] conseguiu
manteríncôlumes os
pilares
em que continuou a fundamentar-se apolítica
externa ponuguesa do Estado Novo." Cf. Rollo. op. cit., pp. 294 e 297. Parece-me que do ponto de vista dosobjectivos
estraté-gicos
depolítica
externa tracados porSalazar, a aceitacão dasegunda ajuda
Marshall nãoimplicou
qualquer mudan^a.
A passagem da"rejei^ão"
á "aceitacão"significa
umaaltera^ão
táctica que buscaaconsolida^ão
dosobjectivos estratégicos.
19 Cf. Rato, 1983. pp. 1121-1129.
20 Cf.
Rocha, 1977,
pp.593-617
e Idem,1982,
pp. 1053-1075. 21 Cf. Sousa, 1964,pp.249-296.Introdugão
15A
projec^ão
política
dada
aPortugal pelo
facto de
a suadescolonizacão
se terveri-ficado
tardiamente,
despertou
aatenc.ão
de
estudiosos
estrangeiros.
São
essencialmente
de
dois
tipos
osmuitos trabalhos que analisam
apolítica
ultramarina de Lisboa
nasdéca-das do
segundo pôs-guerra.
Uns
produziram
estudos de
caso,debrucando-se
sobre
ocolonialismo
português
isoladamente.
Outros
integraram-no,
como assuntomais
oumenos
singular,
no contextodas
descoloniza^ôes
europeias.
No
primeiro
grupo temos,
por
exemplo,
ostrabalhos de
G.
Bender,23
G.
Clarence-Smith,24
Basil
Davidson25
eMalyn
Newitt.26
Tratam-se
de sínteses
commaior
ou menorquantidade
de
informacão
empírica,
e comdesigual
cunho de
objectividade
analítica. No
segundo
grupo,
comrecurso
â
comparacão
com outros casos,foi
possível
adiantar linhas
interpretativas
de
valor
desigual.
Entre
outros,podem
citar-se
os textosde Pierre
Benaux,27
Basil
Davidson,28
R. F.
Holland,29
Richard
Mahoney30
ouJohn D.
Hargreaves.31
Pela
naturezaensaística de
muitos textos,
pelo
tratamentode
períodos
cronolôgicos largos,
tendo
ainda
em conta o atrasoda
investiga^ão
sobre
amatéria,
e ao não severificar
o recursosuficiente
esistemático
afontes
arquivisticas
originais,
neles
permaneeem
muitos
pontos
obscuros
notratamentoda
política
ultramarina
portuguesa
nosegundo pôs-guerra.
Assim,
naquilo
que
diz
respeito
â
interpretacão
da imbricada histôria das
políticas
externa e
ultramarina
portuguesa
nosegundo pôs-guerra,
variadíssimas ideias
mestrasparecem
relevantes
emerecedoras
de
umaatencão
especial,
sobretudo
porque
podem
parecer
falhas de
justificacão
minimamente satisfatôria
eobjectiva.
Tendo
presente,
tantoas
limita^ôes subjacentes
aosestudos
disponíveis,
comoalguns
testemunhos de
pretenso
cunho
historiográfico
que,
afínal,
fazendo
parte
de
umamplo leque
de
narrativas são
ajustificacão
de
umaaccão e/ou
pensamento
numperíodo
relativamente
recente da nossahistoria,
estetrabalho procura esclarecer
as causasda atitude
portuguesa,
o seuimpacto
23 Cf. Bender, 1980. 24 Cf. Clarence-Smith, s.d..
25 Cf. Davidson, 1984,pp. 755-810.
26 Cf.Newitt, 198!.. 27 Cf. Bertaux,s.d.. 28 Cf. Davidson, 1994.
29 Cf. Holland, 1985.
30 Cf.
Mahoney,
1983.externo,
além de
enquadrar
napolítica
intemacional
asacc,ôes
de
política
intema
e ex-ternalevadas
pelo
Estado Novo
nos anosquarenta,
cinquenta
e sessenta.Neste
sentido,
procurou-se
tracar aevoluc,ão
da
ac^ão
edo
pensamento
político
de
algumas potências
coloniais
emrelacão
aodestino definido
para
osrespectivos
territôrio
ultramarinos. De
facto,
oconhecimento
e obreve enunciar
dos
casosfrancês,
britânico
eespanhol,
ajudam
amelhor
compreender
aanálise
que
eventualmente
possa
der feita
do
colonialismo
português
noperíodo
aqui
abordado. Ficamos por isso
asaber
que
solu^ôes
"multirracialistas" foram
pensadas
eensaiadas por Londres relativamente
aoQuénia
ouâ
Federai~ão da Rodésia
eNiassalândia
nodecurso da década de
cinquenta,
ou,
recuando
notempo,
que
a naturezaliberal
edemocrática do
sistema
político
britânico
não
impedia
Londres de
agir,
durante
aSegunda
Guerra Mundial
ou nadécada
que
selhe
seguiu,
naqualidade
de
potência imperial
reticente
emrelacão
ás
solucôes
anticolonialistas
propostas
por
Washington.
Também
aFran^a
saiu
do
maior conflito militar do século XX
empenhada
emman-terou mesmo em
reforcar
o seu estatutode
potência
colonial.
Tendo
oprocesso de
reti-rada
imperial
por
parte
da
Franca sido bem mais drástico
eprovocado grande
conflitua-lidade
noseio da sociedade francesa. Por
isso,
eporque
sobretudo
relativamente â
descolonizacão
da
Argélia,
parecem existirem
certosparalelismos
com o casoportuguês,32
dedicou-se mais espaco
ao seu tratamento.O
casoespanhol
é
tratado
pelas
semelhancas
político-ideolôgicas
do
franquismo
edo
salazarismo,
apesar dos territôrios
imperiais
terempara
aEspanha, depois
de
1945,
umpapel
muito
diferente
daquele
que
veio
a serreservado
emPortugal.
Por
conseguinte,
aoiniciar-se
nofmal do século XX
oestudo do
problema
da
cha-mada
descoloniza^ão
nosegundo
pos-guerra, porque é
oproblema
da
descoloniza^ão
que
se encontrapor trás da
relacão
de
Portugal
com asNU
até
1974/75,
não parecem
32 Discussão doassunto nas NU,
pressôes
externas sobre ogovemo de Paris para umaresolu^ão
rá-pida
doproblema,
forte contlitualidade na vidapolítica
francesacomapresentaijão
de várias solu-côes para o mesmoproblema, empenhamento
das FA no conflito e tentativa de resolucão de umaquestão
política
por via militar,desadequa<;ão
entreaevolu^ão
da sociedadefrancesae os interes-ses daFran^a
metropolitana
relativamente åsopcôes
políticas
quepropunham
acontinuagão
davoca^ão
imperial
de Paris, tenacidade e habilidadepolítica
parapropôr
e concretizar solucôes queIntrodugão
17convincentes
as razôespelas quais
osnacionalismos
asiáticos,
primeiro,
eafricanos,
logo
de
seguida,
gozaram de
umtão
rápido
sucesso naobtencão dos
objectivos
político--ideolôgicos
que colocavam
asi
prôprios
e aos seusinterlocutores
— asantigas
potên-cias coloniais
europeias
e asduas
superpotências
saídas da
Segunda
Guerra Mundial
(aUnião
Soviética,
emsi também herdeira de
umvelho
império,
e osEUA).
Esses
objecti-vos eram,
está
bom de
ver, aconstituicão
de
Estados-Na^ôes
politicamente
indepen-dentes. reconhecidos
quase
unanimemente
nodomínio intemacional
eusufruindo de
umarepresentatividade,
tantoreal
comosimbôlica,
nodomínio
extemo como nointemo,
isto
é,
governos,
pelo
menosaparentemente
e acurto-médio prazo.
legitimados
íntema eexternamente,
sendo que
nesteúltimo
caso, oexemplo
talvez mais
importante,
seen-contre na
admissão quase
sempre
imediata
nasNU,
oque
equivalia, pelo
menosteori-camente,
aodesempenho
de
umpapel
importante
noseio de
umpoderoso
bloco
(o
afro--asiático)
daquela
instituicão.
A
par
da busca de
respostas
satisfatôrias
para
esteproblema
pendente,
eque
ahis-toriografia
portuguesa
do tema,
a meu ver,não
sô não
questiona
como nemsequer
temsistematicamente
presente,
interessa
interrogar
arapidez
quase
generalizada
comque
aspotências
tutelares
europeias
teriam cedido
as suasposigôes imperiais.
Pareciam
terdeslizado,
quase sempre
comgrande
facilidade,
do
exercício
de
umdomínio
político
formal para
um outroinformal,
podendo,
inclusivamente,
negarem-se
aschamadas
etão
apregoadas
certezas acercada
inevitabilidade
de manutencão de
umdomínio
político
de
tipo
imperial
para
asobrevivência
duma
hegemonia
dos
chamados interesses
capitalistas
no
mundo.33
Em
resumo, nageneralidade
apresentavam-se
osimperialismos
europeus
comotendo
existido para servir
osinteresses econômicos europeus, sendo por isso
moral-mente
condenáveis,
da
mesmaforma que
adescolonizacão
do
segundo
pôs-guerra, pelo
modo
simplista
comoé
entrenôs
interpretada,
havia
representado
umavaga,
tantode
generosidade
europeia,
como,sobretudo,
odesfecho
lôgico
de
umaluta
de povos
33 Cf. texto clássico sobre esta matéria: Lénine, "O
Impenalismo,
fasesuperior
doCapitalismo"
inoprimidos
pela
respectiva
libertacão. Esta linha de
argumentagão,
que
poderá
parecer
excessiva
edemasiado
geral,
serveapenas
para
que
sepossam
compreender
oslirrutes
de
muitas
das
interpreta^ôes
de
alguma
historiografia,
quer
sobre
oimperialismo
europeu
oitocentista quer sobre
asdescolonizacôes
pôs Segunda
Guerra
Mundial.
E
aquelas
duas linhas
interpretativas
avan^adas
excluem-se
mutuamenteporque
se oimperialismo
é,
oufoi vital para
aEuropa,
ofenomeno
da
descolonizacão
não
poderia
ter
sido
tãocélere. Ou
então,
tendo sido
adescolonizacão
tãoimediata,
oimpenalismo
não
havia
existido
ou, nomínimo,
teria
apenas
tido dimensôes bem
menoresdaquelas
apregoadas.34
Ou,
finalmente,
haveria
umainterpretagão
capaz de
nosexplicar
umavia
alternativa que
ultrapassasse contradigôes
deste calibre. Também
nestaterceira linha de
raciocínio,
erecordando
outrosfactos,
facilmente
sepode
constatar,
inclusive
em termosestritamente
morais,
nomundo
bipolar
do
segundo
pos-guerra,
adualidade de
critérios
na
apreciagão
ouclassificagão
dos vários nacionalismos
do
espectro
mundial.35
Assim,
ointemacionalismo
proletário poderia
garantir
aexistência
objectiva
de
impérios
comsé-culos de vida. Ao
contrário,
asdemocracias
burguesas
da
Europa
Ocidental,
como seussucedâneos. deveriam abdicar dos
seusterritôrios de
além-mar,
uma vezque
asucessão
dos acontecimentos definira
o seucunho
opressor,
ahistôrico,
antidemocrático.
No
mí-nimo.
aEuropa
foi convidada
asair
das áreas que formalmente
ocupava,
passando,
ora aexercer um
domínio/hegemonia
informal
ora a ver-sesubstituída
por
algo
de facto
muito
prôximo
mas,terminologicamente,
diferente.
Aexpressão
desta
realidade
nasNU,
encontrava-se no
facto
de
aAG
ou oCS
apreciarem,
discutirem
econdenarem,
entremuitos
outrosfactos,
apresenga
portuguesa
emAngola,
aindependência
unilateral da
Rodésia
ou oapartheid
naÁfrica
do
Sul,
da
mesmaforma
que
ignoravam
oproblema
das nacionalidades
naURSS
ou asviolagôes
dos
direitos
humanos
nos novospaíses
independentes
que
faziam
parte
do
bloco
afro-asiático.36
Dá-se assim
aconcluir que
anova
ordem
intemacional
tratavade
legitimar,
com aanuência
envergonhada
das
velhas
potências
europeias
enfraquecidas,
oabandono dos
impérios.
Porém,
ao recuodo
velho
34 Cl. Cain e
Hopkins.
1993e 1993a;Fieldhouse,
1990eO'Brien, 1988.35 Cf.
Hobsbawm,
1990e 1990a.Introdugão
19imperialismo
europeu
sucedia
um outro,diverso,
constmído
pelas
duas
superpotências.
Obviamente,
aquilo
que
estava em causanão
erasô
olegítimo
direito
dos
povos
â
auto-determinagão,
oque abre
assim
espago para
uma outraabordagem
do
casoportuguês.
Este
trabalho
pretende,
eporque
parte
de
pressupostos
que,
putativamente, pôem
em causa ostermos em
que
se temfeito
oestudo da
política
externaportuguesa,
â
luz da
respectiva política
ultramarina,
retomar opercurso
dessa
construgão.
Assim,
procura-se
interpretar
adescolonizagão
irreversível
eindiscutível,
tendo
presente
oprocedimento
das
potências
coloniais
europeias
desde
1941
ameados da
década
de
sessenta.Ora,
adocumentagão
evariadíssimos
trabalhos
historiográficos
demonstram
que
adescolonizagão
teve,enquanto
actopolítico
assumido
pelas
potências
tutelares,
umparto
extremamentedifícil. Britânicos
primeiro,
franceses
depois, belgas
eholandeses
um
pouco
mais
tarde,
nãoviam
necessidade
nemutilidade
numaautodeterminagão
imediata dos territôrios
epovos que
govemavam além-mar. A
suaideia
era ade
manterposicôes,
garantindo
oessencial
ecedendo
noacessôrio.
Essencial
seria
aordem
comocondicão
de
progresso
ede
riqueza
dos
seusterritôrios
de
além-mar;
acessôrio seria
adescentralizagão
político-administrativa.
Além do mais havia que
garantir
benefícios
mútuos
arepartir
entreterritôrios
metropolitanos
eultramarinos. A
novaordem
política
intemacional
chegou
apreparar-se
para reger,
senãoboa
parte
das
possessôes
europeias
no
Sudeste
Asiático,
pelo
menos asda Africa
asul do Sahara.
Estas
atitudes
encontradas
junto
de
governos
democratas europeus,
eque
contavam, em
muitos
casos, com aanuência
norte-americana,
ajudam
tanto amelhor
perceber
o casoportuguês
e adesdramatizar
aatitude
do Estado
Novo,
como aexorcizar
opeso
político-ideolôgico
exagerado
que
oestudo dos últimos
anosdo
colonialismo
português
ainda
detêm.Assim,
aresistência de
Salazar,
edo
regime
aque
presidia,
emdescolonizar
tinha, afinal,
importantes precedentes
(democráticos)
que
remontavam
â
"preparagão"
da ordem
política
intemacional
a"vigorar"
nosegundo
pôs-guerra.
Por
aqui,
também,
sepercebia
que
outrasrazôes
assistiam á "teimosia"
nocronolôgico
que
estetrabalho
percorre
(1941-1968),
era um"desígnio"
inteiramente
nacional,
oupelo
menos tantoquanto
um"desígnio",
que reflecte
umadeterminada
opgão
política,
opode
ser.E
certoque
por
estaaltura
adescolonizagão
emÁfrica
nãocomegara,
nemsequer ameagava
fazê-lo.
Porém,
aspressôes
da União Indiana sobre
oEstado
Português
da India
eram,depois
de
1947,
umfacto
político
assinalável,
masque
o
salazarismo soube
utilizar
em seuproveito
ao mesmotempo
que
aoposigão
intema
não
sabia,
não
podia
ou nãoqueria
questionar.37
Se
nofinal do século
XIX,
como norescaldo da
Grande
Guerra,
se encontravageneralizada
aideia,
segundo
aqual,
vários Estados
europeus
tinham não sô
odireito
como o
dever
de govemar
osterritôrios
e ospovos
menosdesenvolvidos
do
mundo,
é
certoque,
com odesenvolvimento
e ofim da
Segunda
Guerra
Mundial,
os termosdefi-nidores deste
problema
comegaram
aalterar-se. E ainda que tal não
fosse,
emsi,
umfacto
inevitável, portanto,
consequência
directa
enecessária da
novarelagão
de
forgas
no
mundo,
nem umfacto,
emsi,
naaltura
indiscutível,38
tanto noque
respeita
aosgo-vemantes ou
(mais
importante
ainda?)
aosgovemados,39
certoé que,
comopoderemos
sucintamente
ver aolongo
deste
trabalho,
por razôes
várias,
nos anoscinquenta,
e emalguns
casos mesmoantes, comegara
adesaparecer,
naspotências europeias
comdimen-são
ultramarina,
aquilo
que
poderemos
chamar
comoque
umavontade de
exercer umatutela
política generalizada naqueles
territorios,
tal
equal
como noscinquenta,
sessentaou mesmo setenta anos
anteriores
a1945
ou1950.
Já entrados
nos anos sessenta, essamesma
vontade havia-se desvanecido quase por
completo.
Com
umarapidez
surpreendente,
sobretudo para
umespectador
da
política
intema-cional por volta de
1880,
durante
aGrande
Guerra,
norescaldo
desta,
ou mesmodos
últimos
anosda
Segunda
Guerra Mundial
edos
primeiros
passos
de
reconstrugão
políti-37 Uma vez que a
questão
do Estadoportuguês
daíndia
ficou resolvida em Dezembro de1961,
ao mesmotempo que se tratade umtemarelativamente vastoecomplexo,
e ainda não estudadopela
historiografia
ponuguesa, acabando por sermarginal
tanto o seu tratamento nas NU como a suaimportância
no conjunto do TerceiroImpéno Português,
não fez parte daspreocupacôes
ouprioridades
deste estudo.38 Cf. por
exempio,
Louis, s.d.. sobre as difíceisrela^ôes anglo-americanas,
entre 1941 e1945,
apropôsito
dodestino doimpério
colonialbritânicodepois
da guena.39 "Os Britânicos não renunciaram ao seu
Império
por acidente. Deixaram de acreditar nele". A. J.Introdugão
21ca
pôs
1945,
osimpérios
belga,
holandês,
francês
ebritânico
desapareceram.
Por razôes
várias,
eapenas até
1974-75,
Portugal pôde
manter, sobretudo
emÁfrica,
umatutela
com
parte
das velhas
características,
mastambém
comalgumas
que
sepoderão
consi-derar
novas eimportantes.
E
neste contextoque devem
sercompreendidos alguns
dos
princípios políticos
ge-rais
e, emparticular,
odiscurso
e aprática
nacionalista que
regiam
asopgôes
de
política
externa e
ultramarina definidas
por Salazar. E
por ironico
que possa
parecer,
essedis-curso e
prática
nacionalista
garantiram
asobrevivência do autoritarismo
português
noambiente democrático do
segundo
pôs-guerra.
Mas
já
decorridos
alguns
anos nadécada
de
sessenta,
com adesmobilizagão
do
país
a crescerface
aquilo
que
seconsidera
como aintransigência
das
opgôes
tragadas
e os custosmateriais
ehumanos que
implicava
(ao
que,
obviamente,
não
eraestranho
aextensão de
umaguerra por três
frentes),
transfor-mou-se nocoveiro do
regime,
embora
oprôprio
Presidente do
Conselho estivesse
con-victo de que tal
podia
acontecer.E
estefacto é
tantomais
importante
quanto,
para
Sala-zar, o
modelo
político
definido
pelo
Estado Novo
era oúmco
apltcável
å realidade
por-tuguesa.
Por
isso
seinsistia
naestratégia
tragada
desde
osidos
anostrinta.
O
ditador manifestava
adisposigão
de
impôr
todos
ossacrifícios,
recorrendo
ato-dos
osmeios,
certoque
as suasopgôes,
feitas
imposigôes,
selegitimavam
nãojá
numapresumível
vontade
dos
portugueses,
mas numarealidade
política
que considerava
comoa
heranga
histôrica do
País.
Assim,
mesmopodendo
vir
anão
contarcom oindispensável
apoio
interno,
ofuturo
e ojulgamento
da
histôria,
pensava, viriam
adar-lhe
razão.Colocava-se, portanto,
sobre
o"fio
da
navalha",
sendo
porém
mais
importante
ofacto
de que,
com asobrevivência do
regime
e asopgôes
estratégicas,
sempre defendidas
pelo
chefe do governo,
emrisco,
era odestino
de
Portugal
que
sejogava,
uma vezque
setratavade um
conjunto
de
objectivos
estratégicos
que,
segundo
Salazar,
setraduziam
noúnico meio de
nãosô
garantir
asobrevivência do
país
enquanto
nagão
independente.
mastambém de fazer
cumprir
o seupapel
oumissão histôrica. Um
regime
político
de ordem
assegurar para
ofuturo
umaindependência
de
séculos. Mesmo que
emsi,
equivalessem
a
realidades
contraditorias
que
conduzissem
â
destmigão
de
umapela
outra.Decidiu-se que
estetrabalho deveria
conhecer
o seuinício
com umfacto
relevante
para
histôria
da
política
intemacional,
ecujo significado
seestendeu muito para além da
Segunda
Guerra Mundial.
Trata-se
da assinatura
pelo presidente
norte-americano
Francklin
Roosevelt
epelo primeiro-ministro
britânico Winston
Churchill
da Carta do
Atlântico.
Conclui-se
anarragão
a26
de
Setembro
de 1968 porque é
esta adata
emque
Américo
Thomaz,
numa"comunicagão
aopaís",
anuncia
aexoneragão
de Oliveira
Sala-zar
do cargo
de
Presidente do
Conselho,
encerrando-se
assim
umcapítulo
da
histôria de
Portugal
noséculo
XX,
naturalmente
comsequências
naconcepgão
eaplicagão
das
po-líticas
extemaeultramarina
portuguesas.
A
Carta do
Atlântico é
não
sô
oembrião
político-jurídico
da
ONU
eda
ordem
política
intemacional do
pôs-guerra,
comomenciona,
explicitamente,
osprincípios
polí-ticos
segundo
osquais,
equando
aplicados,
maiores
contrariedades
trarão â
continuagão
da
política
ultramarina
defmida
pelo
salazarismo
desde
osidos
anosvinte
etrinta.40
Tratam-se
afinal
de
princípios
relativos
"ao
direito de todas
asnagôes
å
autodeterminagão
e odireito
ao acesso emcondigôes
de
igualdade
aocomércio
ematérias-primas
mundiais
[...]."*•
Encerra
cronologicamente
estetrabalho
oafastamento
de
Salazar
da
Presidência
do
Conselho,
emSetembro
de
1968.
Isto porque
apesar
da
continuidade
verificada
naorientagão
das
políticas
extema eultramarina
marcelista,
quando comparadas,
obvia-mente,
com assalazaristas,
naquele
momentoverifica-se,
noseio do
regime,
umacris-40 Adiante setratará de relataras linhas
gerais
dessapolítica.
Sublinhe-sedesdejá
a suaimportância
vital para a
(des)ordem
saída do 28 de Maio de 1926.Cf.,
porexemplo,
Clarence-Smith,
s.d.,pp. 153 a
199, Rosas, 1986,
pp. 75 a93,
A.Silva,1989,
pp. 106e ss. e R.Silva,
1992. pp. 355 a372.
41 Cf. Loth, s.d., p. 20. Davam-se a conhecer na Carta
"alguns
dosprincípios
comunsdaspolíticas"
norte-americanae britânica "nos
quais"
sebaseavamas "suas esperan^as de um fumro melhor parao Mundo". Nomeadamente, os pontos me IV determinavam o
seguinte;
Ponto III:"Respeitam
odireito de todosospovos escolherem
aforma
de Governo sobaqual
terãodeviver,
edesejam
ver restabelecidos os direitos soberanos e os Governosprôprios naqueles países
que forampnvados
deles
pela forga."
PontoIV:"Diligenciarão,
comorespeito
devido ássuasobrigagôes
actuais. quetodos osEstados,