A S IT U A Ç Ã O IT A L IA N A E A S T A R E F A S D O P C I
T E S E S D E L Y O N 1
yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1
A transform ação dos
parti~los com unistas, nosrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Iquais se concentra a
va nguarda da classe
operária, em partidos
bol-cheviques, pode ser consi-derada, no m om ento atual,
com o a tarefa fundam ental ela
Internacional Com unista. Essa
tarefa terá que se por em
relação ao desenvolvim ento
histórico do m ovim ento operário internacional, em
particular, a luta que se travou
em seu interior entre o
m arxism o e as correntes que
constituíam um desvio dos princípios e da prática de luta
de classes revolucionária.
2.
O nascim ento do m ovim ento operá tio em cadapaís ocorreu de m aneira
distinta. No geral, em todas as partes, deu-se a rebelião
espontânea do proletário
contra o capitalism o. Não
obstante, tal rebelião assum iu
em cada nação um a form a
específica que era reflexo e conseqüência das particulares características nacionais dos
indivíduos que, procedendo da pequena
burguesia e do cam pesinato, haviam contribuído
para form ar a grande m assa do proletariado
industrial.
O m arxism o constituiu o elem ento consciente, científico, superior ao particularism o
das diversas tendências de caráter e origem
10
REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAISnacional, e conduziu contra
elas um a luta no cam po teórico e no terreno da
orga-nização. Todo o processo
form ativo da I Internacional
teve essa luta com o eixo principal, e findou com a
expulsão do bakuninism o
da Internacional. Quando
findou a I Internacional, o
m arxism o já havia triunfado no m ovim ento operário.
Com efeito, a II
Internacio-nal com pôs-se de partidos
que, em sua totalidade,
reivindicavam o m arxism o,
considerando-o com o o
fundam ento de sua tática em
todas as questões essenciais.
Após a vitória do m arxism o, as tendências de
caráter nacional que haviam
sido derrotadas trataram de
se m anifestar por outra via,
ressurgindo no próprio seio do m arxism o através de
form as de revisionism o. Esse
processo se viu favorecido
pelo desenvolvim ento da fase im perialista do capitalism o. A esse fenôm eno encontram -se
estreitam ente relacionados os seguintes fatos:
abandono progressivo, pelas hostes do m ovim ento
operário, da crítica ao Estado, parte essencial da
doutrina m arxista, que foi substituída por utopias dem ocráticas; a form ação de um a aristocracia
operária; um a nova m igração de m assas da
pequena burguesia e do cam pesinato para o
ANTONIO GRAMSCI*
RESUMO
Trata-se de um texto que contém as teses escritas por
Gramsci com a colaboração de Palmiro Togliatti. Elas foram apresentadas por ocasião do 111Congresso Nacional
do Partido Comunista Italiano (PC I), em23· 26de janeiro de 1926,em Lyon. O grupo politico liderado por Gramsci obteve pouco mais de 90% dos votos, enquanto que a ultra-esquerda liderada por Amadeo Bordiga, cerca de 9%. As Teses de Lyon configuram a tentativa de dotar o PCI de
uma linha e de um programa baseado em dois eixos articuladores: análise da realidade italiana; e compreensão
histórica dos objetivos politlcos do proletariado
revolucio-nário. ••
ABSTRACT
This text contains theses written by Gramsci with the
contribution of Palmiro Togliatti. They were presented during the 111National Congress of the Italian Communist Party, in 23-26of January of1926,in Lyon. The political group led by Gramsci got more than 90% of the votes, while that the extreme-Ieft under the leadership of Amadeo Bordiga got
only 9%. The Theses of Lyon configure the attempt to endow the PCI with a line and a program based on two axles:
analysis of the Italian reality; and historical understanding of the objectives politicians of the revolutionary proletaria!.
*Tradução: Aécio Alves de Oliveira, Danyelle Nilin Gon-çalves, Eduardo Gomes Machado. Elda Maria Freire Maciel, José Lindomar C. Albuquerque, Katherinne de Macêdo Maciel, Maria Cristina de Queiroz Nobre e Raul Patricio Gastelo.
R e v is ã o final: Lucio Oliver Costilla e Aéeio A. de Oliveira.
D O S S I Ê G R A M S C I
yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
proletariado e, com isso, um a nova difusão de correntes ideológicas de caráter nacional, entre o
proletariado, contrárias aorqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAmarxismo. Desse m odo,
o processo de degeneração da II Internacional
assum iu a form a de um a luta contra o m arxism o,
que se desenvolveu no interior do próprio m arxism o, a qual culm inou com o desastre
provocado pela guerra.
O Partido Bolchevique, o único partido que
se salvou da degeneração, conseguiu m anter-se à
frente do m ovim ento operário de seu próprio país, expulsou de suas fileiras as tendências
antim arxistas e elaborou, com base na experiência
de três revoluções, o leninism o, que é o m arxism o
da época do capitalism o m onopolista, das guerras
im perialistas e da revolução operária. Assim ,
afirm ava-se, historicam ente, a posição do Partido Bolchevique na fundação e na condução da III
Internacional, e se estabeleciam os term os do problem a da form ação de partidos bolchevíques
em todos os países. Isso requer a vinculaçào da
vanguarda do proletariado ~ldoutrina e à prática
revolucionárias do m arxism o, superando e
liquidando com pletam ente toda a corrente antirrràrxista.
3 . Na Itália, a origem e as vicissitudes do
m ovim ento operário não propiciaram , antes da gu e,rra , o surgim ento de um a corrente de
esquerda m arxista que tivesse um caráter de
perm anência e de continuidade. O caráter
originário do m ovim ento operário italiano foi
m uito confuso; nele confluíram tendências diversas, desde o idealism o m azziniano, ao
hum anitarism o dos cooperativistas e dos
partidários da m utualidade e o bakuninism o, o qual sustentava que existiam na Itália, inclusive
antes do desenvolvim ento do capitalism o, as
condições para chegar im ediatam ente ao socialism o. A origem tardia e a debilidade da
dústria explicam a ausência do elem ento
r
ador que proporciona a existência de umIt'--' .•.n •..•.•.•.riado forte; e teve por conseqüência o
am ento da ruptura entre anarquistas e
a .. que ocorreu com um atraso de vinte
: 92, Congresso de Gênova).
No Partido Socialista Italiano, criado no Congresso de Gênova, existiam duas correntes
dom inantes. De um lado, havia um grupo de
intelectuais que defendia apenas a reform a
dem ocrática do Estado; seu m arxism o não ia além
do propósito de suscitar e organizar as forças do
proletariado para pô-Ias a serviço da instauração da dem ocracia (Turati, Bissolati, etc.). Por outro,
um grupo m ais diretam ente articulado ao
m ovim ento operário, que representava um a
tendência operária, porém , carecia de qualquer
consciência teórica (Lazzari). Até 1900, o Partido propunha-se apenas a fins de caráter dem ocrático.
Um a vez conquistada a liberdade de organização
e iniciada a fase dem ocrática, tornou-se evidente
a incapacidade de todos os grupos que o
com punham para dar-lhe a fisionornía de um
partido m arxista do proletariado.
Os intelectuais foram se afastando, cada vez m ais, da classe operária; m esm o assim , nem
sequer teve resultado a tentativa, de outra cam ada
de intelectuais e de pequenos burgueses, de
constituir um a esquerda m arxista que tom asse form a no sindícalísm o. Com o reação a essa
iniciativa, a fração íntegralista triunfou no seio
do Partido, a qual era a expressão, em seu vazio verbalism o conciliador, de um a característica
fundam ental do m ovim ento operário italiano, que
tam bém se explica pela debilidade da
industria-lização e pela deficiente consciência crítica do proletariado. O revolucionarism o dos anos que
precederam a guerra m anteve intacta essa
característica, não conseguindo, nunca, superar
os lim ites do genérico populism o para unificar a
construção ele um partido da classe operária e a aplicação elo m étodo da luta de classes.
No seio dessa corrente revolucionária,
com eçou a se diferenciar, desde o início da guerra,
um grupo de "extrem a esquerda" que sustentava
a tese do m arxism o revolucionário, porém , de
m aneira oscilante e sem conseguir exercer um a influência real sobre o desenvolvim ento do
m ovim ento operário.
~I guerra, e tam bém se explica com o o Partido Socialista se encontrou, depois da guerra, diante
de LIm a situação revolucionária im ediata, sem ter
nem proposto, nem resolvido nenhum dos
problem as fundam entais que a organização política
do proletariado deve resolver, a fim de realizar
seus objetivos: em prim eiro lugar, o problem a da "opção de classe" e aquele que se refere à form a
organizativa a ela adequada; depois, o problem a
do Program a do partido, de sua ideologia; e, finalm ente, os problem as de estratégia e de tática
cuja resolução deve conduzir ao reagruparnento,
em torno do proletariado, das forças que são
naturalm ente seus aliados na luta contra o Estado e a guiá-Io para a conquista do poder.
Depois da guerra, inicia-se, na Itália, a acum ulação sistem ática de um a experiência que
seria capaz de contribuir de m odo positivo para
a resolução desses problem as. Som ente com o
Congresso de Livorno se assentam as bases constitutivas do partido de classe do proletariado,
o qual, para se tornar um partido bolchevique e
realizar plenam ente sua função, deve liquidar a
tendência antim arxista, tradicionalm ente própria
do m ovim ento operário.
A n á lis e d a e s tru tu ra s o c ia l ita lia n a
4 .
o
capitalism o é o elem ento predom inante na sociedade italiana e a força que prevalece nadeterm inação de seu desenvolvim ento. Desse fato
fundam ental, deriva-se a conseqüência de que não existe na Itália a possibilidade de um a
revolução que não seja a revolução socialista. Nos
países capitalistas, a única classe que pode realizar
um a transform ação social real e profunda é a
classe operária. Som ente a classe operária é capaz
de por em prática as transform ações de caráter econôm ico e político, necessárias para que as
energias de nosso país encontrem com pleta
liberdade e possibilidade para seu
desenvolvi-m ento. A m aneira com o realizará essa função revolucionária vincula-se ao grau de
desenvolvi-m ento do capitalisdesenvolvi-m o na Itália e à estrutura social
que lhe corresponde.
12
rqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V. 35 N.25.
Na Itália, a industrialização, que constitui o aspecto fundam ental do capitalism o, é bastante incipiente. Suas possibilidades de desenvolvim entose vêem lim itadas pela situação geográfica e pela
falta de m atérias-prim as. Por isso, não consegue absorver a m aioria da população italiana (quatro
m ilhões de operários industriais frente a três m ilhões
e m eio de operários agrícolas e quatro m ilhões de
cam poneses). À industrialização opõe-se um a
agricultura que se apresenta naturalm ente com o a base da econom ia do país. As variadas condições
do solo e as conseqüentes diferenças de cultivo e
sistem as de m anejo provocam , não obstante, um a ~ forte diferenciação das classes rurais, com o
predom ínio dos estratos pobres, m ais próxim os à
condição do proletariado e m ais suscetíveis de sofrer sua influência e aceitar sua direção. Entre as
classes industriais e agrárias, se situa um a pequena
burguesia urbana, bastante extensa, e que tem um a
im portância considerável. Essa pequena burguesia
se com põe, predom inantem ente, de artesàos, profissionais e em pregados do Estado.
6.
A debilidade intrínseca do capitalism o italiano obriga a classe industrial a se utilizar dedistintos recursos para assegurar-se do controle
sobre toda a econom ia do país. Esses procedi-m entos se reduzem , substancialm ente, a um
sistem a de com prom issos econôm icos entre um a
parte dos industriais e um a parte das classes
agrárias, m ais precisam ente os latifundiários.
Portanto, não ocorre a tradicional luta econôm ica entre industriais e proprietários rurais, nem tem
lugar a alternância de grupos dirigentes que essa
luta determ ina em outros países. Por outro lado,
os industriais não têm necessidade de sustentar, contra os ruralistas, um a política econôm ica que
assegure o contínuo fluxo de m ão-de-obra do
cam po às fábricas, porque este fluxo se vê
garantido pela exuberância de população agrícola pobre que é a característica da Itália. O pacto
industrial-agrário tem por base a solidariedade
de interesses entre alguns grupos privilegiados,
com prejuízo dos interesses gerais da produção e
da m aioria dos trabalhadores. Esse pacto determ ina
um a acum ulação de riqueza nas m ãos dos grandes
D O S S I Ê G R A M S C I
yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
industriais, que é conseqüência de um a sistem ática espoliação de todas as categorias da população
e de todas as regiões do país. Os resultados dessa
política econôm ica sào o déficit do balanço
econôm ico; o freio ao desenvolvim ento de regiões inteiras (o Sul e as ilhas), obstáculos ao surgim ento
e ao desenvolvim ento de um a econom ia m elhor
adaptada ~Iestrutura do país e a seus recursos; a crescente m iséria da população trabalhadora; a
existência de um a contínua corrente de em igração
e o conseqüente em pobrecim ento dem ográfico.
7.
Com o não controla toda a econom ia, a classe industrial tam bém nào consegue organizar,por si m esm a, a sociedade inteira e o Estado. A
construção de um Estado nacional som ente se
faz possível com o aproveitam ento de fatores da política internacional (o cham ado Risorgimento).
Para reforço e defesa do Estado, é necessário estabelecer um com prom isso com as classes sobre
as quais a indústria exerce um a hegem onia
lim itada, particularm ente os ruralistas e a pequena burguesia. Daí, um a heterogeneidade e um a
debilidade de toda a estrutura social e do Estado,
que é sua expressão.
7bis.
Um reflexo típico da debilidade da estrutura social pôde ser constatado no Exército,quando do início da guerra. Um círculo restrito
de oficiais, desprovidos do prestígio dos chefes (velhas classes dirigentes agrárias, novas classes
industriais), tem por escalão inferior um a casta
de oficiais subalternos, burocratizada (pequena
burguesia) que é incapaz de servir de elo junto
à totalidade dos soldados, indisciplina da e
abandonada a si m esm a. Na guerra, todo o
Exército se viu obrigado a reorganizar-se de baixo para cim a, após a elim inação dos graus
superiores e um a transform ação da estrutura
organizativa, a qual corresponde ao advento de
um a nova categoria de oficiais subalternos. Esse
fenôm eno precede a análoga transform ação que o fascism o realizará ao defrontar-se com o Estado
em um a escala m aior.
8 . As relações entre indústria e agricultura, que são essenciais para a vida econôm ica de um país e para a determ inação da superestrutura política,
-~-;-
- \rqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
BCH-UF'~
DE
...r)',rnS
-
~ ,têm na Itália um a base territorial. No NOIte se concentram , em alguns grandes centros, a produção
e a população agrícola. Em conseqüência disso, todos
os contrastes inerentes à estrutura social do país
contêm um elem ento que afeta a unidade do Estado e a põem em perigo. A solução do problem a buscada
pelos diligentes burgueses e agrários se dá através
de um com prom isso, Nenhum desses grupos possui,
por sua natureza, um caráter unitário e um a função
unitária. O com prom isso com o qual se resolve a
unidade é, por outro lado, de tal natureza que torna
m ais grave a situação. Com ela, as populações trabalhadoras do Sul são levadas a um a situação
análoga à que sofrem as populações coloniais. A
grande indústria do Norte realiza para as populações
do Sul a função das m etrópoles capitalistas; os grandes latifundiários e a própria m édia burguesia
m eridionais se colocam , por sua vez, na situação
dos segm entos que nas colônias se aliam à m etrópole, para m anter subm issa a m assa do povo
que trabalha. A exploração econôm ica e a opressão
política se unem , por conseguinte, para fazer da
população trabalhadora do Sul e das ilhas um a força continuam ente m obilizada contra o Estado.
9 . O proletariado tem na Itália um a
im portância superior à que tem em outros países
europeus, inclusive naqueles de capitalism o m ais
adiantado, com parável som ente à situação que tinha a Rússia antes da revolução. Isso se deve,
antes de tudo, ao fato de que, em virtude da escassez de m atérias-prim as, a indústria
apóia-se, preferencialm ente, na m ão-de-obra (pessoal
especializado) e, em seguida, à heterogeneidade
e aos conflitos de interesse que debilitam a classe
dirigente. Frente a essa heterogeneidade, o proletariado apresenta-se com o o único elem ento
que por sua natureza tem um a função unificadora
e coordenadora de toda a sociedade. Seu
program a de classe é o único program a
"unitário", isto é, o único cujo conteúdo não contribui para aprofundar os conflitos entre os
diversos elem entos da econom ia e da sociedade,
e não contribui para rom per a unidade do Estado. Adem ais, junto ao proletariado industrial,
concentrados especialm ente no vale do Po, sobre
a qual os operários da indústria exercem
influência e, por conseqüência, são m ohilizáveis
para a luta contra o capitalism o e o Estado.
a Itália, confirm a-se a tese de que as condições m ais favoráveis para a revolução
proletária não se encontram , necessariam ente, nos
países onde o capitalism o e a industrialização
tenham atingido o m ais alto grau de desenvol-vim ento; e sim que podem existir, ao contrário,
onde o tecido do sistem a capitalista, por sua
debilidade estrutural, oferece m enor resistência a
um ataque da classe revolucionária e de seus
aliados.
A p o lític a d a b u rg u e s ia ita lia n a
10.
A finalidade que a classe dirigenteitaliana se propunha a alcançar, com o
nascim ento do Estado unitário, era m anter
subordinadas as grandes m assas da população trabalhadora e im pedidas de se converterem em
força revolucionária, capaz de realizar um a
com pleta transform ação social e política, que
possibilitasse o surgim ento de um Estado
proletário, organizando-se em torno do
proletariado industrial e agrícola. A debilidade
intrínseca do capitalism o a obrigou, não obstante,
a determ inar com o base para o ordenarnento da
econom ia e do Estado burguês a unidade
conseguida através de com prom issos entre
grupos nào hom ogêneos. Num a perspectiva histórica am pliada, esse sistem a se revelou
inadequado ao objetivo que pretendia. Toda
form a de com prom isso entre os diversos grupos
dirigentes da sociedade italiana constitui-se, de
fato, em um obstáculo ao desenvolvim ento de
um a ou outra parte da econom ia do país. Essa situação tam bém faz surgir
novos
conflitos enovas reações da m aioria da população, que
acentuam a pressão sobre as m assas e produzem
um im pulso cada vez m aior, no sentido de sua m obilizaçào e rebelião contra o Estado.
11.
O prim eiro período de vida do Estado Italiano 0870-1890) é o de sua m aior debilidade.14
rqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V.35
N.2
As duas partes de que se com põe a classe
dirigente, os intelectuais de um lado, e os
capitalistas de outro, estão unidas no propósito de m anter a unidade, porém , divididas com
respeito à form a que deve ter o Estado unitário.
Falta entre eles um a hom ogeneidade positiva. Os problem as a que o Estado se propõe são
lim itados e têm m ais a ver com a form a do que
com a essência relacionada ao dom ínio político
da burguesia; predom ina, para todos, o problem a
do equilíbrio orçam entário que é um a questão
de pura conservação. A consciência da
necessidade de am pliar a base das classes que
dirigem o Estado som ente aparece com o início
do "transform ism o".
Além disso, nesse período, a m aior
debilidade do Estado se deve ao fato de que o
Vaticano reúne em torno de si um bloco ~
reacionário e antiestatal, constituído pelos
latifundiários e pela grande m assa de cam poneses
atrasados, controlados e dirigidos por ricos proprietários e pelos sacerdotes. O program a do
Vaticano consta de duas partes: por um lado,
propõe a luta contra o Estado burguês unitário e
"liberal" e, ao m esm o tem po, está disposto a
constituir com os cam poneses um exército de reserva contra a vanguarda do proletariado
socialista que será provocada pelo
desenvolvi-m ento da indústria. O Estado reage à sabotagem do Vaticano e instaura toda um a legislaçào de
conteúdo e intenções anticlericais.
12.
Entre 1890 e 1900, a burguesia assum e para si, resolutam ente, o problem a de organizarsua própria ditadura e o resolve com um a série
de m edidas de caráter político e econôm ico que
incidem decisivam ente no desenrolar da história
italiana.
Antes de tudo, fica resolvida a diferença
entre a burguesia intelectual e os industriais, cujo sinal é a chegada de Crispi ao poder. A burguesia
assim reforçada resolve a questão de suas
relações com o exterior (Tríplice Aliança),
conseguindo certas garantias que lhe perm item
inserir-se na disputa pela conquista dos m ercados
coloniais. No terreno interno, a ditadura burguesa
o
rqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
o
S
S
I
Ê
GYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
R A - M S C Ise instaura politicam ente, restringindo o direito
ele voto a pouco m ais de um m ilhão de eleitores, em relação a um a população de trinta m ilhões
de habitantes. o cam po econôm ico, a introdução
do protecionism o industrial-agrário corresponde
ao propósito do capitalism o de obter o controle
sobre toda a riqueza nacional. Com isso,
consolida-se um a aliança entre os industriais e os latifundiários. Essa aliança arranca parte da
força que o Vaticano havia reunido ao redor de
'i, sobretudo entre os proprietários de terras do
, ul, e que o faz inserir-se no quadro do Estado
burguês. De resto, o Vatica n o reafirm a a necessidade de dar m aior im portância à parte
de seu program a reacionário que se refere à
resistência ao m ovim ento operário e assum e posição contra o socialism o com a encíclica
Rerurn
Nouarum.
Frente a am eaça que oVaticano representa para o Estado, contudo, a
classe dirigente reage, organizando-se de m aneira
unitária com um program a anticlerical, através
da m açonaria.
Os prim eiros progressos reais do m ovi-m ento operário foram alcançados nesse período.
A instauração da ditadura industrial-agrária
coloca em term os reais o problem a da revolução,
determ inando seus fatores históricos. Surge no _ orte um proletariado industrial e agrícola,
enquanto no Sul a população agrícola, subm etida
a um sistem a de exploração "colonial", m antém
-:e sujeita a um a opressão política cada vez m ais
forte. Os term os da "questão m eridional"
aparecem de m aneira clara nesse período. E,
espontaneam ente, sem a intervenção de um fator consciente, e sem que o Partido Socialista deduza
deste fato um a indicação para sua estratégia de
partido da classe operária, verifica-se no período,
pela prim eira vez, a coincidência das tentativas
insurrecionais do proletariado setentrional, com
a revolta de cam poneses m eridionais (fascios
sicilianos).
13.
Derrotadas as prim eiras tentativas do proletariado e dos cam poneses de se rebelarcontra o Estado, a burguesia italiana consolidada
adquire condições para adotar m étodos
extradem ocráticos e aqueles próprios da
corrupçào política, direcionados à parte m ais avançada da população trabalhadora (aristocracia
operária) e assim dificultar os progressos do
m ovim ento operário, fazê-Io cúm plice da
ditadura reacionária e irnpedi-lo que se converta
no centro da insurreição contra o Estado
(giolitism o). Porém , entre 1890 e 1910, tem -se um a fase de concentração industrial e agrária.
O proletariado agrícola cresce em 50% , em
detrim ento das categorias de colonos, parceiros
e arrendatários, dando origem a um a onda de
m ovim entos agrários e a um a nova orientação dos cam poneses, que forçam o próprio Vaticano
a reagir com a fundação da "Ação Católica" e com um m ovim ento "social" que chega, em suas
form as extrem as, a assum ir a aparência de um a reform a religiosa (m odernism o). A essa reação
do Vaticano para não perder adeptos,
corresponde o acordo dos católicos com a classe
dirigente para proporcionar ao Estado um a base m ais segura (abolição do 110n
expedit,
pacto Gentiloni). Tam bém , até o final desse terceiroperíodo (1914), os diversos m ovim entos parciais
do proletariado e dos cam poneses culm inam em
um a nova e espontânea tentativa de agrupam ento das diversas forças antiestatais, em um a
insurreição contra o Estado reacionário. Nessa
tentativa, apresenta-se, enfaticam ente, o problem a
que aparecerá, em toda sua am plitude, no
pós-guerra, isto é, o problem a da necessidade de que o proletariado organize, em seu seio, um
partido de classe que lhe dê a capacidade de se
por à frente da insurreição e de guiá-Ia.
14.
o pós-guerra, tem lugar a m áxim a concentração econôm ica no cam po industrial. Oproletariado alcança o m ais alto grau de organização ao qual corresponde a m aior
desagregação da classe dirigente e do Estado.
Todas as contradições contidas no organism o
social italiano aflorarn, com a m áxim a crueza,
para o despertar das m assas m ais atrasadas à vida política, provocado pela guerra e suas
conseqüências im ediatas. E, com o sem pre, a
se vê acom panhada por um a agitação profunda
das m assas cam ponesas, tanto do Sul com o das outras regiões. As grandes greves e a ocupação
das fábricas ocorrem sim ultaneam ente com a
ocupação das terras. A resistência das forças
reacionárias se exerce, ainda, segundo a direção
tradicional. O Vaticano está consciente de que
junto à "Ação Católica" se form e um verdadeiro
partido que se propõe a inscrever as m assas
cam ponesas no quadro do Estado burguês, aparentem ente satisfazendo sua aspiração de
redenção econôm ica e de dem ocracia política.
As classes dirigentes, por sua
vez,
atuam comgrande desenvoltura no plano da corrupção e da
desagregação do m ovim ento operário, m ostrando
aos líderes oportunistas a possibilidade de que um a aristocracia operária colabore com o
governo
na tentativa de solução "reform ista" dos problem as
do Estado (governo de esquerda). Porém , em um
país pobre e desunido com o a Itália, o
aparecim ento de um a solução "reform ista" do problem a do Estado provoca, inevitavelm ente, a
desagregação da coesão estatal e social, que não
resiste ao choque dos diversos grupos nos quais as classes dirigentes e as classes interm ediárias
se pulverizam . Cada' grupo exige proteção
econôm ica e autonom ia política e, na ausência
de um núcleo hom ogêneo de classe que saiba
im por, com sua ditadura, um a disciplina de trabalho e da produção para todo o país,
derrotando e elim inando os exploradores
capitalistas e agrários, o governo se torna
im possível e a crise do poder perm anece
continuam ente aberta.
Nesse período decisivo, a derrota do
proletariado revolucionário se deve às deficiências
políticas, organizativas, táticas e estratégicas do
partido dos trabalhadores. Por causa dessas deficiências, o proletariado não consegue se pôr
à frente da insurreição da grande m aioria da
população para fazê-Ia desem bocar na criação
de um Estado operário; ele m esm o sofre, por sua
vez, a influência das outras classes sociais que paralisam sua ação. Há que se considerar a vitória
do fascism o, em 1922, não com o um a vitória sobre
16
REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V.35 N.2
rqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a revolução, e sim com o conseqüência da derrota das forças revolucionárias, em razão de suascarências intrínsecas.
o
fa s c is m o e s u a p o lític a
15.
O fascism o, com o m ovim ento de reação arm ada cujo objetivo era desagregar e desorganizara classe trabalhadora para im obilizá-Ia, insere-se
no quadro da política tradicional das classes dirigentes italianas, e na luta do capitalism o contra
a classe trabalhadora. Por esse m otivo, se vê
indistintam ente favorecido em suas origens, em
sua organização e em seus cam inhos, por todos
os velhos grupos dirigentes, de preferência os
agrários, que se sentiam m ais am eaçados pela
pressão da plebe rural. Sem em bargo, o fascism o
encontra sua base social na pequena burguesia J
urbana e em um a nova burguesia agrária, surgida de um a transform ação da propriedade rural em
algum as regiões (fenôm enos de capitalism o
agrário na Em ilia, form ação de um segm ento
m édio de origem rural, "bolsas de terra", novas
divisões da terra). Essa circunstância e o fato de ter atingido um a unidade ideológica e
organi-zativa, nas form ações m ilitares, em que se revive
a tradição da guerra (heroism o), e que utilizam
na guerrilha contra os trabalhadores, perm item
ao fascism o conceber e executar um plano de conquista do Estado, em oposição aos
velhos
estam entos dirigentes. É um absurdo falar em
revolução. Os novos segm entos que se reagrupam
em torno do fascism o, em troca, trazem de sua
origem um a hom ogeneidade e um a m entalidade com um de "capitalism o nascente". Isso explica
com o é possível a luta contra os hom ens políticos
do passado e com o aqueles segm entos podem justificar-se com um a construção ideológica que
contradiz as teorias tradicionais do Estado e suas
relações com os cidadãos. Em essência, o fascism o
m odifica o program a de conservação e de reação
que sem pre dom inou a política italiana, apenas
com um m odo distinto de conceber o processo de unificação das forças reacionárias. A tática
dos acordos e dos com prom issos é substituída
D O S S I Ê G R A M S C I
yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
pelo propósito de realizar um a unidade orgânica
de todas as forças da burguesia em um só
organism o político, sob o controle de um a única central, que deveria dirigir conjuntam ente o
partido, o governo e o Estado. Esse propósito corresponde ;1 vontade de resistir, a fundo, todo
ataque revolucionário, o que perm ite ao fascism o reunir as adesões da parte m ais decisivam ente
reacionária da burguesia industrial e dos agrários.
16.
O m étodo fascista de defesa da ordem , da propriedade e do Estado, ainda m ais que osistem a tradicional dos com prom issos e da
política de esquerda, é desagregador da coesão
social e de sua superestrutura política. As reações
que provoca devem ser exam inadas, em relação à sua aplicação, tanto no cam po econôm ico
com o no terreno político.
No cam po político, antes de tudo, a
unidade orgânica da burguesia, no fascism o, não
se realiza im ediatam ente após a conquista do
poder. Fora do fascism o, subsistem núcleos de oposição burguesa ao regim e. Por um lado, o
grupo que confia na solução giolittiana do Estado
não é absorvido. Esse grupo se vincula a um a
seção da burguesia industrial e, com um
program a de reform ism o "trabalhista", exerce
influência sobre estratos operários e da pequena
burguesia. Por outro lado, o program a de fundar
o Estado sobre um a dem ocracia rural do Sul e sobre a parte "saudável" da indústria do Norte
(em Corriere della sera, liberalism o, Nitti) tende
a se converter em program a de um a organização
política de oposição ao fascism o, com base nas
m assas do Sul (União Nacional).
O fascism o vê-se obrigado a lutar contra
esses grupos sobreviventes e a lutar com energia,
ainda m aior, contra a m açonaria, visto que a considera justam ente com o centro de organização
de todas as forças tradicionais que sustentam o
Estado. Essa luta é, queira-se ou não, o indício
de um a fissura no bloco das forças conservadoras
e antiproletárias, e pode, em determ inadas
ircunstãncias, favorecer o desenvolvim ento e a
irm ação do proletariado com o terceiro e decisivo
ator de um a situação política.
No cam po econôm ico, o fascism o age
com o instrum ento de um a oligarquia industrial
e agrária, para concentrar nas m àos do
capitalism o o controle de todas as riquezas do
país. Isso não pode se realizar sem provocar o
descontentam ento na pequena burguesia, que,
com o advento do fascism o, acreditava ter
chegado o tem po de seu dom ínio.
O fascism o adota toda um a série de
m edidas para favorecer um a nova concentração
industrial (abolição do im posto sobre heranças,
política financeira e fiscal, fortalecim ento do protecionism o), e a estas se agregam outras
m edidas a favor dos latifundiários e contra os
pequenos e m édios produtores rurais (im postos,
im postos sobre o trigo, "batalha do grão"). Não
resulta desse conjunto de m edidas um crescim ento
da riqueza nacional, e sim a exploração de um a classe em favor de outra, isto é, das classes
trabalhadoras e m édias em favor da plutocracia.
A intenção de favorecer a plutocracia aparece,
descaradam ente, no projeto de legalizar, no novo
código de com ércio, o regim e das ações
privilegiadas; um pequeno grupo de em presários
do setor financeiro está, deste m odo, em condições de poder dispor, sem nenhum controle,
de enorm es m assas de poupanças procedentes
da m édia e da pequena burguesias, e estas
categorias se encontram privadas do direito de
dispor de sua riqueza. No m esm o plano, m as
com conseqüências políticas m ais am plas, insere-se o projeto de reunificaçào do banco de em issão,
que equivale, na prática, à supressão dos dois
grandes bancos m eridionais. Esses dois bancos cum prem , hoje, a função de absorver os recursos
do Sul e as poupanças dos em igrantes (600 m ilhões); isto é, a função que no passado era
exercida pelo Estado, de em issão de bônus do
tesouro e de Banco de desconto, favorecendo
um a parte da indústria pesada do Norte. Os
bancos m eridionais foram controlados, até agora,
pelas m esm as classes dirigentes do Sul, que encontraram nesse controle lim a base real de
seu dom ínio político. Com a supressão dos
esta função será exercida pela grande indústria do Norte que controla, através do Banco
com ercial, o Banco da Itália para, deste m odo,
acentuar a exploração econôm ica "colonial" e o
em pobrecim ento do Sul, assim com o acelerar o
lento processo de distanciam ento da pequena burguesia m eridional em relação ao Estado.
A política econôm ica do fascism o se com pleta com as m edidas encam inhadas para
elevar a cotação da m oeda, sanear o orçam ento do Estado, pagar as dívidas de guerra e favorecer
a penetração do capital anglo-am ericano na Itália.
Em todos esses cam pos, o fascism o executa o
program a da plutocracia (Nitti) e da m inoria
industrial-agrária, em detrim ento ela grande
m aioria ela população, cujas condições de vida pioram progressivam ente.
A coroação de toda a propaganda ideológica,
da ação econôm ica e política do fascism o, é sua
tendência ao "im perialism o". Esta tendência é a
expressão da necessidade sentida pelas classes dirigentes industrial-agrárias italianas de procurar,
fora do espaço nacional, os elem entos para a
resolução da crise da sociedade italiana. Ela contém
os germ es de um a guerra que será realizada,
aparentem ente, em nom e da expansão italiana, m as que, na verdade, a Itália fascista será um
instrum ento nas m ãos de um dos grupos
im perialistas que disputam o dom ínio do m undo.
17.
Com o conseqüência, a política do fascism o determ ina profundas reações das m assas. O fenôm eno m ais grave é a exclusão cada vezm ais decisiva das populações agrárias do Sul e
das Ilhas do sistem a de forças que regem o Estado.
A velha classe dirigente local (Orlando, Di Cesarà, De Nicola etc) já nào exerce de m aneira
sistem ática sua função de elo de com unicação com o Estado. A pequena burguesia tende, pois,
a se aproxim ar dos cam poneses. O sistem a de
exploração e de opressão das m assas m eridionais
é levado ao extrem o pelo fascism o, o que facilita a radicalização,· inclusive, dos segm entos
interm ediários, e expõe a questão m eridional em
seus verdadeiros term os, com o questão que
som ente será resolvida com a insurreição dos
18
rqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V.35 N.2cam poneses aliados ao proletariado, na luta contra os capitalistas e contra os latifundiários.
Tam bém os cam pesinos m édios e pobres
de outras regiões da Itália cum prem um a função
revolucionária, ainda de m aneira m ais lenta. O Vaticano - cuja função reacionária foi assum ida
pelo fascism o - já nào controla a população rural
de m aneira com pleta através dos padres, da "Ação
Católica" e do Partido Popular. Essa é um a paIte
dos cam poneses que foi despertada para a luta em defesa de seus interesses, pelas m esm as
organizações autorizadas e dirigídas pela autoridade
eclesiástica, e agora, sob a pressão econôm ica e política do fascism o, realça sua própria orientação
de classe e com eça a sentir que sua SOIte não
pode separar-se daquilo que ocorre com a classe
trabalhadora. O indício dessa tendência é o
fenôm eno M iglioli. Outro sintom a bastante
.J
interessante é tam bém o fato de que as organizações
brancas, em bora sendo um a parte da "Ação Católica", se enfrentam diretam ente com o Vaticano,
e têm participado dos com itês intersindicais com
a Liga Verm elha, expressão daquele período proletário que os católicos indicavam , até fins de
1870, com o im inente na sociedade italiana. Quanto ao proletariado, a atividade
desagregadora de suas forças encontra um lim ite
na resistência ativa da vanguarda revolucionária
e em um a resistência passiva da grande m assa, que se m antém fundam entalm ente classista e dá
sinais de se por em mobilizacào: o que dim inui a pressão física do fascism o e torna m ais fortes os
estím ulos dos interesses de classe. A tentativa dos
sindicatos fascistas de dividir o proletariado pode
ser considerada fracassada. Os sindicatos fascistas,
m udando seu program a, convertem -se, agora, em
instru m ento direto da opressão reacionária a
serviço do Estado.
18.
Diante do perigoso isolam ento e das novas m obilizações de forças que decorrem desua política, o fascism o reage, fazendo recair,
sobre toda a sociedade, o peso da força m ilitar e do sistem a de opressão que m antém a população
sujeita ao fato m ecânico da produção, sem
possibilidade de ter vida própria, de m anifestar
D O S S I Ê G R A M S C I
yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
sua vontade e de se organizar para a defesa de
seus próprios interesses.
A cham ada legislação fascista não tem outro objetivo senão o de consolidar e tornar
perm anente esse sistem a. A nova lei política
eleitoral, as m odificaçôes do regim e adm inistrativo
com a indicação de prefeitos para as com unas
rurais etc, tratam de por fim à participação das m assas na vida política e adm inistrativa do país.
O controle sobre as associações im pede toda
form a de perm anência "legal" de organização das
m assas. A nova política sindical im pede a
Confederação do Trabalho e os sindicatos de classe de celebrar acordos, excluindo-os, assim ,
do contato com as m assas que se haviam
organi-zado em torno deles. A im prensa proletária tem
sido suprim ida; o partido da classe do proletariado
reduzido à plena ilegalidade. A violência física e
a perseguição da policia são, sistem aticam ente, em pregadas, sobretudo no cam po, a fim de
dissem inar o terror e m anter um a situação de
estado de sítio.
O resultado desta com plexa cadeia de
reações e opressões é o desequilíbrio entre a real relação de forças sociais e a relação das forças
organizadas, fazendo com que um aparente retom o
à norm alidade e à estabilidade corresponda a um
agravam ento dos conflitos prestes a irrom per a qualquer instante sob outras form as.
18bis.
A crise que se seguiu ao assassinato de M atteotti é um exem plo da possibilidade deque a aparente estabilidade do regim e fascista
e veja perturbada, em suas bases, pela irrupçào
im prevista de divergências econôm icas e políticas
refundas, para cuja gravidade não se havia dado devida atenção. Ao m esm o tem po, isso tem
rnecído a prova da incapacidade da pequena
urguesia de fazer triunfar a luta contra a reação
. dustrial-agrária, nesse período histórico.
o rç a s m o triz e s e
e rs p e c tiv a
d a R e v o lu ç ã o
19.
Com o resultado de nossa análise, em os dizer que as forças m otrizes darevolução italiana, em ordem de im portância, são as seguintes:
1) a classe operá ria e o proletariado
agrícola;
2) os cam poneses do Sul e das Ilhas e
aqueles das outras regiões da Itália.
O desenvolvim ento e a rapidez do processo
revolucionário não sào previsíveis, sem um a
avaliaçào dos elem entos subjetivos: isto é, um a
avaliação da m edida em que a classe operária
alcançará um a figura política própria, um a consciência de classe definida, e independência
com relação a todas as outras classes; da m edida
em que organizará suas forças, ou seja, exercerá
de fato um a ação de guia das dem ais forças, em prim eiro lugar, concretizando politicam ente sua
aliança com os cam poneses.
Em linhas gerais, e tendo por base,
principalm ente a experiência italiana, pode-se afirm ar que, após o período da preparação
revolucionária, entrar-se-á em um período
revolucionário "im ediato", quando o proletariado
industrial e rural do arte haja recuperado, pelo
desenvolvim ento de um a situação objetiva, e através de um a série de lutas particulares e
im ediatas, um alto grau de organização e de com batívídade.
Quanto aos cam poneses do Sul e das Ilhas, deverão ser postos em prim eira linha, entre as
forças com as quais se devem contar para a
insurreição contra a ditadura industrial-agrícola,
ainda que não se queira atribuir-Ihes um a
im portância decisiva que não seja em aliança
com o proletariado. A aliança entre eles e os operários é o resultado de um processo histórico
natural e profundam ente encorajado pela
experiência passada do Estado italiano. Para os cam poneses das outras partes da Itália, o
processo de orientação para a aliança com o
proletariado é m ais lento e deverá ser favorecido
por um a cuidadosa ação política do partido do
proletariado. Os êxitos já obtidos neste cam po,
na Itália, indicam , por dem ais, que o problem a de rom per a aliança dos cam poneses com as
países da Europa ocidental, deve ser explicitado, tendo em vista elim inar a influência da
organi-zação católica sobre as m assas rurais.
2 0 . Os obstáculos ao desenvolvim ento da revolução não decorrem apenas da pressão
fascista, m as tam bém se acham relacionados com
a variedade dos grupos em que se divide a burguesia. Cada um desses grupos se esforça
para exercer influência sobre um determ inado
segm ento da população trabalhadora, para
im pedir que se expanda a influência do
proletariado; ou sobre o proletariado com o um toelo para fazê-lo perder sua personalidade e
autonom ia ele classe revolucionária.
Constitui-se, deste m odo, um a cadeia de forças
reacionárias que com eça no fascism o e
com preende grupos antifascistas que não têm
grande base de m assas (liberais), aqueles que
não têm um a base nos cam poneses e na pequena burguesia (dem ocratas, com batentes de guerra,
populares, republicanos) e, em parte, tam bém
entre osrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAoperários (partido reform ista) e aqueles que, tendo um a base proletária, tendem a m anter
as m assas operárias num a condição de
passividade e a fazê-Ias seguir a política de
outras classes (partido m axim alista). Tam bém o grupo que dirige a Confederação do Trabalho,
tem -se que considerar da m esm a m aneira, isto
é, com o veículo da influência desagregadora de
outras classes sobre os trabalhadores. Cada um
dos grupos que indicam os tem um a parte da
população trabalhadora italiana sob sua
influência. A m odificação dessa situação som ente
se concebe com o conseqüência de um a
sistem ática e ininterrupta ação política da
vanguarda proletária, organizada no Partido
Com unista.
Há que se atribl;ir atenção especial aos
grupos e partidos que têm um a base de m assa ou buscam form á-Ia com o partidos dem ocráticos
ou com partidos regionais, na população agrícola
do Sul e das Ilhas (União Nacional, Partido da
Ação Sardo, M olisano, Irpino etc.). Esses partidos
não exercem um a influência direta sobre o
proletariado, m as são um obstáculo para a
20
REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V.35
N.2
realização da aliança entre os operanos e os
cam poneses. Orientando as classes agrícolas do Sul, no sentido de um a dem ocracia rural e de
soluções dem ocráticas regionais. eles rom pem a
unidade do processo de libertação da população
trabalhadora italiana; im pedem que os cam poneses
triunfem na sua luta contra a exploração econôm ica e política da burguesia e dos que têm
a terra; e preparam a transform ação destes últim os
em guarda branca da reação. O êxito político da
classe operária nesse dom ínio tam bém depende
da ação política do partido do proletariado.
21.
A possibilidade ele que se possa derrubar o regim e fascista, por um a ação dosgrupos antifascistas que se dizem dem ocráticos,
som ente existiria se estes grupos conseguissem ,
neutralizando a ação do proletariado, controlar
um m ovim ento de m assas até poder frear seu
posterior desenvolvim ento. A função ela oposição burguesa dem ocrática é a de colaborar com o
fascism o, dificultar a reorganização da classe
operária e a realização de seu program a ele classe.
esse sentido, é provável um com prom isso entre
fascism o e oposição burguesa, que inspirará a
política da form ação de "centro" que surja dos
escom bros do Aventino. A oposição poderá voltar a ser protagonista ativo da defesa do
regim e capitalista, som ente quando a própria
opressão fascista não lograr im pedir o
desencaeleam ento elos conflitos ele classe e o
período ele um a insurreição de proletários, em sua soldagem com um a guerra cam ponesa,
pareça grave e im inente. A possibilidade de que
a burguesia e o próprio fascism o recorram a
um sistem a reacionário encoberto pelas
aparências de um "governo de esquerda" deve
estar, pois, continuam ente presente em nossa perspectiva (divisão de funções entre fascism o
e dem ocracia. Tese do V Congresso M undial).
2 2 . Dessa análise dos fatores da revolução e de suas perspectivas, podem ser deduzidas as
tarefas do Partido Com unista. Os critérios de sua atividade organizativa e de sua ação política
devem estar relacionados à análise da qual
derivam as linhas eliretivas de seu program a.
D O S S I Ê G R A M S C I
T a re fa s fu n d a m e n ta is
d o P a rtid o C o m u n is ta
yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
23. Depois de haver resistido vitoriosam ente
à onda reacionária que queria refreá-Io (923); após
ter contribuído com ação própria com um prim eiro
passo para deter o processo de dispersão das forças trabalhadoras (924); depois de haver aproveitado
a crise M atteotti para reorganizar um a vanguarda
proletária que se opôs com notável êxito à tentativa
de instaurar um predom ínio pequeno-burguês na
vida política (Aventino) e depois de ter lançado as
bases de um a real política cam ponesa do
proletariado italiano; o Partido se encontra hoje na fase da preparação política da revolução.
Sua tarefa fundam ental pode resum ir-se
nesses três pontos:
1) organizar e unificar o proletariado industrial e agrícola para a revolução;
2) organizar e m obilizar, em torno do
proletariado, todas as forças necessárias para a
vitória revolucionária e para a fundação do Estado
Operário;
3) apresentar, ao proletariado e a seus aliados, o problem a da insurreição contra o Estado
burguês e da luta pela ditadura do proletariado,
e guiá-los, política e m aterialm ente, à sua solução
• través de um a série de lutas parciais.
A c o n s tru ç ã o d o P a rtid o C o m u n is ta
c o m o p a rtid o " b o lc h e v iq u e "
24. A organização da vanguarda proletária
m o Partido Com unista é a parte essencial de
ssa atividade organizativa. Os operários . Iianos aprenderam , com sua experiência
0919-_ . que onde falta a liderança de um Partido
m unista, concebido com o partido da classe
rária e com o partido da revolução, não é sível um a saída vitoriosa da luta pela derrubada
regim e capitalista. A construção de um Partido
unista que seja, de fato, o partido da classe
rária e o partido da revolução - que seja, pois,rqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1partido "bolchevique' - encontra-se em relação
e a com os seguintes pontos fundam entais:
se:
F
n: r'I "J '-,..L-1) a ideologia do partido;
2) a form a de organização e seu grau de
coesão;
3) a capacidade de funcionar em contato
com as m assas;
4) a capacidade estratégica e tática.
Cada um desses pontos se encontra
estreitam ente relacionado aos outros e não
poderia, a rigor, separar-se logicam ente um dos
outros. Efetivam ente, cada um deles indica e
com preende um a série de problem as cujas soluções interferem e se im plicam
reciproca-m ente. O exam e em separado de cada um dos
pontos será útil som ente quando se tenha presente
que nenhum pode ser resolvido senão através de
um a form ulação e um a solução de conjunto.
A id e o lo g ia d o P a rtid o
25. O Partido Com unista requer um a
unidade ideológica com pleta para poder
desem penhar, a cada m om ento, sua função de
guia da classe operária. A unidade ideológica é o elem ento de força do Partido e de sua capacidade
política; ela é indispensável para transform á-Io
em um partido bolchevique. A base da unidade
ideológica é a doutrina do m arxism o e do
leninism o, entendida esta últim a com o a doutrina
m arxista adequada aos problem as do período do im perialism o' e ao início da revolução proletária
(Teses sobre a bolchevizaçào do Executivo am pliado de abril de 1925, N°S IV e VI).
O Partido Com unista da Itália form ou sua
ideologia na luta contra a social-dem ocracia (reform istas) e contra o centrism o político
representado pelo partido m axim alista. Contudo,
ele não encontra, na história do m ovim ento
operário italiano, um a vigorosa e contínua
corrente de pensam ento m arxista que lhe sirva de referência. Além disso, falta aos seus m em bros
um conhecim ento profundo e am plam ente
difundido das teorias do m arxism o e do
leninism o. Os desvios são, por conseguinte,
A elevação do
nível
ideológico do Partidodeve
ser obtida m ediante um a sistem ática atividade interna que se proponha levar a todosos m em bros o conhecim ento pleno dos fins
im ediatos do m ovim entorqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBArevolucionário, a terem
um a certa capacidade de análise m arxista das situações e um a correlata capacidade de
orientação política (escola do Partido). Épreciso
recusar a concepção segundo a qual. os fatores
de consciência e de m aturidade revolucionárias,
que constituem a ideologia, podem se realizar no partido, sem que j5 estejam incorporados em
um am plo núm ero de m em bros que o com põem .
2 6 . Nào obstante desde sua origem
envolvido na luta contra degenerações de direita
e centristas do m ovim ento operário, o perigo de
desvios de direita encontra-se presente no Partido Com unista da Itália.
No cam po teórico, isso está representado
nas tentativas de revisão do m arxism o por parte
do cam arada Graziadei, com a roupagem de
um a necessidade "científica" de alguns dos conceitos fundam entais da doutrina de M arx.
As tentativas de Graziadei não podem certam ente
levar à criação de um a corrente e, portanto, de
um a facção que ponha em perigo a unidade
ideológica e a coesão do Partido. Não obstante,
nelas se encontra im plícito um apoio às correntes
e aos desvios políticos de direita. De qualquer m aneira, isso indica a necessidade de que o
Partido realize um profundo estudo do m arxism o
e adquira um a consciência teórica m ais elevada
e m ais segura.
O perigo de que se crie um a tendência de
direita está vinculado ~I situação geral do país.
A própria opressão que o fascism o exerce tende
a alim entar a opinião de que, estando o
proletariado im possibilitado de derrotar de
im ediato o regim e, seja m elhor a tática que
conduza, se não a um bloco
burguesia-proletariado para a elim inação constitucional do
fascism o, a um a passividade de vanguarda
revolucionária, a um a não intervenção ativa do
Partido Com unista na luta política im ediata que
perm itiria à burguesia se servir do proletariado
22
REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V.35 N.2
com o m assa de m anobra eleitoral contra o
fascism o. Esse program a apresenta a fórm ula pela qual o Partido Com unista deve ser "a ala
esquerda" de um a oposição que reúne todas as
forças que conspiram para a derrocada do regim e
fascista. Ele é a expressão de um profundo
pessim ism o acerca da capacidade revolucionária da classe trabalhadora.
O m esm o pessim ism o e o m esm o desvio levam a interpretar de m aneira errônea a natureza
e a função histórica dos partidos social-dem ocratas no m om ento atual, a esquecer que a
social-dem ocracia, m esm o que ainda tenha sua
base social, em grande parte, no proletariado,
pelo que diz respeito à sua ideologia e à função
política que cum pre, deve ser considerada não
com o um a ala direita do m ovim ento operário, e sim com o um a ala esquerda da burguesia e,
com o tal,
deve
ser desm ascarada diante dasm assas.
O perigo de direita deve ser com batido
com a propaganda ideológica, contrapondo-se ao program a de direita o program a revolucionário
da classe operária e de seu Partido, e com m eios
disciplinares habituais, cada vez que isso seja
necessário.
27.
Existe igualm ente um risco de desvios de esquerda da ideologia m arxista-leninista, emvirtude das origens do Partido e da situação geral
do país. Tais desvios estão representados pela
tendência extrem ista liderada pelo cam arada
Bordiga. Essa tendência se form ou na situação
particular de desagregação e incapacidade program ática, organizativa, estratégica e tática,
em que se encontrava o Partido Socialista Italiano,
desde o final da guerra até o Congresso de Livorno: sua origem e sua sorte estão relacionadas
com o fato de que, sendo a classe operária um a m inoria na população trabalhadora italiana, é
contínuo o perigo de que seu partido sé veja
afetado por infiltrações d~ outras classes,
particularm ente da pequena burguesia. A essa condição da classe operária e a essa situação do
Partido Socialista Italiano, a tendência de extrem a
esquerda reagiu com um a particular ideologia,
istorqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAé, com um a concepção da natureza do Partido, de sua função e de sua tática, que é
contrária ao m arxism o e ao leninism o:
a) com a extrem a esquerda se vem definindo
o Partido, subestim ando ou negligenciando seu
conteúdo social com o um "órgão" da classe operária, que se constitui através da síntese de
elem entos heterogêneos. Pelo contrário, o Partido
deve ser definido pondo em relevo, antes de tudo. o fato de que este é lim a "parte" da classe operária.
O erro na definição do Partido leva a considerar
de m aneira equivocada os problem as organizativos e os problem as táticos;
b) para a extrem a esquerda, a função do Partido não é guiar a classe em todos os
m om entos, m antendo-se em contato perm anente,
quaisquer que sejam as m udanças de situação
objetiva, e sim preparar quadros para conduzir
as m assas quando a evolução da situação as leva a aproxim ar-se do Partido, fazendo-a aceitar
as posições prograrnátícas e de princípio fixadas
pelo Partido;
c) no que diz respeito à tática, a extrem a
esquerda sustenta que a m esm a não deve ser
determ inada em função da situação objetiva e da posição das m assas, de m aneira que aquela
e rem eta sem pre ;1 realidade e proporcione um
constante contato com os estratos m ais am plos
da população trabalhadora, m as que deve ser
determ inada com base em preocupações form ais. É inerente ao extrem ism o a concepção de que
os desvios de princípios da política com unista
não podem ser evitados com a construção dos
nartidos "bolcheviques" que sejam capazes de
ealizar, sem desvios, todas as ações políticas requeridas para a m obilização das m assas e para
vitória revolucionária. Os desvios de princípios
ornente. poderiam ser evitados im pondo-se
im ites externos, rígidos e form ais à tática do
Partido (no cam po da organização: "adesão
ndividual", isto é, recusa das fusões, que podem , ào obstante, ser sem pre, em condições
eterrninadas, um m eio eficaz para am pliar a
"fluência do Partido; no cam po político:
I sim ulação dos term os do problem a da
conquista da m aioria, frente única sindical, e
não política, nenhum a diferenciação na m aneira ele lutar contra a dem ocracia em função do grau
ele adesão das m assas às form ações dem ocráticas
contra-revolucionárias e da iminência e gravidade
de um a am eaça reacionária, rejeição da bandeira de um governo operário e cam ponês).
Apela-se, pois, ao exam e da situação dos m ovim entos
de m assa, unicam ente para controlar a linha
deduzida com base em preocupações form a listas
e sectárias: na determ inação da política do
Partido, nunca se leva em conta o elem ento particular; rom pe-se a visão unitária e global
que é própria de nosso m étodo de investigação
política (dialética), a atividade do Partido e suas
bandeiras perdem eficácia e valor, reduzindo-se
a atividades e palavras de sim ples propaganda. A passividade política do Parti elo é um a
conseqüência inevitável dessa posição. O
"absten-cionism o" foi, no passado, decorrente de tal
passividade, o que perm ite assim ilar o extrem ism o
de esquerda e o rnaxim alism o aos desvios de direita. Além disso, do m esm o m odo que as
tendências de direita, constitui-se expressão de
um ceticism o quanto à possibilidade de que a
m assa operária organize, por si m esm a, um
partido de classe que seja capaz de conduzir as grandes m assas, esforçando-se por m anter-se a
elas vinculado em todo m om ento.
A luta ideológica contra o extrem ism o de
esquerda deve ser conduzida contrapondo-lhe a concepção m arxista e leninísta do partido do
proletariado, com o partido de m assa, e dem ons-trando a necessidade de que este adapte sua
tática às situações para poder m odificá-Ias, para não perder o contato com as m assas e para
am pliar sua esfera de influência.
O extrem ism o de esquerda foi a ideologia
oficial do Partido Italiano, durante o prim eiro
período de sua existência. Foi sustentado por
com panheiros que estiveram entre os fundadores do Partido e que contribuíram am plam ente para
sua construção, depois de Livorno. Desse m odo
se explica com o essa concepção esteve tanto
sem que nunca tivesse sido objeto de um a
avaliação crítica global, m uito m ais com o
conseqüência de um estado de ânim o difuso.rqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAÉ
evidente, contudo, que o perigo da extrem a esquerda deve ser considerado com o um a
realidade im ediata, com o um obstáculo, não
som ente à unificação e elevação ideológica, m as
tam bém , ao desenvolvim ento político do Partido
e à eficácia de sua ação. Por isso deve ser
com batido com o tal, não som ente com a
propaganda, m as tam bém com um a ação política
e eventualm ente com m edidas organizativas.
28.
O nível de consciência internacionalista que im pregna o Partido é um elem ento de suaideologia. É bastante forte entre nós com o
espírito de solidariedade internacional, ainda que
não com o consciência de pertencer a um partido m undial. Contrihui para essa debilidade a
tendência a apresentar a concepção de extrem a
esquerda com o um a concepção nacional
("originalidade" e valor "histórico" das posições
da "esquerda italiana"), que se opõe à concepção
m arxista e leninista da Internacional Com unista e que busca substituí-Ia. Isso dá lugar a um a
espécie de "patriotism o partidário", que se recusa
a se enquadrar em um a organização m undial, conform e os princípios próprios desta
organi-zação (recusa de cargos, luta de facções
internacionais etc.). Essa debilidade do espírito
internacionalista prepara o terreno para a
repercussão, no Partido, da cam panha que a
burguesia conduz contra a Internacional Com unista, qualificando-a com o órgão do Estado
russo. Algum as das teses de extrem a esquerda a esse respeito se assem elham a teses habituais
dos partidos contra-revolucionários. Devem ser
com batidas com extrem o vigor, com um a
propaganda que dem onstre o papel
historica-m ente predohistorica-m inante e dirigente do partido russo
na criação de urna Internacional Com unista e que faça conhecer a posição do estado operário
russo - prim eira e única conquista real da classe
operária na luta pelo poder - sobre o m ovim ento
operário internacional (Tese sobre a situação internacional).
24
REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V.35 N.2
A b a s e d a o rg a n iz a ç ã o d o P a rtid o
29.
Todos os problem as de organização são problem as políticos. A solução destes deveperm itir que o Partido realize sua tarefa
fundam ental, que é fazer com que o proletariado
adquira um a com pleta independência política, dando-lhe um a fisionom ia, um a personalidade,
um a consciência revolucionária, e deve tam bém
im pedir toda infiltração e influência desagregadora
de classes e elem entos que, ainda que tenham
interesses contrários ao capitalism o, não estão dispostos a travar um a luta contra este, até suas
últim as conseqüências.
A base da organização é, em prim eiro
lugar, um problem a político. A organização do
Partido deve ser construída sobre a base da
produção e, por conseguinte, do local de trabalho (célula). Esse princípio é essencial para
a criação de um partido "bolchevique" e se refere
à necessidade de que o Partido esteja em
condições de dirigir o m ovim ento de m assa da
classe operária, a qual está naturalm ente unificada pelo desenvolvim ento do capitalism o, em
conform idade com o processo de produção.
Situando a base organizativa no local da
produção, o Partido efetiva o ato de escolha da
classe em que se apóia. Proclam a-se um partido de classe e o partido de um a só classe, a classe
operária.
Todas as objeções ao princípio que
fundam enta a organização do Partido, a partir da
produção, partem de concepções de classes
estranhas ao proletariado, ainda que sejam defendidas por cam aradas e grupos que se dizem
de "extrem a esquerda". Essas objeções se baseiam
em considerações pessim istas, acerca da
capacidade revolucionária do operário e do
operário com unista, e expressam o espírito antiproletário do intelectual pequeno burguês, que
acredita ser o sal da terra e vê no operário o
instrum ento m aterial da m udança social e não O
protagonista consciente e inteligente da revolução.
Dentro do partido italiano reproduzem -se, com relação às células, discussões e conflitos que