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ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 6 de Novembro de 1990 *

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ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 6 de Novembro de 1990 *

No processo C-86/89,

República Italiana, representada pelo Prof. Luigi Ferrari Bravo, chefe do serviço do contencioso diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, na quali- dade de agente, assistido por Oscar Fiumara, avvocato dello Stato, com domicílio escolhido no Luxemburgo na sede da embaixada de Itália, 5, rue Marie-Adélaïde, recorrente, contra

Comissão das Comunidades Europeias, representada pelo seu consultor jurídico Thomas F. Cusack e por Sergio Fabro, membro do Serviço Jurídico, na qualidade de agentes, com domicílio escolhido no Luxemburgo no gabinete de Guido Berar- dis, membro do Serviço Jurídico, Centre Wagner, Kirchberg,

recorrida, que tem por objecto a anulação da decisão da Comissão de 30 de Novembro de 1988, relativa ao Decreto-Lei n.° 370/87 do Governo italiano, de 7 de Setembro de 1987, convertido na Lei n.° 460, de 4 de Novembro de 1987, relativa à produ- ção e à comercialização — e contendo, nomeadamente, novas normas em matéria de produção e de comercialização — dos produtos vitivinícolas (JO 1989, L 94, p. 38),

O TRIBUNAL DE JUSTIÇA,

constituído pelos Srs. O. Due, presidente, G. F. Mancini, T. F. O'Higgins, J. C.

Moitinho de Almeida e M. Diez de Velasco, presidentes de secção, F. A. Schock- weiler, F. Grévisse, M. Zuleeg e P. J. G. Kapteyn, juízes,

advogado-geral : C. O. Lenz

secretario: D. Louterman, administradora principal

* Lingua do processo: italiano.

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visto o relatório para audiência,

ouvidas as alegações dos representantes das partes na audiência de 5 de Julho de 1990,

ouvidas as conclusões do advogado-geral apresentadas na audiência de 12 de Julho de 1990,

profere o presente

Acórdão

1 Por requerimento apresentado na Secretaria do Tribunal em 16 de Março de 1989, a República Italiana pediu, nos termos do primeiro parágrafo do artigo 173.° do Tratado CEE, a anulação da Decisão 89/228/CEE da Comissão, de 30 de No- vembro de 1988, relativa ao Decreto-Lei n.° 370/87 do Governo italiano, de 7 de Setembro de 1987, convertido na Lei n.° 460, de 4 de Novembro de 1987, relativa à produção e à comercialização — e contendo, nomeadamente, novas normas em matéria de produção e de comercialização — dos produtos vitivinícolas. Esta deci- são, notificada ao Governo italiano por carta de 6 de Janeiro de 1989, foi publi- cada no Jornal Oficial de 7 de Abril de 1989 (JO L 94, p. 38).

2 O artigo 45.° do Regulamento (CEE) n.° 822/87 do Conselho, de 16 de Março

de 1987, que estabelece a organização comum de mercado vitivinícola (JO L 84,

p. 1), instituiu um regime de ajudas a favor dos mostos de uvas concentrados e

dos mostos de uvas concentrados rectificados produzidos na Comunidade, quando

forem, nos termos do artigo 18.° do mesmo regulamento, utilizados para aumentar

o título alcoométrico volúmico natural das uvas frescas, do mosto de uvas e de

certos tipos de vinho. O mesmo artigo 18.° especifica as condições e as regras para

este aumento. O n.° 3 do artigo 45.° prevê que o montante da ajuda seja fixado

em função da diferença entre os custos de aumento do título alcoométrico obtido

pela adição de sacarose e os do aumento obtido pela adição de mosto de uvas

concentrado ou de mosto de uvas concentrado rectificado.

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3 Através do Regulamento (CEE) n.° 2287/87, de 30 de Julho de 1987 (JO L 209, p. 26), a Comissão fixou o montante da ajuda à utilização na vinificação de mos- tos de uvas concentrados e de mostos de uvas concentrados rectificados para a campanha de 1987/1988.

4 Entendendo que a ajuda comunitaria era insuficiente, o Governo italiano, depois de ter em vão tentado obter uma ajuda complementar da Comissão, criou um regime de ajuda suplementar nacional.

5 Para esse efeito, o Decreto-Lei italiano n.° 370/87, de 7 de Setembro de 1987 (GURI n.° 211, de 10.9.1987), convertido na Lei n.° 460, em 4 de Novembro de 1987 (GURI n.° 262, de 9.11.1987), prevê que durante as campanhas vitivinícolas em relação às quais seja autorizado o aumento do título alcoométrico, nos termos do artigo 18.° do Regulamento n.° 822/87, já citado, os produtores de mosto concentrado rectificado possam beneficiar de uma ajuda fixada por decreto do Ministério da Agricultura e das Florestas. Para a campanha de 1987/1988, todavia, o decreto prevê que a ajuda seja atribuída directamente aos produtores de vinho, desde que seja demonstrada a utilização do mosto concentrado rectificado para o aumento do título alcoométrico. O montante da ajuda para esta campanha foi fixado por decreto do ministro da Agricultura, com data de 21 de Novembro de 1987.

6 Por carta de 14 de Setembro de 1987, o Governo italiano deu conhecimento à Comissão do Decreto-Lei n.° 370/87. Por carta de 11 de Dezembro de 1987, a Comissão comunicou ao Governo italiano que tinha decidido abrir o processo pre- visto no n.° 2 do artigo 93.° do Tratado CEE. Este conduziu à decisão que é objecto do presente recurso.

7 Resulta dos considerandos desta decisão que a ajuda suplementar italiana dá uma

vantagem particular aos produtores de mosto de uvas, ao facilitar de forma artifi-

cial a sua utilização para a fabricação de mosto concentrado rectificado, bem

como aos produtores de vinho que utilizem o mosto para o aumento do título

alcoométrico. Assim, a ajuda favorece, directa e indirectamente, a produção ita-

liana de mosto de uvas e de vinho e falseia a concorrência entre os produtores

italianos e os outros produtores dos mesmos produtos na Comunidade. Como in-

dicam os dados quantitativos sobre a exportação e a importação de mostos de uvas

e de vinho na Itália, esta ajuda afecta igualmente as trocas comerciais comunitárias

destes diferentes produtos.

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8 De acordo com esta mesma decisão, não são aplicáveis as derrogações à proibição do n.° 1 do artigo 92.° do Tratado previstas nos n.

os

2 e 3 do mesmo artigo. A ajuda em causa, particularmente, sendo uma ajuda ao funcionamento, não pode beneficiar de qualquer das derrogações previstas no n.° 3, as quais sujeitam a atri- buição de ajudas a condições específicas.

9 Finalmente, resulta dos considerandos da decisão impugnada que a ajuda italiana foi posta em execução antes do encerramento do processo previsto no n.° 2 do artigo 93.° do Tratado.

io Com base nestas considerações, a Comissão verifica que a ajuda italiana foi criada em violação do n.° 3 do artigo 93.° do Tratado, é incompatível com o mercado comum e deve ser abolida.

n Para mais ampla exposição dos factos e antecedentes do litígio, bem como dos fundamentos e argumentos das partes, remete-se para o relatório para audiência.

Estes elementos apenas serão adiante retomados na medida do necessário para fundamentar a decisão do Tribunal.

1 2 O Governo italiano invoca dois fundamentos com os quais contesta a fundament-- ção da decisão em causa. Sustenta, por um lado, que a Comissão fez uma aplica- ção errônea das disposições do artigo 92.° e, por outro, que a violação das disposi- ções do n.° 3 do artigo 93.°, alegada pela Comissão, não se encontra demons- trada nem suficientemente fundamentada.

1 3 Em apoio do primeiro fundamento o Governo italiano afirma, em primeiro lugar, que a Comissão não teve razão ao considerar aplicável o n.° 1 do artigo 92.°

Sustenta que a ajuda em causa não favorece os produtores italianos e não afecta as

trocas comerciais entre os Estados-membros. Esta ajuda tem por finalidade o ree-

quilíbrio das distorções da concorrência, resultantes do nível insuficiente da ajuda

comunitária, entre as regiões nas quais o aumento do título alcoométrico é reali-

zado através da adição de sacarose e aquelas nas quais aquele aumento se realiza

com mostos concentrados rectificados. Por outro lado, o montante desta ajuda

suplementar é mínimo, e não causou qualquer variação importante dos preços dos

vinhos no mercado italiano.

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H É necessário salientar antes de mais a este respeito que, de acordo com a análise contida na decisão impugnada, a ajuda em causa dá uma vantagem particular, nomeadamente aos produtores italianos de mostos de uva. Na medida em que é concedida directamente aos utilizadores de mosto concentrado rectificado, a ajuda dá uma vantagem financeira directa aos produtores de vinhos. Por outro lado, estimula artificialmente a produção de mosto de uvas em Itália. Nestas circunstân- cias, uma medida deste tipo é susceptível de falsear a concorrência entre os produ- tores italianos e os produtores de outros Estados-membros, nomeadamente da França e da Grécia, onde alguns produtores procedem ao aumento do título alcoo- métrico dos produtos em causa utilizando igualmente mosto de uvas concentrado.

is E necessário observar em seguida que, de acordo com os valores contidos na deci- são impugnada, relativos à produção de vinho em Itália, às exportações de vinho italiano para os outros Estados-membros, às importações pela Itália de vinho pro- veniente de outros Estados-membros, às exportações de Itália de mosto de uvas e às importações pela Itália de mosto de uvas proveniente de outros Estados-mem- bros, a ajuda em causa é susceptível de afectar as trocas comerciais de mosto de uvas e de vinho entre Estados-membros. Verifica-se que o Governo italiano não contestou qualquer das indicações assim fornecidas pela Comissão.

16 Consequentemente, foi com razão que a Comissão considerou a ajuda suplementar italiana um auxílio, na acepção do n.° 1 do artigo 92.° do Tratado.

i7 O Governo italiano afirma, em segundo lugar, que a alínea c) do n.° 3 do artigo 93.° podia ter sido aplicada, pois a ajuda em causa deve ser entendida como uma medida que facilita o desenvolvimento de certas actividades ou regiões económi- cas, nomeadamente o desenvolvimento económico do sector vitivinícola das re- giões que apresentam fortes excedentes de vinho.

is Este argumento não pode ser aceite. Com efeito, é necessário sublinhar que a Co-

missão demonstrou que a ajuda em questão, atribuída sem condições específicas e

unicamente em função das quantidades utilizadas, devia ser considerada uma ajuda

de funcionamento para as empresas em causa e, enquanto tal, altera as condições

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das trocas comerciais de maneira a contrariar o interesse comum. O Governo ita- liano não apresentou qualquer elemento convincente para desmentir esta tese.

i9 E também necessário recordar que, de acordo com jurisprudência constante (ver, nomeadamente, o acórdão de 14 de Julho de 1988, Zoni, 90/86, Colect., p. 4285), a partir do momento em que a Comunidade estabelece uma organização comum de mercado em determinado sector, é àquela que compete procurar soluções para os problemas, como os colocados pelos excedentes de vinho, no quadro da política agrícola comum. Nesta medida, os Estados-membros estão obrigados a abster-se de qualquer medida unilateral, mesmo que esta seja de molde a servir de apoio à política comum da Comunidade.

20 Decorre das considerações precedentes que o fundamento da decisão em questão, relativo à incompatibilidade da ajuda com as disposições do artigo 92.° do Tra- tado, é procedente. Este fundamento essencial é, por si só, suficiente para justificar legalmente a decisão da Comissão. Nestas condições, os vícios de que pudesse padecer o outro fundamento da decisão, relativo ao desrespeito, pelo Governo italiano, das disposições do n.° 3 do artigo 93.°, não tem, em nenhum caso, qual- quer influência sobre a legalidade desta decisão. Consequentemente, o fundamento invocado pelo Governo italiano, com o qual este contesta aquele último funda- mento da decisão, é inoperante e deve, por esta razão, ser julgado improcedente.

2i Daqui resulta que deve ser negado provimento ao recurso.

Quanto às despesas

22 Por força do disposto no n.° 2 do artigo 69.° do Regulamento Processual, a parte

vencida deve ser condenada nas despesas. Tendo a República Italiana sido vencida,

há que condená-la nas despesas.

(7)

Pelos fundamentos expostos,

O TRIBUNAL DE JUSTIÇA decide:

1) É negado provimento ao recurso.

2) A República Italiana é condenada nas despesas.

Due Mancini O'Higgins Moitinho de Almeida

Diez de Velasco Schockweiler Grévisse Zuleeg Kapteyn

Proferido em audiencia pública no Luxemburgo, em 6 de Novembro de 1990.

O secretário

J.-G. Giraud

O presidente

O. Due

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