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TRABALHO ESCRAVO NAS CONSTRUÇÕES CIVIS, POLÍTICAS PÚBLICAS E ACESSO GT3 - POLÍTICAS PÚBLICAS E DIREITOS HUMANOS

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Academic year: 2021

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TRABALHO ESCRAVO NAS CONSTRUÇÕES CIVIS, POLÍTICAS PÚBLICAS E ACESSO

GT3 - POLÍTICAS PÚBLICAS E DIREITOS HUMANOS

Dayane Eurico dos Santos 1 dayeurico@hotmail.com Anita Guazzelli Bernardes 2 anitabernardes1909@gmail.com

Júlia Arruda F. Palmiere 3 juliapalmiere@hotmail.com

RESUMO:

A pesquisa realiza análises a partir de uma linha de pensamento denominada Pós- Estruturalismo Foucaultiano a qual faz parte do campo da Psicologia Social. Aponta-se uma nova ótica sobre o tema em que se considera o trabalho escravo através do “antes”, ou seja, consideram-se os mecanismos anteriores que permitem com que os indivíduos se sujeitem a este trabalho como forma de acesso. A discussão é realizada apontando as peculiaridades do trabalho escravo contemporâneo, não mais tendo o corpo do trabalhador como coisa possuída, assim discute-se a forma como são incitados por toda uma conjuntura social a buscarem melhores condições de vida, que neste caso seriam obtidas através do trabalho nas construções civis.

Palavras-chave: Trabalho Escravo. Construção Civil. Governamentalidade. Ética.

Políticas Públicas.

INTRODUÇÃO

A pesquisa busca expor uma nova forma, modalidade, maneira de se observar e desmembrar as ideias e discursos que se criaram a respeito do trabalho escravo contemporâneo sob o recorte das construções civis e assim, desconstruir aquilo que já está posto. Isto se deve ao grande enfoque em que as políticas voltadas para este tema se baseiam e que objetivam “enfrentar” casos de trabalho escravo. Essas políticas possuem como estratégias, ações em grande parte repressivas ou voltadas para o “depois”, ou seja, ações que só ocorrem quando sujeitos já foram alvos de trabalho escravo. A outra perspectiva, a nova ótica sobre o tema ou a nova discussão pretende então considerar o

1 Acadêmica de Psicologia e Bolsista PIBIC de Iniciação Científica na UCDB.

2 Professora Doutora e Pesquisadora da UCDB

3 Acadêmica de Psicologia e Bolsista PIBIC de Iniciação Científica CNPq na UCDB.

Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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trabalho escravo através do “antes”, ou seja, considerar os mecanismos que permitem com que os indivíduos se sujeitem a este trabalho como forma de acesso. Toma-se como foco, portanto, as conjunturas sociais que abarcam este encaminhamento do sujeito ao trabalho escravo nas construções civis o desdobramento de discursos que estão legitimados, institucionalizados e que atravessam a vida e a forma de se governarem produzindo territórios existenciais.

A escravidão histórica possuía como foco necessário o corpo e a coerção, ou seja, os corpos destes escravos eram coisa possuída, tinham um proprietário e eram nestes corpos que o castigo recaía. Por outro lado, quando se fala da escravidão contemporânea é preciso considerar a vulnerabilidade, ou seja, os espaços sociais em que estas pessoas se encontram e que as classificam numa visão social como vulneráveis. Dessa forma, os trabalhadores escravos contemporâneos não são necessariamente retirados à força de seus lares, mas são incitados por toda uma conjuntura social a buscarem melhores condições de vida e que neste caso seriam obtidas através do trabalho nas construções civis.

OBJETIVOS

O artigo tem como finalidade problematizar o acesso às possibilidades de vida para o trabalhador escravo nas construções civis a partir da relação entre políticas voltadas para o trabalho escravo e territórios existenciais. Para isso procurou-se investigar as políticas públicas voltadas para o combate ao trabalho escravo nas construções civis, considerando a relação entre cidadania, direitos humanos e ética; Analisar as formas de objetivação do trabalho escravo urbano nas construções civis; e Identificar a relação entre as formas de combate ao trabalho escravo urbano e as políticas de saúde no que diz respeito à construção dos territórios existenciais.

REFERENCIAL TEÓRICO - METODOLÓGICO

A análise parte de uma linha de pensamento denominada de Pós-Estruturalismo Foucaultiano a qual faz parte do campo da Psicologia Social. O método genealógico, não é uma metodologia estruturada, mas que busca durante as investigações adotar uma postura crítica e desconfiada, porém nunca com a intenção de ser uma teoria globalizante.

Um aspecto importante a ser enfatizado é sua força política, ou seja, a genealogia enquanto um método vai se utilizar da postura crítica anteriormente mencionada para

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atingir o processo de saber e poder, como forma de se opor aos saberes institucionalizados e trabalha contra a ideia de uma essência de identidade. (PASSOS;

KASTRUP; ESCÓSSIA, 2009).

Busca-se então através dos documentos selecionados como vídeos, reportagens, notícias e Políticas Públicas, investigar as justaposições históricas que produzem determinados saberes em torno do objeto – trabalho escravo urbano – que o caracterizam como uma problemática contemporânea socialmente construída e não como algo natural (Idem).

RESULTADOS ALCANÇADOS

Alguns discursos produzidos em torno do trabalho parecem, aparentemente, ter uma ruptura entre eles, mas, no entanto, estão diretamente ligados numa espécie de prolongamento. Um deles se refere ao trabalho como ascensão à liberdade (FOUCAULT, 1992) e o segundo é o trabalho enquanto um tipo de punição e que começa a aparecer na sociedade disciplinar (FOUCAULT, 2015). O primeiro está ligado a uma noção do trabalho enquanto um elemento inseparável da vida dos sujeitos e o segundo a reparação social de um dano.

O trabalho escravo contemporâneo aparece nessa fronteira, neste prolongamento com limites e bordas indefinidos a respeito do que deve ser considerado digno ou punitivo e humilhante. Em meio às impossibilidades de trabalho, as oportunidades que surgem para muitos trabalhadores é ser pião em construções civis e se sujeitar as condições de trabalho indignas, no entanto, é através deste trabalho que se consegue acesso às políticas antes alheias e distantes, numa espécie de inclusão pela exclusão. O trabalhador é ao mesmo tempo corpo produtivo e constituído de necessidades.

Uma condição importante para a discussão e análise das políticas públicas voltadas para o trabalho escravo é o conceito de razão de Estado que deve ser entendido aqui como uma das estratégias de governo e não como única forma de governo. Isto possui relevância uma vez que como analisado anteriormente, o governo das condutas se dá dentro de um limiar, de um padrão a ser seguido, apesar de os indivíduos serem livres dentro de certas circunstâncias. Este conceito, portanto, parte de uma ideia política sob a qual a população é incapaz de se governar sem a existência de um Estado, dessa forma o fortalecimento deste só acontecerá por meio da regulação da força física da população, dos seus impostos e também das leis produzidas. Por este motivo os interesses particulares são subjugados em nome dos interesses do Estado (GONÇALVES, 2010).

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Nas ações gerais do Segundo Plano de Erradicação do Trabalho Escravo, é possível verificar que “Manter a erradicação do trabalho escravo contemporâneo como prioridade do Estado brasileiro” (BRASIL, 2008, p.12) é a intervenção mais emergente a ser desempenhada pelos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciários e esta deve ser de caráter contínuo. Percebe-se que o grande foco das ações é repressivo e que, portanto, são colocadas em prática quando já houve sujeição de indivíduos ao trabalho escravo. Dessa forma, a prevalência dessas medidas corretivas e reparadoras é vista até mesmo naquelas em que estão designadas as ações de reinserção e prevenção, pois só acontecem como maneira de abrandar as consequências da sujeição que já aconteceu.

Foucault (1992) retoma essas técnicas, procedimentos que calculados e racionalizados direcionam as condutas. Nesse sentido, o Estado como uma dessas tecnologias específicas utiliza-se de procedimentos para se fortalecer e se manter através da população. Tecnologias inesgotáveis de produção e que buscam capturar a realidade limitando-a, como no caso da PEC do Trabalho Escravo que prevê uma definição deste conceito, como também sistemas e mecanismos a serem seguidos para que a punição seja aplicada. Nesse sentido, muito se fala no âmbito jurídico sobre o Trabalho Escravo na forma da lei, e isto significa que toda e qualquer ação só poderá ser executada se o ato cometido for de encontro com a exatidão do conceito. Estas especificações cada vez mais afuniladas do conceito refletem efeitos nas subjetividades dos trabalhadores que também são produzidas pelas ilegalidades e procedimentos institucionais que retroalimentam as condições sociais que encaminham esses sujeitos ao trabalho escravo e que se estendem do corpo individual para a população. Todos esses choques e jogos que permeiam a elaboração de leis e políticas públicas propiciam a invisibilidade e quando não muito o ofuscamento dessas vidas.

Pode-se concluir, portanto, que as ações apontadas indicam que os esforços do Estado, mas também da sociedade civil tem se voltado mais para a denúncia, investigação de casos e fiscalizações do que propriamente para ações que impossibilitem a sujeição de trabalhadores pela própria necessidade da sujeição e pela limitação das alternativas de vida. Nesse sentido, a exclusão, a vulnerabilidade e a falta de possibilidades e de outros modos de se pensar fazem com que o trabalho escravo acabe se tornando a possibilidade de inclusão destes sujeitos, uma vez que é apenas através do trabalho escravo que estes poderão futuramente ser priorizados no acesso a inúmeros serviços propostos pelo mesmo Estado que não os ofereceu anteriormente. Isto se configura numa perspectiva Foucaultiana

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como jogos de força, mecanismos, táticas que colocam a vulnerabilidade como um elemento natural das sociedades atuais em que o governo das condutas transcende a política como um elemento natural das sociedades atuais e recai nas práticas de vida e na própria existência.

Concluindo, o indivíduo sujeitado ao trabalho escravo nas construções civis está no limite do acesso às políticas, sendo assim não está totalmente fora, mas não se encontra inteiramente incluso nelas. As políticas, portanto, funcionam como um dispositivo de segurança, uma vez que ao contrário do que o nome atribuído à política - “erradicação” –, o que se busca na verdade é controlar o trabalho escravo e não eliminá-lo em sua totalidade. Nesse sentido, as ações trabalham na oscilação do que é considerado normal ou anormal dentro desta lógica e dentro daquilo que pode ou não retornar ao Estado como favorável ou desfavorável à sua manutenção.

Quando se trata da construção civil como uma instituição de sequestro, estamos falando de uma nova modalidade de incluir pela exclusão aqueles que são tidos numa visão social como perigosos, ou seja, ao invés de se adotar mecanismos que afastem estes sujeitos para o espaço rural ou retirá-los de circulação através das prisões, adotam-se mecanismos que o encaminham às construções civis em nome da necessidade humana construída sobre o trabalho e também em nome do bem estar de outra parcela da população as quais são consideradas mais dignas de investimento, o que ocorre, portanto é a inclusão dentro do mesmo espaço no qual são excluídos. E assim, dentro de uma lógica da Razão de Estado o conhecimento vai se moldando para que determinados fins sejam atingidos. Para tanto, as necessidades sentidas por esses trabalhadores moldam suas escolhas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, DF: Senado Federal, 2008.

FOUCAULT, M. A sociedade punitiva. São Paulo, 2015.

FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1992.

GONÇALVES, E. M. Princípios da Razão de Estado em O Príncipe, de Nicolau Maquiavel. São Paulo, Vol. 3, nº 1, 2010.

PASSOS, E.; KASTRUP, V. & ESCÓSSIA, L. (Orgs.). Pistas do método da cartografia:

Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.

Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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