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A segregação espacial insere-se na produção do espaço.

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Academic year: 2021

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Apresentação do texto:

CONTRIBUIÇÃO PARA O DEBATE SOBRE PROCESSOS E FORMAS SOCIOESPACIAIS NAS CIDADES - PEDRO DE ALMEIDA VASCONCELOS

A segregação espacial insere-se na produção do espaço.

Produto social, a segregação espacial constitui também um meio no qual a existência dos diferentes grupos sociais se efetiva. Produto do meio, a segregação é parte

integrante dos processos e formas de reprodução social, pois a relativa homogeneidade interna de cada área social cria condições da reprodução da existência social que ali se verifica. Há uma profunda conexão entre segregação e classes sociais, conforme aponta Harvey na década de 70 (Estrutura de classes na sociedade capitalista e teoria da

diferenciação residencial). Assim a fragmentação social e fragmentação espacial são correlatas.

Há uma gama complexa de agentes sociais que produzem a segregação espacial. Políticas públicas, acumulação de capital, estratégia de sobrevivência são parte integrante da produção da segregação espacial.

O conceito de segregação tem sido utilizado em diversos contextos. Vasconcelos faz opção pelo uso restritivo do conceito, caracterizando-o como segregação involuntária e coercitiva e sugere seu uso apenas para casos específicos, como guetos judeus e os bairros negros segregados nos Estados Unidos.

O autor propõe, então, uma série de noções alternativas que poderiam substituir com maior precisão os vários sentidos utilizados como sinônimos de segregação.

As noções e conceitos são divididos em 3 blocos. Noções ligadas aos espaços

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Noções ligadas aos indivíduos a) exclusão

b) inclusão

Noções ligadas aos indivíduos e aos espaços a) segregação b) dessegregação c) apartheid d) autossegregação e) agrupamento f) fortificação g) polarização socioespacial h) dualização i) gentrificação j) invasão k) marginalização l) periferização m) abandono

As desigualdades sociais se refletem no espaço urbano e as formas resultantes das desigualdades são diferentes em cada contexto específico.

Por isso as estruturas espaciais das cidades norte-americanas são completamente diferentes daquelas das cidades europeias ou latino-americanas.

Os conceitos elaborados em cada realidade não são automaticamente transferíveis. Por isso o autor questiona o uso dos conceitos originários dos EUA como segregação e gueto para outras realidades.

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O texto apresenta uma tentativa de precisar noções sobre processos e formas socioespaciais.

O texto também tem por objetivo diferenciar as noções vinculadas aos processos sociais, mostrando suas diversas origens (contextuais, temporais, disciplinares) considerando também seu uso político ou metafórico na academia e sua banalização pela imprensa e pelo senso comum.

As noções escolhidas são próximas do conceito de segregação de artigos anteriores. Houve a preocupação de fazer uma diferenciação entre elas.

O texto é limitado à utilização das noções nos espaços residenciais, para não ampliar a discussão para outros espaços como os econômicos, devido ao elevado número de noções examinadas.

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DIFERENCIAÇÃO SOCIOESPACIAL

São diferenças que podem ser vistas do avião. Exemplo as cidades coloniais africanas tinham diferenças significativas entre os bairros europeus e dos nativos. No entanto os guetos negros dos EUA são invisíveis do avião. As favelas brasileiras também

apresentam enorme diferenciação socioespacial. DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL

São desigualdades que podem estar escondidas no espaço ou podem ser refletidas nele. Exemplo da cidade de Manchester de 1845 descrita por Engels. O lado Leste era

proletário e era para onde sopravam os ventos dominantes com a poluição das fábricas. Já o lado OESTE era aristocrático. Ao se atravessar a cidade não era possível perceber a pobreza dominante.

Sposati preferiu utilizar a noção de desigualdade socioespacial ao conceito de segregação para o estudo de São Paulo.

JUSTAPOSIÇÃO

A justaposição acontece quando há grande proximidade espacial, mas uma grande desigualdade social. Um exemplo são os conjuntos habitacionais nas cidades francesas. É uma forma semelhante de desigualdade socioespacial, mas na escala de um bairro ou de uma rua. Salvador por exemplo tem prédios de alto luxo de frente de residências modestas resultante de ocupação ilegal. Uma justaposição famosa acontece entre o bairro do Morumbi em São Paulo e o Bairro de Paraisópolis.

Há um processo de simbiose. A vista das residências pobres parece não incomodar os residentes em imóveis elevados com varandas. Em Nova York há justaposição de áreas pobres como a do Harlem negro ao lado do Harlem porto-riquenho.

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Confi gurações espaciais da interface entre os habitantes e a natureza da cidade o caso da favela de Paraisópolis.

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SEPARAÇÃO

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DISPERSÃO:

Los Angeles é considerado o melhor exemplo de Dispersão. Há criação de centros de trabalho e de residências em lugares periféricos. Joel Garreau denominou esse

fenômeno de edge cities. A implantação dos ALPHAVILLES se aproxima desse modelo americano. No caso francês utiliza-se a noção de periurbanização para descrever a implantação de loteamentos periféricos ocupados por habitantes da classe média situados depois dos conjuntos abandonados.

DIVISÃO EM PARTES

Marcuse se refere à divisão do espaço em distritos que pode ser representada de forma semelhante ao modelo setorial de Hoyt. As cidades são divididas em partes: áreas afluentes, áreas gentrificadas, bairros da classe trabalhadora e áreas abandonadas. FRAGMENTAÇÃO:

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NOÇÕES LIGADAS PRINCIPALMENTE AOS INDIVÍDUOS EXCLUSÃO

Os excluídos seriam as pessoas rejeitadas fisicamente, geograficamente e materialmente.

INCLUSÃO

Refere-se a um processo oposto da exclusão, não necessariamente visível nas formas espaciais. Sistemas de transportes melhores permitem acesso rápido às áreas centrais. Em Curitiba, conjuntos habitacionais de pequenas dimensões foram inseridos em bairros de renda mais elevada. Na França se usa a noção de MIXITÉ para descrever a mistura de funções e de populações diferenciadas.

AS NOÇÕES LIGADAS AOS INDIVÍDUOS E AOS ESPAÇOS SEGREGAÇÃO

O conceito da segregação está associado à formação do guetto de Veneza onde judeus ficavam reclusos em ilhotas com muros e portas, tornando a palavra sinônima de área segregada. A palavra segrego no latim é associada a idéia de cercamento.

Uso na academia começou com sociólogos da Escola de Chicago, que estudaram a cidade que era formada na sua maioria por imigrantes. A uma minoria negra foi imposta a segregação compulsória, enquanto que outros grupos étnicos eram reunidos em locais próprios.

O conceito perdeu o sentido original quando usado para denunciar o acesso desigual aos equipamentos coletivos na França e pelo fato da classe operária ter sido empurrada em direção a uma periferia menos equipada, o que equivale à expulsão.

Nesse texto está se tratando apenas da segregação INVOLUNTÁRIA, onde há formação de áreas semelhantes aos guetos, nas quais a população é forçada a residir.

A segregação residencial dos negros americanos existe até hoje formando uma cultura a parte. A elite negra tinha interesse em manter os guetos (políticos e comerciantes). Marcuse define segregação como o processo de formação e manutenção do gueto. Para ele o gueto (negro) é uma área involuntariamente concentrada espacialmente e usada pela sociedade dominante para separar e limitar um grupo particular da população, externamente definida como racial ou étnica.

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Alguns estudiosos criticam o conceito segregação por explicar coisas demais e que ele não seria, por exemplo, aplicável às favelas, que seriam sobretudo bairros operários, lugar de onde os pobres, em vez de estarem confinados, entram e saem segundo sua condição econômica.

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AUTOSSEGREGAÇÃO é resultado de uma decisão voluntária de reunir grupos socialmente homogêneos. Os loteamentos e condomínios fechados são exemplos. Marcuse propôs o sinônimo de amuralhamento. Teresa Caldeira utiliza o termo ENCLAVES FORTIFICADOS E ENCLAVES DE LUXO.

É um fenômeno mundial. Nos EUA chama-se de GATED COMMUNITIES, ou EXCLUSIONARY ENCLAVES. Na França já foi tratado como GHETTOS DE RICHES por Paquot.

AGRUPAMENTO reúne noções de agregação, de aglomeração e de congregação e de concentração que ocorrem também com as atividades econômicas. Exemplo: grupos étnicos e religiosos, como os judeus, os chineses e em certo grau, os italianos que procuram manter suas características culturais e religiosas.

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FORTIFICAÇÃO é um conceito próximo de agrupamento, mas no sentido de formação de cidadelas. A entrada controlada de Battery Park City em Nova York é um exemplo de fortificação. Barreiras físicas e fechamento de passagens para pedestres são

utilizadas.

Battery Park City é uma comunidade planejada de uma área de 0.4 km² no extremo sudoeste de Manhattan, Nova Iorque. A zona sobre a que se encontra, foi construída sobre o rio Hudson, usando 917000 metros cúbicos de terra e rochas escavadas durante a construção do World Trade Center e outros projetos. É deste local que partem as balsas que transportam turistas para a Estátua da Liberdade1 .

POLARIZAÇÃO é uma noção que pode ser aplicada no caso das cidades norte americanas onde as classes médias altas vivem na periferia (SUBURBS) enquanto os mais pobres como os chicanos e negros vivem em áreas centrais mais precárias. As noções espaciais não são indicadas nesse caso.

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DUALIZAÇÃO está vinculada à idéia de cidade dual - usado para examinar as CIDADES GLOBAIS e metrópoles norte-americanas.

O dualismo refere-se à oposição entre as áreas de classe média branca situadas nos subúrbios e as áreas com forte presença de minorias étnicas. É um conceito próximo de polarização.

GENTRIFICAÇÃO – ou aburguesamento – tem sido usado para descrever a invasão de bairros operários de Londres pelas classes médias. Há expulsão dos habitantes originais pela valorização dos imóveis.

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Porto Maravilha antes e depois

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Essas áreas são consideradas segregadas, mas são resultado da AÇÃO DA

POPULAÇÃO DESFAVORECIDA que ocupa os espaços menos valorizados. Mas há ocupação de lugares valorizados (INVASÃO DAS MALVINAS = atual Bairro de Paz).

MARGINALIZAÇÃO – teria a configuração de centro-periferia para o espaço social. No Brasil utilizado o termo marginal para criminoso. Diferentemente do excluído, o marginal nunca teria entrado nas cidades. Janice Perlman nos anos 70 combateu o conceito de população marginal. Para ela os moradores das favelas são socialmente organizados e unidos, culturalmente são otimistas e trabalham duro. Politicamente não são apáticos nem radicais. Na visão espacial a noção corresponde à marginalidade entre centro-periferia típica da maior parte dos países pobres onde as áreas centrais são bem equipadas.

PERIFERIZAÇÃO é uma noção que está substituindo a idéia de marginalização espacial. Essa noção está muito próxima da de marginalização, mas com um

componente espacial mais forte. É uma noção forte no Brasil, mas não tem sentido em outras realidades. É confundida com noção de exclusão ou aparece como sinônimo de pobreza.

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http://geografia-ensinareaprender.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html

Terra Nova – Palhoça – Fonte: http://terranova-palhoca.blogspot.com.br/

Houston EUA

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CONCLUSÕES: O texto se insere na linha de autores como Brun e Rhein, Fassin, Paugan e outros que se preocupam com a PRECISÃO DE NOÇÕES E CONCEITOS APLICADOS ÀS CIDADES E SOCIEDADES URBANAS. As noções de exclusão e inclusão se aplicam mais a indivíduos, já DIFERENCIAÇÃO SOCIOESPACIAL, DESIGUALDADE SOCIAL, JUSTAPOSIÇÃO, SEPARAÇÃO, DISPERSÃO, DIVISÃO EM PARTES E FRAGMENTAÇÃO estariam mais voltadas aos exames de áreas, enquanto as de segregação e seus derivados, as de APARTHEID,

AGRUPAMENTO, FORTIFICAÇÃO, POLARIZAÇÃO, DUALIZAÇÃO, GENTRIFICAÇÃO, INVASÃO, MARGINALIZAÇÃO, PERIFERIZAÇÃO E ABANDONO de áreas podem ser utilizadas para indivíduos e áreas.

O texto mostrou que algumas noções são criadas para descrever uma situação

socioespacial específica a uma época ou a um lugar e que elas perdem precisão quando são empregadas em contextos diferentes. Elas se tornam polissêmicas, dificultando a compreensão dos fenômenos urbanos.

Há diferentes graus de precisão e de utilização das noções:

1- NOÇÕES DE DIFERENCIAÇÃO SOCIOESPACIAL, DE JUSTAPOSIÇÃO, SEPARAÇÃO, DISPERSÃO, AUTOSSEGREGAÇÃO, INVASÃO,

GENTRIFICAÇÃO E DE ABANDONO parecem ter um caráter mais universal. 2- A NOÇÃO DE FRAGMENTAÇÃO ainda precisam de maior precisão

conceitual. Outras são NEOGLOGISMOS como PARTITION. A NOÇÃO DE FORTIFICAÇÃO é utilizada nos limites dos espaços residenciais e espaços centrais. AS NOÇÕES DE AGRUPAMENTO (ÉTNICO E RELIGIOSOS) pode incluir outras lógicas como a econômicas.

3- NOÇÕES COMO EXCLUSÃO, INCLUSÃO, MARGINALIZAÇÃO, DUALIZAÇÃO E POLARIZAÇÃO SÃO POUCO PRECISAS E DISCUTÍVEIS DEVIDO À SUA UTILIZAÇÃO ABUSIVA NO JORNALISMO E NO SENSO COMUM.

4- ALGUMAS NOÇÕES COMO PERIFERIZAÇÃO mudam de sentido segundo a localização. No Brasil está ligada a idéia de periferias (estigmatização) e nos EUA está ligada aos SUBURBs, para os quais existe a noção de suburbanização (valorização).

5- As NOÇÕES DE SEGREGRAÇÃO, DESSEGREGAÇÃO DEVERIAM TER SUA UTILIZAÇÃO LIMITADA A CONTEXTOS HISTÓRICOS E

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