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Página 06 Representações da violência: a violência urbana

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Mestrado em Comunicação Social

Imaginário da Violência ou Violência do Imaginário - Uma análise dos valores da cultura brasileira contemporânea

a partir do programa Linha Direta

Mestranda: Ana Luisa Santos

Prof.ª Orientadora: Vera Regina Veiga França

Belo Horizonte Agosto de 2003

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Sumário

Introdução__________________________________________________ Página 03 Capítulo I – Violência e Mídia

Introdução ao problema: a violência hoje ________________________ Página 06 Representações da violência: a violência urbana___________________ Página 09 A mídia como locus de expressão da violência_____________________ Página 14 As linguagens da mídia e a produção da violência para o consumo____ Página 18 O Outro como ameaça e desordem_______________________________ Página 21 A cultura do medo ____________________________________________Página 26 Violência: sentidos insuficientes ________________________________ Página 30 Violência e dualismo__________________________________________ Página 32

Capítulo 2 – O que é Violência

Um conceito de violência e a crise de reciprocidade _________________Página 37 Violência e reciprocidade_______________________________________ Página 42 Violência e conflito____________________________________________ Página 44 Violência e pertencência_______________________________________ Página 45 Violência e pacto social________________________________________ Página 48

Capítulo 3 – O Linha Direta

O Linha Direta: uma certa narrativa sobre a violência ______________Página 54 A mediação: a televisão no contexto atual_________________________ Página 54 Estrutura narrativa __________________________________________ Página 55 Qual é a violência representada pelo Linha Direta? ________________ Página 62 Perfil das motivações ___________________________________ Página 66 Perfil dos acusados e das vítimas _________________________ Página 73 Vítimas _______________________________________________ Página 78 As histórias do Linha Direta: outros sentidos _____________________ Página 81 Masculinidade e violência _____________________________________ Página 82 A casa como locus de expressão da violência ______________________ Página 85 Casos do Linha Direta selecionados para análise aprofundada _______ Página 88 Anexo - casos selecionados _____________________________________ Página 92 Bibliografia _________________________________________________ Página 97

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Introdução

“Uma sociedade se revela tanto pelo que preza como sagrado e fundamental para o seu bem-estar quanto pelo que teme e despreza como pecado, crime e violência.”

Roberto Da Matta

As representações do fenômeno da violência hoje na mídia brasileira adquiriram uma intensidade e constância merecedoras de observação no contexto da cultura no Brasil.

Imagens de uma violência disseminada e quase onipresente adquirem grande audiência e repercussão, sobretudo entre o público televisivo.

O programa de televisão que compõe o nosso objeto de estudo, o Linha Direta, exibido pela Rede Globo de Televisão, vem corroborar essa idéia e se mostra como um bom ponto de partida para pensarmos qual é a natureza da relação entre os meios de comunicação e o fenômeno da violência, assim como para indagarmos sobre alguns dos significados que o fenômeno adquire na sociedade brasileira contemporânea. Nossa pesquisa vai abordar a violência a partir do viés da cultura, segundo o qual a violência é também linguagem definidora de outros significados além daqueles imediatamente sugeridos como a desordem, o caos, o abuso de poder, a maldade ou qualquer outra interpretação mais moralista e normativa do fenômeno. Vamos encarar o fenômeno da violência, assim como suas representações (que não deixam de constituir também parte desse mesmo fenômeno), como um modo de compreender a dinâmica social brasileira atual, partindo da idéia de que a violência pode ser um termômetro de como uma sociedade se mostra, se constrói (ou desconstrói) e se interpreta.

Para analisar as representações da violência na mídia e, de modo particular, a representação da violência no Linha Direta, pressupomos que, para além dessa representação, há um contexto cultural, constituído de valores simbólicos que caracterizam o quadro atual da sociabilidade brasileira. Por isso, estaremos examinando as nuances da relação entre a mídia e a violência do ponto de vista dos atores, discursos e valores colocados em cena pela cobertura conferida pelos meios de comunicação às manifestações da violência.

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Portanto, além de analisar a “natureza” dessa representação, ou seja, observar que tipo de imagens e de valores a compõem, iremos também questionar qual é a função dessa representação da violência hoje no contexto da cultura brasileira. Função que pode estar relacionada com vários aspectos, desde a tematização da questão da violência, a conscientização das pessoas sobre um dos maiores problemas sociais do Brasil hoje, passando pela tendência dos meios de comunicação no que diz respeito aos programas de utilidade pública.

Dessa forma, buscaremos responder os questionamentos não só sobre a natureza da representação da violência na mídia brasileira hoje, mas também sobre o papel-função do programa Linha Direta, assim como de um (novo) imaginário da violência e, talvez, do próprio Brasil. Por isso, tentaremos analisar o pacto que o programa firma com o público, quais imagens ele suscita nas pessoas.

Partindo do pressuposto de que o Linha Direta explora ou exibe um tipo de violência bastante específico, tentaremos mostrar que essa abordagem reforça um tipo de segmentação da realidade social em espaços bem delimitados, tal como a casa e a rua, conforme sugere Roberto Da Matta. Uma análise da estrutura narrativa do programa pode nos ajudar a compreender melhor essa idéia e acrescentar novos elementos que contribuam para a análise do modo como o brasileiro percebe o fenômeno da violência e outros aspectos da vida em sociedade, sobretudo a partir de um imaginário marcado por caráter dual de ordem x desordem, margem x centro, caos x equilíbrio.

Para tanto, vamos partir de algumas discussões sobre a violência para encontrar algumas pistas sobre o imaginário contemporâneo deste fenômeno. A partir dessa discussão, queremos também investigar quais são as imagens fundamentais que essa representação da violência na mídia resgata ou suscita. Procurando entender quais são os significados da violência atualmente esboçaremos um quadro conceitual do fenômeno a fim de compreender melhor as dificuldade que cercam essa temática.

Através da relação entre a mídia e a violência e da análise do programa Linha Direta, portanto, tentaremos demonstrar quais são os novos significados que a violência adquire hoje no Brasil, levando-se em conta um contexto em que o fenômeno aparece em escala

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cada vez maior, principalmente na mídia. Essa abordagem no fenômeno da violência pode conferir, como tentaremos mostrar, novas nuances para os modos de convivência social no país, principalmente no que diz respeito à relação com o outro e com a alteridade.

Enfim, tentaremos perceber a relação entre a representação do fenômeno da violência hoje na mídia brasileira com o modo de sociabilidade contemporâneo no país. Nosso objetivo é tentar decifrar como essa representação influencia, interfere, modifica a sociabilidade no Brasil, procurando observar as sutilezas dessa relação, suas conseqüências e alcance.

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Capítulo 1 - Violência e mídia

1.1 - Introdução ao problema: a violência hoje

“O Brasil Ensangüentado”. Essa é a manchete da revista “Veja” de 30 de janeiro de 2002. Em abril desse mesmo ano, a revista “Superinteressante” publicou uma edição especial com o tema “segurança”. “Por um Brasil menos violento” é manchete do trabalho, cuja carta de apresentação explicita o status que esse tema representa hoje para o país. “A criminalidade e a violência são, definitivamente, a prioridade nacional.

Segundo uma pesquisa divulgada no início deste mês, um em cada cinco brasileiros considera a falta de segurança o nosso principal problema”, afirma o editor Rodrigo Vergara.

A violência também está entre os dados mais preocupantes apresentados pelo Brasil à reunião Rio+10 ocorrida de 26 de agosto a 4 de setembro de 2002 na cidade de Johannesburgo, na África do Sul. Os dados do relatório têm como base a pesquisa

“Indicadores de Desenvolvimento Sustentável” realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) durante a década de 90. Segundo o levantamento, entre 1992 e 1999, houve um aumento de 37% na taxa de assassinatos ocorridos no país. A mortalidade por homicídios passou de 19,12 por 100 mil habitantes para 26,18. Em nenhum ano da década houve redução do índice.

O tema da violência preenche boa parte da agenda de fatos nacionais devido não apenas às estatísticas alarmantes. As manifestações exacerbadas de violência que justificam a publicação das manchetes citadas acima também mobilizam a população de todo o país.

No dia 19 de janeiro de 2002, o prefeito Celso Daniel, da cidade de Santo André, na Grande São Paulo, foi assassinado brutalmente. Meses antes, o seqüestro da estudante Patrícia Abravanel, filha do empresário e proprietário do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), Sílvio Santos, também mobilizou o país, ainda mais pela peculiaridade do caso: menos de 24 horas depois de Patrícia ter sido libertada, seu seqüestrador invadiu a casa de sua família e manteve o próprio Sílvio Santos como refém durante horas. Outro seqüestro “midiático” foi o do publicitário Washington Olivetto, mantido

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em um cativeiro pelos seqüestradores por mais de 45 dias no início de 2002 e posteriormente libertado.

Não podemos nos esquecer também do seqüestro do ônibus 174, da linha Gávea- Central, em junho de 2000, no Rio de Janeiro, pelo ex-menino de rua Sandro do Nascimento. Durante mais de quatro horas, a população brasileira se mobilizou frente à televisão, que transmitiu ao vivo o seqüestro do ônibus, o medo das reféns, a negociação com a polícia, bem como a imperícia da última, e o desfecho trágico do caso com a morte de uma refém e do próprio seqüestrador. Um episódio que expõe os limites entre a fugaz notoriedade proporcionada pelos meios de comunicação e a busca, a sede de reconhecimento de parte da população dos grandes centros urbanos no Brasil que enfrenta a invisibilidade social imposta pelo resto da sociedade.

Esses são alguns casos recentes que se somam a episódios que, nos últimos anos, alcançaram repercussão nacional e internacional, como o assassinato de meninos de rua na igreja da Candelária, no Rio de Janeiro; a chacina da favela de Vigário Geral, também no Rio; a chacina de manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em Eldorado dos Carajás; o massacre de detentos no presídio do Carandiru; o exemplo do abuso de poder policial no assassinato de um civil na favela Naval em Diadema, interior de São Paulo. São casos em que o Brasil se reúne em torno do medo, da vulnerabilidade, do choque frente à violência e do protesto contra a impunidade, a corrupção policial e a criminalidade.

Um dos últimos desses casos “nacionais” se refere ao assassinato do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo de Televisão, por traficantes cariocas no dia dois de junho de 2002. Lopes foi assassinado enquanto fazia uma reportagem para a Rede Globo sobre uma denúncia de aliciamento de menores e venda de drogas durante a realização de bailes funks no complexo do Alemão, região que reúne 17 morros da zona norte do Rio de Janeiro. Segundo informações da polícia, o jornalista foi torturado, assassinado e depois esquartejado e queimado por um grupo de nove traficantes em uma das favelas da região.

A morte de Tim Lopes provocou uma comoção nacional não só pela crueldade do assassinato - um ato, por si só, de bastante brutalidade - mas também pela sua ampla

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divulgação na mídia. O caso do assassinato do jornalista é exemplar no que diz respeito à relação entre a mídia e a violência, tanto pela repercussão do caso - que, no episódio, foi ampliada pelo fato de Lopes ser funcionário da maior rede de televisão do país - como também pelas suas próprias circunstâncias: o assassinato brutal de um jornalista cujo principal trabalho era justamente mostrar, trazer à tona - inclusive através de câmeras escondidas - parte de uma realidade do Brasil marcada pelos contornos da violência.

O assassinato de Tim Lopes ilustra de maneira peculiar o modo como algumas das manifestações da violência são amplificadas pela mídia e, a partir dela, ganham novos significados. Se, por um lado, a morte do jornalista é somente uma entre tantas mortes provocadas pela poder do tráfico de drogas e do crime organizado, por outro ela revela, de forma exemplar, como a representação da violência na mídia constitui parte desse fenômeno, na medida em que gera e exige de atores sociais diferenciados não só discursos, mas também posicionamentos e práticas específicas.

No caso de Lopes, essa questão torna-se muito evidente sobre dois pontos de vista. O primeiro se refere ao ponto de vista dos agentes da criminalidade. Tim Lopes foi assassinado - segundo informações obviamente incompletas, mas amplamente difundidas - porque denunciava a existência e o comando do chamado “poder paralelo”

do tráfico de drogas nos morros cariocas. Ele já havia sido premiado, inclusive, por uma de suas matérias jornalísticas intitulada “Feira das Drogas”, em que denunciava a venda de drogas à luz do dia em algumas regiões do Rio de Janeiro. E, no dia em que foi assassinado, voltara à favela para investigar outra denúncia relacionada ao crime organizado: Lopes tentava gravar a venda de drogas e a existência de prostituição infantil nos bailes funks realizados em regiões do Complexo do Alemão como a Vila Cruzeiro, Grota e Nova Brasília.

Portanto, Lopes foi assassinado não somente porque denunciava os atos ilegais dos comandantes do tráfico de drogas no Rio de Janeiro - tornando-os públicos - mas também porque sua morte representaria, com certeza, uma grande demonstração de poder por parte desses agentes sociais. Eles sabiam quem ele era, bem como sabiam das conseqüências, inclusive midiáticas, de seu assassinato. Dessa forma, sua ação indica uma consciência no que diz respeito à utilização das imagens públicas da violência: seu

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agir é pautado pelo conhecimento/audiência da representação da violência na mídia, bem como por sua posterior publicização. A intenção desses agentes ao cometer esse crime parece levar em conta a repercussão midiática garantida neste caso. Por isso, eles dialogam com, ou usam dessa representação da violência na mídia como lhes convém, de maneira particular e conveniente com seus interesses e motivações. Entre os vários discursos presentes na representação da violência na mídia, o dos agentes da violência parece surgir de forma incisiva, fora de controle e absolutamente distante dos padrões discursivos comuns aos meios de comunicação.

O segundo ponto de vista é o das instituições sociais. Nesse caso, o assassinato do jornalista Tim Lopes provocou uma série de discursos e posicionamentos sociais relacionados à coibição da criminalidade e discussão sobre o fenômeno da violência. As conseqüências mais evidentes da ampla cobertura que a morte do jornalista recebeu na mídia se referem tanto ao número expressivo de demonstrações de repúdio à violência colocadas por entidades de diferentes naturezas, quanto à realização de diversas manifestações sociais pela paz no Rio de Janeiro e em outros lugares. Outra conseqüência diz respeito ao empenho empregado pela Secretaria de Estado da Justiça do Rio, através da polícia, na captura dos nove traficantes acusados da morte de Lopes.

Dos nove supostamente envolvidos no crime, sete foram presos - inclusive Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, principal acusado do assassinato, preso 109 dias após o crime - e dois morreram.

A extensa repercussão do caso da morte de Tim Lopes se revela como um paradigma da relação entre a mídia e o fenômeno da violência. Se a mídia é acusada por banalizar a violência através de suas narrativas espetaculares e sensacionalistas, no caso em questão, ela é vítima. Vítima da mesma violência que ocupa suas manchetes, notícias e pautas jornalísticas. Mas a mídia também parece ser ator neste cenário: ao divulgar os fatos violentos, amplificando-os no espaço público de visibilidade e retirando-o do seu obscurantismo, a mídia lhes confere existência, exige posicionamentos dos agentes sociais e ressignifica os sentidos sobre a violência.

1.2 - A mídia como locus de expressão da violência

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Muito já tem sido dito para enfatizar o papel fundamental dos meios de comunicação na construção dessas imagens, na cristalização das representações da violência no imaginário coletivo. É através da mídia que valores são conjugados a determinadas imagens de modo que, em um determinado contexto sócio-histórico, as manifestações da violência adquiram contornos específicos. A mídia enquanto o espaço privilegiado para o debate público possui papel fundamental na construção coletiva de representações sociais e, particularmente, na construção das representações da violência.

As manifestações do fenômeno que alcançam maior visibilidade nos meios de comunicação de massa direcionam o debate sobre a violência, e sua relação com a mídia estabelece imagens ou representações privilegiadas que incidem sobre a sociabilidade.

Em outras palavras, o modo como a violência aparece representada na mídia não apenas reflete, mas influencia os agentes sociais, seus discursos e suas ações, inclusive, no âmbito das ocorrências do fenômeno.

Dessa maneira, podemos dizer que a mídia, assim como a “favela do tráfico de drogas”, a “rua dos assaltos”, o “presídios das rebeliões e ações ilegítimas da polícia”, o “campo dos conflitos agrários”, também se constitui como um locus privilegiado de expressão da violência. Nos meios de comunicação, a violência ganha vida enquanto representação, discurso, com todos os seus procedimentos e mecanismos narrativos, ocupando um espaço bastante marcante no campo de definição dos temas e recortes da realidade social propostos pelos meios. Ou seja, a violência representada na mídia, a violência enquanto signo, a violência mediatizada – ou “midiática” – se constrói e aparece enquanto um outro componente da nossa realidade.

“A ‘violência vinda de baixo’, antes ‘invisível’, pelo distanciamento das zonas de concentração de grandes contigentes de excluídos, cada vez mais explicita-se. Ela ganha as ruas, assume faces diversas, potencializa-se de tal forma que ordem e desordem ‘ocupam’ o mesmo

‘lugar’, tornando potencialmente qualquer espaço em um locus privilegiado de expressão da violência.”

(DIÓGENES, 1998: 91)

A mídia constitui um locus de expressão da violência sobre três aspectos. O primeiro diz respeito ao poder “amplificador” e ao caráter testemunhal conferido aos meios de comunicação, que não só “retiram” os acontecimentos da violência das “zonas de

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concentração de grandes contingentes de excluídos”, amplificando-os, mas também possibilitam seu registro e, consequentemente, quase a sua “existência” - a mídia faz com que esses fatos existam aos olhos de toda a sociedade e não só da comunidade onde ocorreram ou dos agentes envolvidos no episódio. Afinal, “a violência que não se vê, não comove e não reclama, necessariamente, ações sobre ela” (RONDELLI, 1997: 156).

“Se violência é linguagem - forma de se comunicar algo -, a mídia, ao reportar os atos de violência, surge como ação amplificadora desta linguagem primeira, a da violência” (RONDELLI, 2000: 150).

Ao “optar” por mostrar a violência de forma recorrente, os meios de comunicação conferem o caráter de acontecimento às suas manifestações: não há como negar a sua existência, bem como suas conseqüências. E, a partir do tipo de manifestação da violência que recebe o “olhar” privilegiado e amplificador da mídia, passam a ser determinados o local onde ela ocorre; os agentes que a praticam; e as conseqüências de seus atos. Através do poder amplificador da mídia, podemos perceber tanto o alcance real quanto o alcance simbólico da violência na sociedade.

O segundo aspecto acontece na medida em que a mídia constrói representações sobre os atos violentos imprimindo sobre eles novos sentidos e, conseqüentemente, novas práticas sociais. A mídia também surge, sobretudo, como ação ressignificadora da violência ao definir seu conteúdo e conferir associações e imagens aos atos violentos e seus agentes, interferindo nas práticas sociais relacionadas com o fenômeno da violência. A partir de suas estratégias narrativas, os meios de comunicação conferem novas camadas de sentido que se sobrepõem aos significados imediatos evocados pelas manifestações da violência expostas na mídia.

Esses “novos” sentidos são construídos a partir do espaço de mediação constituído pela mídia. Ao serem “registrados” pelos meios de comunicação, a violência ganha novos contornos, através da publicização e da inserção dessas imagens dentro de uma programação, enfim, dentro de um fluxo de sentidos específicos e compartimentados como percebemos na estrutura de funcionamento dos media.

Os novos significados que se impõem sobre a violência também surgem através da supressão – parcial ou total – de outros sentidos associados às manifestações do

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fenômeno. Essa supressão decorre, na maioria das vezes, do modo como a mídia descontextualiza os atos da violência, retirando determinadas manifestações de seus contextos sócio-históricos originais e determinando, de antemão, seus agentes, intenções e até seu julgamento.

Esses novos sentidos impressos pelos meios de comunicação sobre a violência vão pautar novas práticas sociais e posicionamentos dos agentes, tanto daqueles que são ou se consideram “vítimas” da violência, quanto daqueles que constituem ou se consideram constituídos como “agentes” de tais manifestações.

Enfim, o terceiro aspecto se refere, de certa forma, a uma conseqüência aos dois primeiros. Ao trazer determinadas manifestações da violência ao conhecimento de toda a sociedade e ao lhe acrescentar novos – e determinados – sentidos através de sua narrativa, a mídia acaba por “organizar” a própria violência, ou pelo menos, representar uma tentativa de “organização” do fenômeno. O modo como os meios de comunicação reportam e narram a violência - lançando e reunindo sobre suas manifestações discursos de diversas naturezas, imagens e representações - constitui uma tentativa de tornar o fenômeno da violência um pouco mais “compreensível” e até de transformá-lo também em um produto passível de consumo. Ao delimitar a área de ocorrência de suas manifestações, ao apontar seus agentes, ao condenar suspeitos e “exigir soluções para o problema”, a mídia torna a violência mais “palpável”, “consistente” ou

“compreensível”. Através das representações e narrativas da mídia sobre o fenômeno, torna-se mais fácil “identificar” o que é violência, onde ela ocorre, quem a pratica e quem são suas vítimas. Em suma: as representações da violência atuam e interferem no quadro da sociabilidade (do padrão de relações que marcam a vida na cidade).

“(...)os media, na condição de meios, como a palavra indica, se interpõem entre os fatos e o público, sua audiência, e instituem-se como lugar privilegiado da produção das referências dominantes sobre os atos da violência. Edificam-se, assim, como lugar institucional de exposição de numerosas notícias sobre os crimes, das falas das vítimas, das autoridades, dos especialistas (...).

Os media ganham legitimidade por se oferecerem como ponto de encontro dessas vozes.” (RONDELLI, 1994/1995: 99)

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Ao circunscrever a violência a determinados espaços físicos e simbólicos, a mídia contribui para a idéia de que a violência está situada apenas em determinados limites da sociedade – e não na sociedade como um todo. Desse modo, os meios ressaltam a violência como se suas manifestações estivessem restritas a determinados espaços, como, por exemplo, as favelas, a periferia das grandes cidades de forma geral, as prisões. Ao cercar as manifestações da violência dentro de determinadas fronteiras dentro da sociedade, a mídia, de alguma forma, transmite a idéia de uma possibilidade de controle da violência. A partir dessa visão de uma violência mapeada não só através de sua localização espacial, mas também através da identificação de seus agentes, vítimas e conseqüências, o fenômeno torna-se um problema a ser contornado, isolado e combatido pela sociedade, sobretudo através das estruturas ligadas à segurança pública.

Essa “cartografia” simbólica da violência é reforçada e constantemente renovada pelos meios de comunicação através de sua narrativa que sobrepõe imagens aos fatos e que acaba por conferir outros sentidos aos atos ligados freqüentemente à violência. Isso acontece também porque a mídia tende a identificar/nomear determinadas manifestações da violência em detrimento de outras, além de reforçar determinadas representações sociais sobre o fenômeno já consolidadas na sociedade, gerando um ciclo vicioso que acaba por encerrar os sentidos dentro de determinados e repetidos significados. Dessa maneira, a sociedade reafirma seus valores, crenças e virtudes através do consumo de seus “desvios”. A exposição da violência na mídia a partir de determinadas características vem cumprir a função de manutenção ou permanência de uma forma de sociabilidade.

“(...) se o crime é pretexto para encenação metódica de rituais dramatúrgicos de ordem e coesão, a sociedade moralmente elevada continuará produzindo normalmente os crimes e os bodes expiatórios que montam a ‘dramática advertência’ da erosão da ordem e reafirmam a unidade moral da sociedade.”(LUÇAN, 1997: 151)

“À proliferação das violências imaginárias se acrescenta a vedetização das violências que explodem na periferia da vida quotidiana sob forma de acidentes, catástrofes, crimes. A imprensa da cultura de massa abre suas colunas para os fatos variados, isto é, para os acontecimentos contingentes que só se justificam por seu valor emocional.(...) Através do sensacionalismo, (...) através do universo do crime, enfim, o leitor redescobre, vivendo- os e realizando-os, seus sonhos menos conscientes.

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Sádicos, assassinos, ‘são a personificação de instintos simplesmente reprimidos pelos outros homens, a encarnação de seus homicídios imaginários, de suas violências sonhadas’. Os grandes criminosos são, portanto, literalmente, os bodes expiatórios da coletividade”.(MORIN, 1977: 115)

A narrativa dos meios de comunicação sobre a violência exprime/reflete o modo como a sociedade lida com as manifestações da violência e as representa, e nesse processo são revelados vários valores que marcam o seu reconhecimento social.

“Portanto, o modo como a mídia fala sobre a violência faz parte da própria realidade da violência: as interpretações e os sentidos sociais que serão extraídos de seus atos, o modo como certos discursos sobre ela passarão a circular no espaço público e a prática social que passará a ser informada cotidiana e repetidamente por estes episódios narrados. Revela-se, aqui, o caráter estruturador dos discursos” (RONDELLI, 2000: 150)

O modo como o fenômeno da violência é compreendido hoje tanto expressa os valores vigentes na sociedade como também é construído pelas estratégias narrativas dos meios de comunicação na realização de sua cobertura. A mídia ao mesmo tempo que dá visibilidade à violência, fornece os modelos para sua compreensão.

“(...) a força e a violência são técnicas bem-sucedidas de controle social e (...) a violência é a forma exacerbada de poder. Autoridade, poder, força e violência, no Brasil, são sinônimos. E há três décadas inteiras que a TV tem sido violenta, tem usado a violência, mostrado a violência, glorificado a violência. Não o faz por morbidez: usa a violência como forma de controle social. Atemoriza a sociedade para que o poder apareça como recurso salvador. Na década de 60 era o ‘terrorismo político’ que ameaçava a felicidade cotidiana nacional tanto quanto o comunismo internacional espreitava o mundo para desgraçá-lo. Quando esses temas soçobraram, criou-se a violência interna, do roubo, do assalto, do seqüestro, do assassinato. Quando escrevo ‘criou-se’, estou dizendo que a TV gerou essa violência tanto quanto foi ela provocada pelas condições políticas, econômicas e sociais deste país.

A TV não retrata apenas, ela estimula ao fornecer o modelo de cuja existência depende para continuar a

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divulgá-lo e com isso atemorizar e controlar a sociedade.”

(COELHO, 1991: 120 e 121)

Desse modo percebemos que a estilização construída pela mídia em torno do fenômeno da violência cumpre determinados objetivos dentro da dinâmica social brasileira.

Vejamos, por ora, como os meios de comunicação realçam determinadas nuances da violência através de artifícios narrativos e quais artifícios são esses.

1.3 - As linguagens da mídia

A mídia constitui, assim, um porta-voz crucial das manifestações da violência, que se converte em “enunciados” que orientam a maneira como os agentes sociais se posicionam e alcançam visibilidade. Com a ampla penetração dos meios de comunicação – e sobretudo da televisão - no cotidiano dos agentes sociais hoje, a violência adquire visibilidade e seu raio de “efeito” é amplificado para além dos locais de sua ocorrência.

Mas a mídia não apenas repercute, amplifica e ressignifica a violência – ela faz isto desenvolvendo um tipo de linguagem, de estratégia discursiva que será também responsável pelo fascínio e atração exercidas pelas representações da violência.

Torna-se necessário então buscar a compreensão da violência enquanto “linguagem” e da “violência representada”, ou seja, “o modo como a violência e a criminalidade são, imaginária e discursivamente, tematizadas e construídas nos meios de comunicação, e como tal construção pode informar e orientar comportamentos sociais coletivos e ações políticas referidas à violência” (RONDELLI, 1994/1995: 97 e 98). A análise da linguagem da violência vai nos permitir uma reflexão mais adequada desses “objetos estéticos na sua relação com o processo geral de simbolização da realidade social;

aspecto, por sua vez, vital e constitutivo desta mesma realidade” (PEREIRA et alli, 2000: 16).

A “linguagem da violência”, ou as representações construídas e veiculadas pelos meios de comunicação adquirem características peculiares As estratégias narrativas e modos de trabalho da mídia são responsáveis por transformar a violência em um produto para

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consumo fácil. Entre esses procedimentos podemos enumerar o modo descontextualizado como a violência é apresentada, a espetacularização dos atos violentos, o sensacionalismo, a produção de verossimilhança, a dramatização, entre outros “(...) processos de modificação, supressão, substituição e acréscimos, mecanismos próprios (...) de edição fotográfica, televisiva ou cinematográfica”

(PEREIRA et alli, 2000: 18)

A abordagem que a mídia faz da violência e que, na maioria das vezes, é conduzida pelo sensacionalismo, pela dramatização e pelo maniqueísmo está situada na fronteira do que podemos chamar da estética do grotesco. Caracterizada pelo exagero, a profusão, o excesso, o monstruoso, a estética do grotesco possui também um conteúdo ético que traduz um modo de pensar e agir da sociedade. Segundo Sodré, “esse fenômeno é tanto mais intenso nos espaços sociais onde progressivamente se esvaziam as finalidades éticas e políticas, (...) e cresce a regulação da conduta pública pela estetização artificiosa dos simulacros” (SODRÉ, 1992: 105).

Esses procedimentos narrativos são responsáveis por criar associações entre a violência e pobreza, entre criminosos e pobres, entre marginais e negros, entre o tráfico de drogas e as favelas e morros, entre violência e ineficiência dos órgãos de segurança pública como nas imagens citadas no início deste trabalho. São estratégias narrativas que, inclusive, podem definir o que é violência, influenciando o modo como os agentes sociais percebem os atos violentos. Este ponto fica claro quando as imagens mais comuns ligadas à violência têm relação com a criminalidade, com a insegurança pública, mas não se referem à corrupção política ou aos baixos salários, por exemplo.

“No caso da violência, os meios não só a definem, como organizam o mundo a partir da dicotomia moral entre o bem e o mal, designam seus atributos, nomeiam seus praticantes, sentenciam punições, concedem atenuantes e arrolam justificativas. Oferecem ao público, sobretudo, enunciados sobre a violência, que o orientam a formular representações sobre seus agentes e sujeitos.”

(RONDELLI, 1994/1995: 99)

Entretanto, por mais sofisticados e variados que sejam os procedimentos narrativos utilizados pelos meios de comunicação na cobertura da violência, tais mecanismos não

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são capazes de esvaziar por completo outros sentidos – “primários” ou latentes – evocados por imagens da violência reportada pela mídia. Como ruídos, esses sentidos fundamentais expressos através das manifestações do fenômeno da violência aparecem ora em imagens por si só bastante fortes, ora em discursos de agentes sociais dessincronizados com o ritmo e formato ditados pela mídia e pelos demais discursos de autoridades, especialistas etc. E através desses ruídos podemos perceber outros sentidos evocados por aquelas manifestações, aqueles atos não institucionalizados, mas profundamente significativos.

“A estilização midiática necessariamente não bloqueia o surgimento de novas manifestações de violência; antes, talvez, adiciona-lhes novos sentidos. Nem necessariamente impede que a violência seja um pólo catalisador de expressões sociais que, sem ela, não encontrariam suportes de comunicação e de visibilidade, reforçando, assim, a idéia de que a violência explicita, de algum modo, desigualdades sociais, e revelando a

‘desconfiança’ diante do ‘projeto civilizatório’ hoje”

(PEREIRA et alli, 2000: 18)

Podemos estender essa reflexão para discutir os possíveis reflexos da visibilidade conferida à violência sobre a sociabilidade, não só de maneira negativa – como é o caso do sensacionalismo – mas também de modo construtivo. A violência assume aqui um caráter de positividade, na medida em que pode promover, mesmo que desordenadamente ou de modo não-institucional, uma rearticulação sócio-político cultural.

“(...) a violência constitui-se um tipo de linguagem que não apenas expressa conflitos mas, por vezes, pode viabilizar a emergência de alteridades.(...) Longe de aparecer apenas como evidência de dissidência ou iminência de uma situação de ‘caos’ social, ela adquire, cada vez mais claramente, um papel constitutivo, estruturador ou fundador de novas expressões do social e se apresenta cada vez menos passível de avaliações apenas reguladoras e/ou moralizantes. Revela-se, no plano da linguagem e das representações, como enunciação genuína e, às vezes, legítima de conflitos vivenciados no dia-a-dia da vida social” (PEREIRA et alli, 2000: 15 e 16) 1.4 - O “outro” como ameaça e desordem

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O modo como os meios de comunicação constróem ou apresentam as imagens e discursos sobre o fenômeno da violência geram determinados sentidos que passam a circular pela sociedade, formando a base de informações a partir das quais os agentes sociais vão elaborar seus próprios sentidos sobre a violência. No entanto, todo sistema de representações opera através de ênfases, seleções e exclusões. Na representação midiática da violência alguns sentidos sobressaem sobre outros, na medida em que são reiterados não só pela cobertura típica da violência realizada pelos diferentes meios de comunicação no dia-a-dia, mas por alguns discursos circulantes na mídia sobre a violência, seus agentes e espaços de ocorrência.

Entre esses sentidos predominantes encontramos a imagem ambígua do “outro social”

que constitui uma dimensão paradoxal dessa representação. Por um lado, a representação da violência na mídia permite a emergência de novos atores sociais para o espaço público de visibilidade – traz à tona o cotidiano de uma grande parcela da população brasileira que vive às margens da sociedade; um cotidiano marcado pela morte, pelo medo, pelos toques de recolher, pela injustiça, pelas balas perdidas, pela vingança. E é através dos meios de comunicação e da cobertura de diversas manifestações da violência que esse cotidiano “passa a existir” para o resto da sociedade.

Por outro lado, entre as imagens da violência predominantes nos meios de comunicação, prevalece a imagem do “outro” como ameaça e perigo. Ele é apresentado como agente da violência, como aquele que age fora das regras, da lei, dos bons costumes e até dos limites espaciais “legítimos” da cidade. As duas imagens se superpõem: o “outro” como vítima da desigualdade social, do comando tráfico de drogas e até da polícia mas também como aquele que desestabiliza e atenta contra o estabelecido. Diante dessa imagem ambígua do “outro”, dessa figura indefinida, a reação é a mesma que se tem diante do desconhecido: receio e medo. Assim, diante de um menino de rua, que tanto pode assaltar quanto pedir um trocado, a reação mais comum é de distanciamento, é de precaução frente ao risco. As imagens da violência amplificadas pela mídia associam exclusão social e violência – o outro social que ameaça e provoca medo. Como conseqüência, desdobramento do medo, coloca-se a possibilidade de instituição de meios de repressão e punição com alcance e caráter mais ostensivos e emergenciais.

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“Desenvolve-se uma série de argumentações que, quase sempre, levam a supor a existência de ‘ações violentas’ que seriam possivelmente controladas com a eliminação ou contenção do sujeito praticante dos atos violentos. Ao ser pensada como ato isolado (...) tende-se a deixar de entender a violência como uma extensiva rede fenomenológica.” (DIÓGENES, 2000: 78)

O “outro” é representado pelos moradores das favelas, pelos negros, pelos pobres, pelos mendigos, pelos meninos de rua, pelos usuários de droga, pelos jovens das galeras e gangues, pelos desempregados e por todos que vivem às margens da sociedade dos

“homens de bem” e sobre os quais é imposta a “invisibilidade social”. Reforçada pela mídia, a “distinção entre criminosos e homens de bem, os últimos caracterizados por qualidades morais referendadas pelo conjunto da sociedade - neste caso, o trabalho e a condição de cidadania (LUÇAN, 1995-1996: 128)” - é responsável por produzir não só o medo, mas também uma insensibilidade maior frente à violência ou, pelo menos, a determinadas manifestações do fenômeno. Para Rondelli,

“O ato cotidiano de a mídia apresentar conflitos, tensões e rupturas pode construir, como contrapartida, a imagem de um suposto tecido social coeso. Ao expor os desvios do Outro, afirma os valores da homogeneidade social e pode apagar, pela reiteração constante, os elementos desagregadores daquilo que é diferente e, por isso, questionador, como pode também, criar uma certa insensibilidade social aos fenômenos da violência.

Insensibilidade atingida através do modo como são apresentadas as imagens do Outro, no modo de construí-lo no imaginário social” (RONDELLI, 1997: 158)

Observamos, desse modo, que a representação da violência na mídia cumpre um papel sócio-cultural: ela cumpre o papel de reforçar a idéia de ordem que sustenta a sociedade brasileira. E esta visão de ordem possui traços bastante definidos sobre os quais discutiremos adiante. Aqui cabe destacar a função que a representação do fenômeno da violência nos meios de comunicação, com suas respectivas imagens, exerce no sentido de manter ou atualizar os laços, o pacto social firmado pela sociedade brasileira, trabalhando, inclusive, pela manutenção da idéia de uma identidade nacional do país pacífico, de povo ordeiro. Para Rondelli, isso acontece justamente devido ao modo como a mídia traz à tona a idéia do “outro” como algo a ser mantido sob controle, dentro de limites - tanto espaciais quanto simbólicos - bastante específicos.

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“Esse Outro é apresentado, pela mídia, como uma imagem símbolo de uma diferença que se quer eliminar em prol de uma visão de ordem. O encontro com esse Outro é somente o consumo de sua imagem - algo posto para ver, para ser exibido, para ser exótico, pitoresco, alienado, monstruoso, brutal ou anômalo. (...) Nunca um encontro com as figuras ou a idéia da alteridade, mas um afastamento. Para que serve este Outro (diferente) que escapa às normas e às regras da sociedade? Na maior parte das vezes para reconstruir em negativo, pelo avesso, os traços constitutivos de uma identidade social normatizada” (RONDELLI, 1997: 158 e 159)

Mas que idéia de ordem essa imagem do “outro” reforçaria? A idéia de ordem proposta pelas representações da violência e do “outro” nos meios de comunicação está ligada à idéia de inexistência de conflitos, quer dizer, à “negação do conflito (e da violência) como elemento integrante da ordem” (LUÇAN, 1995-1996: 151).

A negação do conflito teria como objetivo justamente camuflar as fissuras presentes no tecido social brasileiro, as diferenças e, finalmente, as desigualdades, em nome da idéia de uma sociedade coesa, construída na unidade.

Nesse contexto, podemos perceber a força da imagem do Estado enquanto ator social e sua prevalência sobre outros valores e sobre a diversidade ainda aparece bastante nítida na contemporaneidade. É importante salientar aqui que não deixamos de lado a compreensão da natureza de classe do Estado no Brasil. Queremos apenas chamar a atenção para o fato de que nas imagens relacionadas ao fenômeno da violência - a violência como sinônimo de criminalidade, insegurança e desordem; a violência como resposta a um contexto sócio-histórico de desigualdades e injustiça social e a violência como abuso de poder – podemos perceber que o Estado é sempre representado, ao mesmo tempo, como a fonte e a solução do “problema” da violência, independentemente do grupo de imagens que for selecionado para denominar o fenômeno. Desse modo, se se compreende a violência como uma resposta a um sistema social marcado por profundas desigualdades e péssima distribuição de renda, o Estado será “culpado” por não assumir o papel de grande gestor do bem-estar social da coletividade e, por isso, será “culpado” pelas explosões de violência . Da mesma maneira, o Estado é “acusado” por deixar de coibir e de punir corretamente os agentes

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da violência, dentro de uma representação do fenômeno ligada à desordem e insegurança. Ainda com relação às imagens que relacionam violência e abuso de poder, o Estado também é lembrado como ineficiente no sentido não só de formar o seu corpo policial, mas também de não conseguir se fazer presente em determinados espaços sociais, o que promove a proliferação em várias regiões do Brasil do que chamamos de

“estados paralelos”.

E quanto mais a sociedade se sente ameaçada pela violência, mais ela espera – e cobra - do Estado “soluções” imediatas e definitivas para o fenômeno da violência, como se este estivesse fora de seus limites. O modo como a sociedade se expressa através de movimentos sociais pela “paz” e contra a violência revela como grande parte das pessoas se sentem acuadas e com medo diante das várias manifestações da violência.

Não que elas tenham vivido tantas experiências diretas com a violência. Para uma parcela significativa da população, a compreensão do fenômeno está sujeita à mediação dos meios de comunicação e como esses meios representam a violência, seus agentes e conseqüências. Expostas a um número de manifestações da violência bastante grande, a sensação de medo nas grandes cidades aumenta mais na proporção do grau de percepção simbólica do fenômeno pelas pessoas do que pelo aumento efetivo dos índices de homicídio registrados em todo o Brasil. Vejamos quais são os reflexos desse medo sobre a sociabilidade e como ele é “alimentado” pelas representações da violência na mídia.

Conforme ressaltado antes, o idéia do outro se torna também sinônimo de medo. E essa experiência do medo é o tópico que buscaremos aprofundar. Veremos como esse medo pode deixar de ser uma experiência individual e subjetiva para se tornar um comportamento coletivo e como as imagens da violência na mídia podem reforçar tanto uma sensação de insegurança quanto uma permissão para a implantação de políticas de repressão e punição mais severas para os supostos agentes da violência.

1.5 - A cultura do medo

Em uma sociedade hierarquizada como a brasileira; em que o reconhecimento social de cada um está pautado pela posição ocupada e pelos privilégios que essa posição lhe confere – e não pelos direitos civis, o outro aparece cada vez mais distante e “perigoso”,

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pois ele é apresentado sempre como ameaça à idéia de ordem que sustenta a sociedade brasileira. A reação mais comum frente a esse iminente “perigo” representado pelo outro é o medo. Principalmente quando a imagem do outro aparece nos meios de comunicação, na maioria das vezes, associada às representações da violência, da morte, da injustiça, da frieza e da maldade. Esse medo, como veremos a seguir, não tem reflexos somente na experiência individual dos moradores dos grandes centros urbanos hoje no Brasil; ele é um operador simbólico que atua na reiteração de representações sociais e como catalisador de práticas sociais como a exclusão, a repressão policial, a suspeita e a desconfiança, que podem até não se realizarem no cotidiano dos agentes sociais, mas, com certeza, recebem sua aprovação – ou, pelo menos, sua conivência.

Observamos, então, que uma das conseqüências do modo de “enunciação” proposto pelos meios de comunicação sobre a violência – pautado pelo maniqueísmo, espetáculo, sensacionalismo, entre outros artifícios narrativos - é a proliferação daquilo que Luiz Eduardo Soares chama de a “cultura do medo, ou as formas de percepção e de representação social da delinqüência, do crime, da violência, dos delitos, dos riscos”.

“Chamo cultura do medo a tendência de homogeneizar as observações relativas a fenômenos associados à violência.

É a tendência que se impõe, hoje, no Rio de Janeiro, de associar todos os fenômenos que podemos qualificar , de alguma forma, como violentos a um mesmo e único processo, cuja matriz, simbolicamente compartilhada, seria a decadência da cidade.”(SOARES, 1994/1995: 17 e 18)

A propagação da cultura do medo se apresenta enquanto “experiência total, holística:

realidade vivida que se dá através da mediação (grifo nosso) das interpretações e dos investimentos de sentido”. Sua hipótese, referenciada pela análise dos registros de crimes no Estado do Rio de Janeiro, indica que, apesar a estabilização do número de homicídios desde 1991, há uma impressão geral de uma falência da sociabilidade caracterizada, sobretudo, pela ampliação dos índices de criminalidade. Esse contraste entre a situação real e a percepção generalizada do fenômeno da violência se deve, segundo o autor, a dois fatores principais:

“(...) a escala - ultrapassado determinado nível quantitativo, a incorporação ao universo das vítimas passa

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a depender de fatores diferentes, quanto à qualidade sociológica, daqueles que tradicionalmente confinam a dinâmica delinqüencial a certos limites - e a politização do debate público sobre a segurança, o que implicou na reapropriação da temática pela mídia, sob a forma do espetáculo ou de jornalismo-espetáculo. Há um contraste, portanto, entre as informações mais objetivas, relativas a essa forma de criminalidade, e a percepção generalizada.”(SOARES, 1994/1995: 17)

Rossana Reguillo também discute a questão do medo tendo em vista as representações sociais construídas em torno do sentimento de insegurança comum aos habitantes dos grandes centros urbanos. A autora tem como objetivo “pesquisar as representações sociais, multiplamente mediadas, de determinados atores para tentar distinguir (...) as imagens que ativam nos habitantes urbanos o medo, o temor e a recusa a priori (...)”.

Para alguns atores entrevistados pela pesquisadora, o medo se transforma, inclusive em operador simbólico, que define atitudes e ações nas cidades. E apesar de tratar de atores e espaços do México, podemos observar uma série de semelhanças com a situação brasileira.

Também essa autora enfatiza que à percepção dos fatos da realidade social marcados pela violência são acrescentados outros sentidos, outros significados que por suas características acabam modificando o modo de estar e se relacionar na cidade, de encarar e atribuir à pobreza “um conjunto de atributos”.

“Por exemplo, cresce a exclusão através de mecanismos autoritários e da repressão policial; aumenta a suspeita e a desconfiança como forma cotidiana de vida; diminuem os lugares de sociabilidade e de encontro coletivo, o que deriva em um ‘rebaixamento’ da experiência urbana. (...) Constrói-se assim uma geografia simbólica que prescreve os usos da cidade. O medo se converte em operador simbólico que, a partir de certas crenças, modifica o uso da cidade. São interpretações que dão origem a um horizonte possível de ação. Os elementos objetivos de insegurança (...) são revestidos por um discurso moralizante que busca (e encontra) os ‘culpados’ do caos social” (REGUILLO, 1998: 137 e 138)

O modo como a mídia colabora na proliferação dessa “experiência compartilhada do medo” também é analisado por Solange Luçan no trabalho em que a autora procura,

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com base nas colunas de cartas de leitores de três jornais diários do Rio de Janeiro, idéias e valores predominantes sobre a violência. Luçan toma como pressupostos não só a noção de “cultura do medo”, proposta por Luiz Eduardo Soares, mas também a idéia de um efeito cumulativo na difusão da violência pela mídia, que provocaria e ampliaria a sensação de medo entre os cidadãos. Esse “efeito cumulativo” corresponderia ao

“efeito cultivação” proposto por Gerbner e Gross, e resgatado por Nancy Cardia. Trata- se de

(...) um efeito somatório: o fato de se ver muita violência, muitos crimes reportados, leva a se desenvolver um certo medo e uma espécie de pânico de ser vítima daquilo. Isso leva a audiência a ser muito mais defensora de políticas do tipo lei e ordem etc.” (CARDIA, 1994/1995:71)

A esse respeito, Luçan explicita muito bem a relação entre o medo, a sensação de ameaça e insegurança, que também são difundidos pela mídia - e o modo como o fenômeno da violência é encarado pelos agentes sociais e como esses agentes passam a se posicionar frente a ele. Dessa maneira, o medo se transforma em atitude, em experiência e fonte de imagens e conceitos sobre a violência, seus agentes, seus espaços e soluções.

“Este medo perde o seu caráter apenas privado e alcança uma dimensão social quando passa a legitimar estratégias de intervenção em relação à violência, implicando em medidas associadas a formas de manutenção da ordem pública”(LUÇAN, 1995-1996: 125)

A experiência do medo nos parece marcante hoje dentro da análise do fenômeno da violência nas grandes cidades brasileiras e está relacionada ao modo como as pessoas compreendem a violência e a que valores estão associados às suas manifestações. Na verdade, o medo pode traduzir um pouco da incompreensão e dificuldade com que as pessoas lidam com a violência, com seus agentes e conseqüências. E o que é difícil compreender, geralmente, tende a ser afastado. As imagens com as quais os meios de comunicação representam a violência não contribuem para uma compreensão mais complexa do fenômeno e tendem a identificá-la com ocorrências provocadas pelas franjas enfraquecidas e anônimas do corpo social.

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“É como imaginar que se encontram, nas supostas ‘margens sociais’, os acontecimento que traduzem experiências menos normatizadas e mais timidamente recortadas por valores consensuais. Os esforços de manutenção da estabilidade social produzem cidades e redes de sociabilidade ‘maquiadas’ de ordem e segurança.” (DIÓGENES:

2000: 82)

Desse modo, podemos dizer que o medo coletivo que envolve o fenômeno da violência hoje também tem suas raízes na forma de apreensão da violência – tomada enquanto fenômeno bizarro, de imprevisível, de exceção. A violência, como um corpo estranho, assombra a sociedade, mas, por outro lado, cumpre suas funções ao justificar uma série de posturas, preconceitos e segregações tanto espaciais quanto simbólicas dentro das grandes cidades.

“A crença recorrente é que a violência é um fato imprevisível, que ataca de surpresa e muda a (pretensamente estável) rota dos acontecimentos. Esse imaginário de uma violência exterior, em relação que se projeta como sendo a essência da vida social, pontua, de modo geral, o imaginário de produções que gravitam no campo da violência. Essa visão, que vamos denominar de ‘violência vinda de fora’, tem se alicerçado na crença que a ordem e o equilíbrio são estados a serem atingidos em sua plenitude, sendo muitas vezes dificultados por práticas incontidas de violência” (DIÓGENES, 2000:

77)

Veremos que o imaginário sobre a violência desfilado pelos meios de comunicação é, muitas vezes, insuficiente para a construção de uma cadeia de sentidos linear e coerente com os valores da sociedade. Enfim, uma gama de significados que cumprem uma função “tranquilizadora” com relação à violência.

1.6 - Violência e dualismo

Através do caminho percorrido até aqui por este trabalho podemos perceber o caráter contraditório e circular do modo de apreensão do fenômeno da violência no Brasil, que é explicitado pelas imagens e pelos discursos dos diversos agentes sociais que aparecem na mídia em torno das manifestações da violência. Isso acontece porque os agentes da violência também são percebidos como vítimas do sistema, o que estabelece uma dualidade em torno das imagens do fenômeno. Esse caráter é dualista porque, de um lado, há uma imagem ligada a um discurso moralizante segundo o qual a violência corresponde a um mal a ser extirpado da sociedade, bem como seus agentes. Nessa imagem, a motivação ligada às diversas manifestações da violência estaria relacionada à

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“pura expressão da irracionalidade, da ausência de domínio do ser humano sobre suas pulsões, seus desejos” (DIÓGENES, 2000: 58). Ligados a essa imagem da violência aparecem todos os discursos relacionados com a aprovação de leis e formas de punição mais severas, bem como à necessidade de um aparato cada vez maior de segurança pública e privada, o que revela um tratamento judiciário da violência.

Essa imagem do fenômeno coincide com um dos modos de compreensão da violência definidos por Roberto DaMatta em “Raízes da Violência no Brasil”. Segundo o autor, essa imagem possui relação com o discurso do senso comum ou popular sobre a violência. Tal abordagem está baseada na experiência diária das pessoas e define a violência não como um processo de resposta a uma estrutura da sociedade, mas como um mecanismo, ou seja, um meio pelo qual se pode fazer aquilo que se deseja, mesmo que para se alcançar tal objetivo, as conseqüências passem pela destruição do espaço moral do outro. A imagem da violência neste caso é uma briga, uma agressão. Aqui, a noção do que é violento ou agressivo está relacionada com a maldade humana, ou ao uso da força (DA MATTA, 1982: 24).

Em uma segunda imagem, a violência aparece como a conseqüência mais “explosiva”

da injustiça social. Fruto das desigualdades sociais, do desemprego, da má distribuição de renda e da falta de oportunidades, as manifestações da violência podem ser compreendidas como mecanismos de afirmação de identidades e de busca por reconhecimento social por parte dos agentes sociais, em sua maioria, excluídos da condição de cidadania. Diferentemente da primeira imagem, essa abordagem do fenômeno lida com a violência como um problema social a ser tratado através de políticas públicas e programas ligados à promoção da justiça social, à distribuição de renda, à reabilitação da auto-estima e da identidade dos agentes ligados à violência, entre outros aspectos ligados ao exercício da cidadania plena no Brasil e não só através do reforço dos órgãos de segurança pública. Essa imagem da violência aparece nos meios de comunicação e especialmente na televisão, sobretudo, através de documentários ou produtos em formatos diferenciados da cobertura jornalística diária.

Nesse caso, DaMatta aponta que essa imagem privilegia um discurso legalizante em que os conflitos e desigualdades entre as classes sociais são expostos como grande motivação para as diversas manifestações violentas existentes na sociedade. O

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fenômeno da violência, desse modo, estaria ligada às contradições do sistema social.

Trata-se do que DaMatta chama de “discurso teórico erudito”, que associa violência à noção de poder e a uma sociedade estratificada entre dominantes e dominados.

O caráter contraditório desses modos de percepção da violência no Brasil – que ora atribuem as motivações da violência à atuação de indivíduos, ora creditam a violência à anomia do sistema social, mas que acabam por suscitar reações próximas e problemáticas de distanciamento e proteção – vem justamente do paradoxo entre uma visão absolutamente moralista do fenômeno e outra que, de certa forma, consegue observar uma certa positividade das manifestações da violência, na medida em que estas trazem à tona – inclusive através da mídia – uma série de conflitos sociais que, na maior parte das vezes, passa despercebida pela opinião pública. Através da publicização da violência, a opinião pública pode exigir mudanças e providências, principalmente do poder público que, por mais insuficientes que sejam, lançam uma luz sobre toda uma parcela da população brasileira que vive sob a sombra da invisibilidade diante do resto da sociedade.

“(...) assim como o poder, a violência não apenas diz ‘não’, mas evidencia demandas sociais de reconhecimento de diferenças, formação de redes de sociabilidade e de ‘micropoderes’, de práticas de

‘sociabilidade fechada’, deixando muitas vezes, atrás de si, marcas de sangue e lágrimas” (DIÓGENES, 2000: 89)

O caráter positivo da violência parece muito claro principalmente em um país como o Brasil, onde os conflitos sociais já são por demais negados e/ou camuflados. Porém, ao apresentarmos os traços de positividade percebidos nas manifestações da violência não pretendemos encobrir o caráter destrutivo do fenômeno, principalmente quando se leva em conta os diversos tipos de violência. Nossa discussão neste momento do trabalho diz respeito a noções maniqueístas, desagregadoras, simplistas e discriminatórias – como as que incutem a fonte dos atos de violência à índole das classes sociais menos favorecidas, dos negros ou das pessoas residentes em determinadas áreas nas cidades – que, na opinião pública, nos meios de comunicação e até nas ciências sociais, estão vinculadas ao fenômeno da violência, mas, em momento algum, são questionadas. São noções que norteiam o modo como a violência é percebida e pesquisada e que, naturalmente, influenciam toda a compreensão da dinâmica social. Ao confrontarmos diferentes modos de percepção da violência, como os apresentados por Da Matta, e

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