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Pedagogia Freinet escola popular com bomsenso

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Academic year: 2018

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PEDAGOGIA

FREINET

-

ESCOLA POPULAR

COM

BOM-SENSO

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Arlete Azevedo de Oliveira

No século XIX, por imposição do capitalismo, a escola

pú-blica francesa estava voltada para as necessidades econômicas. Para

atendê-Ias era necessário que o operário aprendesse a ler, escrever

c contar, habilitando-se, assim, a lidar com a moderna maquinaria.

Entretanto, os acontecimentos de 1914-18 fizeram com que o

povo começasse a lutar por uma educação que atendesse as suas

necessidades específicas.

Foi como professor de uma escola pública francesa, convivendo

com crianças, filhos de proletários, conhecendo as dificuldades e

limitações do meio em que vivia e de sua escola, situada numa

aldeia pequena, Bar-sur-Loup (Alpes M arítimos), que Célestin

Frei-net começou a estudar a possibilidade de deixar de lado toda a

tradição escolar e partir para uma escola popular que desse uma

formação às crianças, que questionasse o mundo atual, ou seja, as

formas sociais do presente, para transformá-Ias a partir daí.

Freinet observou a criança convivendo com realidades

diferen-tes, vivendo em contato com a natureza, seja nos campos ou na,

ruas, vivendo em família, onde o pai ou a mãe não admitem muita

espontaneidade. Partindo do princípio de que a criança oEDCBAI I I I

parte de sua vida na escola e percebendo quão distante a '0 1 1 1

estava da vida, deu-lhe nova dinâmica, renovando-a, modcrnizundo /I

e transformando-a. Isto foi feito de maneira equilibrada 1 1 1 1 1 1 1 1 \

nica " ... libertando as crianças da autoridade irracional do " l l I l h l ,

indicando-lhes os caminhos do desabrochar individual ( l rl, I

sociando todas as questões pedagógicas aos grande J)rohh 1 1 1I l i ,

homem e atribuindo de novo à nossa ação social pul II I

lugar de primeiro plano nas preocupações educativu" I )

1 - FREINET, C.

HGFEDCBA

a p u d Freinet, E , N a s c i m e n t o d e 1111111 /' 'tI"'fI , I "I'

I

Editorial Estampa, 1978, p. 171.

(2)

Para Freinet, pouco significado tinha o ensino tradicional

idea-lista, quando a sua clientela era constituída por crianças

pertenceu-1~S às famílias de baixa renda, realidade, por conseguinte, não

con-dizente com o contexto social em que viviam essas crianças. Ao

trabalhar com esse fato, o autor fala-nos dos problemas

enfrenta-dos no dia-a-dia: ... "estamos em presença de crianças que muitas

vezes precisam mais de pão ou de roupas do que serem

empan-turradas com conhecimentos; as condições materiais são quase

sempre deploráveis; enfim, a vida anormal e imoral que nos rodeia

há de fatalmente contrariar os nossos esforços". (2)

Face a esta problemática, Freinet colocou na vida escolar todos

os problemas sociais que encontrou e estudou, tanto as realizações

pedagógicas quanto os problemas materiais e sociais que

condicio-nam estas realizações.

A implementação desta prática numa escola popular exige

também a introdução de novas técnicas de trabalho, por meio das

'l:uais a. crianç~ é orientada p~ra um interesse educativo e uma

prá-tica SOCIalmotivada. O envolvimento da criança, dos pais, dos

edu-cadores é condição "sine qua non" para a realização de uma tarefa

educativa de cujo alcance libertador têm de estar cientes para

pro-mover uma luta em todos os domínios: social, sindical e político,

transformando assim a sociedade.

Segundo Freinet pouco importa a existência de escolas bem

equipadas e ótimas construções em edifícios modernos se não é

permitido o acesso dessa clientela.

Todavia, não é só freqüentando-as que essas crianças têm seus

problemas solucionados. A escola popular não pode basear-se nos

moldes de uma escola burguesa, mesmo que tenha sido renovada

t. liberta de seus tradicionalismos, porque, apesar de se propalar

a escola como um lugar de equalização, ela reproduz no seu

dia-a-dia, a desigualdade social. '

Nas sociedades pré-capitalistas, tanto na escravagista quanto na

feudal, as classes. dominadas não foram capazes de entender porque

ocu-,?avam determinado lugar nas relações sociais de produção.

Con-seqüentemente, não percebiam que seus interesses eram opostos aos

interesses de outras classes.

Por isso, as concepções das classes dominantes foram

assimila-das com~ sendo as únicas e verdadeiras concepções da realidade.

Isso serviu para acentuar e consolidar cada vez mais a divisão do

trabalho. Essa divisão numa sociedade capitalista é acentuada:

le-vanta-se a questão do predomínio das aquisições técnicas sobre os

eleme~tos culturai~ ~e!ais. Ne.stas sociedades, há um

aprofundamen-to maior de tal divisão, servindo para explicar o fato as

chama-2 - Id.,

HGFEDCBA

I b i d . , p. 106.

EDCBA

E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t . ( 1 0 ) J u l h o / D e z e m b r o : 1 9 8 5

102

das tarefas de ordem ideológica, política ou econômica,

d

ue

co~-põem a estrutura social. Essas tarefas são desempen~adas e ~~~r;,0

com a condição do indivíduo na sociedade e constltuem a IVIsao

do trabalho. (3) . b lh . t 1 t al

A divisão entre o trabalho material e o tr~ a o m,e ec ~ .

di . - . 1 d t balho O ingresso as

atívi-proporcionou esta ivisao SOCIa o ra. .', tes às

àades intelectuais está reservado aos [ndivídues pertencen

classes dominantes. . . . 1m t

Para Engels, "ao dividir o trabalho, dIv,lde-se Ig~a en, ~ o

homem sendo todas as outras potencialid~d~s lllte~ec.tu~!S4e flsIcas

sacrificadas ao aperfeiçoamento de uma atl~ld~~e umca . ( ) . _

Diante dos fatos, a distribuição dos llldlV:duos. de um~ socie

dade na ocupação de determinadas tarefas nao dIZ respeito. ~os

critérios técnicos, por exemplo, o prep.aro I?elhor ou uma apl~~ao,

mas a critérios sociais. Na verdade, ISSOe um problema ~o I ICO.

< \. escola concede aos herdeiros da burguesia um ciclo formativo que

tem como suporte uma realidade sócio-cultural capaz de manter a

situação vigente, ou seja, de dominação. .,

-Para as outras classes, a sociedade impõe uma esp~clahzaçao

técnica, definida pelas suas próprias necessld~des seI?- ~e~ar~lhes a

ossibilidade de uma escolha, somando-se a ISSO a Justlflcatl~a .d~

~ue essa desigualdade é imposta pela natur~z.a e nao ~~los

indiví-duos que compõem as outras camadas SOCIaIS.Consequentemenle,

não vale a pena rebelar-se. _ "

-Englobando e harmonizando preparaçao tecmca ~ formaçao

moral e social a pedagogia Freinet faz com que as cnanças

co;-preendam, refÚtam e julguem a condição e ~ vida .que as circun ~.

Um dos aspectos básicos dessa pedagogía consl~te ~~

preocupa-ção do professor em conservar todo o entusiasmo llldlVldual e so:

cial do aluno, para garantir as realizações futuras: ?utra tarefa ~

admitir que os alunos tenham acesso a todas as at~vldades

educatl-vas que se adaptam à sua possibilidade. Além dlSS,O,o profes~o.r

deve estudar atentando para a técnica q~e torna. p~sslvel essas

ativí-àades, encerrando uma disciplina pelo fim a atingir. _ ..,

Na sua pedagogia, Freinet nos mostra as duas funçoes pnncipais

da escola. A primeira diz respeito ao trabalho executa?~ d~ modo

inteligente e com eficiência de forma a atender as eXl?enclas e as

necessidades do indivíduo. A segunda fala-nos do ~nV?I~lmento

cons-tante deste indivíduo no contexto social, o qual ~ VIVIdo na esc \0

acenando para as suas contradições. Neste s~ntldo, a pre~.aro~uo

técnica complementará a formação moral e SOCIale esta a p r r m iru.

3 _ Cio HARNECKER. M . Os C o n c e i t o s E l e m e n t a r e s do M a l ' r l l l l h / l / o /11.\

t á r i c o São Paulo, Global Editora, 1981. .' •. _ DÁ.NGEVILLE Roger (org.) C r í t i c a d a E d u c a ç ã o c ~I() l~/I~/II(I. 1 t o

4 d~ Karl M arx ~ Priedrich Engels. Lisboa, M oracs EdllOI"S. IIJ7I!, p. i u

E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t . ( 1 0 ) J u l h o / D e z e m b r o : 1 9 8 5

(3)

Entre os educadores da época de Freinet hávia divergências com

relação a essa problemática. Os educadores concentravam sua

aten-ção a nível de superestruturas (5) ideológicas e afirmavam que uma

mudança de regime político era indispensável à transformação da

escola. Colocavam, assim, em causa as infra-estruturas (6) da

socie-dade e não as da escola. Essas não são por eles, necessariamente,

contestadas. Freinet, diferentemente, apoiava a sua reflexão sobre

as infra-estruturas do sistema educativo.

Para ele a pedagogia não pode se restringir a palavras ou a

escritas, mas, encontra-se materializada em utensílios, técnicas,

es-truturas e instituições.

Esse materialismo escolar lhe permite, ao mesmo tempo,

questio-nar a pedagogia no interior da escola e em contato com a vida

dos seus alunos fora dela, adaptando-a às necessidades concretas dos

indivíduos e ajudando-os a serem autônomos, conscientes de sua

própria força, independentes, enfim, responsáveis pelas suas vidas e

sua história.

Entretanto, vale ressaltar que todos esses questionamentos devem

ter por base uma reflexão profunda da realidade em que se vive,

indo-se à origem dos erros e das verdades.

BIBLIOGRAFIA

DANGEVILLE, Roger (org.).

HGFEDCBA

C r í t i c a d a E d u c a ç ã o e d o E n s i n o . Textos de Karl M arx e Friedrich Engels, Lisboa. M oraes Edit., 1978.

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----o

P e d a g o g i a d o B o m - S e n s o . 2.' ed. Santos, M artins Fontes, Editora, 1973.

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FREINET. Elise, N a s c i m e n t o d e u m a P e d a g o g i a P o p u l a r . l.isboa, Estampa, 1918.

----o

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HARNECKER, M arta. Os C o n c e i t o s E l e m e n t a r e s d o M a t e r i a l i s m o H i s t ó r i c o .

São Paulo, Global Editora, 1981.

EDCBA

5 - Entende-se por "Superestrutura as instituições jurídico-políticas, Estado, direito, etc., e as 'formas da consciência social' que correspondem a uma infra-estrutura". M arx e Engels a p u d Harnecker, M . Os C o n c e i t o s E l e -m e n t a r e s d o M a t e r i a l i s m o H i s t ó r i c o . - o p . c i t . , p. 91.

6 - Entende-se por lnfra-estrutura as condições econômicas pelas quais a sociedade se rege e pelas quais se explica o funcionamento da estru-tura dessa sociedade.

Id., i b i d .

Referências

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