ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina
Realização:
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PRÓXIMA
APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS COMO META PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SETOR MOVELEIRO DO ESTADO DO PARÁ
Nubia Suely Silva Santos Leandro Frazão Lopes Bruno do Nascimento Dias
APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS COMO META PARA
O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SETOR
MOVELEIRO DO ESTADO DO PARÁ
Nubia Suely Silva Santos2 Leandro Frazão Lopes3 Bruno do Nascimento Dias4
RESUMO
Os novos conceitos existentes atualmente sobre a manutenção da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável, incluem a necessidade de uma utilização racional dos recursos naturais, principalmente no que diz respeito aos recursos madeireiros da floresta Amazônica. O aproveitamento de resíduos e o melhor aproveitamento das matérias-primas extraídas da floresta são colocados como metas a serem atingidas para o desenvolvimento sustentável do Estado do Pará, principal exportador de produtos serrados e manufaturados de madeira tropical, segundo a AIMEX - Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará e Amapá. Como uma das atividades mais produtivas do Estado do Pará, com grande influência no custo de vida doméstico e na geração de emprego, a indústria madeireira e de mobiliário do Estado, dependem exclusivamente das reservas de madeiras tropicais existentes na floresta Amazônica. Este trabalho propõe-se a fazer um estudo do ciclo de vida da madeira, desde a extração de matéria-prima na floresta, até a transformação da mesma em insumos e produtos acabados, mostrando os diversos tipos de resíduos que são gerados a cada etapa. Através do DEPROMA – Núcleo de Desenvolvimento de Produtos com Materiais Amazônicos, da Universidade do Estado do Pará, são pesquisadas alternativas de novos produtos a serem desenvolvidos com os resíduos de madeira, agregando tecnologia e design.
Palavras-chave: resíduos de madeira, indústria de móveis, desenvolvimento de produtos
2
Especialista em Design de Mobiliário, Universidade do Estado do Pará 3
Graduando em Design, Bacharelado, Universidade do Estado do Pará 4
1. INTRODUÇÃO
Segundo o Banco Amazônia (Balanço Social 2002, p.05), 21 milhões de seres humanos habitam a parte condizente à Amazônia. “A aceleração tecnológica, a pressão demográfica, o acentuado processo de urbanização e a intensificação da exploração dos recursos naturais agudizaram a degradação ambiental” (MOREIRA, 1993, p.47), o que a médio e longo prazo pode comprometer a qualidade de vida nas comunidades amazônicas. Até pouco tempo atrás, o homem amazônico utilizava os recursos madeireiros sem se dar conta de suas limitações e do impacto que isso causava ao meio ambiente, preocupando-se apenas com o lucro do comércio de madeira tropical (nativa). A respeito disso, Comune (1994, p. 98), ressalta que: “se no passado a economia condicionou a utilização do meio ambiente sem se preocupar com a degradação e exaustão de seus recursos, atualmente parece ser o meio ambiente que deve condicionar a economia”.
O conceito de desenvolvimento sustentável procura estabelecer o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, preservação do meio ambiente e eqüidade social, é uma meta que vem sendo perseguida pela comunidade científica brasileira. Para um Estado amazônida como o Pará, o desenvolvimento sustentável questiona o problema de como conseguir desenvolvimento econômico sem a degradação dos recursos da floresta Amazônica, entre eles a madeira tropical, matéria-prima intensamente explorada e exportada desde os tempos da colonização. Segundo Leripio (1996, p.2):
“Dois aspectos que compõem o conceito de desenvolvimento sustentável são de vital importância para a compreensão do tema: as necessidades, que são variáveis mas que devem ser satisfeitas para assegurar as condições essenciais de vida, e as limitações, que reconhecem a necessidade da tecnologia desenvolver soluções que conservem os recursos limitados atualmente disponíveis e que permitam renova-los.”
A extração de madeira feita pelas serrarias clandestinas, geralmente segue um padrão desordenado, tendo como conseqüência, além da rápida devastação, o abandono de toras devido à inadequação para comercialização. As toras abandonadas e outros pedaços de árvores originados pela atividade de extração da madeira, são considerados resíduos do desflorestamento. Como diz Vidal (1997, p.5): ”a extração não-planejada e o processamento ineficiente das toras conduzem à degradação da floresta e a significantes desperdícios de madeira”.
Uma vez beneficiada, a madeira é exportada na forma de produtos com baixo valor agregado, como tábuas e painéis, ou se transforma na principal matéria-prima para a indústria moveleira do Estado, originando produtos acabados: móveis, artefatos, esquadrias. Também nessa etapa há uma grande geração de resíduos, muitas vezes ocasionada pela falta de planejamento no corte das peças, ou utilização de equipamentos inadequados e obsoletos, fatos que reduzem o aproveitamento da madeira em até 60%. Nesse sentido, Leripio (1996, p.3) diz que: “o reaproveitamento de resíduos e o melhor aproveitamento das matérias-primas são vistos por
especialistas como as únicas saídas para a continuidade do processo tecnológico já implementado [...]”
Neste trabalho é mostrado como desenvolver produtos utilizando os resíduos da indústria moveleira, com o objetivo de agregar valor a pequenos pedaços de madeira através de tecnologias apropriadas e design, tendo como conseqüência o aumento da produtividade do setor, assim como geração de renda e emprego.
2. METODOLOGIA
No início da pesquisa, a consulta a dados estatísticos foi fundamental para diagnosticar a atual situação do setor moveleiro do Estado na questão de resíduos e reaproveitamento da madeira. Numa segunda etapa, um breve estudo de caso mostra um exemplo de aproveitamento de resíduos de várias espécies de madeira, feito por um artesão que desenvolve pequenos artefatos utilizando resíduos de movelarias.
No Núcleo de Desenvolvimento de Produtos com Materiais Amazônicos (DEPROMA), é utilizada metodologia baseada na análise do ciclo de vida do produto madeireiro como ferramenta para o desenvolvimento de produtos utilizando resíduos de madeira:
• Obtenção da Matéria-prima – a madeira utilizada para execução dos protótipos é proveniente da coleta feita em serrarias e movelarias da Região Metropolitana de Belém(RMB), e que são parceiras do DEPROMA; • Planejamento do produto – a equipe de projeto classifica os resíduos de
acordo com o tamanho, cores e espécies, gerando informações para a fase de projeto;
• Projeto – são geradas várias alternativas de projeto de pequenos artefatos em função da mistura de cores de madeira;
• Produção - os protótipos dos produtos são executados pelo Laboratório de Modelos do Centro de Ciências Naturais e Tecnologia da Universidade do Estado doPará.;
• Marketing – os protótipos participam de exposições do setor moveleiro, quando são exaltados seus valores de produto “ecologicamente correto” , economicamente viável e socialmente justo.
A metodologia da análise do ciclo de vida permite a agregação de valores ambientais através da redução de resíduos e uso racional de matéria-prima, e valores sociais, trazendo novas oportunidades de geração de renda e emprego a partir do desenvolvimento de novos produtos .
3. RESULTADOS
É importante perceber que no setor moveleiro a cultura de reaproveitamento ainda
Tabela 1 – Destino dos Resíduos
é insuficiente: segundo o Diagnóstico do Setor Moveleiro do Estado do Pará (2002, p.37), 68% dos representantes do setor descartam seus resíduos, deixando de destinar ao reaproveitamento (tabela 1).
Tipo de Destino Abs. %
Comercializa 5 10
Descarta 34 68
Doações 1 2
Reaproveita 32 64
Fonte: Diagnóstico do Setor Moveleiro do Estado do Pará
Em alguns casos, a falta de planejamento no processo de produção aparece como
Tabela 2 – Desenvolvimento do Produto na Fábrica
responsável por possíveis desperdícios de matéria-prima gerando um dos problemas mais graves para o setor: a escassez cada vez maior de madeira devido à sua utilização irracional. A Tabela 2 mostra que o desenvolvimento do produto nas movelarias é feito de modo empírico, fato que pode ocasionar o desperdício de matéria-prima e a falta de qualidade do produto final.
Tipo Abs. %
Departamento de Projeto 5 13,2
Desenhista 6 15,2
O dono elabora o modelo 27 71,5 r Movele o Estado rá
m algumas movelarias, o reaproveitamento dos resíduos é feito internamente na fa
ntido de se diminuir o despe
de resíduos é o trabalho desenvolvido pelo artesã
Fonte: Diagnóstico do Seto iro d do Pa
E
bricação de peças complementares e/ou pequenos artefatos de madeira (Diagnóstico do Setor Moveleiro do Estado do Pará, 2002, p.37).
Atualmente, nota-se uma tendência cada vez maior no se
rdício durante o processo de fabricação de produtos de madeira, e, principalmente, na recondução dos resíduos à cadeia produtiva como forma de se alcançar mais produtividade para o setor.
Um ótimo caso de aproveitamento
o Cláudio Sobral, que, a partir da coleta de matéria-prima (resíduos de madeira) feita em movelarias, executa pequenos artefatos com alto valor agregado. Em sua oficina no município de Ananindeua, na RMB, ele estoca e seleciona a matéria-prima: pequenos pedaços de madeira de várias espécies, como roxinho, acapú, ipê, tauari, maçaranduba e macacaúba, entre outras. Utilizando várias espécies e cores ele produz
bijouterias (pingentes para cordões, anéis, pulseiras), que podem custar até R$ 100,00 (cem reais) a unidade (tabela 3).
Tabela 3 - Evolução da Matéria-prima/Produto acabado
Fase1 Matéria-Prima Coletada Resíduos de madeira Fase2 Padronização Agregação de tecnologia Fase3 Produto Acabado Agregação de design
Fonte: DEPROMA – Núcleo de Desenvolvimento de Produtos com Materiais Amazônicos
No DEPROMA, os resíduos de madeira são obtidos por meio de parcerias com movelarias da RMB, os quais fazem a doação de seus resíduos. A equipe de projeto seleciona as espécies a serem utilizadas , e os protótipos dos novos produtos são executados no Laboratório de Modelos. Nas Figuras 1 e 2 são mostrados protótipos de artefatos feitos com os resíduos de madeira. O chaveiro Arumã (figura 1) utiliza o ipê _ espécie dura e escura, e agrega um trançado de fibras vegetais feito por comunidades ribeirinhas como forma de dar identidade regional ao produto. A bandeja Luffa-Tembiú
utiliza o marupá _ espécie macia e clara, e combina fibras da Luffa cylindrica (esponja vegetal) tingida em três tons.
Fig.1 - Chaveiro Arumã Fig.2 - Bandeja Luffa-Tembiú Fonte:idem Fonte:idem
O design identifica as necessidades dos consumidores (pesquisa de mercado) e projeta aliando os fatores produtivos, monitorando os produtos, até a implantação no mercado através de uma metodologia, gerando maiores possibilidades de sucesso.
4. CONCLUSÃO
Conceitos como o aproveitamento de resíduos e o desenvolvimento sustentável, fazem parte da nova consciência ecológica que está se iniciando no Estado. A preocupação da sociedade científica em relação ao desenvolvimento econômico, preservação do meio ambiente e eqüidade social, se une aos esforços governamentais no sentido de incentivar a indústria de produtos acabados de madeira, aumentando as oportunidades de renda e emprego para as comunidades amazônicas.
A mudança de comportamento nas indústrias do setor moveleiro, se deve em parte à relativa escassez de matéria-prima que faz com que se pesquisem novas tecnologias para diminuição das perdas e recondução dos resíduos à cadeia produtiva. Atualmente o que se tem de concreto é a transformação dos resíduos (pequenos pedaços de madeira), em artefatos de alto valor agregado. Essa transformação, quando feita na própria indústria geradora dos resíduos, ocasiona o desenvolvimento de uma nova linha de produtos _ que não os móveis, abrindo caminho para novas oportunidades de negócios e novos mercados de trabalho.
O DEPROMA, como núcleo de pesquisa, assume sua responsabilidade no contexto de um Centro Tecnológico na Amazônia, incentivando o estudo e a utilização sustentável dos recursos da floresta.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 BANCO DA AMAZÔNIA. Balanço Social. Belém, 2002.
2 MOREIRA, M.T.V. O Direito Ambiental e a Regulação das Forças Produtivas. IN: Análise & Conjuntura, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, Jan/Abril, 1996.
3 COMUNE, A. Evaldo, ET AL. Meio Ambiente, Economia e Economistas, uma Breve Discussão. IN: Valorando a Natureza: Análise Econômica para o Desenvolvimento Sustentável. Editora Campus, 1994.
4 LERIPIO, A. ET AL. Emissão Zero: Um Novo Conceito em Qualidade Total. IN: Encontro Nacional de Engenharia de Produção – ENEGEP, 1996.
5 VIDAL, E. ET AL. Redução de Desperdícios na Produção de Madeira na Amazônia – Série Amazônia, n. 5, Jan. 1997.
6 SECRETARIA EXECUTIVA CIÊNCIA E TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE, Programa Paraense de Tecnologias Apropriadas. Diagnóstico do Setor Moveleiro do Estado do Pará. Belém, 2002.
Utilization of residues as mark for the sustainable
development of furniture sector of State of Pará
The news ideas existents at present about the maintenance of biodiversity and the sustainable development include the necessity of a rational utilization of natural recourses, principally what talk about the wood recourses of Amazon forest. The utilization of residues and the better utilization of raw materials extracted of forest, are to placed as marks to be arrived for the sustainable development of State of Pará, principal export agent of products sawn and manufactured of tropical wood, in conformity to the AIMEX (Association of export industries of wood of State of Pará and Amapá). As one of activity more productive of State of Pará, with big influence in domestic cost of living and on creation of jobs, the wood industry and furniture industry of State depend exclusively of reservations of tropical wood existents on Amazon forest. This labor propose to make a study of life cycle of wood, since the extraction of raw material on forest, until the transformation of this in inputs and finished products, showing the diverse types of residues that are created in each one stage. Through DEPROMA – Nucleus of Development of products with Amazon materials, of University of State of Pará, are research alternatives of news products to be developed with the residues of wood, aggregating technology and Design.
