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ASSÉDIO MORAL NO SERVIÇO PÚBLICO

André Cristiano Girardi1 Ney Felipe Neves2

SUMÁRIO

Introdução. 1 Do Princípio da Dignidade Humana. 2 Da Proteção ao Trabalhador No Meio Ambiente Laboral. 3 Do Assédio Moral. 4 Modalidades de Assédio Moral. 5 Consequências do Assédio Moral. 6 Considerações Finais. 7 Referências Bibliográficas.

RESUMO

O presente artigo tem por objeto o assédio moral no serviço público. Buscou-se analisar as condutas que caracterizam o assédio moral e suas consequências, bem como o tratamento jurídico do assédio moral. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica levando em conta a contribuição de autores como Ferreira (2010), Hirigoyen (2003; 2006) e Minardi (2010), entre outros, procurando destacar a importância do meio ambiente de trabalho saudável, bem como da proteção da dignidade do servidor público, tendo em vista as consequências do assédio moral não somente para o indivíduo assediado, mas para a sociedade como um todo.

Concluiu-se que o assediador enquanto servidor público deve não somente ser responsabilizado por danos morais e materiais na esfera civil, mas também na esfera administrativa, por meio de punição disciplinar.

Palavras-chave: Serviço Público. Servidor Público. Dignidade Humana. Assédio Moral. Ambiente de Trabalho.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema o assédio moral no serviço público, parte-se da ideia de que o cuidado com o ambiente do trabalho para os servidores públicos envolve também aspectos psíquicos e não somente físicos. O assédio moral causa dor e ofensa aos bens imateriais e personalíssimos do servidor público, à sua dignidade, sua honra, sua boa fama, sua reputação, enfim ao patrimônio moral do indivíduo enquanto pessoa humana.

1 Acadêmico do 10º período do Curso de Direito da UNIVALI, período noturno, campus II, Balneário Camboriú.

2 Professor dos Cursos de Direito, Comércio Exterior, Logística e Gastronomia da UNIVALI.

Advogado Empresarial. neyneves@univali.br

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Nesta perspectiva, o trabalho se desenvolve a partir das seguintes questões:

• Quais são as condutas que caracterizam o assédio moral no serviço público e suas consequências?

• Quais são os fundamentos da proteção contra o assédio moral?

No texto constitucional brasileiro foi consagrado o princípio da Dignidade da Pessoa Humana. O referido princípio encontra-se previsto no art. 1º, III da Constituição Federal, constituindo um dos valores morais e supremos inerentes à pessoa humana. Destarte, observa-se que em relações nas quais se observa um desequilíbrio de poder significativo, a violação à dignidade da pessoa humana apresenta maior probabilidade de ocorrer.

Dentre as formas de violação à dignidade da pessoa humana em relações de desequilíbrio de poder entre as partes, pode-se citar como exemplo o assédio moral, objeto do presente estudo. Daí a importância de se investigar a ocorrência de assédio moral no serviço público e os instrumentos legais de proteção do servidor público contra a ocorrência do mesmo.

Neste contexto, o escopo do presente artigo é, pois, analisar os impactos que o assédio pode provocar na vida pessoal, familiar e na saúde do servidor público, os aspectos legais e jurídicos envolvidos nesse fenômeno e o que diz a legislação brasileira.

Para alcançar os objetivos propostos, a metodologia do estudo consistiu numa abordagem bibliográfica de fontes secundárias, tais como livros de doutrina, artigos, jurisprudência e demais materiais que puderam ser encontrados tanto no modo impresso como eletrônico.

1 DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA

Atualmente, a quase totalidade dos ordenamentos jurídicos dos denominados Estados de Direito reconhecem o ser humano como centro, como fim último da ordem jurídica. Nesse contexto, surge o princípio da dignidade da pessoa humana, que traz em seu cerne a prerrogativa de todo ser humano em ser respeitado e promovido como pessoa e de não ser prejudicado em sua existência3.

3 FIÚZA, Cézar. Curso avançado de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 39.

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Para Barcellos4:

A dignidade da pessoa humana é entendida, neste primeiro momento, como ‘o valor do homem como um fim em si mesmo’. O conceito de dignidade da pessoa humana, ao longo do tempo, assumiu diversos matizes, com avanços e retrocessos.

Nas palavras de Sarlet5:

A dignidade da pessoa humana é a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Quando se fala em direito à dignidade o que se está realmente querendo considerar é o direito ao reconhecimento, respeito, proteção, promoção e desenvolvimento desta dignidade.

De acordo com Nunes6, a dignidade da pessoa humana constitui o próprio fundamento de todo o sistema constitucional brasileiro e de todos os demais direitos individuais, porque estes se voltam a concretizar o direito de dignidade, cujo conceito foi sendo construído ao longo da história e, hoje, representa um valor supremo do ser humano, absoluto e pleno, não suscetível de sofrer restrições ou relativismos.

Diante do acima descrito, não mais se tolera que o servidor público seja discriminado com fundamento em suas características físicas, sofra qualquer tipo de tratamento desrespeitoso e humilhante, em virtude da prestação de serviço subordinado que exerça, sendo que, uma vez violados direitos fundamentais, se atribui responsabilidade civil e penal aos agressores, por configuração de atos atentatórios à dignidade do servidor público.

4 BARCELLOS, Ana Paula de. A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o princípio da dignidade da pessoa humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 103.

5 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 2002, p. 60.

6 NUNES, Rizzatto. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. São Paulo:

Saraiva, 2002, p. 45.

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2 DA PROTEÇÃO AO TRABALHADOR NO MEIO AMBIENTE LABORAL

Com o avanço das normas de proteção do trabalhador no meio ambiente laboral, evoluiu a valorização do trabalho humano e da pessoa do empregado, ou no estudo em tela, a pessoa do servidor público.

A Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB/88), sob a forma de tutela geral, estabelece no art. 225 que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para às presentes e futuras gerações.

Esse dispositivo constitucional está inserido no Título da Ordem Social da CRFB/88, que no artigo 193 exalta que “a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”, compreendendo a proteção ao meio ambiente, nele incluído o meio ambiente do trabalho.

Nas palavras de Fiorillo7:

(...) a proteção do meio ambiente do trabalho na Constituição se faz presente de forma ‘mediata’ por conta do art. 225 da CF, e que a tutela imediata se faz presente por conta dos arts. 196 e seguintes somado ao art. 7º, que possui dispositivos relativos à tutela da saúde do meio ambiente do trabalho especificadamente.

Assim sendo, verificando a importância do meio ambiente do trabalho, para o exercício do direito a este, não há que olvidar da necessidade de um ambiente equilibrado e saudável para a o exercício de uma vida de forma digna, especialmente ao considerar a importância da saúde do trabalho, para o desenvolvimento deste exercício.

3 DO ASSÉDIO MORAL

O meio ambiente sadio e equilibrado é elementar para garantir a dignidade da pessoa e o desenvolvimento de seus atributos pessoais, morais e intelectuais.

Destarte, não se tem dúvida de que o assédio moral ofende a dignidade do

7 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 71.

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indivíduo, agredindo seus direitos, afetando a sua integridade física e moral, intimidade e privacidade, afastando o assediado do trabalho, o que pode se transformar em problema social ocorrido pelo desemprego forçado.

Muitas pessoas convivem silenciosamente com esse fenômeno que abala a sua saúde mental com medo de perder o emprego, tendo, com isso, sérias consequências em sua saúde emocional, refletindo em seu bem-estar físico, pois as altas taxas de desemprego no mercado de trabalho e a competitividade em que vivemos tornam as pessoas mais inseguras quanto ao seu emprego, e a manutenção deste.

O assédio moral pode ser caracterizado como sendo o resultado da ação de uma chefia, a qual por meio da utilização do exercício de suas prerrogativas passa a expor os seus subordinados a situações humilhantes, constrangedoras, de maneira repetitiva e prolongada no decorrer da jornada de trabalho.

Hirigoyen8 evidencia que o assédio moral no trabalho está ligado a qualquer conduta abusiva em relação a uma pessoa, que possa gerar consequências físicas e psicológicas ao trabalhador, bem como à sua personalidade e dignidade. Em seu estudo, Hirigoyen9 agrupou os comportamentos hostis de assédio, associados ao trabalho, em quatro subcategorias: deterioração proposital das condições de trabalho; isolamento e recusa de comunicação; atentado contra a dignidade; e violência verbal, física e sexual.

Esses comportamentos caracterizam o assédio moral e causam, na vítima, sentimentos de raiva, humilhação e inferioridade, além de minar a sua confiança e de afetar a sua autoestima, sendo, muitas vezes, de difícil identificação.

Segundo Barros10 é possível encontrar os elementos essenciais para a real caracterização do assédio moral, sendo eles:

a) a intensidade da violência psicológica. É necessário que ela seja grave na concepção objetiva de uma pessoa normal. Não deve ser avaliada sob a percepção

8 HIRIGOYEN, Marie-France. Mal estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil, 2006, p. 108.

9 HIRIGOYEN, Marie-France. Mal estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil, 2006p. 109.

10 BARROS, Alice Monteiro de. Assédio Moral. Revista Síntese Trabalhista, n. 184, 2004, p. 145.

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subjetiva e particular do afetado que poderá viver com muita ansiedade situações que objetivamente não possuem a gravidade capaz de justificar esse estado de alma. Nessas situações, a patologia estaria mais vinculada com a própria personalidade da vítima do que com a hostilidade no local de trabalho;

b) o prolongamento no tempo, pois episódio esporádico não o caracteriza, sendo assim imprescindível o caráter permanente dos atos capazes de produzir o objetivo;

c) outro elemento do assédio moral é que tenha por fim ocasionar um dano psíquico ou moral ao empregado para marginalizá-lo no seu ambiente de trabalho;

d) que se produzam efetivamente os danos psíquicos, os quais se revestem de índole patológica.

São muitas as situações a serem verificadas para constatação do assédio Moral. Assim, ele pode ser classificado em algumas modalidades que serão analisadas.

4 MODALIDADES DE ASSÉDIO MORAL

Quanto à manifestação do assédio moral, Minardi11 aponta três modalidades: vertical; horizontal; misto. O tipo mais comum de assédio moral é de forma vertical. O Assédio vertical é aquele caracterizado pela prática de agressões entre sujeitos de diferentes níveis hierárquicos, envolvidos em uma mesma relação jurídica de subordinação.

O assédio moral vertical está subdividido em duas espécies: 1) vertical descendente (mais frequente), exercido sobre o empregado pelo seu superior hierárquico ou diretamente pelo empregador; 2) vertical ascendente (raro), em que o agente é o trabalhador e a vítima, seu superior ou empregador.12

O assédio vertical descendente, na terminologia anglo-saxônica denominado bossing ou bullying, é caracterizado por uma conduta abusiva,

11MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: Proteção jurídica à saúde mental. Curitiba:

Juruá, 2010. p. 139.

12 MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: Proteção jurídica à saúde mental. Curitiba:

Juruá, 2010. p. 139.

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normalmente do empregador, que se utiliza de sua condição superior hierárquica, ou seja, do poder de chefia, para constranger os subalternos.13

No caso do serviço público, pelo fato do superior hierárquico não dispor sobre o vínculo funcional do servidor, não podendo, desse modo, demiti-lo, passa a humilhá-lo e sobrecarregá-lo com tarefas inócuas.

O Assédio Moral vertical ascendente ocorre quando o hierarquicamente inferior age com o intuito de assediar o seu superior, ou seja, parte de um ou vários subordinados contra o seu superior hierárquico. Em várias hipóteses a origem dessa situação está no dinheiro, nas promoções, nas gratificações.

Já um caso menos corriqueiro, mas ainda comum, é o horizontal, em que as hostilidades partem de colega ou colegas de trabalho da vítima, modalidade esta que pode se somar às outras quando nelas houver a cumplicidade (expressa ou tácita) dos demais integrantes do grupo, que seria o misto, hipótese em que o maltrato provém tanto dos superiores quanto dos colegas da vítima14.

Segundo Alkimin15:

Trata-se de assédio moral cometido por colegas de serviço;

manifesta-se através de brincadeiras maldosas, gracejo, piadas, grosserias, gestos obscenos, menosprezo, isolamento, etc., podendo ser resultado dos seguintes fatores: a) conflitos interpessoais que provocam dificuldades de convivência por qualquer motivo pessoal (atributos pessoais, profissionais, capacidade, dificuldade de relacionamento, falta de cooperação, destaque junto à chefia, discriminação sexual etc.); b) competitividade, rivalidade para alcançar destaque, manter-se no cargo ou disputar cargo, ou para obter promoção.

Alguns ainda apontam a existência do assédio moral misto, que ocorre quando a vítima é assediada tanto pelos colegas de mesma linha hierárquica, como pelo seu empregador ou superior hierárquico.16

5 CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL

13 MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: Proteção jurídica à saúde mental. Curitiba:

Juruá, 2010. p. 139.

14 MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: Proteção jurídica à saúde mental. Curitiba:

Juruá, 2010. p. 139.

15 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de trabalho. 2. ed. rev. atual. Curitiba:

Juruá, 2008, p. 64.

16 MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: Proteção jurídica à saúde mental. Curitiba:

Juruá, 2010. p. 140.

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O assédio moral é uma prática que geralmente causa consequências graves para a vítima, atingindo sua personalidade, honra, dignidade e, de forma indireta, atingindo também a sociedade.

De acordo com Ferreira17:

As consequências geradas pelo assédio moral não atingem apenas a vítima desse processo de violência. Os danos na sociedade têm sido tão graves a ponto de o terror psicológico ter- se transformado numa doença social.

Ademais, explica Ferreira18 que as consequências geradas pelo assédio moral não se limitam à saúde do trabalhador vitimizado. Segunda a autora, os resultados atingem também a esfera social da vida do empregado, além das consequências econômicas do fenômeno sobre o empregado, a empresa e sociedade.

No caso do serviço público o assédio moral gera consequências econômicas bastante preocupantes, já que o servidor público assediado acaba se afastando do trabalho ou prejudicando a prestação do serviço público, pois não atende os beneficiários dos seus serviços como deveria, bem como afeta também os custos operacionais, com a baixa produtividade daí advinda, absenteísmo, falta de motivação e de concentração que aumentam os erros no serviço.19

Conforme Minardi20 deve-se ainda apontar as consequências para o Estado, pois o servidor público acometido das doenças resultantes do assédio moral buscará no Sistema Único de Saúde (SUS) o atendimento médico-hospitalar (integralmente subsidiado pelo Estado), bem como, no caso de incapacidade laboral, poderá receber o benefício previdenciário da inaptidão, tudo isto gerando significativos gastos

Obviamente, as possibilidades de ocorrerem danos em razão do assédio são muito extensas, sendo possível para o trabalhador pleitear a tutela dos seus direitos

17 FERREIRA, Hádassa Dolores Banilha. Assédio Moral no Trabalho. 2. ed. Campinas, SP: Ed.

Russell, 2010, p. 71.

18 FERREIRA, Hádassa Dolores Banilha. Assédio Moral no Trabalho. 2. ed. Campinas, SP: Ed.

Russell, 2010. p. 69.

19 GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2004, p. 113.

20 MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: Proteção jurídica à saúde mental. Curitiba:

Juruá, 2010. p. 142.

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com base no dano moral e no direito ao meio ambiente de trabalho saudável, garantido pela Constituição Federal.

Os danos sofridos pela vítima podem gerar perdas de caráter material e moral, surgindo o direito à indenização. A conduta caracterizadora do assédio moral poderá gerar o dano moral direto ou puro, ou seja, aquele que viola direito inerente à personalidade do emprego, como, por exemplo, o empregador, de forma sistemática, agredir a honra do empregado, humilhando-o perante os colegas; bem como o dano indireto ou reflexivo, ou seja, a conduta ilícita patronal gera de forma indireta prejuízo patrimonial e por via reflexiva um dano moral, como, por exemplo, o desvio ou rebaixamento funcional que gera redução salarial com consequente prejuízo econômico-financeiro e fere a dignidade profissional, a autoestima pessoal e profissional do empregado, causando-lhe sensação de dor, tristeza e sofrimento.21 Um dos fundamentos para a admissão da reparabilidade pecuniária do dano moral é que a indenização representa uma punição para o ofensor, servindo de desestímulo e obrigando a adoção das necessárias cautelas para se coibir a prática do dano moral. Um dos fundamentos para a admissão da reparabilidade pecuniária do dano moral é que a indenização representa uma punição para o ofensor, servindo de desestímulo e obrigando a adoção das necessárias cautelas para se coibir a prática do dano moral. Nesse sentido, Diniz sustenta que a reparação do dano moral cumpre uma função de justiça corretiva ou sinalagmática, por conjugar de uma só vez a natureza satisfatória e a natureza penal da indenização.22

Destarte, no serviço público o assédio moral também pode gerar punição disciplinar, desse modo, no âmbito das relações administrativas (ou seja, no serviço público), o assediador pode receber punições disciplinares, em conformidade com o regramento próprio.

Ainda mais, sendo o assediador servidor público, o Estado poderá ser responsabilizado pelos danos materiais e morais sofridos pela vítima, uma vez que possui responsabilidade objetiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

21 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de trabalho. 2. ed. rev. atual. Curitiba:

Juruá, 2008. p. 108.

22 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 91.

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Diante do exposto, concluiu-se que na sociedade atual, o assédio moral constitui um problema bastante importante em razão dos efeitos intimamente relacionados com a dignidade da pessoa humana.

O assédio moral ocorre em diversos contextos sociais, contudo, se concretiza com muita frequência no ambiente das relações de trabalho, nas quais o indivíduo se encontra juridicamente subordinado pela autoridade e direção do seu superior hierárquico.

O assédio moral provoca a dor e a ofensa a estes bens imateriais e personalíssimos, à dignidade, honra, boa fama, reputação, enfim ao patrimônio moral da pessoa humana. Desse modo, o assédio moral constitui uma conduta grave, com reflexo no indivíduo e profundos transtornos nas relações e condições de trabalho.

No caso do assédio moral no serviço público, tal ocorrência viola ainda os direitos dos cidadãos beneficiários dos serviços públicos, tendo em vista que as consequências do assédio na conduta do servidor público indiretamente afeta a qualidade do serviço público por ele prestado.

Assim sendo, o assediador deve não somente ser responsabilizado na esfera civil (por danos morais e materiais), mas ainda na esfera administrativa, por meio de punição disciplinar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de trabalho. 2. ed. rev.

atual. Curitiba: Juruá, 2008.

BARCELLOS, Ana Paula de. A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o princípio da dignidade da pessoa humana. Rio de Janeiro:

Renovar, 2002.

BARROS, Alice Monteiro de. Assédio Moral. Revista Síntese Trabalhista, n. 184, 2004.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

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FERREIRA, Hádassa Dolores Banilha. Assédio Moral no Trabalho. 2. ed.

Campinas, SP: Ed. Russell, 2010.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2000.

FIÚZA, Cézar. Curso avançado de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2004.

HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. 6.

ed. Tradução de Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

HIRIGOYEN, Marie-France. Mal estar no trabalho: redefinindo o assédio moral.

Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: Proteção jurídica à saúde mental. Curitiba: Juruá, 2010.

NUNES, Rizzatto. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.

São Paulo: Saraiva, 2002.

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002.

SEGRE, Marco; COHEN, Cláudio. Bioética. São Paulo: Edusp, 1999.

SILVA, Jorge Luiz de Oliveira da. Assédio moral no ambiente de trabalho militar.

Revista de Direito Militar, Florianópolis, n. 57, jan./fev. 2006.

THOME, Candy Florencio. O assédio moral nas relações de emprego. São Paulo: LTr, 2009.

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