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Frei Luís de Sousa. Ato III

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Academic year: 2022

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Frei Luís de Sousa

Ato III

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Ato III – Didascália inicial

Alterou-se o espaço, alterou-se o cenário e alterou-se o tempo:

◦ casarão sombrio (...) com ligação direta à capela;

◦ objetos litúrgicos com destaque para a cruz negra;

◦ alta noite.

O simbolismo é notável: o desenlace trágico, a

morte; a luz da esperança aliada ao raiar da

alvorada.

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Ato III – cena 1

A primeira e a grande preocupação de Manuel de Sousa é a ilegitimidade da filha. Não deixa de estar presente o caso pessoal de Garrett.

Manuel de Sousa exagera e julga-se o autor de todo o mal:

- único responsável pelo mal causado a D. João de Portugal;

- responsável pela vergonha em que lançou o nome da sua família;

- responsável pela ilegitimidade e morte de sua filha;

- o mais infeliz de todos.

O vocabulário utilizado por Manuel de Sousa revela o seu estado de espírito completamente conturbado, entrechocando-se, por vezes, sentimentos contraditórios.

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Ato III – cena 1

Manuel de Sousa prefere que a sua filha morra de tuberculose a morrer de vergonha.

À semelhança da cena II do ato I, esta cena passa-se entre Manuel de Sousa e o seu irmão Frei Jorge, o que permite as confissões espontâneas do que vai na alma do primeiro.

Apenas sabem a verdadeira identidade do Romeiro, Manuel de Sousa, seu irmão e o arcebispo; os outros ignoram-na.

Tal facto faz pensar que aqueles que mais criam nele serão os últimos a saber. É já uma pequena vingança e o adiar da catástrofe.

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Ato III – cena 1

Linguagem cheia de metáforas e hipérboles de sentido negativo.

No ato I, Manuel de Sousa foi apresentado como o modelo do homem decidido, racional, enérgico; agora, é um homem vencido, martirizado, emotivo.

É a força do Destino (Fatum) que confirmou as suas profecias e o levará à tragédia.

Mesmo Frei Jorge já não é o mesmo. Tudo mudou. Tragédia inexorável!

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Ato III – cenas 2, 3 e 4

Manuel de Sousa mostra-se "sobressaltado" quando Telmo aparece, porque este vigia a sua filha e pode suspeitar da ilegitimidade.

Manuel de Sousa sente relutância em ver a sua filha por causa do sentimento de culpa.

A cena IV é o monólogo de Telmo e contem as marcas

deste tipo de discurso: o fluxo da consciência realizado

numa linguagem emotiva, repetitiva,

interrogativa, exclamativa e reticente.

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Ato III – cenas 2, 3 e 4

Telmo está também mudado: aterrado e confuso.

Antes, acreditava na sobrevivência de D. João de Portugal e era um arraigado sebastianista; agora, pressente que vai saber notícias daquele que esperava há tantos anos e treme.

Entretanto, Maria ocupou o lugar do outro no seu coração. Criou D. João de Portugal e afeiçoou-se- lhe; criou Maria e afeiçoou-se-lhe. Aquele é já velho, esta é uma criança. Tremendo conflito interior: tem de decidir-se por um deles e "matar"

o outro. Qual? No meio deste agudo conflito,

tenta uma saída, pedindo a Deus que o leve em

vez de Maria cuja morte prevê para breve.

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Ato III – cena 5

Dá-se o tão esperado encontro entre Telmo e o Romeiro. O reconhecimento (a anagnórise) foi também gradual e levou à mesma pergunta de Frei Jorge na última cena do ato II e à mesma resposta.

Telmo desempenhava até agora o papel de

confidente e do coro com os seus agouros. Agora, a

presença do Romeiro instala-o como verdadeira

personagem em quem se desenrola um profundo

conflito: toma consciência da sua dolorosa

fragmentação afetiva.

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Ato III – cena 5

É neste aspeto que Garrett é inovador. Nas tragédias clássicas, o Fado agia e o herói era joguete nas suas mãos; nas tragédias de Racine e Shakespeare, são as violentas paixões entre os homens que criam a tragédia; em Frei Luís de Sousa, assiste-se à fragmentação do eu. É dentro das personagens que o conflito se desenrola. Aqui está uma das notáveis inovações.

D. João de Portugal é o símbolo da força trágica

que se abate sobre personagens reais.

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Ato III – cenas 6, 7, 8

As três cenas completam o 1º quadro deste ato - um espaço pobre que contrasta com a condição social das personagens - e abre as portas para o 2º quadro: a capela.

O Romeiro tem duas reações contrastantes: primeiro, feliz; depois, desiludido e revoltado.

D. Madalena, sentimental, não fora capaz de identificar o Romeiro como D. João de Portugal. Agora, detentora da revelação, tem dúvidas. Como no final do ato I, estão frente a frente duas psicologias: Manuel, decidido, embora sofredor; D. Madalena, confusa, afetiva, contrariada, segue a decisão que Manuel tomou pelos dois.

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Ato III – cena 9

A cena IX é deveras

patética: o som do

órgão e o coro dos

frades produzem uma

intensa atmosfera de

dramatismo: é a

preparação para o

desenlace.

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Ato III – cenas 10, 11 e 12

As cenas X-XII formam o 2º quadro: a ação passa-se na Igreja de S. Paulo - espaço apropriado para a profissão religiosa.

Ontem como hoje, ao entrar para a vida

conventual, é norma a mudança de nome que,

simbolicamente, sugere o esquecimento (a

morte) de tudo o que é mundano. É o que

significa "despir o homem velho".

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Ato III – cenas 10, 11 e 12

O monólogo de Maria é a cena mais dramática ou melodramática de Frei Luís de Sousa. Alienada, ela exprime de forma violenta:

- a revolta contra o mundo hipócrita em que os inocentes são castigados;

- a revolta contra Deus, que permite o que está a acontecer e a quem as pessoas obedecem;

- a revolta contra a sociedade, ali representada por todos os que participam no cerimonial e que: nada fazem para o impedir;

- a revolta contra a lei da indissolubilidade do casamento que gera situações dramáticas;

- a revolta contra a ilegitimidade dos filhos, vítimas de atos que lhes são alheios.

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Ato III – cenas 10, 11 e 12

A peripécia de Maria é inesperada mas necessária para o desenrolar dos últimos fios da peça: a última anagnórise - que é total - e provoca a catástrofe.

As personagens estão frente a frente: de um lado, a família (há autores que consideram a família como a grande personagem desta peça): pai, mãe e filha; do outro, D. João de Portugal e Telmo, o amigo mas também a testemunha acusatória do

"pecado" de D. Madalena. São dois mundos incompatíveis (D.

Madalena não podia ser esposa legítima em dois lares).

De acordo com a norma aristotélica, Garrett fez coincidir a peripécia com o reconhecimento (anagnórise completa) e com a catástrofe.

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Ato III – cenas 10, 11 e 12

Com elementos muito simples, Garrett conseguiu os dois objetivos da tragédia:

despertar terror nos espectadores que viveram os sofrimentos, impostos pelo Destino nas tragédias gregas, pela Justiça de Deus neste caso;

despertar a piedade pelas vítimas apanhadas na rede das fatalidades.

Tudo isto para o fim último do espetáculo que é a catarse ou a purificação dos espectadores.

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Ato III – cenas 10, 11 e 12

D. João de Portugal e Telmo não têm saída positiva:

regressam ao rio do esquecimento, que é a pior morte que lhes poderia acontecer; destruíram e foram destruídos.

No plano humano, não há saída positiva para os outros; no plano cristão,

Manuel de Sousa Coutinho torna-se frade e escritor;

D. Madalena professa e tem a possibilidade de se purificar do "pecado" e de se salvar;

Maria morre e vai para o Céu (não era digna deste mundo).

Referências

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