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Reforma da Organização Sindical A Proposta da Força Sindical

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Academic year: 2022

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MEDE-1.DOC Minuta 28-01-97

Reforma da Organização Sindical A Proposta da Força Sindical

Comentários de José Pastore

Luís Antônio Medeiros, presidente da Força Sindical, fez veicular em Brasília e São Paulo uma proposta de mudança da organização sindical brasileira. Isso tem fortes implicações para a sistemática de negociação e resolução de conflitos e, consequentemente, para a vida das empresas.

O anteprojeto em tela consta de duas partes. A primeira propõe uma emenda constitucional no artigo 8o. da Constituição Federal que trata, exatamente, da organização sindical. A segunda propõe um anteprojeto de lei para viabilizar as mudanças sugeridas na referida proposta de emenda constitucional.

I - A Emenda Constitucional

A proposta visa introduzir as seguintes modificações em relação à situação atual:

(1) Os trabalhadores e empregadores ficariam com a liberdade de criar sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais. Estas passariam a ter uma série de direitos sindicais - que hoje não têm.

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(2) As entidades sindicais (sindicatos, federações, confederações e centrais) ganhariam o direito de organizar unidades nos locais de trabalho. As empresas teriam de aceitá-las passivamente.

(3) As entidades sindicais ganham em definitivo o direito de exercer a figura da “substituição processual” para defender os interesses coletivos e direitos individuais nas instâncias privada, administrativa ou judicial.

(4) O atual monopólio de negociação dos sindicatos seria estendido às centrais sindicais inclusive no campo da solução dos litígios e conflitos trabalhistas.

(5) Os aposentados passariam a ter os mesmos direitos dos demais associados das entidades sindicais, inclusive para participar dos órgãos dirigentes.

(6) Todos os trabalhadores (inclusive aposentados e membros das centrais) teriam o direito delivre atuação sindicalconstituindo crime qualquer tentativa de impedir tal atuação.

(7) As entidades sindicais seriam remuneradas pela representação dos trabalhadores nas negociações coletivas (associados e não associados a entidades sindicais). Haveria uma “contribuição de custeio” cujo valor seria aprovado pela assembléia geral da entidade que realiza a negociação.

(8) A organização sindical seguiria o princípio da unicidade na base (sindicatos) e pluralidade no topo (federações, confederações e centrais).

(9) Todas as entidades sindicais seriam registradas nos cartórios civis.

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Ao lado dessas mudanças, o anteprojeto mantém todo o restante do artigo inclusive a arrecadação da contribuição de custeio pela empresa, via folha de pagamento.

Mantém também as estabilidades de dirigentes e suplentes das entidades sindicais ampliando-as, porém, para os dirigentes das centrais sindicais.

Avaliação da Emenda Constitucional

1. A Legalização das Centrais Sindicais - Nota-se claramente que o primeiro grande esforço da mudança proposta se concentra na legalização das centrais sindicais. Hoje, elas são realidades indiscutíveis mas não podem agir legalmente na assinatura de acordos ou convenções ou representação dos trabalhadores em juízo. Com a eventual aprovação da emenda proposta, as atribuições atualmente barradas, seriam todas permitidas e legalizadas.

O fato das centrais já serem uma realidade inquestionável não significa que a sua legalização seja uma mera formalidade. Sem outras mudanças no atual sistema de relações de trabalho, a elevação das centrais ao “tatus” de entidades sindicais e, em paralelo à atuação das demais, causaria grande confusão. As centrais passariam a disputar com os sindicatos, federações e confederações o direito de negociar, assinar e comparecer em juízo.

Os trabalhadores passariam a usar estrategicamente ora as centrais, ora as demais entidades sindicais para viabilizar os pleitos que pudessem chegar ao “melhor dos mundos”. As centrais ganhariam força pelo fato de poderem exercer na sua plenitude a prerrogativa negocial - inclusive perante os tribunais.

2. A Representação nos Locais de Trabalho - Um segundo grande esforço de mudança se concentra na legalização de unidades de ação sindical no local de trabalho.

Essas unidades poderiam tomar a forma de comissões de fábrica, comitês bipartites ou simplesmente de delegados ou representantes sindicais1. Com isso, a empresa teria de lidar

1 A Constituição Federal atual (art. 11) prevê a eleição de um representante dos empregados nas grandes empresas - mas sem direitos de negociação e outras atividades sindicais.

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com os seus funcionários em vários níveis: individual, local e sindicais, estando dentro deste último, as centrais sindicais. Estas, querendo, poderiam implantar seus representantes nos locais de trabalho e, como fazem hoje, ao longo de toda a hierarquia sindical (sindicato, federações e confederações).

A experiência mostra que a coexistência de unidades locais e entidades sindicais não é pacífica - especialmente quando isso é imposto por lei. Nesses casos, é comum observar-se o surgimento de uma certacompetição entre ambas que, com o tempo, se transforma emconflitode partes que têm direitos garantidos por lei. Ou seja, cria-se um novo foco de conflito no relacionamento entre empregados e empregadores. A empresa passa a ter a necessidade de administrar mais um tipo de conflito (entre os próprios trabalhadores). Ademais, as unidades de ação local tendem a forçar a entrada em áreas que são de prerrogativa exclusiva da empresa - planos de expansão, adoção de novas tecnologias, dispensa de empregados, etc. A negociação nesse emaranhando de unidades e interesses divergentes se torna extremamente difícil.

3. A Substituição Processual- Um terceiro grande esforço da proposta em tela é a legalização, de uma vez por todas, da figura da substituição processual como um direito extensivo a todas as entidades sindicais (inclusive as centrais). Tais entidades passariam a ter o poder indiscutível de representar os interesses individuais sem nenhuma autorização prévia dos pseudo-interessados. Elas passariam a agir como se os trabalhadores fossem pessoas “interditadas”, sem poder autorizar o que as entidades fariam em seu benefício. A eventual legalização definitiva deste instituto, com a atual amplitude de poderes da Justiça do Trabalho, constituiria uma arma de grosso calibre para fazer a vontade das lideranças sindicais prevalecerem sobre os interesses dos funcionários com fortes repercussões negativas para a empresa. Na verdade, isso abriria mais uma grande indústria advocatícia.

4. Os Aposentados como Líderes Sindicais - A participação dos aposentados em pé de igualdade em relação aos empregados ativos, ampliaria

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consideravelmente o leque de opções para a constituição de diretorias, conselhos e demais órgãos das entidades sindicais criando, assim, uma nova classe - a dos sindicalistas perpétuos. Trata-se de uma proposta que pouco condiz com os princípios das modernas relações do trabalho. A defesa dos interesses dos aposentados, como dos ecologistas e dos sem terra, nada tem a ver com o relacionamento entre as empresas e seus empregados. Essa é uma matéria estranha ao campo das relações de trabalho.

5. Recolhimento da Receita Sindical pela Empresa - Apesar de se dizer interessado no regime de plena liberdade, o proponente deseja continuar usando a empresa para recolher a sua receita. A proposta impõe sobre a empresa uma série de sanções e punições para os casos de atraso de repasses ou incorreção na sua distribuição.

Dessa forma, a empresa fica totalmente à reboque e à serviço das entidades sindicais de trabalhadores.

6. Unicidade e Pluralidade - A proposta de emenda constitucional apresenta um sistema híbrido: unicidade na base (sindicatos) e pluralidade no topo (federações, confederações e centrais). Trata-se de um mecanismo complexo. As repercussões para o lado patronal seriam enormes e de difícil solução. Federações diferentes, é claro, tenderiam a defender políticas distintas. O mesmo ocorreria com as confederações.

O exemplo disso é hoje ilustrado no caso das centrais sindicais. CUT, Força Sindical e CGTs têm mais discrepâncias do que concordâncias. A pluraridade no topo força, assim, um retalhamento político-ideológico da base. Dessa forma, o sistema mais desagrega do que agrega. É isso que o Brasil deseja no relacionamento (já naturalmente conflituoso) entre capital e trabalho?

Do lado da CNI, a pluralidade no topo acabaria com a integração, gerando fontes de fortes conflitos entre os sub-setores da indústria. E, no caso do SESI e SENAI,

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forçaria um retalhamento de suas receitas, planos e programas de ação perdendo-se a economia de escala (muito importante!) que hoje existe no sistema integrado.

Conclusão

Em suma, o anteprojeto de emenda constitucional tem o objetivo de, no bojo de mudanças ditas democráticas, fortalecer apenas um lado da relação entre capital e trabalho através da legalização das centrais sindicais, reforço das finanças de seus orçamento, substituição processual, unidades nos locais de trabalho e outras providências .

A mudança da organização sindical requer uma modificação prévia do sistema de relações de trabalho. É preciso saber o que ficará na lei e o que passará para a negociação antes de se desenhar e definir as funções das organizações que defenderão os interesses dos empregadores e empregados. Um sistema mais negocial exige determinado tipo de organização sindical; um sistema mais legalista exige outro.

Por isso, é indispensável saber-se o que será negociado para depois se pensar na anatomia e fisiologia das unidades de negociação. Trata-se de mais um daqueles assuntos em que não dá para “colocar o carro na frente dos bois”. A mudança do atual sistema é necessária mas tem de seguir uma certa ordem: (1) revisão dos direitos e deveres das partes; (2) definição dos direitos negociáveis; (3) sistemas de resolução de conflito (auto-composição, mediação, arbitragem e justiça); (4) organização sindical.

Finalmente, convém lembrar que a negociação coletiva convencional e realizada por entidades sindicais está com os dias contados. No setor privado dos Estados Unidos, esse tipo de negociação existe para apenas 9% da força de trabalho. Na Europa, embora ainda bastante atrelada à negociação coletiva, o sistema vem sendo rapidamente substituído por negociações mais diretas entre empresas e empregados. No Japão e nos Tigres Asiáticos, a hegemonia dos “sindicatos de empresa” dá àqueles países uma

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característica totalmente diferente na negociação adversária e conflituosa que marca a interação entre setores de atividades.

A globalização, a integração de mercados, a revolução tecnológica e a reformulação dos modos de trabalhar estão demandando formas de entendimento entre os que participam do processo produtivo - nem sempre empregados e empregadores - que nada tem a ver com os mecanismos tradicionais de negociação sindical e de entidades sindicais que a proposta tenta reforçar. O Brasil não pode perder mais uma oportunidade de reformar a sua constituição que esteja voltada para o futuro - e não para o passado.

Em resumo, recomenda-se o estudo da proposta depois de se responder às seguintes questões:

(1) Qual é o sistema de relações do trabalho que o Brasil pretende seguir daqui para frente? Mais negocial ou mais legalista?

(2) O que ficará para a negociação? O que fará parte da lei?

(3) De que maneira serão resolvidos os eventuais conflitos? Como ficará a atual justiça do trabalho?

(4) Que tipo de organização sindical é mais indicada para atender as necessidades dos itens anteriores depois de uma definição clara de cada um deles?

II - O Projeto de Lei - “A Lei Salarial”

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Para dar viabilidade à emenda constitucional acima comentada, o alto dirigente da Força Sindical propõe um anteprojeto de lei que visa definir e dar atribuições ao chamado “sistema confederativo” e, sobretudo, garantir a receita dos sindicatos.

O anteprojeto é confuso pois não deixa clara a articulação das centrais sindicais com as demais entidades sindicais. Segundo a referida proposta, o “sistema confederativo” seguiria a estrutura atual que articula sindicatos, federações e confederações.

Ela prevê, porém, a possibilidade de filiação dos sindicatos às centrais sindicais (art. 6o. # 2).

A proposta não define claramente o papel de cada entidade da estrutura sindical e nem das centrais sindicais. Na verdade, a sua preocupação maior é com o sistema de financiamento das entidades que seria garantido por “cotizações associativas” e

“contribuição confederativa” lembrando-se ainda que a emenda constitucional acima comentada fala em “contribuição de custeio”, cobrada pela empresa e por ela rateada (usando os critérios dados pelos sindicatos se trabalhadores) entre os sindicatos, federações, confederações e centrais. As empresas estarão sujeitas a multas e outras punições se não fizerem a sua tarefa corretamente.

O restante do projeto define o funcionamento do sindicato pressupondo-se que isso se estenda às federações e confederações ficando no ar o funcionamento e a articulação das centrais com as demais entidades sindicais.

As funções das diferentes entidades aparecem de modo um pouco mais claro (mas não muito) quando o projeto trata das contribuições - uma topografia um pouco estranha para esse fim. Por aí se infere caber aos sindicatos: a defesa dos interesses coletivos e dos direitos individuais e proibição de discriminações (campo perigoso!).

Caberia às federações a mesma defesa para trabalhadores inorganizados em sindicatos e a

“coordenação das negociações coletivas” sem deixar claro o que isso signifique. Caberia a

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elas ainda a prestação de assistência junto aos tribunais de sua base territorial - igualmente obscuro.

Às confederações caberia a prestação de assistência junto aos tribunais superiores (vago) e aos órgãos públicos profissionais e previdenciários.

Os trabalhadores - sindicalizados ou não - pagariam a contribuição confederativa descontada na folha de salários. Qualquer controvérsia sobre esse pagamento seria dirimida pela Justiça do Trabalho.

O anteprojeto é nebuloso. Dispara vários tiros para acertar quatro alvos de interesse exclusivo das lideranças sindicais de trabalhadores: legalização de centrais, garantia financeira, substituição processual e representação nos locais de trabalho - tudo com a concordância e participação das empresas.

O anteprojeto parece querer legalizar as centrais sem definir seu papel.

Detém o monopólio de negociação aos sindicatos, mas isso não está claro. Dá às federações a atribuição de negociar em nome de trabalhadores inorganizados. Cria um sistema híbrido complicado de unicidade e pluralidade sindical (já comentado). Tenta reter a estrutura confederativa ao mesmo tempo que abre o campo para a atuação das centrais sindicais. A confusão é a tônica da proposta.

Como o projeto tem o papel de viabilizar a emenda constitucional anteriormente comentada, convém discuti-lo após uma clara definição do novo sistema de relações do trabalho. Ver comentários feitos em relação à proposta de emenda constitucional.

Referências

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