• Nenhum resultado encontrado

Livro de seleção; uma introdução aos princípios e práticas :: Brapci ::

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Livro de seleção; uma introdução aos princípios e práticas :: Brapci ::"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

RECENSÕES

209 la Bibliotecon. Brasília 3 (2) jul.ldez. 1975

LIMA, Etelvina. Estrutura organizacional da biblioteca universitária da Universidade Federal de Minas Gerais: um estudo de centra-lização e descentracentra-lização. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Biblioteconomia, 1974. 75, 26p. ii.

Ao estabelecer as normas para a reforma universitária, a Lei n9 5.540, de 28 de novembro de 1968, forçou as universidades brasileiras a uma revisão de suas estruturas na procura de soluções mais racio-nais para uso de seus recursos humanos e materiais. Embora a lei não as mencione, as bibliotecas universitárias foram naturalmente incluídas e desde logo apresentaram problemas complexos. O tema escolhido pela conhecida e respeitada professora Etelvina Lima é,

portanto, muito oportuno. Estudando as bibliotecas da UFMG, ela tenta chegar a uma solução satisfatória para este sistema específico, mas pretende, ao descrever a metodologia empregada, contribuir para o estudo e planejamento de outros sistemas. A técnica empre-gada baseia-se na interpretação de dados estatísticos, de acervo e pessoal mais que medidas de serviço, e principalmente na obser-vação direta de ocorrências. O assunto é introduzido com uma revisão seletiva de estudos sobre o emprego da administração cien-tífica aplicada às bibliotecas, estudos sobre centralização e descen-tralização em geral, e descrições de estruturas bibliotecárias em instituições estrangeiras. Entre estas são citadas as de Harvard e Boston University, nos EUA, e as conclusões do relatório Parry, na Inglaterra. Embora cada um destes estudos seja importante como exemplo de estrutura, não se pode esquecer que as circunstâncias e características individuais são bem diferentes das brasileiras. Espe-cialmente Harvard, cujo gigantesco sistema de bibliotecas apresenta um crescimento anual equivalente a metade do acervo total das bibliotecas da UFMG.

O estudo de sistemas brasileiros foi dificultado pela insuficiência de dados significativos. Na impossibilidade de realizar um levantamento in loco, a autora se utiliza dos resultados dos questionários aplica-dos em 1973 pelo CEPES-PGD (hoje PREMESU), e pelo CRUB, em 1974. Dentre as universidades incluídas nos questionários foram sele-cionadas as de Pernambuco e Rio Grande do Sul.

(2)

coordenado-211 Brasflia 3 (2) jul./dez. 1975

SUZANA MUELLER

Departamento de Biblioteconomia _ Universidade de Brasília novas, estranhas à organização vigente e aos leitores, seriam minimi-zadas. É preciso lembrar que a autora enfatiza ser essa proposta adequada à situação atual, de aplicação viável neste estágio de desenvolvimento. Uma solução a curto prazo. As sugestões maís inovadoras estão na área de processamento técnico e, como é expli-cado na descrição da metodologia, não se tentou realizar uma avalia-ção de custos. Resta saber se o ponto de equilíbrio proposto poderá ser operacional e economicamente deslocado quando surgirem mu-danças nas variáveis, decorrentes do crescimento previsto para a Universidade. De certa forma isto parece estar assegurado pelo cui-dado demonstrado na escolha de sistema padrão para classificação e unificação de orçamentos.

INTERNATIONAL CLASSIFICATlON. Journal on theory and pratice of universal and special classification systems and thesauri. München, Verlag Dokumentation, 1974 - v. 1. Semestral. WOJCIECHOWSKI, JerryA., ed. Conceptual basis of the classification

of knowledge. Proceedings of the Ottawa Conference on the Con-ceptual Basis of the Classification of Knowledge, October 1st to 5th, 1971. München, Verlag Dokumentation, 1974. 503 p.

THIRD International Study Conference on Classification Research. Bombay, 6-11 January, 1975. Trabalhos apresentados.

VICKERY, B. C. Classification and indexing in science. 3. ed. London, Butterworths, 1975. 228 p. ISBN O408 70662 7. E 5.50.

MALTBY, Arthur. Sayer's manual of classification for librarians. 5. ed. London, André Deutsch, 1975. 336 p. ISBN O233 96603 X. E 4.95.

..

Os problemas até agora suscitados pela classificação bibliográfica, no âmbito da Biblioteconomia e da Informação Científica, são muitos, complexos e, não raro, apaixonantes. Foskett pôde mesmo afirmar que o papel dos esquemas de classificação nas bibliotecas e centros de documentação causou maiores debates do que qualquer outra atividade biblioteconômica (1). Ultimamente, porém, as discussões a . respeito da classificação assumiram caráter estranho e, de certo modo, inesperado, pelo radicalismo com que se apresentam. O que se discute agora não é tanto a problemática deste ou daquele siste-ma de classificação, siste-mas a vali dez messiste-ma de qualquer sistesiste-ma de classificação como instrumento eficiente na recuperação da

infor-mação.

R. Bibliotecon. Brasília 3 (2) iul./dez. 1975 210

ra, sendo apenas mais uma co!eção entre as 23 existentes. Estas não têm muito em comum, havendo diferenças de organização e padrões de serviço. O acervo total, de quase 350.000 volumes, está disperso em pequenas coleções, classificado segundo quatro siste-mas diferentes. Parte signif:cativa da coleção não está classificada. O crescimento da coleção em geral tem sido lento.

A hipótese apresentada diz haver um ponto de equilíbrio entre cen-tralização e descencen-tralização de estrutura bibliotecária, cuja aplica-ção nesta fase de desenvolvimento da UFMG resultaria em melhoria de padrões de serviço. Para chegar a este ponto, as variáveis con-sideradas são a dispersão geográfica das unidades, a tendência de comportamento de grupos em face de mudanças de estruturas, o estado atual das coleções e pessoal disponível, as perspectivas de crescimento da UFMG, e a demanda de serviços bibliográficos.

O ponto de equilibrio proposto pela tese é encontrado em diferentes graus de centralização e descentralização para cada área específica da organização. A estrutura física descentralizada atual seria con-servada, com exceção das coleções dos cursos básicos, reunidas no campus. Só seriam consideradas novas fórmulas de centralização quando as circunstâncias o exigissem. A reunião monolítica não é recomendada. Também seria conservada a descentralização adminis-trativa atual, com algumas modificações, em especial a instituição de um orçamento global, a cargo de um Conselho Bibliotecário, for-mado pelas unidades e suas bibliotecas. Maior grau de centralização seria introduzido na estrutura operacional, conseguido pela padroni-zação e unificação do processamento técnico - aquisição, catalo-gação, classificação e preparo do livro para empréstimo. O plano proposto para execução desta centralização respeita, sempre que pos-sível, o já estabelecido, não unindo as coleções já processadas, se-não por um catálogo coletivo. O plano seria aplicado somente para as aquisições posteriores a uma determinada data. O problema apre-sentado pelo material ainda não processado, mas já em uso, seria resolvido através de projetos especiais, e processado segundo os padrões vigentes em cada unidade. A execução dos projetos ficaria a cargo das unidades, sob coordenação central. Os serviços aoS usuários também continuariam descentralizados, com algumas exce-ções. À Biblioteca Universitária caberia a coordenação geral do sistema e assessoria à administração das bibliotecas de unidade, nas áreas de planejamento de inst2lações, padronização de móveis, equipamentos e material de consumo, e estudos de necessidade de recursos humanos.

(3)

Éclaro que toda discussão, como encontro e como choque de idéias é sempre fecunda. O que causa estranheza na atual conjuntura é セ pressa e o radicalismo de determinadas posições. Para não poucos bibliotecários - sobretudo os que se deixaram fascinar pelos pro-gressos da Biblioteconomia norte-americana - a era das classifica-ções bibliográficas está definitivamente superada. As modernas téc-nicas dos tesauros, das indexações pós-coordenadas e, muito espe-cialmente, dos computadores tornaram não apenas as antigas classifi-cações, mas qualquer tipo de classificação, algo totalmente superado, ferramenta envelhecida a ser, quanto antes, jogada na sucata.

Já tivemos oportunidade de, em nível teórico, analisar os argumentos com que se tem tentado justificar tal posição. Não repetiremos aqui essa análise. Nosso propósito é, ao invés, utilizar agora uma argu-mentação de certo modo menos apodítica, mas suficientemente escla-recedora da insensatez dos que julgam ter chegado a era do desa-parecimento das classificações bibliográficas. Nossa argumentação é simples e mesmo trivial: se já chegou a era da morte das classi-ficações como se explica o fato de, no espaço de apenas dois anos, serem publicadas obras tão importantes como as que referenciamos acima? Quando determinado assunto se torna irrelevante, decai naturalmente o número e a importância dos documentos que dele tratam. O arrazoado pode não parecer suficientemente irrespondível, mas é, sem dúvida, demonstrativo da falta de objetividade dos que aparentam desconhecer que as técnicas são produtos do pensamento e não vice-versa. Nosso raciocínio é simples. Consiste basicamente no elenco de algumas das mais importantes publicações realizadas no campo da classificação entre os anos de 1974 e 1975. A lista é seletiva. As obras foram escolhidas entre muitas outras pela sua expressividade. Em seguida é feita a seguinte questão: se a classifi-cação continua a suscitar, no mundo inteiro, publicações como as que referenciamos, poder-se-á dizer que chegamos à era da morte das classificações, ou da classificação?

O elenco apresentado contém, em primeiro lugar, um periódico de âmbito internacional (o primeiro, ao que parece, no gênero) dedicado à teoria e à prática das classificações e dos tesauros. Vêm, a seguir, as atas de dois importantes congressos internacionais sobre classi-ficação realizados em pontos bem distantes - geográfica e cultu-ralmente - do universo: Ottawa (Canadá) e Bombaim (índia). Final-mente a reedição, ou reformulação, de dois clássicos da classifica-ção: Sayers e Vickery. Poder-se-á dizer, com segurança, em face de tão importantes contribuições no campo da classificação que esta já se acha moribunda ou que já morreu? Serão estas publicações atestados de óbito ou toque de finados? Não acreditamos.

o

editorial com que se inicia o primeiro fascfculo da revista Interna-IlonalClasslflcation diz a que vem o periódico, qual o seu programa. A crise das classificações não está na morte ou desaparecimento das mesmas. Muito ao contrário. A crise está no fato da existência de tão grande número de classificações, sem que haja um corpo comum de doutrina, sem o suporte de uma terminologia e de uma metodologia comum e, por isso mesmo, sem possibilidade de comu-nicação. O periódico tem como programa fornecer esse suporte. Visa à criação de uma ciência e de uma técnica coerente da classi-ficação. Poder-se-á ver neste programa um atestado de morte da classificação?

213 O Congresso do Canadá, realizado em 1971, teve por finalidade a discussão epistemológica da classificação. Para este fim reuniu filó-sofos e técnicos da classificação (bibliotecários e documentalistas). Enquanto durante muitos séculos (quase toda a duração do pensa-mento filosófico ocidental) a classificação do conhecipensa-mento foi uma das grandes tarefas da Filosofia, só nos últimos séculos se fez sentir a presença dos técnicos da classificação. Mas estes desen-volveram as próprias habilidades nem sempre em contato com os filó-sofos. Como a necessidade teórica e prática do conhecimento huma-no se torna cada dia mais imperiosa fez-se mister um encontro entre os dois grupos. O congresso proporcionou esse encontro. Além desta finalidade básica uma outra esteve na mira dos organizadores do certame: a criação, na Universidade de Ottawa, de um centro de pesquisa em classificação. Podem tais atividades ser interpretadas como o final da era das classificações? Digam-no os entendidos.

A Terceira Conferência Internacional de Classificação, organizada pela FIO, em Bombaim, numa homenagem ao grande mestre da mo-derna classificação bibliográfica, ultimamente falecido, constitui um balanço, sob muitos aspectos grandioso, dos progressos feitos desde as reuniões de Copenhague (1968) e Frankfurt (1970). As atas ainda não foram reunidas numa única publicação, mas os trabalhos spre-sentados podem ser consultados nos documentos impressos e divul-gados pelo congresso. Ao lado de uma riqueza extraordinária de perspectivas sente-se a pujança de pensamento da mesma FID, que neste momento colabora com a UNESCO, no projeto Unisist, na elaboração de uma linguagem universal capaz de diminuir ou anular os graves inconvenientes criados pelas modernas técnicas que rea-lizam, no campo da Documentação e Informação Científica, aquilo que nem duas guerras mundiais tinham conseguido: a total incom-patibilidade entre os vários sistemas de informação. Também aqui parece bem difícil enxergar qualquer vislumbre de morte da clas-sificação.

R. Bibliotecon. Brasilia 3 (2) jul./dez. 1975 R. Bibliotecon. Brasília 3 (2) jul./dez. 1975

(4)

Finalmente, as reedições, ou reformulações, de dois clássicos da classificação: a terceira edição de Classification and Indexing

ln

Science, de Vickery, e a quinta edição, totalmente reformulada por Maltby, do Manual of Classification for Librarians, de Sayers.

Vickery, um dos membros mais ativos do Classification Research Group de Londres, co-autor do famoso memorando intitulado "The need for a faceted classification as the basis of ali methods of infor. mation retrieval" (2), não modificou o seu ponto de vista com relação ao primeiro capítulo da obra referenciada que trata exatamente da necessidade da classificação. Apenas torna o seu conteúdo mais atual. Os dois parágrafos "Classification in information retrieval" e "The value of classification in retrieval" traduzem com clareza o modo de pensar do autor que não hesita em afirmar: "nearly always in information retrieval, a classification activity is implicit" (p.5). Alta-mente significativos os capítulos dedicados à classificação na in-dexação e nos sistemas pós-coordenados. Dois apêndices tornam a obra ainda mais valiosa. São apêndice A ("Historical aspects of the classifaction of science") e o apêndice C ("Categories").

O manual de classificação de Sayers aparece agora, nesta quinta edição, profundamente reformulado por Arthur Maltby. Já a quarta edição tinha sido publicada por Maltby, após a morte de Sayers. Mas nesta última edição o processo de revisão foi de tal monta que quase se poderia falar de uma obra nova. No entanto, as linhas mestras do antigo manual permanecem. O que se pode perguntar é se Maltby foi forçado pelo progresso moderno a mudar os princí· pios básicos do capítulo intitulado "The value of systematic arrange-ment in libraries". E a resposta é que exatamente neste primeiro capítulo as modificações foram mínimas, já que se trata de princípios que não foram modificados pelo progresso da atual Biblioteconomia.

De qualquer sorte, a análise, mesmo sumária, dessas excelentes publicações demonstra à evidência que a era da classificação biblio· gráfica, longe de ter sido superada, entre numa fase de fascinante desenvolvimento.

1. FOSKETT, D. J. Classification for a general index language. London, Library Association, 1970, p. 7.

2. PROCEEDINGS of the Int'emational Study Conference on Classification for Infor-mation Retrieval. Dorking, 1957. London, Aslib, 1957, p. 137-147.

ASTéRIO CAMPOS

Departamento de Biblioteconomia -Universidade de Brasllia

215 COBLANS, Herbert. Librarianship and documentation; an international

perspective. London, Andre Deutsch, 1974. 142 p. (Grafton basic texts). /SBN 0-233-96596-3. f: 2.95.

Existe em várias escolas de Biblioteconomia dos .Estados Unidos uma disciplina intitulada "International and comparative librarian. ship". Este novo livro de Herbert Coblans tem, entre outros méritos, 'Iode mostrar que a biblioteconomia internacional é muito mais do ' que a inútil e ridícula peregrinação de certos bibliotecários brasilei. ros por congressos, reuniões e conferências da UNESCO, da FIO ou da IFLA, sempre com a colaboração financeira do Itamarati.

Livro didático, ele tem o sabor do melhor ensaísmo britânico, que estimula o leitor e o incita a procurar novas leituras sobre os temas tratados. Seus nove capítulos são verdadeiros state-of-the-art-reports sobre a Biblioteconomia e a Documentação, a internacionalização da bibliografia, as associações profissionais e instituições políticas, o papel da UNESCO e de outras organizações das Nações Unidas, as bibliografias especializadas de âmbito nacional, multinacional e regio-nal, o programa UNIS/ST e certos projetos específicos como o INIS

(International Nuclear Information System), o AGRIS (International Information System for Agricultural Science and Technology), o GES (Growing Encyclopedia System), oCAS (Chemical Abstracts Service), o MEDLARS (Medical Literature AnaJysis and Retrieval System), etc. Agrada-me ver que Herbert Cob/ans não teme a palavra documen-tação, da qual muitos autores norte-americanos estão fugindo como o diabo da cruz. Aliás, a grande lição deste livro está na demonstra-ção da tese indicada em seu prefácio: "information science did not start with the computer" (p. 9). Lição muito oportuna para os que estão substituindo, na denominação de serviços governamentais, a palavra documentação pela palavra informática.

EDSON NERY DA FONSECA

..

Faculdade de Estudos Sociais Aplicados - Universidad.e de Brasllia

McCARTHY, Cavan. Developing libraries in Brazn, with a chapter on Paraguay. Metuchen, N. J., Scarecrow Press, 1975. 207 p.' LC 74-23681. ISBN 0-8108-0750-5. $ 8.00.

R. Bibliotecon. Brasília 3 (2) jul./dez. 1975

Os contrastes a que se refere Roger Bastide no título de um de seus livros sobre o Brasil refletem-se, naturalmente, na Biblioteconomia nacional, cheia de altos e baixos, de algumas excelentes bibliotecas especializadas e quase nenhuma biblioteca pública digna da expres-R. Bibliotecon. Brasilia 3 (2) jul.ldez. 1975

(5)

são inglesa public Iibrary, de serviços de informática nos ministérios ou no Congresso Nacional e acervos paupérrimos nas bibliotecas universitárias, de mestres em ciência da informação e bibliotecários semi-analfabetos.

Tudo isso constitui-se num desafio à compreensão de qualquer obser-vador estrangeiro, excitando a curiosidade e a imaginação dos "bra-silianistas" europeus e norte-americanos, como o autor desta obra. Nascido na Inglaterra e graduado em Línguas e Biblioteconomia na Universidade de Leeds, ele passou oito meses em São Paulo, entre 1971 e 1972, como professor da Fundação Escola de Sociologia e Política, e cinco meses viajando por todo o Brasil e países vizinhos. Visitou, ao todo, 200 bibliotecas das mais diferentes categorias e parece ter lido toda a literatura biblioteconômica brasileira, inclusive as comunicações apresentadas em congressos nacionais de Biblio-teconomia.

Suas observações sobre o Brasil, distribuídas em 16 capítulos (o 179 é dedicado ao Paraguai), incluem edifícios, coleções, processos téc-nicos, consulta, empréstimo, administração, aspectos mais minucio-sos da vida em pequenas e grandes cidades e até o carnaval do Rio de Janeiro, sem cujo conhecimento (a opinião é do autor desta recensão) não é possível compreender o povo brasileiro. Além das referências bibliográficas de cada capítulo, o autor fornece uma bibliografia essencial e conclui com índice onomástico, temático e toponímico.

Cavan McCarthy soube ver as bibliotecas brasileiras num contexto amplamente social, fazendo observações sobre tudo: política, im-prensa, costumes, etc. Não me parece justa sua crítica à descon-fiança que julga caracterizar as relações entre os brasileiros (p. 138), pelo simples fato do pagamento nas lojas ser feito aos caixas e não aos atendentes, ou pela existência de guardas armados nos bancos. Mas, de modo geral, o que ele diz das bibliotecas brasileiras é per-feito.

"Libraries tend towards bu reaucracy and stasis", escreve logo na introdução, que é também a conclusão: "Introduction and Conclu-sion". Para Cavan McCarthy, a Biblioteca da Câmara dos Deputados

é "beyond any shadow of doubt the finest Iibrary in Brazil" (p. 69), enquanto a da Universidade de Brasília é "without doubt the finest university Iibrary in the country" (p. 72). Mas "SESI and SESC Iibra-rians were the most enthusiastic I met in Brazil, always keen and forthcoming and always trying to reach out to the public" (p. 23).

"Why are there beautiful new buildings with an atrocius or nearly nonexistent book collection?", pergunta o autor, acrescentando com

SPILLER, David. Book selection; an inlroduction to principIes and prat!ce. 2. ed. rev. London, Clive Bingley, 1974. 142 p. ISBN 0-85157-170-0. t 2.75.

217 toda a razão: "A bad building with a poor col/ection is tragic, but logicaf and easy to understand, but a good building with a poor col/ec-tion is something e/se" (p. 38). Isto é particularmente observado em Brasília, onde o autor notou "a network of divided libraries" (eu teria qualificado o substantivo network com o adjetivo chaotic), tudo porque "bureaucrats are not used to thinking in terms of a unified Iibrary system" (p. 69). E também lamento, como o autor, que "al-though the capital has a fine National Theater it does not have and never will have a National Library" (ibidem).

Muito justas são também as críticas ao uso pelas bibliotecas brasi-leiras tanto das normas de catalogação da Biblioteca Vaticana como das Anglo-American Cataloging Rules (p. 95). Quanto aos compu-tadores, vale a pena citar de novo o autor: "I personally think Brazi-lian librarians should swear a col/ective oath not to utter the word computer until every city of any size has at feast passable public lending Iibrary services. Sut computers are part of life in every deve-loping country because it 1s excellent business for Western countries to export them" (p. 104, grifos nossos).

Lamento que os limites naturais de uma recensão não me permitam citar e comentar outras passagens deste notável livro, que deve ser lido por todos os bibliotecários brasileiros. Sua leitura pode contri-buir para curar ou diminuir nosso isolacionismo (cf. p. 111) e superar nossas contradições (cf. p. 114-115).

EDSON NERY DA FONSECA Faculdade de Estudos Sociais Aplicados - Universidade de Brasília

Ao imaginar o bibliotecário do futuro como um filtro que se interpõe entre a torrente de livros e o homem, Ortega y Gasset tocava no mais importante problema das bibliotecas, que é o da seleção. As limitações do espaço físico em face da explosão bibliográfica podem ser resolvidas peJa miniaturização dos documentos, a armazenagem e recuperação da informação vêm sendo solucionadas pela tecno-logia eletrônica. Mas assim como "um lance de dados jamais abolirá o acaso", como dizia Ma/larmé em poema célebre, nenhum recurso tecnológico poderá substituir a seleção, que supõe cultura e discer-nimento, inteligência e espírito crítico.

R. Bibliotecon. Brasília 3 (2) jul./dez. 1975 R. Bibliotecon. Brasília 3 (2) jul.ldez. 1975

(6)

THOMPSON, James. Library power: a new philosophy of Iibrarianship. London, Clive Bingley, 1974. 111 p.

"As bibliotecas são tão importantes que não podem ser dirigidas por bibliotecários do tipo que conhecemos." [ ... ] "Como guardiães, os bibliotecários parecem sentir-se mais intimidados do que inspirados pelo acervo que acumularam." [ ... ] "É preciso que na organização de pessoal das bibliotecas haja um corpo administrativo e que não seja ele formado de bibliotecários". (*)

* As autoridades encarregadas há alguns anos de indicar os diretores da bibjljoteca do British Museum eda Library of Congress, não encontrando candidatos suficiente-mente qualificados entre os bibliotecários, designaram um funcionário público (civil servant) para a prime,ira e um poeta para a segunda. E a ação posterior de ambos não foi considerada irrel,evante.

Por isso aquela parte do programa de Organização e Administração de Bibliotecas relativa aos critérios, instrumentos e métodos indis-pensáveis à formação de coleções bibliográficas, iconográficas, dis-cográficas, cinematográficas, etc., constituiu-se em disciplina obriga_ tória de qualquer curso de Biblioteconomia que se preze. Só não faz parte do nosso currículo mínimo porque este já nasceu com o destino daquele fruto de que fala Manuel Bandeira: "fruto sem cuidado qUe ainda verde apodreceu".

O livro de David Spiller, publicado em 1971 e atualizado para a edição atual, se inscreve entre os melhores da já extensa bibliografia sobre a matéria. Pretendendo ser apenas uma introdução, ele trata com inteligência e competência de todos os problemas da sereção de materiais bibliográficos e não bibliográficos.

O autor é muito conhecido e estimado no Brasil, como bibliotecário do Conselho Britânico, admirável e prestimosa organização que divul-ga mensalmente uma das melhores bibliografias críticas do mundo: British Book News.

Sendo particularmente útil aos bibliotecários ingleses, o livro de David Spiller interessa aos brasileiros na parte conceituaI - concen-trada nos primeiros capítulos - e, mutatis mutandis, também na parte prática.

'!

leitura essencial tanto para professores da matéria como para os bibliotecários que fazem a seleção, exercendo, como dizia Jorge Luis Borges, a arte da crítica: "Ordenar bibliotecas es ejercer, de un modo silenciosoy modesto, el arte de la crítica" .

EDSON NERY DA FONSECA

Faculdade de Estudos Soci'ais Aplicados - Universidade de Brasília

O autor dessas afirmações é o bibliotecário inglês James Thompson, autor de um fascinante mas discutível livro - Library Power _ dedi-cado ao estudo do poder que a biblioteca deve exercer no processo civilizatório. Ele explica: "O poder que as bibliotecas representam é tão mal compreendido pelos bibliotecários que eles o exercem de modo bem inferior ao que deveria ser, bem como a imagem que criam de si próprios funciona diretamente contra os melhores interesses da biblioteca".

Thompson apóia-se amplamente nas idéias (radicais algumas) de bi-bliotecários como Shera, Broadfield, Benge, Vagianos, Dawes, Ran-ganathan e outros, assim como nas do filósofo Ortega y Gasset (que em vida foi até conservador, mas cujas concepções sobre a missão do bibliotecário talvez sejam a primeira sublimação filosófica dos ideais da Biblioteconomia como parte das ciências sociais).

Cita Eldred Smith, que encontra no excessivo apego aos processos "técnicos" e às normas burocráticas, a esse enfoque de "zelador" praticado com zelo pelo bibliotecário, à sua incapacidade de distin-guir entre o que é atividade auxiliar e o que é realmente profissional, causas para duas sérias conseqüências: a proletarização dos salários e o excesso de mulheres na profissão, as quais aceitam salários "mó-dicos". Com a liberação da mulher, a expectativa é de que haja com-petição em vez de conformismo.

A falta de cultura geral e de educação contfnua alia-se a outro mar endêmico: um estudo recente demonstrou que a profissão (há quem ponha em dúvida que seja uma profissão) não atrai os melhores estudantes e não consegue tampouco conservar os pOUCos inadver-tidos, com exceção dos missionários.

Os apelos mais dramáticos têm sido formulados por pessoas alheias ao setor, como Lorde Goodman, que acha que os bibliotecários não souberam até agora promover a sua imagem, embora a missão social que lhes foi confiada seja digna de maior respeito público. Dawes explica essa incompetência pelo fato de a maioria dos bibliotecários não dispor de uma filosofia, de não terem uma imagem clara de si próprios ou simplesmente terem uma imagem equivocada.

Destinadas a atender toda a população as bibliotecas transformam-se em casas "respeitáveis" e até aristocráticas, onde os bibliotecários não têm paciência com os recém-alfabetizados, que são os que mais necessitam de seus serviços, dedicando-se a promover o prestígio das bibliotecas mediante o apoio aos leitores mais brilhantes e mais bem dotados. Esses males não foram observados apenas nos países do terceiro mundo. Thompson e os autores que cita encontram-nos nas nações já em plena revolução pós-industrial.

219 R. Bibliotecon. Brasília 3 (2) jul./dez. 1975

(7)

o

polêmico livro de Thompson engloba quase todos os aspectos da Biblioteconomia com uma capacidade de concisão incrível (apenas 111 páginas, sem índice, infelizmente), partindo desde as origens das bibliotecas até aos exercícios de futurologia. No entanto, os exem-plos tomados estão mais ligados às bibliotecas universitárias e, prin-cipalmente, ao papel que a biblioteca pública deveria exercer como centro cultural. As bibliotecas devem transformar-se se não quiserem desperdiçar esse "poder", se realmente aspiram a converter-se em poderosos instrumentos para a transformação social e política da sociedade. As bibliotecas, na impressão um tanto idealista de Thomp-son e Shera, existem pela devoção à liberdade de pensamento, em-bora Dawes as considere como instituições atreladas aos valores da classe média, o que é, aliás, um problema mais da esfera do sistema como um todo do que da Biblioteconomia em particular.

Cita fórmulas e experiências nas quais as bibliotecas exercem esse poder livre de toda censura e até subversivamente, mas reconhece (Dawes) que devido ao fato de a biblioteca ser (geralmente) uma instituição oficial e o bibliotecário uma espécie de funcionário público, ela (a biblioteca) continua existindo exatamente porque não trans-cende os interesses nacionais.

Seja como for, Thompson acredita que a biblioteca ainda é o lugar onde o indivíduo pode buscar as respostas para a sua própria edifi-cação interior contra o impacto massificador do processo alienatório dos meios de comunicação de massas e até mesmo do sistema formal de educação tradicional. Felizmente, a "educação formal" inclina-se cada vez mais a promover o indivíduo pelo estímulo orientado ao autodidatismo. E a biblioteca tem a desempenhar um papel funda-mentai nesse treinamento liberal.

Mas Thompson acha que o bibliotecário está despreparado para exercer esse poder, poder esse que tem ramificações ainda mais profundas. Para citar um exemplo, nos países industrializados as bi-bliotecas compram até 50% dos livros colocados no mercado (ex-cluindo as brochuras), mas as relações com os livreiros são tímidas e adversas, sem condições de influir positivamente na produção de livros, de acordo com os interesses dos usuários e do próprio fluxo de informação, como propôs Ortega y Gasset. Influência que seria fundamental à tão cacarecada explosão da informação, a qual J. Mar-tyn chama de "explosão de papel" devido ao fato de que o aumento de produção não significa necessariamente aumento substancial de informação.

O remédio prescrito por Thompson contra os males da Bibliotecono-mia é radical: criar senão a própria filosofia pelo menos uma filosofia

para as escolas de Biblioteconomia. Essa filosofia deve basear-se firmemente no reconhecimento total do poder das bibliotecas, ou qualquer outro nome com que venham a chamá-Ias no futuro. Como atualmente os bibliotecários parecem mais interessados em gastar energia em rotinas estéreis e não na atenção aos usuários, ele acha perigoso dar a esses mesmos bibliotecários a direção das bibliotecas. Fomenta o resgate da profissão das mãos de individuos fossilizados no emprego inadequado de "técnicas" e pela carência de vocação profissional legítima. Moralismo cristão?

Essa messiânica disposição levou-o a elaborar um plano de conquista de Jerusalém para expulsão dos vendilhões do templo. Somente uma elite deveria ser considerada como de bibliotecários. Atividades comuns, como aquisição, catalogação e circulação de Iivros,entre outras, seriam da incumbência de pessoal auxiliar (80% dos em-pregados), cabendo ao "novo" biblotecário a supervisão dessas atividades, a seleção de materiais bibliográficos e não-bibliográficos e a interação com o público nas funções de informação. A conse-qüência seria uma organização mais democrática nos seus objetivos e mais econômica na sua execução, pois, no seu entender, a biblio-teca deve ser organizada para atender a comunidade e não para benefício dos bibliotecários.

E mais, o bibliotecário deve sair a caçar leitores em vez de se escon-der, catalogando livros. Cada não-leitor é uma prova do fracasso da instituição. Nos países em desenvolvimento o problema é ainda mais crucial, exigindo do bibliotecário uma missão mais envolvente e decisiva.

Em resumo, Library P·ower é um livro extraordinariamente f/urdo e descontraído, quando a maioria dos livros sobre Biblioteconomia são pedantes ou pesados. Iconoclasta, no bom sentido do termo, condu-zido num nível sério e bem estruturado do ponto de vista da coorde-nação das idéias. Deve ser lido por quem, sem aspirações maso-quistas de nenhum quilate, queira exercitar-se nas artes da alJotocrí-tica. Depois do surpreendente carão passado nos bibliotecários bra-sileiros pelo Prof. Havard-Williams, nesta mesma revista, recente-mente, um exame de consciência deveria ser realmente exercido (se não exorcizado) por quem pretenda entregar-se ao exercício do poder divisado por Thompson para as bibliotecas como instrumento para o desenvolvimento espiritual e material da comunidade.

220 R. Bibliotecon. Brasília 3 (2) jul.ldez. 1975 R. Bibliotecon. Brasília 3 (2) jul./dez. 1975

ANTONIO MIRANDA Loughborough, Grã-Bretanha

Referências

Documentos relacionados

4º Os cursos técnicos de nível médio na forma integrada ao ensino médio devem conter carga horária mínima de 2.000 horas destinadas aos componentes curriculares e

No centro da análise está a intenção de oferecer uma pesquisa que pretende trazer uma discussão atual do ensino a distância por uma abordagem que reunirá,

Em se tratando de inferir sobre quais as espécies de COVs são mais importantes para a formação do ozônio na RMSP, as emissões individuais de COVs devem ser consideradas, lembrando

A transmissão do vírus da hepatite B se dá horizontalmente, através de sangue e hemoderivados contaminados e de secreções uretrais e vaginais, e verticalmente, de

A educação não formal na incubação dos empreendimentos solidários são propostas ligadas ao fazer, de colocar em pratica determinadas atividades que possibilitem o ato

Com a execução desse projeto pretende-se proporcionar conhecimento sobre como o sistema adenosinérgico pode interferir na fosforilação da Tau, para que a partir desse estudo

Mesmo havendo algumas diferenças estatísticas nos valores de atividade de água para o tratamento SCC, estes resultados podem ter relação com as variações sofridas

Criteria used in assessing the viability of atemoya seeds (Annona cherimola Mill. squamosa L.): 1 - colored embryo and endosperm and firm tissue (viable); 2 - colored