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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO PRESIDÊNCIA DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO

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Academic year: 2022

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HABEAS CORPUS Nº 2068785-82.2020.8.26.0000

COMARCA: SANTOS (V. INF. JUV.)

IMPETRANTE: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE: Y. DOS S. C.

JD 1º GRAU: EVANDRO RENATO PEREIRA

Trata-se de habeas corpus impetrado pela DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO em favor do adolescente Y. DOS S. C., com pedido de medida na forma liminar, sob o argumento de que o paciente sofre constrangimento ilegal decorrente de ato do MM. Juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Santos, que manteve a internação provisória do paciente, considerando suspensa a fluência do prazo de 45 (quarente e cinco) dias (fls. 50).

Sustentou a impetrante, em síntese, que o paciente foi apreendido em 19 de fevereiro de 2020, permanecendo internado provisoriamente desde então, de modo que o prazo máximo e improrrogável de 45 (quarenta e cinco) dias de sua internação provisória ocorreu nesta data, em 03 de abril de 2020. Não

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obstante, alegou que o MM. Juiz a quo manteve a internação provisória para além do referido prazo, sob o fundamento de que o prazo estaria suspenso em razão da pandemia do novo coronavírus e da reincidência do paciente. Asseverou que a gravidade em abstrato do ato infracional não pode se sobrepor à legalidade. Aduziu que sequer há previsão da data da audiência de instrução. Requereu a concessão da medida na forma liminar, revogando a internação provisória do paciente.

É o relatório.

Em cognição sumária, verifica-se que a r. decisão que manteve a internação provisória do paciente, por prazo indefinido, é ilegal.

Com efeito, em 03 de fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Portaria nº 188/2020) e, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou publicamente situação de pandemia em relação ao novo coronavírus (CONVID-19).

Diante disso, em 17 de março de 2020, o Conselho Nacional de Justiça recomendou aos Tribunais e magistrados a adoção de medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo coronavírus (COVID-19), no âmbito dos estabelecimentos do sistema prisional e do sistema socioeducativo (Recomendação nº 62/2020). As recomendações visam a, dentre outros

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fins, proteger a vida e a saúde das pessoas privadas de liberdade, dos magistrados e de todos os servidores e agentes públicos que integram o sistema de Justiça penal, prisional e socioeducativo, sobretudo daqueles que integram o grupo de risco, tais como idosos, gestantes e pessoas com doenças crônicas, imunossupressoras, respiratórias e outras comorbidades preexistentes que possam conduzir a um agravamento do estado geral de saúde a partir do contágio, com especial atenção para diabetes, tuberculose, doenças renais, HIV e coinfecções.

Conforme artigo 2º da Recomendação CNJ nº 62/2020, recomenda-se aos magistrados competentes para a fase de conhecimento na apuração de atos infracionais nas Varas da Infância e da Juventude a adoção de providências com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de disseminação do vírus, a aplicação preferencial de medidas socioeducativas em meio aberto e a revisão das decisões que determinaram a internação provisória, notadamente em relação a adolescentes: “I gestantes, lactantes, mães ou responsáveis por criança de até doze

anos de idade ou por pessoa com deficiência, assim como indígenas, adolescentes com deficiência e demais adolescentes que se enquadrem em grupos de risco; II que estejam internados provisoriamente em unidades

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socioeducativas com ocupação superior à capacidade, considerando os parâmetros das decisões proferidas pelo STF no HC no 143.988/ES; III que estejam internados em unidades socioeducativas que não disponham de equipe de saúde lotada no estabelecimento, estejam sob ordem de interdição, com medidas cautelares determinadas por órgão do sistema de jurisdição internacional, ou que disponham de instalações que favoreçam a propagação do novo coronavírus; e IV que estejam internados pela prática de atos infracionais praticados sem violência ou grave ameaça à pessoa”.

No mesmo sentido, o Conselho Superior da Magistratura deste E. Tribunal de Justiça editou o Provimento nº 2.546 de 18 de março de 2020, em que, no artigo 4º, caput e § 1º, prevê, respectivamente, que “os adolescentes, internados provisoriamente, que sejam gestantes e lactantes e aqueles portadores de doenças que possam ser agravadas com a COVID-19, tais como doenças pulmonares crônicas, portadores de cardiopatia, diabetes insulinodependentes, insuficiência renal crônica, HIV, doenças autoimunes, cirrose hepática, em tratamento oncológico, deverão ser colocados em liberdade, pelo juízo competente, assim que tome conhecimento da situação, mediante comunicação do diretor da unidade da Fundação CASA” e

“também serão colocados em liberdade os adolescentes

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que cumprem a medida de internação e não tenham praticado crime com violência ou grave ameaça à pessoa e se enquadrem nas hipóteses do caput. Em liberdade, os adolescentes serão acompanhados à distância por técnico da Fundação CASA”.

Além disso, o Conselho Superior da Magistratura deste E. Tribunal de Justiça editou o Provimento nº 2.548 de 19 de março de 2020, por meio do qual instituiu o Sistema de Plantão Judicial Especial em primeiro grau de 23 de março a 24 de abril de 2020 (artigo 1º) e estabeleceu que, neste período, “suspendem-se os prazos processuais, o atendimento ao público, as sessões do Tribunal do Júri e as audiências, inclusive as de custódia e as de apresentação, ao Juiz, de adolescente em conflito com a lei apreendido e representado, observando-se o Provimento CSM 2546/2020”. E, por meio do Provimento CSM nº 2.549 de 23 de março de 2020, foi instituído o Sistema Remoto de Trabalho em Primeiro Grau, até 30 de abril de 2020, com suspensão do trabalho presencial.

No caso concreto, verifica-se que o paciente está internado provisoriamente desde 19 de fevereiro de 2020 e a audiência de instrução que estava designada para 30 de março de 2020 não se realizou, em razão da mencionada instituição dos Sistemas de Plantão Judicial Especial e Remoto de

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Trabalho em Primeiro Grau. Diante disso, o MM. Juiz a quo considerou que todos os prazos processuais e materiais estavam excepcionalmente suspensos e, consequentemente, o prazo de 45 (quarenta e cinco) dias de duração da internação provisória.

Ocorre que, em que pese o paciente tenha sido representado pela suposta prática de infração grave, análoga ao crime de tráfico de drogas, e não esteja inserido em qualquer grupo de risco, o prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias para a internação provisória, previsto nos artigos 108 e 183 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é peremptório e improrrogável, independentemente da situação excepcional decorrente da pandemia pelo novo coronavírus e da instalação dos Sistemas de Plantão Judicial Especial e Remoto de Trabalho em Primeiro Grau. Aliás, a excepcionalidade da situação crítica envolvendo risco à saúde pública e dos cidadãos justifica eventuais excessos de prazo nas decisões judiciais e a não realização de atos judiciais, no período previsto no Provimento CSM nº 2.548/2020, mas não o descumprimento de previsão legal expressa a respeito de direito individual de adolescente privado da liberdade.

Ante o exposto, concedo a medida na forma liminar, revogando a internação provisória do paciente e determinando sua imediata liberação.

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Comunique-se, com urgência, via e-mail, o MM. Juiz a quo, servindo cópia da presente como ofício.

Requisitem-se informações e, após, remetam-se os autos à Procuradoria de Justiça.

Int.

São Paulo, 14 de abril de 2020.

DIMAS RUBENS FONSECA

PRESIDENTE DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO

Referências

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