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O impacto da livre admissão de associados sobre o desenvolvimento das cooperativas de crédito

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito

O IMPACTO DA LIVRE ADMISSÃO DE ASSOCIADOS SOBRE

O DESENVOLVIMENTO DAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO.

Brasília - DF

2013

(2)

ALEX RAFAEL HOFFLING

O IMPACTO DA LIVRE ADMISSÃO DE ASSOCIADOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO

Dissertação apresentada ao curso de pós-graduação strictu sensu em Direito da

Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial a obtenção do titulo de Mestre em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Benjamin M. Tabak

Co-Orientador: Prof. Dr. Ivo T. Gico Júnior

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H698i Höffling, Alex Rafael.

O impacto da livre admissão de associados sobre o desenvolvimento das cooperativas de crédito. / Alex Rafael Höffling – 2013.

84 f. ; il.: 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2013. Orientação: Prof. Dr. Benjamin M. Tabak

Coorientação: Prof. Dr. Ivo T. Gico Júnior

1. Cooperativas de crédito. 2. Desenvolvimento. 3. Sociedades comerciais. 4. Concorrência. I. Tabak, Benjamin M., orient. II. Gico Júnior, Ivo T., coorient. III. Título.

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AGRADECIMENTO

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RESUMO

Referência: HOFFLING, Alex Rafael. O impacto da livre admissão de associados sobre o desenvolvimento das cooperativas de crédito. 2013, 84 folhas. Mestrado em Direito, Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, 2013.

As cooperativas de crédito se assemelham aos bancos convencionais, mas possuem limitações operacionais. Além disso, as cooperativas, desde 1965, estão segmentadas em espécies. Somente em 2003 houve a permissão normativa para a constituição de cooperativas de livre admissão de associados, que possuem requisitos de constituição e funcionamento mais rígidos que as demais espécies. Buscamos identificar, por meio de pesquisa, se as cooperativas atuam no mesmo mercado relevante que os bancos convencionais, e se a livre admissão de associados impactou positivamente no crescimento do sistema cooperativo nacional. Além disso, discorremos sobre as vantagens legais concedidas às cooperativas, tanto trabalhistas quanto tributárias, e as razões para sua manutenção. A análise dos dados demonstrou que as cooperativas atuam no mesmo mercado relevante que os bancos convencionais, e que a livre admissão de associados impactou positivamente no crescimento do sistema cooperativo analisado.

Palavras-Chave: Cooperativas. Crédito. Mercado Relevante. Vantagens

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ABSTRACT

Credit unions are similar to conventional banks, but have operational limitations. Moreover, cooperatives, since 1965, are targeted species. Only in 2003 was the permission rules to form unions free admission of members, who own constitution and operation requirements stricter than the other species. We seek to identify, through research, that the cooperatives operate in the same relevant market as conventional banks, and the free admission of members positively affected the growth of the national cooperative system. Moreover, discourse about the legal benefits granted to cooperatives, as both labor tax, and the reasons for its maintenance. Data analysis showed that cooperatives operate in the same relevant market as conventional banks, and the free admission of members positively affected the growth of the cooperative system analyzed.

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SUMÁRIO

1 AS COOPERATIVAS DE CRÉDITO...10

1.1 AS ESPÉCIES DE COOPERATIVAS E A ESTRUTURAÇÃO DOS SISTEMAS NACIONAIS...17

1.2 PESQUISA – MERCADO RELEVANTE ...24

1.3 VANTAGENS COMPETITIVAS...30

1.4 PORQUE SUBSIDIAR COOPERATIVAS DE CRÉDITO...38

2 A LIVRE ADMISSÃO DE ASSOCIADOS – ORIGEM E EVOLUÇÃO...45

2.1 RAZÕES DO CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL PARA A SEGMENTAÇÃO E A LIVRE ADMISSÃO DE ASSOCIADOS...56

2.2 COMENTÁRIOS SOBRE A LIVRE ADMISSÃO DE ASSOCIADOS...62

3 O IMPACTO DA LIVRE ADMISSÃO DE ASSOCIADOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO...65

3.1 BASE DE DADOS UTILIZADA...65

3.2 INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO...68

3.3 REGRESSÃO MÚLTIPLA DE DADOS DE PAINEL...72

3.4 COMENTÁRIOS SOBRE O IMPACTO DA LIVRE ADMISSÃO...74

4 CONCLUSÃO...75

REFERÊNCIAS...78

APENDICE A - QUESTIONÁRIO MODELO A...81

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1 AS COOPERATIVAS DE CRÉDITO

O objetivo deste trabalho é investigar o impacto da livre admissão de associados sobre o desenvolvimento das cooperativas de crédito no período de 2003 a 2011. Para isso, teremos que definir o mercado relevante das cooperativas, confrontar as razões que levaram a sua segmentação e a posterior livre admissão, bem como analisar os seus indicadores de desenvolvimento.

Inicialmente, cabe destacar que o cooperativismo tem como base a união, a junção de forças, e surgiu em meio à revolução industrial (século XVIII), que massacrou a imensa maioria dos trabalhadores da época, principalmente na Inglaterra, e deu causa a diversas teorias socialistas, deflagrando o sindicalismo e outros movimentos importantes.

Em meio de opressão e a miséria, surgiram os socialistas utópicos, precursores do cooperativismo, que com suas idéias e atitudes buscavam formas de minorar as misérias e desigualdades sociais, criando condições para que o movimento cooperativista surgisse. Destes, podemos destacar Charles Fourrier (1772-1837) e Roberto Owen (1771-1858)1.

Com base nas suas idéias e experiências, e no momento em que mais pobreza e miséria pairavam sobre os trabalhadores das indústrias inglesas, um grupo de tecelões reuniu-se em Rochdale, para discutir formas de aliviar o imenso sofrimento e exploração de que eram vítimas.

Era o ano de 1843, e outras formas de cooperativismo já haviam sido tentadas. No entanto, este pequeno grupo de tecelões, denominados Pioneiros de Rochdale, estudaram as causas dos fracassos das tentativas anteriores e conseguiram, a duras penas, abrir a primeira cooperativa, do ramo de consumo, que se tornou viável no mundo2.

Esta cooperativa é um marco na história do cooperativismo, e seus princípios serviram para inspirar, inclusive, a lei de cooperativas brasileira, nº 5.764/71, art. 4º3. São eles: adesão livre; administração democrática; retorno na proporção das

1 SOUZA, Rainer. Socialismo Utópico. Disponível em:

<http://www.mundoeducacao.com/historiageral/socialismo-utopico.htm>. Acesso em 6 nov. 2013.

2 RIQUE, Mônica. Os Pioneiros de Rochdale e os Princípios do Cooperativismo. Disponível em: <

http://www.cooperativismopopular.ufrj.br/breve_hist_leia.php>. Acesso em 6 nov.2013.

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compras (ou operações conforme o caso); juro limitado ao capital; neutralidade política e religiosa; pagamento em dinheiro à vista; fomento da educação cooperativa.

Três anos após o surgimento do cooperativismo de consumo em Rochdale, surgiu na Alemanha o cooperativismo de crédito, tendo como seus principais forjadores Herman Schulze (1818-1883) e Frederico Raiffeisen (1818-1888)4.

O primeiro, idealizou os bancos populares nas cidades, com vistas a amparar a pobre população e auxiliá-la nos momentos de maior precisão; o segundo, as Caixas Rurais Raiffeisen, sendo o precursor do cooperativismo de

crédito rural.

Após a experiência alemã, o cooperativismo de crédito seguiu para a Itália com Luigi Luzzatti e Leone Wolemborg, espalhando-se pela Europa, posteriormente para as Américas e Canadá5.

O modelo de Raiffeisen foi trazido ao Brasil pelo padre suíço Theodor

Amstadt (1902), que fundou a primeira caixa rural em Nova Petrópolis-RS, que ainda está em atividade, espalhando-se por todas as regiões de colonização alemã, chegando a ter 63 (sessenta e três) cooperativas desse modelo6.

Posteriormente, a partir de 1919, a Igreja Católica fomentou a criação dos bancos populares Luzzatti, que somaram um expressivo número mas, mesmo com

o vertiginoso crescimento, possuíam fragilidades administrativas que os levavam a liquidação, e terminaram comprometendo a reputação das cooperativas de crédito7.

Como se nota, desde os primórdios as cooperativas conviveram com a falta de normatização, o que abriu espaço para o seu uso por pessoas inescrupulosas, que buscavam uma forma de lesar a economia popular.

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

4 PORTAL do Cooperativismo. História do Cooperativismo. Disponível em:

<http://cooperativismodecredito.coop.br/historia-do-cooperativismo/>. Acesso em 6 nov. 2013. 5BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Evolução do cooperativismo no

Brasil. Brasília: MAPA, 2006.

6 GUIMARÃES, Mário Kruel; ARAÚJO, Adilson. Ensino Básico de Cooperativismo à Distância.

2. ed. Brasília, Confebras, 1999.

7 CONFEBRAS – Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito. História do Cooperativismo

de Crédito no Brasil e no Mundo. Disponível em: <

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Somente em 1964, com a criação do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil, por meio da Lei nº 4.5958, criou-se a possibilidade de

regulação das cooperativas por um órgão especializado e, com a publicação da Lei nº 5.764/719, que definiu a política nacional de cooperativismo, instituiu o regime

jurídico das cooperativas de crédito, além de outras providências, abriu-se espaço para o crescimento sustentado dessa forma associativa, importante em vários países.

Para ilustrar a importância do cooperativismo no mundo, em 30/06/2011, figuravam 8 (oito) bancos cooperativos dentre os 50 (cinqüenta) maiores bancos do mundo, sediados na França, Holanda, Japão e Alemanha, embora as cooperativas de crédito sejam importantes em vários outros países, como China, Estados Unidos, Itália, Áustria, Canadá e Espanha10.

No Brasil, a regulamentação das cooperativas de crédito pode ser vista da seguinte forma:

Figura 1: Fluxograma de Leis

Nos termos da Lei nº 5.764/7111, artigos 3º e 4º, as cooperativas são consideradas sociedades de pessoas que se unem voluntariamente para buscar, por

8BRASIL. Presidência da República. Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1.964. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4595.htm>. Acessado em 8 nov. 2013

9BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

10 MEINEN, Ênio; PORT, Márcio. O Cooperativismo de crédito ontem, hoje e amanhã. Brasília-DF,

Confebras, 2012.

11BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013

Lei Complementar nº 130/09 – Dispõe sobre o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo.

Lei nº 5.764/71 – Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas e dá outras providências

Lei 4.595/64 – Dispõe sobre a Política e as instituições Monetárias, Bancárias e Creditícias, Cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providências.

Resoluções do Conselho Monetário Nacional – Banco Central do Brasil, aplicáveis a todas instituições financeiras, inclusive Cooperativas de Crédito.

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meio da ajuda mútua, contribuindo com bens ou serviços, a exploração de uma determinada atividade econômica, sem fins lucrativos.

Podem exercer qualquer atividade, como venda de mercadorias ou prestação de serviços, mas tem que mencionar em sua denominação a expressão ‘cooperativa’, sendo-lhes proibida a utilização da expressão banco, que somente interessaria as cooperativas que se dedicassem ao ramo “crédito”, o que poderia levar à confusão o público em geral.

Nos termos da citada lei, pelo menos 20 (vinte) pessoas celebram um contrato, que na verdade é a Ata de Fundação da Cooperativa12, por meio do qual estabelecem a contribuição dos associados ao empreendimento, com bens ou serviços; a responsabilidade limitada ou ilimitada; a forma de governança, se por conselho de administração ou diretoria; de custeio, como serão pagas as despesas da atividade; entre outros.

A lei, apesar de exigir apenas vinte pessoas para a constituição das sociedades cooperativas, não limita o número de associados, prevendo, apenas, que a sua adesão é livre a todos que tenham interesse em participar da sociedade, mediante o atendimento das condições previstas em seu estatuto, desde que estas tenham capacidade técnica para atendê-los na prestação dos serviços a que se propõe, e haja possibilidade, em função do local onde estes associados residam, destes participarem ativamente da cooperativa.13

No entanto, apesar da Lei de Cooperativas não limitar o acesso de pessoas à cooperativa, exceto nos casos acima descritos, o órgão normativo da respectiva atividade econômica (ex: o Banco Central do Brasil no caso de atividades financeiras) poderá fazê-lo14, a seu exclusivo critério, às pessoas que exerçam determinada profissão ou atividade, ou que estejam vinculadas a determinada entidade, como órgãos públicos, empresas privadas, sindicatos etc., o que se

12 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 14. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

13 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

incisos I e IX do art. 4º combinado com o art. 29. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

14 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

§ 1º do art. 29. Disponível em:

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denomina de “segmentação”, que nada mais é do que limitar a constituição de cooperativas por determinado grupo de pessoas, naturais ou jurídicas, em razão da qualidade destas.

A segmentação pode limitar a constituição de cooperativas e o seu crescimento, pois como estas têm por objetivo principal prestar serviços aos seus associados, menos associados significa menos pessoas aptas a constituí-las e com elas operarem, o que será abordado no capitulo 2.

Obviamente que cada associado, ao aderir à cooperativa, deverá contribuir com bens ou serviços, mas normalmente a contribuição é efetuada em dinheiro, mediante a subscrição de quotas-partes, que é a divisão do capital subscrito na cooperativa, de forma similar as quotas de capital de uma sociedade limitada, ou seja, as quotas-partes representam uma parte do capital da cooperativa, que irá variar em função do ingresso ou retirada de cooperados do quadro social15.

Vale destacar que o número de quotas-partes passíveis de subscrição é limitado por associado16, de forma a impedir que uma única pessoa detenha significativo montante, de forma a influenciar, por esse motivo, na condução da sociedade, o que poderia ocorrer mediante a ameaça de retirada da sociedade caso os seus pleitos não fossem atendidos. Aliás, a retirada da cooperativa é a única forma do associado receber o valor aportado em devolução17, pois não é possível a estes a cessão de suas quotas a terceiros, o que poderia gerar um mercado secundário de negociação, permitindo que pessoas estranhas a sociedade ingressassem ou se tornassem grandes quotistas da cooperativa. Tal regra, no entanto, não impede que os cooperados adotem alguns critérios de proporcionalidade que permitam um maior número de subscrição de quotas de capital.

15 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

inciso II do art. 4º c/c art. 32 e 33. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

16 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

inciso III do art. 4º. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

17 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

inciso II do art. 4º c/c art. 32 e 33. Disponível em:

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Quanto à forma de constituição, as cooperativas assemelham-se as demais sociedades, ou seja, nascem da vontade dos sócios em constituir uma determinada empresa, com os devidos registros nos órgãos competentes, mas são administradas democraticamente pelos associados, que elegem dentre o quadro social os componentes dos diversos órgãos de administração, como diretoria ou conselho de administração e conselho fiscal, por meio de Assembléia Geral Ordinária, a ser realizada nos três primeiros meses do ano, após findar o exercício18. A Assembléia Geral dos associados, ordinária ou extraordinária, é o órgão máximo da sociedade, suas decisões são soberanas e obrigam a todos, o que demonstra a necessidade de participação dos associados em suas deliberações.

Em assembléia, os associados têm direito a apenas um voto, independente da quantidade de capital subscrito. O mesmo critério de participação é utilizado para aferir o quorum de instalação e funcionamento, diferente das sociedades comerciais, que se baseiam apenas no capital presente.19

Apesar de alguns temas terem que ser tratados obrigatoriamente em Assembléia Geral Ordinária, os associados podem deliberar sobre qualquer assunto de interesse da sociedade em Assembléia Geral Extraordinária, que possui um leque temático amplo, como reformas estatutárias, fusão, incorporação e desmembramento, mudança de objeto etc20, e podem ocorrer várias vezes no decorrer do exercício, pois não tem limite de convocação. Nada impede que se realizem as duas assembléias na mesma data, desde que sejam segregados os temas de uma e outra assembléia na referida ata.

Como se nota, apesar das sociedades cooperativas guardarem algumas semelhanças com as sociedades anônima e limitada, se diferem em alguns pontos fundamentais, como: a) são criadas para prestar serviços aos próprios associados, que exercem dois papéis, o de sócio e o de cliente; b) não objetivam o lucro; c) são

18 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 44. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

19 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

incisos V e VI do art. 4º. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

20 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 46. Disponível em:

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administradas pelos associados, escolhidos em eleição direta, sem influencia do capital subscrito.

No primeiro caso, essa premissa não impede que as cooperativas prestem serviços a não-sócios, mas tão somente direciona a sua atividade preponderante, que é atender aos seus associados, conforme o seu objeto social. Diferente das demais empresas, que são criadas pelos sócios para prestar serviços especialmente a terceiros.

A finalidade não lucrativa das cooperativas, por sua vez, não impede que estas tenham um resultado positivo na sua atividade, a questão é mais dogmática do que prática, pois como é quase impossível à cooperativa exercer as suas atividades com resultado final igual a zero. Normalmente as cooperativas aplicam uma remuneração pelos seus serviços que excede o seu custo operacional, com isso buscam fechar o exercício com sobras, que são o resultado positivo da atividade da cooperativa, semelhante ao lucro do mercado convencional.

Isso porque, caso a cooperativa não obtenha receita suficiente para cobrir todas as suas despesas, os associados serão chamados para ratear as perdas, que é o resultado negativo da atividade da cooperativa, com base nas operações realizadas. Desta forma, aqueles que mais usaram os seus serviços receberão mais sobras21 ou arcarão com mais perdas22.

Diante desse quadro, todas as cooperativas buscam operar de forma a terminar o exercício social com sobras, evitando a desgastante tarefa de chamar o seu quadro social para, em assembléia, deliberar sobre o rateio das perdas.

Por fim, as cooperativas são instituições neutras politicamente e não discriminam seus possíveis associados por razões religiosas, raciais ou sociais, buscando prestar serviços de qualidade ao seu quadro social e aos seus empregados. No último caso, quando previsto em estatuto a sua associação.23

21 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

inciso VII do art. 4º. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

22 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 80 e 81. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

23 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

incisos IX e X do art. 4º. Disponível em:

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1.1 AS ESPÉCIES DE COOPERATIVAS E A ESTRUTURAÇÃO DOS SISTEMAS NACIONAIS

Como visto, as cooperativas são empresas com características próprias, apesar de se assemelharem em alguns pontos a sociedade anônima e a sociedade por quotas de responsabilidade limitada. Essa semelhança, em alguns casos, levou as cooperativas a utilizarem, em sua razão social, a expressão Ltda, uma alusão a responsabilidade de seus associados, adstrita as quotas de capital subscritas.24

As cooperativas podem explorar, como dissemos, qualquer gênero de atividade econômica, mas podem se organizar em apenas três níveis, segundo seus objetivos: a) Cooperativas Singulares, constituídas de pelo menos 20 (vinte) pessoas naturais, embora possam associar pessoas jurídicas. Destinam-se precipuamente a prestar serviços aos seus associados25; b) Cooperativas Centrais (ou Federações de Cooperativas)26, constituídas por pelo menos 3 (três) cooperativas singulares, cujo objetivo principal é organizar os serviços econômicos de suas associadas, permitindo inclusive que estas utilizem reciprocamente os serviços umas das outras, pois as cooperativas centrais podem ser mistas, associando diversos tipos de cooperativas singulares e; c) Confederações de Cooperativas27, constituídas por pelo menos 3 (três) federações de cooperativas, e que tem por objetivo orientar e coordenar as atividades das filiadas quando o empreendimento destas transcender o seu âmbito de conveniência ou de atuação.

O sistema cooperativo pode ser representado desta forma:

Figura 2: Estrutura do Sistema Cooperativo

24 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 11. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

25 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

inciso I do art. 6º e art. 7º. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

26 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

inciso II do art. 6º combinado com o art. 9 e parágrafo único. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

27 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 9º. Disponível em:

(19)

Assim, as cooperativas singulares prestam serviços para os seus associados, as centrais prestam serviços para as singulares e as confederações prestam serviços para as centrais e para as cooperativas singulares.

Ainda, é possível que as cooperativas, singulares, centrais ou confederações, constituam empresas destinadas a prestar serviços as próprias cooperativas, seus associados ou a terceiros, como bancos cooperativos, empresas de auditoria, seguradoras etc, em que pese o foco destes empreendimentos estarem atrelados ao suprimento das necessidades das próprias filiadas28.

No âmbito institucional, as confederações atuam de forma coordenada com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), entidade de representação nacional do cooperativismo, em todos os seus ramos, criada em 1969 para promover, fomentar e desenvolver o sistema cooperativista nas instâncias políticas e institucionais29.

Quanto aos ramos de atuação das cooperativas, apesar de não haver limitação legal30, a OCB as distribuiu em 13 (treze) setores da economia, a saber:

28 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 88. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013. BRASIL, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009, art. 12, V e VII. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp130.htm>. Acesso em 8 nov. 2013.

29 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 105. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

30 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 5º. Disponível em:

Associados Associados Associados Cooperativa

Singular

Cooperativa Central

Cooperativa Singular Cooperativa

Singular

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agropecuário, consumo, crédito, educacional, especial, habitacional, infraestrutura, mineral, produção, saúde, trabalho, transporte e turismo e lazer31.

Direcionamos o nosso estudo apenas ao ramo crédito, regulamentado pela Lei Complementar nº 130/0932, que trouxe algumas inovações sem, contudo, revogar

a Lei de Cooperativas, nº 5.764/7133, aplicável indistintamente aos vários ramos. Uma importante evolução trazida com a lei complementar refere-se a definição da natureza jurídica das cooperativas de crédito, que é própria, ou seja, uma espécie de organização societária que se junta as demais existentes. Neste aspecto, a redação do art. 1º preconiza: “As instituições financeiras constituídas sob a forma de cooperativas de crédito submetem-se a esta Lei Complementar, bem como à legislação do Sistema Financeiro Nacional - SFN e das sociedades cooperativas.”

Ora, se uma instituição financeira pode constituir-se sob a forma de cooperativa de crédito, esta é, portanto, mais uma espécie societária, tal qual é a sociedade anônima, sociedade limitada, comandita simples etc.

Com essa inovação, as cooperativas não precisam mais se revestir sob a forma de sociedade limitada ou sociedade civil, o que faziam algumas vezes por exigência do próprio Banco Central ou por não encontrarem na legislação nacional uma forma que se adequasse os seus objetivos e a sua finalidade não lucrativa34. Vale lembrar que a sociedade civil, prevista no Código Civil de 191635, art. 16, Inciso I, e a

associação civil, prevista no Código Civil de 200236, art. 53, não se adequavam a

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

31 ORGANIZAÇÃO das Cooperativas Brasileiras. Ramos – Cooperativismo em toda parte.

Disponível em: <http://www.ocb.org.br/site/ramos/index.asp>. Acesso em 06 nov. 2013. 32BRASIL. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp130.htm>. Acesso em 8 nov. 2013.

33BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

34 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 3º. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

35 BRASIL. Presidência de República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 3.071 de

1 de janeiro de 1916. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm>. Acesso em 14 maio 2013.

36 BRASIL. Presidência de República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 10.406 de

(21)

formalização das cooperativas de crédito, pois as cooperativas, apesar de não terem fins lucrativos, possuem atividade econômica e não meramente recreativa, cultural ou de assistência social. Atualmente o Código Civil37 regulamenta a sociedade cooperativa nos arts. 1093 a 1.096, ressalvando a aplicação da legislação especial que as rege.

Ainda, a norma reafirmou que as cooperativas de crédito, como instituições financeiras que são, subordinam-se as normatizações do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil38, como o restante do sistema financeiro nacional e, embora a nova Lei não trate pormenorizadamente das operações que podem praticar, deixa claro que estas têm acesso aos instrumentos do mercado financeiro e podem, inclusive, prestar serviços por conta de outras instituições financeiras, a associados e a não-associados, quebrando um paradigma regulamentar de décadas, que permitia apenas por exceção que estas prestassem serviços a não-associados39.

Apesar disso, a Lei Complementar nº 130/09 manteve as restrições já previstas nas normas do Banco Central do Brasil, que seguindo os ditames do art. 7º e §1º do art. 29 da Lei nº 5.764/7140, já determinavam que as cooperativas

captassem recursos e os emprestassem apenas aos associados, que para participar da cooperativa deveriam pertencer a um determinado segmento social, seja de servidores públicos de determinado órgão, produtores rurais de determinada região, comerciantes de determinado município, livre admissão de associados, entre outros, o que o que será detalhado no capítulo 2.

37BRASIL, Presidência da Republicam, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acessado em 8 nov. 2013.

38 Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei Complementar nº

130, de 17 de abril de 2009, §1º do art. 1º. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp130.htm>. Acesso em 8 nov. 2013.

39 BRASIL. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei

Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009, §2º do art. 2º e art. 3º. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp130.htm>. Acesso em 8 nov. 2013.

40BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971. Disponível em:

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Outra evolução foi trazida pelo art. 4º, da Lei Complementar nº 130/0941, que

flexibilizou a associação de pessoas jurídicas às cooperativas de crédito, conforme definam os associados em assembléia geral e no estatuto social. A Lei de Cooperativas permitia a associação de pessoas jurídicas apenas por exceção e desde que não concorressem diretamente com a cooperativa, o que seria desnecessário mencionar.

Quanto à organização sistêmica, duas inovações merecem destaque, a primeira, a co-gestão instituída no art. 16, que possibilita a cooperativa central, ou confederação de cooperativas, assistir temporariamente uma cooperativa singular filiada, para sanar irregularidades ou em caso de risco de solidez. A segunda, a possibilidade de constituição de confederações de cooperativas de crédito como instituições financeiras. Até a edição da citada lei complementar, as confederações estavam regulamentadas apenas pela Lei nº 5.764/7142, não havendo previsão de sua existência nos normativos do Conselho Monetário Nacional. Assim, as confederações de cooperativas de crédito não eram instituições financeiras e não estavam sob o pálio regulamentar e fiscalizatório Banco Central do Brasil, como as cooperativas Centrais e Singulares de crédito.

Dito isso, importa que as cooperativas continuam a ter acesso a todos os instrumentos do mercado financeiro, podendo captar depósitos e conceder empréstimos somente a associados, além de prestar toda a gama de serviços semelhantes aos demais bancos, diretamente ou em parceria com essas instituições, como recebimento de contas de prestadoras de serviços públicos, concessão de cartões de crédito, contas correntes de depósito à vista etc43. Na

prática, o associado de uma cooperativa de crédito, que mantenha contrato com um

41Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp130.htm>. Acesso em 8 nov. 2013.

42BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

43 BRASIL. Banco Central do Brasil, Resolução nº 3.859, de 27 de maio de 2010, art. 35. Disponível

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banco comercial, cooperativo ou não, tem acesso a quase todos os produtos ou serviços que os bancos convencionais oferecem44.

No entanto, as cooperativas de crédito não estão abarcadas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC)45, por opção regulamentar, que é uma entidade

privada destinada a garantir os créditos depositados nas instituições financeiras associadas, em caso de intervenção ou liquidação e insolvência, até um determinado limite.

Em razão disso, várias cooperativas de crédito, e os principais sistemas cooperativos nacionais, constituíram fundos garantidores próprios, com objetivos similares ao FGC.

Os dois principais sistemas de cooperativas brasileiros atualmente são o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (SICOOB), composto por 01 Confederação de Cooperativas (não-financeira), 15 cooperativas centrais de crédito, 529 cooperativas singulares de crédito e 1.562 postos de atendimento cooperativo.46 Esse sistema também possui um dos dois bancos cooperativos existentes no Brasil, denominado Banco Cooperativo do Brasil S/A (BANCOOB), classificado como 23º banco em ativos totais dentre os 50 maiores bancos do sistema financeiro nacional, com R$ 13.583.691.000,0047; e o Sistema de Crédito Cooperativo (SICREDI), que

conta com 01 Confederação Nacional (não financeira), 04 Cooperativas Centrais, 115 cooperativas singulares e 1.200 pontos de atendimento. Possui o primeiro banco cooperativo constituído no Brasil, o Banco Cooperativo Sicredi S/A (BANCO DO SICREDI), classificado na 19ª colocação entre os 50 maiores bancos em ativos totais no sistema financeiro nacional com R$ 19.303.936.000,00.

Outros sistemas cooperativos merecem destaque, embora não tenham constituído um banco cooperativo próprio, como o sistema União Nacional de Cooperativas (UNICRED), que possui 01 confederação nacional, 8 cooperativas centrais e 100 cooperativas singulares; o sistema liderado pela Confederação das

44 BRASIL. Banco Central do Brasil, Resolução nº 3.859, de 27 de maio de 2010, art. 35, IV.

Disponível em < http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/2010/pdf/res_3859_v4_P.pdf>. Acesso em 8 nov. 2013.

45 BRASIL. Banco Central do Brasil, Resolução nº 2.197, de 31 de agosto de 1995, §2º do art. 1º.

Disponível em <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/1995/pdf/res_2197_v3_P.pdf>. Acesso em 8 nov. 2013.

46 CONFEDERAÇÃO Nacional das Cooperativas do Sicoob. Dados de Dezembro/2012. Disponível

em: <http://www.sicoob.com.br/o-sicoob>. Acesso em 6 nov. 2013.

47 BANCO Central do Brasil. Dados de Junho/2012. Disponível em: <

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Cooperativas Centrais de Crédito Rural com Interação Solidária (CONFESOL), que além de uma confederação, conta com 5 Cooperativas Centrais e 190 Cooperativas singulares; e o sistema formado pela Cooperativa Central de Crédito Urbano (CECRED), que possuí uma cooperativa central, 14 cooperativas de crédito singulares e 100 pontos de atendimento.

Esses principais sistemas cooperativos juntos congregam 74% (setenta e quatro por cento) dos ativos de todas as cooperativas de crédito nacionais, o que demonstra a importância da organização sistêmica. Destes sistemas, o Sicoob e o SICREDI, respondem por mais de 80% (oitenta por cento) de todos os ativos totais48, logo, são de longe os principais sistemas de cooperativas de crédito do Brasil, o que demonstra importância da organização sistêmica e em três níveis.

Talvez por isso as normas mais recentes do Banco Central do Brasil caminhem no sentido de dificultar a constituição de cooperativas independentes, mediante exigências, quando da sua constituição e funcionamento, de mais capital, controles e de menor exposição a riscos49.

Mesmo com toda essa força, o sistema cooperativo inteiro responde por apenas 3% (três por cento) do sistema bancário brasileiro, que diferentemente do sistema alemão50, é extremamente concentrado, tendo as cinco maiores instituições

financeiras 68% de todos os ativos totais51.

Assim, o sistema cooperativo nacional tem muito a evoluir, dado a sua baixa representatividade face ao sistema financeiro nacional, o que significa que não tem influência sobre os preços e taxas praticados no mercado.

Os entraves ao crescimento do sistema cooperativo nacional são vários, desde o aspecto cultural e econômico até o profissional, muito diferente dos países europeus, onde o sistema cooperativo é representativo52.

48 Dados de Dezembro/2011 – Fonte: Portal do Cooperativismo. Disponível em <

http://www.cooperativismodecredito.com.br/DadosConsolidados.html>, acesso em 06 nov. 2013

49Banco Central do Brasil. Resolução nº 3.859/10/BACEN, inciso IV, §1º, art. 3º, art. 31, II e VI e art.

36, II “a”

50 O Setor Financeiro Cooperativo da Alemanha / Paul Armbruster, Matthias Arzbach. —3ª edição—

San José, C.R.: Confederação Alemã das Cooperativas (DGRV), 2004

51 Utilizamos os dados do Banco Central do Brasil disponibilizados no endereço

http://www4.bcb.gov.br/fis/TOP50/port/Top50P.asp. Somamos o ativo total das cinco maiores

instituições financeiras e obtivemos o percentual de participação face ao valor total. Utilizamos a data base de Dezembro/2011 para coincidir com os dados das cooperativas, constante do capitulo 2.

52 Portal do Cooperativismo. A Expressão Mundial. Disponível em

(25)

No entanto, um dos aspectos que talvez tenha contribuído para o baixo crescimento do sistema cooperativo nacional, além da falta de regulamentação durante décadas, é a segmentação de associados, visto que até o ano de 2003 as cooperativas estavam adstritas a associar determinado grupo de profissionais ou servidores públicos, produtores rurais de determinada região entre outros, limitando-se a atuar somente com este grupo.

Logicamente essa limitação não foi o único entrave, mas o desafio que temos neste estudo é determinar em que medida esse ponto, a segmentação de associados, restringiu esse crescimento, o que será discutido no capítulo 2.

1.2 PESQUISA – MERCADO RELEVANTE DAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO

Antes de aprofundarmos o estudo sobre as cooperativas de crédito, convém investigarmos se estas atuam no mesmo mercado relevante do sistema bancário convencional, ou operam em um nicho de mercado, no qual não sofreriam, ou ofereceriam, concorrência ao mercado bancário convencional.

No Brasil, a expressão ‘mercado relevante’ é utilizada pela Lei nº 12.529/201153, que transformou o CADE – Conselho Administrativo de Defesa

Econômica, em autarquia, e dispôs sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. Essa lei, no entanto, não definiu o que é mercado relevante.

A Secretaria de Acompanhamento Econômico - SEAE, do Ministério da Fazenda, e a Secretaria de Direito Econômico-SDE, do Ministério da Justiça, por meio da portaria conjunta nº 50 de 01/08/2001, definiram o mercado relevante por meio do teste do monopolista hipotético54, que busca identificar se em um

determinado mercado algum agente está impondo o preço, de forma anticompetitiva, em prejuízo do consumidor. Eis a definição:

Definição. O mercado relevante se determinará em termos dos produtos e/ou serviços (de agora em diante simplesmente produtos) que o compõem (dimensão do produto) e da área geográfica para qual a venda destes produtos é economicamente viável (dimensão geográfica). Segundo o teste do “monopolista hipotético”, o mercado relevante é definido como o menor

53BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 12.529 de 30 de novembro de 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm>. Acesso em 14 nov. 2013.

54 BRASIL. Ministério da Fazenda/Ministério da Justiça. Portaria Conjunta SEAE/SDE nº 50, de 1º de

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grupo de produtos e a menor área geográfica necessários para que um suposto monopolista esteja em condições de impor um “pequeno porém significativo e não transitório” aumento de preços. (Portaria Conjunta SEAE/SDE nº 50, de 1º/08/2001, pg. 9)

Neste estudo, não estamos buscando identificar condutas anticompetitivas, mas apenas investigar se as cooperativas de crédito e os bancos convencionais atuam no mesmo mercado relevante ou, ao revés, operam em mercados distintos.

Essa definição poderá influir nas discussões acerca da função econômica das cooperativas de crédito no mercado financeiro nacional, se de alguma forma estão buscando apenas rent seeking55 ou se há razões para que obtenham subsídios

estatais.

Para buscarmos essa identificação, efetuamos uma pesquisa junto a alunos universitários de duas faculdades em Brasília-DF, que possuem origens, formações e atividades distintas, por meio da aplicação de dois modelos de questionário.

O modelo A restou elaborado nos seguintes termos:

a) Um preâmbulo, com a explicação sucinta do que é uma cooperativa de crédito e quais os seus objetivos. Este preâmbulo buscava prestar esclarecimentos mínimos às pessoas que nunca tiveram contato com uma cooperativa de crédito;

b) Formulamos a primeira questão para identificar, em igualdade de condições, se as pessoas optariam por buscar um empréstimo junto a uma cooperativa de crédito, junto a um banco ou eram indiferentes à instituição financeira. Neste caso, a taxa de empréstimo era idêntica, qualquer que fosse a instituição financeira;

c) A segunda questão buscava identificar se as pessoas, que optaram pela cooperativa de crédito na primeira questão, alterariam a sua opção mediante um acréscimo no valor da taxa de empréstimo. Se as pessoas alterassem a sua escolha, de cooperativa para banco, identificaríamos que as cooperativas estão atuando no mesmo mercado relevante dos bancos, uma vez que, alterada a taxa de empréstimo, haveria migração de uma instituição financeira para outra. Neste caso,

55“A teoria de

rent seeking tem como tema central de sua investigação teórica o problema da

dissipação de rendas através da competição dos agentes por monopólio ou proteção legais, sendo as referências básicas Tullock (1967), Krueger (1974), Posner (1975), Buchanan (1980a) e Tollison (1982). De acordo com essa análise, ao menos na maior parte das vezes, a ação do Estado na concessão de direitos de propriedade possui efeitos nocivos do ponto de vista da eficiência econômica.” (FIANI, Ronaldo. Uma Avaliação Crítica da Teoria de Rent Seeking. Seminário de Pesquisa IE/UFRJ, Rio de Janeiro, Set. 2003. Disponível em:

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a taxa de empréstimo da cooperativa foi fixada em 1,3% ao mês e a do banco manteve-se em 1,0% ao mês;

d) A terceira questão foi fragmentada em três, com pontos de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). As indagações foram estruturadas de forma inversa, ou seja, caso o entrevistado marcasse em todas as colunas o quadro corresponde ao valor 5 (concordo totalmente) haveria uma nítida contradição nas respostas. Estas questões buscavam identificar: (3.1) ansiedade pela obtenção de um empréstimo, ou seja, se o prazo para a concessão era mais importante do que a taxa cobrada pela instituição financeira; (3.2) a importância do viés social para os entrevistados, caso preferissem instituições financeiras que tivessem entre as suas finalidades promover o bem social ou prestar auxílio aos menos favorecidos e; (3.3) a fidelidade à instituição que mantém conta corrente.

O modelo B foi estruturado com as mesmas questões e objetivos, exceto pela segunda questão, alterada de forma a sensibilizar o entrevistado para o viés social da cooperativa, frisando que esta objetiva não apenas o resultado financeiro, mas a inclusão e a assistência financeira às pessoas economicamente desfavorecidas, mesmo que, às vezes, com taxas menos atrativas em seus empréstimos do que os bancos convencionais, por razões de escala.

Buscávamos, com a segunda questão do modelo B, identificar se, incluindo o apelo social da cooperativa, haveria menos migração para o sistema bancário convencional do que no modelo A, onde as informações foram colocadas imparcialmente.

Os questionários foram distribuídos aleatoriamente, tendo respondido ao questionário “modelo A” 36 pessoas, e ao questionário “modelo B” 32.

(28)

Gráfico 1: Questão 1 - Modelo A

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Banco Cooperativa de

Crédito

Indiferente

Gráfico 2: Questão 2 - Modelo A

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Banco Cooperativa de

Crédito

Indiferente

Nota-se pelos gráficos que, com o aumento da taxa de juros, há uma forte migração das cooperativas de crédito para os bancos convencionais.

(29)

Gráfico 3: Questão 1 – Modelo B

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Banco Cooperativa de

Crédito

Indiferente

Gráfico 4: Questão 2 - Modelo B

0 10 20 30 40 50 60 70

Banco Cooperativa de

Crédito

Indiferente

Da análise dos gráficos das questões 1 e 2, dos modelos A e B, notamos que o componente emocional constante da questão 2, do modelo B, influenciou os entrevistados, pois o percentual de pessoas que optou pelos bancos na questão 01, do modelo B, foi menor do que na questão 01, do modelo A. Em percentual, no modelo A, espontaneamente, 39% escolheram banco, e 36% cooperativas, na primeira questão. Na segunda questão, onde a taxa de empréstimo foi alterada para maior nas cooperativas, 83% escolheram banco, e apenas 14% se mantiveram escolhendo as cooperativas.

(30)

escolheram banco, e 47% cooperativas, valor alterado na segunda questão, onde 66% optaram pelos bancos, e 22% permaneceram nas cooperativas.

Essa migração entre cooperativas e bancos, quando há uma alteração significativa na taxa de empréstimo, no caso alteramos a taxa de 1,0% a.m. para 1,3% a.m., demonstra que as cooperativas e os bancos operam no mesmo mercado relevante.

Os agentes racionais optaram por bancos ou por cooperativas movidos pelo benefício que irão auferir negociando com uma ou outra instituição financeira, logo, optaram pelas cooperativas de crédito quanto não haveria um custo adicional por essa opção.

A terceira questão proposta na pesquisa, divida em três sub-questionamentos, auxilia na explicação do resultado do teste, como se nota:

a) no modelo A, 72% dos entrevistados mostraram-se pouco ansiosos na obtenção de empréstimos, ou seja, o tempo gasto pelas instituições para os procedimentos de análise de crédito não seria determinante para a escolha. Esse resultado beneficiaria as cooperativas de crédito, que não dispõe de sistemas operacionais tão ágeis quanto os dos bancos convencionais. No modelo B, 65% mostraram-se pouco ansiosos;

b) O viés social da instituição financeira sensibilizou, em tese, os entrevistados, 66% no modelo A, e 75% no modelo B, mostraram-se mais propensos a buscar empréstimos em instituições financeiras que invistam em projetos sociais ou tenham funções sociais. No entanto, esses entrevistados não se dispõe a pagar mais por isso, o que o restou demonstrado na resposta à questão 2 em ambos questionários. Aumentada a taxa de juros, houve uma forte migração das cooperativas para os bancos;

c) A fidelidade a instituição financeira não se mostrou significativa, pois 75% dos entrevistados, no modelo A, e 65% no modelo B, se mostraram não fiéis a instituição onde mantém relacionamento, caso obtenham melhores benefícios em outra instituição. Esse posicionamento também favoreceria as cooperativas de crédito, uma vez que, tendo pouca participação no mercado financeiro, normalmente atenderiam a uma parcela da população que mantém ou já manteve relacionamento com algum banco convencional.

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Tabela 1 – Respostas à Questão 3 – Modelo A

QUESTÃO 3

Modelo A Totalmente Discordo Discordo Neutro Concordo Totalmente Concordo

3.1 13 13 03 06 01

3.2 12 12 10 01 01

3.3 12 12 04 08 00

Tabela 2 – Respostas à Questão 3 – Modelo B

QUESTÃO 3

Modelo B Totalmente Discordo Discordo Neutro Concordo Totalmente Concordo

3.1 10 11 06 02 03

3.2 12 12 06 01 01

3.3 10 11 06 03 02

Diante desse quadro, é forçosa a conclusão de que as cooperativas de crédito e os bancos convencionais atuam no mesmo mercado relevante, o que ficou comprovado pela movimentação entre uma e outra instituição financeira quando a taxa de juros de empréstimo é alterada.

Neste caso, utilizamos o produto empréstimo, de forte demanda na sociedade brasileira nos últimos anos, mas a abrangência não foi delimitada, por acreditarmos que nenhum dos agentes se deslocaria a outro municio para buscar um empréstimo, já que residem em Brasília-DF, onde a oferta de instituições financeiras é significativa. Assim, implicitamente, o mercado pesquisado é o de Brasília-DF.

Os questionamentos 3.1, 3.2 e 3.3 auxiliaram nessa conclusão, pois mesmo diante de pessoas pouco ansiosas, de sensibilidade social e não fiéis às instituições financeiras com as quais atualmente se relacionam, a flutuação entre um tipo de instituição financeira e outro foi significativa, mediante a alteração da taxa de juros do empréstimo a ser obtido.

Logo, é possível concluir que a racionalidade dos agentes levou-os a optar por uma ou outra instituição financeira de acordo com o benefício que iriam auferir com essa escolha. O viés social destas instituições somente exerce influência na escolha dos agentes em igualdade de vantagens financeiras, ou seja, desde que esta escolha não tenha um custo adicional.

1.3 VANTAGENS COMPETITIVAS

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responsabilidade limitada, tem importantes e decisivos diferenciais, dentre os quais o fato de terem como associados e clientes a mesma pessoa, seja ela natural ou jurídica.

Na prática, as cooperativas de crédito atuam no mesmo mercado das demais instituições financeiras, captando depósitos, efetuando empréstimos e prestando serviços financeiros, embora de forma restrita ao seu quadro de associados.

Sobre o tema, Alexandre Assaf Neto leciona56:

Os bancos comerciais são instituições financeiras constituídas obrigatoriamente sob a forma de sociedades anônimas. Executam operações de crédito caracteristicamente de curto prazo, atendendo, dessa maneira, às necessidades de recursos para capital de giro das empresas. A grande característica dos bancos comerciais é a sua capacidade de criação de moeda (moeda escritural, conforme estudada no Capítulo 2), a qual é estabelecida com base nos depósitos a vista captados no mercado. ...

Desta forma, apesar de se reconhecer a capacidade de criação de moeda escritural das cooperativas de crédito pela captação de depósitos a vista, decidiu-se incluir esta instituição como não bancária. As diversas características próprias das cooperativas de crédito, principalmente sua limitação em captar depósitos a vista unicamente de seus associados, justificam esta classificação. Nada impede que, sob diferente avaliação, sejam as cooperativas de crédito entendidas como instituições financeiras bancárias.

Assim, em princípio, apesar das cooperativas de crédito se assemelharem aos demais bancos convencionais, não deveriam competir no mesmo mercado relevante. No entanto, constatamos que isso ocorre, conforme pesquisa efetuada.

Bem verdade que as cooperativas podem se especializar no atendimento a um nicho específico da população. Isso porque, desde o seu nascedouro, as cooperativas têm a sua razão de existência na dificuldade das pessoas em se inserir no mercado convencional, como se nota da história dos Pioneiros de Rochdale57. Aliás, a história do cooperativismo gira em torno da união de pessoas que, alijadas do mercado convencional, buscaram na ajuda mútua uma forma de inserção. A história mostra que essa iniciativa deu certo em vários países, onde o cooperativismo é bastante presente.

Desta forma, as cooperativas de crédito suprem uma lacuna deixada no mercado financeiro pelas instituições convencionais, que não se interessam em atuar nas localidades de baixa atividade econômica; em investir em atividades

56ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro, 10 ed., São Paulo, Atlas: 2011, p. 45 e 48.

(33)

econômicas de baixa rentabilidade; de emprestar a pessoas de baixo poder aquisitivo e, até bem pouco tempo, de aplicar em crédito rural58.

Assim, o desinteresse das instituições financeiras convencionais por determinados setores de atividade econômica, ou por determinadas classes sociais, criou um ambiente favorável à constituição de cooperativas de crédito, que por essas razões não pode ficar adstrita somente aos municípios pequenos e médios, pois existem segmentos desassistidos pelas instituições financeiras convencionais em qualquer município.

No entanto, nada impede a constituição de cooperativas de crédito por segmentos sociais atendidos pelas instituições financeiras convencionais, mas neste caso estas concorrerão diretamente com poderosos conglomerados que, em razão do ganho de escala, podem oferecer condições tão vantajosas quanto ou melhores, além de um leque de serviços mais completo.

Logo, para concorrerem com o mercado bancário convencional, as cooperativas devem oferecer alguma vantagem ou algum diferencial, e o fazem.

No livro Cooperativas de Crédito: Gestão eficaz59 os autores citam 06 (seis) vantagens que o cooperativismo de crédito possui. São eles: conhecimento do quadro de associados; custos operacionais menores; inexistência de perseguição ao lucro; o “cliente” tem acesso ao “dono”; o resultado é dos próprios usuários e a maior facilidade de criação de novos produtos.

Não nos é possível aferir se as vantagens apontadas pelos autores realmente se confirmam na prática, pela ausência de pesquisa de campo que as evidencie efetivamente.

Ainda assim, entendemos que essas vantagens somente serão confirmadas se a eficiência das cooperativas for semelhante à eficiência do sistema financeiro convencional.

No entanto, isso provavelmente não é verdade, pois os próprios autores, ao comentarem acerca dos custos operacionais das cooperativas, reconhecem que nem sempre são inferiores aos do sistema financeiro convencional, ou seja, é possível, até por questões de escala, que as cooperativas de crédito tenham um

58 A institucionalização do crédito rural no Brasil ocorreu por meio da Lei Federal nº 4.829 de

05/11/1965. A Caixa Econômica Federal somente passou a atuar em crédito rural neste ano de 2013.

59 LOREDO DE SOUZA, João Batista; MEINEN, Ênio. Cooperativas de Crédito-Gestão Eficaz -

(34)

índice de eficiência, seja por real captado ou emprestado, pior do que o sistema financeiro convencional.

Não existem dados divulgados sobre a eficiência do sistema bancário e do sistema cooperativo que permitam essa análise. No entanto, o Banco Cooperativo do Brasil S/A (BANCOOB), por meio de sua Supervisão de Gestão Estratégica, calculou o índice de eficiência com ajuste ao risco de algumas instituições financeiras importantes, e do próprio sistema cooperativo de crédito nacional60.

Segundo esses cálculos, o índice de eficiência com ajuste ao risco do sistema cooperativo brasileiro, excluídos os bancos cooperativos, foi de 70,83% no ano de 2011 e de 69,27% no ano de 2012. O Banco Itaú S/A apresentou os percentuais de 69,70% e 73,30%, o Banco do Brasil S/A, percentuais de 54,00% e 52,70%, o Bradesco S/A, de 53,00% e 52,70% e a Caixa Econômica Federal, de 58,90% e 60,00%, respectivamente.

Nota-se, portanto, que o sistema cooperativo de crédito, nessa metodologia de cálculo, e considerando que eventuais ajustes contábeis podem ter ocorrido nos vários sistemas de crédito cooperativos envolvidos, não apresenta maior eficiência que os principais bancos nacionais.

Assim, fatores como a ausência de finalidade lucrativa, ou inexistência do lucro do banqueiro, podem não ser as principais razões que levam as cooperativas de crédito a serem uma opção melhor de investimento para um agente racional maximizador.

Isso porque, sendo menos eficientes que as demais instituições financeiras, as cooperativas tem uma tendência, em igualdade de condições, de gerar menos receita para o seu quadro social. Sem contar que as vantagens como: inexistência de perseguição ao lucro e o resultado é dos próprios associados, são incompatíveis entre si. Ora, ou a cooperativa persegue o lucro (ou as sobras) e com isso o associado tem um resultado no final do exercício, ou não o faz, o que levará a inexistência de resultado no final do exercício ou até mesmo ao rateio dos seus custos.

60 A Superintendência de Gestão Estratégica (SUEST) do Banco Cooperativo do Brasil S/A obteve os

(35)

À míngua de um trabalho específico, não é possível afirmar que as vantagens competitivas, apontadas anteriormente, sejam efetivamente a razão pela qual um agente racional maximizador decida-se pelo ingresso no sistema cooperativo, ao invés do sistema bancário convencional.

No entanto, as cooperativas de crédito possuem outras vantagens, não mencionadas anteriormente, que podem impactar decisivamente na escolha do agente racional por associar-se ao sistema cooperativo.

O primeiro é concorrencial. As cooperativas pertencentes a um mesmo sistema não fazem concorrência umas com as outras, pois assim podem utilizar a mesma identificação sistêmica (marca) e um mesmo sistema de informática que as interligue, permitindo que os seus associados contem com uma ampla rede de atendimento; otimizem despesas operacionais (utilizando a mesma plataforma de software que as interliga e rateando os elevados custos que um sistema dessa natureza possui), entre outras vantagens.

No entanto, os diversos sistemas cooperativos existentes no Brasil podem fazer concorrência uns com os outros, mas como a sua representatividade é modesta face ao sistema financeiro nacional, as demais instituições financeiras é que, efetivamente, oferecem concorrência.

Há, portanto, dentro do mesmo nicho de atuação, uma vantagem estratégica para as cooperativas, pois caso estejam sediadas em municípios ou regiões desassistidas pelo sistema financeiro convencional, não terão a concorrência de outras cooperativas do mesmo sistema.

Essa vantagem, no entanto, assim como as anteriores, depende de análises mais apuradas para a sua comprovação, e somente irá beneficiar as cooperativas de crédito sediadas em municípios ou regiões específicas.

A segunda vantagem das cooperativas é tributária, pois os atos praticados entre os cooperados e as cooperativas de crédito não estão sujeitos à mesma tributação das operações entre instituições financeiras convencionais e os seus clientes. Os atos praticados entre a cooperativa e os seus associados, e entre si, quando associadas, são denominados atos cooperativos, descritos no art. 79 da Lei nº 5.764/7161 e não implicam operação de mercado, compra e venda de produto ou

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mercadoria. Ora, não sendo operação de mercado ou compra e venda de produto ou mercadoria, essas operações estão fora do alcance do sistema tributário vigente, e de vários dos seus perniciosos impostos, taxas e contribuições.

A título de exemplo, citamos alguns tributos incidentes sobre as atividades dos bancos:

a) Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) apurado pelo sistema de lucro real, incidente sobre a receita bruta, com alguns ajustes permitidos na própria lei, a alíquota de 25 % (vinte e cinco por cento);

b) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), prevista na Lei nº 7.689/8862 e que tem como base de cálculo o resultado do exercício da pessoa jurídica, antes de ser efetuada a provisão para o imposto de renda, à alíquota de 15% (quinze por cento);

c) Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), conforme IN RFB nº 1285 de 18/08/201263, incide sobre a receita bruta, com algumas exclusões permitidas pela própria lei, à alíquota de 0,65% (sessenta e cinco décimos por cento) para o PIS e de 4,00% (quanto por cento) para a COFINS.

As cooperativas de crédito, por seu turno, não estão sujeitas a qualquer dessas incidências. Vários acórdãos do Superior Tribunal de Justiça posicionam-se dessa forma64, sendo pacífica a jurisprudência nesse sentido. Obviamente essa

benesse não se estende aos denominados atos não cooperativos, que são aqueles realizados entre a cooperativa e terceiros (clientes) ou fora do seu objeto social65.

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

62BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 7.689 de 15 de dezembro de 1988. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7689.htm>. Acesso em 14 nov. 2013.

63 BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretaria da Receita Federal. Instrução Normativa nº 1.285 de 13

de agostos de 2012. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/ins/2012/in12852012.htm>. Acesso em 14 de Nov. 2013.

64 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. CSLL e IRPJ, Resp 170371/RS, 1ª Turma, Relator Ministro

Demócrito Reinaldo, DJ de 14/06/1999, p. 113; PIS – BRASIL, STJ, Resp 784378/SC, 1ª Turma, Relator Ministro José Delgado, DJ de 05/12/2005, pg. 254; COFINS – STJ, AgRg no Ag. Nº 660879/MG, 1ª Turma, Relator Ministro José Delgado, DJ de 29/08/2005, pg. 166.

65 BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971,

art. 111. Disponível em:

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Logo, é inegável que as cooperativas possuem uma vantagem tributária significativa sobre as demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil.

A terceira vantagem que podemos apontar é trabalhista, pois as cooperativas de crédito estão sujeitas a legislação trabalhista comum, aplicável a qualquer empresa, conforme preceitua o art. 91 da Lei nº 5.764/7166 e a Orientação Jurisprudencial (OJ) nº 379 da SBDI – I do Tribunal Superior do Trabalho67, ou seja, os seus empregados estão sujeitos a uma jornada de trabalho de 8 (oito)horas diárias em 44(quarenta e quatro) semanais, ao passo que as instituições financeiras convencionais (bancos, inclusive de desenvolvimento, e caixas econômicas) estão sujeitas ao cumprimento ao art. 224 da CLT68, ou seja, a jornada de 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) semanais, além de estarem vinculadas ao cumprimento de uma das Convenções Coletivas de Trabalho mais benéficas aos empregados, fato de domínio geral.

Isso quer dizer que o custo da mão de obra da cooperativa é, pelo menos, 33,3% inferior ao da mão de obra das demais instituições financeiras convencionais, ou seja, o custo operacional de uma cooperativa de crédito sofre uma importante influência desse componente, que se traduz em um diferencial frente ao custo das demais instituições financeiras.

Obviamente que seria necessário um estudo detalhado acerca das vantagens retro citadas para quantificarmos o seu efetivo impacto sobre o custo operacional das cooperativas de crédito e se, por hipótese, são estas que as tornam mais atrativas frente ao sistema financeiro convencional. Isso quer dizer que é possível que os benefícios fiscais e trabalhistas concedidos por lei às cooperativas estejam

66BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971, art. 111. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75577&norma=102369>. Acesso em 8 nov. 2013.

67 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Seção Especializada em Dissídios Individuais. Orientação

Jurisprudencial nº 379. Disponível em: <

http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/OJ_SDI_1/n_s1_361.htm#TEMA379>. Acessado em 8 nov. 2013.

379. EMPREGADO DE COOPERATIVA DE CRÉDITO. BANCÁRIO. EQUIPARAÇÃO.

IMPOSSIBILIDADE. (DEJT divulgado em 19, 20 e 22.04.2010)

“Os empregados de cooperativas de crédito não se equiparam a bancário, para efeito de aplicação do art. 224 da CLT, em razão da inexistência de expressa previsão legal, considerando, ainda, as diferenças estruturais e operacionais entre as instituições financeiras e as cooperativas de crédito. Inteligência das Leis n.os 4.594, de 29.12.1964, e 5.764, de 16.12.1971.”

68 BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto-Lei nº

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Figura 1: Fluxograma de Leis
Gráfico 1: Questão 1 - Modelo A  051015202530354045 Banco Cooperativa de Crédito Indiferente
Gráfico 3: Questão 1 – Modelo B  05 101520253035404550 Banco Cooperativa de Crédito Indiferente
Tabela 2 – Respostas à Questão 3 – Modelo B  QUESTÃO 3
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