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ANO PAULINO: POR QUE, PARA QUE E COMO...

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Academic year: 2021

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ANO PAULINO:

POR QUE, PARA QUE E COMO...

Irmão Nery fsc

Membro do GRECAT e Presidente de SCALA (Sociedade de Catequetas Latino-americanos)

1. O segundo jubileu do Apóstolo Paulo. O Papa Bento XVI anunciou em junho de 2007, na Basílica de São Paulo, situada fora dos muros da antiga cidade de Roma, o Jubileu dos 2000 anos do nascimento de São Paulo. Disse o Santo Padre:

“Queridos irmãos e irmãs, como nas origens, também hoje Cristo precisa de apóstolos prontos a sacrificar-se a si mesmos. Precisa de testemunhas e de mártires como São Paulo: outrora violento perseguidor dos cristãos, quando no caminho de Damasco caiu no chão fulgurado pela luz divina, passou sem hesitação para o lado do Crucificado e seguiu-O sem titubear. Viveu e trabalhou por Cristo; por Ele sofreu e morreu. Como é atual, hoje, o seu exemplo!

E exatamente por isso, estou feliz por anunciar oficialmente que, ao Apóstolo Paulo, dedicaremos um especial Ano jubilar, desde 28 de Junho de 2008 até 29 de Junho de 2009, por ocasião do bimilenário do seu nascimento, inserido pelos historiadores entre os anos 7 e 10 d.C.

Serão promovidos, também, Congressos de estudos e especiais publicações sobre os textos paulinos, a fim de fazer conhecer cada vez mais a imensa riqueza do ensinamento contido neles, verdadeiro patrimônio da humanidade redimida por Cristo.

No mundo inteiro, iniciativas semelhantes poderão ser realizadas nas Dioceses, nos Santuários e nos lugares de culto, por parte de Instituições religiosas, de estudo ou de assistência, que têm o nome de São Paulo ou que se inspiram na sua figura e no seu ensinamento.

Enfim, há um aspeto especial, que deverá ser cuidado com particular atenção durante a celebração dos vários momentos do bimilenário paulino: refiro-me à dimensão ecumênica. O Apóstolo das Nações, particularmente comprometido em levar a Boa Nova a todos os povos, prodigalizou-se totalmente pela unidade e pela concórdia de todos os cristãos. Queira ele guiar-nos e proteger-nos nesta celebração bimilenária, ajudando-nos a progredir na busca humilde e sincera da unidade plena de todos os membros do Corpo místico de Cristo. Amém!”

2. Saul, Saulo ou Paulo. Ele mesmo disse: “Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia” (At 21,39), uma província situada na parte oriental da Ásia Menor. Era um importante porto, que dava acesso ao mar por via do rio Cnido, que passava no meio dela. Uma cidade de fronteira, lugar de encontro do Leste e do Oeste, uma encruzilhada para o comércio que fluía em ambas as direções, por terra e por mar. Atualmente a cidade está no lado leste da Turquia

Ao afirmar que era judeu, ele deixa clara a sua ascendência, da qual se deduz o tipo de educação e a fé religiosa de sua família. Ele se apresenta, na Carta aos cristãos de Filipos, com mais alguns dados, dizendo que era “da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreus e, quanto à lei, fariseu, e que fora circuncidado no oitavo dia...” (Fl 3,5). Noutra ocasião ele completa dizendo-se “israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim” (Rm 11,1).

O menino recebeu o nome hebreu de Saul (cf. At 7, 58) e era de família rica. Seu pai, um judeu da diáspora, conseguira o título de Cidadão Romano, que o filho herdou e

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dele se prevaleceu quando precisou. Num litígio com os judeus, ele foi preso. Estava prestes a ser açoitado, segundo a lei romana, e resolveu apelar: “É permitido a vocês açoitar um cidadão romano, sem ter sido julgado?” (At 22,25). O centurião levou o caso ao tribuno, que voltou a questioná-lo, recebendo esta resposta: “Eu tenho essa cidadania por direito de nascimento” (At 22,28).

A data de seu nascimento não é clara devido a um erro na datação do calendário ocidental de hoje, organizado pelo monge matemático Dionísio Exíguus (470-540), por volta de 525-531, e ajustado por Gregório XIII em 1582. Os cálculos modernos apontam que Jesus Cristo deve ter nascido no ano 6 ou 7 antes da data até agora usada.

Paulo nasceu provavelmente entre 7 e 10 d.C, portanto era bem mais novo que Jesus.

Em Tarso ele cresceu abeberando a cultura grega, já sob influência romana, mas foi formado como judeu, mostrando interesse em ser rabino. Por volta dos 18 anos, dizem os especialistas, Saul ou Saulo foi para Jerusalém estudar na escola de um famoso mestre chamado Gamaliel. Como era costume na época os jovens aprendiam também algum trabalho que lhes garantisse o sustento. Saulo escolheu a profissão de tecelão e construtor de tendas. Não se sabe se o jovem estudante teve algum contato com Jesus Cristo ou seu grupo.

3. Saulo se converteu a Jesus Cristo. No ano 35 do atual calendário há uma referência nos Atos dos Apóstolos de que Saul já era um fanático fariseu e que presenciara o cruel ato de apedrejamento e morte do diácono Estevão, o primeiro mártir entre os seguidores de Jesus. Saul estava lá aprovando o seu martírio e recebera a incumbência de cuidar dos pertences do condenado. Pouco depois, enquanto perseguia os cristãos, aconteceu a conversão daquele fervoroso judeu, numa experiência mística que nem ele mesmo soube explicar.

Conforme narram os Atos dos Apóstolos 9,1-9, ao ir para Damasco, com todos os recursos para prender e torturar possíveis seguidores de Jesus, Saul teve um inexplicável encontro pessoal com Jesus Cristo Ressuscitado, que transformou radicalmente sua vida até a morte. Ele sentiu o próprio Jesus lhe perguntar: “Saul, Saul por que me persegues?”. Transtornado ele respondeu com outra pergunta: “Quem és tu, Senhor?” e Jesus apenas lhe disse: “Eu sou Jesus a quem tu estás perseguindo. Agora, levanta-te, entra na cidade, e ali te será dito o que deves fazer”. Depois de um tempo de iniciação com Ananias, e de uns três anos de estudo e meditação, Saul se entregou por completo a Jesus Cristo e se sentiu um escolhido para colaborar com ele. Decidiu mudar seu nome e se apresentou aos Apóstolos como Paulus ou Paulo (cf. At 13,9) - que significa o pequenino -, dando início à sua nova missão.

4. As cartas de Paulo. As 13 cartas, conservadas como dele, formam parte do Novo Testamento e são tidas pela Igreja cristã como inspiradas por Deus e, portanto, Escrituras Sagradas.Todas foram escritas em grego. Paulo as ditava e fazia questão de assinar muitas delas, pois havia falsificadores que se apoiavam em seu nome. Nove das cartas são endereçadas a Comunidades (Romanos, Gálatas, Tessalonicenses 1 e 2, Coríntios 1 e 2, Filipenses, Efésios, Colossenses) e quatro a particulares (Filêmon;

Timóteo 1 e 2, e Tito). Deduz-se nas cartas que houve mais uma aos Coríntios e que não foi conservada. Estudiosos, com bons fundamentos, consideram a 2Ts e a 2Cor como uma colagem de várias cartas curtas e, também que algumas das cartas tidas como dele, na verdade foram escritas por outras pessoas. Assim, por exemplo, são consideradas deuteropaulinas: Efésios, Colossenses, 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo e Tito. E Hebreus certamente não é de São Paulo.

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5. Podemos conhecer quem é Paulo? Ao se ler com atenção todas as 13 cartas se percebe que Paulo deixa traços de sua personalidade. Assim por exemplo há contrastes interessantes, pois se mostra carinhoso, terno como a mãe que cuida dos filhinhos (cf.

1Ts 2,7-8); na formação dos discípulos de Cristo ele se compara a uma mulher sofrendo as dores do parto (cf. Gl 4,19); sacrifica-se ao máximo pelos cristãos (cf. 2Cor 12,15) e é capaz de dar a vida por eles (cf. 1Ts 2,7-8). Ele trata muitas vezes aos membros das comunidades como caríssimos e como amados. Mas Paulo também se mostra como um pai (cf. 1Ts 2,11) e é severo, exige obediência e chega a ameaçar. Ele se mostra realmente preocupado com todos para que não percam a fé, não se deixem enganar, quer que todos sejam fiéis ao Senhor e por eles sente o ciúme de Deus (cf. 2Cor 11,2).

Em suas cartas, Paulo revela seus dons e suas lutas, registra situações concretas de pessoas, grupos e comunidades cristãs primitivas, as perseguições que enfrentou e, sobretudo, sua paixão por Jesus Cristo e pela Igreja. Por meio destas cartas ele revela, sobretudo, importantes aspectos de Deus, insiste no essencial do mistério de Jesus Cristo e da missão do Messias neste mundo e transmite ensinamentos éticos, doutrinais e morais que ele deduz da vida de Jesus e do que ele ensinou. O livro dos Atos dos Apóstolos, escrito por São Lucas, um dos principais colaboradores de Paulo, uns 15 anos depois da morte, e alguns livros apócrifos dos primeiros séculos do cristianismo fornecem mais importantes dados sobre este grande apóstolo, o que ele escreveu e fez.

6. As quatro teses centrais dos escritos de Paulo. Muito versado nas Escrituras Hebraicas, pois fizera o curso para ser rabino, inteligente e de vasta cultura judaica e grega, falava e escrevia hebraico e grego. O missionário Paulo levou a sério a penetração do cristianismo na cultura greco-latina e tentou traduzir a fé cristã para este contexto. Quis inicialmente converter os seus irmãos judeus, mas diante da resistência e da perseguição, entrou em conflito com muitos deles e assumiu como missão levar a vida de Jesus Cristo e sua mensagem de salvação a todos os demais povos, mantendo, porém a relação umbilical entre Cristo e Moisés, entre o cristianismo e o judaísmo.

Atuando, preferentemente nas cidades, Paulo utilizou uma linguagem teológica adaptada ao ambiente evoluído em que pregou o Evangelho, em contraposição com a linguagem mais rural utilizada por Jesus, inserido que estava em uma Palestina marcada por agricultura, vinha, pesca, rebanhos de ovelhas, vida doméstica e religiosidade ingênua. Ele revela inteligência e sagacidade raras e tem uma enorme capacidade de fazer teologia a partir da realidade, do dia a dia, dos acontecimentos e problemáticas que ele encontrava em seu caminho de missionário. Está, porém, polarizado por algumas teses ao redor das quais pensa, escreve e age. Coloco aqui apenas quatro delas:

6.1 O mistério pascal de Jesus Cristo. Para São Paulo a morte, ressurreição e glorificação do Filho de Deus, Jesus Cristo, é a chave central do Plano de Deus na história, portanto, determinante para a história da salvação, isto é, para a libertação do homem e da mulher do poder do pecado (cf. Rm 4,25) e para o acesso deles à comunhão plena com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Mesmo quando ele se fixa apenas no mistério da paixão e morte, evidentemente, para ele elas só têm sentido a partir da ressurreição e glorificação do Senhor.

6.2 A justificação pela fé e pelo amor, não pela Lei. Para São Paulo o ser humano é salvo pela gratuidade de Deus que, porém, não impõe esta salvação, mas a condiciona à adesão da pessoa a Jesus Cristo, o Filho de Deus, nascido de mulher, segundo a Lei (cf. Gl 4,5) e, a condiciona, também, à aceitação da proposta salvífica.

Para ele não é a Lei, isto é, o cumprimento fiel das prescrições legais religiosas que

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salva, mas a fé. Para Paulo, Deus respeita a nossa liberdade e conta com ela e com a nossa coerência de vida. Esta salvação não significa passividade por parte nossa, mas fé em ato, isto é, amor que, aliás, Paulo descreve de modo admirável como o dom supremo a ser buscado e vivido, depois do dom da vida e da fé..

6.3 A nova criação em Cristo Jesus. O pecado, ensina Paulo, faz de nós

“homens velhos”, dominados por Satanás e suas obras más. Jesus veio nos fazer

“homens novos”, na comunhão de amor com Deus e com o próximo (cf. Ef 2, 15) e partícipes de “uma nova criação” (cf. 2Cor 5,17; 1Cor 14,45). Jesus Cristo é, por excelência, o Homem Novo, o Novo Adão (cf. Rm 5,15). Ele é a imagem visível do Deus invisível, a cabeça do novo Povo de Deus (cf. Cl 1,18) e nele nós somos filhos de Deus.

6.4. A Igreja. Ele concebe a Igreja (o grupo de seguidores de Jesus Cristo) a partir da imagem e funcionamento do corpo humano e daí elaborou uma eclesiologia que, mais tarde, recebeu a denominação de Corpo Místico. Cristo é a cabeça e a Igreja é seu corpo. Na Igreja cada fiel exerce uma tarefa, mas é imprescindível a união e coesão entre todos a partir da adesão plena ao Senhor, Cabeça do Corpo eclesial, na dinâmica do Amor e da colocação em comum dos bens, carismas, dons e talentos.

7. Aproveitar a graça que passa. Muitos são os especialistas que escreveram e continuam a escrever sobre Paulo, importantíssimo alicerce do cristianismo. O ano jubilar é um motivo especial para estudar com afinco e fé estas obras, mas, sobretudo, o que o Novo Testamento traz desta figura ímpar e, assim, plasmar-nos em seu testemunho, compreender sua mensagem e passá-los para a vida.

Irmão Nery fsc irnery@yahoo.com.br Anexo

1. Logo oficial do Ano Paulino (se demorar para aparecer, clique aqui para ver)

A Bíblia: porque Paulo foi um grande pregador da Palavra de Deus; A cruz e a chama, dentro da Bíblia, porque para Paulo é o mistério pascal da morte e ressurreição

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de Jesus o que realmente conta para a nossa salvação. Além disso a chama simboliza também o ardor com que pregava e a força do Espírito Santo que o impelia a ir aos confins do mundo; As correntes, porque ele foi preso e acorrentado por causa da fé; A espada, porque o cristão precisa pegar a espada do Espírito, a Palavra de Deus, para combater o bom combate da fé em Jesus Cristo (cf. Ef 6,17) e, também, porque Paulo foi morto pela espada; A data: 29/06 ou 29 VI com os dois anos 2008 e 2009, indicando o início e o término do Ano Paulino.

2. Literatura e vídeos

a) As editoras católicas e evangélicas têm uma boa quantidade de livros e vídeos sobre São Paulo. As Revistas Católicas estão publicando interessantes artigos em estilo acessível;

b) Nos buscadores da Internet encontram-se materiais sobre São Paulo. Basta digitar “São Paulo Apóstolo” e “Paulo Apóstolo” para ter acesso a artigos e sites. Na Internet há também vídeos curtos no youtube e em outros sites específicos, como este vídeo em espanhol, sobre o Ano Paulino:

http://www.youtube.com/watch?v=j54tUWoMBSE

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