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35 Eles Foram, Gostaram e Ficaram 37 Herdeiros do Quilombo 39 À Espera da Terceirização. 42 Para Quando Você For

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Academic year: 2022

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Texto de Nilton Pavin

Do Morro do Buracão, pode- se ver o Jardim de Maytrea, que fica na divisa do Parque. Nas matas ciliares, nascentes de rios formam as cachoeiras

35 E lEs F oram , G ostaram E F icaram 37 H ErdEiros do Q uilombo

39 À E spEra da t ErcEirização

41 p or um m undo m ElHor 42 p ara Q uando V ocê F or

35 E lEs F oram , G ostaram E F icaram 37 H ErdEiros do Q uilombo

39 À E spEra da t ErcEirização

41 p or um m undo m ElHor 42 p ara Q uando V ocê F or

márcio cabral

No meio do Planalto Central, uma área de 60 mil hectares, repleta de cachoeiras, muitas delas ainda inexploradas, preserva a fauna e a flora

típicas do Cerrado. A importância da criação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros foi finalmente reconhecida não só pela população local, que vive em função dele, como pela Unesco que a elevou à categoria de Reserva da Biosfera.

No meio do Planalto Central, uma área de 60 mil hectares, repleta de cachoeiras, muitas delas ainda inexploradas, preserva a fauna e a flora

típicas do Cerrado. A importância da

criação do Parque Nacional da Chapada

dos Veadeiros foi finalmente reconhecida

não só pela população local, que vive

em função dele, como pela Unesco que a

elevou à categoria de Reserva da Biosfera.

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Cachoeira Tapa Olho:

queda d’água de 20 metros, na cidade de Teresina

márcio cabral

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s índios goiazes foram os primeiros habitantes da região, mas foram expulsos pelos bandeirantes. Em 1740, os portugueses estiveram por aqui atrás de ouro e cristais e com o auxílio de escravos, levaram o que puderam para a Europa. Dez anos depois, surgiram as primeiras fazendas para cultivo de café e pecuária. Em 1780, uma colônia egípcia que se instalou na região por algumas décadas, introduziu o trigo à cultura local. E, no início do século XX, teve início a febre do garimpo, que levou para o Planalto Central, homens de diversas partes do país em busca do enriquecimento, ou na gíria dos mineradores,

“emburrecimento”. O Cerrado sobreviveu a todas essas etapas de sua história e povoamento.

Mas o Planalto Central também teve sua parcela de participação no con- texto geral da história do Brasil. Na década de 20, o país passou por uma tur- bulência política e viveu um período de rebeliões envolvendo militares que queriam derrubar o Presi- dente da República para estabelecer reformas ins- titucionais. Os ideais re- volucionários resultaram na criação de um grande grupo que marchou pelo país durante vários anos divulgando suas idéias.

Esse grupo foi conhecido

como Coluna Prestes. E o Planalto foi palco de vários combates envolvendo esses soldados com grupos con- servadores. Mais uma vez, a Chapada estava ameaçada.

Esses problemas se estenderam até 1961, quando foi criado o Parque Nacional da Chapadas dos Veadei-

ros, localizado entre as cidades de São Jorge, Alto Paraíso de Goiás, Colinas, São Miguel da Aliança e Cavalcante, a 220 quilômetros ao norte de Brasília,

no estado de Goiás.

Agora, quem invade essas cidades que serpen- teiam o parque são os místicos e os esotéricos,

amantes da paz e da liberdade, e pessoas liga- das a movimentos que valorizam a vida e a

natureza. Se, outrora, a região foi palco de combates, extrativismo selvagem e rebeliões, hoje, nas terras da Chapada predominam pessoas interessadas em preservar uma das áreas mais bonitas do planeta, considerada pela Unes-

co como Reserva da Biosfera.

Atrás das cachoeiras

Esse cenário e suas histórias sempre me encantaram, então decidi seguir para a Chapada em janeiro.

Mesmo sabendo ser esta a época das chuvas, resolvi arriscar. O ponto de partida foi a cidade de Alto Paraíso de Goiás. Segundo o fotógrafo Márcio Cabral, um brasiliense, estudante de geografia da Universidade Federal, que me acompanha nesta viagem junto com o também fotógrafo, Lizimar

Dahlke, “algumas cachoeiras só existem nesta época do ano”.

“Nas demais, o volume d’água aumenta e corre-se o risco de ser pego por uma

Cachoeira do Poço Verde: no rio da Prata

levi grau márcio cabral

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tromba d’água”, ressalta. Fernando Batista dos San- tos, guia profissional da cidade de São Jorge, conhece bem a região; desde 1997 acompanha os visitantes pelas reentrâncias da Chapada. “Nas trilhas do parque não há perigo, existem alarmes em pontos estratégi- cos que indicam se há uma forte variação no volume d’água e dificilmente seremos pegos de surpresa. Mas termina a nossa prosa em um café local lembrando que há cerca de 15 anos houve uma tromba d’água violenta nas cachoeiras do parque. “O volume da água naquele dia aumentou 14 metros, ocasionando o arrastão de várias árvores e pegando alguns visitantes desprevenidos”, lembra.

Equipados, antes de conhecer o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, seguimos para a cachoeira do Poço Encantado, que fica próxima à estrada que leva à cidade de Cavalcante. É uma queda d’água que forma uma piscina natural com 25 metros de extensão, uma das poucas da região com infra-estrutura para banho e alimentação. A caminhada até a piscina é curta e não exige muito preparo físico.

Depois, fui conhecer as cachoeiras dos Anjos e dos Arcanjos, localizadas no Parque do Solarium, em Alto Paraíso de Goiás, porta de entrada para a Chapada. Pe- gamos o caminho em direção ao povoado do Moinho,

uma pequena comunidade que vive a 15 quilômetros Cachoeira Almécegas: queda d’água de 45 metros

O Ipê amarelo é a árvore típica do Cerrado.

Ao fundo, o Morro da Baleia e do Buracão

márcio cabral márcio cabral

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da cidade. Ambas as cachoeiras são formadas pelo rio Pretinho e estão dentro de uma propriedade particular.

Depois de uma caminhada de cerca de 30 minutos, chegamos na cachoeira dos Anjos. É uma queda d’água de sete metros que forma uma piscina natural. Márcio me diz que o volume de água está forte. “A cor escura deve-se à quantidade de óxido de ferro na água, mas pode beber: a água é pura, porém, gelada”, diz.

Dos Anjos, seguimos direção rio abaixo e chega- mos na Arcanjos. A queda d’água é um pouco maior, com 10 metros. Descendo o rio, reparei as formações rochosas esculpidas pela água ao longo de milhares de anos e notei que ela foi generosa ao criar várias piscinas naturais ideais para o banho. Fico imaginando os soldados da Coluna Prestes neste cenário, em volta de uma fogueira, traçando suas estratégias para seguir viagem. Depois de várias fotos e anotações, voltamos para a cidade.

No caminho de volta, encontramos com alguns membros do grupo Imagens, especializado em músi- ca indiana. Eles pegam carona e, durante o caminho, dizem que este lugar é especial. “Há muita energia aqui”, avalia Juliano Costa, que além de tocar vários instrumentos, também os confecciona com materiais reciclados como latas e pedaços de madeira. Essa energia deve-se à imensa quantidade de cristais im- pregnados nas rochas de quartzo.

Energia e garimpo

Já na cidade de Alto Paraíso, que possui cerca de 20 mil habitantes, reparo nas várias construções

No primeiro plano vê-se os Buritis, típicos do Cerrado e, ao fundo, o Morro da Baleia

Nascentes que alimentam o rio Preto, dentro do Parque

márcio cabral

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entre as casas, que lembram ocas gigantes e que são usadas para meditação. Penso que esses cristais real- mente devem captar energia de algum lugar, pois aqui existem vários grupos esotéricos vindos de diversas partes do país, que acreditam ser este um lugar ilu- minado no meio do Planalto Central. Muitos místicos creditam a energia da região ao fato do paralelo 14 passar por aqui. É o mesmo que atravessa a cidade de Machu Pichu, no Peru. Ouvi relatos que existem túneis ligando as duas cidades.

Histórias à parte, à noite pode-se observar que a região é mesmo iluminada. O céu está sempre reple- to de estrelas, que podem ser melhor apreciadas da cidade de São Jorge, onde fica a entrada do parque, porque não há luz elétrica nas ruas. Mesmo à noite, do chão emana uma luminosidade, que é o reflexo dos inúmeros cristais deixados aqui pelos garimpeiros.

Esta região já foi disputada por pessoas que destru- íam a natureza em busca de cristais para abastecer o mercado externo. A própria cidade de São Jorge, hoje com cerca de 400 habitantes, é uma antiga vila de garimpeiros.

Na década de 40, viviam mais de 2 mil garim- peiros por aqui. A evolução tecnológica substituiu os cristais por materiais sintéticos e a principal fonte de renda das cidades da Chapada viveu momentos dramáticos. Ainda pode-se encontrar vestígios dessa época em vários locais. Hoje, por exemplo, o anti- go centro administrativo da Companhia de Cristal, principal mineradora da época, foi transformado em pousada e antigos garimpeiros transformaram-se em guias do parque.

A natureza resistiu a este período de extrativismo até ficar protegida com a criação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em 1961, pelo então pre- sidente Juscelino Kubitschek.

Trilhas do Parque

Em companhia do guia Fernando, fui conhecer as trilhas do parque. Optei primeiro pela que leva até os cânions 1 e 2 e à cachoeira das Carioquinhas, todas no rio Preto. Além de um bom preparo físico para suportar os seis quilômetros de percurso – só de ida –, é bom levar algo leve para comer, pois não há lanchonetes nas dependências do parque. Com relação à água não há problema, porque no percurso existem inúmeras nascentes; provavelmente, as mesmas que saciaram a sede de revolucionários, escravos e ga- rimpeiros, estrangeiros e colonizadores.

No caminho, mesmo não sendo o período de florada, posso reconhecer algumas vegetações típicas do Cerrado, como canela de ema, pau-terra-vermelho, copaíba, pau Flor do Pequi, usada como tempero na culinária do Cerrado

Borboletas: presença constante nas caminhadas

Pae palanthus: popularmente conhecido por Chuveirinho

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Andando pelas cidades da região, encontrei várias pessoas de outros estados que adotaram a Chapada como moradia. Eles são principalmente paulistas e brasilienses, que trocaram a agitação da cidade grande pela tranqüilidade do Cerrado. A maioria veio passar o feriado ou o final de semana prolongado e nunca mais voltou para casa. Quando indagados sobre os motivos que os levaram a optar pela região, simplesmente desconversam;

preferem apenas dizer que são felizes e não querem sair daqui.

Helvia Angeli, responsável pelas informações turísticas de Alto Para- íso, é um exemplo. “Vim com uma excursão e depois que voltei para São Paulo não consegui mais esque- cer a região. Minha irmã conheceu um suíço aqui, casou-se com ele e, atualmente, mora na Europa. Quanto a mim, voltei para São Paulo, pedi demissão de uma multinacional – tra- balhava no setor financeiro – e depois de um ano, estava de mudança para Alto Paraíso”, resume.

Regina Lima, trabalhava como bancária em Brasília. Um final de semana resolveu aceitar o convite de amigos para conhecer Alto Paraíso de Goiás. Chegou, subiu o Morro da Baleia, viu a cidade e

Eles foram, gostaram e

ficaram

decidiu: vou ficar por aqui. Pouco tempo depois, estava morando em sua pousada.

“Sinto que aqui é especial, não sei e nem me interessa saber a razão. O que importa é minha felicidade”, completa Regina.

Washington Andrade Silva conhece o Brasil de Norte a Sul. Já morou em aldeias indígenas, na Floresta Amazônica e em re- giões da Mata Atlântica. Chegou na Chapa- da em 1980 e nunca mais saiu. Na região, é conhecido por Tom das Ervas, devido a seu profundo conhecimento sobre plantas me- dicinais. “Sou muito procurado por pessoas

que têm doenças graves e sempre procuro ajudar a todos que aparecem por aqui. Esse local é privilegiado em termos de medicina natural”, afirma. Freqüentemente, Tom pode ser visto de chapéu de palha com algumas penas presas na aba, calça de linho cru e sandálias de couro, colhendo ramos, arbustos e raízes na imensidão do Cerrado em busca de novas fórmulas.

N.P.

Tom das Ervas transformou sua casa em um laboratório particular. Tem uma série de plantas raras e medicinais da região, com as quais confecciona seus remédios e novas fórmulas (ao alto e acima).

Regina trocou o dia-a-dia agitado do mercado financeiro pela tranqüilidade de sua pousada em Alto Paraíso (ao lado)

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lizimar dahlke

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Carioquinhas: uma série de quedas d’água forma uma piscina natural

Pedreiras do rio Preto: entre os saltos

Vale do rio Preto, abaixo dos Saltos da 80 e 120 metros A cachoeira do Morro da Baleia só existe na época da cheia Dona Chiquinha e seu marido, Cecílio: pioneiros

Coruja buraqueira: típica do Cerrado

Vale da lua: formações no rio São Miguel

lizimar dahlke

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márcio cabral

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A história dos kalunga, tem início em 1722 quando Bartolomeu Bueno, o Anhangüera, e João Leite da Silva Ortiz, implantam do ciclo minerador, as “Minas dos Gaiazes”, no Cerrado e desencadeiam um processo de povoamento. O estado de Goiás nasce sob o símbolo do ouro e da garimpagem, sendo o africano, a principal figura e o motor propulsor dessa estrutura.

Para a região, vieram milhares de africanos na condição de escravos. Chegavam do porto de Santos, em São Paulo, de Salva- dor e do Rio de Janeiro, aos comboios.

Herdeiros do Quilombo

Os arraias ou centros de mineração instalaram-se inicialmente no sul do estado, deslocando-se para o norte, onde são fundados os arraias de Cavacalnte e Santo Antônio do Morro do Chapéu, hoje Monte Alegre, em 1740 e 1769, respectivamente.

A cidade de Cavacalnte abriga a fundição do ouro de 1796 a 1807 , junto com a cidade de Monte Alegre, abrigam, juntas, mão-de-obra escrava para mineração e quilombos nas serras e vales.

De 1736 a 1819 a população africana, ou negra, oscila por causa do valor dos impostos. Os mineradores e contratadores

escondem o número certo de escravos para não pagar as taxas ao governo. Neste período, o movimento dos quilombos se expande em todo o território nacional, com migrações de escravos alforriados que adquirem terras, em vário slocais.

Os kalunga, se refugiaram há 70 quilômetros de Cavalcante, onde estão até hoje. A região é conhecida como Vãos das Serras, e fica entre o Riachão e Tinguizal, no caminho da Serra da Ursa, à margem

direita do rio Pacanã. Hoje, são cerca de mil famílias vivendo precariamente, e que ainda sofrem com a discriminação. “Até hoje não somos donos da nossa terra, mesmo depois da demarcação feita através do Projeto Kalunga. Vivo da roça de toco; planto arroz, feijão e milho, de favor, em solo de outra pessoa”, diz seu Jorge, de 33 anos. E com- pleta, emocionado: “em pleno século XXI, os kalunga ainda têm que lutar, agora para não morrer de fome”.

N.P.

Seu Jorge e seu João Batista são moradores do distrito de Engenho, um dos 15 vilarejos onde vivem os kalunga. Esta região fica a 80 quilômetros de Cavalcante (ao lado e à esquerda).

Enquanto aguardam a decisão sobre o Projeto que visa dar ao seu povo terra para morar e plantar, vivem em casas de adobe construídas em fazendas particulares (abaixo)

márcio cabral márcio cabral

márcio cabral

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Muitas trilhas do Parque passam no meio de plantações de Pae palanthus

levi grau/JFerrazmárcio cabral

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À espera

da terceirização

Depois da floresta amazônica, o Cerrado constitui a segunda maior formação vegetal brasileira. Localizado no estado de Goiás, o parque da Chapada dos Veadeiros foi criado em 1961 pelo então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, na época

da construção de Brasília. Sua área inicial era de 625 mil hectares – 2,5 vezes a área do estado de São Paulo – e abrangia cinco cidades: Alto Paraíso de Goiás, o distrito de São Jorge, Cavalcante, São Miguel da Aliança e Colinas do Sul.

Por pressão dos fazendeiros da região e das prefeituras locais, o parque sofreu su- cessivas reduções e, em 1972, estava com apenas 65 mil hectares. Atualmente sua área abrange apenas as cidades de Alto Paraíso de Goiás, São Jorge e Cavalcante e está sob responsabilidade do Ibama.

Como o governo vem estudando a terceiri- zação de serviços nos parques nacionais, o da Chapada dos Veadeiros será o primeiro a ser gerido por empresas particulares.

Para garantir a integridade do parque, proteger e ampliar sua área, diversos grupos goianos em conjunto com o WWF – Fundo Mundial para a Natureza – e organizações locais, criaram o Projeto

Veadeiros, em 1996. Eles desenvolveram um modelo para criação e manejo de áreas protegidas, que contribuiu para a implantação da Reserva da Biosfera. O WWF também apóia a consolidação do Parque Nacional da Chapada e promove a

criação de reservas particulares (RPPNs).

O trabalho da organização desenvolvido na região também busca alternativas sus- tentáveis de geração de renda baseadas no ecoturismo, extrativismo e agroecologia para as comunidades do entorno do Par- que, especialmente no município de Alto Paraíso de Goiás.

Hoje, é permitida a entrada de apenas 300 pessoas por dia no parque, sempre acompanhadas de guias locais pertencen- tes à ACVCV – Associação dos Condutores de Visitantes da Chapada dos Veadeiros – , ou da SERVITUR – Associa-ção de Prestadores de Serviços em Ecoturismo. A

entrada custa R$ 3 por pessoa e a diária do guia sai por R$ 30. Há estudos do Ibama para criar novas trilhas no parque depois da terceirização, principalmente com a abertura de um portão no norte do parque, na cidade de Cavalcante.

N.P.

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros carece de infra-estrutura como os demais parques nacionais. Os habitantes locais apostam na terceirização para manter e melhorar o turismo na região.

As cidades em torno do Parque vivem basicamente da sua visitação. O importante é que no meio deste processo, os animais não correm nenhum risco, como as araras e os calangos, entre outros

miguel von behr lizimar dahlke

márcio cabral

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-d’arco-roxo, aroeiras, tamanqueiras, buritis e babaçus, entre outras. Enquanto caminho pergunto para Fernando por que o parque tem esse nome. “É em homenagem ao veado-campeiro que, apesar da ação dos caçadores, ainda pode-se encontrar muitos por aqui. Além dos veados, compõem a fauna capivaras, tamanduás-bandeira, tatus- canastra, lobos-guará e onças pintadas, além de uma grande variedade de cobras venenosas, como as temidas corais, jararacas e cascavéis”, explica.

Depois de uma longa caminhada chegamos aos câ- nions, que são paredões rochosos com cerca de 20 metros de altura. O rio Preto corre entre eles, formando quedas d’água e piscinas naturais. Na época da cheia, o acesso é proibido. Descendo pela margem do rio, chega-se à cacho- eira das Carioquinhas, ideal para o banho. “A cachoeira tem esse nome porque há vários anos algumas cariocas se perderam no parque e foram encontradas aqui algum

tempo depois, despreocupadas, tomando sol”, lembra o bem humorado Fernando. De volta, aproveito para ver o pôr-do-sol no mirante de São Jorge, um lugar onde pode-se ver toda a paisagem do Cerrado.

No dia seguinte vou finalmente conhecer o cartão postal do parque: os saltos 1 e 2 e as corredeiras. A trilha é um pouco mais difícil que a do dia anterior, porque temos que enfrentar mais pedras pelo caminho – há vários buracos formados na época do garimpo. A primeira cachoeira é o salto 2, uma queda d’água de 120 metros, cercada por paredões acinzentados. Mais um quilômetro de caminhada e chego ao salto 1, com 80 metros de altura. No final da queda d’água, vejo a maior piscina natural da Chapada, com cerca de 300 metros de diâmetro. Em ambos os saltos, a cor da água é escura devido à presença do óxido de ferro.

Lua e São Jorge

De volta à cidade de São Jorge, conheço Francisca Teixeira Mendes, a Dona Chiquinha, que tem mais ou menos 76 anos, e é uma das moradoras mais antigas de São Jorge. Há uns 56 anos está casada com seu Cecílio Gomes de Araújo, que tem por volta de 87; do enlace nasceram seis filhos – quase todas as pousadas da cidade pertencem a eles. Ela me conta que por aqui, as pessoas não guardam as datas, nem as idades, “não precisamos delas para nada”, diz encabulada. “A região mudou muito desde a época do garimpo, quando cheguei por aqui. Hoje, São Jorge continua com poucas casas, as ruas são de terra e praticamente não há energia elétrica. Mas, a criação do parque melhorou muito a nossa vida porque trouxe visitantes para cá”. No final da conversa ela me diz que eu preciso conhecer o Vale da Lua, que para ela é um dos lugares mais bonitos do mundo.

A formação rochosa acizentada, repleta de buracos esculpidos pela água ao longo de milhares de anos, lembra a superfície da lua. No curso do rio São Miguel, vejo imensos troncos de árvores presos entre as rochas, “resultado da última tromba d’água”, lembra Fernando.

Do Vale da Lua, resolvo voltar para Alto Paraíso. São 35 quilômetros de terra. No caminho, conheço o Morro da Lua, uma formação rochosa coberta de vegetação, rode- ada por buritis. Paro também na cachoeira de São Bento, próxima à estrada.

Esses lugares, como o Jardim de Maytréa, o Sertão Zen e outros tantos, são considerados sagrados por muitos locais e várias pessoas que chegaram de fora para passar um feriado e adotaram a região como residência fixa. Em todos eles, vi pessoas meditando e orando. Eles acreditam que este lugar, devido a sua força energética, seja o escolhido pelos deuses como a terra do terceiro milênio. Pode ser, pois ela já foi, em vários momentos da história, a terra de colonizadores, garimpeiros em busca do “emburrecimento”

e de idealistas revolucionários. Não custa nada sonhar.

Saltos do rio Preto: 80 e 120 metros de altura

...Solarion, no povoado do Moinho, a 12 km de Alto Paraíso As cachoeiras Anjo e Arcanjo (abaixo) estão no Parque...

márcio cabrallizimar dahlkelizimar dahlke

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Por um mundo melhor

Alto Paraíso de Goiás possui diversos grupos alternativos que estão desenvol- vendo trabalhos com a comunidade local e outras etnias fora da Chapada. Entre eles, se destaca o trabalho da Oca – Oficina de Ciências e Arte – dirigida por um gaú- cho. Pergunte por José Antônio Xavier e provavelmente ninguém saberá de quem se trata. Experimente Xá Atmo Yatri, nome em sânscrito adotado por este paisagista e artista plástico de 42 anos que já trocou de- finitivamente o Sul do país, pela Chapada.

Ele está à frente de um projeto que visa a participação de crianças e adolescentes no trabalho relacionado ao meio ambiente, utilizando os recursos renováveis da natu- reza. Em uma área de aproximadamente 50 mil metros quadrados, vivem cerca de 60 pessoas de várias partes do planeta que desenvolvem atividades ligadas ao teatro, à cerâmica, marcenaria, música e artes mar- ciais, desde 1994, quando foram iniciadas as atividades da entidade.

Na sede principal da entidade uma hor- ta comunitária abastece todos os membros da Oca e uma lanchonete é mantida por eles na cidade – em conjunto com uma loja

de artesanato e de móveis. O grupo está também se especializando na criação, pro- jeto e gerenciamento de áreas de proteção ambiental. Recentemente, eles compraram uma APA - Área de Proteção Ambiental - no Cerrado, de aproximadamente 975 hectares, chamada Cara Preta, rica em biodiversidade zoobotânica e natural.

Além desta série de atividades em Alto Paríso, atualmente a Oca Brasil apóia peque-

nos grupos étnicos da região com projetos sociais, entre eles os Calungas, negros de origem Quilombola, provenientes do municí- pio de Cavalcante, situados às margens dos rios das Almas e Paranã. Também possui um trabalho de integração cultural junto com a comunidade indígena Xavante, situada no Mato Grosso, e com os índios Krahô,

moradores do norte de Tocantins. Em todos esses casos, o trabalho da Oca possibilita aos membros das comunidades um contato direto humano e multidimensional, facilitando a tran- sição da natureza primitiva para a civilização

“moderna”. N.P.

Na Oca, as salas de aula não têm paredes nem portas; os adolescentes aprendem com os mestres em contato direto com a natureza (ao alto). Xá, artista plástico, está à frente deste projeto (à esquerda). Todo o trabalho feito pelos jovens é comercializado na loja que a entidade mantém na cidade de Alto Paraíso de Goiás (à direita)

lizimar dahlkelizimar dahlke lizimar dahlke

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