• Nenhum resultado encontrado

Ciênc. saúde coletiva vol.22 número7

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Ciênc. saúde coletiva vol.22 número7"

Copied!
1
0
0

Texto

(1)

2094

EDIT

ORIAL EDIT

ORIAL

Desenvolvimento, Desigualdade e Cooperação Internacional em Saúde

Uma chave de abordagem para a análise das relações entre desenvolvimento, desigualdades e cooperação internacional em saúde permite dizer que os problemas associados às desigualdades entre países em diferentes condições de desenvolvimento poderiam ser atenuados mediante a cooperação internacional. Entretanto, uma apreciação crítica desses processos históricos remete a dois paradoxos.

O primeiro contrassenso diz respeito à sinergia mais desenvolvimento, mais desigualdade, pois as disparidades internacionais crescem com o avanço científico, tecnológico e econômico global, separando poucos países beneficiários plenos do desenvolvimento dentre os demais, afetados de modo iníquo por esse processo. As discrepâncias se avolumaram ao longo dos tempos e se projetam sobre a saúde mundial, contradizendo o ideário de progresso, que deveria ter um sentido positivo no que tange à produção eco-nômica e ao bem-estar de todos.

O segundo paradoxo se revela na tensão entre solidariedade internacional e interesses nacionais nos setores científico e tecnológico, econômico, industrial e financeiro que, efetivamente, definem os acordos geopolíticos e militares entre países. Disputas de poder entre governos incidem nesse campo de relações, sob a influência de grandes empresas privadas, geralmente em detrimento do interesse coletivo, fator-chave no engendramento das desigualdades e injustiças que dividem o mundo entre os mais afluentes e os mais desvalidos, com reflexos dolorosos no tocante à saúde.

A intenção dos organizadores deste número temático da C&SC foi reunir contribuições críticas sobre a cooperação internacional para o desenvolvimento ante as desigualdades em saúde, considerando quatro perspectivas interconectadas sobre as acepções de saúde e cooperação em voga no contexto histórico das Nações Unidas.

A primeira diz respeito às interpretações da saúde demarcadas pela acepção clássica sobre causalidade das doenças, vis-à-vis seu reconhecimento como valor transcendente e direito humano fundamental que se projeta em políticas públicas de Estado.

O segundo ponto de vista refere-se ao conceito e à prática da cooperação para o desenvolvimento no contexto das Nações Unidas, como pano de fundo para entender a cooperação internacional em saúde, com ênfase no processo designado de cooperação Sul-Sul e, particularmente, sua ressignificação proposta pelo termo cooperação estruturante, difundida pela Fiocruz como Centro Colaborador da Opas/OMS em Saúde Global e Cooperação Sul-Sul.

A terceira perspectiva refere-se à regulação estatal para o enfrentamento dos problemas de saúde em escala mundial, mediante ação em âmbito internacional em áreas de forte conexão com a gênese desses problemas. A ênfase a este aspecto advém de que tais questões se encontram, frequentemente, fora do alcance das autoridades e demais atores do setor saúde.

O debate destas questões é de interesse para toda a sociedade e, portanto, deve expandir-se para além das instâncias acadêmicas, dos aparatos burocráticos do Estado e, precipuamente, dos setores industriais e financeiros. Aí reside a importância de uma quarta via de abordagem do temário em foco, assentada no campo da comunicação, em sua ambivalência na dinâmica libertação-dominação entre os atores desses diferentes campos de interesse, no sentido de revisar conceitos, estratégias e ferramentas capazes de motivar o interesse e a mobilização de amplos segmentos sociais em torno das demandas de saúde no contexto internacional.

Esperamos que esta coletânea de textos represente uma contribuição valiosa para os interessados nessa temática, ao instigar debates e fomentar estudos a partir da chave de abordagem adotada na organização desta edição da C&SC em colaboração com o Nethis/Fiocruz.

José Paranaguá de Santana 1, Fernando Pires-Alves 2

1Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde, Fiocruz

2 Observatório História e Saúde, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Referências

Documentos relacionados

A compreensão de que condições de saúde dependem de fatores nacionais mais gerais – re- lacionados ao padrão de desenvolvimento e à inserção autônoma e competitiva na economia

From the point of view of the tensions between social development and power, innovation and democracy, and of the consequences to the pro- duction and access to health goods

La comprensión de que las condiciones de salud dependen de factores nacionales más gene- rales – relacionados con el patrón de desarrollo y la inserción autónoma y competitiva en

O refle- xo disso hoje se percebe nos projetos de coopera- ção bilaterais focados no intercambio baseado em técnicas e boas práticas aplicadas aos diferentes programas por

One should not overlook the weight bodies responsible for developing and promoting pro- grams carry within ministries of health, agencies and related organizations that make up

dado por las instancias técnicas y científicas o por las programáticas; en la práctica, pueden consti- tuirse como elementos complementarios. Un as- pecto que debe ser valorado en

Quando eclodiu a crise da dívi- da dos países do terceiro mundo, nos primeiros anos oitenta; quando a “ordem internacional da soberania” é substituída pela “ordem internacio-

In the sec- ond section, we sought to examine the content of three formulations on development and what they meant in practice - the New International Economic Order (NIEO), the