Paulo Mittelman Psicólogo Clínico
Professor do Curso de Prevenção e Tratamento do Abuso de Drogas da PUC / RJ
Jogo Compulsivo e Recuperação das
Dependências
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As Dependências e Compulsões são Fenômenos Complexos (I)
“Para todo problema complexo existe uma solução simples, …
e errada.”
H. L. Mencken
(da tese de doutorado de Sérgio de Paula Ramos)
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Objeto Real Modelos Teóricos
Diferentes Modelos Teóricos
Diferentes Práticas Clínicas
As Dependências e Compulsões são Fenômenos
complexos (II)
Conceito:
A característica essencial do Jogo
Patológico é um comportamento de jogo mal-adaptativo, recorrente e persistente que perturba os empreendimentos
pessoais, familiares ou ocupacionais.
“As crescentes evidências de que alguns
comportamentos, tais como jogos de azar, atuam sobre o sistema de recompensa com efeitos
semelhantes aos de drogas de abuso, motivou o DSM-5 (
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais- 2013) a incluir o Transtorno de Jogo entre os Transtornos Relacionados à Substâncias e Adição.”
Está incluído também entre os Transtornos de Hábitos e Impulsos na CID-10.
CID10: F 63.0
Jogo Patológico (I)
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Critérios Diagnósticos – (DSM IV) :
Presença de pelo menos 5 dos seguintes itens:
1. Preocupação com jogo (preocupação com experiências passadas, especulação do resultado ou planejamento de novas apostas).
2. Necessidade de aumentar o tamanho das apostas para alcançar a excitação desejada.
3. Esforço repetido e sem sucesso de controlar, diminuir ou parar de jogar.
4. Inquietude ou irritabilidade quando diminui ou pára de jogar.
5. Jogo como forma de escapar de problemas ou para aliviar estado disfórico (culpa, ansiedade, depressão).
6. Depois da perda de dinheiro no jogo, retorna para recuperar o que perdeu.
7. Mentir para esconder a extensão do envolvimento com o jogo.
8. Cometer atos ilegais para financiar o jogo.
9. Colocar em risco ou perder relacionamentos, empregos ou oportunidades em função do jogo.
10. Depender do dinheiro de outros para solucionar situações financeiras decorrentes do jogo.
Jogo Patológico (II)
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JOGO PATOLÓGICO – Tipos de Jogador (I)
Jogador Tipo I (o buscador de emoções):
• Predominantemente masculino.
• Motivação: dinheiro, as dívidas e a “adrenalina”.
• Joga rápido em poucas e grandes apostas.
• É mais frequente a comorbidade com abuso de substâncias.
Hermano Tavares- Fundador e coordenador do Programa Ambulatorial do Jogo Patológico (PRO-AMJO)
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JOGO PATOLÓGICO – Tipos de Jogador (II)
Jogador Tipo II (o escapista):
• Predominantemente feminino
• Motivação: ansiedade, angústia e vazio
• Pequenas apostas, prolonga o tempo em frente da máquina
• É mais frequente a comorbidade com depressão.
Hermano Tavares
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Comportamentos de risco em jogadores patológicos
Mulheres Homens p
(n=78) (n=78)
Tentativas de suicídio 17 (22%) 5 ( 6%) .004 Comportamento sexual 8 (11%) 25 (32%) .003 de risco
Abuso de álcool 3 ( 4%) 14 (18%) .039 Atividades ilegais 34 (44%) 41 (53%) n.s.
Martins S et al. Addict Behav. 2004;29:1231-5.
Hermano Tavares
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Jogo - Comorbidade Psiquiátrica
Mulheres Homens p
(n=70) (n=70)
Depressão 56 (80%) 44 (63%) .04
Dep. nicotina 52 (74%) 44 (63%)
Fobias/Pânico 34 (48%) 27 (39%)
TOC 10 (14%) 10 (14%)
Dep. drogas 7 (10%) 10 (14%)
Bipolar 5 ( 7%) 6 ( 9%)
Dep. álcool 4 ( 6%) 19 (27%) .001
Tavares H et al. J Clin Psychiatry 2003;64:433-8.
Hermano Tavares
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Jogo Patológico – Um Exemplo Famoso (I)
Preocupação com o jogo:
“Sim, algumas vezes o pensamento mais louco, o mais impossível na aparência, se implanta tão fortemente em seu espírito que acreditamos que seja realizável... Mais ainda: se esta idéia está ligada a um desejo violento, apaixonado, o acolhemos como algo fatal, necessário, predestinado, como algo que não pode não ser ou não se realizar! Talvez aí exista algo mais: uma combinação de pressentimentos, um esforço extraordinário da vontade, uma auto- intoxicação pela imaginação,...”
Necessidade de aumentar o tamanho da aposta:
“Talvez, depois de ter passado por um número tão grande de sensações, a alma não possa deleitar-se, exigindo novas sensações, sempre mais violentas, até o esgotamento total. E, na verdade, não minto, caso o regulamento permitisse apostar cinqüenta mil florins de um só golpe, eu teria arriscado.”
Féodor Mikhailovich Dostoiévski (1821-1881) - Um Caso Clínico
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Depois da perda, retorna para recuperar o que perdeu:
Na última página:
“Eu havia perdido tudo,tudo... Saio do cassino, olho... um florim vagava no bolso de meu colete: “Ah, ainda me resta com o que jantar!”, disse a mim mesmo, mas antes de dar uma centena de passos, mudei de idéia e retornei...
na verdade, experimenta-se uma sensação particular quando só, num país estrangeiro, longe de sua pátria, de seus amigos, sem saber o que se irá comer naquele dia, arriscamos nosso último florim, o último, o último!”
Dostoiéviski (1821-1881) - Um Caso Clínico (continuação)
Jogo Patológico – Um Exemplo Famoso (II)
Modelo da Análise Transacional
•
Como Eu Penso, Sinto e me Relaciono (I)
Nossas crenças e processos internos interferem na nossa percepção e interação com a realidade externa. Esquemas da Análise Transacional ajudam a entender esse processo.
Estados do Ego
Emoções “Agradáveis” e
“Desagradáveis”, Impulsos
e Aspectos Biológicos
Conceitos Racionais, Percepção do “Aqui e Agora”, Objetivo
Conceitos de “Certo” e “Errado”, Juízos de Valor, Conceitos Morais, etc.
P
A
C
Pai
Adulto
Criança Adulto Adulto
Pai
Ação do Álcool e Outras Drogas sobre os Estados de Ego:
O álcool, por ex., começa atuando sobre o est. de Ego “Pai”, rebaixando a censura e os juízos de valor. Depois atua como depressor sobre o est. De Ego “Adulto”
comprometendo a percepção objetiva da realidade e a coordenação motora. Por fim, atua como depressor sobre o est. De Ego “Criança”, comprometendo funções psicofisiológicas.
P
A
C
Conceitos de “Certo” e “Errado”, Juízos de Valor, Conceitos Morais, etc.
Conceitos Racionais, Percepção do
“Aqui e Agora”, Objetivo
Emoções “Agradáveis” e
“Desagradáveis”, Impulsos e Aspectos Biológicos
Pai
Adulto
Criança
Como Eu Penso , Sinto e me Relaciono (II)
Muitas vezes nossa capacidade de pensar de forma objetiva é influenciada por nossos valores morais e preconceitos ou por nossos desejos, medos e outras emoções. Isso é chamado de Contaminação pela A.T..
Adulto contaminado
pela Criança Adulto contaminado
pelo Pai
P
A
C
Pai
Adulto
Criança
Libertando-se de Padrões de Relacionamentos Destrutivos
http://
www.emotional-literacy.com/hea3.htmhttp://www.emotional-literacy.com/hea3.htmA Importância de se aprender a trocar “Carícias Positivas” para a recuperação
• Carícia (toque, afago, estímulo) é qualquer coisa que fazemos que dá a entender ao outro que sabemos de sua existência.
• É a unidade de reconhecimento humano.
• O processo de troca de carícias começa no nascimento com o toque físico.
Depois passa para palavras, olhares, gestos e aceitação.
Alimento Carícia
= Corpo Psiquismo
Se uma pessoa não está conseguindo obter carícias positivas vai se engajar, mesmo de forma não
consciente, em atividades para obter carícias, ainda que sejam negativas.
Claude Steiner considerava o Álcool e Outras Drogas como “Carícias de Plástico”.
Áreas de Troca de Carícias
• Cada pessoa tem uma “cota de carícias” que necessita. O ideal é que haja uma distribuição uniforme pelas áreas.
• Se todas as “fichas” estiverem colocadas em apenas uma área e essa vier a faltar (por qualquer razão), a “cota” cairá imediatamente para zero (vazio existencial).
SOCIAL E LAZER
PROFISSIONAL
PAR
FAMILIAR
Leis da Economia de Carícias
(Steiner-1971)
Normas parentais preconceituosas que impedem a sadia troca de estímulos sociais contrutivos.
1. Não dê as carícias positivas que quer dar.
Justificativas:
“As pessoas que recebem elogios ficam mal acostumadas”.
“Todos os pais amam seus filhos. Não há por que ficar dizendo isso para eles.”
2. Não aceite as carícias positivas que merece.
Justificativas:
“Começaria a depender dos outros.”
“Aceitá-las é falta de modéstia.”
3. Não peça as carícias positivas que precisa.
Justificativas:
“Se ele realmente me amasse, saberia do que preciso.”
“Eu tenho dificuldade de ouvir um não.”
“Elas só tem valor se forem espontâneas.”
4. Não se dê carícias positivas.
Justificativas:
“É falta de modéstia, é vaidade.”
“É narcisismo.”
5. Não recuse carícias negativas.
Justificativas:
“Se te criticam, é para o teu bem.”
“A gente tem que aceitar o que nos dão.”
“Você não pode lutar contra o destino.”
Leis da Abundância de Carícias
1. Dê as carícias positivas que quer dar.
2. Aceite as carícias positivas que merece.
3. Peça as carícias positivas que precisa.
4. Dê a si mesmo as carícias positivas.
5. Recuse as carícias negativas.
“Peça 100% das vezes as carícias que você necessita.
Isto não quer dizer que você vai obter 100% das
carícias que pedir mas, com certeza, vai obter mais do que se não pedir.”
(Claude Steiner)
Mudando Seus Padrões Negativos de Relacionamento
“Você é a pessoa que escolhe ser. Todos os dias você decide se continua do jeito que é ou muda.”
1- Procure perceber seus padrões repetitivos de comportamento e relacionamento.
2- Use seu Adulto para interromper o diálogo interno entre seu Pai Perseguidor e sua Criança.
3- Proteja e estimule sua Criança na sua busca de Criatividade, Alegria, Prazer e Encontro.
E...
“ Não espere maçã debaixo de uma jaqueira.
Jaqueira dá jaca e, às vezes, morcego, mas não dá maçã!”
(Ralph Berg)
Paulo Mittelman Psicólogo Clínico
Professor do Curso de Prevenção e Tratamento de Abuso de Drogas da PUC - Rio
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