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Rev. Sociol. Polit. número19

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Academic year: 2018

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Pierre Bourdieu faleceu em fins de janeiro de 2002 no Hospital Saint-Antoine, em Paris. Professor no Collège de France, desde 1981, e editor da revista Actes de la recherche en sciences sociales, fundada em 1975 e publicada pelo Centre de sociologie européenne do Collège de France e da École des hautes études en sciences sociales, Bourdieu foi, no sentido mais próprio, um “intelectual coletivo”. Essa noção, criada por ele, exprime bastante bem, como enfatizou o obituário redigido em sua homenagem pelo Centro de Sociologia Européia, sua maneira de conceber e praticar o “ofício de sociólogo”.

Há duas lições que resultam de seu trabalho e são particularmente caras a nós. A primeira é a que prevê a recusa de um certo senso comum universitário, em particular aquele que sustenta a oposição entre o trabalho empírico e a análise teórica. A outra diz respeito ao projeto que anima a produção de Actes de la recherche. Christophe Charle e Daniel Roche chamaram a atenção para uma das frentes de combate mais constantes de Bourdieu — aquela em favor de uma “ciência social unificada, onde a História fosse uma sociologia histórica do passado e a Sociologia uma história social do presente”. Essa é nossa ambição real, para além da algaravia que vigora, atualmente, em torno da “interdisciplinaridade”, da “transdisciplinaridade” e etc.

Outro termo que pertence a essa classe de palavras gastas pelo emprego vazio (ou pelo contrário: pelo seu emprego ideológico) é “globalização”. Este é o assunto do dossiê deste número 19.

Denunciando a existência de uma “nova vulgata planetária”, Bourdieu e Wacquant escreveram há pouco tempo:

“Em todos os países avançados, empresários e altos funcionários internacionais, intelectuais midiáticos e jornalistas de prestígio começaram a falar uma estranha novilíngua cujo vocabulário, aparentemente surgido de lugar algum, está em todas as bocas: ‘globalização’ e ‘flexibilização’; ‘governança’ e ‘empregabilidade’; ‘subclasse’ e ‘exclusão’; ‘nova economia’ e ‘tolerância zero’; ‘comunitarismo’ e ‘multiculturalismo’ e seus aparentados ‘pós-modernos’, ‘etnicidade’, ‘minoria’, ‘identidade’, ‘fragmentação’, etc. A difusão desta nova vulgata planetária — donde estão sintomaticamente ausentes [as expressões] capitalismo, classe, exploração, dominação, desigualdade, assim como outros vocábulos peremptoriamente revogados sob o pretexto da obsolescência ou da impertinência presumidas — é o produto de um imperialismo propriamente simbólico. Seus efeitos são tanto mais poderosos e perniciosos quando se leva em conta que este imperialismo é sustentado não somente pelos partidários da revolução neoliberal, [...] mas também pelos produtores de cultura (pesquisadores, escritores, artistas) e pelos militantes de esquerda que [...] se pensam sempre como progressistas” (P. Bourdieu & L. Wacquant, La nouvelle vulgate planétaire.

Le Monde diplomatique, mai 2000).

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Esse problema só será enfrentado com um extenso programa de pesquisa. Os quatro artigos do dossiê “Globalização” (assim mesmo, com aspas, para sublinhar o emprego insatisfeito da expressão) procuram realizar uma análise empírica da evolução da economia e da sociedade periféricas (no caso: do Brasil e do Chile), a fim de descobrir as origens e as conseqüências das transformações presentes.

Na seção “Artigos” incluímos um ensaio de Loïc Wacquant em homenagem a Bourdieu. Não se trata de uma cortesia, mas é a expressão de uma admiração.

Adriano Nervo Codato Editor * * *

Editar um periódico científico em condições tão precárias e artesanais como as nossas não é tarefa fácil, nem gratificante. As supostas vantagens do nosso cargo, se as há, ainda não foram usufruídas.

Para alívio de todos (autores, editores, tradutores, revisores, diagramadores, assistentes e etc.) conseguimos, na última hora, os recursos indispensáveis para produzir o volume 19. Este número contou com o apoio do Programa de Apoio às Publicações Científicas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP).

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