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LUCILENE FELIPE GOMES Políticas Públicas para a Juventude: A participação do jovem em sua construção

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Academic year: 2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

(PUC-SP)

LUCILENE FELIPE GOMES

Políticas Públicas para a Juventude: A participação do jovem em sua construção

Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

(PUC-SP)

LUCILENE FELIPE GOMES

Políticas Públicas para a Juventude: A participação do jovem em sua construção

Dissertação de mestrado apresentado para o Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Serviço Social, sob a orientação da Profa. Dra. Myrian Veras Baptista.

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São Paulo,____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

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Dedico este trabalho aos meus sobrinhos, que nos momentos de cansaço na construção deste estudo, me alegraram, fizeram-me sorrir e a não desistir de sonhar, tornando meus dias mais alegre e feliz, meu muito obrigada: William, Nathaly, Geovana, Renato, Mariana, Felipe e ao pequeno Enzo, que está guardadinho na barriga da sua mãe.

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AGRADECIMENTOS

A muitas pessoas lindas e especiais que contribuíram direta ou indiretamente para a consolidação deste estudo.

Aos meus pais – Maria Zilda e Domingos, de uma forma especial pelos esforços e garra que sempre dedicaram. Agradeço também por ser quem eles são, pessoas lindas que eu amo muito e tenho muito orgulho de ser quem eu sou, só pelo fato de ser sua filha.

Aos meus irmãos: Lucimara, Elenildo, José Adair e Wilson. A minha prima Maria e as minhas cunhadas: Silmara e Simone.

Aos meus adorados amigos: Adriana Oliveira, Graziela Sue e Diego Brianezi (que por muitas vezes me acolheram com muito carinho em suas casas), Fabiana Taioli, Juliana Santos Corbett, Selane Campelo, Carina Caseiro, Sheila Marcolino, Juliana Cholakov, Carla da Silva, Liliana Hurtado, Pablo Corbett, Elaine Silva, Márcia Alberti, Eduardo Novaes, Franciane Tobias, Arlete Silva, Mariana Saes, Sandra Vaz, Fabiana Carvalho e Jorge Silva que acompanharam o processo desta dissertação. Obrigada por estarem comigo e principalmente por compreenderem todas as minhas ausências.

À orientadora, Professora Drª Myrian Veras Baptista, por compartilhar comigo seus conhecimentos e saberes. Sempre humilde, paciente e dedicada. Sua presença foi de suma importância para concretização deste estudo.

A amiga e Professora Drª Viviane de Melo Mendonça e a Professora Drª Maria Carmelita Yazbek pela contribuição neste trabalho.

A Professora Drª Mirian Faury que sempre me apoiou, incentivou e conduziu-me desde a graduação até o mestrado, colaborando nas revisões e sugestões para que este trabalho fosse realizado.

Aos Professores da PUC SP: Maria Lucia Martinelli, Mariangela Belfiore Wanderley, Maria Lucia Rodrigues, Maria Lucia Carvalho e Carola Carbajal.

Aos colegas da Pós Graduação, em especial: Kleber Navas, Augusta Nunes, Douglas Zacarias, Marcia Guerra, Wagner Hosokawa, Alessandra Genú, Maria Auxiliadora, Jane Valente.

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Agradeço ao extinto Programa Famílias Acolhedoras de Vargem Grande Paulista/SP, em especial a Helena Alessi e Ricardo Fait, pela ajuda e colaboração.

Ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS do município de Hortolândia/SP, pela compreensão e flexibilidade nos meus horários, muito obrigada.

A coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pelo apoio e pela oportunidade de consolidação deste trabalho com apoio da bolsa de estudo.

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RESUMO

A presente pesquisa representou um esforço de compreensão da juventude brasileira e do modo como a sociedade e o poder público têm se posicionando face às suas questões. Sua análise se fez a partir de uma concepção democrática de Políticas Públicas, - apreendidas como formas de o Estado concretizar a ação significante de mudança social, alocando recursos, privilegiando instrumentos de intervenção social no país – e sobre a sua operação, a partir de uma posição de clara defesa dos jovens como sujeitos de direito. Nesse estudo pudemos observar que, no país, ainda não temos uma política pública para a juventude, o que nos levou a realizar uma análise do processo de construção dessa política e um estudo sobre os programas e projetos que vêm sendo implementados para a população juvenil. A metodologia utilizada no primeiro momento foi à pesquisa documental e, no segundo a pesquisa qualitativa, por meio do questionário aplicado e das entrevistas utilizadas. Os resultados da 2ª Conferência Nacional de Juventude apontaram para a necessidade de aprovação do Estatuto e do Plano Nacional de Juventude, regulando os direitos dessa população. Constatou-se que são várias as questões a ensejar a atenção do Estado brasileiro para os problemas enfrentados pela juventude. Ao longo deste estudo, tornou-se necessário entender as políticas públicas que estão em consonância com o sistema econômico, deixando evidente a relevância de construir e implantar políticas públicas que atendam ao jovem em sua totalidade. As políticas públicas se configuram como um dos maiores problemas para os governantes nos dias de hoje. Apesar de sua irrefutável importância e da necessidade de políticas de atendimento, o mundo “adulto” apresenta dificuldades em lidar com as demandas e manifestações da juventude.

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ABSTRACT

This research represented an effort of understanding of Brazilian youth and how the society and the public authorities have positioning itself vis-à-vis their issues. His analysis was done from a democratic conception of public policies, seized as forms of the-State realize the significant action of social change, allocating resources, favouring social intervention instruments in the country – and on their operation, from a position of clear defence of youngsters as subjects of law. In this study we have seen that, in the country, we don't have a public policy for youth, which led us to carry out an analysis of the process of building this policy and a study about the programs and projects that are being implemented for the juvenile population. The methodology used in the first moment was the desk research and, in the second the qualitative research, through the questionnaire applied and of the interviews used. The results of the 2nd National Conference for Youth pointed to the need for adoption of the Statute and of the national plan for youth, regulating the rights of this population. It was noted that there are several issues to lead the Brazilian State's attention to the problems faced by youth. Throughout this study, it has become necessary to understand public policies that are in line with the economic system, leaving a clear relevance to build and deploy public policies that meet the young in their entirety. Public policies configure themselves as one of the biggest problems for the rulers in this day and age. Despite its irrefutable importance and necessity of customer service policies, the "adult" world presents difficulties in coping with the demands and demonstrations of youth.

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RESUMEN

La presente investigación representó un esfuerzo de comprensión de la juventud brasileña y de la forma como la sociedad y el poder público se han posicionado frente a sus cuestionamientos. Su análisis se hizo a partir de una concepción democrática de las Políticas Públicas, - vistas como formas con las que el Estado concretiza la acción significante del cambio social, destinando recursos, privilegiando instrumentos de intervención social en el país- e sobre su operación, a partir de una posición de clara defensa de los jóvenes como sujetos de derechos. En este estudio pudimos observar que, en el país, aun no tenemos una política pública para la juventud, lo que nos llevó a realizar un análisis del proceso de construcción de esa política y un estudio sobre los programas y proyectos que vienen siendo implementados para la población juvenil. La metodología utilizada en un primer momento fue la investigación documental y, en un segundo, la investigación cualitativa, por medio del cuestionario aplicado y de las entrevistas utilizadas. Los resultados de la 2ª Conferencia Nacional de Juventud apuntaron la necesidad de la aprobación del Estatuto y Plan Nacional de Juventud, regulando los derechos de esa población. Se constató que son varias las preguntas que se colocan al Estado brasileño sobre los problemas enfrentados por la juventud. A lo largo de este estudio, se volvió necesario entender las políticas públicas que están en consonancia con el sistema económico, haciéndose evidente la relevancia de construir e implantar políticas públicas que atiendan al joven en su totalidad. Las políticas públicas se configuran como uno de los mayores problemas para los gobernadores en la actualidad. A pesar de su irrefutable importancia y de la necesidad de políticas de atención, el mundo del “adulto” presenta dificultades para lidiar con las demandas y manifestaciones de la juventud.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 16

Capítulo 1: JUVENTUDE: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS 1.1 As concepções de juventude no campo do conhecimento ...25

1.2 As concepções de juventude no espaço da legislação e das políticas sociais brasileiras...30

1.3 A juventude na pauta das políticas públicas...33

1.4 A diversidade econômico-social do ser jovem...36

1.5 A perspectiva de juventude no mundo contemporâneo...39

Capítulo 2: AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS ESPAÇOS DEMOCRÁTICOS 2.1 As perspectivas de políticas públicas e as políticas públicas de juventude...42

2.2 As políticas públicas no Brasil ...51

2.3 A política pública de juventude no Brasil...55

2.4 As Conferências enquanto espaço democrático de participação social...59

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Capítulo 3

A 2ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE JUVENTUDE...67

3.1 Organização da 2ª Conferência Nacional de Juventude...71

3.2 Funcionamento...73

3.3 Resultados...77

Capítulo 4 A PESQUISA REALIZADA...80

4.1 Jovens do estudo...81

4.2 Análises dos depoimentos...82

CONSIDERAÇÕES FINAIS...87

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA...91

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CF – Constituição Federal

CNJ – Conferência Nacional de Juventude CONJUVE – Conselho Nacional de Juventude ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente GT – Grupo de Trabalho

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada MD - Ministério da Defesa

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

MDS - Ministério do Desenvolvimento e Combate a Fome MEC – Ministério da Educação

MJ - Ministério da Justiça

MMA - Ministério do Meio Ambiente MS - Ministério da Saúde

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego OMS – Organização Mundial de Saúde ONG – Organização não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas PEC - Proposta de Emenda à Constituição PL - Projeto de Lei

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAS – Política Nacional de Assistência Social

PNJ - Plano Nacional de Juventude PP – Políticas Públicas

PPA - Plano Plurianual

PPJ – Políticas Públicas de Juventude

PRO- JOVEM – Programa Nacional de Inclusão de Jovens SEDH - Secretaria Especial de Direitos Humanos

SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo SNJ – Secretaria Nacional de Juventude

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LISTA DE QUADROS

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LISTA DE GRÁFICO

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INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas ocorreram inúmeros movimentos no sentido de transformações sociais - fossem elas conservadoras ou utópicas – que tiveram como seus principais mobilizadores os jovens. Essas ocorrências demonstraram o quanto os jovens são importantes como agentes de mudança social. Entretanto, essa população ainda é “invisível” aos olhos da sociedade. Lamentavelmente, os jovens têm poucas oportunidades para se capacitar, para gerar sua própria renda e para se apropriar de seus direitos, estando, por um lado, expostos a inúmeros problemas sociais e, por outro, gerando eles próprios alguns problemas.

Dessa forma, os programas voltados para a juventude acabam tendo como objetivo a contenção do “risco” que esse momento do processo de desenvolvimento representa para a sociedade, ou dedicando-se a meramente tirar os jovens das ruas ou a ocupar suas horas de ociosidade.

Cabe destacar que, no Brasil, existem poucos serviços voltados à juventude, e poucos deles apresentam propostas inovadoras e emancipatórias que possam levar a um salto em relação à sua qualidade de vida. Não existe, de fato, uma política pública eficaz para que o jovem alcance a sua inserção e inclusão social.

Neste contexto de nossa sociedade, as políticas sociais voltadas para a juventude refletem as perspectivas do mundo adulto, que detém a responsabilidade pelo desenvolvimento e pela socialização dos seus jovens, e detém também o poder de decisão - fato que acontece tanto no âmbito da família como do Estado.

Segundo dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a partir dos resultados obtidos pelo Censo de 2010, a juventude brasileira entre os 15 e 291 anos representa hoje 53% da população nacional - 27% moradores em área urbana e 26% em área rural - perfazendo um número aproximado de cerca de 51 milhões de jovens. Este é um contingente populacional bastante significativo, que justifica um foco político específico, uma vez que se trata de uma fase da vida com características próprias.

No conjunto de preocupações relacionadas à juventude, a vulnerabilidade social tem lugar de destaque. Segundo Sposati (2009), a vulnerabilidade social relaciona-se:

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“aos riscos sociais e às condições de sua ocorrência. Neste sentido, quanto maior a vulnerabilidade social, maior a probabilidade de se estar sujeito a riscos sociais, assim como de sofrer maior dano quando a estes expostos. Riscos sociais, considerados como eventos que provocam privações e danos, podem ser associados não apenas às situações de pobreza, mas a um amplo espectro de situações, por exemplo, desemprego, doença, dificuldades de inserção no mercado de trabalho, deficiência física, situações de violência, entre outras” (Sposati, 2009, p.171).

Além dessa perspectiva de vulnerabilidade e risco, relacionado a um determinado segmento da juventude, notamos ainda que o imaginário social a respeito das pessoas que estão nessa faixa etária é contraditório: ao mesmo tempo em que ela é vista como futuro do país é também associada à rebeldia, portanto, é vista como transgressora e irreverente.

A preocupação pela vulnerabilidade social dos jovens apóia-se em informações colhidas através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-IBGE) de 2007, que apontou o fato de que “30,6% dos jovens podem ser considerados pobres, pois vivem em famílias com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo. De outra parte, apenas 15,7% são oriundos de famílias com renda domiciliar per capita superior a dois salários mínimos e aproximadamente 53,7% pertencem ao extrato intermediário, com renda domiciliar per capita entre meio e dois salários mínimos”.

Nota-se ainda, que os jovens pobres são majoritariamente não brancos (70,9%), embora a distribuição dos jovens brasileiros entre os grupos brancos e não brancos seja de 41,1% e 52,9%, respectivamente2.

Quanto ao sexo há uma distribuição equitativa (50% homens e 50% mulheres) o que não ocorre quando o assunto é pobreza, uma vez que está é “...ligeiramente superior entre as mulheres jovens (53%), tal como se dá para a população como um todo.” Em termos de região, há uma concentração de jovens pobres “...na região Nordeste (51,7% do total do país), com destaque para o fato de que 19,3% da juventude nordestina é constituída de jovens pobres que vivem em áreas rurais.”

Além da precariedade econômica detectada, esses jovens estão sujeitos ainda, em seu cotidiano, a problemas extremamente graves como a violência, a má qualidade de ensino, as dificuldades de inserção no mercado de trabalho (por vezes, tendo possibilidades apenas no

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mercado da droga ou no mercado informal), as dificuldades de acesso a uma atenção à saúde de qualidade, entre outros.

Essas situações de vulnerabilidade social que atingem esses jovens são expressões da “questão social”, tal como é vista por Yazbek (2008:02): “A questão social se expressa pelo conjunto de desigualdades sociais engendradas pelas relações sociais constitutivas do capitalismo contemporâneo”.

Segundo pesquisa publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA - 2009) intitulada Juventude e Políticas Sociais no Brasil, a temática da juventude adentrou a agenda das políticas públicas, bem como das pesquisas demográficas em razão da ampliação da população jovem e, também, pelo fato de suas questões incidirem fortemente em duas variáveis demográficas básicas - a fecundidade e a mortalidade.

O temor pela explosão demográfica foi motivado pela amplitude da população jovem: no ano 2000: foi constatada a existência de 47 milhões de jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos.

No que se refere à fecundidade, a pesquisa aponta que os nascimentos têm se concentrado entre filhos de jovens com menos de 30 anos de idade. No Brasil, em 2007, aproximadamente 71% dos nascidos vivos eram filhos de mulheres entre 15 e 29 anos, sendo que quase 50% estavam concentradas em jovens de até 24 anos. Os filhos nascidos vivos das mulheres de 15 a 19 anos respondiam a 16% do total dos nascimentos.

No que se referem à saúde do jovem, o estudo realça que as questões que são relevantes são as relativas ao desenvolvimento da sexualidade, à violência e ao uso de drogas. Neste cenário, o desemprego, a pobreza, as desigualdades de gênero e raça têm contribuído para que mulheres se tornem mais vulneráveis ao surgimento de doenças.

No Brasil, a incidência da gravidez na juventude é muito maior nas populações de jovens de baixa renda, notadamente dentre aquelas às quais falta escolaridade. Além do alto índice de gravidez, entre essas jovens há um significativo aumento da infecção pelo HIV/Aids.

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casa - doenças que poderiam ser tranquilamente evitadas e tratadas levam muitas dessas mulheres à morte.

A pesquisa do IPEA (2009) revela dados assustadores em relação à taxa de mortalidade entre os jovens, por causas externas ou não naturais, ou seja, por homicídios, acidentes de transporte e suicídios. As causas externas que, em 1980, foram responsáveis por aproximadamente 61% dos óbitos de homens de 15 á 29 anos, no ano de 2006 foram causa de aproximadamente 77% das mortes, com destaque para a violência no trânsito e os homicídios. Esses últimos têm por índice 38% das mortes, enquanto os acidentes de trânsito correspondem a 27%.

Podemos observar que a taxa de mortalidade por causas externas em jovens do sexo masculino teve variações significativas nos 26 anos, que vão dos anos de 1980 a 2006, tomando como indicador o número de óbitos por 100 mil habitantes: entre os anos de 1980 e 2000, houve uma elevação de 161,2 óbitos (em 1980) para 204 (em 2000) e, em 2006, houve uma leve redução do índice de 2000, para 192,6 óbitos.

Ainda de acordo com outra pesquisa realizada no período de janeiro de 2009 a fevereiro de 20113, o autor Waiselfisz (Mapa da Violência de 2011) apresenta que mais de 60% das mortes na população jovem (15 a 24 anos) são por causas violentas e, dessas, quase 40% são homicídios. Os dados relacionados aos índices de homicídios sofridos na adolescência, em 267 municípios do Brasil com mais de 100 mil habitantes chegou a uma estimativa alarmante de que, nesses municípios, o número de adolescentes de 12 a 18 anos que poderão ser assassinados no período de 2006 a 2012 ultrapasse a marca de 33 mil mortos.

Segundo Waiselfisz, no total da população brasileira, o número de vítimas de homicídios, na perspectiva de cor ou raça4 teve a seguinte variação: dentre os de raça branca, o número de homicídios diminuiu em 22,3% (de 18.852 para 14.650) entre 2002 e 2008. Entre os negros (pretos e pardos), o percentual de vítimas de homicídio, no mesmo período, cresceu em 20,2% (de 26.915 para 32.349).

3 De acordo com a pesquisa foram usados os últimos dados disponibilizados entre 2004 e 2008. Para o cálculo das taxas de mortalidade do Brasil, foram utilizadas as estimativas intercensitárias disponibilizadas pelo Datasus que, por sua vez, utiliza as seguintes fontes: • 1980, 1991 e 2000: IBGE – Censos Demográficos; • 1996: IBGE – Contagem Populacional; • 1981-1990, 1992-1999, 2001-2006: IBGE – Estimativas preliminares para os anos intercensitários dos totais populacionais, estratificadas por idade e sexo pelo MS/SE/Datasus; • 2007-2009: IBGE – Estimativas elaboradas no âmbito do Projeto UNFPA/IBGE (BRA/4/ P31A) – População e Desenvolvimento. Coordenação de População e Indicadores Sociais.

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Esse estudo aponta que, no ano de 2002, foram vítimas de homicídios, proporcionalmente, 45,8% mais negros do que brancos. Em 2005, pelo mesmo motivo, morreram 67,1% mais negros que brancos e, em 2008, morreram 103,4% mais negros que brancos, isto é, mais que o dobro dos índices de 2002. A região que se destaca por seus altos índices de vitimização é a Nordeste, onde Estados como a Paraíba apresentam uma escalada abrupta de 2002 para 2008, ostentando uma taxa de vítimas negras 12 vezes maior, proporcionalmente, ao das vítimas brancas. Todavia, o estado de Alagoas não fica muito atrás (índice 11 vezes maior), sendo forte também na Bahia, no Ceará, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Fora da região Nordeste, destacam-se os elevados índices de vitimização do Distrito Federal, Espírito Santo, Amazonas, Pará e Amapá. O Estado do Paraná foi o único em que houve mais homicídios contra brancos do que contra negros.

A pesquisa destaca também que dentre os jovens de 15 a 25 anos, os números revelam que a vitimização negra é ainda mais intensa do que no total da população. Entre 2002 e 2008, os homicídios contra os jovens brancos caiu em 30% (de 6.592 para 4.582). Já entre os jovens negros, os homicídios cresceram em 13% (de 11.308 para 12.749). Com isso, a brecha de mortalidade entre brancos e negros cresceu 43% num breve lapso de tempo. As taxas de homicídios contra brancos caíram de 39,3 (2002) para 30,2 (2008), enquanto as taxas de homicídios contra negros cresceram de 13,2%, no mesmo intervalo.

O estudo calcula o índice de vitimização negra - o qual indica a probabilidade (maior, igual ou menor) de vitimização de negros em homicídios no Brasil. Aponta que, em 2002, morreram, proporcionalmente, 45,8% mais negros do que brancos e que, em 2008, esta proporção ampliou-se para 127,6%. Considera que estes dados são fruto de um aumento vertiginoso da taxa geral de homicídios em Estados com forte presença de população negra.

Este mesmo estudo destaca ainda um dado bastante relevante: a maioria dos jovens mortos são do sexo masculino e negros. A probabilidade da morte violenta na juventude é 12 vezes maior entre jovens do sexo masculino, ou seja, os jovens que morrem têm cor, sexo e endereço. A probabilidade de um jovem negro ser assassinado é 2,6 vezes maior do que um jovem branco, o que confirma o racismo como um importante eixo estruturador das relações de poder na sociedade brasileira.

Além desses dados demográficos, também alguns índices relacionados à população jovem revelam a necessidade de implantação imediata de políticas públicas voltadas para a juventude.

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ocorreu em todas as regiões do país e, também, foi maior na região Norte - que tinha o percentual mais alto em 2000 - 26,9% - e alcançou 18,7% em 2010 - praticamente o mesmo da região Sul, cujo percentual foi 18,6%.

Na faixa etária de 15 a 17 anos, o menor percentual de jovens fora da escola estava no Distrito Federal (11,6%), seguido pelo estado do Rio de Janeiro (13,1%). O maior ocorreu no Acre (22,2%).

De acordo com IPEA (2009) dentre os jovens, na faixa etária dos 15 aos 17 anos, 32,5% ainda cursam o ensino fundamental5, apenas 48,5% estão matriculados no ensino médio6, 18% estão fora das escolas e 1% permanecem analfabetos. O percentual de jovens de 18 a 24 anos, matriculado no ensino superior7, neste mesmo ano, é de 13%. A evasão do sistema de ensino, nessa faixa etária, eleva-se a um percentual de 66%.

As principais causas para tais números, no caso dos rapazes é o trabalho e, das moças, é a gravidez na adolescência. Outra causa é a o fato dos programas educacionais não se apresentarem de forma atraente ou não corresponderem às expectativas dos jovens. Nesse sentido, é importante reformular a oferta de programas educacionais para jovens e adultos para que os mesmos se apresentem atraentes - a juventude é dinâmica e enfrenta várias dificuldades para prosseguir seus estudos, portanto é necessário que a educação profissional instigue seu interesse.

Ainda de acordo com a pesquisa, no campo da educação, constata-se que o número de jovens negros analfabetos, com idade entre 15 e 29 anos, é quase duas vezes maior que o de jovens brancos. As taxas de frequência (estudantes que frequentam o nível de ensino adequado a sua idade) dos jovens negros é significativamente menor que a dos brancos, tanto no ensino médio quanto no ensino superior.

Na faixa etária de 15 a 17 anos, que corresponde ao período em que se espera que o jovem esteja cursando o ensino médio, os brancos apresentam taxa de 58,7% contra 39,3% dos negros. No ensino superior, a desigualdade entre jovens brancos e negros na faixa etária de 18 a 24 anos é expressa pelo índice de 19,8% para os brancos e de 6,9% para os negros, aproximadamente uma diferença de incidência três vezes maior para os brancos.

As desigualdades entre jovens brancos e negros (pretos e pardos) levam à reflexão que a mesma acontece nos mais diferentes aspectos da vida social, configurando menores oportunidades sociais para a juventude negra.

5 Ensino regular ou EJA.

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Outro problema a ser analisado é o do desemprego que, embora atinja a todos, tem a juventude como a mais afetada. A pesquisa do IPEA (2009) destaca que os índices de desemprego atingem 46% do total de jovens entre 15 e 29 anos, no nível nacional. Também, 50% dos ocupados, entre 18 e 24 anos são assalariados sem carteira assinada; 31% dos jovens de 15 a 29 anos apresentam renda domiciliar per capita inferior a meio salário mínimo – neste índice há uma incidência maior entre as mulheres. Este dado é agravado quando se trata da população negra, representada por 70% dos jovens pobres.

A situação de vulnerabilidade social da juventude pode, ainda, ser identificada pelo alto grau de práticas de atos infracionais. De acordo com Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE (2009), o Brasil possuía, na época da pesquisa, 15.372 adolescentes (de ambos os sexos) entre a faixa etária de 12 a 18 anos, em cumprimento de medida socioeducativa de privação de liberdade, nas modalidades de internação e de internação provisória8.

Esses dados deixam claro que a maior parte dos jovens brasileiros não têm assegurados os seus direitos: têm dificuldades para o acesso a um ensino público de qualidade (em escolas perto de suas casas); não há, em termos de abrangência e de efetividade de atendimento, políticas nem serviços de assistência à gestante jovem, nem de prevenção à criminalidade juvenil, nem de tratamento da drogadição e do alcoolismo. Não existem programas públicos suficientes destinados à psiquiatria juvenil, aos atendimentos psicológicos, a informações sobre sexualidade, às necessidades culturais e esportivas de cada jovem - como praças de esportes, espaços de formação teatral e musical, centro de artes plásticas, centros culturais, dentre outros.

Em decorrência de grande parte de a juventude estar em situação de exclusão social9 - resultado de sua condição de classe socioeconômica - e de, muitas vezes, ter necessidade de

8 Não foi possível obter dados nacionais para a faixa etária de adolescentes cumprindo medida socioeducativa em meio aberto.

9 Para Yazbek a exclusão social configura-a como uma forma de pertencimento, de inserção na vida social. Trata-se de uma inclusão que se faz pela exclusão, de uma modalidade de inserção que se define paradoxalmente pela não participação e pelo mínimo usufruto da riqueza socialmente construída. É uma exclusão integrativa como assinala Martins. Para ele estamos diante de um processo que se atualiza e alcança grupos crescentes “nos países pobres, nas regiões pobres dos países ricos, mas também nos espaços ricos dos países pobres”.

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contribuir para a renda familiar ou de buscar sua autonomia, muitos jovens engajam-se precocemente em atividades informais (e até ilícitas) para auferir alguma renda, por vezes tecendo sua inserção no mundo do preconceito.

Recentemente a sociedade começou a ter outro olhar para a juventude, reconhecendo que os jovens são sujeitos sociais, portadores de identidades próprias. Novos paradigmas estão sendo alocados e trabalhados neste cenário vivenciado por essa população. Porém, no que se refere à implementação de políticas públicas, existem ainda muitos fatores não resolvidos, tanto por parte da sociedade como por parte do Estado.

As inquietações que tocam e incomodam neste estudo são provenientes das observações relacionadas à ausência de políticas públicas para a juventude. Diante dessa questão foram assumidas como objeto de análise as implicações do processo de construção e implementação de políticas públicas para a juventude, tendo como foco as deliberações da Conferência Nacional de Juventude, considerando que nelas estão implícitas as questões relacionadas às ações públicas esperadas em resposta às demandas e necessidades desse segmento da população.

A pesquisa teve como base de estudo a importância de políticas públicas para a juventude e partiu da premissa de que o país não possui ainda, especificamente, uma política para a juventude, mas projetos que se direcionam para esse segmento da população. Sua análise privilegiou o movimento que está em curso no sentido da construção de uma política nacional.

Foi observado que as políticas sociais para a população jovem, se configuram como um dos maiores problemas para os governantes na atualidade pois, apesar da indiscutível importância e da necessidade de haver políticas que definam formas de atendimento integrado ao jovem, a sua operação exige uma perspectiva de transversalidade que atravessa as diferentes políticas setoriais. Por outro lado, trata-se de uma população dinâmica, diferenciada, que apresenta desafios às propostas já existentes e o mundo “adulto” sente extrema dificuldade para lidar com suas demandas e manifestações.

Nesta Dissertação, em seu primeiro capítulo são apresentadas algumas aproximações à temática: concepções históricas sobre a juventude e sobre as políticas públicas de juventude,

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destacando os programas e projetos existentes, nas áreas da educação, da saúde, do trabalho, da violência.

No segundo capítulo são abordadas as Conferências de Juventude, como instrumentos de participação democrática.

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CAPÍTULO 1: JUVENTUDE: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS

1.1 As concepções de juventude no campo do conhecimento

A análise das concepções de juventude frequentemente se apresenta atrelada à concepção de adolescência – considerando que essas etapas da vida conformam um conjunto preparatório para a vida adulta.

Para Baptista (2001, p.11) apoiada em Abramo “a adolescência, no decurso do desenvolvimento humano, representa um momento de passagem da infância para a vida adulta, no qual o jovem vive não apenas um processo de mudanças biológicas, psicológicas, sociais e culturais, mas também uma condição de relatividade de direitos, de deveres, de responsabilidades e de independência sem que estes estejam "explicitamente definidos nem institucionalizados, imprimindo-se à condição juvenil uma imensa ambiguidade"

Compreendemos que essa fase representa para o adolescente um processo de distanciamento dos modelos de comportamento típicos da infância, e possibilita a aquisição de características para assumir os direitos e deveres do papel do adulto.

Desta forma o adolescente é considerado “maduro” quando adaptado à sociedade, ou seja, quando se torna um sujeito que responde às normas e valores do sistema social em que vive.

Na síntese encontrada na Wikipédia10a “adolescência e a juventude são fenômenos de forte caracterização cultural e sua definição está intimamente ligada à transformação da compreensão do desenvolvimento humano e também à transformação da forma como cada geração adulta se define a si própria”.

Nesse movimento de reconhecimento e pluralidade, começou-se a compreender a juventude, não mais de maneira singular, e sim como juventudes, atrelada a noção de sujeitos sociais, políticos e culturais.

Abramovay e Esteves (2009) trazem definições que são relevantes para a compreensão e estudo da juventude. O conceito por eles estudado trabalha na perspectiva de que não existe

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apenas uma juventude, mas juventudes. É nesta direção que optei em minha pesquisa: “juventudes” em uma perspectiva plural.

“É uma construção social, ou seja, a produção de uma determinada sociedade originada a partir de múltiplas formas como ela vê os jovens, produção na qual se conjugam, entre outros fatores, estereótipos, momentos históricos, múltiplas referências, além de diferentes e diversificadas situações de classe, gênero, etnia, grupo etc.” (Abramovay e Esteves. 2009 p.23).

Para os autores essa definição destaca que não existe somente um tipo de juventude, mas grupos juvenis, que constituem um conjunto composto por diversidades, heterogeneidade, que trazem consigo suas facilidades, dificuldades e poder.

Abramovay e Esteves discutem ainda que a juventude é uma construção social, produção de uma determinada sociedade. Essa construção se faz a partir das múltiplas formas como essa sociedade vê os jovens, incluindo os estereótipos, os momentos históricos, a diversidade, as situações de classe, o gênero, a etnia, os grupos etc. Nessa construção outras dimensões devem também ser consideradas: trabalho, educação, cultura, esportes/lazer, participação política, saúde/sexualidade, violência, drogas, religiosidade, entre tantas outras.

Abramovay (2007, p.29) citando Pais11 acrescenta que, embora a segmentação de certos cursos de vida em fases seja produto de um processo de construção social bastante complexo, “determinadas fases da vida apenas são reconhecidas, enquanto tal, em determinados períodos históricos, isto é, em períodos nos quais essas fases da vida são socialmente vistas como geradoras de problemas sociais”.

A autora destaca ainda que, no que “diz respeito à juventude, de maneira mais específica, a construção em torno dela é, via de regra, carregada de significados negativos, prevalecendo o rótulo de geradora de problemas, cujos desdobramentos e consequências se fazem sentir tanto em seu cotidiano quanto na sua relação com as diversas instituições sociais de que participa, tais como a família, a escola etc.”.

A juventude é uma categoria que passou a ter espaço nas preocupações da sociedade e nas políticas públicas no século XX, mais especificamente, a partir dos anos 1960 quando os jovens foram protagonistas de vários eventos sócio-político-culturais: era comum a juventude se dispor a interferir nos rumos da sociedade. Por aquela época a sociedade impunha uma

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gama de intervenções e responsabilidades aos adolescentes e jovens, seja em relação aos problemas vigentes, seja na busca de transformação social.

Segundo Abramo (1996), os estudos em termos da juventude no Brasil privilegiam as manifestações juvenis partindo da década de 1950. Cada década traria, portanto, um modelo particular de juventude:

Em cada uma dessas décadas, a juventude aparece caracterizada de uma forma distinta. Por exemplo, na década de 1950 a juventude ficou conhecida como “rebelde sem causa” ou “juventude transviada”, na década de 1960 como “revolucionária”, na década de 1990 fala-se da geração “Shopping Center” (Abramo, 1996, p.55).

A autora destaca que, na década de 1950, os jovens foram considerados a chamada “juventude transviada”, que nada mais era do que jovens de classe média que se envolviam em infrações e confusões nas cidades. Naquela época, essa imagem ganhou muito destaque no cinema, caracterizando os jovens como “transgressores”.

Na década seguinte, a juventude se expressou de forma diferente: é quando o jovem deixa de aparecer como um “rebelde sem causa” para se destacar como um “rebelde com causa”, participando dos movimentos estudantis que, na década de 1960, assumiram uma característica mais marcadamente política. .

Os jovens passaram a colocar seus posicionamentos e a ganhar visibilidade, e a juventude passou a ser compreendida como algo que era mais do que a idade biológica, sendo vista como uma construção social. O auge desse movimento ocorreu no ano de 1968, que tornou-se emblemático para a juventude pela sua integração com os demais movimentos que ocorriam em outras partes do mundo - nasce um chamado em escala global acerca da definição de juventude.

Cabe reconhecer também que, no decurso da história, a definição dessa condição juvenil estava mediada por relações direcionadas à sua incorporação à vida adulta, atrelada à caracterização da juventude como uma etapa vital entre a infância e a maturidade, como a preparação para o “ser adulto”.

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adquiriram maior espaço e passaram a ser considerados agentes políticos, culturais e sociais, como jovens protagonistas.

De modo geral, os jovens passaram também a chamar a atenção da sociedade como protagonistas de problemas sociais. E, à medida que esses problemas ganhavam destaque, o imaginário sobre a juventude como problemática era reforçado: chamava a atenção (e chama ainda) os altos índices de situações de violência por ela provocados, o uso exacerbado de substâncias químicas, a prostituição infanto-juvenil e outros fatos dessa natureza.

Essa questão, ainda está presente na sociedade brasileira, onde uma parcela significativa de jovens vem sendo “mutilada” pelas desigualdades sociais geradas pela estrutura de nossa sociedade, que os leva a (sobre)viverem em uma realidade de vulnerabilidade, sem moradia digna, sem espaços saudáveis de convivência, sem acesso ao lazer, às informações, aos serviços de saúde, à educação minimamente boa, ao emprego e, principalmente, sem possibilidades de exercer os direitos que lhes são assegurados apenas no papel em forma de legislação protetiva.

Nesse novo momento de nossa sociedade, para superar esses limites de compreensão da juventude, precisamos de fato conhecer quem são os nossos jovens – a nossa juventude – e ter um novo olhar para eles.

Na nossa literatura podemos encontrar diversas definições para a juventude. Para Gomes da Costa (2000)12, conceituar juventude não é uma coisa fácil, mas é de extrema importância para evitar equívocos, uma vez que esta temática é mediatizada por diferentes interesses. Muitos estudiosos conceituam a juventude a partir de diversos fatores e contextos, sejam econômicos, sociais, históricos e/ou culturais. Existem também conceitos construídos pelos próprios jovens os quais direcionam seus comportamentos frente à vida. Para Gomes da Costa, a juventude só se torna objeto de atenção enquanto representa uma ameaça de ruptura com a continuidade social – ameaça para si própria ou para a sociedade.

Alguns organismos definem a juventude de acordo com critérios etários próprios. O Estatuto da Criança e do Adolescente13 estabelece uma faixa etária específica para a adolescência - dos 12 aos 18 anos – e não trata especificamente da juventude. A Organização das Nações Unidas (ONU) define a juventude seguindo este critério: para ela é considerado jovem o indivíduo entre os 15 e 24 anos, porem, deixa aberta a possibilidade de diferentes nações definirem o termo de outra maneira. Uma de suas organizações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define a juventude como tendo duas etapas: uma, dos 15 aos 18

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anos e, outra, dos 19 aos 24 anos. Alguns autores, apontam que a definição da ONU é um tanto complicada, pois envolve um olhar jurídico, que compreende as pessoas na perspectiva de sua menoridade ou maioridade, definindo seus status na sociedade

Dessa discussão emerge como indagação, quem são os jovens sujeitos das políticas públicas no Brasil? No artigo 22º da Declaração Universal dos Direitos Humanos vamos ter que:

“Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade”.

É evidente que neste século muitos avanços vêm ocorrendo em torno da juventude, mas muito há de se fazer em relação à garantia dos direitos sociais dessa população.

Delineia-se, então, outro movimento em relação à juventude: cresce o reconhecimento de que ela deve se sujeito de ações e projetos que lhes possibilite acesso aos direitos garantidos pela atual Constituição Federal. Na construção de políticas públicas destinadas aos jovens, as diferentes dimensões de juventude precisam ser compreendidas a partir de uma análise de suas expressões reais, para que a garantia de seus direitos seja adequada à suas reais necessidades.

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1.2 As concepções de juventude no espaço da legislação e das políticas sociais brasileiras

A Constituição Federal (CF) de 1988 e a Lei nº 8.069/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) representaram uma conquista tanto para as crianças e os adolescentes, quanto para os jovens brasileiros. A partir desses instrumentos legais, que dispõe sobre a proteção integral às crianças e aos adolescentes, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade, os mesmos passaram a ser considerados sujeitos de direitos. A promulgação do ECA foi um marco importante para a questão juvenil, mesmo reconhecendo que seus avanços se aplicaram apenas aos jovens até a faixa etária de 18 anos incompletos.

No ano de 2010, a Constituição Federal teve seu artigo 227 ampliado em sua redação e escopo, pela Emenda Constitucional nº 65 - já em vigor – a qual inclui a juventude brasileira no rol de responsabilidades da família, da sociedade e do Estado, assegurando os direitos dessa população:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

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O Estatuto da Juventude é um documento fundamental pois define quais são os direitos dos jovens entre 15 a 29 anos, que hoje configuram uma população de cerca de 51 milhões de brasileiros. Esse documento está dividido em dois grandes temas: a regulamentação dos direitos dos jovens (sem prejuízo da Lei nº 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente) e a criação do Sistema Nacional de Juventude, que deve se materializar na estruturação de um arranjo institucional no Brasil, para garantir mecanismos concretos e financiamentos que assegurem os direitos da juventude brasileira.

A juventude precisa ser contemplada com especial proteção. E é justamente aí que o Estatuto visa cumprir esta lacuna. O Projeto de Lei do Estatuto da Juventude nº 4529/2004

prevê no artigo 2º que: “os jovens gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo dos relacionados nesta lei, assegurando-se-lhes, por lei ou outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para a preservação de sua saúde fisica e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social, em condições de liberdade e dignidade”.

Nas disposições gerais do Estatuto, são assegurados aos jovens os direitos à cidadania; à participação social e política e à representação juvenil; à educação; à profissionalização; ao trabalho e à renda; à igualdade; à saúde; à cultura; ao desporto e ao lazer; ao transporte público e gratuito; às linhas de crédito; à sustentabilidade e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; à comunicação e à liberdade de expressão; à cidade e à mobilidade; e, à segurança pública.

O Estatuto da Juventude define as competências e obrigações da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público - União, Estados e Municípios - na garantia dos direitos dos jovens. É uma ferramenta para a real inserção da juventude no desenvolvimento do país. É, ainda, a expressão legal dos direitos dos jovens, seu reconhecimento como um segmento social que, além dos direitos de todo cidadão, possui particularidades que lhe conferem direitos específicos.

Estabelece também que os jovens não podem ser discriminados por conta de sua orientação sexual e prevê a inclusão do estudo da sexualidade no currículo escolar, respeitando a diversidade de credos e valores.

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O Projeto de Lei, de nº 4529/2004, que institui o Estatuto da Juventude, foi aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados, em primeira instância, de forma simbólica, no dia 06 de outubro de 2011 e, no dia 15 de fevereiro de 2012, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, aprovou o relatório sobre o Estatuto. Essas aprovações podem ser consideradas uma vitória da juventude brasileira e a estipulação do Estatuto, um marco histórico para a implementação de políticas públicas para a população jovem.

Os desafios agora concentram-se na pressão política para sua aprovação nas Comissões de Assuntos Sociais (CAS), de Educação, Cultura e Esporte (CE) e de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado. Depois, os encaminhamentos se referem à sanção da Presidenta Dilma Rousseff.

O Plano Nacional de Juventude, composto pelo projeto de lei nº 4530/04 cria um conjunto de políticas públicas e medidas que beneficiam os jovens brasileiros com idade entre 15 e 29 anos. Este Plano tem efeito de mobilização social em torno da temática juventude e servirá como mediador para criação e avaliação de Políticas Públicas de Juventude (PPJ), mensurando inclusive a sua eficácia ao longo do tempo. Este plano tem como objetivo principal diagnosticar a situação atual da juventude brasileira e estabelecer metas a serem alcançadas em dez (10) anos.

É ao Congresso que cabe acelerar a votação do Estatuto da Juventude e dar continuidade à tramitação do Plano Nacional de Juventude.

É importante que o Governo por meio da Secretaria Nacional de Juventude - que tem status de Ministério, sendo diretamente ligada à Presidência da República - apresente uma proposta de regulamentação do Sistema Nacional de Juventude, garantido recursos e definindo as atribuições das esferas Municipais, Estaduais e Federal, tendo como princípio a participação da juventude na definição e construção de políticas públicas a ela dirigida.

Alguns dizem que a simples existência das leis não garante direitos, isto é uma verdade, mas não justifica a inexistência destas leis. Principalmente se estas forem resultado do acúmulo de discussões como as que estão sendo vivenciadas e representarem a conquista de direitos de uma parcela nada desprezível da população brasileira.

Para a alegria da juventude, no dia 18 de janeiro de 2012 a Presidenta Dilma Rousseff sancionou o Plano Plurianual (PPA) - de 2012 a 201514 - que traz um programa específico para os jovens.

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O PPA contém o planejamento do governo para os próximos quatro anos, definindo as diretrizes e metas do período. Entre as ações previstas destaca-se o Programa Autonomia e Emancipação da Juventude, que define diversas iniciativas no sentido de garantir o acesso dos jovens às políticas públicas. Segundo a secretária nacional de juventude, Severine Macedo, esta é a primeira vez que o Plano Plurianual contempla um eixo para as políticas juvenis, o que representa uma resposta importante à juventude brasileira, que nesse momento se articula para conquistar e assegurar direitos específicos.

A secretária destacou que, entre as iniciativas previstas no Programa, está a construção das Estações Juventude, que serão implementadas com a parceria de outros entes federados. Essas estações serão locais de acesso e articulação das políticas juvenis nos territórios. A meta, segundo Macedo, é construir 300 estações até 2015. “As estações vão garantir o acesso a serviços, políticas e programas locais. A ideia é que possam funcionar em uma casa, uma sala ou um centro. Vamos incentivar, ainda, a criação de estações móveis, que podem ser uma alternativa para áreas rurais”.

É importante destacar que a proteção integral constitucional e a promulgação de um estatuto de tutela especial aos jovens, não pode significar a restrição de autonomia juvenil. Neste sentido, o Estatuto da Juventude mostra-se centrado em um conceito de juventude muito vinculado à autonomia, ao respeito, à tolerância e à pluralidade.

1.3 A juventude na pauta das políticas públicas

A maior presença da questão juvenil na pauta pública está relacionada, em primeiro lugar, com a visibilidade que os jovens ganharam nos processos de democratização ocorridos na América Latina nos anos 1980. Em 1985 as Nações Unidas proclamaram o Ano Internacional da Juventude, fazendo com que a temática tivesse maior ênfase na sociedade. Também, pode-se considerar que essa abertura da sociedade à população juvenil, teve relação com o destaque da participação da juventude nos movimentos sociais, estudantis e políticos.

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Ainda, de acordo com Abramo, é importante destacar que os protagonistas desse processo foram os movimentos sociais que se articularam, na sua maioria, nos anos 1970, pela retomada da democracia e pela constituição de políticas nas áreas da saúde, de educação, da cultura, do trabalho, da previdência e da assistência social.

Nesse período emerge também a pauta dos direitos das crianças e adolescentes - nesse momento, a juventude não se colocou como questão de política, nem como questão de direitos. Essa invisibilidade se deu porque, por aquela época, a juventude não instituíra ainda sujeitos políticos mobilizados para sua causa: os setores organizados estavam articulados nos anos 1970 e 1980, em torno dos movimentos estudantis, dos partidos políticos e das organizações que lutavam pela garantia de direitos de grupos específicos da sociedade.

Nos últimos anos, o debate sobre a juventude ganhou visibilidade pública. Nessa emergência, reuniu uma série de sujeitos: Ongs, acadêmicos, fundações empresariais organismos internacionais, gestores municipais e organizações de juventude. Não foram apenas novos atores sociais e históricos que surgiram na cena do tumultuado debate político-cultural e institucional das últimas décadas, mas também uma nova prática social e um novo discurso, os quais, até então, nunca tinham sido operados ou falados.

Abramo (2007) destaca que nos primeiros anos do século XXI foram desenvolvidos processos de debate e reivindicação de construção de políticas públicas de juventude, como os desencadeados pela UNESCO e pelo Projeto Juventude, do Instituto Cidadania. Essa mobilização resultou na criação da Secretaria Nacional de Juventude e no Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), em 2005.

A temática da juventude alcançou a agenda política, carregada de resquícios de estereótipos, comuns nas expressões da opinião pública, como a preocupação com a “juventude problema”, com questões relacionadas à transgressão, aos comportamentos de risco, à gravidez prematura, à violência e à criminalidade.

A autora destaca que os organismos da sociedade civil e do poder público, criaram proposições de enfrentamento contra diferentes formas de exclusão e de estigmatização a que estão submetidos os jovens. Possibilitaram também a sua participação nas definições das ações e nas recomendações expressas para as estruturas de poder.

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Em 2003 foi criado um Grupo de Trabalho Interministerial, com o objetivo de fazer um levantamento, nas políticas públicas dos diversos ministérios, de programas existentes para os jovens, para elaboração de diretrizes que estabelecessem como o poder executivo deveria se organizar para lidar e trabalhar com essa questão.

Em especial nos anos de 2004 e 2005, observou-se uma intensificação do debate sobre a juventude, principalmente no que tange à constituição de uma política pública específica. Nesse período foram criadas uma Frente Parlamentar e uma Comissão Parlamentar de Juventude na Câmara Nacional dos Deputados. Esses organismos foram responsáveis pela proposição de um Plano Nacional de Políticas Públicas de Juventude.

Em 2008 tivemos a realização da 1ª Conferência Nacional de Juventude (CNJ), que contou com a participação de 400 mil pessoas e teve como tema “Levante a sua bandeira”. Essa Conferência, apesar de não ser o ponto zero do assunto, foi um marco no debate sobre políticas públicas de juventude no país. A 1ª CNJ expressou a importância da realização de debates sobre o tema e marcou a primeira iniciativa do governo federal no sentido de pensar a política de juventude, lado a lado com os jovens.

Poucos anos após esse momento histórico vivenciado pela juventude brasileira, em 2011 foi realizada a 2ª Conferência Nacional de Juventude, com o tema “Juventude, desenvolvimento e efetivação de direitos”. A 2ª CNJ teve a participação de 1.500 pessoas, em todas as suas etapas, e sinalizou desafios estratégicos para a construção de políticas públicas (Mais adiante, na página 67, daremos continuidade à análise da 2ª CNJ).

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1.4 A diversidade econômico-social do ser jovem

Para muitos que não têm direito à infância, a juventude começa mais cedo. Por outro lado, o aumento da expectativa de vida e as mudanças na demanda do mercado de trabalho, permitem que alguns possam alargar o chamado „tempo da juventude‟, até além dos 29 anos (Novaes 2003, p.121).

Nos anos da adolescência e da juventude a mídia tem grande influência. De certa maneira, indica ao jovem como agir e como pensar, e passa à sociedade uma visão estereotipada de como é “ser jovem”, quais são suas formas de consumo, enfatizando suas tendências à rebeldia, à violência e a um “egocentrismo” que o distancia das questões centrais da sociedade. No capitalismo exacerbado, essa pressão é muito grande: os jovens e a sociedade não conseguem fazer uma crítica destes “modelos” e acabam reproduzindo essa visão no seu espaço social.

Nessa perspectiva, duas características unificariam o modo de ver o jovem e constituiriam o que passou a ser conhecido como „condição juvenil‟. Essas características são a transitoriedade e o conflito. Ou seja, a juventude é um período de transição, marcado pelo conflito entre mundos distintos: o mundo „protegido‟ do meio familiar e o mundo „aberto‟ dos espaços sociais, seja de trabalho, seja de pertencimento. É onde se dá o processo de formação da personalidade do indivíduo e onde são feitas suas principais opções filosóficas, políticas, estéticas, religiosas, profissionais, entre outras. Nesse processo de transição e de conflito, a contestação e os novos movimentos sempre tiveram jovens como protagonistas. A exemplo, temos os hippies15, os punks16, os rappers17 e os clubbers18. Como resultante desse protagonismo, os jovens passaram a ter o estigma de “rebeldes”.

15 De acordo com Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hippie -Os "hippies" (no singular, hippie) eram parte do movimento de contracultura ocorrido nos anos 1960. Esse movimento, nos EUA nos anos 1970 teve relativa queda de popularidade, embora tenha permanecido com muita força em países como o Brasil. Uma das frases associadas a este movimento foi a célebre máxima "Paz e Amor" (em inglês "Peace and Love") que precedeu a expressão "Ban the Bomb", a qual criticava o uso de armas nucleares.

16 Wikipédia define como cultura punk – no contexto da produção cultural - os estilos que possuem certas características como, por exemplo, o princípio de autonomia, do faça-você-mesmo, o interesse pela aparência agressiva, a simplicidade, o sarcasmo niilista e a subversão da cultura. Entre os elementos culturais punk estão: o estilo musical, a moda, o design, as artes plásticas, o cinema, a poesia, e também o comportamento (podendo incluir ou não princípios éticos e políticos definidos), expressões linguísticas, símbolos e outros códigos de comunicação. Surge dentro do contexto da contracultura, como reação à não-violência dos hippies e a um certo otimismo daqueles.

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Para compreender os processos que incidem na transição da condição juvenil para a condição adulta, é necessário ver que ela ocorre não só em função de sua vida como estudante – válida apenas para pouco mais da metade dos jovens – mas, simultaneamente, pela sua vida no mundo do trabalho - com o qual a grande maioria já tem ou busca contato. Em muitos casos, nessa perspectiva, uma das maiores dificuldades dos jovens tem sido a sua necessidade de compatibilizar estas condições - de estudante e de trabalhador.

Para Albuquerque (2003) o perfil do estudante trabalhador é marcado por preceitos de moralidade que norteiam toda a família. Ao contrário do trabalho infantil, este trabalho juvenil traz um valor moral e serve como indicador da dignidade do ser humano. O fato de assumir responsabilidades, mesmo sem estar preparado para tal e, ainda, entrar nesse mundo do trabalho caracterizado pela instabilidade, precariedade e incertezas, é encarado pelo estudante trabalhador como parte fundamental de suas obrigações familiares.

Quanto menor a renda familiar, mais rápida é a inserção do jovem no trabalho. Até recentemente, a idade mínima para obter a carteira de trabalho era de 14 anos, hoje, essa exigência teve a elevação para 16 anos. Não podemos negar que alguns jovens trazem experiências anteriores no mercado informal, sozinhos ou juntamente com suas famílias. Percebemos, contudo, que a questão principal é a inserção social que esse trabalho proporciona. As vantagens dessa inserção são ainda maiores quando os jovens têm essa experiência no mercado formal.

Albuquerque destaca ainda que os jovens não vivenciam esta experiência sem traumas. Moradores de bairros periféricos, eles têm na locomoção diária um fator desgastante, o qual lhes dificulta também a conciliação do seu trabalho com os estudos que estejam fazendo. Como resultado, muitos vivenciam situações de falta de estímulo para apreensão do conhecimento e, algumas vezes, dormem em sala de aula. Nos finais de semana, o lazer também fica prejudicado devido ao cansaço físico e à longa distância até os pontos de diversão.

Esta mesma pesquisadora acrescenta que, nos últimos vinte anos, cresceu o número de jovens que desejam trabalhar. Ainda que o contexto do mercado de trabalho brasileiro venha penalizando todos os trabalhadores, os estudos mostram que os segmentos de jovens,

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mulheres, negros e idosos são os que mais sofrem com as transformações no mundo do trabalho. A remuneração das mulheres e dos jovens é quase sempre inferior à dos homens adultos e o mesmo acontece em relação aos direitos e condições de trabalho.

Normalmente, a inserção destes segmentos ocorre no universo de trabalho desregulamentado. Aos jovens restam alternativas ocupacionais que não exigem muita qualificação - como a de vendedores ambulantes, trabalhadores da construção civil, dos serviços de limpeza, de garçons.

Citando o economista Pochmann, Albuquerque (2003, p.09) comenta: “as ocupações que mais absorveram os jovens na década de 1990 foram os postos de trabalho por conta própria (autônomos), sem vínculos empregatícios, com alta rotatividade e elevada precariedade”.

Essa realidade da juventude brasileira é um indicativo de quanto é importante que as políticas públicas estejam sintonizadas com a realidade, com a dimensão da diversidade: regional, de gênero, etária, de orientação sexual e a tudo que constitui as questões da diferença e da diversidade.

No entanto, não basta apenas perceber a diversidade, é preciso ter políticas concretas que privilegiem cada um dos diversos segmentos juvenis para garantir-lhes o acesso aos direitos de que são credores.

Há também um aspecto que faz com que a juventude mereça uma atenção particular por parte dos governantes e da sociedade em geral, como sujeito de políticas públicas: suas demandas, ainda que incidam nas mesmas questões, são diferenciadas em relação a outras faixas etárias. A questão do emprego, da formação profissional, de aspectos específicos da saúde, do lazer, por exemplo, tendem a ter demandas bastante particulares nos jovens. Também, mesmo quando existem coincidências na demanda há especificidade na ação - como no caso da prevenção ao uso indevido de drogas. Existem, ainda, desafios que precisam ser enfrentados pela juventude, como: inserção no mercado de trabalho, gravidez na adolescência/juventude, capacidade de superação de situações impregnadas de violência a que estão expostos, entre outros.Acresce-se a essas particularidades, as diferenças quanto à forma de atuar junto ao jovem - esta tende também a ser bastante específica.

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atendimento - à saúde, à moradia, ao emprego, entre outros - convergem de forma crítica. Atuar em uma esquecendo-se das restantes dificilmente é eficaz.

Com base nessa percepção de nossas juventudes, podemos dizer que elas nos apontam um otimismo: a certeza do começar e do recomeçar a construção de um país melhor. Esse momento é resultado de uma nova condição do crescimento econômico do país, da eficácia de programas de inclusão social, de participação e principalmente de mudança de mentalidade em relação ao olhar direcionado aos jovens, de reconhecimento de que eles são sujeitos de direitos, portadores de novas identidades coletivas. Novos paradigmas de participação estão sendo colocados e novos cenários estão sendo trabalhados nesse sentido e vivenciados pela população juvenil.

É importante dizer que esse momento pode possibilitar ao jovem a retomada de sua possibilidade e capacidade de sonhar, de viver plenamente sua juventude e de ocupar um espaço para expressar sua filosofia, seus desejos.

1.5 A Perspectiva de juventude no mundo contemporâneo

A dinâmica das interações sociais vem sendo redesenhada por novas formas de sociabilidade, de papéis sociais que levam à constituição de identidades e à formação de cultura.

Nos últimos anos, a atenção dirigida aos jovens teve crescimento, especialmente nos meios de comunicação - televisão, rádios, jornais, revistas, internet - além de uma avalanche de produtos dirigidos a esse público. Um diferencial muito recente vem modificando o perfil da juventude brasileira: hoje, sua aspiração é ter em casa um computador com acesso à internet, comunicando-se com outros jovens por meio eletrônico ou vasculhando mundos virtuais.

Pesquisas recentes19 mostram um crescimento no número de acessos a internet, esse crescimento se dá, sobretudo, por meio de espaços públicos pagos, principalmente as lan

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houses20. As lan houses, no Brasil, passaram a desempenhar um papel importante - um grande número de jovens, procuram essas lan houses para navegar nas redes sociais como: Facebook, Orkut, Twitter, MSN, além de baixar mensagens em correio eletrônico, entrar em salas de bate-papo, fazer pesquisas, entre outros.

As ferramentas tecnológicas deram asas à juventude - os computadores com software de última geração, os telefones móveis com acesso às redes sociais - tornaram-se tecnologias desejáveis para os jovens, por “ativarem” os desejos que estes sempre almejaram – como as ideias de liberdade, independência e velocidade.

Como lembra Souza, Ribeiro e Freitas (2011): “a juventude contemporânea tem universo de informações na distância de um click. É, não é apenas consumidor, mas principalmente produtor de conteúdos”.

De acordo com Souza et al (2011):

“Uma das características mais marcantes das juventudes contemporâneas é que elas não são totalizadoras. Mais do que nunca, o jovem é um ser em metamorfose. Com a internet, o acesso a múltiplos conteúdos transformou a pluralidade na maior palavra de ordem das culturas juvenis contemporâneas. Por tal razão, faz cada vez mais sentido falar em juventudes, e não juventude. Compreende-se cada vez mais como se processa esse fenômeno de identificação das escritas juvenis. Os jovens falam cada dia mais por eles mesmos”.

A tecnologia se tornou a ferramenta de afirmação dos jovens no Brasil e no mundo, e um meio de se lançarem no universo social, ainda que virtual.

A internet e os meios digitais são novas ferramentas que permitem que a juventude se manifeste e viva esta fase da vida de acordo com suas necessidades e características próprias de uma forma diferente.

O acesso à internet tem sido importante meio para os jovens contemporâneos. Seu uso tem proporcionado espaços de diálogo com seus pares, a construção de novas amizades, o desenvolvimento de sua sociabilidade, além de se tornar um meio para a livre expressão dos que criam e produzem a cultura virtual.

Para Oliveira (2011) a juventude contemporânea pode reproduzir, mas também pode criar: o que o jovem produz pode ser considerado como brecha para percebê-lo em sua

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identidade. Ora os jovens podem ser críticos e participar ativamente, ora podem somente ser consumidores da tecnologia, relacionando o consumismo ao prazer (Oliveira, p.38).

A autora destaca que pode-se apontar os diferentes usos que os jovens têm feito da tecnologia. Para alguns, ela se tornou o principal meio de participação política, para outros, possibilitou potencializar ou complementar outras formas de participação. Nesse sentido, seu uso vai alem das possibilidades de participação política, inclui a apropriação da tecnologia enquanto meio para expressar insatisfações individuais e coletivas.

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Gráfico 1 - Qual a área mais importante para as políticas públicas para a juventude

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