• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO"

Copied!
134
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

OS REFLEXOS DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

CONDUZIDA NO INQUÉRITO POLICIAL PARA

PERSECUÇÃO PENAL NO BRASIL

CLÁUDIO SERGEI LUZ E SILVA

(2)

CLÁUDIO SERGEI LUZ E SILVA

OS REFLEXOS DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

CONDUZIDA NO INQUÉRITO POLICIAL PARA

PERSECUÇÃO PENAL NO BRASIL

Monografia apresentada ao Curso de

graduação em Direito da Universidade

Federal do Ceará, como exigência para

obtenção do grau de bacharel em Direito.

Orientador: Professor Samuel Miranda Arruda

(3)

OS REFLEXOS DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

CONDUZIDA NO INQUÉRITO POLICIAL PARA

PERSECUÇÃO PENAL NO BRASIL

CLÁUDIO SERGEI LUZ E SILVA

Monografia de graduação em Direito apresentada à banca examinadora,

atendendo as exigências da disciplina de Monografia Jurídica do Curso de

graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará.

Banca Examinadora:

___________________________________

Orientador Samuel Miranda Arruda

___________________________________

Professor Marcos de Holanda

___________________________________

Elder Ximenes Filho

(4)

DEDICATÓRIA

A minha aguerrida mãe, Sônia Luz, pelo

exemplo de vida.

(5)

AGRADECIMENTOS

Neste momento de reflexão sobre aprendizados e os instrumentos legais

da polícia investigativa não poderia esquecer três ímpares policiais federais,

íntegros, atuantes, investigadores criminais da maior estirpe, dos quais obtive os

melhores conselhos e ensinamentos do que é e de como se faz a atividade

policial. Aos Agentes de Polícia Federal Manoel Lima

Monte,

Antônio

César

de Freitas Ferreira e Paulo César

Matias

da Silva o meu reconhecimento e

sincero agradecimento.

Ao competente e também inarredável amigo Antônio

Tarcisio

Alves de

Abreu Júnior, Delegado de Polícia Federal com enorme capacidade de trabalho.

Ao meu orientador Professor Samuel Miranda Arruda, pela insubstituível

contribuição a este trabalho.

Ao meu inestimável amigo Elder Ximenes Filho, pelo exemplo e

contribuição a este trabalho.

A todos aqueles que contribuíram de forma direta ou indireta ao longo

deste caminho para obtenção da graduação em Direito.

(6)

R E S U M O

O presente trabalho tem caráter investigativo, inquisitivo, com forte presença do método científico na busca da verdade real, através do exame de dados estatísticos coletados depois da atuação da instrução pré-processual e processual. Questiona-se a origem da impunidade e da morosidade pré-processual e processual, ou as possíveis origens. Aduz-se qual a contribuição da condução do inquérito para o sucesso ou fracasso da persecução penal. Estabelece o método da pesquisa estatística, cientificamente embasada, como fonte dos dados a serem analisados. Persegue se o inquérito policial serve como instrumento de combate a morosidade e a impunidade. Persegue os reflexos que o modelo centralizado e burocrático de conduzir o inquérito policial causa na investigação criminal.

(7)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

CAPÍTULO I - PESQUISA ESTATÍSTICA - A PERSECUÇÃO PENAL. ... 14

1.1 A pesquisa estatística – metodologia, planejamento e execução... 16

1.2 O Banco de Dados ... 20

1.3 Quanto à motivação da instauração do inquérito policial (forma) ... 21

1.4 Quanto à última movimentação do inquérito policial em sede policial. ... 22

1.5 Quanto à decisão de recebimento do inquérito policial. ... 31

1.6 Quanto à sentença judicial. ... 34

1.7 Relação entre Classificação do Crime x Decisão de Recebimento do Inquérito (dados do ano de 1999). ... 40

1.8 Relação entre Classificação do Crime x Decisão – Sentença Judicial (dados do ano de 1999). ... 43

1.9 Tabelas e gráficos relativos à tabulação dos dados coletados do ano de 1999 ... 47

1.10 Tabelas e gráficos relativos à tabulação dos dados coletados do ano de 2003 ... 52

CAPÍTULO II – O INQUÉRITO POLICIAL E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ... 59

2.1Polícia investigativa e polícia judiciária ... 62

2.2A finalidade do inquérito policial ... 63

2.3A investigação criminal e a condução do inquérito policial ... 66

2.4A regulamentação do inquérito policial e da investigação criminal ... 75

2.5Burocracia, centralismo, atos indelegáveis e privativos dos delegados de polícia federal, cartorização excessiva ... 81

2.6Tempo razoável de duração do inquérito policial – a prescrição da pretensão punitiva e a efetividade da jurisdição penal ... 83

(8)

CAPÍTULO III - A INSTITUIÇÃO POLICIAL E SEUS PROBLEMAS ... 93

3.1Seleção ... 95

3.2Promoção ... 97

3.3Ausência de uma polícia técnica e científica ... 101

3.4A ausência de uma carreira na polícia federal ... 103

3.5Centralismo político e de gestão - Centralismo da investigação criminal ... 104

3.6Inamovibilidade e independência funcional ... 107

3.7Falta de investimentos e de soluções baseadas na gestão pública moderna ... 110

3.8 A corrupção policial ... 112

3.9 A falência da política prisional ... 115

CAPÍTULO IV - ASPECTOS DOS SISTEMAS DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ... 118

4.1 Investigação criminal conduzida pelo Ministério Público ... 120

4.2 O Sistema acusatório ... 126

4.3 O Juizado de Instrução. ... 127

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 131

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 132

(9)

INTRODUÇÃO

“... eu era pobre e invisível... vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução é que nunca vinha... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social...”

Trecho da entrevista fictícia de “Marcola” a Arnaldo Jabor, reproduzida anonimamente na internet.

No Brasil os temas criminalidade e violência estão atualmente entre os que mais preocupam nossa sociedade. Os recentes ataques de organizações crimonosas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, capitais dos dois principais Estados da Federação, deixaram centenas de mortos, entre os quais muitos civis inocentes. Tais ações se caracterizaram como ataques à cidadania e ao Estado Democrático de Direito. Na maioria das vezes ainda não existe a coordenação e a hierarquia das clássicas máfias italiana e norte-americana. Porém, os grupos que há décadas se organizam e vivem do crime e para o crime formaram códigos de honra e construiram núcleos dirigentes que chefiam diversos agrupamentos atuantes em toda sorte de crime como narcotráfico, assalto, sequestro e homicídio.

Inúmeros fatores concorrem de forma complexa para a generalização e agravamento da insegurança pública no Brasil. Correntemente vemos a discussão de aspectos bem conhecidos: má distribuição de renda (sendo o Brasil um dos campeões mundiais), falência do sistema penitenciário brasileiro (sendo do conhecimento de todos que grande parte da administração do crime organizado acontece de dentro dos presídios), impunidade endêmica, inépcia das leis penais, falta de controle e morosidade do judiciário, corrupção e crimes de colarinho branco, as questões sociais do desemprego, da má educação e da pobreza, entre outros. As reflexões sobre causas e soluções têm que ser necessariamente multidisciplinares.

(10)

incompleto. Existem correlações entre todos os temas a serem enfrentados: a má investigação policial e a corrupção levam à impunidade; à morosidade da máquina judiciária, que não dá resposta eficaz a partir dos insumos da polícia investigativa; a miséria fornece mão-de-obra para o crime e povoa as cadeias; a falta de educação formal obscurece o futuro das crianças, favorecendo a banalização da violência; a impunidade dos crimes de colarinho branco gera desconfiança perante as instituições estatais, inclusive a polícia investigativa e assim por diante.

O enfrentamento da violência e da criminalidade necessariamente passa pelos aspectos preventivo e repressivo. Efetivamente não se consegue estabelecer formas de tratamento pelo fato de que os instrumentos legalmente instituídos se encontram com enormes problemas estruturais. Esses instrumentos da sociedade imbuídos de executar as tarefas de segurança pública são, principalmente, a Polícia Federal no âmbito da União e as Policias Civil e Militar nos Estados membros.

Em agosto de 2006 foi divulgada uma pesquisa de opinião IBOPE/ESTADO em todo Estado de São Paulo onde do total de vítimas da violência, um em cada três não prestou notícia-crime à polícia. O índice dos que preferem não procurar a ajuda da polícia chega a 31%, contra 61% dos que registraram a ocorrência. Não sabem ou não opinaram 8%. A descrença nos órgãos policiais é maior entre os mais jovens, com idade entre 16 e 24 anos: somam 41%. "Já levaram meu relógio na rua duas vezes. Não dei queixa. Para quê?", questionou o estudante Fernando Barbosa, de 18 anos1. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que no primeiro semestre de 2006 foram instaurados 151.169 inquéritos policiais sobre ocorrências prestadas pela população em todo o Estado. Mas o número de registros de boletins de ocorrência foi quase dez vezes maior: foram registrados 1.202.869 boletins de ocorrência.

Em novembro de 2006, durante o XIX Congresso Brasileiro de Magistrados, a Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB divulgou uma pesquisa de opinião nacional entre juízes que aponta como causas da impunidade excesso de recursos (86,1%), a demora no encerramento do processo (83,9%), deficiência do inquérito policial (74,1%), a existência de quatro instâncias de julgamento (68,1%) e as dificuldades de utilização de meios de prova (63,8 %).

Alguns estudos e matérias recentemente publicadas demonstram que nossa preocupação com a estrutura das policiais judiciárias, a condução do inquérito policial e a

(11)

investigação criminal são pontos importantes no debate nacional sobre segurança pública e o combate à criminalidade e a violência.

A maior parte dos doutrinadores entende que temos leis demais, que elas têm é que ser cumpridas e que é preciso investigar mais e melhor para identificar e punir os culpados, aplicando as leis já existentes, combatendo a impunidade.

Existem dados que demonstram ser baixíssima a taxa de resolução de crimes no Brasil: inferior a 10%. Já nos países desenvolvidos é de 80% a 90%. A proporção de processos penais que chegam numa sentença condenatória em relação ao total de ocorrências criminais é pequena, a maioria dos inquéritos não chega sequer a ser julgada. A maioria dos inquéritos policiais instaurados por portaria é despachada para o silêncio dos arquivos (arquivados) por não identificação da autoria do crime, pela prescrição da pretensão punitiva, pela ausência de provas para condenação, entre outras inúmeras causas. Isto o que significa um enorme desperdiço de tempo e recursos por parte do sistema.

Se temos um sistema ineficiente por que as autoridades responsáveis pela gestão dos órgãos de polícia não se manifestam?

Se no Brasil a impunidade é a regra, qual a contribuição da condução do inquérito policial e da investigação criminal? Por que encontramos falida a polícia investigativa técnico-científica? Será que a investigação criminal conduzida no inquérito policial instaurado por portaria e presidido pelo Delegado de Polícia Federal cumpre suas finalidades na persecução penal? Qual é o papel do delegado de polícia: chefiar\coordenar a investigação criminal que utiliza técnicas científicas ou presidir de forma fragmentada e burocrática o inquérito policial?

Percebemos que, mesmo analisando somente a ação e estrutura dos órgãos de polícia judiciária, existem inúmeros e complexos problemas como falta de investimentos dos governos, baixos salários e péssimas condições de trabalho, corrupção policial, violência como método de investigação, dualidade estrutural e competição predatória entre as polícias civis e militares dos Estados, militarização inadequada para o trabalho de investigação criminal numa sociedade democrática, ineficiência da investigação criminal, falência da perícia técnica, falta de carreira policial nas policias judiciárias levando a ocupação dos cargos de chefia e direção por policiais inexperientes na investigação criminal (delegados de polícia recém concursados), entre outros.

(12)

responder os problemas imediatos mais sensíveis à opinião pública de forma assistemática e casuística, sem planejamento e sem avaliação da eficácia.

Foi assim durante todos os oito (8) anos do governo de Fernando Henrique Cardoso que elaborou e executou o Plano Nacional de Segurança Pública2 que abrangia 124 medidas desarticuladas na área de segurança pública, sem critérios e cronograma para sua implantação, contendo objetivos genéricos sem estipular os caminhos para a implementação. Ou seja, um Plano de Segurança Pública inviável do ponto de vista de encontrar soluções para os graves problemas, lançado apenas como resposta de mídia para a sociedade em virtude do enorme aumento da violência e do crime.

Para apontar soluções factíveis para os complexos problemas existentes na área de segurança pública é fundamental estudar de forma científica e sistemática tudo o que envolve os temas, do contrário teremos soluções que não resolvem e podem até agravar os problemas. A gestão pública no Brasil não tem a saudável prática histórica de avaliar seus programas e sua legislação e os órgãos públicos são carentes de dados estatísticos sobre a execução de suas atribuições. Na ausência de avaliação sistemática dos programas governamentais as autoridades públicas costumam buscar soluções “mágicas”, teses puramente teóricas para os mesmos problemas. Vejo isso quando propõem constantes mudanças na legislação e na estrutura dos órgãos, como se isso bastasse para vencer os desafios postos pela realidade social. É emblemático que até as siglas de delegacias e nomes dos setores mudem continuamente no Departamento de Polícia Federal. Ao mesmo tempo não existe qualquer trabalho sistemático que averigúe se as investigações conduzidas nos inquéritos policiais instaurados por portaria cumprem sua finalidade.

O que propomos no presente é aprofundar a discussão e o estudo sobre alguns aspectos internos das polícias investigativas e judiciárias no Brasil (focando no Departamento de Polícia Federal) como a estrutura de cargos, a condução do inquérito policial instaurado por portaria e seus reflexos na ação penal como eixos de nossa problematização.

Pretendemos aprofundar os atuais debates sobre a necessidade ou não do inquérito policial ou dos juizados de instrução criminal que são, atualmente, amplamente defendidos por diversos setores como o Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal (CJF), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Mário Velloso e o presidente do Senado Federal, Senador Renan Calheiros.

2 O Plano Nacional de Segurança Pública foi lançado no dia 20 de junho de 2000 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso

(13)

A pesquisa estatística proposta trará elementos para debater a condução do inquérito policial e seus reflexos no desiderato da persecução penal. Este estudo procurará analisar a investigação criminal formalizada no inquérito policial e sua condução através de pesquisa doutrinária e pesquisa estatística nos inquéritos policiais. A perspectiva é trazer elementos que ajudem a dimensionar que grau de comprometimento possui a condução do inquérito policial na morosidade da persecução penal e na impunidade no Brasil. O que me levou a formular o presente estudo sobre o inquérito policial está embasado no desejo de conhecer e compreender as causas da morosidade do instrumento da polícia investigativa responsável pela formalização das investigações criminais e propor modificações que tornem a persecução penal mais eficiente.

Este trabalho pretende através da pesquisa acadêmica e da avaliação de dados estatísticos colaborar com o diagnóstico dos problemas da persecução penal e propor as alterações necessárias.

(14)

CAPÍTULO I

(15)

CAPÍTULO I

PESQUISA ESTATÍSTICA - A PERSECUÇÃO PENAL

“Perguntei ao futuro o que ele reserva para mim, e ele me respondeu: dá uma volta pelo passado e vê o que plantaste”

Cristina González Villamarín

A pesquisa estatística proposta sobre a persecução penal se dá no âmbito dos inquéritos policiais instaurados por portaria na Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado do Ceará (SR/DPF/CE) e com competência firmada a Justiça Federal – Seção Judiciária no Ceará. Com isso estão fora da pesquisa os inquéritos instaurados por prisão em flagrante ou portaria para apurar crimes de competência da Justiça Estadual (como o tráfico de drogas doméstico) ou da Justiça Eleitoral.

Faço esse lembrete em virtude da atuação digna de elogio da Delegacia de Repressão a Entorpecente (DRE) da SR/DPF/CE que realiza um profícuo trabalho de investigação criminal na repressão ao tráfico de drogas no Estado do Ceará. O resultado desse intenso trabalho investigativo é a instauração por auto de prisão em flagrante de dezenas de inquéritos policiais e condenações de traficantes pela Justiça Estadual3. Decidimos, assim, não trabalhar com os dados dali oriundos, cuja análise não poderia ser extrapolada para a realidade circundante, dada sua excepcionalidade.

Aproveito, preambularmente, para discorrer sobre o trabalho desenvolvido pelas equipes da citada Delegacia por considerar sua execução paradigmática tanto em relação à investigação criminal como à estrutura de uma carreira policial. Os Núcleos de Inteligência Policial (NOIP) e Operacional (NO) da DRE são chefiados por experientes Agentes de Polícia Federal e suas equipes desenvolvem muito bem o trabalho de investigação criminal que não está, quase nunca, relacionado com um inquérito instaurado por portaria e presidido de forma fragmentada e burocrática por um Delegado de Polícia Federal. Na DRE as investigações criminais, que são identificadas por casos policiais ou operações policiais, são conduzidas por equipes formadas por Agentes de Polícia Federal que trabalham em todos os momentos da investigação criminal: levantamento de rua, serviço de inteligência policial, análise criminal,

(16)

vigilância sistemática aos suspeitos, contato com informantes ou colaboradores, coleta de dados e informações, entre outros meios operacionais e técnicas de investigação criminal.

Na prática as investigações criminais são conduzidas por experientes Agentes de Polícia Federal que aplicam de forma coordenada a cooperação e a divisão de tarefas de acordo com as habilidades e especializações dos membros da equipe. O Delegado acompanha, às vezes de forma próxima ou não, os casos e operações desenvolvidas. A instauração do inquérito policial presidido pelo Delegado de Polícia Federal formaliza as diligências realizadas nas investigações e prisões em flagrante efetuadas. Por fim, os policiais, geralmente Agentes de Polícia Federal, que participaram das diligências e prisões são convocados pelo Ministério Público para atuar na fase processual como testemunhas da acusação garantindo, assim, a condenação dos traficantes investigados. Neste modelo temos, pelo menos de fato, uma investigação criminal una (não fragmentada), conduzida em trabalho multidisciplinar e coordenada em equipe com atribuições delegadas de acordo com as habilidades de seus membros. Ou seja, para a condução/chefia/coordenação da persecução criminal em sua fase pré-processual não são necessários “doutores” em direito para presidir os inquéritos. A experiência da DRE demonstra serem imprescindíveis os policiais federais experimentados na

práxis policial, obrigatoriamente conhecedores da legislação, doutrina e jurisprudência pátrias – mas principalmente das técnicas de investigação criminal. Estas, sim, fundamentais para desvendar as tramas criminosas. Igualmente, demonstra-se que o modelo do trabalho investigativo deve ser em equipe, onde seus membros conheçam todo o caso policial e tenham delegação para atuar na produção dos elementos de prova de acordo com suas especializações.

1.1 A pesquisa estatística – metodologia, planejamento e execução

Estabelecido o âmbito material dos estudos, definimos que a pesquisa atingiria os inquéritos instaurados nos anos de 1999 e 2003, por já terem sido instaurados há 8 anos e 4 anos, respectivamente. Estes já tramitaram idealmente por um tempo adequado à sua conclusão, com vistas a evitar a impunidade pela prescrição da pretensão punitiva do Estado, com a conseqüente extinção da punibilidade.

(17)

A metodologia, o cálculo da amostra e a coleta dos inquéritos de forma aleatória foram elaborados com a colaboração da empresa GAUSS, que é uma Empresa Júnior de Estatística do Curso de Estatística da Universidade Federal do Ceará.

A definição científica da amostragem foi calculada em 278 inquéritos policiais do universo de 1008 instaurados no ano de 1999 e 276 inquéritos do universo de 983 instaurados no ano de 2003. Para garantir a quantidade das amostras em cada ano foram coletados e inseridos no banco de dados 280 inquéritos do ano de 1999 e 283 inquéritos do ano de 2003. Vamos, portanto, trabalhar com a amostra coletada e inserida no banco de dados (280 para 1999 e 283 para 2003) o que não acarreta prejuízo ou vício do ponto de vista estatístico em virtude de serem quantidades ligeiramente superiores.

Para o cálculo das amostras das populações de 1008 inquéritos instaurados no ano de 1999 e 983 inquéritos instaurados no ano de 2003, retiradas de forma aleatória simples e sem reposição em ambas as populações, foi utilizada a fórmula para cálculo amostral elaborada por Willian G. Cochran.

n =

1

1

N

+

d

max2

α/2

Z

2

N P Q

x x

N-1

x

n: Tamanho da amostra calculado;

dmax : É o erro máximo de amostragem e foi fixado em 5% neste caso;

Zα/2 : O valor retirado da tabela da distribuição normal padronizada com um nível de significância de 5%; N: Tamanho populacional, no caso 1008 e 983 dos respectivos anos já citados;

P: Valor da proporção amostral que quando é desconhecido fixa-se o valor de 0,5; Q: Representa (1-P) é o valor complementar da proporção amostral.

Podemos afirmar com 95% de confiança que as amostras calculadas são significativas em relação as suas respectivas populações.

(18)

dos inquéritos policiais, ou seja, uma seqüência aleatória entre 1 e 1008 (de acordo com o total de inquéritos instaurados no ano de 1999) e cada número gerado representa o número do inquérito coletado. Nos casos que o inquérito policial corre em segredo de justiça coletamos o número imediatamente superior ou inferior, também de forma aleatória. O mesmo procedimento foi adotado para os inquéritos distribuídos por competência para a Justiça Estadual, Eleitoral ou Federal que não seja a Seção Judiciária no Ceará. Verificamos que a coleta aleatória evita vícios no resultado final da pesquisa.

A coleta dos dados referentes aos inquéritos policiais foi realizada através do Sistema de Procedimentos (SPR) do Departamento de Polícia Federal. Foram coletados os dados:

1. Número do inquérito policial (IPL); 2. Data de instauração;

3. Forma de instauração (flagrante ou portaria); 4. Número do processo penal na Justiça Federal;

5. Última movimentação do IPL (pedido de prazo ou relatado); 6. Data da última movimenta do IPL;

7. Incidência penal tipificada pelo Delegado de Polícia Federal; 8. Decisão judicial;

9. Data da decisão judicial; 10. Resumo do crime.

Com a coleta dos dados dos inquéritos policiais, cujos números foram gerados aleatoriamente pelo Programa R, pesquisamos os dados relacionados aos registros na Justiça Federal derivados do inquérito policial instaurado por portaria. O sistema de controle de processos da Justiça Federal atribui um número a cada inquérito instaurado e classifica o procedimento de acordo com uma classe: inquérito, ação penal, comunicação de prisão em flagrante, habeas corpus, etc. No caso do inquérito policial o sistema da Justiça Federal atribui um número de procedimento com a classe Inquérito.

(19)

Foram pesquisados tantos os números de procedimentos das classes Inquérito e Ação Penal para coletar os dados do processo crime relacionado ao inquérito policial eleito pela amostragem.

Na Justiça Federal foram coletados os dados:

1. Data do recebimento do IPL na Justiça Federal (após relatório final);

2. Decisão judicial após recebimento do IPL (arquivamento, declinada competência, recebimento da denúncia, rejeição da denúncia, suspensão condicional do processo, transação penal, tramitando (sem decisão));

3. Sentença judicial;

4. Data da sentença judicial;

5. Fundamentação sentença judicial; 6. Regime inicial da pena.

(20)

1.2 O Banco de dados

Para armazenar os dados coletados foi confeccionado um banco de dados na ferramenta Access, onde produzimos duas tabelas separadas, uma para cada ano.

Segue a interface do formulário das Tabelas onde foram digitados os dados coletados:

Todos os dados coletados na Polícia Federal e na Justiça Federal, já discriminados anteriormente, foram inseridos em campos criados nas Tabelas de Dados de Inquéritos instaurados nos anos de 1999 e 2003.

(21)

da integridade dos dados coletados e tabulados disponibilizado pelo presente trabalho estatístico.

A tabulação dos dados coletados foi realizada a partir da exportação dos dados coletados nas tabelas do Access para planilhas do programa Excel.

As listagens dos dados coletados, as tabelas e gráficos produzidos a partir da tabulação dos dados, os arquivos digitais do banco de dados Access e Excel com tabelas e gráficos estatísticos se encontram em anexos (impressos e no CD).

ANÁLISE DOS DADOS ESTATÍSTICOS

1.3 Quanto à motivação da instauração do inquérito policial (forma)

Tal analise é relativa ao que motivou a instauração do inquérito policial: se originou de um auto de prisão em flagrante ou de uma portaria do delegado de polícia federal.

Em 1999 tivemos:

FORMA IPL QTDE4 % Nº IPL’s (proporcional)5

FLAGRANTE 37 13% 131 IPL’s

PORTARIA 243 87% 877 IPL’s

Total 280 100% 1008 IPL’s

Em 2003 tivemos:

FORMA IPL QTDE6 % Nº IPL’s (proporcional)7

FLAGRANTE 24 8% 79 IPL’s

PORTARIA 259 92% 904 IPL’s

Total 283 100% 983 IPL’s

(22)

A primeira possibilidade de análise é em relação ao número de prisões em flagrante. Usando a proporcionalidade temos que no ano de 1999 a Polícia Federal do Ceará autuou em flagrante delito 131 inquéritos policiais (representando 13% do total) e durante o ano de 2003 autuou em flagrante 79 inquéritos (representando 8% do total). Seria interessante analisar este viés apresentado pela pesquisa estatística já que é sensível aos policiais que atuam diretamente na investigação criminal, principalmente dos mais antigos, um distanciamento dos policiais federais das ruas, do modus faciendi, modus vivendi e modus operandi8 do criminoso, da relação direta com informantes, do contato e infiltração em atividades criminosas. Gradualmente tais técnicas de investigação criminal, amplamente utilizadas no passado, estão sendo substituídas por outras técnicas de inteligência policial como a interceptação telefônica. Talvez este aspecto responda em parte a diminuição das prisões em flagrante de 1999 para 2003, já que o contato direto com a rua e com a atividade criminosa diminuiu.

Será preciso um estudo mais profundo para definir ou não tal tendência na Polícia Federal. Colocamos apenas que a boa doutrina sobre o emprego das técnicas de investigação afirma que nenhuma técnica de investigação criminal deve ser abandonada ou subestimada, que as técnicas se complementam na comprovação e produção de provas sobre um crime. Na medida em que um informante cooptado pela polícia e com bom acesso à organização criminosa pode valer, e na maioria das vezes vale, muito mais para apuração dos crimes e para efetuar prisões em flagrante do que dezenas de interceptações telefônicas. Aqui registramos uma grande divergência vivenciada hoje no Departamento de Polícia Federal, onde um grande contingente de policiais tem restrições ao contato com informantes ou com atividades criminosas.

Além da análise comparativa entre os números de prisões em flagrante percebemos uma tendência de crescimento do número de inquéritos instaurados por portaria de 877 no ano de 1999 para 904 no ano de 2003, apesar do total de inquéritos instaurados sem menor no ano de 2003.

1.4 Quanto à última movimentação do inquérito em sede policial

Verificamos se o Delegado de Polícia Federal já encaminhou o relatório final do inquérito à Justiça Federal ou se solicitou a prorrogação do prazo. Aqui tratamos somente dos

(23)

inquéritos policiais instaurados por portaria já que o inquérito iniciado com auto de prisão em flagrante – quando existe a prisão em flagrante delito – tem prazo de conclusão de 10 dias (CPP, artigo 10, caput)9 ou 15 dias quando a competência para julgar é da Justiça Federal.

Já no inquérito instaurado por portaria a autoridade policial tem prazo de 30 dias com a possibilidade de prorrogação do prazo no caso de crime de difícil elucidação (CPP, artigo 10, § 3º)10.

Dos inquéritos policiais instaurados por portaria11 durante o ano de 1999:

ULT. MOVIMENTAÇÃO QTDE12 % IPL PORTARIA

Nº IPL’s (proporcional) 13

PEDIDO DE PRAZO 8 3% 26 IPL’s

RELATADO 235 97% 851 IPL’s

Total geral 243 100% 877 IPL’s

Dos inquéritos policiais instaurados por portaria14 durante o ano de 2003:

ULT. MOVIMENTAÇÃO QTDE15 % IPL PORTARIA

Nº IPL’s (proporcional) 16

PEDIDO DE PRAZO 70 27% 244 IPL’s

RELATADO 189 73% 660 IPL’s

Total 259 100% 904 IPL’s

Aqui já observamos aspectos relacionados à morosidade da persecução pré-processual. Podemos afirmar que dos inquéritos instaurados por portaria no ano de 1999 ainda temos em torno de 26 inquéritos (3% do total de inquéritos por portaria) com pedidos de prazo para conclusão das investigações onde, muito provavelmente, a maioria dos crimes se

9 Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso

preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 (trina) dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. § 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido

apurado e enviará autos ao juiz competente. § 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido

inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.

§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos

autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

11 Conforme a amostragem delimitada antes, em números absolutos e proporcionais. 12 Nº de inquéritos instaurados por portaria da amostra referente ao ano de 1999.

13 Nº total (pela proporcionalidade) de inquéritos instaurados por portaria no ano de 1999. 14 Conforme a amostragem delimitada antes, em números absolutos e proporcionais. 15 Nº de inquéritos instaurados por portaria da amostra referente ao ano de 2003.

(24)

encontram prescritos (com aplicação do instituto da prescrição retroativamente onde calcula-se a mesma levando em consideração a pena in concreto aplicada pelo juiz).

No caso em tela estão prescritos, de acordo com a regra do Código Penal, art.109, inciso IV17, todos os crimes que forem sentenciados com penas menores ou iguais a 4 anos.

Dos 904 inquéritos instaurados por portaria no ano de 2003 temos tramitando na esfera policial em torno de 244 inquéritos (27% do total instaurado por portaria) onde também, muito provavelmente, alguns já prescreveram.

Interessante observar que da amostra de inquéritos do ano de 1999 com pedido de prazo (são oito inquéritos na situação) temos de acordo com a classificação dos crimes:

 5 inquéritos policiais para apurar crimes de responsabilidade de gestores municipais sobre desvios de verbas ou irregularidades na aplicação de recursos federais (IPL’s nº 0640/1999, 0774/1999, 0782/1999, 1001/1999, 1002/1999);

 1 inquérito policial para apurar crime contra a previdência pelo não recolhimento de contribuições previdenciárias (IPL nº 0868/1999), e;

 2 inquéritos policiais para apurar roubos de malotes pertencentes a agências da Caixa Econômica Federal (CEF) na cidade de Fortaleza (Inquéritos nº 0005/1999 e 0236/1999).

Se observarmos que na amostra colhida do ano de 1999 encontramos 7 inquéritos instaurados por portaria para apurar crimes de responsabilidade (vide Tabela da Classificação dos Crimes logo abaixo) e que ainda tramitam 5 inquéritos em sede de polícia, de pronto verificamos o grau de impunidade nas investigações que apuram crimes de colarinho branco. Quando ainda temos 5 inquéritos tramitando de um total de 7 que foram instaurados para crimes de colarinho branco e compõem a amostra. Os outros 2 inquéritos instaurados por portaria da amostra de 1999 para apurar crimes de responsabilidade de gestor municipal foram encaminhados a Justiça Estadual por decisão da Justiça Federal que se declarou incompetente (ver Tabelas Classificação dos Crimes X Decisão - Recebimento do Inquérito e Classificação dos Crimes X Decisão - Sentença Judicial, situadas, respectivamente, nas páginas 39 e 42).

17 Art. 109 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 110 deste

Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;

(25)

Estas investigações que apuram crimes de gestores municipais caminham a passos largos para a impunidade, ou seja, o crime existiu mais a persecutio criminis realizada pela polícia não está sendo capaz de oferecer os elementos necessários ao exercício do ius puniendi estatal.

Corrobora a análise acima o texto do artigo 23 da Lei nº 8.429/92:

"As ações destinadas a levar a efeito as sanções previstas nesta lei podem ser propostas:

I- até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança;

II – dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, nos caso de exercício de cargo efetivo ou emprego."

Observa-se que a prescrição dos atos de improbidade administrativa é de apenas cinco (5) anos após o término do mandato do gestor público.

Somente este aspecto identificado na pesquisa valeria uma dissertação acadêmica própria, onde fosse aprofundado o estudo sobre a impunidade específica para os crimes de colarinho branco nas apurações desencadeadas a partir da instrução do inquérito policial instaurado por portaria.

Extraímos a noticia crime e a tipificação penal atribuída pelo delegado nos inquéritos instaurados por portaria para apurar os crimes classificados como de responsabilidade de prefeitos (ver pasta Excel no CD anexo com a Tabela Dados dos Inquéritos de 1999):

 Inquérito nº 0724-1999 e Processo nº 1999.81.00.019604-9. Relatado e a Justiça Federal declinou da competência para julgar. Ausência de prestação de contas da verba destinada à merenda escolar pelo ex-prefeito de Quixelô - artigo 1º, VII do Decreto-Lei 201/67.

VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou externos, recebidos a qualquer titulo. Pena de 3 meses a 3 anos;

(26)

I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio; Il - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas ou serviços públicos. Pena de 2 a 12 anos;

 Inquérito nº 0640-1999 e Processo nº 1999.81.00.019587-2. Inquérito com pedido de prazo. Não prestação de contas de verbas do FNDE por parte do ex-prefeito de Quixelô - artigo 1º, VII do Decreto-Lei 201/67.

VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou externos, recebidos a qualquer titulo. Pena de 3 meses a 3 anos;

 Inquérito nº 1001-1999 e Processo nº 2000.81.00.001063-3. Inquérito com pedido de prazo. Desvio de verba do FUNDEF na Prefeitura de Solonópole - artigo 1º, inciso I do Decreto-Lei 201/67.

I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio. Pena de 2 a 12 anos;

 Inquérito nº 1002-1999 e Processo nº 2000.81.00.001062-1. Inquérito com pedido de prazo. Desvio de verba do FUNDEF na Prefeitura de Parambu - artigo 1º, inciso I do Decreto-Lei 201/67.

I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio. Pena de 2 a 12 anos;

 Inquérito nº 0774-1999 e Processo nº 1999.81.00.020072-7. Inquérito com pedido de prazo. Irregularidades na aplicação de recurso do FNDE - artigo 10 da Lei nº 8.429/1992.

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações: II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos, e;  Inquérito nº 0782-1999 e Processo nº 1999.81.00.020699-7. Inquérito com

pedido de prazo. Irregularidades na Prefeitura de Camocim na aplicação de recurso do FNDE - artigo 10 da Lei nº 8.429/1992.

(27)

pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos.

Casos como estes onde o inquérito completa 8 anos de instrução pré-processual não servem à persecução penal porque conduzem à prescrição dos crimes e a impunidade, além de comprometer a efetividade das decisões judiciais que chegam à condenação. Mesmo que as ações para o ressarcimento das verbas públicas desviadas em atos de improbidade administrativa sejam imprescritíveis, a demora torna mais difícil sua efetividade enquanto a punição retributiva fica impossibilitada. Se um procedimento administrativo que se instrui de forma sigilosa e inquisitiva dura mais de 8 anos o que esperar da duração do processo judicial onde se aplicam os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa? Os dados tabulados pela pesquisa demonstram que existe uma relação direta entre o tempo de duração do inquérito policial e a impunidade, quanto maior o tempo de instrução do inquérito maior é a probabilidade dos autores dos crimes escaparem da punição.

Em relação aos inquéritos iniciados em 2003, onde temos 27% dos inquéritos instaurados por portaria tramitando na fase inquisitorial, a situação é idêntica. Usando a proporcionalidade temos em torno de 244 inquéritos instaurados por portaria durante o ano de 2003 ainda tramitando na esfera policial, o que representa quase 1/3 dos inquéritos instaurados em 2003. Não pode se considerar razoável que 27% dos inquéritos instaurados por portaria levem mais de 4 anos para instrução pré-processual. Seriam todos casos de difícil elucidação como prescreve o Código de Processo Penal? Verificaremos que não.

TABELA DE CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

INQUÉRITOS INSTAURADOS POR PORTARIA DA AMOSTRA DO ANO 2003

CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES - INQUÉRITOS POR

PORTARIA QTDE %

MOEDA FALSA 44 16,99%

FALSIFICAÇÃO/USO DOC FALSO/ESTELIONATO 44 16,99%

PREVIDENCIÁRIO 43 16,60%

CONTRABANDO/DESCAMINHO 29 11,20%

(28)

ORDEM TRIB./LAV.DIN./EV.DIVISA - LEI 7492/86 21 8,11%

OUTROS CRIMES 11 4,25%

CRIMES RESPONSABILIDADE-DL 201/67; LEI 1.079/50 e LEI

5.249/67 7 2,70%

FURTO 6 2,32%

ROUBO/LATROCINIO/HOMICIDIO 5 1,93%

APROPRIAÇÃO INDEBITA/USURPAÇÃO/DANO 5 1,93%

DESACATO/DESOBEDIENCIA 4 1,54%

CONCUSSÃO/PECULATO/CORRUPÇÃO/PREVARICAÇÃO 4 1,54%

MEIO AMBIENTE 4 1,54%

PORTE/USO ARMA FOGO 1 0,39%

CONCURSO DE CRIMES 1 0,39%

TRÂNSITO - LEI 9503/1997 1 0,39%

RECEPTAÇÃO 1 0,39%

CRIANÇA/ADOLESCENTE – ESTATUTO 1 0,39%

Total 259 100%

Tomando, por exemplo, os crimes classificados como previdenciários. Em 2003 encontramos na amostra 43 ocorrências de inquéritos por portaria que apuram crimes previdenciários – representando 16,60% do total de inquéritos instaurados por portaria (vide Tabela acima). Temos depois de 4 anos de instrução da peça inquisitorial:

 14 inquéritos arquivados;

 11 inquéritos relatados e com denúncias recebidas;

 01 inquéritos com suspensão condicional do processo ou transação penal, e;

 17 inquéritos tramitando em sede inquisitorial.

Resumo da descrição do crime com o tipo penal atribuído pelo delegado de polícia federal que encontramos nos inquéritos classificados como previdenciários:

 Apropriação indébita – art. 168-A CPB (pena de 2 a 5 anos);

 Fraude na obtenção benefício previdenciário – art. 95, alínea J, Lei 8212/91 (revogado pela Lei nº 9.983/2000);

 Uso documento falso em guia previdenciária - art. 304 CPB (pena de 1 a 5 anos), e;

(29)

Nos crimes classificados como contrabando/descaminho. Em 2003 encontramos na amostragem 29 ocorrências de inquéritos por portaria que apuram crimes de contrabando/descaminho – representando 11,20% do total. O artigo 334 do CP estabelece pena de 1 a 4 anos. Depois de 4 anos de instrução da peça inquisitorial temos:

 05 inquéritos arquivados;

 04 inquéritos relatados e com denúncias recebidas;

 06 inquéritos onde a Justiça Federal decidiu por sua incompetência para julgar (todos relacionados à apreensão de máquinas caça-nível e tipificados pelo delegado de polícia federal como contrabando/descaminho);

 03 inquéritos sem decisão do recebimento da denúncia (todos relacionados à apreensão de máquinas caça-nível e tipificados pelo delegado de polícia federal como contrabando/descaminho);

 02 inquéritos com suspensão condicional do processo ou transação penal, e;

 09 inquéritos tramitando em sede inquisitorial.

Nos crimes classificados contra o Sistema de Telecomunicações. Em 2003 encontramos na amostra 27 ocorrências de inquéritos por portaria que apuram crimes contra o Sistema de Telecomunicações – representando 10,42% do total. Depois de 4 anos de instrução da peça inquisitorial:

 06 inquéritos arquivados;

 02 inquéritos relatados e com denúncias recebidas;

 10 inquéritos com suspensão condicional do processo ou transação penal, e;

 09 inquéritos tramitando em sede inquisitorial.

A tipificação do crime seguida pelas autoridades policiais nos inquéritos por portaria:

 Fraude em guia previdenciária – art. 171 CPB (pena de 1 a 5 anos);

 Artigo 70 da Lei 4117/62 - Constitui crime punível com a pena de detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, a instalação ou utilização de telecomunicações, sem observância do disposto nesta Lei e nos regulamentos, e;

(30)

metade se houver dano a terceiro. Parágrafo único: Incorre na mesma pena quem, direta ou indiretamente, concorrer para o crime.

Mesma análise com os crimes classificados como moeda falsa. Em 2003 encontramos na amostra 44 ocorrências de inquéritos por portaria – representando 16,99% do total. Crime com pena de 3 a 12 anos. Temos depois de 4 anos de instrução da peça inquisitorial:

 33 inquéritos arquivados;

 04 inquéritos relatados e com denúncias recebidas, e;

 07 inquéritos tramitando em sede inquisitorial.

Com absoluta certeza a maioria dos crimes apurados por tais inquéritos não relatados irão sofrer a prescrição retroativa em função de terem penas mínimas abstratas menores ou iguais a 2 anos (concussão, peculato, corrupção, contrabando/descaminho, todos os tipos de falsificação, estelionato, receptação, furto, apropriação indébita previdenciária, etc.). Verificamos que na prática os juízes condenam um réu primário (sem causas de aumento) na pena mínima abstrata o que força a prescrição da pretensão punitiva – prazo de prescrição de 4 anos previsto no artigo 109, V do CP, se o máximo da pena é igual a 1 ano, ou, sendo superior não exceda a 2 anos.

(31)

1.5 Quanto à decisão de recebimento do inquérito policial

Foram considerados somente os inquéritos policiais instaurados por portaria e com status de relatados.

INQUÉRITOS INSTAURADOS POR PORTARIA DURANTE O ANO DE 1999 E RELATADOS

DECISÃO RECEBIMENTO DO IPL

(IPL’s RELATADOS) QTDE RELATADOS (235% IPL’s 18) PORTARIA (243TOTAL IPL’s 19)

SUSPENSÃO CONDICIONAL

PROCESSO/TRANSAÇÃO PENAL 15 6,38% 6,18% (55 de 877)

DECLINADA COMPETÊNCIA 21 8,94% 8,64% (76 de 877)

RECEBIMENTO DENUNCIA 52 22,13% 21,40% (189 de 877)

ARQUIVAMENTO/REJEIÇÃO DA

DENUNCIA 147 62,55% 60,50% (531 de 877)

Total 235 100,00% 97% (851 de 87720)

INQUÉRITOS INSTAURADOS POR PORTARIA DURANTE O ANO DE 2003 E RELATADOS

DECISÃO RECEBIMENTO IPL

(IPL’s RELATADOS) QTDE

% IPL’s RELATADOS

(18921) PORTARIA (259TOTAL IPL’s 22)

SEM DECISÃO / SEM

DENUNCIA 7 3,70% 2,70% (24 de 904)

DECLINADA COMPETÊNCIA 15 7,94% 5,79% (52 de 904)

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO/TRANSAÇÃO

PENAL 17 8,99% 6,57% (60 de 904)

RECEBIMENTO DENUNCIA 42 22,22% 16,23% (147 de 904)

ARQUIVAMENTO/REJEIÇÃO

DA DENUNCIA 108 57,14% 41,71% (377 de 904)

Total 189 100% 73% (660 de 90423)

18 Total de inquéritos por portaria e relatados da amostra. 19 Total de inquéritos por portaria da amostra.

20 Total de inquéritos por portaria do ano 1999.

21 Total de inquéritos por portaria e relatados da amostra. 22 Total de inquéritos por portaria da amostra.

(32)

Aqui temos uma diferença no total de inquéritos instaurados por portaria e já relatados – 235 inquéritos por portaria relatado no ano de 1999 e 189 inquéritos por portaria relatados no ano de 2003 – em função de ainda termos 27% dos inquéritos instaurados em 2003 tramitando na esfera policial em comparação com 3% dos instaurados no ano de 1999.

Outra diferença pertinente é que nos dados apresentados no ano de 2003 temos 3,70% dos inquéritos instaurados por portaria e já relatados tramitando no Ministério Público ou na Justiça Federal para decisão de recebimento ou não do inquérito (casos de decisão pelo arquivamento, devolução do inquérito com cota ministerial para a polícia, de oferecimento da denúncia com decisão de recebimento ou arquivamento, de oferecimento da suspensão condicional do processo ou transação penal etc.).

A análise mais importante e impactante refere-se à quantidade de inquéritos por portaria relatados que são diretamente arquivados: 62,55% dos inquéritos por portaria instaurados no ano de 1999 e relatados foram arquivados; 57,14% dos inquéritos por portaria instaurados no ano de 2003 e relatados foram arquivados.

As razões jurídicas que fundamentam a grande maioria das decisões de arquivamento são:

1. Incapacidade de apurar a materialidade delitiva;

2. Impossibilidade de identificação da autoria do crime, e;

3. Extinção da punibilidade pela prescrição – artigo 107, inciso IV, CPB24.

Todas relacionadas à condução da investigação criminal. É um dado relevante que mede a ineficiência da apuração na fase pré-processual onde do total de crimes noticiados e apurados tivemos 62,55% (no ano de 1999) e 57,14% (no ano de 2003) dos inquéritos arquivados. O que pode justificar tal situação? Como isso passa despercebido pelos gestores dos órgãos de polícia judiciária?

Tudo gerando extrema impunidade. Cada inquérito policial por portaria arquivado significa, na grande maioria dos casos, que um crime ficou impune e que, muito provavelmente, o criminoso impune irá repetir o mesmo tipo penal (é reconhecida na criminologia a teoria da tendência de repetição de um crime consumado que não foi devidamente reprimido e ficou impune).

Não estamos afirmando, frise-se, que qualquer inquérito deverá necessariamente resultar em uma condenação. A grave constatação é que sequer é possível chegar a uma decisão de mérito – isto, sim, previsto pelo ordenamento jurídico e almejado pela sociedade.

(33)

Somente os dados apresentados até agora já credenciam a conclusão que a incapacidade da polícia investigativa no Brasil alimenta a onda crescente de violência e criminalidade que vivencia nossa sociedade. O que infelizmente podemos continuar verificando em seguida.

Concluímos nos tópicos próprios que a burocratização do procedimento administrativo do inquérito policial, a fragmentação da investigação criminal através de despachos estanques, a centralização da cognição policial no presidente do inquérito (que possui atribuições privativas e indelegáveis25) e a ausência de uma verdadeira carreira policial conduz o inquérito policial para o silêncio das estantes dos arquivados.

De forma exemplificativa mostramos uma típica decisão judicial que arquivou um inquérito policial.

IPL nº 574/1999. Processo nº 99.0018326-6. Instaurado em 13/8/1999. Tipo penal: art. 171 do CPB – adulteração de Certidão Negativa de Débito Eventos na Justiça Federal. Despacho do Juiz em 17/05/2005:

1. O Código de Processo Penal, em seu art. 10, § 3º., proclama in verbis:

"Quando o fato for de difícil elucidação e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz."

2. Assim, tendo em vista a Instrução Normativa nº. 03, de 15.06.2004 do Exmo. Sr. Des. Federal da 5ª. Região, concedo o prazo de 120 (cento e vinte) dias para a autoridade policial concluir o presente IPL.

3. Findo tal prazo, caso haja necessidade de nova prorrogação, deverá a autoridade solicitá-la diretamente a este juízo.

Despacho do Juiz em 28/09/2005:

Tendo em vista haver o presente inquérito policial se iniciado em 13/08/1999, manifeste-se o órgão do MPF sobre a possibilidade de apresentação de denúncia ou requerimento de arquivamento ou de solicitação de diligências complementares. Concluso ao Juiz em 10/01/2006 para Sentença:

III. DISPOSITIVO

Do exposto, DECLARO extinta a punibilidade em relação aos autores dos ilícitos em tela, quanto aos fatos apurados neste inquérito policial - IPL n.º 574/99 -, fatos estes previstos no art. 301, § 1º, do Código Penal, reconhecendo o aperfeiçoamento da prescrição da pretensão punitiva, considerado o lapso temporal entre a data dos fatos tidos como delituosos e a presente data (art. 107, IV, e art. 109, V, ambos do Código Penal).

Certificado o trânsito em julgado, determino a remessa dos presentes autos ao Setor de Distribuição desta Seção Judiciária, para baixa e posterior arquivamento.

25 Instrução Normativa nº 11/2001: 30. As atribuições da autoridade policial são indelegáveis e Orientação Normativa nº

(34)

Verificamos que o tempo de tramitação do inquérito na Polícia Federal foi de 6 anos e 10 meses e que a decisão do juiz em 10/01/2006 foi pelo arquivamento da peça administrativa em virtude da extinção da punibilidade pela prescrição do crime, não chegando o juiz a verificar o mérito da ação penal.

1.6Quanto à sentença judicial

Por fim temos a conclusão da persecução criminal com a decisão da justiça penal de primeira instância. Nesta última fase deságuam todos os fatores positivos e negativos ocorridos ao longo de toda persecução. Se a Polícia Investiga, o Ministério Público e o Juízo penal, cada um nas suas atribuições e competências legais, trabalharam de forma diligente o resultado é o esclarecimento da verdade real, a punição de acordo com as responsabilidades apuradas e do expresso em nosso ordenamento jurídico. A eficiência da persecução e a eficácia da sentença com a aplicação do jus puniendi correspondente.

INQUÉRITOS INSTAURADOS POR PORTARIA NO ANO DE 1999, COM DENÚNCIAS RECEBIDAS E DE ACORDO COM AS SENTENÇAS JUDICIAIS.

SENTENÇA JUDICIAL QTDE %

% IPL’s RELATADOS

(235)26 PORTARIA (243)TOTAL IPL’s 27

CONDENAÇÃO PENA

PRIVATIVA LIBERDADE 5 9,62% 2,13% 2,06% (18 de 877)

CONDENAÇÃO PENA

RESTRITIVA DE DIREITOS 12 23,08% 5,11% 4,94% (44 de 877)

SEM SENTENÇA 12 23,08% 5,11% 4,94% (44 de 877)

ABSOLVIÇÃO\EXTINÇÃO

DA PUNIBILIDADE 23 44,23% 9,79% 9,47% (83 de 877)

Total 52 100,00% 22,13% 21,40% (189

28 de

87729)

26 Em relação ao nº de inquéritos por portaria e relatados da amostra de 1999. 27 Em relação ao nº de inquéritos por portaria da amostra de 1999.

28 Nº proporcional de inquéritos policiais por portaria e relatados em relação ao total de inquéritos instaurados no ano de

1999.

(35)

INQUÉRITOS INSTAURADOS POR PORTARIA NO ANO DE 2003, COM DENÚNCIAS RECEBIDAS E DE ACORDO COM AS SENTENÇAS JUDICIAIS.

SENTENÇA JUDICIAL

(DECISÃO) QTDE %

% IPL’s RELATADOS

(189)30

% IPL’s PORTARIA

(259)31

CONDENAÇÃO PENA

PRIVATIVA LIBERDADE 1 2,38% 0,52% 0,39% (4 de 904)

ABSOLVIÇÃO 3 7,14% 1,58% 1,16% (10 de 904)

CONDENAÇÃO PENA

RESTRITIVA DE DIREITOS 10 23,81% 5,29% 3,86% (35 de 904)

SEM SENTENÇA 28 66,67% 14,81% 10,81% (98 de 904)

Total 42 100% 22% 16,22% (147

32 de

90433)

Aqui percebemos mais claramente a origem da preocupação dos Magistrados na pesquisa de opinião realizada em novembro de 2006 durante o XIX Congresso Brasileiro de Magistrados já citada no intróito34. A pesquisa divulgada pela Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB apontou as prováveis causas da impunidade no Brasil como a demora no encerramento do processo (83,9%), a deficiência do inquérito policial (74,1%) e as dificuldades de utilização de meios de prova (63,8 %), diretamente relacionadas à deficiente instrução do inquérito policial.

Quando observamos as estatísticas verificamos que, mesmo após percentuais altíssimos de inquéritos por portaria arquivados, encontramos 44,23% (representando 9,47% do total de inquéritos por portaria instaurados) de sentenças absolutórias no ano de 1999 e 7,14% (representando 1,16% do total de inquéritos por portaria instaurados) de sentenças absolutórias no ano de 2003. A diferença entre os percentuais de absolvição justifica-se em função de 66,67% dos inquéritos instaurados por portaria no ano de 2003, já relatados e que viraram ação penal com o recebimento da denúncia, ainda não foram sentenciados em 1º grau de jurisdição.

30 Em relação ao nº de inquéritos por portaria e relatados da amostra de 2003. 31 Em relação ao nº de inquéritos por portaria da amostra de 2003.

32 Nº proporcional de inquéritos policiais por portaria e relatados em relação ao total de inquéritos instaurados no ano de

2003.

(36)

Comprovamos o que antes deduzíamos por raciocínio lógico: a lentidão em apurar a infração delitiva e identificar sua autoria implica diretamente na morosidade da ação penal e no resultado final do provimento jurisdicional.

O desiderato final da persecução penal não é atingido na grande maioria das apurações criminais como demonstram os resultados de condenações à pena privativa de liberdade ou privativa de direitos. Somente 2,06% dos inquéritos policiais instaurados por portaria no ano de 1999 resultaram em condenação a pena privativa de liberdade – usando a proporcionalidade encontramos 18 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos instaurados por portaria durante o ano de 1999. No ano de 2003 observamos o percentual de 0,39% dos inquéritos por portaria concluíram em sentenças penais condenatórias a pena privativa de liberdade – pela proporcionalidade encontramos 4 inquéritos de um total de 904 inquéritos instaurados por portaria. Resultados assustadores para uma instrução pré-processual e pré-processual tão cara aos cofres da Nação.

Em resumo, a persecução penal dos inquéritos instaurados por portaria durante o ano de 1999, depois de 8 anos de instrução pré-processual:

03,29% dos inquéritos instaurados por portaria ainda encontram-se na Polícia Federal (SR/DPF/CE) sem o relatório final – representando proporcionalmente 26 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria;

69,97% dos inquéritos instaurados por portaria foram arquivados ou os réus absolvidos – 60,50% dos inquéritos por portaria arquivados e 9,47% dos inquéritos por portaria que viraram ação penal os réus foram absolvidos. Representando proporcionalmente 614 inquéritos por portaria (531 arquivados + 83 com absolvição) de um total de 877 inquéritos por portaria;

04,94% dos inquéritos por portaria resultaram em sentença condenatória a pena restritiva de direitos – representando proporcionalmente 44 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria;

02,06% dos inquéritos por portaria resultaram em sentença condenatória a pena privativa de liberdade – representando proporcionalmente 18 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria;

(37)

06,18% dos inquéritos por portaria foram aplicadas a suspensão condicional do processo ou a transação penal – representando 55 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria, e;

04,94% dos inquéritos por portaria ainda tramitam na Justiça Federal sem sentença de 1º grau – representando 44 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria.

Em relação à persecução penal dos inquéritos instaurados por portaria durante o ano de 2003 – quadro depois de 4 anos de instrução pré-processual:

27,03% dos inquéritos instaurados por portaria ainda encontram-se na Polícia Federal (SR/DPF/CE) sem o relatório final – representando proporcionalmente 244 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria;

42,87% dos inquéritos instaurados por portaria foram arquivados ou os réus absolvidos – 41,71% dos inquéritos por portaria arquivados e 1,16% dos inquéritos por portaria que viraram ação penal os réus foram absolvidos. Representando proporcionalmente 387 inquéritos por portaria (377 arquivados + 10 com absolvição) de um total de 904 inquéritos por portaria;

03,86% dos inquéritos por portaria resultaram em sentença condenatória a pena restritiva de direitos representando proporcionalmente 35 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria;

00,39% dos inquéritos por portaria resultaram em sentença condenatória a pena privativa de liberdade – representando proporcionalmente 4 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria;

05,79% dos inquéritos por portaria a Justiça Federal no Ceará declinou da competência para julgar – representando 52 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria;

06,57% dos inquéritos por portaria foram aplicadas a suspensão condicional do processo ou a transação penal – representando 60 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria;

(38)

02,70% dos inquéritos por portaria ainda tramitam no Ministério Público ou na Justiça Federal sem decisão de recebimento da denúncia (o inquérito já foi relatado) – representando 24 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria.

Vejamos a significância dos números encontrados através da pesquisa estatística executada. Dos 877 inquéritos instaurados por portaria durante o ano de 1999, instruídos e presididos por Delegado de Polícia Federal no atual modelo centralizado e burocrático, cumpriram o desiderato final de toda persecução penal, utilizando a proporcionalidade dos dados amostrais em relação ao universo, apenas 18 inquéritos por portaria que condenaram os investigados a penas privativas de liberdade e 44 inquéritos por portaria que condenaram os investigados a penas restritivas de direito. Qualquer estudioso do tema segurança pública percebe de pronto que aqui encontramos uma das fontes da impunidade, do aumento da violência e do crime no Brasil. A instrução pré-processual conduzida pelo inquérito instaurado por portaria precisa de urgentes e necessárias modificações.

É muito alto o percentual de trabalho investigativo inutilizado pela atual modelo de instrução pré-processual. Se fizermos um paralelo como sendo o órgão policial uma empresa privada, com tal grau de ineficiência nos resultados e elevados custos operacionais (de toda a persecução), estaria falida.

De que adiantam tantos despachos e oitivas de testemunhas realizadas nos gabinetes se em mais de 2/3 dos crimes apurados não se chega a conclusão alguma? De que adiantam as atribuições privativas e indelegáveis dos Delegados de Polícia Federal nos atos administrativos investigatórios se as apurações não são instruídas como deveriam? É isto que claramente expressa o resultado da pesquisa.

Um argumento bastante utilizado pelos presidentes de inquéritos policiais para justificar a deficiência na instrução nos inquéritos é o acúmulo de serviço e o alto número de inquéritos que têm para despachar. Ora, se o número de delegados é insuficiente para instruir os inquéritos existentes porque um Agente de Polícia Federal, bacharel em direito, ocupante da classe especial (última classe da “carreira” de agente – dentro da incabível estrutura de várias carreiras num órgão policial) e capacitado para investigação criminal não pode instruir um inquérito policial?

(39)

§ 1º “A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a”. A estrutura deveria ser de carreira como expressa a Constituição Federal e não carreiras.

É preferível a impunidade do arquivamento por falta de identificação da autoria do delito ou a absolvição por falta de prova do que possibilitar que a investigação criminal seja instruída por equipes de Agentes de Polícia Federal?

Os dados resultantes da pesquisa estatística possibilitam inúmeros tipos de análises. Poderíamos estudar a instrução pré-processual pela ótica da relação temporal entre a duração da instrução do inquérito em relação ao processo penal e o tipo de sentença final.

Outra possibilidade interessante para estudo seria verificar a situação sócio-econômica dos réus condenados a partir dos inquéritos instaurados por portaria. Como sabido, parte dos doutrinadores que se debruçam a estudar a persecução penal se posicionam no sentido que a maioria absoluta dos condenados em processos penais no Brasil (a partir de inquéritos instaurados por portaria) são pobres, não têm, portanto, condição financeira de contratar bons advogados para suas defesas. Isso em função de que a apuração do delito acaba sendo manipulada de acordo com outros interesses e dos inúmeros recursos judiciais e manobras jurídicas utilizadas pelos grandes escritórios de advocacia.

Imagem

TABELA DE CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

Referências

Documentos relacionados

Em face da perspectiva de imunidade dos agentes políticos à responsabilização por improbidade administrativa, sob a justificativa de não poderem estar sujeitos ao

Enquanto aquela impõe limitações a bens jurídicos individuais como a propriedade, esta tem por objetivo a preservação da ordem pública (SILVA, 2009, p. Note-se

Encontra respaldo no fato de o sigilo bancário, por sua própria natureza, estar vinculado ao caráter de fidúcia existente na atividade bancária, fundando-se, portanto,

[r]

Assim, buscando estruturar a organização desta dissertação, o capítulo 1 descreve o caso de gestão em uma instituição federal de ensino superior, referente aos casos de

Em 2008 foram iniciadas na Faculdade de Educação Física e Desportos (FAEFID) as obras para a reestruturação de seu espaço físico. Foram investidos 16 milhões

Muito embora, no que diz respeito à visão global da evasão do sistema de ensino superior, o reingresso dos evadidos do BACH em graduações, dentro e fora da

Dissertação apresentada ao colegiado do Curso de Mestrado Acadêmico em Direito Público da Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Direito Prof. Jacy de