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O ensino musical no reino de D. Pedro II anunciado em impressos periódicos: (1840-1889)

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O ensino musical no reino de D. Pedro II

anunciado em impressos periódicos:

de 1840 a 1889

1

Musical education in the reign of Dom Pedro II in newspapers:

from 1840 to 1889

EvErton viEira BarBosa

2

FaBiana LopEs da Cunha

3

1 Este texto é uma revisão do artigo publicado nos Anais do I Simpósio Internacional Patrimônios: Cultura a Sociedade no século XXI.

2 Universidade Estadual Paulista (UNESP/Assis). E-mail: semusico@hotmail.com 3 Universidade Estadual Paulista (UNESP/Ourinhos).

E-mail: fabiana@ourinhos.unesp.br

Desde a inserção no Brasil em 1808 e sua oficialização em 1821, a imprensa favoreceu a di-vulgação de informações no âmbito político, econômico, social e cultural. Dentre as notícias divulgadas no âmbito sociocultural, identificou-se, em alguns periódicos, os anúncios de diversos prestadores de serviço, em especial de professores de música. Atentos a esses anúncios, objeti-va-se, com este trabalho, identificar as informações voltadas ao ensino musical, conhecendo seus agentes, os instrumentos executados, os valores cobrados e os locais de ensino musical. Tais informações contribuirão nos estudos voltados à música e à imprensa no Brasil, uma vez que os recursos para a gravação sonora inexistiam no país, mantendo a primeira dependente da segun-da para ser divulgasegun-da e arquivasegun-da pelos músicos durante o segundo império.

Palavras-chave: imprensa brasileira, anúncios impressos, ensino musical.

From its insertion in Brazil in 1808, and your oficialization in 1821, the press favored the re-lease of information in the politic, economic, social and cultural ambit. Among the rere-leased news in the socio-cultural ambit, we identify announcements from various service providers, in especial, music teachers, in some printed journals. Focusing on these announcements, this work aims to identify the information related to music education, knowing its agents, the performed instruments, the amounts charged and where these musical classes took place. Such information will contribute in the studies that focus on music and the press in Brazil, since sound recording resources didn’t exist in the country at the time, music needed the prees, tobe released, filed and storaged by musicians during the second empire.

Keywords: Brazilian press; Print ads; Music education.

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introdução

O início do ensino musical no Brasil não tem uma data precisa. Dentre os registros mais antigos, encon-tram-se as anotações de viagens de Jean de Léry (1536-1613) em Histoire d’um voyage fait em la terre du Brésil, escri-tas no ano de 1578 durante sua viagem entre março de 1557 e início de janeiro de 1558.

Em suas anotações, Léry (1578) registrou infor-mações sobre a tribo Caraíba e os cantos e melodias musicais executados durante suas cerimônias. Se essa tribo já desenvolvia a prática musical em seus ritos, provavelmente o ensino musial entre eles já existia an-tes do contato indígena com o europeu.

Porém, mesmo com a existência do ensino mu-sical entre os indígenas e durante o tempo colonial, percebe-se que sua intenção não era a mesma do en-sino praticado pelos europeus em tempos de colônia ou em tempos de império.

Enquanto o ensino musical indígena tinha o in-tuito de transmitir o conhecimento entre as sucessivas gerações, mantendo sua cultura e ritualística, o ensino musical jesuíta voltado aos índios tinha a finalidade de introjetar a cultura cristã e, consequentemente, minar os ritos indígenas, considerados pagãos pelos jesuítas.

Ainda que as formas de ensino musical destaca-das tenham o objetivo de manter uma tradição cul-tural, seja a indígena, seja a cristã europeia, ambas se diferiam do ensino musical durante o período im-perial no século XIX, com a finalidade profissional e comercial.

Com a vinda da família real para o Brasil em 1808, muitos músicos que chegaram da Europa acabaram fa-zendo da antiga colônia portuguesa sua nova moradia, adaptando seu modo de vida a este novo espaço de sociabilidade. Um fator que possibilitou o desenvolvi-mento do ensino musical profissional foram os anún-cios em impressos periódicos.

Autorizados desde 1808, porém censurados até 1821, os impressos eram restritos aos conteúdos políti-cos, econômicos e de informações internacionais, volta-dos aos interesses da coroa (ABREU, 2010).

Assim, com o fim da censura, os impressos já na década de 1820 multiplicaram seus assuntos, abor-dando temas voltados ao âmbito social e cultural. No âmbito cultural, a música se fez presente em comen-tários sobre os espaços em que seria executada, facili-tando o contato dos leitores e ouvintes dos impressos nesses locais de sociabilidade.

oBjEtivos E mEtodoLogia

Durante o segundo reinado (1840-1889), que é o foco deste trabalho, os anúncios musicais são mais es-pecíficos, demonstrando uma provável consolidação do ensino musical na cidade do Rio de Janeiro.

Desse modo, com o objetivo de identificar, no ensino musical, alguns professores, instrumentos e locais de ensino na cidade do Rio de Janeiro desse período, analisaram-se os anúncios de alguns impres-sos periódicos, em especial do Almanak Administrativo

Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro4. Foi dada maior

atenção a ele por abranger quase todo o período de governo de D. Pedro II e pelo grande número de in-formações musicais nele encontrados.

Para ilustrar a quantidade de anúncios de ensino musical na cidade do Rio de Janeiro, elaborou-se al-guns gráficos indicando a quantidade de professores por ano, gênero, e pelos instrumentos ensinados ou indefinidos nos anúncios.

Além disso, explanaram-se brevemente alguns impressos periódicos que publicavam anúncios de instrumentos, métodos de ensino musical e de pro-fessor de música e aqueles voltados integralmente ao conhecimento musical.

o Ensino musiCaL no rio dE janEiro

durantE o sEgundo rEinado

Antes do início do segundo reinado, já apareciam informações sobre o ensino musical no Rio de Janeiro. Na 268ª edição do Jornal do Commercio (1838), por exem-plo, foi publicado o seguinte anúncio:

RAFAEL Lucci, professor de piano e cantoria, sobrando--lhe ainda algumas horas para dar lições, o faz ciente às 4 Conhecido como Almanak Laemmert, por causa do sobrenome dos irmãos Eduardo e Henrique, este impresso era publica-do anualmente no Rio de Janeiro na Tipografia Universal Laemmert. Atualmente ele está micro-filmado e digitalizado pela Fundação Biblioteca Nacional, disponível em: <http:// objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/ almanak/ almanak.htm>. Acesso em 21/01/2016. Não foram obtidas informações sobre os anúncios de ensino musical no ano de 1846, que se encontra na página 249, segundo o índice, pois a partir da página 243 até a página 254, não está disponível o micro-filme nem a digitalização das mesmas.

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também ter outras falando sobre métodos de ensino ou prêmios musicais obtidos. Geralmente, nos avisos encontrados em outros periódicos, essas característi-cas permaneciam, uma vez que em alguns impressos cobravam pela quantidade de linhas, enquanto outros cobravam por todo o anúncio.

No caso do Almanak Laemmert, a cobrança por li-nha, geralmente no valor de 1$000 réis, obrigou muitos professores(as) de música a limitarem as informações por eles(as) divulgadas, como o tipo de instrumento en-sinado ou o endereço.

Abaixo, observa-se a quantidade de anúncios no Almanak Laemmert separados por anos e por gêneros. Devido à grande quantidade de avisos elencados, optou-se por separar as informações por década:

Gráfico 1. Anúncio de Professores de música (1844-1849), exceto o ano de 1846.

Fonte: Almanak Laemmert

Apesar de não obtermos informações sobre o ano de 1846 porque algumas páginas não estão digitaliza-das, supôs-se o mesmo aumento gradativo, resultado da comparação de outros anos desse período.

Já ao longo da década de 1850, conforme aparece no Gráfico 2, também tem-se um anúncio de gênero indefinido constatado no ano de 1854, e apesar de o número de anúncios ter aumentado, percebem-se algu-mas oscilações nessa década.

pessoas que quiserem utilizar-se do seu préstimo, podendo dirigirem-se ao beco dos Ferreiros n. 7, 2º andar, perto da praia de D. Manoel (JORNAL DO COMMERCIO, 1838, p 04).5

Neste anúncio podem-se perceber informações importantes, como o nome do professor, o que ele ensi-nava, o local onde se poderia encontrá-lo e onde seriam ministradas as aulas, combinando os dias e os horários das aulas. Além de conter essas informações, poderia

5 Este periódico surgiu em 1º de outubro de 1827 por Pierre Plancher (1779-1844) e divulgava informações sobre a política, economia, relações exteriores, espaços de socia-bilidade e anúncios de particulares. As transcrições feitas neste trabalho serão atualizadas conforme a ortografia gramatical portuguesa, mantendo apenas as maiúsculas, minúsculas e normas tipográficas específicas.

No Gráfico 1, a divisão é feita por ano e gênero mas-culino e feminino. Aparece um gênero indefinido no ano de 1847, o qual optou-se por manter separado. Nesse gráfico também percebe-se um gradativo aumento no número de anúncios voltados ao ensino musical por ano.

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Gráfico 2. Anúncio de professores de música (1850-1859).

Fonte: Almanak Laemmert

As oscilações observadas aconteceram entre 1854 e 1855, retomando o aumento de anúncios nos anos seguintes. Apesar de não ter sido encontrada uma jus-tificativa específica para tais oscilações, que também aconteceram nas décadas de 1860, 1870 e 1880, po-de-se supor que: alterações econômicas nesses anos te-nham afetado os anúncios, causando sua diminuição; professores tivessem quadros de horários cheios e não tivessem mais tempo para novos alunos; professores dei-xaram de lecionar; houve falecimentos, mudanças de cidade, de província ou de país. Enfim, várias são as hi-póteses que poderiam ter influenciado essas oscilações. Também é importante observar um aumento no número de professoras no ensino musical. Apesar de quase todas anunciarem ensinar apenas piano e/

ou canto, nos anos de 1857, 1858 e 1859 Francisca Pinheiro de Aguiar divulgou ser professora de piano, canto e flauta, demonstrando existir professoras de ou-tros instrumentos.

A limitação do ensino feminino instrumental de piano podia ser entendida pela conduta social existente no período, uma vez que a prática desse instrumento era comum por limitar os movimentos corporais de suas praticantes e sua execução ser feita sentada, ocul-tando o corpo dos espectadores (SILVA, 2008).

Dando continuidade aos anúncios impressos no

Almanak Laemmert, observa-se, nos Gráficos 3, 4 e 5

re-ferente às décadas de 1860, 1870 e 1880, respectiva-mente, a continuidade no aumento de anúncios sobre o ensino musical.

Gráfico 3. Anúnci o de professores de música (1860-1869).

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Gráfico 4. Anúncio de professores de música (1870-1879).

Fonte: Almanak Laemmert

Gráfico 5. Anúncio de professores de música (1880-1889).

Fonte: Almanak Laemmert

Enquanto na década de 1860 se manteve a média entre setenta anúncios nos cinco primeiros anos, nos cinco últimos houve um aumento para oitenta. Já nas décadas de 1870 e 1880, as oscilações foram constan-tes, chegando ao número de cinquenta e sete anúncios no ano de 1879, enquanto no ano de 1882 o número quase dobrou, chegando a cento e um.

O aumento no número de avisos de professores de música e suas alterações durante a segunda metade do sé-culo XIX também refletiu na crescente oferta de instru-mentos ensinados e consequentemente suas oscilações.

Para se ter uma ideia, no Gráfico 6 podem ser observados os instrumentos anunciados e a quantida-de quantida-de anúncios na década quantida-de 1940.

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Gráfico 6. Anúncios de instrumentos ensinados (1844-1849), exceto 1846.

Fonte: Almanak Laemmert

Neste gráfico pode-se observar, além do crescimento no número de anúncios de piano e canto, que permaneceu em grande quantidade durante todas as publicações do Almanak Laemmert, a variedade de instrumentos ensinados no período, mesmo que eles apareçam poucas vezes ou em

menor número.

Outro fato observado foi que, ao comparar anu-almente a quantidade de anúncios de professores com a quantidade de instrumentos anunciados, constata-se que o número de instrumentos foi maior, pois muitos professores ensinavam mais de um instrumento, além do local de ensino ser diversificado por toda a cidade do Rio de Janeiro.

Assim, os Gráficos 7, 8, 9 e 10, referentes às dé-cadas de 1850, 1860, 1870 e 1880 respectivamente, representam o aumento e a oscilação de anúncio de instrumentos, assim como visto nos gráficos anteriores indicando a quantidade de professores.

Gráfico 7. Anúncios de instrumentos ensinados

(1850-1859).

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Gráfico 8. Anúncios de instrumentos ensinados (1860-1869).

Fonte: Almanak Laemmert

No Gráfico 7 identificou-se o aparecimento de avi-sos voltados ao ensino do contrabaixo, da clarineta e da guitarra, enquanto no Gráfico 8 surgiram anúncios voltados ao ensino do violino e do fagote.

Comparando os dois gráficos, percebe-se que o número de anúncios de professores de piano e canto

são maiores que os avisos de outros instrumentos, além de ser observado um leve aumento no número de anún-cios de instrumentos indefinidos. Esse aumento e algu-mas oscilações podem ser constatados nos Gráficos 9 e 10, ultrapassando as publicações de professores de canto em alguns anos:

Gráfico 9. Anúncios de instrumentos ensinados (1870-1879).

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Gráfico 10. Anúncios de instrumentos ensinados (1880-1889).

Fonte: Almanak Laemmert O aumento e as oscilações nas publicações de

ins-trumentos indefinidos podem ser justificadas pelo fato de esses professores já terem anunciado, em anos an-teriores, os instrumentos que ensinavam, ao mesmo tempo que poupariam dinheiro com novos avisos, uma vez que o periódico cobrava mil réis por linha utilizada. Assim, percebe-se que o aumento no número de anún-cios no Almanak Laemmert identificava apenas o nome e o endereço do(a) professor(a).

Já o valor cobrado pelo ensino musical raramente era anunciado nesse periódico. Das poucas informa-ções encontradas, em 1865 D. Leopoldina de Souza apareceu cobrando mil réis pelo ensino do piano6. Em

1874, Izidoro Antonio Terra, professor de qualquer instrumento, cobrou “uma jóia de vinte mil réis no ato de inscrever-se, e cinco mil réis por cada dez lições por mês, lições avulsas dois mil réis cada uma”7.

6 Almanak Laemmert. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1865, p. 482. Disponível em: <http://bra-zil.crl.edu/bsd/bsd/almanak/al1865/00000488.html>. Acesso em 21 jan. 2016.

7 Almanak Laemmert. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1874, p. 596. Disponível em <http://bra-zil.crl.edu/bsd/bsd/almanak/al1874/00000605.html>. Acesso em 21 jan. 2016.

Enquanto isso, O Jornal do Commercio manteve mais anúncios musicais indicando valores, desde métodos de ensino, de partituras, de aluguéis ou vendas de instru-mentos a custos do ensino musical por professores:

Método para se aprender a tocas bem flauta.

Este método se compõe dos dois primeiros livros do mé-todo de Berbiguer, traduzidos do francês, seguidos de uma coleção de hinos, modinhas, valsas, etc., forman-do tuforman-do 74 páginas de impressão; preço 6$000 réis. Acha-se também reimpresso o Compendio de Música por Francisco Manoel da Silva, para uso dos alunos do Imperial colégio de Pedro Segundo, contento todos os princípios elementares da música; preço 1$000 réis. Vende-se na imprensa de música de P. Laforge, rua da Cadeia, n. 89. (JORNAL DO COMMERCIO, 11 jan. 1839, p. 04). Com grandes oscilações nos valores de partituras, métodos de ensino e instrumentos musicais, supõe-se não haver um padrão no custo desse ensino, uma vez que não havia legislação específica no período para re-gular esse comércio.

Já que não havia uma regulamentação, muitos músicos buscavam anunciar em impressos periódicos sua fonte de sustento, tanto que alguns professores apareceram

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em mais de um periódico, como o caso de Geraldo Antonio Horta, Francisco Sá Noronha e José Fachinetti.

O professor Geraldo Antonio Horta foi anuncia-do entre os anos de 1854 a 1858 no Almanak Laemmert (LAEMMERT, 1854, p. 384; 1855, p. 420; 1856, p. 448; 1857, p. 480; 1858, p. 489), e teve uma partitura de quadrilha de contradanças, intitulada “Sonho das fadas”, impresso no O Jornal das Senhoras com duas pá-ginas na 123ª edição, 7 de maio de 1854, e por conta de um erro na impressão, as três folhas restantes foram impressas na 124ª edição, 14 de maio de 1854.

Neste periódico, dirigido inicialmente pela argentina Joanna Paula Manso de Noronha (1819-1875), algumas partituras acompanhavam o impresso, e em algumas edi-ções apareciam anúncios ou comentários sobre professo-res de piano e/ou canto. Dentre eles, ganharam destaque às partituras do violonista Francisco Sá Noronha (esposo da redatora-chefe) e do músico José Fachinetti.

Francisco Sá Noronha teve sete partituras im-pressas no primeiro semestre de 1852 no O Jornal das

Senhoras, mesmo período de direção de sua esposa, e

uma partitura impressa no início de 1853. Além dis-so, ele apareceu no Almanak Laemmert em 1852 como mestre de canto no teatro de São Januário, já que o teatro de São Pedro, no qual ele atuava, estava passan-do por reformas devipassan-do a um incêndio no mesmo ano (LAEMMERT, 1852, p. 287).

José Fachinetti, que foi anunciado como professor de piano e canto no O Jornal das Senhoras, anunciou seu ro-mance no Jornal do Commercio por 320 réis, vendido na im-prensa de música de Pierre Laforge, na Rua da Cadeia, número 89 (JORNAL DO COMMERCIO, 1841).

Tais anúncios denotam como alguns redatores in-seriam as partituras musicais para angariar mais assi-nantes em seus periódicos.

Além de Joanna Paula Manso de Noronha, Francisco de Paula Brito (1809-1861) também inseriu partituras em algumas edições de seu periódico A

mar-mota na corte (1849-1852). Em um anúncio, publicado na

226ª edição, “todas as pessoas que assinarem a Marmota no presente semestre (janeiro a junho), receberão do presente a – VALSA PULADA – que se vende a 1$000 rs., na loja desta tipografia, e foi distribuída grátis entre os assinantes antigos (BRITO, 1852, p. 4).

Desse modo, é possível perceber que alguns reda-tores inseriam partituras musicais em determinadas edições como uma estratégia para a compra do perió-dico por meio das assinaturas, além de contribuírem na

visibilidade e na ampliação dos professores e professo-ras de música no Rio de Janeiro.

Com o aumento na demanda pelo ensino de mú-sica, de professores e de instrumentos, surgiram ou-tros periódicos voltados a essa prática tanto no Rio de Janeiro como em outras regiões do país:

“Philo-Harmonico, Periodico Muzical (1842), Ramalhete das Damas

(1842-1850) e O Brasil Musical (1848-1875), impres-sos no Rio de Janeiro; Recreio das jovens pianistas (1857 a 1859), em Salvador; Lyra Rio-Grandense – Álbum Musical (c. 1876-c.1886), em Porto Alegre”, e aque-les impressos na França e importados: “L’Art Musical,

Journal de Musique, Le Conseiller des Dames et des Demoiselles, Journal des Demoiselles, Piano-Revue: Les chefs d’oeuvre du pia-no” (ZAMITH, 2011, p. 20).

Por fim, todas as informações elencadas permi-tem que se observe o crescimento que o ensino mu-sical teve ao longo do reinado de D. Pedro II. Os anúncios em impressos periódicos tiveram grande importância na visualização e ampliação desse espa-ço, bem como legitimam o ensino musical no Rio de Janeiro e em todo o país.

ConsidEraçõEs Finais

Foi possível elencar, nesta pesquisa, a quantidade de anúncios musicais divulgados no Almanak Laemmert (1840-1889), com exceção do ano de 1846, por suas páginas não estarem disponíveis pela microfilmagem e nem digitalizadas.

Nesses anúncios, constatou-se que a grande maio-ria de professores eram homens. Porém, a presença fe-minina, ainda que menor, foi constante durante prati-camente todos os anos de publicação.

Ainda que o ensino musical feminino estivesse res-trito ao piano e ao canto, constatou-se que uma profes-sora de flauta era anunciante, demonstrando que essa norma social não era seguida por todas as mulheres.

Quanto aos instrumentos divulgados, observou--se um grande número de anúncios de piano, seguidos pelo canto e, posteriormente, variando entre anúncios de instrumentos indefinidos e outros em menor escala. Supôs-se que a falta de definição do instrumento ensi-nado estivesse motivada por esse(a) professor(a) já ser conhecido(a) pelos leitores do periódico, e/ou por ques-tões econômicas, uma vez que o custo para divulgar no jornal era cobrado por linha.

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A respeito do valor do ensino musical, provavel-mente podia variar conforme o professor, o instrumen-to, o horário e outras questões ainda não levantadas, porém percebeu-se não haver um padrão de preço, uma vez que não existiam leis que regulamentassem a profissão de professor de música.

Por fim, a variedade de instrumentos ensinados foi uma constante em todo o período, demonstrando que o Rio de Janeiro não era só uma “cidade dos pianos”, conforme comentou Araújo Porto-Alegre, em 1856 (ANDRADE, 1967), mas de múltiplas sonoridades e práticas musicais. A visibilidade desta multiplicidade e sua importância conti-nuarão a ser pesquisadas, objetivando um maior e melhor conhecimento de nossa história musical por anúncios em impressos periódicos durante o segundo reinado.

rEFErênCias

ABREU, M. Duzentos anos: os primeiros livros bra-sileiros. In: BRAGANÇA, A.; ABREU, M. (Orgs.).

Impresso no Brasil: dois séculos de livros brasileiros.

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ANDRADE, M. Pequena história da música. São

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Referências

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