• Nenhum resultado encontrado

Estruturas possessivas : a aquisição de posse inalienável no português brasileiro

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Estruturas possessivas : a aquisição de posse inalienável no português brasileiro"

Copied!
297
0
0

Texto

(1)

FERNANDA MENDES

ESTRUTURAS POSSESSIVAS:

a aquisição de posse inalienável no português brasileiro

Campinas, 2015

(2)
(3)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

FERNANDA MENDES

ESTRUTURAS POSSESSIVAS:

a aquisição de posse inalienável no português brasileiro

Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas para a obtenção do título de Doutora em Linguística.

Orientadora: Profª Drª Ruth Elisabeth Vasconcellos Lopes

Campinas, 2015

(4)
(5)
(6)
(7)

RESUMO Examinando a aquisição de estruturas possessivas inalienáveis em português brasileiro (PB), a presente pesquisa, baseada na Teoria Gerativa e, consequentemente, na Hipótese Inatista, estabelece um paralelo com outras línguas, tais como francês, espanhol e inglês.

É interessante notar que, neste contexto, o PB parece apresentar um padrão oposto ao do inglês – ao menos no que diz respeito à coocorrência entre nomes de partes do corpo e determinantes definidos –, porém tampouco exibe um comportamento similar às outras línguas românicas, tais como o francês e o espanhol, mostrando uma maneira única de realizar estruturas de posse inalienável.

Baseando-se, entre outros, em Guéron (1985), Vergnaud e Zubizarreta (1992), Pérez-Leroux et al. (2002a,b), Floripi e Nunes (2009) e Mendes (2010), o presente estudo testa a aquisição de estruturas de posse inalienável em PB e inglês, assumindo que crianças falantes nativas de inglês teriam disponível, num primeiro momento, a mesma gramática disponível para crianças falantes nativas de PB, em que a leitura inalienável poderia ser vinculada tanto na presença de pronomes possessivos quanto na presença de determinantes definidos com qualquer tipo de nome – seja de parte do corpo, seja relacional.

O estudo experimental foi constituído por duas séries de testes, uma contendo nomes de partes do corpo, em que foram aplicados os métodos de

Tarefa de Julgamento de Valor de Verdade e Tarefa de Seleção de Figura; e outra

contando nomes relacionais, em que foi aplicado apenas o método de Tarefa de

Julgamento de Valor de Verdade, sendo ambos métodos que permitem que se

extraia julgamentos interpretativos indiretamente, o que se coloca como indispensável quando os participantes envolvem crianças.

De fato, a distinção entre as gramáticas das duas línguas apareceu por volta dos 6;0 anos de idade, quando crianças falantes de inglês restringiram o uso do determinante definido de acordo com a gramática alvo, não permitindo o seu uso nas estruturas contendo nomes de partes do corpo, quando foi veiculada a interpretação inalienável. Neste caso, o determinante definido foi substituído pelo pronome possessivo.

Em relação ao mesmo uso com nomes relacionais, também examinados nesta tese, observou-se que estes, diferentemente dos nomes de partes do corpo, podem coocorrer, inclusive na gramática adulta do inglês, vinculando a leitura inalienável. Isso indica, portanto, que, nesta língua, o estatuto dos determinantes definidos que constituem tais estruturas é diferente, sendo determinantes definidos substantivos, no caso em que há um nome de parte do corpo envolvido, e determinantes definidos expletivos, no caso em que há um nome relacional envolvido. Já em PB, esses determinantes poderiam ser expletivos em ambos os casos.

Palavras-chave aquisição da linguagem, posse inalienável, determinante definido,

(8)
(9)

ABSTRACT In order to examine the acquisition of inalienable possessive structures in Brazilian Portuguese (BP), this research, based on the Generative Grammar approach and, consequently, on the Innateness Hypotesis, establishes a parallel with other languages, such as French, Spanish and English.

It is an interesting fact that, in this context, BP seems to present the opposite pattern found in English – at least in which concerns to cooccurrences of body-parts names and definite determiners – and also does not behave similarly to Spanish and French, showing a unique way of building inalienable possession constructions.

Following, among others, Guéron (1985), Vergnaud and Zubizarreta (1992), Pérez-Leroux et al. (2002a,b), Floripi and Nunes (2009), and Mendes (2010), the current study tests the acquisition of inalienable possessive structures in BP and English, assuming that English-speaking children start with the same grammar as BP-speaking children do. This first grammar would allow inalienable interpretation being carried by possessive pronouns as well as definite determiners introducing any kind of name – body-parts names or relationship names.

The experimental study consisted of two sets of tests, one of them with body-parts names under Truth Value Judgment Task and Picture Selection Task, and another one with relationship names under Truth Value Judgment Task. Both types are techniques that allow one to obtain interpretational judgments indirectly, which is indispensable when it comes to trials involving children.

Confirming the literature findings, the difference between BP grammar and English grammar appeared around the age of 6;0, when English-speaking children approach the target grammar, in which the presence of the possessive pronoun is what allows the inalienable interpretation and the use of definite determiners is restricted to alienable possession constructions with body-parts names.

In other hand, when relationship names are present in the structure, it was noted that they can cooccour with definite determiners even when carrying inalienable interpretation. Therefore, it indicates a difference in the status of definite determiners in such language: there are substantive definite determiners occurring with body-parts names, while there are expletive definite determiners occourring with relationship names. In BP, however, in both cases it could be the case in which there are expletive definite determiners occurring.

Keywords language acquisition, inalienable possession, definite determiners,

(10)
(11)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

PARTE I DA TEORIA PARA A PRÁTICA

A POSSE INALIENÁVEL NA LITERATURA 11

1. CAPÍTULO I

ESTRUTURAS DE POSSE NO PB: POSSE FUNCIONAL 13

1.1. Introdução 15 1.2. A gramática adulta 16 1.2.1. Critério morfológico 24 1.2.2. Critério distribucional 31 1.2.3. Critério temático 33 1.3. A gramática infantil 53 1.4. Sumarizando o capítulo 59 2. CAPÍTULO II

ESTRUTURAS DE POSSE NO PB: POSSE INALIENÁVEL 63

2.1. Introdução 65

2.2. Uma alternativa tipológica 66

2.3. Um estudo diacrônico 79

2.4. Estratégias sincrônicas no PB adulto 87

2.5. Aquisição: posse inalienável & determinantes definidos 102

2.5.1. Hipóteses & previsões 108

2.6. Sumarizando o capítulo 113

PARTE II DA PRÁTICA PARA A TEORIA

A AQUISIÇÃO DA POSSE INALIENÁVEL EM PB& INGLÊS:

UM ESTUDO COMPARATIVO 117

3. CAPÍTULO III

POSSE ALIENÁVEL & INALIENÁVEL:

EXPERIMENTOS COM NOMES DE PARTES DO CORPO 119

3.1. Introdução 121

3.2. Métodos & materiais 122

3.2.1. Tarefa de Julgamento de Valor de Verdade 124

3.2.2. Tarefa de Seleção de Figura 139

3.3. Variáveis & condições 144

3.4. Sujeitos 151

(12)

3.5.1. Tarefa de Julgamento de Valor de Verdade 153 3.5.1.1. Condição 1:

determinante definido & leitura inalienável 154 3.5.1.2. Condição 2:

determinante definido & leitura alienável 161 3.5.1.3. Condição 3:

pronome possessivo & leitura inalienável 165 3.5.1.4. Condição 4:

pronome possessivo & leitura alienável 170

3.5.2. Tarefa de Seleção de Figura 175

3.5.2.1. Condição 1 & 2:

determinante definido & leitura (in)alienável 176 3.5.2.2. Condição 3 & 4:

pronome possessivo & leitura (in)alienável 180

3.6. Sumarizando o capítulo 185

4. CAPÍTULO IV

POSSE ALIENÁVEL & INALIENÁVEL:

EXPERIMENTOS COM NOMES RELACIONAIS 189

4.1. Introdução 191

4.2. Métodos & materiais 192

4.3. Variáveis & condições 206

4.4. Sujeitos 209

4.5. Resultados & discussão 211

4.5.1. Condição 1:

determinante definido & leitura inalienável 212 4.5.2. Condição 2:

determinante definido & leitura alienável 216 4.5.3. Condição 3:

pronome possessivo & leitura inalienável 222 4.5.4. Condição 4:

pronome possessivo & leitura alienável 226

4.6. Sumarizando o capítulo 231 CONCLUSÃO 235 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 249 ANEXOS 261 ANEXO I 263 ANEXO II 265 ANEXO III 267

(13)

Aos meus pais, Edson e Marília. E aos linguistas tão possessivos quanto eu.

(14)
(15)

AGRADECIMENTOS Há quase 20 anos, numa aula de redação da 5° série – se não me falha a memória –, nos era dada a tarefa de escrever um parecer clínico sobre um determinado caso psicológico. Não lembro bem qual era o problema-alvo por trás daquela produção textual juvenil, mas nunca me saiu da cabeça a imagem de assinar, ao pé das minhas fartas dez linhas escritas à lápis de ponta grossa, um pomposo e redondo Dra. Fernanda Mendes. Coincidência ou destino, acabei caindo no caminho que me levou à possibilidade de assinar meu nome com o ilustre título que eu almejava ainda quando criança. O que eu não fazia ideia naquela época é que, na verdade, era o caminho em se tornar doutora que fazia daquelas três-letras-e-um-ponto uma coisa especial à frente do nome.

Durante os cinco anos de doutorado que constituem esse caminho, tive o prazer de encontrar inúmeras pessoas – da área e não – que ajudaram com que eu me tornasse o ser humano – acadêmico e não – que eu sou hoje. E é a elas, essas minhas partes inalienáveis – inerentes ou estendidas –, que eu dedico as próximas linhas.

Em primeiro lugar, eu agradeço a Deus, aos orixás – em especial Oxum, Oxóssi, Ogum e Oxalá – e às entidades que me guiam e me abrem caminhos desde sempre.

À minha família, essa grande parte inalienável inerente e estendida da minha vida: aos meus pais, Edson e Marilia, e às suas respectivas companheiras, Carla e Madona, além do irmão de coração que eu ganhei já na fase adulta, João Victor. Embora muitas vezes tenha sido difícil para vocês entenderem exatamente o que significa a pesquisa científica e a rotina que ela exige, vocês me apoiaram em todas as minhas decisões profissionais e pessoais deste breve-longo período, mesmo sabendo que isso significaria um ninho vazio com visitas cada vez menos frequentes.

À minha orientadora, Ruth Lopes, pelo exemplo profissional de ética e seriedade, de organização e comprometimento, de carinho e atenção. Por se preocupar comigo, com a tese e com os prazos; por me puxar as orelhas ou por simplesmente me puxar para o real, me mostrando que, ainda que haja muito a ser pesquisado, recortes são necessários. Por me apresentar tantas oportunidades, por alargar meus horizontes em relação à vida acadêmica, por me incentivar à pesquisa e à docência. Por ser a professora e pesquisadora que eu quero ser quando eu crescer. Muito obrigada, Ruth!

Aos professores das bancas: Edson Françozo, Rosa Attié Figueira e Sonia Cyrino, pela discussão do meu projeto na banca de entrada do doutorado; Elaine Grolla e

(16)

Esmeralda Negrão, por terem feito parte da banca de qualificação da tese e pelas contribuições mais-do-que valiosas que nortearam a escrita final deste trabalho; e Maria Cristina Figueiredo Silva, Cilene Rodrigues, Ester Scarpa e Sonia Cyrino, por terem aceitado participar da banca de defesa desta tese e por terem contribuído enormemente com a versão final desta pesquisa.

Aos demais professores, permanentes ou passageiros, do IEL que participaram da minha formação, seja como pesquisadora, como docente ou como pessoa. Muito obrigada pelas suas aulas maravilhosas, cheias de insights, que eram mais – muito mais – do que passeios linguísticos: Ester Scarpa, Sonia Cyrino, Ruth Lopes, Plínio Barbosa, Cristina Schmitt, Teresa Cristina Wachowicz, Charlotte Galves e Juanito Avelar.

Aos dois últimos, eu dedico um agradecimento especial. À Charlotte Galves, por ter me orientado na qualificação fora de área e ter tido muita paciência para me ensinar a lidar com o Corpus Histórico do Português Tycho Brahe. E ao Juanito Avelar, por me permitir provar do lado doce(nte) da linguística sendo sua PED por um semestre.

Gostaria de agradecer também à Maria Cristina Figueiredo Silva pela oportunidade de ter sido sua tutora durante um semestre na disciplina de Aquisição da Linguagem, ministrada pela modalidade de Ensino à Distância da UFSC.

Ao Marcelo Ferreira, por ter me acolhido gentilmente como aluna ouvinte nas suas aulas de semântica na USP e aos professores Carlos Mioto, Emílio Pagotto, Roberta Pires de Oliveira, Marina Augusto, Letícia Correia, Luiz Amaral, Marcos Maia, José Neto, Joel Wallenberg, Caitlin Light e Jeremy Hartman pelas suas observações acerca da minha pesquisa durante congressos e conferências ou por simplesmente estarem presentes, trazendo inspiração pra quem ainda é

peixe-pequeno.

Also, I would like to thank those professors, from the upper side of Ecuador, who made my academic year at UMass a great pleasure, starting with Thomas Roeper. Tom, thank you for your patience and caring with me during the time I was being sponsored by you. Thank you very much for teaching me how to build experiments and how to apply them to my subjects. Thank you for making me part of Acquisition Lab and of LARC meetings. Thank you for so many things!

Thank you, Lyn Frazier and Brian Dillon, for your awesome classes and for all the new ideas that are still popping on my mind about my research. Thank you, Magda Oiry, and Rajesh Bhatt, for your comments on my work and thank you, Jill de Villiers, for having me at Smith College to discuss and help me with my experiments. Thank you, Barbara Pearson, for helping me with the process of

(17)

applying my experiments.

Às escolas americanas, Sunderland Elementary School, Bridge Street School e

Center for Early Education and Care, e às escolas brasileiras, Escola Dinâmica,

Escola Municipal de Educação Infantil Agostinho Páttaro e Escola Estadual Maria Alice Colevati Rodrigues, que autorizaram a execução da pesquisa, bem como aos pais dos alunos, que autorizaram a sua participação nos experimentos, bem como o a utilização dos seus dados neste estudo.

Aos que participaram ativamente da montagem dos experimentos, fazendo parte das imagens, do áudio ou da aplicação: Gustavo Freire – Pedrinho-Bill –, Athulya Aravind – Maria-Mary –, Belen Alfaro – Ana-Liz –, Alissa Castine, Rebecca Hoell e Spencer Garfield. Thanks, guys! E ainda àqueles que participaram como grupo controle – que a ética me impede citar os nomes, mas vocês sabem quem são. Obrigada!

Aos amigos, essa família escolhida, que se torna mais inalienável com o passar dos anos, eu agradeço imensamente por fazerem parte dessa jornada, sendo ou não parte integrante do clube dos linguistas.

Aos amigos de Florianópolis, pelo apoio desde a época em que éramos apenas

calouros ufxquentos e nos sentávamos no varandão do Básico pra tomar café ruim

e discutir linguística e literatura. Em especial, ao Jonas, meu mano do coração, que sempre acreditou em mim, me apoiou e esteve presente – mesmo que só por Skype – quando a saudade de casa apertou. Obrigada por me mostrar o lado pitoresco da vida e por incentivar a minha vontade de escrever! Ao Flávio, que sempre foi meu fiel escudeiro acadêmico. Obrigada pelo apoio constante e pelo abrigo em Curitiba! À Flávia, por ser meu oposto potencial e proporcional, equilibrando meus exageros constantes. Obrigada por ser! Ao Cadu, meu companheiro de mestrado que segue torcendo por mim e sendo uma companhia maravilhosa de risadas.

Ao Samuca, por tanto em tantos anos. Ao Lucas e ao Matheus, por serem meus caranguejinhos. À Letícia, por ser essa reserva de energia e disposição e pelo apoio e carinho infinitos. À Karen e ao Téo, em especial, por terem me acompanhado durante a escrita enlouquecida da qualificação desta tese. Ao povo das exatas ufxquentas e agregados, Lucas, Natan, Mara, Daiana, Cristiano, Alex, pela companhia divertida durante minhas visitas à ilha da magia. Ao Antônio Carlos, o Toninho, e todo o povo do Ilê-Axé, que sempre torceram por mim, entenderam o meu afastamento e me mandaram energias boas para que eu pudesse continuar meu trabalho.

Ao meu carioca da gema predileto, Pedro, que se faz sempre presente na minha vida acadêmica e pessoal. Obrigada por essa amizade que não sofre com as

(18)

areias do tempo nem com os quilômetros de distância!

Aos amigos da Terra do Nunca que, de alguma forma, acompanharam essa caminhada – seja no início, no meio ou no fim. Às minhas inalienáveis

Glossmurosas, que viraram minhas irmãs: Flavinha, pelos nossos altos e baixos

telepáticos, pelo apoio e incentivo constantes e pelas conversas intermináveis; e Tani, pelo primeiro abraço de ‘parabéns, você entrou no doutorado!’’, por ser minha estrellita sempre a brilhar, por estar sempre disposta a me ouvir e me aconselhar e por fazer de mim a madrinha mais orgulhosa.

Ao povo da ‘finada’ Djowlende, os gêmeos Fael e Biel, Raul, Alex, Carlinha, Fer, Nahuel, Johnny, Biel e Lidi, pela melhor companhia durante os primeiros anos e ao povo da ‘finada’ Chorume, Abel, Dani e Leo, pelas imensas alegrias – em especial, um ‘Obrigadãozãozão, Leo!’’ pelas rodadas estatísticas e pela paciência em me explicar inúmeras vezes o que fazer com tantos números!

À Mariconada pela companhia permanente mesmo em ‘épocas ciganas’, pelas discussões ifichianas tão necessárias na minha vida, pelo teto em Campinas-Barão Geraldo, pela torcida e pelo apoio inabalável, tanto em relação à minha vida acadêmica quanto com respeito à minha vida pessoal. À Soraia, pelas risadas mais altas e mais gostosas e pelas melhores onomatopeias. Ao Marcos, pela melhor playlist da madrugada e pelas aventuras resenhosas eternas. Pela nossa amizade inalielinda!

Ao povo da Aldeia, Daniel, David, Fer, Ju, Leo – e, naturalmente, os outros Matricardi, Vivi e Marcos, Caio e Tiago – pela companhia no último ano, pela vivência em família e pelo melhor bloco de carnaval de Barão Geraldo. Em especial, um obrigado-com-abraço-apertado-pulando-e-fazendo-weeee ao Gustavo, por ter me apresentado a Aldeia, por ter me abrigado várias vezes, por me mostrar o lado artístico do dia-a-dia, por entender as minhas razões sem lógica e por ter compartilhado tanto comigo até se tornar esse meu pedaço inalienável hiperativo.

E ao povo da Bombástica, Yvonne & Marco, Felipe, Tiago, Marcela e Magnun, pela companhia, pela força e pela acolhida nos últimos tempos da tese. Em especial, ao Magnun, pela nossa amizade tão jovem, tão sincera e tão intensa, pelo carinho, pelos mates, pelas nossas conversas gargalhantes antes de dormir, pelas preocupações, pelas festas, pelos planos e pelas discussões linguísticas, no IEL ou fora dele.

Aos meus queridíssimos Dalson, Rafa e Ivan, pela companhia, pelo carinho e pela força. Ao Dalsínnn, pelas risadas de doer a barriga, pela sinceridade e pelas expressões memoráveis. Ao Rafa, pelo companheirismo e pela fofura. Ao Ivan, pelas alfinetadas carinhosas.

(19)

Aos meus irmãos de orientadora, Gustavo, Cláudia, Pablo, Ruan, Maísa, Letícia e Carla, pelos momentos compartilhados dentro e fora do IEL. À Maísa, em especial, pela ajuda com as burocracias éticas. E, ao Gus, pelo pedaço de vida americana que pudemos ter juntos, que acabou sendo um grande impulso para o começo de um ano incrível fora do país... E, claro, pela força e pelo incentivo de sempre.

Em especial, eu agradeço à Carla e ao Harley por terem sido os melhores avós-parteiros-de-tese de todos os tempos. Obrigada aos dois por me terem na sua casa, seja durante o período da escrita ou mesmo fora dele, por cuidarem de mim e por me ajudarem a parir esse trabalho. Obrigada pelas discussões sobre os pontos nebulosos da minha pesquisa, por me incentivarem a pensar em detalhes para os quais eu não havia atentado anteriormente, por compartilharem curiosidades linguísticas e fonoaudiológicas. Obrigada pelas risadas, pelas comidinhas, pelos chás e cafés. Muito obrigada pelos momentos diários que me impediram de enlouquecer!

Aos colegas do IEL, que de alguma forma contribuíram com este trabalho: Vinícius, Marcos, Cristina, Erik, Lívia, Fábio, Francisco, Tatiane, Carolina, Eva, Diego, Aquiles, Aroldo, Lílian, Aline, Elisângela, Juliana, Lara e Pablo. E aos amigos que, na UNICAMP ou não, me deram forças para seguir à sua própria maneira: Petty, Pâmela, Larissa, Raquel, Thiago, Maura, Joes, Mariana e Thiago, Fabrício, Valter, Victor, Suelen, Priscila, Igor e Amélie, Saulo, Marcus, Ralph, e Sara (in memoriam).

To my friends from ‘Murica, who made my research time in USA waaaaay better. Sorry, guys, but ladies first. Megan-MOGAN-Megz, thank you very much for so, so many things, grumpy pixie! For being a great friend, a great company, a shoulder where I could rest so many tears. Thank you for helping me, for hearing me, for being present during all this time, cheering for me and telling me that I would make it, even with so many countries between us. Thank you for making me part of your land, of your culture and of your family. I love you ‘a hell of a lot’, guuurl.

I would like to say ‘thank you, Athulya’, our Smith-MIT girl, not just for helping me with my experiments, but also for being such a great friend at Northampton-Boston. My favorite boy-band – Michael, Jon Ander, Nicholas, Ethan, Hsin-Lun, and Walter – thank you for being so kind just in the way each of you knows how to be. Mike, thanks for sharing your acquisition thoughts with me, for being my first linguistic friend abroad and for introducing me to all these people as awesome as you. Basque, thanks for being my rommie, my friend, and my company of stupid ideas – rolling on the ice, YAY! Nick, my ‘hella rad’ friend, thanks for so many good memories from us at Linguistics department or around NoHo, thanks for all our

(20)

crazy conversations switching from English to Portuguese and to Spanish, thanks for being this lovely-grumpy-guy. Ethan, thanks for becoming my friend and for so many awkward-funny moments! Hsin-Lun, my dear friend, thanks for being a great company over that cold and lonely January. Walter, thanks for being my coworker at Acquisition Lab, for being my friend, for your company over a whole night at JFK, and for making me laugh out loud so many times, Boo!

To all other students from UMass Linguistics department who helped me in some way during my time there, my sincere acknowledgements: Stefan, Brian, Jérémy, Amanda, Tracy, Haixia, Yankgsook, Yohei, Sean, Ilaria, Diego, María, Andie, Fiona, and Raquel.

Thank you, Barbara, Liz, Ethan, and Jeff, for having me at your house and being like a family to me. Also, thank you, NoHo friends, for bringing me an American life at its best: Allie, Babs, Camille, Luisa, Manuela, Jesse, Harita, Chetan, Belen, Alexandre, Cibele, Silvia, Indianara, Mehdi, Mohammed, Sanyie, and Luke.

And thank you, Somerdays, for being enormously kind with me and for making me feel as part of your family: Michelle & Dariush and Brian & Tara. Also, thank you, Megan’s friends who I had the pleasure to have met and had shared so many good moments with – in New York, in Providence, or in North Carolina: Liz & Jared, Amanda & Justin, Nick & Kelly, Jadrian & Adj, Danielle, and Eugene.

À Karla, pela sabedoria e pela sorte de ter aparecido no momento justo – da minha vida acadêmica e pessoal. Pelo apoio, pela paciência, pelos conselhos calmantes, pela companhia e pela gatoterapia. Por me alegrar nos dias bons e me salvar nos dias ruins. Pelo carinho, pelo companheirismo e pelo respeito. Pela presença e por sermos um time. Por tanto! Inclusive por se tornar essa minha parte inalienável candanga <3

À Universidade Estadual de Campinas e à University of Massachusetts at Amherst e seus respectivos departamentos de linguística. Em especial, gostaria de agradecer à Rose, ao Cláudio e ao Miguel, funcionários da secretaria da pós-graduação do IEL, por serem sempre tão simpáticos, prestativos e atenciosos comigo e me acompanharem em todos os processos burocráticos pelos quais eu passei durante esses anos. E também aos funcionários da biblioteca do IEL, obrigada pela simpatia diária, especialmente nos últimos meses em que a biblioteca passou a ser o meu segundo lar.

(21)

“Eu quase que nada sei.

Mas desconfio de muita coisa.”

Grande sertão: veredas Guimarães Rosa

(22)
(23)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Estrutura arbórea – nomes deverbais (agente/experienciador e tema)

34 Figura 1.2: Estrutura arbórea – sintagma nominal (Teoria X-barra) 35 Figura 1.3: Estrutura arbórea – sintagma nominal (Abney, 1987) 35 Figura 1.4: Estruturas arbóreas – sintagma nominal contendo Agr nominal

(a-b) e determinante lexical (c)

37 Figura 1.5: Estrutura arbórea – sintagma nominal (Boff, 1991) 38 Figura 1.6: Estrutura arbórea – sintagma nominal (Giorgi e Longobardi,

1991)

41 Figura 1.7: Estrutura arbórea – sintagma nominal (Giorgi e Longobardi,

1991)

42 Figura 1.8: Estruturas arbóreas – Parâmetro estrutural de línguas românicas

(a) e de línguas germânicas (b) (Giorgi e Longobardi, 1991)

44 Figura 1.9: Estruturas arbóreas – variação entre as formas de 3ª pessoa seu

(a) e dele (b) em PB (Cerqueira, 1993)

45 Figura 1.10: Estrutura arbórea – sintagma nominal (Cerqueira, 1996) 47 Figura 1.11: Estruturas arbóreas – sintagma nominal (Cerqueira, 1999) 48 Figura 1.12: Estrutura arbórea – sintagma nominal (Picallo, 1991 apud

Castro, 2006)

49 Figura 1.13: Estrutura arbórea – sintagma nominal (Castro, 2006) 52 Figura 1.14: Estruturas arbóreas – sintagma nominal (Cerqueira, 1999) 55 Figura 1.15: Estruturas arbóreas – sintagma nominal (Cerqueira, 1999) 56 Figura 2.1: Marcação de interpretação (in)alienável nas línguas austronésias 69 Figura 2.2: Estrutura arbórea – sintagma possuído como anáfora 92

Figura 2.3: Resumo dos sistemas – PB e inglês 113

Figura 3.1: Determinante definido & Leitura inalienável – TJVV, objeto direto 128 Figura 3.2: Determinante definido & Leitura inalienável – TJVV, sujeito da

passiva

129 Figura 3.3: Determinante definido & Leitura inalienável – TJVV, complemento

de PP

130 Figura 3.4: Determinante definido & Leitura alienável – TJVV, objeto direto 131 Figura 3.5: Determinante definido & Leitura alienável – TJVV, sujeito da

passiva

132 Figura 3.6: Determinante definido & Leitura alienável – TJVV, complemento

de PP

133 Figura 3.7: Pronome possessivo & Leitura inalienável – TJVV, objeto direto 134

(24)

Figura 3.8: Pronome possessivo & Leitura inalienável – TJVV, sujeito da passiva

135 Figura 3.9: Pronome possessivo & Leitura inalienável – TJVV, complemento

de PP

136 Figura 3.10: Pronome possessivo & Leitura alienável – TJVV, objeto direto 137 Figura 3.11: Pronome possessivo & Leitura alienável – TJVV, sujeito da

passiva

138 Figura 3.12: Pronome possessivo & Leitura alienável – TJVV, complemento

de PP

139 Figura 3.13: Determinante definido & Antecedente anafórico – TSF, objeto

indireto

141 Figura 3.14: Pronome possessivo & Antecedente anafórico – TSF, objeto

indireto

142 Figura 3.15: Determinante definido & Antecedente exofórico – TSF, objeto

indireto

143 Figura 3.16: Pronome possessivo & Antecedente exofórico – TSF, objeto

indireto

144 Figura 4.1: Determinante definido & Leitura inalienável – TJVV, objeto direto 199 Figura 4.2: Determinante definido & Leitura inalienável – TJVV, sujeito 199 Figura 4.3: Determinante definido & Leitura inalienável – TJVV, objeto

indireto

200 Figura 4.4: Determinante definido & Leitura alienável – TJVV, objeto direto 201 Figura 4.5: Determinante definido & Leitura alienável – TJVV, sujeito 201 Figura 4.6: Determinante definido & Leitura alienável – TJVV, objeto indireto 202 Figura 4.7: Pronome possessivo & Leitura inalienável – TJVV, objeto direto 203 Figura 4.8: Pronome possessivo & Leitura inalienável – TJVV, sujeito 203 Figura 4.9: Pronome possessivo & Leitura inalienável – TJVV, objeto indireto 204 Figura 4.10: Pronome possessivo & Leitura alienável – TJVV, objeto direto 205 Figura 4.11: Pronome possessivo & Leitura alienável – TJVV, sujeito 205 Figura 4.12: Pronome possessivo & Leitura alienável – TJVV, objeto indireto 206 Figura C.1: Estruturas arbóreas – posse alienável contendo nomes de partes

do corpo

238 Figura C.2: Estruturas arbóreas – posse inalienável contendo nomes de

partes do corpo

239 Figura C.3: Estruturas arbóreas – posse alienável contendo nomes

relacionais

241 Figura C.4: Estruturas arbóreas – posse inalienável contendo nomes

relacionais

(25)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1.1: Paradigma possessivo (GT) – PB 18

Quadro 1.2: Paradigma possessivo – inglês 19

Quadro 1.3: Paradigma possessivo falado – PB 20

Quadro 2.1: Tipos de nomes quanto ao grau de inalienabilidade 77

Quadro 2.2: Gradação de inalienabilidade 79

Quadro 2.3: Leitura permitida com o determinante– inglês e francês/PB 90 Quadro 2.4: Leitura permitida com o determinante definido – inglês e PB 97 Quadro 2.5: Leitura permitida de acordo com tipos de determinantes – inglês

e PB

111 Quadro 3.1: Condições & Sentenças-teste – TJVV, objeto direto 147 Quadro 3.2: Condições & Sentenças-teste – TJVV, sujeito da passiva 147 Quadro 3.3: Condições & Sentenças-teste – TJVV, complemento de PP 147 Quadro 3.4: Condições & Sentenças-teste – TSF, objeto indireto 148 Quadro 3.5: Condição 1 – Determinante definido & Leitura inalienável, TJVV 154 Quadro 3.6: Condição 2 – Determinante definido & Leitura alienável, TJVV 161 Quadro 3.7: Condição 3 – Pronome possessivo & Leitura inalienável, TJVV 166 Quadro 3.8: Condição 4 – Pronome possessivo & Leitura alienável, TJVV 171 Quadro 3.9: Condições 1 e 2 – Determinante definido & Leitura (in)alienável

& Antecedente Anafórico/Exofórico, TSF

176 Quadro 3.10: Condições 3 e 4 – Pronome possessivo & Leitura (in)alienável

& Antecedente Anafórico/Exofórico, TSF

181

Quadro 3.11: Condições – TJVV e TSF 186

Quadro 4.1: Condições & Sentenças-teste – TJVV, objeto direto 208 Quadro 4.2: Condições & Sentenças-teste – TJVV, sujeito 208 Quadro 4.3: Condições & Sentenças-teste – TJVV, objeto indireto 209 Quadro 4.4: Condição 1 – Determinante definido & Leitura inalienável, TJVV 212 Quadro 4.5: Condição 2 – Determinante definido & Leitura alienável, TJVV 217 Quadro 4.6: Condição 3 – Pronome possessivo & Leitura inalienável, TJVV 222 Quadro 4.7: Condição 4 – Pronome possessivo & Leitura alienável, TJVV 227

Quadro 4.8: Condições – TJVV 232

(26)
(27)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico3.1: Condição 1 – Determinante definido & Leitura inalienável, TJVV, inglês

155 Gráfico 3.2: Condição 1 – Determinante definido & Leitura inalienável, TJVV,

PB

157 Gráfico 3.3: Condição 2 – Determinante definido & Leitura alienável, TJVV,

inglês

162 Gráfico 3.4: Condição 2 – Determinante definido & Leitura alienável, TJVV,

PB

164 Gráfico 3.5: Condição 3 – Pronome possessivo & Leitura inalienável, TJVV,

inglês

167 Gráfico 3.6: Condição 3 – Pronome possessivo & Leitura inalienável, TJVV,

PB

169 Gráfico 3.7: Condição 4 – Pronome possessivo & Leitura alienável, TJVV,

inglês

172 Gráfico 3.8: Condição 4 – Pronome possessivo & Leitura alienável, TJVV,

PB

174 Gráfico 3.9: Condições 1 e 2 – Determinante definido & Leitura (in)alienável,

TSF, inglês

177 Gráfico 3.10: Condições 1 e 2 – Determinante definido & Leitura

(in)alienável, TSF, PB

179 Gráfico 3.11: Condições 3 e 4 – Pronome possessivo & Leitura (in)alienável,

TSF, inglês

182 Gráfico 3.12: Condições 3 e 4 – Pronome possessivo & Leitura (in)alienável,

TSF, PB

184 Gráfico 4.1: Condição 1 – Determinante definido & Leitura inalienável, TJVV,

inglês

213 Gráfico 4.2: Condição 1 – Determinante definido & Leitura inalienável, TJVV,

PB

215 Gráfico 4.3: Condição 2 – Determinante definido & Leitura alienável, TJVV,

inglês

218 Gráfico 4.4: Condição 2 – Determinante definido & Leitura alienável, TJVV,

PB

220 Gráfico 4.5: Condição 3 – Pronome possessivo & Leitura inalienável, TJVV,

inglês

223 Gráfico 4.6: Condição 3 – Pronome possessivo & Leitura inalienável, TJVV,

PB

(28)

Gráfico 4.7: Condição 4 – Pronome possessivo & Leitura alienável, TJVV, inglês

228 Gráfico 4.8: Condição 4 – Pronome possessivo & Leitura alienável, TJVV,

PB

(29)

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1: Total de sujeitos – partes do corpo, inglês 151

Tabela 3.2: Total de sujeitos – partes do corpo, PB 152

Tabela 3.3: Condição 1: valor de p – partes do corpo, TJVV, inglês 156 Tabela 3.4: Condição 1: valor de p – partes do corpo, TJVV, PB 158 Tabela 3.5: Condição 1: valor de p – partes do corpo, TJVV, inglês & PB 160 Tabela 3.6: Condição 2: valor de p – partes do corpo, TJVV, inglês 163 Tabela 3.7: Condição 2: valor de p – partes do corpo, TJVV, PB 165 Tabela 3.8: Condição 3: valor de p – partes do corpo, TJVV, inglês 168 Tabela 3.9: Condição 3: valor de p – partes do corpo, TJVV, PB 170 Tabela 3.10: Condição 4: valor de p – partes do corpo, TJVV, inglês 173 Tabela 3.11: Condição 4: valor de p – partes do corpo, TJVV, PB 175 Tabela 3.12: Condição 1 & 2: valor de p – partes do corpo, TSF, inglês 178 Tabela 3.13: Condição 1 & 2: valor de p – partes do corpo, TSF, PB 180 Tabela 3.14: Condição 3 & 4: valor de p – partes do corpo, TSF, inglês 183 Tabela 3.15: Condição 3 & 4: valor de p – partes do corpo, TSF, PB 185

Tabela 3.16: Sujeitos – inglês e PB 186

Tabela 4.1: Total de sujeitos – relacionais, inglês 209

Tabela 4.2: Total de sujeitos – relacionais, PB 211

Tabela 4.3: Condição 1: valor de p – relacionais, TJVV, inglês 214 Tabela 4.4: Condição 1: valor de p – relacionais, TJVV, PB 216 Tabela 4.5: Condição 2: valor de p – relacionais, TJVV, inglês 219 Tabela 4.6: Condição 2: valor de p – relacionais, TJVV, PB 221 Tabela 4.7: Condição 3: valor de p – relacionais, TJVV, inglês 224 Tabela 4.8: Condição 3: valor de p – relacionais, TJVV, PB 226 Tabela 4.9: Condição 4: valor de p – relacionais, TJVV, inglês 229 Tabela 4.10: Condição 4: valor de p – relacionais, TJVV, PB 231

Tabela 4.11: Sujeitos – inglês e PB 232

(30)
(31)
(32)
(33)

Esta pesquisa visa a examinar, partindo da abordagem da Gramática Gerativa e assumindo a Hipótese Inatista chomskyana, a aquisição de estruturas possessivas inalienáveis, definidas como estruturas possessivas especiais em que o possuído e o possuidor estabelecem uma relação de posse que não pode ser transferida a outro possuidor qualquer.

Seguindo pesquisas como as de Guéron (1985), Vergnaud e Zubizarreta (1992), Pérez-Leroux et al. (2002a,b), Floripi e Nunes (2009) e Mendes (2010), a presente pesquisa realiza um estudo experimental, coletando dados transversais de crianças e adultos por meio de testes de compreensão, acerca da aquisição desta estrutura possessiva em português brasileiro (doravante PB), estabelecendo um paralelo comparativo com a aquisição dessas mesmas estruturas em inglês.

A análise das estruturas de posse inalienável são fundamentadas também nas análises propostas para as estruturas possessivas funcionais, definidas como aquelas que contêm um pronome possessivo, por meio do qual a relação de posse é estabelecida na sentença, como em (1a-b), já que as primeiras também podem conter esses elementos, como ilustram os exemplos em (2a-b) abaixo.

(1) a. Eui lavei a minhai caixa.

a’. Eui lavei a caixaj.

b. O Pedroi pintou a moça delei.

b’. O Pedroi pintou a moçaj.

(2) a. Eui lavei a minhai mão.

a’. Eui lavei a mão eci.

b. O Pedroi pintou o irmão delei.

b’. O Pedroi pintou o irmão eci.

Nos exemplos em (2), nos quais é possível ser veiculada a leitura de posse inalienável, o possuidor pode ser realizado lexicalmente dentro do sintagma possuído como um pronome possessivo simples, como minha em (2a), ou um

(34)

pronome possessivo preposicionado, como dele em (2b); ou ainda, existe a possibilidade de o possuidor ser uma categoria vazia ec1 coindexada a um

possuidor externo, no caso, o sujeito da sentença2 eu ou o Pedro, como em (2a’) e (2b’).

Em ambos os casos – com o pronome possessivo presente ou não –, a interpretação seria a de que o sujeito realiza uma ação em uma parte do próprio corpo ou em alguém com quem ele estabelece um tipo de relação não-transferível, isto é, o sujeito da sentença lava a própria mão – e não a de outra pessoa – e pinta o próprio irmão – e não o de outra pessoa.

Já nos exemplos em (1) não é possível estabelecer exatamente o mesmo tipo de leitura mesmo quando presentes pronomes possessivos, uma vez que nomes tais como caixa e moça não estabelecem nenhum tipo de relação não-transferível, tais como parte-todo ou parentesco.

Assim, no exemplo em (1a), é sabido que a caixa pertence ao sujeito da sentença eu por meio da presença do pronome possessivo minha, no entanto, essa posse é alienável e, na falta deste elemento, como em (1a’), essa relação não se perpetua. Do mesmo modo, em (1b), em que a moça corresponde à moça que cabe ao sujeito da sentença em um determinado contexto3 por meio da presença do pronome possessivo dele, e, tal qual no exemplo acima, na falta deste, como em (1b’), qualquer que tenha sido a relação estabelecida em (1a’) não se perpetua.

Nos exemplos em (2), no entanto, também existe a possibilidade de ser veiculada a leitura de posse alienável. No caso de (2a-a’), o nome de parte do                                                                                                                

1 Do inglês, empty category. Adiante, essa categoria vazia será classificada como pro ou t, sendo a 2 Em outras línguas românicas, tais como o francês e o espanhol, existe a possibilidade de o possuidor nulo ser relacionado ao clítico dativo de posse, além de ao sujeito da sentença, como em (i) e (ii) respectivamente. No entanto, no PB atual falado, essa possibilidade não está mais disponível como uma construção produtiva.

(i) Jean sei lave la main eci. (ii) Juan sei lava las manos eci.

3 Que sequer pode se dizer que se trata de uma relação de posse convencional, dado que um ser humano não possui outro.

(35)

corpo pode não tomar um argumento possuidor, no sentido de Vergnaud e Zubizarreta (1992), sendo um objeto independente4, como em (3a) e (3b) abaixo.

(3) a. Eui lavei a minhai mão.

b. Eui lavei a mãoj.

No caso de (2b-b’), o pronome possessivo ou a categoria vazia, que também pode ser de natureza pronominal (pro) – e não mais anafórica (t), como se apresenta no exemplo acima –, podem ser correferentes com um possuidor fora do domínio da sentença, como em (4a) e (4b) abaixo.

(4) a. (O Joãoj disse que) O Pedroi pintou o irmão delej.

b. (O Joãoj disse que) O Pedroi pintou o irmão proj.

Ou ainda, é possível que seja veiculada a leitura alienável no caso em que o possuidor do sintagma possuído, lexicalizado como um pronome possessivo simples ou preposicionado, não seja relacionado ao sujeito da sentença – mesmo quando contém tipos de nomes disponíveis para esta vinculação –, como em (5a) e (5b) abaixo.

(5) a. O Pedroi lavou a minhaj mão.

a’. Eui lavei a mão delej.

b. O Pedroi pintou o meuj irmão.

b’. Eui pintei o irmão delej.

Retomando os exemplos em que é vinculada a leitura inalienável e o possuidor é representado por uma categoria vazia, no caso (2a’-b’), os dois sintagmas – o possuidor nulo (ec = t) e o possuidor externo (Eu, O Pedro) – são                                                                                                                

4 Ou seja, embora seja um objeto que pertença ao sujeito da sentença, não é um objeto que faça parte inalienável dele.

(36)

relacionados por meio de movimento e, por esse motivo, respeitam as exigências a que uma anáfora está submetida.

Quando se tem um nome relacional envolvido, como em (4b), essa categoria vazia também pode ocorrer como um pronome resumptivo (pro), conforme Floripi e Nunes (2009), e, neste caso, a interpretação possessiva inalienável se sujeita às exigências pronominais quando o possuidor externo está acessível – o que não ocorre com nomes de partes do corpo, cujos possuidores nulos são apenas vestígios (t).

Assim, para o estabelecimento da posse inalienável no PB é preciso que haja uma ligação entre o sintagma possuidor e o possuidor nulo do sintagma possuído, sendo o último disponibilizado por nomes semanticamente inalienáveis, ou seja, nomes que denotem relações – como, por exemplo, nomes de partes do corpo e nomes relacionais, respectivamente.

Observa-se que também é preciso que esteja presente um determinante definido na estrutura, como em (6), já que na presença de outros tipos de determinantes, tais como indefinidos ou demonstrativos, ilustrados nos exemplos (7a) e (7b) respectivamente, ou na ausência de qualquer tipo de determinantes, como é o caso de sintagmas nus, em (7c) abaixo, não é possível obter a interpretação inalienável em PB.

(6) O Pedroi lavou a perna ti.

(7) a. O Pedroi lavou uma bocaj5.

b. O Pedroi lavou esse narizj.

c. O Pedroi lavou ø olhosj.

                                                                                                               

5 No caso de nomes inalienáveis não-únicos, como mão, parece haver uma exceção, já que, no exemplo em (i) abaixo, ainda parece estar disponível a leitura inalienável de que o sujeito da sentença realizou a ação descrita pelo verbo em uma das suas próprias mãos.

(i) O Pedroi lavou uma mão ti.

No entanto, ainda nesse contexto, não se trataria de um determinante indefinido, mas de um numeral.

(37)

No entanto, estruturas com determinantes definidos também ocorrem veiculando a leitura alienável em PB, como em (8) abaixo.

(8) O Pedro lavou a perna6.

Porém, neste caso, de acordo com Vergnaud e Zubizarreta (1992), o determinante definido seria um determinante substantivo, diferentemente do determinante definido expletivo que ocorreria em (6) acima, e disponibilizaria apenas a leitura alienável.

Assim, enquanto línguas como o PB apresentariam ambos os tipos de determinantes definidos – expletivos e substantivos –, línguas como o inglês apresentariam apenas determinantes definidos substantivos, o que as diferenciariam em relação à disponibilidade das leituras neste tipo de estrutura.

Portanto, no caso do inglês, exemplos contendo o determinante definido, como em (9a), veiculariam apenas a leitura alienável. Para que a leitura inalienável seja veiculada nesta língua seriam utilizados pronomes possessivos, como em (9b) abaixo.

(9) a. Peter washed the hand. b. Peter washed his hand.

Dessa forma, dado o que foi apresentado acima, enquanto, no inglês, a veiculação da interpretação inalienável se dá de acordo com o determinante presente na sentença, em PB, a sua veiculação depende de uma série de fatores sintático-semânticos, que envolvem o tipo de determinante, o tipo de nome /                                                                                                                

6 Neste caso, trata-se de uma leitura em que o sujeito tenha lavado uma perna alienável, como esclarece o contexto em (i) a seguir.

(i) O João, a Maria e o Pedro estão brincando com o Senhor Cabeça de Batata. Na hora de lavar o brinquedo, a cada uma das crianças foi dada uma parte do corpo: ao João foram dados os olhos, à Maria foi dado o nariz, e ao Pedro foi dada a perna. Assim o

(38)

relação que ele estabelece e a natureza da categoria vazia de possuidor, bem como o respeito às exigências dos Princípios de Ligação (CHOMSKY, 1981), caso em que as categorias vazias de possuidor anafóricas se sujeitariam ao Princípio A e categorias vazias de possuidor pronominais se sujeitariam ao Princípio B.

Baseada nos trabalhos de Pérez-Leroux et al. (2002a,b), esta pesquisa propõe que a aquisição das estruturas possessivas inalienáveis se submeteria à restrição de tipos de determinantes definidos. Isto é, a criança iniciaria com uma gramática na qual estivessem disponíveis determinantes substantivos e expletivos, permitindo ambas as interpretações em estruturas em que eles estivessem presentes – tal como funciona o PB –, para então, de acordo com evidências provenientes do input com respeito ao sistema de possessivos da língua, convergir à gramática-alvo e, no caso do inglês, restringir o uso de determinantes definidos à leitura alienável.

A apresentação desta pesquisa está divida em duas partes. Na Parte I, Da

teoria para a prática – A posse inalienável na literatura, discutem-se, no primeiro

capítulo, intitulado Estruturas de posse no PB: posse funcional, as análises presentes na literatura acerca das estruturas contendo pronomes possessivos e, no segundo capítulo, intitulado Estruturas de posse no PB: posse inalienável, aquelas que dizem respeito às estruturas que constituem a posse inalienável, tendo ou não um pronome possessivo presente.

No Capítulo I, apresenta-se o paradigma possessivo do PB atual falado, suas propriedades morfológicas, distribucionais e temáticas, a fim de justificar a análise adotada nesta pesquisa para o sintagma possuído. Além disso, dados provenientes de estudos sobre a aquisição são exibidos como evidência para essa escolha, dadas as análises disponíveis para explicar como se organiza essa estrutura no PB.

O Capítulo II inicia com uma breve discussão tipológica acerca da maneira como é marcada a inalienabilidade em diferentes tipos de línguas, expondo algumas divergências quanto aos tipos de nomes/relações que fazem parte dessas construções de posse. Em seguida, é apresentado um estudo diacrônico

(39)

sobre as estratégias de marcação de posse inalienável no PE-PB e, dado o percurso diacrônico, são exibidas as estratégias sincrônicas desse tipo de marcação no PB atual falado – além de ser estabelecida uma comparação com o sistema de marcação de outras línguas. O capítulo termina exibindo pesquisas sobre a aquisição desse tipo de estrutura possessiva em diversas línguas, além das hipóteses e previsões aventadas para o PB, a serem testadas no estudo experimental da segunda parte deste trabalho.

Na Parte II, Da prática para a teoria – A aquisição da posse inalienável em

PB & inglês: um estudo comparativo, é apresentada, no terceiro capítulo, intitulado Posse alienável & inalienável: experimentos com nomes de partes do corpo, a

série de testes realizados contendo nomes de partes do corpo e, no quarto capítulo, intitulado Posse alienável & inalienável: experimentos com nomes

relacionais, é apresentada a série de testes que envolve nomes relacionais, uma

vez que, de acordo com o que é discutido mais profundamente no Capítulo II, eles não apresentam um comportamento semelhante, mesmo sendo ambos igualmente classificados, na literatura, como nomes passíveis de ocorrer em estruturas inalienáveis.

Nos Capítulos III e IV são apresentados os métodos utilizados nos dois estudos experimentais, juntamente com a descrição dos testes contendo nomes de partes do corpo e nomes relacionais e os materiais empregados na realização desses testes. Além disso, também são apresentados os sujeitos que participaram das séries experimentais, classificados por faixas etárias, no caso das crianças, e o grupo controle constituído por adultos falantes nativos de inglês e PB. Por fim, são apresentados os resultados obtidos e a discussão gerada a partir de sua análise qualitativa e quantitativa.

Por fim, na Conclusão, são exibidas as considerações às quais esta pesquisa chegou, mostrando que as línguas apresentam diferentes formas de veicular a interpretação (in)alienável, e isso varia de acordo com os fatores sintático-semânticos exibidos neste trabalho.

(40)
(41)

PARTE I

D

A TEORIA PARA A PRÁTICA

A

POSSE INALIENÁVEL NA LITERATURA

(42)
(43)

CAPÍTULO I

E

STRUTURAS DE POSSE NO

PB:

(44)
(45)

1.1 Introdução

Neste capítulo serão discutidas as construções de posse funcional no PB adulto e, mais adiante, na gramática infantil. O termo posse funcional é usado na presente pesquisa à luz de Castro (2006), que classifica tais estruturas como aquelas que contêm um pronome possessivo, seja ele simples (meu / seu) ou preposicionado (dele / delas), por meio do qual a relação de posse é estabelecida na sentença – como em O Pedro vendeu o meu livro / o livro dela.

Essas construções se destacam por serem distintas das construções de posse lexical, assumidas nesta pesquisa como aquelas em que o possuidor ocorre como um sintagma nominal qualquer – contendo nome próprio, como a Maria, ou nome comum, como a casa – acompanhado da preposição atribuidora de Caso Genitivo de – como em O Pedro vendeu o livro da Maria.

As construções de posse funcional também se distinguem das construções de posse inalienável, foco desta pesquisa e aqui entendidas, de forma breve, como aquelas em que o possuído e o possuidor estabelecem uma relação de posse que não pode ser transferida a outro possuidor qualquer, isto é, o possuído seria inalienado ao possuidor – como em O Pedro lavou a mão7.

Por outro lado, as construções de posse inalienável e as de posse funcional se assemelham no que concerne à ocorrência de pronomes possessivos, já que também é observada a presença desses elementos nas primeiras – como em O

Pedro lavou a mão dele8.

Devido a este fato, torna-se interessante examinar como se dá a estruturação da posse funcional na gramática adulta e sua aquisição durante os primeiros anos da criança, a fim de obter pistas sobre como a posse inalienável se estrutura na gramática adulta e passa a ocorrer na gramática infantil do PB.

                                                                                                               

7 Sabe-se que esta sentença também pode veicular a interpretação alienável em PB, isto é, uma leitura em que o objeto possuído a mão não pertence ao possuidor disponível na sentença O

Pedro, podendo, inclusive, ser transferida a outro possuidor – no caso em que esta é uma mão de

brinquedo, por exemplo. No entanto, esta não é a interpretação almejada neste contexto. 8 Idem à nota anterior, sendo o objeto possuído, neste caso, a mão dele.

(46)

Na seção 1.2 a seguir, é apresentado o paradigma dos pronomes possessivos do PB conforme os critérios morfológico (subseção 1.2.1), distribucional (subseção 1.2.2) e temático (subseção 1.2.3), bem como as análises propostas para explicar o sintagma nominal possessivo nesta língua. Na seção 1.3, são apresentados estudos acerca da aquisição desse tipo de estrutura em PB. Por fim, na seção 1.4, é traçado o sumário desse capítulo.

1.2 A gramática adulta

De acordo com Castro (2006:06), a noção de funcionalidade é tomada em contraponto à noção lexicalidade no que diz respeito aos tipos estruturais de posse, classificando diferentemente sentenças possessivas como aquelas apresentadas em (1a) daquelas apresentadas em (1b).

(1) a. O Pedro vendeu o meu livro. Posse funcional

b. O Pedro vendeu o livro da Maria. Posse lexical

Enquanto a sentença em (1b) representa uma estrutura de posse lexical, já que da Maria se constitui como um possuidor lexical – formado a partir do sintagma nominal a Maria e uma preposição atribuidora de Caso genitivo de –, a sentença em (1a) representa uma estrutura de posse funcional, tendo o possuidor desempenhado por um pronome possessivo de primeira pessoa do singular, no caso, meu.

Ainda segundo Castro (2006:07:(4)), pronomes possessivos, tais como aquele apresentado no exemplo em (1a), são definidos como funcionais de acordo com os dois critérios:

(i) pronomes possessivos funcionais têm o traço-phi de pessoa morfologicamente especificado;

(47)

(ii) pronomes possessivos funcionais desempenham o papel de um argumento genitivo do nome com o qual estabelecem uma relação semântica (temática).

De acordo com esses critérios, a autora observa que podem ser classificados como pronomes possessivos funcionais tanto aqueles como meu, em (1a) repetido abaixo em (2a), quanto aqueles como dela, em (2b). Assim, Castro (2006:07) classifica os primeiros como possessivos funcionais simples e os últimos como

possessivos funcionais preposicionados (ou possessivos-de).

(2) a. O Pedro vendeu o meu livro. b. O Pedro vendeu o livro dela.

A gramática tradicional, definindo os pronomes possessivos como aqueles que “designam a noção de posse em referência às três pessoas do discurso”9

(ALI, 1964:63), se resume a apresentar apenas um sistema de possessivos para o português, como é mostrado no Quadro 1.1 abaixo. Neste caso, os pronomes considerados possessivos pela tradição gramatical são aqueles classificados como possessivos funcionais simples, de acordo com a nomenclatura de Castro (2006).

                                                                                                               

9 O autor também afirma que os pronomes possessivos “[...] podem, além disso, exprimir outras relações de dependência, partes componentes de um todo, atributos de um ser, parentesco, etc.” (ALI, 1964:63), tal como será discutido no capítulo seguinte dessa tese.

(48)

Quadro 1.1: Paradigma possessivo (GT) – PB

Referente Pronome

pessoal Traço

Possuído masculino Possuído feminino Singular Plural Singular Plural 1ª pessoa

singular eu

1ª pessoa

singular meu meus minha minhas

2ª pessoa

singular tu

2ª pessoa

singular teu teus tua tuas

3ª pessoa

singular eleM / elaF

3ª pessoa

singular seu seus sua suas

1ª pessoa

plural nós

1ª pessoa

plural nosso nossos nossa nossas

2ª pessoa

plural vós

2ª pessoa

plural vosso vossos vossa vossas

3ª pessoa

plural elesM / elasF

3ª pessoa

plural seu seus sua suas

A visão tradicional seria, portanto, uma abordagem parcial e limitada do complexo paradigma pronominal possessivo do PB, já que, como brevemente discutido, se observa que esta, tal como outras línguas, apresenta mais de um sistema de possessivos.

Entretanto, é importante destacar que os critérios adotados para classificar os pronomes possessivos em paradigmas distintos no PB são diferentes daqueles adotados para classificar os pronomes possessivos em paradigmas distintos em outras línguas, como o inglês, por exemplo.

Em inglês, os pronomes possessivos podem ser categorizados como

possessivos determinantes ou adjetivos ou ainda como pronomes possessivos,

(49)

Quadro 1.2: Paradigma possessivo – inglês (THOMSON e MARTINET, 1986) Referente Pronome pessoal Possessivos

determinantes/adjetivos

Pronomes possessivos

1ª pessoa singular I my mine

2ª pessoa singular you your yours

3ª pessoa singular heM sheF itN his her its his hers its

1ª pessoa plural we our ours

2ª pessoa plural you your yours

3ª pessoa plural they their theirs

Possessivos determinantes ou adjetivos são assim definidos por exercerem essas funções dentro do sintagma nominal possessivo, como em (3) abaixo, em que o pronome possessivo my determina o nome possuído book, tal qual um determinante, e o modifica, tal qual um adjetivo. Já pronomes possessivos são definidos dessa forma porque substituem completamente o sintagma possuído, como em (4a) abaixo – isto é, hers é usado para substituir o sintagma possuído

her book.

(3) I have finished reading my book.

(4) a. While you read your book, she reads hers.

Adotando critérios de classificação diferentes daqueles usado em inglês, os pronomes possessivos do PB são então assumidos como simples ou preposicionados, tal como exibido no Quadro 1.3 abaixo.

(50)

Quadro 1.3: Paradigma possessivo falado – PB Referente Pronome

pessoal Traço morfológico

Possessivo simples10

Possessivo preposicionado 1ª pessoa

singular eu 1ª pessoa singular meu de mim / ?de eu 2ª pessoa singular tu você 2ª / 3ª pessoa singular 3ª / 2ª pessoa singular teu / seu seu / teu de ti / ?de tu de você 3ª pessoa

singular eleM / elaF 3ª pessoa singular seu deleM / delaF 1ª pessoa

plural

nós a gente

1ª pessoa plural

3ª pessoa singular nosso

?de nós da gente 2ª pessoa plural vós vocês 2ª pessoa plural 3ª pessoa plural vosso ?seu11 ?de vós de vocês 3ª pessoa plural elesM / elasF o pessoal 3ª pessoa plural

3ª pessoa singular seu

delesM / delasF do pessoal

De acordo com o quadro acima, para cada pessoa gramatical pode existir, pelo menos, uma forma possessiva simples e, pelo menos, uma preposicionada. Em relação às formas simples, nota-se que há uma variação para a 2ª pessoa do singular tu e você, em que cada uma das formas pronominais pode ocorrer com                                                                                                                

10 É importante ressaltar que não são apresentadas todas as variações morfológicas dos possessivos simples nesta coluna do Quadro 1.3, porque essas variações já foram apresentadas no Quadro 1.1 acima.

11 Parece haver uma restrição de número para o uso do pronome possessivo seu referente à 2ª pessoa do plural. Quando há mais de um ouvinte possuidor (vocês) e mais de um possuído (por exemplo, livros), parece ser possível dizer (i) com o mesmo sentido da sua contraparte em (ii):

(i) Estes são os seus livros. (ii) Estes são os livros de vocês.

Porém, não parece ser possível fazer o mesmo se o nome possuído estiver no singular, como mostra (iii). A sua contraparte em (iv) mostra que o possessivo preposicionado é preferido neste tipo de uso:

(iii) ? Este é o seu livro. (= o vosso livro) (iv) Este é o livro de vocês.

Pode ser que dependa também de uma questão pragmática, já que, substituindo livro por casa – algo que, mais comumente, se possui em conjunto –, a construção não pareça mais tão degradada.

(51)

ambas as formas possessivas – teu (que carrega traços morfológicos de 2ª pessoa do singular) e seu (que carrega traços de 3ª pessoa do singular/plural) –, sendo este assunto amplamente discutido na literatura sociolinguística variacionista, figurando nos trabalhos de Oliveira e Silva (1998a), Menon (199612

apud ARDUIN, 2005), Neta (2004), Arduin (200413 apud ARDUIN, 2005), Arduin (2005) e Mendes (2008), por exemplo.

Oliveira e Silva (1998a), analisando os dados do dialeto carioca, aponta que, na modalidade oral, há uma taxa de 90% de ocorrência de seu contra uma taxa de 10% de ocorrência de teu para a 2ª pessoa do singular. Em relação ao dialeto de João Pessoa, Neta (2004), afirma encontrar o mesmo tipo de variação para a 2ª pessoa do singular – muito embora não apresente as taxas de ocorrência para cada uma dessas formas específicas –, tal qual Menon (1996 apud ARDUIN, 2005), examinando o dialeto curitibano.

Arduin (2004 apud ARDUIN, 2005), investigando os dialetos das cidades de Florianópolis, Blumenau e Chapecó14 em um estudo piloto, afirma haver uma taxa

de ocorrência de 81% do possessivo teu contra uma taxa de 19% do possessivo

seu para a 2ª pessoa do singular. Já em sua pesquisa de mestrado, analisando o

dialeto de quatro cidades catarinenses15 e quatro cidades gaúchas16, Arduin (2005) encontra uma taxa sutilmente maior para a ocorrência da forma teu, de 86%, em contraposição à forma seu, de 14%, para a 2ª pessoa do singular.

Por fim, Mendes (2008), examinando o dialeto de quatro cidades paranaenses17, em estudo complementar ao supracitado, encontra uma taxa de

ocorrência bastante semelhante àquele, estando 85% das ocorrências de possessivos simples de 2ª pessoa sob a forma de teu e 15% sob a forma de seu.

                                                                                                               

12 MENON, O. P. S. Clíticos e possessivos em Curitiba: implicações para o ensino. Anais do II

Simpósio Nacional do GT de Sociolinguística da ANPOLL. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996:101-116.

13 ARDUIN, J. A descrição do sistema possessivo de 2ª pessoa na fala catarinense. Anais da XX

Jornada Nacional de Estudos Linguísticos do GELNE, João Pessoa, 7-10 set. 2004.

14 Todas estas são cidades pertencentes ao estado de Santa Catarina. 15 Blumenau, Chapecó, Florianópolis e Lages.

16 Flores da Cunha, Panambi, Porto Alegre e São Borja. 17 Curitiba, Irati, Londrina e Pato Branco.

Referências

Documentos relacionados

Luiz é graduado em Engenharia Elétrica com ênfase em Sistemas de Apoio à Decisão e Engenharia de Produção com ênfase em Elétrica pela PUC/RJ e possui Mestrado

Este equipo genera, usa e irradia energía de radiofrecuencia, y si no se instala y se usa de acuerdo con las instrucciones, puede causar interferencias perjudiciales en

Não se pode perder de vista, no que concerne a isso, aliás, que certas modalidades de experiência subjetiva, des- critas pelo discurso psicanalítico desde o percurso

Varr edura TCP Window ( cont inuação) ACK- win manipulado Não Responde ACK- win manipulado ICMP Tipo 3 Firewall Negando Firewall Rejeitando Scanner de Porta... Var r edur a FI N/

O raio do diâmetro da deposição esporo-polínica é muitas vezes maior para grãos de pólen e esporos mais leves do que o dos mais pesados e os mais pesados podem

BD│23 agosto 2015 │Primeira Igreja Presbiteriana do Recife. Notícias de primeira

Convencionam as partes que, exclusivamente para os empregados que mantêm contrato de trabalho com a mesma empresa ou, empresa do mesmo grupo econômico há mais de 10 (dez) anos e

• Problemas determinantes do estado de saúde geral da população; • Problemas determinantes do estado de saúde bucal da população; • Conhecimento sobre Serviço Único