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CASTRO 2003 MercosuleUniaoEuropeia relaçoeseconomicasecomerciaiseasnegociaçoesdoAcordodeCooperaçaoInter Regional

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(1).....Informe..... Mercosul e União Européia: relações econômicas e comerciais e as negociações do Acordo de Cooperação Inter-Regional. Projeto de cooperação ALOP (Asociación Latinoamericana de Organizaciones de Promoción) CLAEH (Centro Latino-americano de Economia Humana) FASE Pesquisa e Redação Maria Silvia Portella de Castro Janeiro - 2003.

(2) ....Índice.... 1. A Cooperação União Européia e Mercosul 1.1. A cronologia dos acordos de cooperação, políticos e econômicos da União Européia com a América Latina e com o Mercosul 1.2. Os programas de cooperação econômica nos anos 90 1.3. Os programas de cooperação com o Mercosul 1.4. A Cooperação com o Brasil 2. Uma avaliação do Acordo Econômico e Comercial entre União Européia e Mercosul 2.1. As relações econômicas e comerciais América Latina e União Européia na primeira metade dos anos 90. 2.1.1. Relações econômicas e comerciais entre o Mercosul e a União Européia (1990-1997) 2.1.2. Acordo Marco Inter-regional de Cooperação 3. Estado atual das negociações comerciais e políticas entre o Mercosul e a União Européia 3.1. A II reunião de Chefes de Estado e as negociações de 2002 . A conferencia ministerial de julho de 2002. 4. Diálogo político e participação da sociedade civil 4.1. O Comitê de Seguimento CESE e FCES As Cumbres do RJ e Madri – aspectos relevantes e documentos A cooperação CES e FCES – Comitê Misto Propostas do Mercosul: Recomendações do FCES Atividades e propostas sindicais – CCSCS, CTCS e CES (declarações e propostas) A participação da sociedade civil (nacional) no processo de negociação em curso (os instrumentos existentes no Brasil – SENEUROPA e reuniões FCES-GMC) ....Conclusões.... ANEXOS I - Fichas de informação II -A Política de subsídios agrícolas da União Européia III- Documentos Cumbres de Chefes de Estado da União Européia e América Latina IV – Foro Consultivo Econômico Social do Mercosul – Recomendações V- Declarações do Foro Consultivo Econômico Social do Mercosul e do Comitê Econômico Social Europeu VI– Declarações e documentos sindicais. 2.

(3) 1. A Cooperação União Européia e Mercosul 1.1 A cronologia dos acordos de cooperação, políticos e econômicos da União Européia com a América Latina e com o Mercosul Em 1995 a Comissão Econômica Européia iniciou um processo de aprofundamento de relações com países da África, Caribe e Pacifico (ACP), firmando diversos acordos consubstanciados no primeiro dos Convênios de Lomé, que foi renovado várias vezes e em 1998 já estava no seu quinto formato1. Com a América Latina as primeiras aproximações ocorreram em 1984 - primeiro com os países do Caribe e depois com a América Central - através do “Dialogo de San Jose”. Em 29 de maio de 1992 a Comunidade Européia assinou um primeiro Acordo de Cooperação Inter-institucional com o recém formado Mercosul (que detalharemos mais abaixo), o qual se concentrou em áreas de estudo e assessoramento técnicos nas áreas de negociação econômica e comercial e administrativa - nesta fase os temas social, ambiental e cultural estiveram ausentes da cooperação inter-regional, tendo havido programas sociais e de promoção de direitos humanos a nível bilateral (com cada país em particular). Em dezembro de 1995 as diretrizes do Conselho Europeu de Madrid recomendaram o aprofundamento do diálogo com a região e apontaram como objetivos: apoiar a democracia, progredir rumo a liberalização do comercio, apoiar os processos de integração regional e direcionar melhor a cooperação. Cabe notar que com essas iniciativas a UE introduziu uma temática inédita no dialogo intercontinental: a democracia, os direitos humanos e a cooperação. Essas diretrizes se refletiram diretamente no texto do Acordo Marco Interregional de Cooperação” entre a Comunidade Européia e o Mercosul, que além de estudos e diagnósticos visando futura liberalização comercial incluiu inúmeras áreas de cooperação em temas como infra-estrutura, energia, telecomunicações, relações inter-empresariais, meio ambiente, educação e formação profissional. Em 1990, a partir da “Declaração de Roma”, intensificou-se o diálogo político, através de uma agenda sistemática de debate e intercâmbio e apoio ao fortalecimento do “Grupo do Rio” e posteriormente através da realização de reuniões anuais entre este e os Ministros de Relações Exteriores da Comunidade Européia.2 Em 1995 a UE assinou o primeiro com acordo Mercosul, o denominado Acordo Marco de Cooperação Inter-regional; em junho de 1996 assinou um Acuerdo Marco de Cooperación com o Chile - ambos prevendo a criação de uma associação econômica e política inter-regional. Em dezembro de 1997 foi assinado o Acuerdo de Asociación Económica, Concertación Politica y Cooperación com o México, cujas negociações foram concluídas em julho de 1998 estabelecendo prioritariamente prazos e mecanismos para a liberalização do comercio entre esse país e a UE, sem incluir, contudo clausulas de promoção social, demandada pelo CES, pelo Parlamento Europeu e organizações sociais mexicanas – afora os temas comerciais apenas foi incluída uma cláusula democrática. Em junho de 1998 tiveram início as tratativas com a Comunidade Andina de Nações- CAN, através de uma declaração comum sobre o diálogo político e definição de uma agenda de negociações visando um acordo comercial. Em junho de 1999, no marco da Primeira Cúpula de Chefes de Estado da União Européia, América Latina e Caribe, realizada no Rio de Janeiro, a União Européia e Mercosul firmaram o acordo marco para a criação de Associação Inter-regional, desencadeando a segunda fase prevista no documento assinado em 1995. O novo documento previa que a partir do ano 2000 se iniciariam as negociações para a constituição de uma associação comercial e de cooperação inter1. CONVENÇÃO DE LOMÉ - Em 1975 um acordo comercial celebrado na cidade de Lomé, capital do Togo, entre a então Comissão Econômica Européia e 46 estados da África, Caribe e Estados do pacifico (ACP) para a cooperação técnica e ajuda ao desenvolvimento recebeu o nome de Convenção de Lomé. Em 1979 foi assinado um segundo acordo por um grupo ainda maior de países e em 1995 já se assinava o Lomé IV. 2 Com o início das negociações do Acordo de Cooperação com o Mercosul em 1995, passaram a ocorrer também reuniões anuais entre os Ministros de Relações Exteriores da UE, do Mercosul e Chile e Bolívia na qualidade de países associados a esse bloco. 3.

(4) regional compreendendo a liberalização comercial, o fortalecimento da cooperação e o desenvolvimento de um diálogo político. No ano 2000 ambos blocos estabelecem uma agenda visando a eliminação de barreiras tarifárias até 2005. 1.2. Os programas de cooperação nos anos 90 Com a drástica redução da ajuda econômica dos Estados Unidos para a América Latina - a conseqüência mais visível do fim da guerra fria - a Europa tornou-se o principal provedor de ajuda governamental para essa região. Entre 1992 e 1996 provieram da UE mais da metade (56%) dos recursos de cooperação recebidos pela América Latina, dirigidos a assistência financeira e técnica aos países mais pobres (70% para América Central e região andina) e 1/3 do total da ajuda humanitária, destinada em sua grande maioria (80%) para os países centroamericanos, Cuba e área andina. No mesmo período, 17% do volume destinado pela UE à cooperação econômica teve como beneficiários o México, Brasil, Argentina e o Chile. No período de 1996-2000 a cooperação européia priorizou três “eixos” centrais: apoio institucional e à consolidação dos processos democráticos; luta contra a pobreza e a exclusão social e apoio às reformas econômicas e à competitividade internacional. E viabilizou os programas através de três mecanismos principais : o apoio à cooperação e integração regionais; programas de educação e formação e a gestão da interdependência Norte/Sul (entrando ai aspectos relativos ao diálogo político e outras conferencias de cunho e participação social). É preciso destacar, no entanto, que a distribuição dos recursos desses programas de cooperação assistencial é diferenciada e obedece a critérios definidos pela Comunidade Européia que classifica o grau de desenvolvimento dos países latino-americanos através do montante do PIB. Por isso os principais receptores da ajuda ao desenvolvimento têm sido (pela ordem) a América Central, Caribe e a Área Andina e os países do Mercosul, Chile e México têm ficado de fora da maior parte desse tipo de ajuda. Como já mencionamos as prioridades em relação ás maiores economias latino-americanas têm sido as áreas da cooperação econômica e comercial. Ao adotar, porém esses critérios, a UE comete o equivoco de desconhecer que ainda que os Produtos Brutos Nacionais sejam muito diferentes, os problemas sociais são um denominador comum nos países e regiões do continente latino-americano e o montante do PIB esconde as enormes desigualdades econômicas e sociais no interior desses países. Ou seja, deveriam haver critérios mais diversificados, bem como prever-se a possibilidade de cooperação e apoio a regiões específicas. Ao final da década de 90, quando a UE reformulou seu programa de ajuda externa, países com maior grau de desenvolvimento, como o Brasil, México e Argentina sérios problemas com relação à distribuição desigual da terra; ao desemprego e desrespeito aos direitos trabalhistas e sociais básicos; à falta de previdência e assistência social; à precariedade do trabalho; à discriminação da mulher; ao trabalho infantil; aos direitos indígenas; ao crescimento da violência urbana etc – comparados os indicadores econômicos e sociais se verá que o nordeste brasileiro tem áreas tão ou mais pobres que a Nicarágua. 1.3. Os programas de cooperação com o Mercosul A cooperação entre a UE e o Mercosul teve início em 1992 através de um programa que visava concretizar o Cronograma de Las Leñas, aprovado pelos Presidentes em meados de 1992, que delineou as tarefas técnicas e diplomáticas necessárias para a desgravação tarifária e implementação da zona de livre comércio; para a construção de uma estrutura institucional e desenvolvimento de uma agenda temática visando o estabelecimento de bases para uma União Aduaneira e um futuro Mercado Comum3. Os projetos de cooperação eram negociados de forma centralizada com o GMC, através do Comitê de Cooperação Técnica (a ele subordinado) e alocados nos diferentes Subgrupos temáticos, que por seu lado realizavam as negociações preliminares dos termos de referência. Também ao nível do GMC, e em concordância com os organismos europeus, se decidia qual país sediaria cada projeto. A partir de 2000, quando. 3. Além da UE, também apoiaram essas atividades o BID e outros organismos internacionais, mas sem dúvida a parte mais substanciosa foi proveniente do bloco europeu.. 4.

(5) começaram de fato as negociações econômicas e comerciais entre os dois blocos, a sistemática da cooperação sofreu algumas mudanças e passou a integrar o conjunto das negociações, mais especificamente o capítulo sobre Cooperação. O primeiro projeto de cooperação da UE com o Mercosul foi firmado em 1993 visando a estruturação da Secretaria Administrativa do Mercosul (SAM). Posteriormente o convenio foi renovado com o objetivo de auxiliar na criação e manutenção de um centro de documentação, consolidação das estruturas existentes e estruturação da nova sede cedida pelo governo do Uruguay. Em 1995, após a constituição do Mercosul, foram estabelecidos programas em quatro áreas prioritarias: * Aduanas (Área I, coordenada pelo Uruguay) – primeira fase de 1995 a 1997 forneceu apoio técnico para a elaboração de regulamentos aduaneiros e fronteiriços (comerciais); na segunda fase, a partir de 1998 o projeto visou a elaboração e aprovação do Código Aduaneiro do Mercosul, bem como a capacitação dos funcionários de fronteira em temas como controles de fraude, certificação de origem, transportes de valores, trânsito, tráfico de drogas, etc. * Agricultura (Área II, coordenada pelo Paraguay) – teve início em 1998 e continua em execução; visa fornecer assistência técnica nos temas fito e zoosanitario e apoio à modernização e reconversão dos pequenos produtores agropecuários. * Normas Técnicas (Área III, coordenada pelo Brasil) – se desenvolveu entre 1998 e 2001 e incluía 8 subprogramas: formação de formadores, promoção da qualidade, notificaçãoinformação, comitê Mercosul de normalização, certificação, metrologia e Merco-Info Center. * Estatística (Área IV, coordenada pela Argentina)- de 1997 a 2000 – tinha como objetivo fornecer apoio para o desenvolvimento de indicadores estatísticos harmonizados (com base na metodologia européia) e favorecer a integração e a eliminação de barreiras técnicas ao livre comércio. O programa foi dividido em nove grupos de trabalho relativo às seguintes disciplinas estatísticas: aduana e comercio exterior; investimentos; serviços e transportes; indicadores macroeconômicos e contas nacionais; produtividade e competitividade de empresas; temas sociais; classificações e nomenclaturas; política de difusão e relações com os usuários; grandes orientações de sistemas de informação estatística 4. Em 26 de junho de 2001, foi assinado em Luxemburgo um Memorando de Entendimento para a cooperação plurianual envolvendo as seguintes áreas de interesse: alfândegas, os mercados internos, a política de Coordenação macroeconômica, a dimensão social do Mercosul , normas e standards, agricultura e os temas sanitários e fitosanitarios, entre outros. Porém somente na II reunião de Cúpula dos Chefes de Estado da UE e Mercosul, realizada em maio de 2002 em Madri se aprovou colocar em prática o referido memorando. É importante mencionar que o programa de cooperação sobre a dimensão social do Mercosul vinha sendo debatido desde 1997 e envolvia as atividades do Subgrupo de Relações Trabalhistas (SGT 10) e da Comissão Sócio-Laboral. Em 2000 o membros do grupo de relacionamento do Comitê Econômico Social Europeu e Foro Consultivo Econômico Social do Mercosul pediu a inclusão de ambos no programa de cooperação e o processo praticamente recomeçou. Na reunião dos Chefes de Estado o projeto (no valor de 800 mil euros) foi finalmente aprovado e no mês de setembro foi sancionado pelos organismos europeus. Em 2003 finalmente terá início o projeto, depois de mais de 5 anos de tramitações. Para terminar esse capítulo sobre a cooperação seria interessante transcrever partes de um artigo publicado recentemente no jornal o Clarin5, pelo Comissário de Relações Exteriores da Comissão Européia, Christopher Patten, que resume claramente a visão européia dos objetivos e papel da cooperação com a América Latina: “ La promoción de la integración latinoamericana ha sido uno de los principales pilares de la reciente política europea hacia la región. Los beneficios de la integración regional son considerables en términos de atraer inversión extranjera, incrementar la competencia y reducir la 4. Apesar da importância desse apoio, é necessário mencionar no entanto que cerca de 50% destina-se a cobrir gastos com consultorias e estruturas de apoio europeus, ou seja permanecem no seio da própria União Européia. 5 Opinión - (Clarín/Argentina, 29/11/02) 5.

(6) dependencia y la vulnerabilidad a shocks externos...La integración es también importante para la estabilidad y la prevención de conflictos regionales. Ya se han tomado medidas importantes: el Compromiso de Lima para establecer una Zona Andina de paz; la reciente decisión de construir una unión aduanera centroamericana; y el compromiso que mostraron los cuatro países del Mercosur a pesar de dificultades.” “La UE continuará proporcionando el apoyo político y la experiencia técnica a Centroamérica, a la Comunidad Andina y al Mercosur. Nuestro apoyo es acompañado por una estrategia a largo plazo que aspira a desarrollar nuevos vínculos entre América latina y la Unión Europea, con los recientes acuerdos de la asociación con México y Chile y negociaciones en curso con el Mercosur que se destacan como los logros más importantes en este contexto.” “Además, América Latina tiene que llevar a cabo una política de desarrollo orientada a la reducción de la pobreza y a la inclusión social. La lucha contra la pobreza en países de renta media no es sólo una cuestión del crecimiento económico, sino también de proporcionar oportunidades reales a la gente pobre de tener acceso a la salud, la educación, la tierra y el crédito.” “Mejorar la distribución de la renta depende de una política fiscal sana, así como también de una creciente y más eficiente cobertura de recaudación de impuestos. La lucha contra la pobreza y la igualdad social es una de las principales prioridades de los programas de cooperación de la UE en América Latina.” “La Comisión, junto con los estados miembros proporciona alrededor de 2 mil millones de euros al año en subvenciones para la ayuda al desarrollo a América latina, siendo el principal donante. Sin embargo, es obvio que el tamaño del problema va más allá de los recursos disponibles de la UE. La sustentabilidad del progreso depende en la mejora de las políticas públicas y en el desarrollo institucional de la región, y de promover el acceso para todos a servicios públicos básicos.” “Finalmente, varios países en América latina tienen mucho por hacer para desarrollar sistemas políticos más inclusivos y mejorar la calidad de sus administraciones públicas. Una democracia significativa es mucho más que una democracia electoral; significa la participación efectiva en la creación de políticas, que a su vez está ligada de cerca al crecimiento económico y al desarrollo social.” “La conclusión es simple: los países que enfrentan disturbios sociales y políticos no proporcionan un ambiente atractivo para la actividad empresarial. Es imposible para cualquier tercera parte llevar a cabo una mejora sustancial en este campo sin el compromiso de los países concernientes para desarrollar regímenes más modernos y responsables.” “La democratización y el buen gobierno son pilares centrales de nuestra ayuda de cooperación así como de nuestros diálogos políticos regulares con las diversas agrupaciones subregionales. Tenemos confianza en el futuro de América latina y estamos decididos a ayudar a consolidar los logros económicos y políticos que la región ha hecho ya, así como lograr un desarrollo más equitativo y un crecimiento sustentable en el futuro.” Não há duvida que a cooperação européia tem sido um fator de ajuda do continente latinoamericano e reforçado suas possibilidades de consolidar regimes mais democráticos e menos injustos. No entanto o desenvolvimento econômico, político e social dependem muito mais de outros fatores, como por exemplo melhoria das oportunidades de inserção na economia mundial, o que tem sido impedido pelas políticas protecionistas dos Estados Unidos e União Européia e pelas regras restritas no campo tecnológico e de investimentos estabelecidas na OMC por esses mesmos países. Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), os US$ 300 bilhões que os países ricos gastam anualmente subsidiando seus agricultores correspondem a 30% do valor do faturamento agrícola destes países; a 1,3% do seu PIB e a seis vezes mais do. 6.

(7) que a ajuda que eles dão aos países mais pobres 6. Segundo o documento, o apoio financeiro que os países ricos dão aos seus agricultores é muito maior do que a qualquer outro setor da economia, e é feito de forma ineficiente - até para atingir os objetivos que as nações desenvolvidas supostamente têm ao fornecê-lo. Basicamente, diz a análise, os subsídios agrícolas beneficiam alguns produtores rurais nos países ricos, mas prejudicam outros que precisam de insumos ou que atuam em setores não protegidos. Além disso, os subsídios agrícolas impõem perdas para consumidores e contribuintes dos países ricos e para países pobres produtores de commodities. É uma política absurda e injusta, pois beneficia um pequeno número de produtores – que poderiam receber essa ajuda para reconverter suas atividades – e penaliza um número muito maior de agricultores nos países pobres e em desenvolvimento, onde os Estados tem pouca ou nenhuma condição de apoiar a reconversão de atividade econômica. Ou seja, se os países centrais eliminassem suas “barreiras não tarifárias” e os subsídios agrícolas, os países mais pobres poderiam aumentar sua participação no comercio externo e desta forma diminuir sua necessidade de ajuda assistencial fornecida pelos países mais ricos. Deve-se ressaltar também que a Europa reconhece a emergência de conflitos e convulsões sociais e que, portanto a cooperação pode ser um fator que minimize esses riscos de desestabilização política ao mesmo tempo de garantia para seus investimentos. E, se estes estiverem em risco, como aconteceu esse ano na Argentina, contraditoriamente às palavras do mandatário europeu, a política de cooperação cede lugar a pressões políticas e jurídicas como as demandas jurídicas que têm sido movidas por empresas européias cobrando do governo argentino o ressarcimento de suas perdas.. 6. Estes números são citados na "Perspectiva Econômica Global" em um capítulo especialmente dedicado ao tema- Estado de São Paulo, 26/09/02 7.

(8) 2. Uma avaliação do Acordo Econômico e Comercial entre União Européia e Mercosul 2.1. As relações econômicas e comerciais América Latina e União Européia na primeira metade dos anos 90.. O objetivo fundamental da UE no diálogo de cooperação estabelecido com a América Latina tem sido a expansão e o fortalecimento das relações comerciais e econômicas visando fortalecer-se frente aos seus principais competidores, quais sejam os Estados Unidos e o bloco asiático. E pode-se dizer que tem sido bem sucedida a iniciativa. A pressão dos organismos multilaterais e dos países centrais para que os países em desenvolvimento e mais pobres adotassem modelos de economia aberta e desregulada, seguindo assim as diretrizes do chamado “Consenso de Washington” trouxe grande impulso a esse objetivo fundamental: entre 1990 e 1996 as importações da América Latina à Comunidade Européia aumentaram em mais de 120%, transformando o continente no seu mais importante parceiro no mundo subdesenvolvido. Ao mesmo tempo, as exportações da América Latina para o continente europeu subiram apenas em 18,8% pois, apesar do bloco europeu apresentar um quadro tarifário relativamente baixo, as exportações latino-americanas foram (e são) limitadas pelas muitas barreiras não tarifárias mantidas pela UE, notadamente nos produtos agrícolas e semimanufaturados, áreas prioritárias para os países latino-americanos. Em 1996 a União Européia (UE) representava 6,5% da população mundial, detinha mais de um quarto do PBI mundial (28.6%), era responsável por 38,1% do comercio mundial de bens e serviços, incluindo o comercio intra-regional e por 46,2% dos fluxos total de Investimentos Externos Diretos-IED. Nesse ano sua tarifa externa média era de 9,5%, porém no caso dos produtos agrícolas a média de proteção tarifária estava ao redor de 25,4%, a qual somada a algumas barreiras elevava as taxas para alguns produtos (carnes e lácteos, cereais, bananas, alguns tipos de sucos de frutas e vegetais) a mais de 100%7. Até meados dos anos 90 as exportações latino-americanas para a Europa eram facilitadas pela sua inclusão na chamada “clausula da nação mais favorecida” do Sistema de Preferências Gerais (SPG) acordado na OMC. Em 1997, depois da realização dos acordos de 4a. geração com o Mercosul (1995), Chile (1996) e México (1997), os europeus reformularam seu SGP e impuseram maiores restrições a esses países, contrariando assim as próprias expectativas da liberalização de comércio prognosticada pelos acordos em andamento. Ao mesmo tempo ofereceram incentivos comerciais especiais á Comunidade Andina e à América Central, vinculadas ao programa de apoio à erradicação e substituição do cultivo de drogas ilícitas. Essas mudanças alteraram significativamente os fluxos de comercio entre as duas regiões, inversão que pode ser vista no quadro seguinte. Em 1996 apenas 22.3% do total de importações realizadas pela União Européia dos países da ALADI se beneficiavam do Sistema Generalizado de Preferências (porcentagem que vinha se mantendo estável desde 1992 e que havia registrado um pequeno salto apenas em 1995, quando se implementou o novo esquema SGP para o setor industrial, incluindo os produtos têxteis). Nesse período, cerca de 50% das importações européias no continente latino-americano estavam fora do SGP e cerca de 1/3 das compras estavam sujeitas a uma tarifa integral.. 7. ALADI, " Las Negociaciones de la Unión Europea y sus Relaciones Comerciales con la Aladi", ALADI/SEC/dt 404 9 de setiembre de 1998, http://www.aladi.com. 8.

(9) quadro 1. Mas além do déficit crescente, deve-se destacar ainda as diferenças na composição dessa balança comercial: a América Latina tem uma pauta exportadora reduzida, pouco diversificada e muito concentrada em produtos primários (agrícolas e de extração mineral) e manufaturas de médio e baixo valor agregado- 15 produtos representam 51% do total e apenas 5 deles (pasta de soja, petróleo cru, cobre refinado, café e soja) cobrem de 32% de suas exportações à UE. Inversamente, na pauta exportadora da UE os manufaturados representavam a maior parte com participações que variavam de 80% no México a 92% no Chile - estando em primeiro lugar os produtos do complexo automobilístico que representava 7% do total (somente as exportações de automóveis de passageiros tiveram um crescimento de no período de 54,8%). Este segmento e o de máquinas representavam no período 62,3% do volume exportado. Finalmente deve ser ressaltado que nesse período já se delineava uma forte concentração das relações comerciais da UE com o Mercosul que em 1996 representava mais da metade da balança total com o continente; seguido da CAN e México. Indicadores que aceleravam, portanto a necessidade de se avançar nas negociações de um acordo comercial com essas regiões. quadro 2 Relações Comerciais UE e América Latina segundo destino (1996) Participação nas exportações européias. Participação nas importações européias 1%. chile mexico. 11% 11%. can 22% 22%. 11% 11%. mercosul 56% 56%. mexico. can 18%. chile. 20% 55%. mercosul. Fonte: Las Negociaciones de la Unión Europea y sus Relaciones Comerciales con la Aladi – 1998- elaboração própria..

(10) 2.1.1. Relações econômicas e comerciais entre o Mercosul e a União Européia (1990-1997). O incremento do comércio com os europeus entre 1994 e 1997 foi impulsionado principalmente pelo crescimento da participação do Brasil e da Argentina, que saltaram respectivamente de 11.1% e 33.7% em 1990 para 15.6% e 37.8% em 1996. Em 1997 o bloco europeu era o principal parceiro comercial do Mercosul, superando o próprio comércio intra-regional e os Estados Unidos – os dados desse ano mostram que 23,1% das exportações do Mercosul se dirigiam à UE e que de lá provinham 26% do total de suas importações. No ano de 1998 percebe-se a mesma tendência: as importações da Europa pelo Mercosul atingiam o montante de 26 bilhões de dólares, superando as importações dos EUA que atingiam o montante de 22 bilhões de dólares e as importações intra-bloco que giravam em torno de 21 bilhões e as exportações do Mercosul para a UE atingiam a casa dos 23 bilhões de dólares, perdendo por pouco do montante de exportações intra-bloco (24 bilhões de dólares) e superando o volume de 14 bilhões de dólares exportado aos EUA8. Entretanto o crescimento da balança comercial foi acompanhado de um desequilíbrio crescente - entre 1994 e 1997 o montante das exportações do Mercosul à União Européia cresceu pouco menos de 9%, ao passo que o montante das importações com origem naquele continente aumentaram em mais de 53%, cabendo principalmente ao Brasil a responsabilidade desse salto9. No quadro seguinte percebe-se que na primeira metade da década de 90 o Mercosul detinha uma relação comercial superavitária com a UE e que a partir de 1995 essa relação se inverte, devido à política desreguladora e aberturista adotada nesse período pela Argentina e Brasil que promoveram medidas de ajuste fiscal e monetário que levaram à sobrevalorização cambial. Em 1990 Brasil e Argentina apresentavam um superávit de 8,8 milhões de dólares e em 1997 um déficit comercial de 6,8 milhões em dólares na relação com a União Européia. quadro 3 Relações Comerciais Mercosul-UE - 1990 a 1997 (em milhões de dólares). Argentina. Brasil. Paraguay. Uruguay. Mercosul. 26225. 19197 17055 14.708. 14468. 14511 11507. 10164. 10190 8302 6493. 3811. 4883. 3993. 3685. 6459 4326. 1120. 90. 93. 97. 90. 93. 97. Importações. Exportações. Fonte: Las Negociaciones de la Unión Europea y sus Relaciones Comerciales con la Aladi. 8. Clarin, 27/11/1998 Em 1990 o montante de importações era de US$ 4,883 milhões de dólares e em 1997 de US$ 17,055 milhões de dólares – ou seja um aumento de quase 350%). 9. 10.

(11) Mas além desses fatores deve-se destacar também o tratamento desfavorável aos produtos de maior potencial exportador do Mercosul. Apesar dos produtos do Mercosul desfrutarem de tratamento diferenciado devido ao SGP, sua situação é menos favorável que a dos demais países latino-americanos em relação ao comércio europeu. Essa diferença é importante, pois são justamente os produtos agrícolas os que têm as tarifas européias mais altas e, no caso dos muito sensíveis (banana, suco de laranja e outros agrícolas), a preferência não ultrapassa os 15%. Já os países da CAN exportam sob um SGP 34,5% e 45% de suas vendas são sem tarifas de importação. O mesmo ocorre com o Chile - cerca de 70% de suas exportações a UE são com tarifa zero. Enfim o processo de desnacionalização da indústria brasileira e a forte redução da produção argentina, mais a manutenção de barreiras ao crescimento de suas exportações elevaram o déficit comercial em 18 vezes em 3 anos (1994 e 1997). No quadro seguinte, baseado em dados da ALADI de 1990, pode-se ver que o saldo comercial a favor dos países do Mercosul em 1990 era de mais de 125% (exportava US$ 14.708 bilhões e importava US$ 6.493 bilhões). Deve-se observar que em 1997 a Argentina foi o país que apresentou o déficit mais alto - o volume de importações foi o dobro do exportações - sendo que em 1990 esse país apresentava um saldo oposto (as exportações eram mais que duas vezes o valor importado). quadro 4 Saldo Comercial entre Mercosul e UE entre 1990 e 1998 (em milhões de dólares). 8 .2 1 5. A r g e n t in a P a ra g u a y M ercosu l. B r a s il U ru g u a y. 5281 3731 2961. 2691. 142 49. 100. -6 3. -1 7 8. -6 4 1. -5 0 6. -2 7 2 3 - 3 .8 9 6. -7 1 8 8 1990. 1993. 1998. Fonte: ALADI, Estatísticas de Comércio, 1998 É importante salientar também que o saldo comercial negativo advém não só dos volumes, mas da composição da balança comercial. O crescimento das importações de manufaturas de origem européias gera recursos muito maiores que o das exportações de alimentos e matérias primas agrícolas do Mercosul para aquele bloco – praticamente só o Brasil exporta alguns produtos manufaturados.. 11.

(12) quadro 5 Exportação e Importação do Mercosul para a UE por categoria 1994 a 1997 (%) 69 53 35,6. 38. 37. 33 19 5,1. -1. -11 Exportação de manufaturas Argentina. 6,7. 8. -4. -5,6 Importação de manufaturas Brasil. 12. 10. 7,6. -2,3. -4. Exportação Exportação alimentos mat.primas agrícolas Uruguay Paraguay Total. Fonte: ALADI, Estatísticas de Comércio, 1998. Em resumo, o comércio entre Mercosul e União Européia tem sido extremamente desfavorável para os países do sul tendo em vista o desequilíbrio financeiro e tecnológico e o novo Sistema Generalizado de Preferências - SGP que restringiu o acesso de produtos importantes para os países do Mercosul. No final de década de 90 e início dos anos 2000 o desequilíbrio só não foi pior porque a desvalorização cambial praticada anteriormente e a crise recessiva que atingiu os países do Mercosul fez com que esses diminuíssem sensivelmente suas importações. Assim, a idéia que um acordo de livre comércio poderia sanar essas diferenças e tornar mais equilibrada essa relação comercial é bastante duvidosa, salvo se eliminados os subsídios e as restrições de acesso a mercado hoje imperantes, temas que a UE ainda não aceitou incorporar à mesa de negociações. Além disso, a relação desfavorável aos países do Mercosul não irá se inverter através de um acordo comercial que desconsidere aspectos relativos ao desenvolvimento dos países do Mercosul e que não estabeleça regras e prazos diferenciados para a liberalização comercial inter-regional. Também a hipótese que um acordo entre ambos os blocos poderia aumentar o volume de investimentos europeus na região e, desta forma, ajudar o desenvolvimento do Mercosul, é muito questionável. Na primeira metade a década de 90 cerca de 43,6% dos fluxos de IED provenientes da UE, excluídos os intra-regionais, destinaram-se aos países em desenvolvimento e dentro desses a América Latina e o Caribe constituíram-se no principal destino, concentrando quase 28% dos mesmos (11,7% do total), registrando um crescimento de mais de 300% em relação à média da década anterior e alcançando uma média anual de 3,5 bilhões de dólares. Na segunda metade da década, no entanto o total de IEDs europeus diminuiu sua participação nos fluxos totais, cedendo lugar ao espetacular crescimento dos investimentos provenientes dos EUA que se multiplicaram por 6 em todo o período. Em 1994/95 a situação se inverte novamente e até o final da década os investimentos europeus passam a ocupar novamente o primeiro lugar. Um crescimento motivado pelas privatizações e oportunidades de compras de ativos instalados e fusões e que, portanto não trouxe a ampliação da produção e de oferta de serviços no Mercosul, mas sim concorreu para sua a maior desnacionalização de suas economias e a inserção de algumas de suas empresas nas cadeias produtivas mundiais. Vejamos os exemplos da Argentina e Brasil. Durante o período 1990 – 1995, pouco mais da metade dos IED europeus (54%) dirigiram-se aos países do Mercosul, especialmente ao Brasil (32%) e à Argentina (20%); entre 1995 e 1997 o volume de entrada desses aumentou em mais de três vezes (de US$ 6.300 bilhões de dólares. 12.

(13) para pouco mais de US$ 18 bilhões) na Argentina e Brasil e em 1998 estavam projetados mais de 20 bilhões de dólares de novos investimentos. Foram 3 as principais razões para esse abrupto aumento da entrada de IED nesses dois países: a estabilização das economias e a recuperação do crescimento; a expansão do mercado de consumo brasileiro e o processo de privatizações. No período de 1990 a 1993 as privatizações galvanizaram mais de 60% dos fluxos de IED; entre 1993 e 1994 no entanto registrou-se um uma queda de mais de 500% no volume de IEDs, já que as privatizações praticamente haviam se esgotado. No Brasil a entrada de IED cresceu após o plano Real, devido as possibilidades de ganhos financeiros, acesso ao mercado regional, privatizações e abertura do setor financeiro e entre 1992 e 1998 esses aumentaram em quase 20 vezes (de US$ 1,324 bilhões em 1992 para US$ 26,110 bilhões em 1998)10. De acordo com o estudo dos economistas Fernando Sarti e Mariano Laplane, da Unicamp11, em 1997 cerca de 80% dos IED que entraram no Brasil se destinaram às privatizações dos serviços de água, eletricidade e gás e à ampliação de investimentos já existentes, apenas 5% foi dirigido à instalação de novas empresas. No ranking do investimento direto estrangeiro no Brasil, de 1995 a 1998, a Espanha alcançou o segundo lugar ultrapassando a Alemanha e ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Esse crescimento das inversões espanholas deveu-se a uma participação agressiva nas privatizações dos setores de eletricidade e de telecomunicações e em aquisições no setor financeiro. Além disso, os espanhóis têm investido em seguros e nas indústrias dos setores: automotivo, autopeças, construção, aeroespacial e alimentício. De acordo com estudo da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica)12, o total do estoque histórico de investimentos diretos estrangeiros no Brasil, em 31 de dezembro de 1998, havia atingido US$ 130,7 bilhões, do qual a parcela de origem espanhola representava US$ 10,935 bilhões, ou 8,36%, enquanto que o de origem alemã representava 8,05% do total (US$ 10,527 bilhões). Esses investimentos foram importantes para dar sustentação ao modelo econômico adotado pelos dois países, garantir a estabilização financeira que perdurou até 1998. Mas não geraram crescimento e muito menos desenvolvimento. A questão do emprego é um bom exemplo. No mesmo período analisado (1994 e 1998) houve um impressionante crescimento do desemprego nos dois países em questão: no final de 1998 a Argentina apresentava uma taxa de mais de 12,8% de desemprego aberto e no Brasil, o IBGE apontava 7,6% de desemprego para as seis principais regiões metropolitanas, para as quais a PED–SEADE/DIEESE projetava uma desemprego de cerca de 17%13. Também nesse período a precarização do emprego deu um salto nos dois países, incidência que reduziu a apenas 1/3 os trabalhadores em situação regular de ocupação em todo o Mercosul. Segundo G.Dupas14 a possibilidade crescente de fragmentação e relocalização da produção, aliada à flexibilidade das formas de gestão e a relativa fragmentação internacional produzem uma lógica própria das cadeias produtivas globais que atinge diretamente a geração e qualidade de empregos. Se analisarmos os casos do Brasil e da Argentina, veremos que as aquisições de empresas nacionais por transnacionais – seja pelas privatizações, seja por compra de ativos ou fusões – apressou a incorporação de padrões de produtividade global, provocando novas ondas de reestruturação produtiva e uma maior concentração empresarial. Além disso, as empresas privatizadas passaram a concentrar sua prestação de serviços nas faixas de mercado mais rentáveis e reduziram seus custos operacionais através de um forte processo de terceirização e modernização tecnológica, todos fatores que levam à redução de pessoal e muitos dos funcionários demitidos passaram a trabalhar por conta-própria ou em pequenas prestadoras (com piores salários e condições de trabalho e nem sempre com garantias trabalhistas) para as mesmas empresas privatizadas. 10. Banco Central e Sobeet - FSP, 31/01/1999. O estudo trabalhou com uma projeção muito mais alta que a que ocorreu na realidade, ao final de 1998 o Brasil havia recebido menos de 20 bilhões de dólares de IED. 11 FSP 11/10/1998 12 Folha de São Paulo, 04/06/1999. 13 Argentina: População desocupada/população economicamente ativa - Encuesta Permanente de Hogares (semestral) INDEC, dezembro 1998; Brasil - Brasil: Desemprego /população economicamente ativa em seis regiões metropolitanas – Pesquisa Mensal de Emprego- PME - IBGE - janeiro 1999 e PED Seade/Dieese - dezembro 1998. 14 DUPAS, Gilberto – “A lógica da economia global e a exclusão social”, mimeog., Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo- Área de Assuntos Internacionais, São Paulo, setembro de 1998.. 13.

(14) Além desses aspectos é preciso mencionar também que os investimentos proveniente de empresas sediadas na UE têm se concentrado nas áreas de maior exportação dos países da América Latina à UE. Entre outubro de 1996 e outubro de 1997 os investimentos europeus concentraram-se (pela ordem) nos setores petroleiro, automobilístico e de mineração e se distribuíram de forma diferenciada em cada sub-região: no Mercosul e CAN priorizaram os setores de alimentação, de bebidas e tabaco que em ambas regiões têm um peso significativos na cesta de exportações para a UE (53% no Mercosul e 37% na CAN); ainda no Mercosul o segundo setor de grande importância para os investimentos europeus foi o de manufaturas, que representa 30% das exportações dessa sub-região àquele bloco e na CAN a segunda preferência foi o setor de combustíveis e conexos (27% de suas exportações à UE); no Chile as áreas de maior atração de IED da UE têm sido minérios e metais (que representam 57% de suas exportações à Europa) e alimentos bebidas e tabaco (21% do exportado) e no México os principais atrativos têm sido os setores de combustíveis e manufaturas (80% das exportações para a União Européia)15. Em síntese ao contrário do que dizem nossos governos a entrada de Investimentos Diretos Externos não tem produzido crescimento, muito pelo contrário. Além disso, a atração desses novos investimentos tem sido feita sem nenhuma exigência ou condicionamento aos investidores (o exemplo da crise Argentina é uma prova disso, assim como a crise energética brasileira de 2001) ao contrário, estes é que têm condicionado sua presença ao fornecimento de subsídios, renúncia fiscal, financiamento de fundos públicos, etc. Subsídios que significam maior endividamento das Prefeituras e governos estaduais ou provinciais e efetivamente cortes nos serviços públicos essenciais e por conseqüência piora na condição de vida dos mais pobres. 2.1.2. Acordo Marco Inter-regional de Cooperação. O Acordo Marco de Cooperação Inter-regional, firmado em 1995, entre a União Européia e o Mercosul, estabelecia como objetivo final a criação de “ uma associação internacional de caráter político baseada em uma cooperação reforçada, em uma liberalização progressiva e recíproca de todo o comércio, tendo em conta a sensibilidade de certos produtos e conforme as regras da Organização Mundial do Comercio e finalmente a promoção de investimentos e o aprofundamento da cooperação”. Para tais fins previa uma agenda de temas que preparasse “a liberalização progressiva e recíproca dos intercâmbios comerciais entre ambas as regiões”. O processo negocial foi previsto para desenvolver-se em duas fases: a primeira, iniciada com a assinatura do Acordo Marco de Cooperação Inter-regional, deveria fortalecer as relações existentes entre ambas regiões e a preparar as condições para a criação da Associação Interregional; e a segunda, que teria início no ano 2000, promoveria a liberalização comercial e o fortalecimento da cooperação e o desenvolvimento de um diálogo político. A estrutura de negociação era bastante simples e estava composta pelos seguintes organismos: o Conselho de Cooperação (integrado pelos Chefes de Estado); a Comissão Mista - integrada pelos representantes negociadores do CMC Mercosul e Comissão Econômica Européia, que teria reuniões anuais e a Sub Comissão Comercial, órgão operativo e executivo, que no caso do Mercosul está diretamente vinculado ao GMC, que se reuniria com maior freqüência. Além disso, se criaram três grupos de trabalho: Bens, Disciplinas Comerciais e Serviços. Os grupos de trabalho integrados por negociadores de ambos os blocos realizaram uma série de reuniões para cumprir uma agenda comercial que envolvia disciplinas como: acesso ao mercado (barreiras tarifárias e não tarifárias); disciplinas comerciais (restrições a competição, normas de origem, salvaguardas, etc.); relações comerciais com terceiros países; compatibilidade da liberalização comercial com as regras da OMC; identificação de produtos sensíveis e produtos prioritários para as partes; cooperação e intercâmbio de informações em matéria de serviços. Uma agenda ambiciosa que, no entanto, não ultrapassou a barreira do mutuo conhecimento, ou seja, ambas partes apresentaram relatórios e informações sobre cada uma das matérias, preparando assim futuras negociações mais substantivas.. 15. Os países da UE que têm se mostrado mais dinâmicos nas inversões na América Latina têm sido a Espanha e a Holanda, ultrapassando a Inglaterra e Alemanha, que ocupavam os dois primeiros lugares na década anterior. 14.

(15) O Acordo marco previa ainda o tratamento de temas importantes na área de cooperação visando o fortalecimento da competitividade internacional, o fomento do desenvolvimento tecnológico e cientifico e melhoria de seus respectivos níveis de vida, destacando a "criação e qualidade de emprego". Previa ainda o estabelecimento de medidas de fomento comercial e medidas de proteção dos investimentos através da "criação de um ambiente jurídico favorável à inversão entre as Partes em particular através de acordos bilaterais de fomento e proteção de investimentos entre os Estados Partes da UE e do Mercosul". No tocante à “cooperação empresarial" o acordo se propunha a "apoiar a modernização e diversificação industrial, identificar e eliminar obstáculos à cooperação industrial, dinamizar a cooperação, especialmente entre as pequenas e médias empresas, favorecer a inovação industrial através de um processo integrado e descentralizado de cooperação" e à implementação de ações de formação e promoção de redes de apoio a pesquisa. Durante o período de 1996 a 1998 a Comissão Mista se reuniu três vezes, a Subcomissão Comercial quatro vezes e os Grupos de Trabalho três vezes cada um e basicamente realizaram estudos comparados em temas relativos à legislações e políticas comerciais. Além desses aspectos, foram tratados vários temas de cooperação, tais como: normas veterinárias e fitosanitárias; normas técnicas; assuntos aduaneiros; apoio à Secretaria Administrativa do Mercosul; cooperação estatística; capacitação comercial; informações para as pequeno e micro empresas. Do ponto de vista comercial cada parte apresentou suas prioridades nas negociações16 e ao final de 1997 a Subcomissão Comercial encomendou aos grupos de trabalho um diagnóstico das dificuldades nas relações comerciais, o qual foi finalizado em maio de 1998. A pretensão de se avançar a partir dessa base informativa foi limitada pelas dificuldades de acordo quanto às bases de futuras negociações comerciais de produtos agrícolas e serviços. Os países do Mercosul não aceitavam iniciar as negociações deixando de fora o tema agrícola e nem aceitavam uma agenda parcial ou setorial e o bloco europeu não encontrava consenso interno para formular uma posição sobre essa questão. Na reunião extraordinária do GMC-Mercosul, realizada em Assunção, em meados de maio de 1999, se acordou propor aos europeus o lançamento das negociações para o estabelecimento de uma Associação Inter-regional Política e Econômica na reunião do Conselho de Cooperação que ocorreria em 28 e 29 de junho no Rio de Janeiro desse ano, definindo como condições um processo baseado numa "cooperação política reforçada, numa cooperação bi-regional aprofundada, na promoção de investimentos e no estabelecimento de uma Zona de Livre Comércio, mediante a liberalização progressiva e recíproca de todo o comércio de acordo com as regras da OMC, sem excluir nenhum setor e tendo em conta a sensibilidade de certos produtos e serviços " 17. O GMC enfatizou ainda que as negociações com a UE teriam que: levar em conta as próximas negociações da OMC e as demais negociações comerciais de ambos os blocos com terceiras partes e reger-se pelo conceito do "single undertaking". Propunham a manutenção da mesma estrutura de negociações e a conclusão do processo em 2005, o que implicaria que a reunião do Rio de Janeiro deveria definir um calendário de negociações e sugeriam o segundo semestre de 1999 como período para a realização da primeira reunião do Conselho de Cooperação e o início das negociações. Do lado europeu as dificuldades perduraram até às vésperas da Cúpula do Rio de Janeiro. Na reunião dos Ministros de Relações Exteriores europeus, ao final de maio, o representante da França, com o da Inglaterra e da Irlanda, vetou a proposta da Comissão Econômica Européia de iniciar no dia 1º de janeiro de 2001 as negociações para a liberalização de tarifas de produtos agrícolas e de serviços. A posição francesa se chocou diretamente com a posição da maioria dos países, liderados pela Alemanha, Espanha e Portugal, que defendiam uma negociação rápida com o Mercosul. No dia 4 de junho, na reunião dos Chefes de Estado da UE, a posição francesa foi ratificada pelo Presidente Chirac através do veto ao item 89 da declaração a ser apresentada na Cúpula do Rio de Janeiro18 que dizia que a Comissão da União Européia devia receber mandato nesse sentido e que as conversações deveriam ser sobre "a totalidade dos temas". A reunião. 16. II Reunião da Subcomissão Comercial - Mercosul e UE, 27/11/1997 Punta del Leste. Ata da XVII Extraordinária do GMC, Assunção, 13 e 14 de maio de 1999. 18 FSP, 05/06/1999 17. 15.

(16) terminou sem a aprovação do "mandato negociador" à Comissão Econômica Européia19. E no encontro do Rio de Janeiro foi acordado um processo em que o mandato negociador aprovado pelo Conselho de Ministros da União Européia previa uma calendário para a discussão de temas gerais dos intercâmbios no primeiro trimestre de 2000, enquanto que os temas tarifários e de serviços começariam a ser negociados a partir do segundo semestre de 2001, com vistas a serem finalizados depois da conclusão das negociações da Rodada do Milênio da OMC. Para os governos do Mercosul a manutenção do processo de negociações com a UE tinha um interesse duplo – o aumento das exportações agrícolas e agro-industrial e o equilíbrio estratégico que ofereceria na sua relação com os EUA dentro do processo da ALCA. Por isso, apesar das dificuldades européias, o acordo obtido pelo governo alemão, que na verdade não garantia a inclusão do tema agrícola mas adiava sua resolução, foi aceita pelo Mercosul e um novo Acordo Marco para a criação de uma Associação Inter-regional Política e Econômica foi assinado. Por outro lado, o posicionamento europeu refletia as próprias dificuldades no interior do bloco para a reformulação da Política Agrícola - a França ostenta os mais altos subsídios agrícolas e a Alemanha os menores - e também as diferenças de interesses no Mercosul – Espanha, Portugal, Holanda e Alemanha defendiam a aceleração das negociações devido aos seus investimentos na região. É importante analisar que se de um lado os governos do Mercosul conseguiram estabelecer uma agenda ampla e os princípios da negociação, por outro não conseguiram garantir termos claros para o desenvolvimento do processo, indefinição que veio a causar impasses quando as negociações de acesso a mercados se iniciaram em 2002 – até o final desse ano a posição européia continuava resistente ao tratamento do temas dos subsídios e apoio às exportações nas negociações bilaterais com o Mercosul, condicionando as mesmas às negociações da OMC. A decisão também não agradou organismos políticos e sociais da UE. Segundo o Informe de Juan Moreno, dirigente da Confederação Européia de Sindicatos –CES e coordenador do grupo de trabalho da para o Mercosul, este condicionamento e a sub-divisão da negociação em fases foi criticada pelo informe do Parlamento Europeu que considerou a decisão discriminatória e prejudicial ao caráter global que deveria ser dado ao acordo. Além disso, dizia o informe parlamentar, se estaria negociando um Acordo de tipo misto – ou seja, que inclui matérias de competência da Comunidade e temas de competência dos Estados membros – sem que o mandato de negociação concedido pelo Conselho à Comissão Econômica Européia – CEE mencionasse qual a base jurídica de sustentação do futuro acordo, o que no entender dos parlamentares gerava um conflito que além de afetar o papel do Parlamento, poderia criar fórmulas de associação diferenciadas para distintos países ou blocos. Finalmente é preciso relembrar que os negociadores da União Européia participaram da reunião do Conselho de Cooperação (integrado pelos Ministros de ambos os blocos) realizada em junho de 1999 no Rio de Janeiro, condicionados por uma série de limitações e interrogações: a intenção de fortalecer a Política Exterior e de Segurança Comuns (PESC) estabelecida pelas reformas do Tratado de Amsterdã e amplamente testada em função da guerra na Iugoslávia; a realização das reformas políticas incluindo a ponderação dos votos dos países membros na Comissão; a entrada em vigor do euro em 11 dos 15 países no início de 2001; a inclusão de 11 novos países da Europa Central e Oriental em 2003 e 2004 e a falta de acordo sobre a nova PAC (Política Agrícola Comum), elemento decisivo na redução e/ou eliminação dos subsídios agrícolas e condição básica para um acordo com o Mercosul. Vale dizer portanto, que apesar das negociações terem prosseguido nos três anos seguintes, não é possível vislumbrar se será possível um acordo até 2005.. 19. Na reunião de maio o Ministro de Relações Exteriores francês admitiu a possibilidade de iniciar essas negociações depois de 1º de julho de 2003, mas condicionando o término das mesmas ao final da Ronda do Milênio da OMC, a qual poderia levar até 8 anos para terminar. El Pais -02/06/1999 16.

(17) 3. As negociações para um acordo de livre comercio UE e Mercosul 3.1. Relações econômicas e comerciais atuais entre o Mercosul e a União Européia. O cenário comercial registrado ao final dos anos 90 não se modificou nos dois anos subseqüentes e o comércio com a Europa manteve-se como primeiro destino para os países do Mercosul, com uma forte concentração nas relaçõies com o Brasil , como pode ser visto nos gráficos seguintes. quadro 6 Distribuição das exportações do Mercosul segundo destino. UE 30%. Resto Mundo 30%. Resto ALADI 11%. NAFTA 29%. Quadro 7 Participação dos países do Mercosul no comércio com a UE Exportações. Uruguay 2%. Importações. Paraguay 1%. Argentina 23%. Uruguay 3%. Paraguay 1%. Argentina 28% Brasil 68%. Brasil 74%. Fonte – CEI- Ministerio de Relações Exteriores e Culto da Argentina - Dados ano 2000. 17.

(18) 3.2. Estado atual das negociações: consensos e divergências. O Acordo Marco Inter-regional de Cooperação entre o Mercosul e a Comunidade Européia (assinado em Madrid, em 15 de dezembro de 1995) foi relançado na reunião de Cúpula dos Chefes de Estado no Rio de Janeiro em junho de 1999 e passou a compreender três áreas de negociação: Diálogo Político, Cooperação e Comércio, temas negociados numa estrutura praticamente igual à da primeira fase: a principal instância é o Comitê de Negociações Biregionais – o CNB, apoiado no Sub-comitê de Cooperação e pelos Grupos Técnicos de Bens, Serviços e Compras Governamentais (estes para negociar a agenda comercial). Em abril de 2000 o Comitê de Negociações Bilaterais – CNB, se reuniu em Buenos Aires 20 e deu início a atual rodada de negociações, tendo obtido significativo avanço na redação de um primeiro rascunho do acordo que estabeleceu objetivos, princípios, metodologias e a estrutura dos grupos de trabalho programados. Outro tema em que se avançou foi o de definição da agenda do diálogo político abarcando aspectos de interesse mutuo e temas internacionais como, por exemplo, a questão da paz e da estabilidade; prevenção de conflitos; medidas de confiabilidade e segurança nos negócios; promoção e proteção dos direitos humanos; democracia e legislação; desenvolvimento sustentável; dimensão social e ambiental, como também ações contra o narcotráfico, tráfico de armas, crime organizado e terrorismo internacional. A negociação comercial propriamente dita só teve início na reunião do CNB realizada em março de 2001, quando ambos os blocos apresentaram documentos estabelecendo conceitos e condições para o tratamento dos temas tarifários e de acesso a mercados. Porém foi na quinta reunião do CNB, realizada em Montevidéu entre 2 e 6 de julho de 2001, que passaram a ser tratadas as ofertas tarifárias, através de uma proposta apresentada pela UE contendo uma lista e um cronograma de desgravação tarifária e textos sobre o comércio de serviços e compras governamentais e troca de documentos sobre o marco institucional do acordo, sobre metodologias para a liberalização de tarifas, regimes de origem, assuntos aduaneiros, normas e regulamentos técnicos, políticas de competição, liberalização de serviços e compras governamentais. Na reunião, o Mercosul se comprometeu a apresentar sua oferta tarifária até o dia 31 de outubro de 2001, pouco antes da VI Reunião do CNB que ocorreria em Bruxelas ao princípio de novembro. Os negociadores europeus apresentaram uma lista de produtos agrícolas, agroindustriais, industriais e pesqueiros, agrupados em 4 categorias classificadas segundo os prazos de desgravação. O cronograma de desgravação europeu prevê: a eliminação imediata para os produtos da Categoria A; eliminação gradual em quatro etapas no período de 4 anos para os produtos da Categoria B; em sete etapas no período de 7 anos para a Categoria C e em dez etapas no período de 10 anos para os produtos enquadrados na Categoria D. Além disso agregaram um grupo de produtos agroindustriais, cujo tratamento não foi então definido, na Categoria E e propuseram que os produtos de menor proteção tarifária fossem desagravados em prazos mais curtos. No tocante ao comércio de bens, os europeus condicionaram a possibilidade de apresentar eventuais melhorias em sua oferta de desgravação tarifária desde que obtivessem garantias de acesso efetivo ao mercado do Mercosul, especialmente à eliminação de barreiras não tarifárias, bem como reciprocidade às concessões já oferecidas, como as feitas em têxteis e calçados. Quanto aos produtos agrícolas (PAS) e agrícolas processados (PAPs) a proposta européia propunha um prazo de dez anos no máximo para a eliminação de tarifas e dividiu os produtos em quatro categorias com cronogramas distintos e trajetória linear de redução tarifária. Para os PAPs, a oferta se distribuiu entre as categorias de A a C e para os produtos da Categoria D não foram estipuladas condições além do prazo de 10 anos. Também nesse item apresentaram uma categoria E, que incluía grande parte das posições de PAPs e cujas modalidades de desgravação não foram definidas. Finalmente excluíram da oferta alguns produtos agrícolas processados-. 20. I CNB: Buenos Aires, abril de 2000; II CNB: Bruxelas, junho de 2000; III CNB: Brasília, novembro de 2000; IV CNB: Bruxelas, março de 2001; V CNB – Montevidéu, julho de 2001. 18.

(19) PAPs, sugerindo introduzir algumas concessões através do estabelecimento de cotas tarifárias preferenciais. Com relação aos mecanismos de defesa comercial, a proposta européia se remete ao Acordo do GATT sobre antidumping e medidas compensatórias, apesar de prever mecanismos bilaterais de consulta e negociação em torno da aplicação de tais mecanismos no que se refere às salvaguardas. A União Européia também apresentou textos de negociação nas áreas de serviços e compras públicas, ainda que não tenha apresentado nenhuma oferta de liberalização concreta nesses itens. Em matéria de serviços o texto proposto segue o modelo do GATS, já que incluiu a "presença comercial" - terceiro tipo de prestação, posição que se diferencia do modelo do NAFTA que trata esta matéria no capítulo de investimentos. Ao mesmo tempo a proposta não especificou que tipo de metodologia de liberalização deveria ser adotada: listas positivas, como no GATS, ou listas negativas, como no NAFTA. A proposta excluiu do acordo os serviços audio-visuais, transporte de cabotagem marítimo e transporte nacionais e internacionais, mas conferiu um tratamento diferenciado e específico aos serviços de telecomunicações e aos serviços financeiros (objeto de anexos setoriais). Além disso, fica claro que na perspectiva européia o Acordo birregional sobre Comercio de Serviços tampouco deverá afetar aos subsídios concedidos pelas Partes Na área das compras públicas a proposta européia foi ambiciosa e incluiu, em principio, todo tipo de bens, serviços e obras e todas as esferas das entidades públicas (tanto a nível federal, como provincial/estadual), especificando que as exceções poderão ser apresentadas a qualquer momento durante o curso das negociações. A cláusula de “tratamento nacional” rechaçou a discriminação entre provedores provenientes das distintas Partes com base em critérios de origem do capital da empresa ou de origem (país de produção) dos bens e serviços oferecidos; da mesma forma proibiu o estabelecimento de preferências nacionais e de limitações na qualificação e seleção de fornecedores de bens e serviços, no processo de avaliação das propostas e concessão dos contratos. A iniciativa européia causou preocupação aos negociadores governamentais e setores empresariais do Mercosul, pois à primeira vista parecia uma oferta ampla que exigira posicionamento de curto prazo do bloco do cone sul. Ao analisarem mais detalhadamente a proposta os negociadores do Mercosul concluíram, no entanto que a oferta européia era bastante modesta, especialmente na área dos produtos agrícolas e dos produtos agrícolas processados, onde ficava clara a estratégia negociadora dos europeus e os limites do mandato negociador da Comissão Européia em relação às propostas que pudessem afetar a aplicação de sua Política Agrícola Comum. A proposta não tratava do tema subsídios à produção e à exportação de produtos agrícolas, sob o argumento de que esta seria uma questão para tratamento em nível multilateral e, além disso, apresentava quatro tipos de problemas no capítulo de produtos agrícolas e agrícolas processados: na lista apresentada não constavam produtos agrícolas e produtos agrícolas processados relevantes para as exportações do Mercosul; havia a previsão de desgravação de tarifas ad valorem- que são menos relevantes-mas não aos direitos específicos, que são efetivamente os reais mecanismos de proteção à produção agrícola e agroindustrial européia; o fato de ter sido introduzida uma categoria de produtos (categoria E) sem a explicitação de regras de desgravação e a manutenção do mecanismo de preço de entrada, mesmo quando os produtos tivessem suas tarifas ad valorem desgravadas. Os negociadores do Mercosul já haviam declarado que só aceitavam tratar das assimetrias e distorções relativas a acesso a mercados se a agenda de negociações incluísse todos os produtos e questões tais como: os “picos” tarifários, a progressividade tarifária, quotas e tarifas contingentes, subsídios às exportações e medidas de efeitos equivalentes; assim como também as medidas de apoio interno, preços de entrada e a utilização da cláusula de salvaguarda especial para a agricultura. Em sua primeira proposta de modalidades de negociação (apresentada em maio de 2001) os negociadores do Mercosul já haviam afirmado que sem o desmonte das “barreiras não tarifárias” seria impensável iniciar a negociação de desgravação tarifária. O fato da. 19.

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