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Festival ratha yatra um estudo de caso da produção da iskcon bahia

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO - FACOM

ÁUREA CRISTINA RODRIGUES DE SOUZA

FESTIVAL RATHA YATRA:

Um estudo de caso da produção da ISKCON Bahia

SALVADOR – BA 2016

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ÁUREA CRISTINA RODRIGUES DE SOUZA

FESTIVAL RATHA YATRA:

Um estudo de caso da produção da ISKCON Bahia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal da Bahia como exigência para a obtenção do título de bacharel em Comunicação – Produção em Comunicação e Cultura, sob a orientação da Profa. Carla Risso.

SALVADOR – BA 2016

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ÁUREA CRISTINA RODRIGUES DE SOUZA

FESTIVAL RATHA YATRA:

Um estudo de caso da produção da ISKCON Bahia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal da Bahia como exigência para a obtenção do título de bacharel em Comunicação – Produção em Comunicação e Cultura sob a orientação da Profa. Carla Risso.

Aprovada em: 20 / 05 / 2016

BANCA EXAMINADORA

_____________________________ Profa. Carla de Araújo Risso

Professor Doutor Fábio Sadao Nakagawa

(4)

A todos os “amadores profissionais”, que se desdobram por uma demanda do coração, tendo em suas mãos valiosos trabalhadores voluntários, escassos recursos, e muita boa vontade.

(5)

AGRADECIMENTOS

AO MEU PAI ANTONIO CARLOS DE SOUZA E A MEU GURU DHANVANTARI SWAMI (IVAN AUGUSTO LISBOA RIBEIRO), QUE NUNCA ME PERMITIRAM ABANDONAR A FACULDADE.

A JAGAD VICHITRA PRABHU (SÉRGIO LISBOA RIBEIRO), QUE ME FEZ REFLETIR SOBRE A VERDADEIRA REALIZAÇÃO DE RENÚNCIA E SERVIÇO DEVOCIONAL.

À MINHA MÃE AURENI RODRIGUES DE SOUZA, COM QUEM APRENDI MUITAS LIÇÕES DE VIDA. AO MEU MARIDO ANANTA VASUDEVA DAS (SAMUEL LOURENÇO THÉ), POR FLORESCER NA MINHA VIDA.

A ANO, DEU, , SOFI E AYLA. POR SEREM.

A TODOS MEUS AMIGOS, QUE ACHAM QUE EU SOU (QUE SOO E SOUL). E ME OBRIGAM A

ACREDITAR NISSO.

ÀS MINHAS VÁRIAS MÃES E IRMÃS: KUNTI, KADAMBA, MADALENA, RADHA KRSNA, HITA

KARINI,GOPESVARI LEUNY E GAURA PRIYA.

A GOVINDAJI DEVI DASI (GOVINDA VENTURA), CAITANYA DOIDO DAYA DAS (CLEITON

VENTURA), E RAVI KRISHNA (ÊÊÊÊ!!!) PELO COMBUSTÍVEL DA RETA FINAL.

A VERINHA E SUELI POR TANTO TEMPO, E A TODOS COLEGAS, PROFESSORES E

FUNCIONÁRIOS QUE TORCERAM A FAVOR POR MIM.

AO SENHOR JAGANNATHA, QUE, ESTANDO SEMPRE EM MEU CAMINHO, OU MEU CAMINHO A

ELE SE DIRIGINDO, É O OBJETO DE MINHA VISÃO. (JAGANNATHA SWAMI NAYANA PATAGAMI BHAVA TU ME)

AO PODEROSO SENHOR HANUMAN, QUE ME DÁ FORÇAS DE TRANSPORTAR MONTANHAS E SEMPRE ME ACOMPANHA. (BOLO HANUMAN BAJRANGBALI)

ASRILA PRABHUPADA, EM HOMENAGEM AOS 50 ANOS DE FUNDAÇÃO DA ISKCON.

E AO MEU ANJO-EX-ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOSÉ ROBERTO SERAFIM

SEVERINO, QUE ME GUIOU ATÉ A BORDA, E À DOCE PROFESSORA DOUTORA CARLA DE

ARAÚJO RISSO, QUE DEU O EMPURRÃO FINAL.

MEUS AGRADECIMENTOS E REVERÊNCIAS AOS GRANDES MESTRES E PREDECESSORES. A ELES OS CRÉDITOS DE MEUS TRABALHOS.

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“Abhay encantou-se também com o festival de

Ratha-yatra do Senhor Jagannatha,

comemorado anualmente em Calcutá. O maior Ratha-yatra de Calcutá era conduzido no Radha-Govinda Mandir, com três carruagens individuais, carregando as Deidades de Jagannatha (Krsna), Balarama e Subhadra. Saindo do templo de Radha-Govinda Mandir, as carruagens seguiam a Rua Harrison por uma curta distância, após o que voltavam. Nesse dia, os dirigentes do Templo distribuíam ao público grandes quantidades de prasada do Senhor Jagannatha.

Promovia-se Ratha-yatra pelas cidades de toda a Índia, mas o Ratha-yatra original, do qual participavam a cada ano milhões de peregrinos, ocorria a 500 quilômetros ao sul de Calcutá, em Jagannatha Puri. Por séculos em Puri, multidões têm rebocado no percurso de três quilômetros da procissão as três carruagens de madeira de cerca de 14 metros de altura, em comemoração a um dos passatempos eternos do Senhor Krsna. Abhay ficou sabendo como o próprio Senhor Caitanya, há 400 anos, dançara e liderara o extático canto de Hare Krsna no Festival de Ratha-yatra de Puri. Abhay às vezes olhava para o roteiro de horários de trens ou perguntava sobre o preço da passagem até Puri, pensando sobre como conseguir dinheiro para ir até lá.

Abhay [aos cinco anos de idade] queria ter sua própria carruagem e realizar seu próprio

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Ratha-yatra e, naturalmente, recorreu ao auxílio de seu pai. Gour Mohan lhe trouxe uma réplica usada de um ratha (carruagem) de um metro de altura, e, junto, o pai e o filho construíram as colunas de sustento e colocaram um dossel no topo, para dar a maior semelhança possível com aqueles nas grandes carruagens de Puri. Abhay ocupou seus companheiros em ajuda-lo, especialmente sua irmã Bhavatarini, e tornou-se tornou-seu líder natural.

Respondendo a seus pedidos, as mães que viviam na vizinhança se divertiam e concordaram em cozinhar preparações especiais para que ele pudesse distribuir prasada neste festival de Ratha-yatra.

Como o festival de Puri, o Ratha-yatra de Abhay durou oito dias consecutivos. Os membros de sua família se reuniram, e as crianças da vizinhança puxavam o carro da procissão, cantando e tocando tambores e karatalas.

(...)

Quando, no final da década de 1960, Srila Prabhupada começou a introduzir grandes festivais de Ratha-yatra nas cidades dos Estados Unidos e quando começou a instalar Deidades de Radha-Krsna em seus templos da ISKCON, ele disse que aprendera todas essas coisas com seu pai.”

(8)

RESUMO

Este documento registra um estudo das produções do evento “Festival de Verão Ratha Yatra” realizadas pela ISKCON Bahia, Brasil, com foco no período de 2003 a 2013. Seu objetivo é apontar caminhos para o aprofundamento do Produtor Cultural interessado no campo do evento Ratha Yatra, e de outros similares. Este Trabalho apresenta um histórico do Movimento Hare Krishna, ISKCON (mundial, no Brasil e na Bahia), e do Ratha Yatra (na Índia, no Ocidente, no Brasil e por fim em Salvador); destrincha experiências de produção deste evento em Salvador (BA), e revela considerações do produtor sobre o trabalho na prática realizando este evento por mais de 10 anos. Vagueia sobre a participação de voluntários, a escassez de recursos, as limitações do produtor, concluindo com a importância da simbiose entre o Produtor Cultural e seu produto.

Palavras-chave: Ratha Yatra; ISKCON; Movimento Hare Krishna; Jagannatha; Voluntário; Festival

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ABSTRACT

This document contains a study about the productions of the event "Festival de Verão Ratha Yatra" [Ratha Yatra Summer Festival] organized by ISKCON Bahia, Brazil, focused on the period 2003 to 2013. Its objective is to point ways to deepening for any Cultural Producer interested on the field of the Ratha Yatra event or similar ones. This paper presents a history of the Hare Krishna Movement, ISKCON (world, Brasil and Bahia), and a history of Ratha Yatra (in India, in the Occident, in Brazil, and at last in Salvador); it details production experiences of the event in Salvador (BA) and it reveals the producer's considerations about the job in practice by organizing the event for over 10 years. It wanders by the volunteers's participation, the shortage of resources, the producer's limitations, and it concludes with the importance of the symbioses between the Cultural Producer and his product.

Keywords: Ratha Yatra; ISKCON; Hare Krishna Movement; Jagannatha; Volunteer; Festival

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AP Acervo Pessoal

APV Alimentos Para a Vida (FFL) BBT Bhaktivedanta Book Trust

CGB Conselho Governamental Brasileiro FFL Food for Life

GBC Governiment Body Comission

ISKCON International Society for Krishna Conciousness (Sociedade

Internacional para a Consciência de Krishna) RY Ratha Yatra

(11)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13

1.1 GLOSSÁRIO PRÉVIO 15

2 A ISKCON E O RATHA YATRA, NA ÍNDIA, NO OCIDENTE

E NO BRASIL 16

2.1 ISKCON 17

2.2 Ratha Yatra: sua origem e elementos 18

2.2.1 Deidades do Ratha Yatra 24

2.2.2 Pujari 25

2.3 Ratha Yatra no Ocidente 26

2.3.1 Ratha Yatra no Brasil 30

3 A ISKCON BAHIA E O RATHA YATRA 35

3.1 Deidades da ISKCON Bahia 39

3.2 Snana Yatra 43

3.3 Carro do Ratha Yatra 44

3.3.1 Cúpulas 50

3.4 Prasada – Alimentos Para a Vida 54

3.5 Música 54

4 BOTANDO A MÃO NA CORDA 57

4.1 A “Religião” como um rótulo 58

4.2 Escolha do Percurso, Dia e Horário 58

4.3 Snana Yatra 60

4.4 Acompanhamento Percussivo 60

4.5 Sonorização 60

4.6 Apresentações Artísticas 61

4.7 Cerimônia dos Cocos 61

4.8 Chhera Pahanra (varredura) 61

4.9 Banquinhas 62

4.10 Manutenção, Transporte e Montagem do Carro 62

4.10.1 Pós-evento 63

4.11 Decoração 65

(12)

4.12.1 Madalena Koppe (Mada) 67

5 DE PRODUTOR PARA PRODUTOR 69

5.1 Planejamento e Execução 70

5.1.1 Projeto 70

5.1.2 Plano de Comunicação 71

5.1.3 Autorizações 72

5.2 Gerenciando Recursos 74

5.2.1 Voluntários, Tempo e Outros Recursos: o

Panorama da Mudança 74

5.2.2 Recurso Humano 75

5.2.3 Recursos Financeiros 76

5.2.4 Apoios Públicos 77

5.2.5 Distribuição de Prasada - Alimentos Para a Vida 77

5.3 Produção como Seva 78

5.3.1 Um Espaço para o Místico 79

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 84 REFERÊNCIAS 86 APÊNDICE A 88 ANEXOS 93 ANEXO A 94 ANEXO B 110 ANEXO C 125

1/5 Por que Krishna Aparece como Jagannatha? 126 2/5 Ratha-yatra: Quando o Senhor Sair, Convide-O a Entrar 134

3/5 Jagannatha: O Êxtase do Reencontro 138

4/5 Gundicha Marjana, A Limpeza do Templo de Gundicha 151

5/5 Archana: Adoração à Deidade 160

ANEXO D 166

ANEXO E 184

ANEXO F 202

RELAÇÃO DE ANEXOS ÁUDIO VISUAIS (F a N) 204

(13)

1 INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho é ampliar o campo de visão do produtor cultural enquanto um ser, se não já inserido, a se inserir no mundo de sua produção, através do estudo de caso de Produção do “Festival Ratha Yatra”, realizado pela Sociedade Internacional Para a Consciência de Krishna (ISKCON) na cidade de Salvador, Bahia, no período compreendido entre, e incluso, os anos de 2003 a 2013.

Serão levantadas observações sobre uma produção sem fins lucrativos, que tem sua base no trabalho voluntário, realizada por devotos, por, e para, uma instituição de poucos recursos financeiros, com apenas 40 anos de história no Brasil. Devido às particularidades desse específico serviço de produção, este trabalho de conclusão de curso versa sobre o indispensável vínculo entre o(s) produtor(es) e seu produto ao trabalhar em um cenário peculiar, que imporá sua dinâmica, do início ao fim. Inevitável tratar das dificuldades enfrentadas e como minimizá-las, bem como do caráter salutar de tal tipo de evento e suas benesses para o profissional da Produção.

Os significados das palavras estranhas à Língua Portuguesa, mais especificamente em Sânscrito, que serão constantemente usadas, podem ser encontrados ao final do Trabalho, na seção Glossário. Uma linguagem única é utilizada, e termos são condensados, visto tratar-se de um cenário próprio e específico. Para situar inicialmente o leitor desde trabalho, os mais relevantes desses termos são apresentados nesta Introdução, como um GLOSSÁRIO PRÉVIO. Necessária, também, é a contextualização sobre a SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA CONSCIÊNCIA DE KRSNA (ISKCON), e sobre as tradições e elementos do Ratha Yatra, ao que o Capítulo 2 se propõe. O Anexo A contém informações institucionais sobre a ISKCON, seu fundador e suas bases; e o Anexo B, o histórico da ISKCON na Bahia, e as concepções de divindade desta instituição. O Anexo C enriquece o leitor com as origens e passatempos do personagem principal do Ratha Yatra, o Senhor Jagannatha, em 5 artigos da revista “Volta ao Supremo”. Maiores dúvidas quanto à tradição vaishnava podem ser sanadas através da leitura do Anexo D.

No Capítulo 3, observamos o cenário da produção do RATHA YATRA NA BAHIA, mas especificamente em Salvador, e sua movimentação estrutural, quando a organização do evento passa das mãos da administração oficial da

(14)

Instituição para os seus membros voluntários autônomos (produtores-profissionais-amadores). Essa movimentação da estrutura social da ISKCON é apresentada por Dhanvantari Swami, pioneiro da ISKCON no Brasil, no Anexo E.

O Capítulo 4, “BOTANDO A MÃO NA CORDA”, dá sequência ao desenvolvimento da ideia de se produzir um Ratha Yatra ou eventos similares. Trata das bases das escolhas a serem feitas na organização desses eventos.

O Capítulo 5 continua apresentando os elementos que se destacaram na produção do Ratha Yatra em Salvador de 2003 a 2013, e as experiências e considerações sobre cada um. “DE PRODUTOR PARA PRODUTOR” é emitido finalmente como a voz latente do produtor do Ratha Yatra, direcionada a outro produtor, esmiuçando o “andar da carruagem” de seu trabalho: seu modo de agir frente a todo o contexto apresentado, inserido em um cenário mais amplo da produção.

Para complementar este trabalho, uma vez que sua conclusão se deu após a realização do Ratha Yatra 2016 de Salvador, o Apêndice A traz um relato sobre o processo atual de licenciamento de eventos do município.

Muitos detalhes da execução de um Festival de Ratha Yatra não foram ampliados, dado o objetivo deste trabalho, sendo passíveis de se tornarem matérias-primas para um futuro trabalho mais extensivo. O foco aqui são as experiências e impressões mais marcantes de um produtor, profissional por sua formação acadêmica e/ou experiência, mas amador por escolha, em mais de 11 de edições de um mesmo evento.

Ainda que limitado, espera-se que este trabalho sirva de auxílio para interessados na produção do evento em questão, ou outros de natureza similar.

(15)

1.1 GLOSSÁRIO PRÉVIO

a) Gaudya-Vaishnavismo - tradição monoteísta e personalista, ensinada através da corrente de sucessão discipular que advém da Encarnação de Deus Caitanya Mahaprabhu (Gauranga). Sua prática essencial é a Bhakti-Yoga.

b) Vaishnava - seguidor do gaudya-vaishnavismo.

c) Bhakti Yoga - pratica espiritualista que compreende o serviço devocional espontâneo, imotivado e amoroso à Suprema Personalidade de Deus, como forma religiosa, religare, de conexão com o Divino.

d) Bhakta - praticante da Bhakti-Yoga.

e) Devoto - será utilizado como variação para “Bhakta”. Compreende o membro da ISKCON, residente ou não do Templo.

f) Devocional - próprio do devoto, feito por amor e espontaneamente.

g) Seva - serviço devocional. Todo trabalho feito por, ou destinado a, o devoto. h) Voluntário ou colaborador - apoiador da produção do Ratha Yatra, sendo

devoto ou não, e não remunerado por isso, a menos que seja ressalvado.

i) Simpatizante - aquele que não pratica a religião vaishnava, mas apoia e simpatiza com a instituição e seus objetivos, sendo ou não um voluntário ou colaborador.

j) Carro, carruagem ou Carro do RY - veículo no desfile RY para levar as Deidades, sendo puxado por cordas pelos participantes.

k) Mantra - Conjunto de sons, que por suas propriedades e vibrações intrínsecas possui o poder de realizar transformações, sutis ou grosseiras na matéria orgânica.

l) Maha Mantra ou Maha Mantra Hare Krishna: hare krishna hare krishna krishna krishna hare hare hare rama hare rama rama rama hare hare. É uma oração de aclamação e louvor à Suprema Personalidade de Deus. Considerada a mais poderosa oração pela tradição Gaudya-Vaishnava.

(16)
(17)

2 A ISKCON E O RATHA YATRA, NA ÍNDIA, NO OCIDENTE E NO BRASIL

2.1 ISKCON

Figura 1: Srila Prabhupada (Acervo Pessoal)

A Sociedade Internacional Para a Consciência de Krishna, ISKCON (do inglês International Society for Krishna Consciousness) foi fundada em 1966, nos Estados Unidos, por seu acarya (aquele que ensina pelo exemplo) Abhay Caranaaravinda Bhaktivedanta Swami Prabhupada, Srila Prabhupada, que aos 69 anos de idade saiu pela primeira vez da sua terra natal, Índia, visando satisfazer o desejo e sugestão de seu mestre espiritual de levar aos países de língua inglesa os conhecimentos da tradição monoteísta e personalista Gaudya Vaishnava. Durante a viagem de três dias em um barco cargueiro chamado Jaladutta, Srila Prabhupada completou 70 anos e sofreu dois ataques cardíacos. (SATSVARUPA, 2002)

A ISKCON é uma instituição sem fins lucrativos, de carácter religioso (monoteísta e personalista), filosófico, social, cultural e beneficente, que, por ter como fundamento em suas práticas religiosas diárias o cantar de mantras (cânticos

ou recitações) na língua sânscrita, sendo desses o principal o Maha Mantra “Hare

Krishna” (hare krishna hare krishna krishna krishna hare hare hare rama hare rama

rama rama hare hare), se tornou popularmente conhecida como “Movimento Hare

(18)

Em sua missão, Srila Prabhupada não se limitou aos países de língua inglesa, e surpreendeu seus compatriotas não só por obter sucesso na consolidação da ISKCON nos Estados Unidos da América, - o que seus contemporâneos indianos já consideravam impossível antes de sua partida da Índia, - mas efetivamente expandiu esta Sociedade para todos os continentes e principais países do mundo, incluindo Estados da própria Índia, onde os Templos e discípulos da ISKCON se tornaram referências no Gaudya Vaishnavismo. (SATSVARUPA, 2002)

Maiores informações sobre a ISKCON e Srila Prabhupada se encontram nos

Anexos A, B e D.

2.2 Ratha Yatra: sua origem e elementos

Figura 2: Ratha Yatra em Jagannatha Puri (AP)

“Ratha” significa carruagem, e “Yatra”, viagem, passeio. O Ratha Yatra é um

festival religioso que originalmente acontece na cidade de Puri (ou Jagannatha Puri), Orissa, Índia, quando três grandes carruagens de madeira, são puxadas por cordas por um percurso de 3 quilômetros, do Templo de Jagannatha Puri ao Templo de Gundica (pronuncia-se “Gunditcha”), sempre com o acompanhamento de música devocional e distribuição de alimentos consagrados (prasada) (KHUNTIA, PARIJA,

(19)

BIBUDHARAÑJAN, 2002). A primeira procissão data de 1150 dC, e anualmente 1 milhão de participantes são aguardados, sendo este um dos mais antigos e maiores eventos religiosos do mundo.

Dois elementos principais caracterizam a base de um evento Ratha Yatra: a) Carros de passeio (carruagens) puxados por cordas (ou outro artifício) pelas pessoas presentes; e

b) As Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra como passageiros dessas carruagens (vide item 3.2.1).

Carruagens - com 16 metros de comprimento e pesando cerca de 5 toneladas cada, os Carros de RY de Puri são considerados como a própria Deidade. Sua confecção ocorre como um ritual, e todas as medidas, pinturas, cores, tanto do Carro como de Suas cúpulas, são religiosamente pré-determinados.

Passageiros - No Ratha Yatra de Puri, as três Deidades: Jagannatha, Seu irmão Baladeva, e Sua irmã Subhadra, assumem Seus tronos em cada uma das três carruagens, e saem para passear, na única oportunidade por ano em que podem ser vistas por aqueles que não têm permissão de entrar em Seu Templo - estrangeiros e indianos de determinadas castas, classes sociais, não têm esse privilégio e só podem ver as Deidades durante seu passeio Ratha Yatra. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Figura 3: Baladeva, Subhadra e Jagannatha de Puri em Seus Carros de RY (AP)

(20)

Figura 4 – cordão de segurança para puxar as cordas do RY em Puri (AP)

Cordas - O significado místico das cordas puxadas pelos presentes no RY é “o esforço necessário para se alcançar Deus.” Os participantes estão puxando Deus para dentro de Seus corações. Segundo a tradição, quem puxa a corda do carro do Senhor Jagannatha no dia de Seu Ratha Yatra obtém a liberação deste mundo material. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Figura 5 – Deidades de Puri prontas para o banho (AP)

Snana Yatra - Aproximadamente quinze dias antes do desfile principal, as Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra passam pela cerimônia de Snana Yatra, que consiste em serem banhadas pelos pujaris (Seus cuidadores pessoais -

(21)

vide 3.2.2) com diversos líquidos, como sucos de frutas, mel, água de coco, leite,

essências, ghee (manteiga sem impurezas), iogurte e água. Como esse banho é realizado na parte externa do Templo, considera-se que as Deidades ficam doentes devido ao frio, após o que ficam reclusas no altar da sala do Templo de Puri, de portas fechadas, até a data do Ratha Yatra, sendo cuidadas de Sua doença, e vistas, neste período apenas por seus servos íntimos (pujaris). (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Figura 6 – Jagannatha sendo levado para o Carro no movimento de Pahanti (AP)

Pahanti - No dia do Ratha Yatra, após Sua recuperação, as Deidades são levadas, uma a uma, pelos pujaris e pessoas autorizadas, para Suas carruagens fora do Templo, onde são recebidas com grande festa pelos fiéis, e colocadas nos assentos de Seus respectivos carros de Ratha Yatra. Como as Deidades em Puri são grandes e pesadas, este movimento de saída do Templo se torna um evento à parte, chamado Pahanti. Grandes toras de madeiras e/ou almofadas são colocadas à frente das Deidades, que são levantadas e empurradas para frente, dando a impressão das Deidades estarem dançando, embriagadas, em meio à multidão. Seus servos entendem que é devido a estarem intoxicadas de amor puro. (Vide Anexos áudio visuais I e J)

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Figura 7 – Deidades de Puri sendo levadas do Templo para os Carros (AP)

Chhera Panhara (pronuncia-se ‘pan-RRa-ra’) - É uma tradição na qual o maharaja, ou rei, de Puri varre o chão na frente dos Carros antes da procissão. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002) Com este gesto ele demonstra que apesar dele ser a maior autoridade do templo de Puri, Deus, Jagannatha, é a autoridade Suprema, acima dele mesmo.

Figura 8: Governante de Puri realiza o Chhera Panhara (AP)

Maha Prasada - Durante o Ratha Yatra, muitos alimentos lacto-vegetarianos são consagrados durante o percurso,

através do seu oferecimento pelos pujaris a estas Deidades. A partir dessa consagração, os alimentos passam a ser chamados de

“prasada”, misericórdia de Deus, ou “mahaprasada” (maha = grande).

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Figura 10: Templo de Gundica (AP)

Retiro - As Deidades saem do Seu Templo em Puri percorrendo os três quilômetros que O separa do Templo de Gundica, onde passam 7 dias repousando, e retornam ao Templo de Puri no 9º dia. Apesar de o Festival abranger esses 9 dias, o evento principal do Ratha Yatra compreende o primeiro dia da procissão.

(24)

2.2.1 Deidades do Ratha Yatra

Nos Templos Gaudya-vaishnavas, os altares são ocupados por formas que são manifestações diversas de Deus. São as Deidades. Elas podem ser de madeira, mármore, metal, pedra, ou qualquer outra composição, desde que autorizada na linha de sucessão discipular da tradição.

São três as Deidades predominantes no Templo de Puri, esculpidas em enormes toras de madeira, que passeiam cada qual em Sua carruagem. A principal, que tem a cor negra e representa o próprio Deus (ou Krishna) chama-se Jagannatha, o “Senhor do Universo” (jagat = “universo”, nath = “senhor”, “amo”). As outras duas são Baladeva (ou Balarama, ou Balabhadra), de compleição branca, que é o irmão mais velho de Deus (Jagannatha); e terceira é Subhadra, a irmã mais nova dos outros dois, de cor amarela. No Ratha Yatra em Puri, cada uma dessas Deidades assume uma das três carruagens do desfile.

Figura 12: Deidades de SSA: Baladeva (branco) Subhadra (amarela) e Jagannatha (AP) As cores das Deidades possuem significados místicos: o negro se refere à inescrutabilidade da plenitude de Deus; o branco, à pureza e força espiritual; e o amarelo ao conhecimento e divindade. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

O Ratha Yatra é um evento próprio dessas Deidades: Jagannatha, Baladeva e Subhadra. Caso haja outras Deidades no altar, Elas podem ir junto com as três Deidades principais nos rathas (carruagens).

O Anexo C traz diversos artigos retirados da revista do Movimento Hare Krsna “Volta ao Supremo” onde a relação de Jagannatha e Seus devotos é bem exemplificada.

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Figura 13: Deidades de Sudarshana (AP) Fig. 14: topo Templo Puri (AP) Sudarshana Chakra - Jagannatha possui uma Deidade adjacente que representa a Sua principal arma, chamada Sudarshana (chakra = disco, círculo), que é um disco incandescente cortante que se manifesta apenas quando invocado. Enquanto não manifesta, no altar é representada repousando em uma coluna de madeira, seja esculpida ou pintada, e é esta coluna que segue no Ratha Yatra no carro de Subhadra.

2.2.2 Pujari

São pessoas credenciadas para cuidar das Deidades no altar. Consideradas manifestações na Terra do divino, as Deidades são tratadas como o próprio Deus vivo no altar: Lhes são oferecidos alimentos, sempre lacto-vegetarianos, que após oferecidos são chamados de prasada, ou mahaprasada; Elas são colocadas para dormir à noite e acordadas pela manhã; banhadas (geralmente por processo indireto); vestidas; decoradas; e adoradas ritualisticamente (puja = “reverência”, “adoração”) com diversos elementos, como flores, incenso, fogo, água, música etc. (PAÑCARATRA-PRADIPA).

Figura 15: Prato de elementos oferecidos no Puja (AP)

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No Templo de Jagannatha Puri, existem mais de cinco mil pujaris. Mas, devido à história da origem da adoração à Jagannatha, os principais pujaris, servos mais íntimos das Deidades, não são pujaris clássicos, e sim descendentes de um criador de porcos chamado Vishuavasu, de uma classe específica de “intocáveis”, chamados Dayitapatis. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Quarto de Pujari (Pujari room) - O local onde todo o material necessário à adoração e ao cuidado as Deidades fica guardado, e onde também o alimento que Lhe será oferecido é preparado, é chamado de pujari room, ou no Brasil simplesmente de Pujari.

2.3 Ratha Yatra no Ocidente

Anexos à tradição filosófica religiosa, aspectos culturais, como indumentária, culinária, instrumentos e ritmos musicais, festividades e outros, foram introduzidos no Ocidente por Srila Prabhupada, e apropriados pelos membros da ISKCON e simpatizantes. O Ratha Yatra foi um desses Festivais introduzidos pela ISKCON.

Figura 16 Jayananda Prabhu construindo o 1º Carro de RY de São Francisco (AP)

O primeiro Festival Ratha Yatra fora da Índia feito com carruagem, arquitetada e construída pelo discípulo de Srila Prabhupada Jayananda Prabhu, ocorreu em Junho de 1968, em São Francisco, Estados Unidos. (SATSVARUPA, 2002) (Vide vídeo Anexo L).

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Fig. 17: 1º RY de São Francisco 1967 (AP) Fig. 18: RY de São Francisco – 1968 (AP) Em 1967, essas Deidades já haviam sido levadas para passear fora do Templo, sendo este considerado o 1º Ratha Yatra de São Francisco, mas por ter sido em cima da carroceria de um caminhão com tração mecânica, descaracterizou-se um dos pilares do RY: o carro descaracterizou-ser puxado por cordas pelos predescaracterizou-sentes. Sendo assim, temos o 1º Ratha Yatra no Ocidente em 1967, mas com carruagem apenas em 1968. (Vide vídeo Anexo K, L e M).

Adaptações - Em suas edições fora da Índia, devido a não haver tradição, nem as facilidades e know-how dela advindas, muitos desfiles não possuem todas as características originais. Os carros do desfile podem ser menores, ou possuir apenas um carro para as três Deidades, variar de modelos, entre outras adaptações necessárias para a realização do passeio. Também há adaptações no Snana Yatra, tanto nos elementos usados, como a data do banho, não sendo necessariamente 15 dias antes do Ratha Yatra, sendo até mesmo prescindível.

No entanto, os dois elementos devem permanecer: as Deidades Jagannatha, Baladeva e Subhadra; e o carro do desfile ser tracionado pelos participantes.

Figura 19: Participante puxa a corda do Carro de RY em Salvador (AP)

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Hoje, o Ratha Yatra é uma tradição da ISKCON em todo o mundo, acontecendo em todos os Continentes.

Todas as figuras a partir desta página são Figuras do Acervo Pessoal, com exceto quanto explicitado o Autor entre parênteses, ou impresso na foto.

Figura 20: Austrália Figura 21: Estados Unidos da América

Figura 22: África do Sul Figura 23: Londres

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Figura 26: Kenya Figura 27: Taiwan

Figura 28: Indonésia Figura 29: Canadá

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Figura 32: Holanda Figura 33: Índia

2.3.1 Ratha Yatra no Brasil

Segundo o devoto Paravioma Das (Pedro Paulo Gomes Marim), discípulo de Srila Prabhupada e pioneiro do Movimento Hare Krishna no Brasil (1973), contatado via Skype, o primeiro Ratha Yatra no Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, em 1991.

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As principais edições anuais são em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte e Curitiba. Mas há Ratha Yatras esporádicos feitos em muitas outras cidades.

Figura 35: Salvador

Figura 36: Curitiba Figura 37: Belo Horizonte

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Todos acontecem com as Deidades sendo levadas em apenas um Carro, e o acompanhamento musical é feito com mantras e instrumentos tradicionais, como o tambor chamado mrdanga, e címbalos de mão chamados karatalas (ou kartalas).

Figura 40: Mrdanga Figura 41: Karatalas

Além do Maha Mantra, outros mantras são entoados espaçadamente durante o RY, em glorificação a Deus, Seus associados, e a Seus santos nomes. Os principais são:

“jaya jagannatha, jaya baladeva, jaya subhadra” – Glórias a Jagannatha, Baladeva e Subhadra

“jagannatha swami nayana pata gami bhavatu me” – Que o adorável Senhor Jagannatha seja o objeto de minha visão.

“jaya gaura nitai” – Glórias aos Senhores Gauranga e Nityananda. “nitai gaura haribol” – Cantemos os nomes de Deus.

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Ratha Yatra 2007

Figura 44: Banda É ao Quadrado Figura 43: Vaiasaki Prabhu e Vrndavana Das lideram o kirtan

Interação Cultural - Em algumas edições do RY no Rio de Janeiro, a abertura do evento foi feito juntamente com uma bateria de escola de samba, ou acompanhado por uma banda marcial.

Em Salvador, a interação com a Cultura local é marcante, pois durante todo o percurso os mantras são cantados ao ritmo dos tambores baianos – inicialmente o RY foi acompanhado pelo grupo Olodum, e, em anos seguintes, por outros grupos de percussão locais, como “‘É’ ao Quadrado”, “Orquestra de Pandeiros de Itapuã”, e “Meninos da Rocinha do Pelô.”

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O RY é essencialmente é um evento religioso. Para os devotos, é uma procissão onde fiéis e simpatizantes puxam o Carro onde Deus (Deidade), em Sua manifestação de Jagannatha, sai para passear com Seus Irmãos Baladeva e Subhadra, apreciando Seus domínios e dando alegria a Seus súditos.

Espetáculo Cultural - Para além do caráter religioso, o cortejo e suas cores, música, dança, às vezes encenações, instrumentos e vestes incomuns, alegria, Carro alegórico, alimentos lacto-vegetarianos gratuitos, acessibilidade, conferem sua ímpar riqueza sociocultural. Todos os que se aproximam da manifestação são acolhidos, e chamados à participação no canto e na dança. A maioria caminha à frente e ao lado do Carro, alguns se dispondo a puxar as cordas. Diversos músicos se juntam no cantar e tocar de instrumentos. Eventualmente, e principalmente em seus primórdios, rodas de capoeira também se formam no final do desfile por grupos de capoeiristas e crianças que acompanham o desfile.

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3 A ISKCON BAHIA E O RATHA YATRA

O primeiro RY em Salvador foi em 1995, organizado pela ISKCON Bahia, pela orla do Bairro Barra, terminando no Porto da Barra, onde houve show de estreia da banda de reggae Vishnudutas, liderada por Vrndavana Das, apresentações teatrais, de dança, palestra e distribuição de alimentos lacto-vegetarianos (prasada) - tudo completamente gratuito.

Figuras 48 e 49: II Ratha Yatra de Salvador – 1996 (de Ondina ao Farol da Barra) com as presenças de Iswara Maharaj e Krishna Kishora Prabhu

A orla da Barra acabou se tornando o percurso para mais 16 edições anuais do RY, de Ondina ao Farol da Barra, tendo sido alterado apenas nos anos de 1998, quando foi realizado na orla de Piatã, em 2014, feito pela primeira vez fora de Salvador, em Lauro de Freitas, no loteamento Villas do Atlântico, e em 2016, quando o percurso foi pela orla do Largo de Amaralina ao final da Pituba; totalizando 20 edições realizadas até o ano de 2016. (Obs.: a ISKCON Bahia se encontra sediada

na capital, Salvador, e não possui ações significativas em outras cidades do Estado)

Figura 50:

Devotas apresentam coreografias no II Ratha Yatra de Salvador – 1996 (de

Ondina ao Farol da Barra).

No canto esquerdo superior da foto, as Deidades de Gaura Nitai são

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Edições do Ratha Yatra realizados pela ISKCON Bahia:

Ano / Edição / Snana Yatra / Local

1995 I não Barra

1996 II não Barra

1997 III não Barra

1998 IV não Piatã

1999 V não Barra

2000 Não houve

2001 VI não Barra

2002 VII não Barra

2003 VIII não Barra

2004 IX não Barra

2005 X não Barra

Ano/Edição/S.Yatra / Local 2006 XI sim Barra 2007 XII sim Barra 2008 XIII sim Barra 2009 XIV sim Barra 2010 XV sim Barra 2011 XVI sim Barra 2012 XVII sim Barra 2013 XVIII não Barra 2014 XIX sim V. Atlântico 2015 Não houve

2016 XX sim Pituba

De 1996 a 2000, quando havia muitos residentes no Templo de Salvador (ISKCON Bahia), à Rua Álvaro Adorno, nº 17, Brotas, os RY eram organizados pelos administradores do Templo, que ocupavam os monges residentes, com a cooperação dos “devotos externos” (membros que não residem nos Templos), em diversas tarefas para o Ratha Yatra, como captar recursos financeiros, doações, flores, serviços artesanais e culinários; providenciar as autorizações do evento; motivar a participação dos membros “não-residentes” e simpatizantes; montagem, pintura e decoração do carro; divulgação do evento nas ruas e na mídia; preparação das grandes quantidades de prasada a serem distribuídas; confecção de guirlandas para as autoridades e demais participantes; apresentações artísticas de teatro, dança e música etc.

Figura 51: Saída na UFBA Ondina Ratha Yatra 2013 - Salvador / Bahia

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Movimentação social da ISKCON Brasil - Com a redução de residentes dos Templos da ISKCON, fenômeno que ocorreu naturalmente em todo o Brasil e muitos lugares do mundo, com a maturidade da Instituição, (vide Anexo E) devido a que os antigos monges estabeleceram famílias e residências fora do ambiente templário, e com os novos membros aderindo à religião sem necessariamente passarem pela fase de residir nos Templos, os serviços internos (do Templo) em Salvador se resumiram ao do Pujari com as Deidades, e à organização da recepção semanal de visitantes, o Festival de Domingo. Essa redução chegou ao número de haver apenas um residente: o pujari, devido à natureza de seu serviço (cuidar das Deidades, iniciando ao acordá-lAs às 3h45min da manhã).

Figura 52 (E): Alannatha Prabhu e sua filha Ananda Govinda, ex-residentes de Templo. (Carlos Jorge)

XX RY SSA 2016 Figura 53 (D): Três gerações de devotos. (CJ)

Com essa mudança, o RY sofreu um impacto em sua concepção, e a edição de 2001, que correu o grande risco de não acontecer, foi idealizada e organizada precariamente, em apenas uma semana, graças à determinação do presidente da ISKCON Bahia na época, Gopa Kumara Das (Grenffel Bomfim da Silva) - que residia com apenas mais 3 devotos no Templo - e do devoto “não-residente” Jaya Das (Ricardo Campos), para que não se passasse mais um ano sem a realização do evento.

A partir daí, ficou clara a necessidade de reestruturação do processo de produção do Ratha Yatra da ISKCON Bahia. Membros da congregação com maiores aptidões na área começaram a se responsabilizar pelo evento de forma autônoma à administração interna do Templo, com a autorização da mesma, que funcionava através de Equipe Administrativa na época.

E dessa movimentação de jurisdição, surge a experiência de que trata este trabalho, quando “membros externos” da ISKCON Bahia, passam a estar à frente da produção deste evento em Salvador, do ano 2003 ao 2013.

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3.1 Deidades da ISKCON Bahia

As Deidades são formas aparentemente materiais nas quais a Divindade aceita se manifestar para permitir uma experiência mais pessoal com o devoto. Os devotos, então, têm uma ligação íntima muito particular com as Deidades, e se relacionam com as mesmas como se na presença pessoal de Deus. (PAÑCARATRA-PRADIPA)

A ISKCON Bahia possui instaladas no altar em seu Templo as Deidades:

Figura 54: Jagannatha (E), Baladeva (C) e Subhadra (D) (madeira)

Jagannatha - Manifestação de Deus em uma forma negra, de madeira, com olhos que nunca se fecham, braços sempre estendidos receptivamente, e um sorriso eterno. Significa “Senhor do Universo”.

Baladeva - Manifestação Divina como o Irmão de Deus, diferenciando-Se de Jagannatha apenas pela cor branca e diferenças sutis em Suas feições (pintura), mas também em madeira e possuindo olhos, sorriso e braços sempre abertos.

Subhadra - Manifestação Divina da Irmã de Deus, de cor amarela, também em madeira, com olhos sem pálpebras que nunca se fecham e largo sorriso, mas sem braços estendidos.

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Observação: As Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra não possuem mãos nem pés, com um significado místico de mesmo não tendo pés, podem ir a diversos locais do mundo, e sem mãos receber tudo que Lhes é oferecido. (Sobre isso, pode-se ler o Anexo C)

Figura 55: Nityananda (E) e Caitanya (D) (metal)

Caitanya Mahaprabhu (Gauranga ou Gaura) - Segundo a tradição Gaudya-vaishnava, foi a última manifestação pessoal de Deus na Terra. Tinha a compleição dourada (“gaura” significa dourado) e veio como um devoto fiel ao Senhor, ensinando como a devoção deveria ser exercitada nesta era, e revelando e propagando o cantar do Maha Mantra, antes um privilégio de uma seleta classe intelectual indiana.

Nityananda Prabhu (Nitai) - Assim como Deus vem como o Senhor Caitanya, Seu irmão Balarama advém como o Senhor Nityananda, auxiliando em Seu propósito de difusão de bhakti a todo o mundo (não limitado à Índia).

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Figura 56: Deidade de Prabhupada (metal)

Prabhupada - Uma deidade em metal do acarya-fundador da ISKCON.

Sudarshana ou Sudarshana Chakra - Manifestação da arma de Deus (Krishna), esculpida/desenhada em madeira. Foi a última Deidade a ser instalada, no ano de 1998, durante um Maha Festival de três dias que incluía o desfile do RY.

Fig. 57, 58: Deidade de Sudarshana (madeira) Fig. 59: (Kadamba 2016)

Todas essas Deidades são levadas no carro durante o desfile de RY.

Consideradas os convidados principais do RY, é fundamental a articulação de Seu transporte apropriado até o local do desfile e o Seu retorno ao Templo.

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Os devotos de Jagannatha possuem um humor devocional característico, considerando o Senhor do Universo como um ente de sua família. Então, realizar o passeio de Ratha Yatra para o prazer das Deidades é um serviço (seva) muito amado e ansiado.

As Deidades possuem ritos específicos, tanto diários como para sair ao Ratha Yatra. Apenas os pujaris com segunda iniciação, brahmínica, (vide Anexo D e E) podem tocá-lAs, com a devida purificação, através de banho, jejum, vestimenta específica e limpa, mudras (gestos com as mãos) e mantras.

Há uma cerimônia para a saída das Deidades do Templo, bem como uma recepção especial em Sua chegada ao local do desfile, quando são acomodadas no Carro. São os momentos mais solenes do evento. Tudo deve estar pronto para Sua chegada, para que Elas subam imediatamente ao Carro, e ao final do desfile para Sua volta ao Templo. Após estarem assentadas no Carro, arrumadas e decoradas, é realizado um puja (adoração cerimonial) providenciado pelos pujaris.

Espera-se no desfile que as Deidades possuam roupas novas, confeccionadas e bordadas por devotos locais, (como já foram por Kadamba Devi Dasi (Naíra Gomes Silva), Mãe Ananda Devi Dasi (Fernanda Rodrigues), Lalita Devi Dasi (Tatiany Oliveira), Bhakti Devi Dasi (Janice Chiarioni), Radha Madana Gopala Devi Dasi (Thiana Costa), entre outros), ou trazidas da Índia, para serem inauguradas neste dia. Aprazíveis guirlandas de flores também são providenciadas para que as Deidades usem durante o desfile, e, se possível, para outros participantes do RY.

Chhera Pahanra (varredura) – No início do desfile, vários devotos e outros participantes se revessam varrendo a rua em frente ao Carro, em sinal de humildade e reconhecimento à supremacia Divina.

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3.2 Snana-Yatra

É realizado uma semana antes do Ratha Yatra. Foi iniciado pela produção de 2006, com o trabalho fundamental de Vamshivata Das na confecção da “mesa de banho”. A equipe de pujari do Templo se encarrega dos materiais e rituais necessários para o banho. Apesar de aberta ao público, é uma cerimônia íntima, quando as Deidades ficam fisicamente mais próximas de seus devotos, que, após o banho com diversos sucos e elementos feito pelos pujaris, podem banhar as Deidades diretamente, com água comportada em conchas do mar. A bem-aventurança prevalece entre os participantes.

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3.3 Carro do Ratha Yatra

O Carro de RY tem um papel fundamental, sendo considerado uma expansão de Jagannatha, do Divino. Todo serviço feito, desde a sua construção até os serviços de retoques, conservação e decoração, são realizados como se estivessem sendo realizados na própria Deidade.

Figura 64 (D): Carro construído por Jagannatha Dhama em 1998 - Salvador

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Cerimônia dos Cocos - Antes do Carro ser movido pelos presentes, iniciando o cortejo, é realizada a “cerimônia dos cocos”: um ou três cocos secos servem de base para um punhado de cânfora, onde é ateado fogo, e cada coco é girado com os braços estendidos, em sentido horário, por um devoto, direcionado ao conjunto Carro e Deidades. Depois os cocos são arremessados ao chão para que se quebrem. Objetiva-se a retirar qualquer influência inauspiciosa que possa haver para o desfile.

Figura 66: Mandaracala Dasi (E), Aniruddha Das (C) e Dhanvantari Swami (D). Cerimônia de cocos - XX RY SSA 2016 (Kadamba 2016)

O Carro de Ratha Yatra da ISKCON Bahia utilizado até 2013 foi construído para o Ratha Yatra de 1998 pelo devoto Jagannatha Dhama Das, sob a supervisão do então presidente Aniruddha

Das (José Alberto Guanaes). Ele segue a estrutura, cores e desenhos definidos para os Carros de Ratha Yatra da ISKCON, com grandes rodas de madeira circundadas por aros de ferro, o que, juntamente com sua alta cúpula, confere um ar majestoso ao cortejo.

Figura 67: Carro construído por Jagannatha Dhama em 1998 - Salvador (No entanto, entre os anos de 1998 e 2003, sua cúpula sofreu uma drástica alteração, como veremos no próximo tópico)

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Figura 68: Jagannatha Dhama conduzindo o Carro – IV RY SSA 1998

Este Carro possui uma estrutura de madeira montada sobre um eixo de caminhão, sendo preservados apenas os eixos dianteiro e traseiro, sistema de freio e direção. Algumas partes são removíveis para facilitar seu transporte da garagem ao local do desfile, e sua volta.

Figura 69: Deidades no Morro do Cristo. XI RY 2006

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Nos desfiles de 2014 e 2016, os dois Carros utilizados foram idealizados e construídos pelo devoto Yamunacarya

Goswami, residente em Campina Grande (PB). Estes Carros são itinerantes, montados sobre um reboque, que também comporta toda a sua estrutura quando desmontada, tanto para transporte como para guarda, e foram trazidos de Campina Grande especialmente para o RY de Salvador, com o apoio do Instituto Jaladuta, seus estudantes e seu coordenador, Dhanvantari Swami. É um modelo mais prático e rápido de montar e transportar, e é a tendência para os futuros RY.

Figura 71: Maharaj Yamunacarya Goswami

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3.3.1 Cúpulas

Figura 77: Ratha Yatra 1998

A cúpula do Carro projetada e confeccionada em 1998 possuía uma estrutura metálica retrátil, com aproximadamente 6 metros de altura a partir de sua base, e seu tecido seguia todos os padrões tradicionais de confecção e aparência (cores, símbolos, formato, adereços) definidos pela ISKCON. A cúpula do Carro de Ratha Yatra deve se sobressair, a uma grande altura, com seu tecido em cores pré-determinadas e com símbolos específicos (bordados ou desenhados), e, no topo, uma “chalisa” (recipiente feito ritualisticamente para evocar auspiciosidade), e a representação da Sudarshana Chakra.

O tecido dessa cúpula, no entanto, foi emprestada para outro Ratha Yatra no Brasil, com estrutura igual ao Carro de Salvador, também construído por Jagannatha Dhama. Na época, não havia pessoas responsáveis pelo acompanhamento pós-evento, e essa tecido não mais retornou a ISKCON Bahia. O Ratha Yatra de 1999 ocorreu então com o mesmo Carro construído em 98, mas sem sua cúpula.

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Figura 78: Ratha Yatra 2001

Nos anos de 2001 e 2002, as Deidades desfilaram, improvisadamente, com grandes e coloridos sombreiros de praia sobre Suas cabeças. Sombreiros estes cedidos pela senhora Aureni Rodrigues, mãe de uma das produtoras, em seu

seva particular: ela já vinha

emprestando em edições anteriores e posteriores um pequeno sombreiro japonês de madeira e tecido para as deidades de Gaura e Nitai em Seu palanquim.

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Figuras 80 e 81: Gaura Nitai em Seu palanquim no XII RY 2007 – Ondina

(detalhe do sombreiro de D. Aureni)

Em 2003, verificando-se a inviabilidade de fazer uma réplica da cúpula original (por falta de mão-de-obra especializada, e recursos financeiros e de tempo), foi então providenciada a

produção de uma estrutura simples, piramidal, com a chalisa (objeto de proteção) em seu topo, e o tecido da cúpula sem os detalhes originais. Esta foi uma cúpula improvisada, aquém da original, mas que se adequava à estrutura do Carro. Esse trabalho foi realizado especialmente por Vamshivata Das e Kadamba Devi Dasi.

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Aproveitou-se a oportunidade em 2003 para acrescentar ao Carro a bandeira do Senhor Hanuman (o semideus macaco, que possui enorme força e poder de proteção).

Figura 83: XVIII RY 2013

Esta é a estrutura que foi usada desde então até o ano de 2013.

Figura 84: XII RY 2007

Estando sem utilização, a estrutura metálica original ficou esquecida sobre a laje do Templo de Salvador, sujeito às intempéries, e subsequentemente sucateando e sendo descartada.

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3.4 Prasada – Alimentos Para a Vida

Ao final do evento, uma grande quantidade de alimentos lacto-vegetarianos é distribuída gratuitamente. Inicialmente eram distribuídos PF (Pratos Feitos) com suco e doce, mas nos últimos anos houve a alteração para kits de lanches, sempre que possível em embalagens biodegradáveis, contendo samosa (pasteis fritos ou assados), salgado (bolo salgado, alupatra ou outra preparação tipicamente indiana), doce (bolo ou também uma preparação tipicamente indiana, como “língua de Jagannatha”), e bolinha doce, feita à base de leite em pó, açúcar e uma fruta. Esta distribuição integra o programa Mundial Food for Life (FFL) ou Alimentos Para a Vida (APV) do Movimento Hare Krishna (Vide Anexo A). Eventualmente, durante a procissão também são distribuídas bolinhas doces, ou outros doce/petiscos, anexados a informações de contato (site, email e telefone da ISKCON); e água para as crianças e cantores. Todos os alimentos são consagrados antes de serem distribuídos durante o evento, concedendo o caráter espiritual de prasada.

3.5 Música

O som instrumental é produzido por um grupo percussivo local, e a voz do cantor amplificada com microfone através de caixas de som. O sistema de canto consiste em uma voz principal, que “puxa” o ritmo e a melodia, e em seguida a estrofe cantada é repetida pelo coro dos presentes. A música, ou mantra, entoada é o Maha-mantra Hare Krishna, com poucas variações para outros mantras direcionados às Deidades (Vide 3.3.1). A sonoridade fica marcada pela interação das culturas da Índia e da Bahia. (RY 2008: Anexo G em vídeo)

Figura 85: o devoto Brahmarsi Das lidera o kirtan no XX RY – 2016

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Carros de som pequenos eram utilizados inicialmente, com o apoio do Vereador Cristovinho, que nos cedia gratuitamente seu equipamento para uso no evento, passando a fornecer um carro de som maior (para o qual as Deidades foram transferidas em 1999 devido ao problema com as rodas – vide 5.10.1).

Figura 86: carro de som que levou as Deidades em 1999

O RY chegou a utilizar um trio elétrico na edição de 2009. (Anexo H em vídeo)

Figura 87: XIV RY SSA 2009 Apresentações

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Artísticas - sempre que possível, um palco e som são montado, ou um espaço é reservado, ao final do desfile para apresentações de bandas, danças (indianas clássicas ou contemporâneas) e encenações teatrais. Antes das atrações, é proferida uma breve palestra sobre o que é o evento RY, sobre o Movimento Hare Krishna, e feitos os devidos agradecimentos.

Figura 88: show de Vayasaki Prabhu (discípulo de Srila Prabhupada) no RY 2007, com participação de Júlio Caldas, Calazans Cominato, Gilmário Celso e Radha Vitória

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4 BOTANDO A MÃO NA CORDA

Após tantos aspectos constitutivos do evento Ratha Yatra, que foram apresentados nos capítulos anteriores, - na tentativa de inserir o leitor nesse mundo peculiar, - passamos a uma análise mais direcionada ao trabalho de produção e as escolhas dos rumos a serem tomados.

Por estarem inter-relacionados, os tópicos podem reincidir em diferentes partes do trabalho, ou fazerem referências a outros complementares.

4.1 A Religião como um rótulo

Devido a um histórico sociocultural de algumas linhas religiosas, ao se estar à frente de um evento que possui um caráter religioso o produtor se depara com uma dificuldade que é o preconceito religioso. Há uma concepção por parte de possíveis patrocinadores e apoiadores de que o carácter do evento é sempre proselitista e explorador, ignorando completamente seu valor cultural e inclusivo. Há quem opte por realizar o evento apenas como uma atração cultural, ou musical, em projetos de captação e apresentações, mas é impossível isolar a dinâmica religiosa existente, causando uma tensão constante em não parecer “religioso demais”. A produção do RY em Salvador preferiu não optar por esse caminho, deixando o evento e seus participantes livres para suas manifestações culturais ou religiosas.

No entanto, ao produtor cabe ter bom-senso, com os pés na realidade da sociedade secular. Por mais amador que se seja do evento, o produtor deve ter o profissional à frente de suas ações, principalmente quando tratar com o público externo, incluso governo, mídia, outras religiões.

4.2 Escolha do Percurso, Dia e Horário

Percurso - O trajeto prevalecente do RY de Salvador tem sido de Ondina, nos arredores da Avenida Ademar de Barros, pela orla, ao Farol da Barra pela Avenida Oceânica. É um percurso que agrega muito valor ao evento, não só pelo público que naturalmente já estará pelo percurso, mas também levando em consideração o prazer das Deidades por passear pela orla (a cidade original de

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Jagannatha, Puri, também é uma cidade litorânea). Respeitando-se a tradição do RY e a relação com as Deidades, quando possível, o percurso litorâneo é o preferido.

Data - O Domingo é escolhido devido à possibilidade de maior tempo disponível dos colaboradores, além de ser um dia mais receptível pela Transalvador, por razões óbvias de mobilidade urbana. O dia prevalecente de realização é o Domingo duas semanas antes do Carnaval de Salvador.

Esta é uma data conveniente, pois a cidade esta em natural movimento, estrutural e pessoal, para seu maior evento (o Carnaval), num período de férias, com muitos turistas e pessoas propensas à diversão, aumentando a probabilidade de um maior público. Assim criou-se a chamada publicitária “Festival de Verão” Ratha Yatra. Tendo em vista também o trajeto, inverso ao Circuito de Carnaval Barra-Ondina, e não negligenciando sua natureza espiritualista, o RY evoca os participantes a clamarem pela predominância de Paz quando outros estiverem no mesmo percurso para a “festa carnal” que virá em seguida.

Horário - O período da tarde, iniciando após às 16h, quando o sol está baixando, tem sido o escolhido para as edições do RY. Esta estratégia permite mais tempo para os preparativos do Carro (montagem e decoração), e outras demandas do dia do evento, bem como é um horário mais aprazível, quando o Sol está baixando, evitando que os participantes do cortejo fiquem expostos a sol forte, o que é desagradável e pode causar mal-estar. Por fim, na chegada entre o Morro do Cristo e o Farol da Barra, o pôr-do-sol na Baía de Todos os Santos confere uma cena espetacular ao evento.

Há devotos que questionem, por ser o horário da manhã considerado mais auspicioso e quando se está mais inclinado para atividades religiosas, que o Ratha Yatra seja efetuado pelo período matutino. Quando há mão-de-obra outros recursos suficientes para que isso ocorra sem prejudicar a produção do evento, essa proposta deve ser levada em consideração.

Público Alvo - Apesar de possuir um público específico, o objetivo é que o evento alcance o maior público possível. Por isso, a preferência por épocas do ano em que a cidade está com mais turistas e soteropolitanos, geralmente em períodos de férias ou grandes festividades da cidade, como o Carnaval. Por isso, seu público alvo é não só os devotos e seus familiares, atendendo uma demanda particular, mas também residentes e turistas de Salvador, bem como pesquisadores culturais.

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4.3 Snana Yatra

O Snana Yatra acaba por se configurar um evento à parte, e o entusiasmo dos devotos devido a proximidade do RY faz com que este evento flua de forma completamente participativa e surpreendente. Geralmente o produtor seleciona a data e horário, cuida da comunicação, e fornece recursos, inclusive financeiro, quando já não foram doados pelos devotos (o que acontece quase que invariavelmente). A organização do Snana-Yatra e sua realização são assumidas alegremente pelos pujaris e ajudantes de pujaris, e demais devotos, cabendo ao produtor à periódica supervisão visando facilitar o serviço dos devotos, e sanar qualquer demanda necessária.

4.4 Acompanhamento Percussivo

O acompanhamento tradicional indiano é também sugerido por alguns de forma exclusiva. No entanto, há uma dificuldade de se estabelecer um grupo de acompanhamento apenas com instrumentos indianos compatível com o tamanho e características do evento. As principais dificuldades são escassez de instrumentos e instrumentistas disponíveis no Brasil, necessidade de equipamentos de sonorização específicos, e mais caros, para mrdangas e karatalas, necessidade da participação do coro, acompanhando os músicos principais. O que percebe-se em outros RY pelo Brasil é a perda muito rápida de coalizão do público com o grupo musical à medida que se distanciam.

Com a potência do grupo de percussão baiano, aliado à utilização de amplificação para voz, é possível manter essa sincronia por um espaço de abrangência maior. A Figura do evento também é altamente valorizada quando da junção de grupo de percussão local para acompanhar o entoar de mantras. Além de ser um dos carros-chefes do turismo na Bahia.

4.5 Sonorização

Devido ao formato e execução das canções durante a procissão em espaço aberto, é indispensável a amplificação da voz que lidera o coro no cantar. Com a entrada de Madalena Koppe na equipe de produção, o evento chegou a contar com

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trios elétricos pagos com recursos coletados por ela especificamente para este fim. Essa opção, apesar do receio inicial da produção de que o trio elétrico fosse ofuscar o Carro do desfile, deu muito certo, e em uma das edições chegamos a contar com 2.000 pessoas ao final do desfile no Farol da Barra. Com a assinatura do TAC (Termo de Ajuste de Conduta) entre a Sucom e associações de moradores da Barra em 2011, se tornou praticamente impossível contarmos com a autorização para o uso de um trio para o som do RY.

4.6 Apresentações Artísticas

Quando há a utilização de carro de som, trio ou mini-trio elétrico, este é o som utilizado para as apresentações artísticas ao final do evento. A maior dificuldade é conseguir estrutura de palco e iluminação. A realização do evento pela parte da manhã, bem como em um local que já possua uma estrutura (palco e som) adequada sanariam essas demandas.

4.7 Cerimônia dos Cocos

A cerimônia rápida e simples consiste em girar um coco seco com cânfora incandescente em sua superfície superior. Três devotos sêniors, ou representativos, devem ser chamados a realizar o ato, que representa a invocação de toda a auspiciosidade para o desfile. Por ser utilizada rotineiramente no serviço de pujari, a cânfora é fornecida pelos pujaris, e os cocos secos devem ser providenciados pela produção. A comunicação da produção com a equipe de pujari deve ser constante e clara, principalmente nos dias que antecedem o passeio. Tudo deve ser checado.

4.8 Chhera Pahanra (varredura)

A produção de Salvador nunca teve que se preocupar muito com isso: uma vassoura sempre é providenciada, ou pela produção ou por devotos. Simplesmente levar uma vassoura para a saída do cortejo já é suficiente. O público se encarrega de dar prosseguimento à cerimônia de varredura após ser iniciada por qualquer dos devotos presentes.

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4.9 Banquinhas

Também quando possível, e permissão para tal, bancas e/ou tendas de livros, comidas e artigos indianos são montadas para venda aos participantes, com recurso destinado a cobrir os custos do evento, visto que a realizadora é uma Instituição sem fins lucrativos. Está opção deve se gerir de forma autônoma, visando não sobrecarregar os produtores do evento.

4.10 Manutenção, Transporte e Montagem do Carro

O Carro de 98, por ter mantido a parte mecânica, necessita de manutenção regular. A troca das madeiras do assoalho (folhas de madeirite) geralmente é inevitável, caso não haja a guarda adequada em local coberto. Para evitar gastos e maiores preocupações, a correta preservação e conservação do Carro é um trabalho ao qual o produtor deve investir esforços.

Com dimensões fora do padrão de veículos ordinários, para além das permitidas nas Leis de trânsito quando completamente montado, e ficando guardado a uma distância de 30 km do local do Desfile, uma das maiores preocupações do produtor é o transporte do Carro ao local do desfile, e sua volta.

Como - Para o seu transporte por vias públicas (com exceção durante o cortejo), se faz necessário transportar desmontadas as varandas laterais superiores, a cúpula e as rodas. Ao final todas as peças desmontadas devem ser guardadas com muito cuidado, a fim de que estejam facilmente disponibilizadas e utilizáveis para uma nova montagem. Para comportar adequadamente a estrutura principal sem danos, deve-se usar um guincho de caminhões com rampa, de forma que o Carro fique completamente suspenso. Guinchos que elevam apenas um dos eixos também podem ser utilizados, a depender de sua capacidade, desde que observado durante todo o reboque o cuidado com elevações/depressões da pista o que pode danificar seriamente a estruturas de madeira do Carro. No lugar das rodas, são utilizados pneus para a movimentação do Carro e colocação e retirada sobre o caminhão guincho.

As rodas do desfile são transportadas juntamente no guincho. Ao ser descarregar o Carro no local de início do desfile, o próprio caminhão guincho serve de macaco mecânico para a troca dos pneus pelas rodas do desfile. Esta é uma

Referências

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