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SUZIANE ALVES DE FREITAS

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CURSO DE BACHARELADO EM HISTÓRIA

SUZIANE ALVES DE FARIAS

PALÁCIO RIO BRANCO: MUSEU, MEMÓRIA E PODER.

Rio Branco Junho de 2012

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PALÁCIO RIO BRANCO: MUSEU, MEMÓRIA E PODER

Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção de titulo de Bacharel na Universidade Federal do Acre, na área de concentração Bacharelado em História sob a orientação da Prof. Ms. Geórgia Pereira de Lima.

Rio Branco Junho de 2012

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Monografia (Graduação em História) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal do Acre, Rio Branco.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC

Bibliotecária:Vivyanne Ribeiro das Mercês Neves CRB-11/600 F224p Farias, Suziane Alves de,

Palácio Rio Branco: museu, memória e poder / Suziane Alves de Farias. – 2012.

62 f.: il.; 30 cm.

Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Acre, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Curso de Bacharel em História. Rio Branco, 2012.

Inclui Referências bibliográficas Orientadora: Msc. Geórgia Pereira Lima.

1. Palácio Rio Branco – Museu – História e memórias. 2. Palácio Rio Branco – Rio Branco (AC) – História. I. Título.

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PALÁCIO RIO BRANCO: MUSEU, MEMÓRIA E PODER

Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em História da Universidade Federal do Acre, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em História.

Banca Examinadora

___________________________________________________________________

Prof. Msc. Doutoranda. Geórgia Pereira Lima (Orientador)

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Bento da Silva (Membro)

___________________________________________________________________

Prof. Dr. José Dourado de Souza (Membro)

Conceito: __________ (_______________________) Rio Branco – Acre, ________/________/________.

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A Deus por tudo o que me possibilitou na vida e por ter colocado pessoas grandiosas em meu caminho;

A meus pais e irmãos por serem o alicerce da minha vida. Sem você mãe, eu não teria conseguido;

Ao meu anjo da guarda João Eduardo, pelos momentos de compreensão pela ausência em sua vida;

A toda a minha família em especial minhas queridas tias Francisca Coelho e Francislene Alves por todo o apoio e por acreditarem em mim;

Aos meus primos-irmãos Janison, Israel e Vinicius por todo o carinho, amizade e amor infinito;

Aqueles que foram minha segunda família Altevir Júnior, Jorge Luiz, Maykella Almeida e Rosangela do Vale por todos os momentos felizes e de angustias compartilhados juntos;

Ao meu marido João Gonçalves pelo apoio, incentivo e dedicação nos momentos difíceis;

Aos meus colegas de curso por me proporcionarem uma das fases mais belas de minha vida;

A toda a equipe de funcionários do Departamento de Patrimônio Histórico Cultural do Acre em especial Sâmara Sales, Wlisses James, Nazaré Fragoso e Moisés Moraes por contribuírem direta e indiretamente na realização deste trabalho;

A toda a equipe do Museu da Borracha, em especial à Eulália Dantas, Abigaiu Feitosa e Vandercleuso Góes que juntos lutam para que o Museu da Borracha seja um ponto de referência;

A minha orientadora Ms. Geórgia Pereira Lima pela devoção e dedicação nos momentos em que me senti perdida;

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Por fim, dedico este trabalho a todos que participaram da minha vida acadêmica e social, ainda que indiretamente, meu obrigado especial.

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Dedicatória:

Ao grande amor da minha vida, meu pai Eduardo Farias, por ter me ensinado e ter feito de mim tudo o que sou, por ser meu anjo e guia e por ter me mostrado que os estudos devem estar sempre em primeiro lugar.

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Evocando as lembranças da casa, adicionamos valores de sonho. Nunca somos verdadeiros historiadores; somos sempre um pouco poetas, e nossa emoção talvez não expresse mais que a poesia perdida.

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O objetivo central deste trabalho é elaborar uma reflexão sobre os aspectos gerais da historicidade do Palácio Rio Branco e seu processo de institucionalização museal, cujos discursos do poder contribuíram para a (re) significação do espaço acreano. Nos três capítulos que compõem o trabalho, procurei traçar uma perspectiva que coloca o Museu Palácio Rio Branco como principal símbolo do poder político e econômico acreano, procurando demonstrar o motivo de sua criação e o porquê dele ter sido caracterizado como principal uso do poder. Dessa forma, apontei as conjunturas diversas que permeiam o Museu, bem como as diferenciações entre os usos das camadas sociais.Para alcançar estes objetivos, recorreu-se, principalmente, aos jornais locais, fontes orais e alguns raros estudos que analisam esporadicamente aspectos da história do Museu Palácio Rio Branco.

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Abstract

The main objective of this work is to develop a reflection on the general aspectis of the historicity of Rio Branco Palace and its processo f institutionalizations museum, whose discourses of Power contribuited to the (re) signification of space Acre. In the three chapters that make up the work, tried to draw a perspective that puts the Palace Museum White River as the main symbol of political and economic Power Acre, seeking to demonstrate the reason for its creation and why it hás been charactecterized as the main use of Power. Thus several pointed to theconjectures that permeat the Museum, as well as the differences between theuses of social strata. To achieve these objectives, we used mainly to local newspapers, oral sourcesand some rare sporadc studies examining aspects of the history of Rio Branco Palace Museum.

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Sumário

Introdução...11

Capítulo I Museu Palácio Rio Branco: Entre a historicidade da memória e a memória institucionalizada...,...14

1.1A arquitetura do poder e a (re) significação da modernidade no espaço acreano...14

1.2 Recompondo memórias: Quadros do poder político acreano...20

Capítulo II Museu Palácio Rio Branco: Memória, Estado e poder...24

2.1 Palácio Rio Branco: Sentidos da memória e sua institucionalização do poder...24

2.2 Entre campos: os sujeitos sociais sob o domínio de uma identidade constituída pelo poder do Estado...33

Capitulo III Entre sonhos paredes e esquecimentos: Memórias e sujeitos sociais do Museu Palácio Rio Branco...38

3.1 Museu Palácio Rio Branco: Lembranças e esquecimentos...38

3.2 Museu Palácio Rio Branco: Da entrega à sociedade ao poder devorador do Museu...47

Conclusão...59

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar a historicidade do Museu Palácio Rio Branco, discutindo suas relações com o poder no imponente símbolo político desde a projeção de sua arquitetura até o processo de musealização que o tornou responsável pela salva-guarda de parte da memória acreana.

A minha opção e escolha pelo presente trabalho deu-se fundamentalmente ao significado das relações existentes entre memória, museu e poder do Palácio Rio Branco no contexto estadual e às novidades que englobam o setor da musealização a partir da década de 90, quando passam a ser finalmente vistos como instrumento não apenas da memória, mas também de mudança social. Outro fator relevante seria a paixão pessoal que o objeto de pesquisa suscita, bem como demais espaços de memória do Estado do Acre que necessitam ser urgentemente (re) pensados com a finalidade de oferecer melhores ambientes e sentidos da memória acreana, englobando assim também a relevância social, pois o presente resultado do trabalho já está sendo discutido e avaliado para apresentar uma readequação das memórias do Museu Palácio Rio Branco, estimulando novas pesquisas e introduzindo futuramente novas salas capazes de abranger e contar as memórias vivenciadas no interior do museu, memórias estas até então “esquecidas”.

Por outro lado, não podemos deixar de adentrar no tocante da relevância acadêmica, pois atualmente encontramos os trabalhos Palácio Rio Branco: Linguagens de uma

arquitetura de poder no Acre, 2011, de Ana Carla Clementino Viana e Palácio Rio Branco: O Palácio que virou museu, 2011, de autoria de Ana Paula Busquet Viana, porém, não fazem

referência ao tocante abordado neste trabalho, contribuindo assim com o preencher de uma das diversas lacunas provocadas pelos silêncios que envolvem o Museu Palácio Rio Branco e a dimensão da história acreana.

Neste sentido, buscou-se analisar ainda as questões institucionais do Museu Palácio Rio Branco, suas atribuições e até mesmo o resgate de algumas histórias omitidas pelo poder, que segundo discurso do ex-governador Jorge Ney Viana, o Palácio Rio Branco deixou de ser pertencer ao poder político no momento em que tornou-se museu, sendo assim, “entregue de volta à população”.

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A realização deste trabalho abrangeu três finalidades básicas, dentre as quais oferecer uma contribuição para o conhecimento a respeito do Museu, resgatar uma parte da memória não narradas no Museu Palácio Rio Branco e registrar parte da memória através de questionários e fontes orais.

Uma preocupação inicial no processo de pesquisa foi investigar a bibliografia existente sobre o tema abordado. Porém, regionalmente existem pouquíssimos trabalhos sobre o tema pesquisado e dentre estes, nenhum relata sobre a época residencial cujo um dos objetivos foi mencionar.

Nacionalmente, Mário Chagas foi um dos pioneiros a estudar a relação existente entre museu, memória e poder no Brasil, com a obra A imaginação museal: museu, memória e

poder, contribuindo neste trabalho para a conceituação da relação existente entre os museus e

as relações de poder viventes nos diversos setores econômicos, políticos e sociais.

Outro teórico utilizado foi Pierre Nora Entre Memória e História: a problemática dos

lugares, 1993, que me conduziu as ambiguidades entre história e memória além de perceber o

uso do termo memória com a consciência de que não é a “memória verdadeira”.

Ainda em referência às pesquisas, utilizei Relatório de governo Dr. Hugo Carneiro

Ribeiro, 1930, questionários aplicados à parte de transeuntes do Museu Palácio Rio Branco,

imagens cedidas pelo Departamento de Patrimônio Histórico e entrevista com o atual coordenador do museu, Moisés Moraes, utilizadas de acordo com a necessidade de cada capítulo, apresentando em síntese as representações e usos do objeto de pesquisa, caracterizado por jantares, casamentos, desfiles e reuniões de poderosos, ao mesmo instante em que foi palco de protestos e movimentos sociais, características essas que diferenciaram os direitos e usos da população em relação ao imponente e possivelmente, continuam a afastar a sociedade do museu.

Concomitante com tais pesquisas, no Capitulo I Museu Palácio Rio Branco: Entre a historicidade da memória e a memória institucionaliza, apresentei um estudo sobre o processo histórico que envolveu a construção do Palácio Rio Branco erguido no Governo de Hugo Carneiro (1927-1930) e concluído sob a égide do Governo de Guiomard Santos (1946-1950), momento este marcado pela modernização urbanística que (re) significou o espaço acreano.

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Tendo este estudo consolidado, abordei no Capítulo II Museu Palácio Rio Branco: Memória, Estado e poder as memórias históricas sobre o atual símbolo do patrimônio histórico acreano, compreendido como o Museu do Palácio Rio Branco, bem como seus usos no decorrer do tempo pelos governos do Acre para redefinir a ordem do poder representada pelo Palácio Rio Branco transformando-o em Instituição Museal, tornando-se relevante mensurar que as relações de poder existentes no Museu Palácio Rio Branco puderam ser observadas a partir da arquitetura imponente com colunas majestosas em estilo grego jônico e com interesse de abrigar administrativo e residencialmente os governadores que ali residiram, muitas vezes pro um curto tempo. Sua própria localização também representou uma escolha decisiva para marcar o inicio da (re) significação da modernidade no espaço acreano.

Por fim, o Capitulo III Entre sonhos paredes e esquecimentos: Memórias e sujeitos sociais do Museu Palácio Rio Branco foi responsável por abordar as questões em torno da chamada (re) significação do Palácio Rio Branco, discutindo suas múltiplas relações com o poder político e econômico que abrangem o espaço até dias atuais, excluindo e afastando por vezes, a sociedade do museu.

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CAPÍTULO I

MUSEU PALÁCIO RIO BRANCO: ENTRE A HISTORICIDADE DA MEMÓRIA E A MEMÓRIA INSTITUCIONALIZADA.

Neste capitulo, proponho resgatar o processo histórico que envolveu a construção do Palácio Rio Branco erguido no Governo de Hugo Carneiro (1927-1930) e concluído sob a égide do Governo de Guiomard Santos (1946-1950), durante a época auge das modernizações que enchiam de orgulho as elites acreanas e faziam florescer na sociedade uma nova esperança de ascensão da qualidade de vida.

Proponho analisar, ainda, a época auge do Palácio Rio Branco, momento em que não apenas atuava como sede do poder, mas como residência oficial. Nesse sentido, vindo servir como ponto de encontro das elites locais e atuando definitivamente como sede do poder político acreano.

Desta forma, a proposta de analise deste objeto trata ainda da historicidade da memória e da memória institucionalizada, faz referência à teoria sobre a questão da memória.

1.1 A ARQUITETURA DO PODER E A (RE) SIGNIFICAÇÃO DA MODERNIDADE NO ESPAÇO ACREANO.

Ao analisar o Museu “Palácio Rio Branco”, um dos primeiros elementos que nos chama atenção é a arquitetura imponente que ostenta, pois suas colunas majestosas, em seu inicio sinalizava de acordo com o projeto arquitetônico original “inspirou-se na architectura

grega, buscando principalmente seguir o estylo grave e magestoso da ordem jônica 1”. E,

outro fator importante se refere a sua localização no centro da cidade de Rio Branco, capital do Estado do Acre que de acordo com o Relatório “Assenta em uma elevação que domina a

praça principal da cidade de Rio Branco e o Rio que atravessa (...) formando, assim, um conjunto harmonioso de grande belleza, que mais realça as sóbrias linhas do imponente edifício” a escolha deste espaço deve-se a decisão oficial do Governo Hugo Carneiro

(1927-1930).

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Desta forma, torna-se importante uma discussão no campo da história acerca da arquitetura que segundo Costa, Lúcio pode ser entendida como a construção concebida com a intenção de ordenar e organizar plasticamente o espaço, em função de uma determinada época, de um determinado meio, de uma determinada técnica e de um determinado programa, como aconteceu com o Palácio Rio Branco uma vez que esta representou uma intencionalidade do governo do Território daquele momento histórico (1929-1930) para a dinamização do poder diante da elite local, tanto no campo político quanto econômico.

Neste sentido, importa compreender o impacto de modernidade criado pela arquitetura da obra de Hugo Carneiro como pressupõem o pensamento de COSTA:

Arquitetura é antes de mais nada construção, mas, construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e visando a determinada intenção. E nesse processo fundamental de ordenar e expressar-se ela se revela igualmente arte plástica, porquanto nos inumeráveis problemas com que se defronta o arquiteto desde a germinação do projeto até a conclusão efetiva da obra, há sempre, para cada caso específico, certa margem final de opção entre os limites - máximo e mínimo - determinados pelo cálculo, preconizados pela técnica, condicionados pelo meio, reclamados pela função ou impostos pelo programa, - cabendo então ao sentimento individual do arquiteto, no que ele tem de artista, portanto, escolher na escala dos valores contidos entre dois valores extremos, a forma plástica apropriada a cada pormenor em função da unidade última da obra idealizada. (COSTA, 1995, p. 35)

Os registros históricos acerca da cidade Rio Branco mostram que com o declínio da empresa extrativista novos elementos passaram a compor o cenário da cidadela gomífera, entre esses podemos citar: o deslocamento da sede do governo do antigo Seringal Volta da Empreza, Vila Rio Branco, para uma construção em madeira, protótipo arquitetônico do Palácio Rio Branco, no Seringal Empreza que a partir de 1909 constituiu o Distrito de Penápolis, dividindo a cidade em dois distritos.

De acordo com a pesquisa realizada nos Relatórios de governos, compreendendo os anos entre 1930 a 1950, destacam-se como justificativa para a mudança da sede do poder os seguintes fatores:

Geográficos - apresentados como eventuais riscos de alagações com prejuízos materiais e financeiros;

Política – a sede administrativa do governo no Antigo Seringal Volta da Empreza, uma propriedade alugada, casa de madeira não comportava o decoro que a administração exigia;

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Diante do exposto, podemos perceber que tais justificativas assumem uma representação na ordem do poder local e permite afirmar que o governo do Território Federal representado por Hugo Carneiro visava uma mudança geográfica da Sede do Poder para além das questões envolvendo o ambiente de risco, tanto climático quanto da propriedade particular.

É neste cenário que podemos compreender que a arquitetura modernizadora do Palácio Rio Branco, fez ressurgir uma cidade longe daquele contexto extrativista e das marcas que simbolizavam o “Acre inseguro”. A modernidade estava desta forma, (re) significando o espaço da cidade, em razão de construções em alvenaria que suplantava as construções em madeira como símbolo passado.

Assim, o Antigo Seringal Volta da Empreza que antes constituía o forte símbolo do poderio acreano, pouco-a-pouco, passou a representar a parte do passado extrativista com suas edificações em madeiras e, ficaram na maioria das vezes, registrados apenas da memória acreana.

Em outras palavras, o local escolhido para o Palácio do Governo, hoje Museu Palácio Rio Branco, foi escolhido através de um olhar minucioso para que projetasse aos olhos de quem o via da outra margem do rio e do centro da cidade o poder imponente do Território Federal cuja primeira edificação foi um Casarão em madeira, destruído anos após para dar lugar a modernidade do Palácio Rio Branco já que segundo o relatório de Hugo Carneiro,

não podia continuar a guardar seus preciosos archivos nesse pardieiro em ruína, remendado a sopapos, sem a nobreza architectonica que o decoro da administração exige. (Relatório Dr. Hugo Ribeiro Carneiro, 1930, p.76)

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Figura 1: Antiga sede administrativa Departamental do Alto Acre. Construída em 1908. Data: 1911-1913. Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM

Esteticamente, o Palácio Rio Branco representou uma das maiores riquezas urbanísticas de Rio Branco. Foi situado em um local geograficamente elevado e dispôs de dois acessos frontais que configuram uma intensa esplanada que se ascende para a praça e para o Rio Acre.

Assim, em 15 de junho de 1929, sob a égide do governo de Hugo Carneiro, foi lançada a pedra fundamental do Palácio Rio Branco, exigindo a presença de jornalistas, membros da sociedade elitizada e representantes do poder local, recheando o empreendimento de uma toda uma simbologia do poder ao qual a sociedade não pertencente às classes sociais mais favorecidas não estava inserida.

O referido empreendimento esteve inicialmente sob a direção do Comandante da Força Policial major Djalma Dias Ribeiro, sendo posteriormente substituído pelo arquiteto de origem alemã Alberto Massler, que foi encarregado de conceder à obra todo o prestigio e modernidade já que futuramente abrigaria não apenas a sede do poder executivo, mas também a residência oficial do poder.

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Com as gestões de Hugo Carneiro e Guiomard Santos, o Acre teve suas estruturas arquitetônicas modificadas e aos poucos suas construções em madeira foram fazendo parte do passado, dando lugar a modernidade anunciada pelas edificações em alvenaria vistas como sólidas e simbolizando a nova Rio Branco. Todas essas mudanças representavam por fim, não apenas um novo cenário da cidade em construção, mas a arquitetura permeabilizada pelo poder que deu luz à (re) significação da modernidade no espaço acreano.

A partir daquele momento, não apenas a vista do Primeiro Distrito da capital fora se modificando, mas transformando-se em sólidas construções de alvenaria como escolas, delegacias, hospitais, estações de rádio, mercado municipal, quartel da Polícia Militar, Banco do Brasil e sedes administrativas, aspectos estes representaram o novo contexto de modernização, urbanizando e favorecendoa qualidade de vida através da visão das elites que afastavam os padrões ditos marginalizados para promover o embelezamento da cidade.

As pinturas e decorações são do mais fino lavor, todas ellas executadas de acôrdo com o estylo jonico, na mais perfeita harmonia de technica e belleza. (Relatório Dr. Hugo Ribeiro Carneiro:1930, p. 76).

Não diferentemente do resto do Brasil, tal modernização seguia os modelos arquitetônicos exteriores, pois ser belo era dentre outras características, inspirar-se nos padrões das sociedades abastadas, especialmente as de origem grega.

Desta forma, a partir dos padrões modernísticos, o Palácio Rio Branco teve sua estrutura inspirada na arquitetura grega, seguindo o estilo grave e majestoso da ordem jônica, uma das mais belas construções acreanas que demonstra riqueza e estilo através de sua fachada em quatro colunas de capitéis em traçado fino, demonstrando o seu poder e afastando possivelmente a sociedade do ambiente.

Nos anos de 1930, a antiga estrutura administrativa do governo definitivamente foi demolida, passando a exercer seu poder no quartel militar até a inauguração da primeira parte das dependências do Palácio em 15 de junho de 1930, com verbas ordinárias que segundo o Relatório de Governo, eram resultantes do auge da borracha e sem o auxilio de crédito especial.

Para a realização da obra, dada através de um processo árduo devido à localização do Território Federal e da escassez da mão-de-obra, a construção contou com operários

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trabalhando 24 horas por dia, dividindo-se em turnos para que sua inauguração fosse dada antes do término do segundo mandato de Hugo Carneiro.

Um ano após a edificação da pedra fundamental do atual Palácio em 15 de junho de 1929, a nova estrutura governamental teve a primeira parte de sua edificação concluída, recebendo o nome de Palácio Rio Branco em homenagem ao Barão do Rio Branco.

Deste modo, deu-se inicio a primeira das demais inaugurações do Palácio Rio Branco que desde o principio fora concebido para ser a sede do poder administrativo e residência oficial do governador, possuindo todas as características arquitetônicas de um palacete de estilo eclético com forte influência do movimento estético denominado Art Decô que influenciou os projetos arquitetônicos do país no período de 1920 a 1940. Portanto, o Palácio era parte do discurso transformador de Hugo Ribeiro Carneiro, que possuía o objetivo de o inserir na modernidade que estava acontecendo no resto do país.

A sede do Palácio do Governo Territorial foi assentada em uma elevação, dominando a praça principal de Rio Branco e solidificando-se através dos mais luxuosos materiais de construção como demonstra o Relatório de Hugo Carneiro:

As janellas e a porta da fachada principal são de caprichosos desenhos ornamentaes. Na sua confecção foram utilizadas as melhores madeiras do Acre e empregados vidros biselados e bronze. (Relatório Dr. Hugo Ribeiro Carneiro: 1930, p. 76)

O edifício também dominou toda a cena urbana do centro da cidade, tanto devido sua localização quanto as proporções arquitetônicas e urbanísticas que permanecem modernas até os dias atuais. Nota-se que em toda a estrutura do edifício existe um rigor formal clássico, com uma riqueza de detalhes nas fachadas e colunas internas e externas.

Assim, podemos concluir que o Palácio Rio Branco jamais fora projetado apenas para representar a sede do poder administrativo, mas com a clara intenção de atuar como residência oficial, agrupando e acomodando apenas aqueles cujo interesses políticos e econômicos prevaleciam pois toda a modernidade representada pelos finos traços arquitetônicos estava intrinsecamente relacionada as mais diversas formas de poder político, econômico e social.

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1.2. RECOMPONDO MEMÓRIAS: QUADROS DO PODER POLÍTICO ACREANO.

Portanto: É possível viver quase sem lembrança, e mesmo viver feliz, como mostra o animal; mas é inteiramente impossível, sem esquecimento, simplesmente viver. NIETZSCHE

Para recompormos as memórias dos quadros do poder político acreano, parte-se do principio de que o Palácio Rio Branco é resultante de um processo de construção realizado em etapas que perdurou por quase quarenta anos.

No entanto, antes mesmo da conclusão da primeira etapa do seu processo de construção nota-se o interesse político de que as estruturas do Palácio pudessem abrigar não apenas o poder executivo no referido espaço, mas também a necessidade de criar uma estrutura capaz de conceder aos representantes toda a comodidade oferecida pelos demais Estados, assim a “nova grandiosa construcção” transpassaria a promoção de encontros políticos, concedendo encontros sociais em um espaço sofisticado e assegurando a própria segurança e qualidade de vida dos poderosos que a partir daquele momento seriam ostentadas pelos mais belos padrões resultante de modernidade.

Desta forma, durante a primeira fase do Palácio Rio Branco, podemos observar a construção da sua estrutura principal que posteriormente seria aos poucos modificada para impactar e acomodar as elites com seu estilo majestoso. Cabe ressaltar que desde sua primeira fase, alguns cômodos já receberam uma atenção especial, pois desde o inicio acomodariam as famílias dos representantes executivos do poder político local direcionado de 1930 à 1970 na sede onde atualmente funciona o Museu do Palácio Rio Branco, hoje reconhecido como Patrimônio Histórico Acreano, guardando e “recompondo memórias”.

No entanto, o Palácio Rio Branco não é o único edifício e residência de poderosos a receber o título de Patrimônio Histórico e tornar-se museu, todas essas instâncias estão intimamente relacionadas e concretizam-se nacional e internacionalmente, fato que é visivelmente retratado na fala do escritor e museólogo Mário Chagas:

Não é fruto do acaso o fato de muitos museus estarem fisicamente localizados em edifícios que um dia tiveram uma serventia diferente ligada a instâncias que se identificam e se nomeiam como sedes de poder ou residência de indivíduos poderosos.( CHAGAS, 2002 p.54)

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Entre os mandatos de Hugo Ribeiro Carneiro (15-06-1927 à 03-12-1930) e Francisco Vanderlei Dantas (15-03-1971 à 15-03-1975), nota-se a presença residencial de mais de 25 representantes do poder político, momento em que o Palácio Rio Branco era amplamente freqüentado por grandes nomes da sociedade inclusive, representantes internacionais que participavam de reuniões e jantares de honra.

Durante este momento, também foram realizadas missas nas escadarias do Palácio Rio Branco, demonstrando toda uma relação do poder religioso representado pela Igreja Católica com as esferas do poder político, aspectos estes extremamente necessários à época já que a união entre Território-Estado e poder religioso serviam como alicerces que davam sustentação ao favorecimento de interesses econômicos, pessoais, sociais, políticos e até mesmo ideológicos.

Desta forma, o Palácio já estava intrinsecamente relacionado às instâncias do poder e toda essa relação demonstrava-se constantemente tanto nos desfiles das esposas dos representantes da alta sociedade que registravam através de fotografias o glamour destas mulheres, quanto nos jantares, desfiles cívicos e até mesmo casamentos realizados nas suas dependências como mostram as imagens abaixo:

Figura 02 – (Esquerda )Casamento da filha do Capitão e governador Amílcar Dutra de Menezes, realizado no Palácio Rio Branco. Data: Década de 50. Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural – FEM Figura 03 – (Direita) Governador José Augusto e família na ceia de natal. Data: 25 de dezembro de 1963. Acervo: Centro de Documentação e Informação Histórica – CDIH

Obviamente que em todos esses cerimoniais alusivos, a sociedade não estava inserida, quando muito, poderiam dar as tradicionais voltas na Praça Tavares Lyra, localizada em frente

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do Palácio para vivenciar as datas comemorativas como nas noites natalinas que são reproduzidas até os dias atuais, concretizando o Palácio como símbolo maior do Acre.

Não diferentemente, os casamentos realizados nas escadarias do Palácio Rio Branco jamais fariam parte da realidade das classes menos abastadas, pois para estes, o único lugar reservado seria o de observador transeunte que enaltecia-se com as cenas da tradicional burguesia que sempre ostentava seu poder no “mais tradicional símbolo modernístico” de Rio Branco.

Assim, o sonho utópico de casar-se nas escadarias do Palácio jamais pertenceria à parte da sociedade que apenas poderia admirar as estruturas do oponente que parecia vigiar a cidade.

Mas não foram apenas os desfiles, reuniões, casamentos, missas e encontros sociais burgueses que ficaram registrados na parede deste oponente prédio. Ano a ano foram realizados os desfiles cívicos do tradicional 07 de setembro que perdurou durante décadas em seu entorno cujo foco principal quase sempre era os desfiles das Forças Armadas.

Se por um lado observamos um emaranhado de encontros e reuniões sociais da elite no espaço acreano, não podemos deixar de levar em consideração uma série de movimentos sociais que permearam o Palácio Rio Branco a partir da década de 80 estendo-se até os dias atuais.

Nesta fase, nota-se a presença da população na Praça localizada em torno do Palácio como forma de garantir suas reivindicações, pois como já dito anteriormente, é no entorno do Palácio que foi “re-criado” o “novo Acre”, é ao seu redor que localiza-se todos os demais poderes de grande representatividade. Assim, manisfestar-se em frente ao Palácio também simbolizou requerer atenção para os problemas sociais que quase nunca foram vistos pelos detentores do poder.

No que diz respeito ao cotidiano e representação familiar do presente espaço, nota-se desde sempre a existência de crianças no local, divertindo-se nas escadarias com filhos de famílias nobres e usufruindo muito provavelmente, do que havia de melhor.

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Figura 04 – Nena Mubarac, Gladys Mubarac, Márcia Kalume e Dário Kalume, filhos de Alfredo Mubarac e Jorge Kalume. Data: Década de 60. Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural – FEM

Pertencer às famílias do poder político entre 1930-1970, era dentre outras coisas, residir em um palácio, obter uma das melhores educações e conviver em meio aos melhores padrões de prestigio e ética que apenas poucos poderiam ter acesso.

Enquanto residência, apenas móveis com madeira de lei bem trabalhados e luxuosos, muitos deles importados. O espaço era abrilhantado por abajures e belos móveis, os parelhos de jantar também concediam um brilho a mais ao espaço que demonstrava ao mesmo tempo todo um contraste social, fazendo com que até os dias atuais a população não sinta-se inserida no Palácio enquanto museu.

Em suma, o Palácio Rio Branco representou o poder político acreano em suas mais diversas esferas e foi permeado por todo um aparato excludente que sempre fez questão de mostrar em que mãos estava o poder e como relacionar-se com ele, fatores de extrema importância para compreensão da relação Museu e sociedade que serão abordados no próximo capítulo.

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CAPÍTULO II

MUSEU PALÁCIO RIO BRANCO: MEMÓRIA, ESTADO E PODER.

Neste segundo capítulo de trabalho monográfico, pretendo compreender como as memórias históricas sobre o atual símbolo do patrimônio histórico acreano, compreendido como o Museu do Palácio Rio Branco, foram sendo utilizadas no decorrer do tempo pelos governo do Acre para redefinir a ordem do poder representada pelo Palácio Rio Branco transformando-o em Instituição Museal.

2.1 PALÁCIO RIO BRANCO: SENTIDOS DA MEMÓRIA E SUA INSTITUIÇÃO DO PODER.

A teatralização do patrimônio é o esforço para simular que há uma origem, uma substância fundadora, em relação à qual deveríamos atuar hoje. Essa é à base das políticas culturais autoritárias. O mundo é um palco, mas o que deve ser representado já está prescrito. As práticas e os objetos valiosos se encontram catalogados em um repertório fixo. Ser culto implica conhecer esse repertório de bens simbólicos e intervir corretamente nos rituais que o reproduzem. Por isso as noções de coleção e ritual são fundamentais para desmontar vínculos entre cultura e poder. (CANCLINI, 2008, p. 162).

No capítulo anterior, buscamos indagar sobre o processo de construção do Palácio Rio Branco, conduzindo nossos olhares a um ponto de vista diferenciado daqueles produzidos pelos discursos do poder, refletindo sobre os interesses ocultos em construir o Palácio na “Selva Amazônica”, não mais meramente construído para abrigar somente o setor administrativo, mas o de interligar a questão residencial e de status ao ambiente.

Desta forma, o Palácio Rio Branco não fora construído único e simplesmente para o decoro exigido pela administração como nos apresenta o Relatório de Governo de Hugo Carneiro, mas buscando assegurar também o próprio conforto e qualidade de vida daqueles que residiriam no Palácio Rio Branco até o inicio da década de 70, momento em que o povo não estava convidado a adentrar suas portas ou ainda prestigiar os eventos comemorativos ainda que referentes à própria conquista social pois, ao contrário das autoridades, a festa para

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o povo acontecia quase sempre da porta principal para fora, o que representa mais uma vez o interesse de jogo político da qual daremos ênfase neste capítulo.

Discutimos ainda que o Palácio Rio Branco fora construído em partes, através de um processo gradativo devido às dificuldades encontradas na mão-de-obra e material de construção escassos na Amazônia e que desde o principio, até mesmo com a edificação da primeira pedra fundamental, os interesses da edificação do Palácio Rio Branco sempre estiveram voltados para a acomodação e prestígio das elites, sejam representados pelos jantares, desfiles de luxo e reuniões quanto pelas cerimônias em que apenas os poderosos poderiam ter o prestigio de participar, analises estas que conduziram-nos até aqui e nos permitem compreender o Museu do Palácio desde já como um ambiente onde a população sempre teve seus direitos de uso diferenciados das classes com poder predominante.

Mas a história que marca a transformação do Palácio Rio Branco em Museu desde sempre esteve voltada para a apropriação da história dos acreanos e de suas lutas sociais, sobre interesses dominantes de uma visão distinta. O discurso político previa exatamente a recuperação dos patrimônios culturais do Estado, onde o Palácio Rio Branco, o maior símbolo da história acreana seria basicamente o alvo central para o resgate dessas memórias, pois segundo o governador Jorge Viana “um Estado que não tem memória, que não valoriza seu passado, não tem futuro”, neste sentido, a valorização dos espaços estava envolta do interesse de ser fazer a sociedade acreditar em um discurso de pertencimento do qual elevaria as esferas políticas e possivelmente os fixaria na memória da população tendo em vista o período critico que enfrentaram os lugares históricos de Rio Branco.

Desta forma, já no inicio de seu mandato, mais precisamente em março de 2000, o Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural (DPHC) deu inicio ao Autos do Processo de Tombamento2 do Museu do Palácio Rio Branco, sendo publicado no Diário Oficial em 18 de

2

A inclusão de um bem no livro de tombamento, significa que a partir de então, sua estrutura física, não poderá ser modificada, apenas restaurada, e deverá ser monitorada pela Secretaria de Patrimônio Histórico em parceria com o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Além disso, todo o entorno deverá ser preservado, no caso do Palácio, a área atinge desde o Memorial dos Autonomistas até a Praça Povos da Floresta.

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janeiro de 2002 e posteriormente divulgado em toda a mídia acreana, prevendo mudanças efetivas no poderoso e imponente prédio.

A partir daquele momento, daria-se inicio a um processo gradativo de jogos políticos dos quais já estava entrelaçado nos discursos do poder inverter os pilares do Museu do Palácio Rio Branco que doravante cumpria apenas a missão de beneficiar as classes dominantes através de reuniões político-administrativas, condecorações, jantares, casamentos e uma leva de encontros e acontecimentos que excluíam os que não detinham poder político e/ou econômico.

Neste novo momento, segundo o discurso político, o papel do Palácio Rio Branco seria dar voz e poder ao povo, descentralizando-o das mãos dos heróis e das classes dominantes, através de um gesto democrático que marcaria um novo momento na História do Palácio Rio Branco.

Segundo Ana Paula Bousquet, a conjuntura da proposta que norteou as ações administrativas e do processo de tombamento e restauro do Museu do Palácio Rio Branco, pode ser verificada na falado Governador Jorge Viana:

O Palácio simbolizava o apogeu de uma economia que, mesmo apresentando problemas no aspecto social, mas do ponto de vista econômico e ambiental ela deu certo, tinha graves problemas do ponto de vista social. Depois tivemos a substituição dessa economia da borracha por uma economia da agropecuária, que ela tanto tinha problema do ponto de vista social, como gravíssimo problema ambiental e também uma dúvida sobre o aspecto do ponto de vista político e econômico, apesar de alguns pontos positivos. Bem, então o palácio simbolizava esse tempo, simbolizava a situação que o Acre atravessava e que o povo acreano vivia e aí restaurar o palácio só para resgatar um símbolo de volta era pouco. Resgatar o palácio só para lembrar de novo o apogeu (ciclo da borracha) de um momento econômico, era pouco. (VIANA, 2011, p. 35).

A partir de então, segundo discurso do governo, o Palácio Rio Branco teria como finalidade maior guardar as memórias acreanas, fortalecendo os laços identitários e aproximando cada vez mais o povo desse Espaço de Memória, pois era necessário romper com a tradição do poder centralizado nas mãos dos dominantes.

Cinco anos após o inicio do autos do processo de tombamento do Palácio Rio Branco e diante do Centenário da Revolução Acreana, o prédio pôde ser finalmente tombado e reconhecido Patrimônio Histórico Acreano, data que não esconde à intencionalidade existente no jogo político, dando visivelmente a sensação da continuidade do heroísmo, cuja principal

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benfeitoria não era a devolução do Museu à sociedade já que o museu não existia antes, mas a sua entrega à mesma já que no passado o principal símbolo não estava presente na vida da população, tal como nas vivências dos políticos que ali residiram e executaram a administração governamental.

Por outro lado, não podemos deixar de abordar que os discursos desde sempre estiveram presentes na memória acreana, ainda que muitas vezes complexos e conflitantes, a memória é considerada não apenas um uso de pertencimento a um determinado grupo ou nação, mas também um dos principais e talvez um dos mais impetuosos artifícios utilizados pelo poder, daí a aceitação de que estamos céticos quando acreditamos conceber o passado tal qual realmente aconteceu. Neste sentido, Albuquerque Júnior nos explica que:

Pensamos, hoje, o passado como uma invenção, de que fizeram parte sucessivas camadas de discursos e práticas. Percebemos o passado como um abismo que não pára de cavar; quanto mais queremos nos aproximar dele, mais nos afastamos. Damo-nos conta de que a História não está a serviço da memória, de sua salvação, mas está, sim, a serviço do esquecimento. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007, p 61).

Não muito distante deste contexto, podemos observar a continuidade que marca a história do atual Museu do Palácio Rio Branco, o 15 de Junho, data alusiva à Revolução Acreana foi selecionada para dar a sensação de perpetuação e continuidade da memória e dos ditos “heróis dos acreanos” perpetuação da memória que consistia em dar prosseguimento aos heróis que salvavam ao Acre antes das mãos do inimigo e agora da degradação e do descuido.

O 15 de Junho ressaltaria-se assim como a principal data do Palácio Rio Branco, data que simbolizaria grandes mudanças e acontecimentos, possivelmente guardando-se na memória da população, como podemos observar abaixo:

15 de junho de 1929 – Lançamento da pedra fundamental do Palácio Rio Branco; 15 de junho de 1930 – Inauguração inicial do Palácio Rio Branco;

15 de junho de 2002 – Palácio Rio Branco é tombado como Patrimônio Histórico e Cultural do Estado do Acre e aberto para visitação;

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Em outras palavras, o que se quer representar aqui pelo poder vigente é exatamente a perpetuação da continuidade histórica que data o 15 de junho para os acreanos, tendo em vista que o 15 de junho também data a comemoração cívica ao aniversário do Estado cujo combatentes lutaram para nos assegurar as terras em que vivemos, pertencentes por direito, aos bolivianos, mas “bravamente conquistadas pelos heróis que amavam esta terra”.

Desta forma, dar continuidade histórica a data do 15 de junho, conduziria-nos a dupla faceta de fortalecimento da História/identidade acreana e da continuidade dos heróis seja marcado pela conquista do Território, ou seja pelo renascer de uma cidade esquecida após o Governo de Guiomard Santos e supostamente “ressurgida com o Partido dos Trabalhadores”.

Em análise à revista o Estado do Acre – Ano II, de 17 a 23 de Junho de 2002, que traz como capa a imagem de pessoas reunidas em frente ao Palácio Rio Branco, supostamente sorrindo e felizes com o “Palácio dos Acreanos: Resgate da dignidade de um povo”3 que

segundo o discurso utilizado para aludir à sociedade, estariam consagrando o pertencimento e devolução do Palácio Rio Branco à sociedade em forma de Museu, podemos perceber o discurso de manutenção de uma memória que queria fazer-se presente. O resgate de dignidade seguia dois liames de uso do poder: o de revitalização do Palácio Rio Branco e o de inserção da sociedade no museu, visando abolir da memória os anos de diferenciação e por vezes exclusão social.

Segundo Ana Carla Clementino,

A montagem da cena decide o que é importante e o que merece atenção para transmitir sua mensagem pré-pensada e pré-dirigida... as pessoas que comemoram e aplaudem, parecem completamente desvinculadas da cena, mas o que se quer afirmar é a aceitação popular no que se refere à política pública adotada. (LIMA, 2007, p. 47)

Neste mesmo sentido, o “Resgate da dignidade de um povo”, seria não apenas o de difundir, mas afirmar o sentimento de identidade, patriotismo e pertencimento da sociedade junto ao referido Espaço de Memória.

No entanto, o que podemos observar no decorrer do tempo, desde seu início do processo de tombamento no ano 2000 até os dias atuais, é uma relação bastante diferenciada

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daquela do discurso do poder utilizado pelo Partido dos Trabalhadores, pois a sociedade anteriormente não convidada a participar dos encontros sociais no Palácio do Governo, hoje, ainda que seja um espaço público, não sente-se convidada a participar de seus eventos e programações pois de fato, a estrutura do poder representada pelo imponente, jamais deixou de fazer-se presente neste Espaço de Memória. As cerimônias do poder, reuniões e as salas administrativas em muito ainda afastam a sociedade do local que até os dias atuais ainda concede benefícios a uma camada do poder enquanto exclui e afasta as demais, impossibilitando assim sua verdadeira integração.

O Governador Jorge Viana em entrevista concedida a Ana Paula Viana em fevereiro de 2010, nos leva a compreensão de que o Museu do palácio Rio Branco, dentre todos os projetos de revitalização, tornou-se a menina de seus a menina de seus olhos, baseando-se inclusive na construção de uma ideia pedagógica, como podemos observar abaixo:

Esse projeto está no coração de toda nossa história. A floresta, do cuidado, quer dizer, cuidado de trocar a palavra administrar por cuidar. O palácio foi o exemplo disso... A prefeitura era um espaço público, quando você entrava e saía e tinha uma fedentina dentro. Aí eu chamei as pessoas e falei que aquilo simbolizava a cidade, que era uma espécie de palácio da cidade, mesmo sendo um prédio modesto e perguntei se eles topavam me ajudar a fazer... Então uma idéia que veio da administração é cuidar. E aí o palácio a gente fez mais forte. Virou uma idéia pedagógica. Aí ela começou a ganhar espaço e todos os prédios públicos têm que ser cuidados e o patrimônio público começa a ser cuidado e aí as pessoas começam a se cuidar e as coisas começam a dar certo. (VIANA, 2011, p. 19)

Porém, a preocupação do poder exposta claramente nas mídias e jornais acreanos em firmar os laços de identidade e fazer com que todos pudessem sentir-se pertencentes ao mesmo contexto de amor a sua História pode ser explicada já durante o Estado Novo, com Getúlio Vargas, onde houve a intervenção do Estado na busca de construir uma memória e uma identidade nacional.

Nota-se que para o poder instalado, o patrimônio oficial era sintetizado na consagração dos símbolos do poder constituído, a memória era disponibilizada à visitação pública nos museus para ser contemplada como referência do passado, através dos heróis e fatos históricos selecionados pela cultura oficial.

Para Pierre Nora,

a memória é a vida, a história a reconstrução sempre problemática e incompleta daquilo que já não mais existe... a memória coloca a recordação no

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sagrado, a história expulsa-a.... a memória aparece sempre de modo suspeito à história, cuja verdadeira missão é destruí-la e removê-la. (NORA, 1993, p. 09)

Dentro desse contexto, todo espaço de memória seria portador dos traços da História ou do aniquilamento de seus traços. A memória guardada e passada aos visitantes do museu não é a de sua história, mas ao contrário, nota-se exatamente a aniquilação de sua própria história, visto que as memórias que se quer guardar e servi-se delas para constituir e fortalecer os laços de identidade não é a mesma memória vivenciada no interior do próprio museu, vivida desde o inicio de construção do Palácio, mas ao contrário, buscava-se visivelmente omitir informações ao público presente para que aqueles que não vivenciaram esses momentos cristalizados, simplesmente recebam as memórias ditadas pelo poder através dos guias, negando-lhes o direito de contestar sobre a memória e/ou História repassadas pelo Espaço, já que apenas os que possuem uma visão crítica e conhecimento maior entendem o repertório de bens simbólicos, podendo intervir não apenas nos rituais que o reproduzem, mas na própria produção e perpetuação do conhecimento, descentralizando-o e diferenciando-o dos discursos do poder.

Cabe ressaltar que dentro do Museu do Palácio Rio Branco existe apenas uma sala que trata da história de construção do prédio, tendo a maior parte das salas uma exposição semelhante às encontradas nos demais museus de Rio Branco. Os móveis, fotografias e todo emaranhado de acervos que compõem o Museu do Palácio Rio Branco capazes de nos fazer reviver as décadas passadas foram retiradas para evitar contrastes com o moderno do prédio revitalizado e encaminhados a outros espaços de memória para fins de usos meramente administrativos, o que demonstra a verdadeira “preocupação” com tais memórias ou com sua própria omissão, o valor histórico passou assim a ser visto sob outros olhares, onde o moderno ao entrar em contradição com o antigo, perde espaço no imponente.

Albuquerque Júnior nos explica que,

A História é como um labirinto de corredores e portas contíguas, aparentemente todas semelhantes, mas que, dependendo da porta que o sujeito escolhe para abrir, pode estar provocando um desvio, um deslizamento para um outro porvir. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007, p. 73)

No entanto, a História e a própria representação da memória não deve servir a um sujeito soberano, compreendendo-a unicamente em seu devir e tomando decisões que podem

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mudá-la de rumo. A história nos concede certa autonomia para a tomada de decisões e obras revolucionárias, mas nem sempre estas ações e decisões resultarão naquilo que almejamos, neste sentido, podemos perceber o risco existente nos discursos de devolução do Palácio Rio Branco à sociedade, da retida de suas memórias e dos objetos que o compunham. A nova (re) significação do Palácio não apenas não está ausente de criticas e contestações como também não conseguiu manter seu foco centralizador de desenvolver o pertencimento à sociedade que até os dias atuais ainda tem os direitos diferenciados, como já mencionamos anteriormente.

As “memórias meramente repetidas da História Acreana” mostram-nos por outro lado a relação existente entre memória e poder. Ao tentar abarcar a História do Estado inteiro, acabam por impor aquilo que se quer ao mesmo tempo transmitir e omitir, a dupla faceta da memória, do lembrar e esquecer, onde Nora4 argumenta que “a memória lembra e a História

esquece”.O Museu do Palácio Rio Branco omite assim as Histórias do poder e de exclusão

social das quais busca-se apagar da memória acreana para fortalecer os laços de continuidade dos considerados dominantes.

Em matéria ao periódico Turismo Pé na Estrada, fica evidente que o principal interesse do poder local, de fato era e continua sendo o omitir as lembranças da época em que o Museu do Palácio atuava como sede administrativa, mas também residencial, pois em momento algum as memórias da residência oficial são resgatas nas salas do Museu, afirmativa que pode ser explicada ao analisarmos a exposição do referido local sob o olhar do periódico citado abaixo:

Logo na entrada, uma cena em um imenso quadro exibe um dos fatos da Revolução Acreana (...). Nas salas do Palácio, a história da migração dos nordestinos para o Acre, contada em documentos e fotos, assim como a luta ambiental de Chico Mendes e os próprios povos indígenas do Estado são retratados a partir de seus artefatos, fotos e outros registros. (Turismo Pé na Estrada, 2002, p. 2.)

Desta forma, o processo de tombamento que deveria ter o objetivo maior de assegurar a sociedade não apenas a perpetuação de um bem histórico, mas a própria perpetuação de sua história ocorrida no interior de seu Espaço, na verdade não passou de um preocupação em ocultaras memórias das quais não se tinha interesse em transmiti-las já que fazê-las emergir poderia dificultar as múltiplas facetas do poder político em jogo.

4

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A preocupação exposta nos discursos que permeavam o processo de tombamento do Museu do Palácio Rio Branco em desenvolver o pertencimento do povo ao local, pôde exemplificar o desejo do poder em consagrar a memória de seus interesses, porém, com a intencionalidade explicita de omitir parte de seus fragmentos para que assim a sociedade em geral pudesse sentir-se “parte integrante do presente Espaço”, implantando o poder das memórias que encontram-se desvinculadas com a cena da História do Palácio Rio Branco, obviamente, que no novo espaço de memória, não havia lugar para a história das exclusões e nem da vivência cotidiana, dos prazeres, cerimônia e festas das elites pois o lembrar de tais momentos refletiria possivelmente, no não pertencimento social.

Assim, o Museu do Palácio Rio Branco representa até os dias atuais as estratégias políticas, onde “o revitalizar e resgatar da História social acreana” simbolizaram em grande parte os interesses primordiais do poder, explícitos em todos os discursos políticos oficiais.

Em suma, tombar o Palácio Rio Branco, representaria desta forma, dentre outras intenções, manter o poder representado pelo imponente, dando a idéia de que os heróis perpetuam-se na história como uma sucessão de fatos que sempre permearam o Palácio Rio Branco como dialogamos com o 15 de Junho.

A sociedade, embora muitas vezes ausente desse contexto e das criticas passiveis ao Museu, até hoje ainda não se sente parte do referido Espaço de memória, necessitando urgentemente de uma intervenção precisa no local, capaz de efetivar termos de uso dos quais atuem de forma democrática, democracia esta que produza diretos igualitários no Museu, beneficiando a toda a sociedade e não mais definindo direitos e obrigações entre as classes sociais.

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2.2 ENTRE CAMPOS: OS SUJEITOS SOCIAIS SOB O DOMÍNIO DE UMA IDENTIDADE CONSTITUIDA PELO PODER DO ESTADO.

Para compreendermos os entre campos dos sujeitos sociais sob o domínio de uma identidade5 constituída pelo poder do Estado a partir das memórias representadas pelo Museu do Palácio Rio Branco, utilizamos como base principal os discursos do poder, discutindo-os e analisando-os comparativamente com as bases secundárias das entrevistas realizadas com visitantes e não-visitantes do presente Espaço de Memória para que possamos traçar um paralelo entre as múltiplas relações existentes no museu.

Partindo deste principio, devemos ter a compreensão de que quando nos referimos ao Museu do Palácio Rio Branco estamos falando não apenas do imóvel, mas de todo o seu entorno que compreende a lei de tombamento, algo que nos permite uma compreensão do assunto discutido.

No ano de 2002 o Museu do Palácio Rio Branco foi aberto para visitação pública, sendo seu Decreto assinado no dia 15 de junho de 2008 pelo governador Binho Marques, que finalmente o transformou em Museu o Palácio Rio Branco.

Segundo discurso divulgado no site Agencia de notícias do Acre,

Antes da restauração promovida pelo ex-governador Jorge Viana, poucos acreanos tinham acesso às dependências do Palácio. Hoje, tanto moradores quanto turistas podem conhecer as belezas do espaço que é um dos marcos do projeto de modernidade de Rio Branco numa época em que as edificações eram todas de madeira. (http://www.agencia.ac.gov.br, 2011.)

Em outras palavras, o que se quer transmitir aos leitores é que agora, diferentemente do passado onde a população nunca esteve convidada a participar dos cerimoniais elitizados ocorridos no interior do Palácio Rio Branco, agora toda a sociedade passaria a fazer parte de todo o seu contexto, pois uma das maiores intenções do Governo de Jorge Viana era o de que

5Identidade deve ser entendida como a forma pela qual os indivíduos se percebem dentro da sociedade em que

vivem e pela qual percebem os outros em relação a eles próprios (BRADLEY, 1996). Castells define identidade como o sentimento de pertencer a um determinado grupo; é a identidade que define “o que você tem em comum com algumas pessoas e o que o torna diferente de outras” (CASTELLS, 1990, p.88).

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fosse inserido na população um sentimento de pertencimento ao local, unindo povos e fortalecendo as identidades, através de uma memória coletiva que cumpre a função de contribuir com o sentimento de pertencimento a um grupo de passado comum, que compartilha memórias comuns, mas as memórias vivenciadas pelo Museu do Palácio Rio Branco fizeram parte apenas do jogo de intencionalidades das quais se disseminaram e permeiam os discursos políticos até os dias atuais.

Neste sentido, não podemos esquecer que as memórias6 transmitidas pelo Museu, tampouco estiveram articuladas com as memórias vivenciadas no próprio local já que havia o interesse explicito em apagar suas próprias vivências, constituindo no espaço uma nova memória não mais articulada ao setor social.

Desta forma, as memórias do Palácio Rio Branco enquanto residência oficial, promovendo jantares sociais, desfiles de moda, casamentos burgueses e outros acontecimentos elitizados foram fortemente apagados de suas vivências, sendo ditado um novo aspecto histórico desvinculado da cena que transmitia a sua própria identidade, memórias das quais buscaram-se apagar, revitalizando assim não apenas as estruturas arquitetônicas, mas também a sua própria história, como nos mostra o trecho a seguir:

Revitalizado por Jorge Viana, passou a contar a história da formação do Acre e a mostrar parte de seu patrimônio cultural e arqueológico, como os geoglífos, as formas geométrica de milhares de anos localizadas no Vale do Acre. A Revolução Acreana, a vida seringueira, os empates e a luta de Chico Mendes. (O Estado do Acre, 2002, p. 2)

Outro discurso também impregnado das intencionalidades do poder é visivelmente apontado na revista O Estado do Acre, ano 2002, marcado como o momento em que o Palácio Rio Branco é devolvido à população, “resgatando toda a dignidade de um povo” e devolvendo-lhe aquilo que era seu de direito.

6

A memória - voluntária ou involuntária, individual ou coletiva - é, como se sabe, sempre seletiva. O seu caráter seletivo deveria ser suficiente para indicar as suas articulações com os dispositivos de poder. São essas articulações e a forma como elas atravessam e utilizam determinadas sobrevivências, representações ou reconstruções do passado nopresente que pretendemos estudar, partindo do princípio de quenenhuma forma de relação com o passado é, em si mesma emancipadora ou coercitiva. CHAGAS, Mário. Memória e poder: Dois movimentos. Cadernos de museologia n19.

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O que queria se expressar com este resgate era que a partir dali o Palácio seria do povo e que ele, enquanto sujeito social estava feliz com essa volta daquilo que antes não lhe pertencia e que passaria a ser seu, fortalecendo os laços de identidade da população acreana e tornando-a mais una.

A imagem utilizada na capa da revista serviria para expressar também a alegria do povo em ter de volta o Palácio, e em poder compartilhar de suas memórias, usufruindo do prédio e inserindo-se em um espaço de memória que a partir de então passaria a ser da sociedade e não mais transmitir a imagem de um imponente do qual a sociedade contemplava de longe, temendo-o na mesma medida em que admirava-o.

A capa da revista é uma montagem clara, daquilo que se desejava transmitir para que se perpetuasse na memória a alusão do pertencimento de um povo.

Desta forma, a matéria “resgate da dignidade de um povo” e “o maior monumento da história acreana, símbolo do amor e orgulho pela nossa terra, entregue de volta a população” nada mais significou do que uma tentativa discursiva de instaurar os próprios interesses políticos colocados em jogo, das quais ocultariam-se entre as exposições do mais novo Museu.

O sentimento de identidade, união e devolução do monumento de um povo, explícitos tanto nos discursos políticos quanto na fala do coordenador do Museu do Palácio Rio Branco, Moisés Morais, não foram capazes de se consolidar na vida acreana ainda que as concepções ditas como verdades tão pouco façam parte das classes menos favorecidas.

A tentativa de se manter una a sociedade através da memória também não foi capaz de se manter, pois dados do próprio museu nos revelam que o menor público atingido é exatamente aquele no qual os discursos diziam que estariam inseridos.

A população, ainda hoje, não sente-se convidada a participar do Museu do Palácio Rio Branco que tem como público principal os turistas vindos de outros países e Estados, como podemos observar abaixo:

O Palácio Rio Branco passou a receber milhares de visitantes. Só em 2006 cerca de 22 mil turistas internos e de outros Estados passaram pelo local. Em 2007, o número praticamente dobrou: nada menos que 40.309 conheceram o Palácio. Até abril de 2008 já são 8,9 mil turistas. (Pesquisa Museu Palácio Rio Branco, 2008)

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Para uma argumentação mais precisa, realizamos uma pesquisa através de questionários com 50 pessoas em diferentes pontos turísticos de Rio Branco.

Através da presente pesquisa, pudemos diagnosticar que o maior público atingido não se refere à sociedade acreana, mas de turistas vindos de diferentes cidades e países. Tais pessoas também não agrupam uma camada social baixa ou média-baixa, mas em sua grande maioria ocupam posições de destaque econômico. Dentre as profissões dos visitantes do Museu do Palácio Rio Branco, nota-se a presença de jornalistas, médicos, engenheiros, arquitetos, astrônomos, advogados, promotores, juízes e uma demanda demasiada de profissões com alto grau de prestigio social.

Cerca de 70% do público que corresponde aos visitantes originários do Estado do Acre são de estudantes das escolas privadas, federais e municipais que conhecem o museu ou através do programa que beneficia as escolas com a disponibilização de ônibus ou por motivos de trabalhos escolares.

98% das pessoas entrevistadas já transitaram o entorno do Museu do Palácio Rio Branco, mas no entanto, destas somente 35% já visitaram em algum momento o Museu do Palácio Rio Branco, enquanto 65% nunca chegaram a entrar em suas dependências para conhecer de perto suas memórias e o mais alarmante: destes 65% que não conhecem o Museu do Palácio Rio Branco, metade não sabia que podia entrar, acreditando em muitos casos que o Museu ainda atua como serventia das questões administrativas do poder político, o que em parte torna-se compreensível tendo em vista que as esferas do poder políticos não estão desvinculadas do Museu do Palácio Rio Branco, tais pesquisas podem ser analisadas através da analise comparativa do quadro abaixo:

Quadro 01: Pesquisa sobre o conhecimento e visitação do Museu Palácio Rio Branco, 2011. 0%

100%

Transitam no

entorno Visitantes Não visitantes 98%

35% 65%

Museu Palácio Rio Branco

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A presente pesquisa nos conduziu à constatação de que embora os discursos do poder nos remetam a ponderar uma nova conjuntura do Palácio Rio Branco enquanto Museu, tampouco os discursos serviram para aproximar a sociedade do presente espaço de memória pois ao contrário dos relatos e mídias, o que podemos observar é que o público do museu continua bastante semelhante com o perfil do público que frequentava o Palácio Rio Branco nas décadas passadas.

Diante desta perspectiva, podemos concluir que o Museu do Palácio Rio Branco antes residência oficial e sede administrativa do poder, ainda que atualmente funcione como instituição museologica, não congrega as camadas sociais das quais os interesses das administrações governamentais pretendeu atingir pois ao implantar uma memória quase que totalmente desvinculada da sua cena, teve que contrastar com a perca da identidade do Museu.Ao mesmo tempo em que a sociedade antes excluída das festividades e eventos burgueses realizados no interior do prédio, ainda não sente-se convidada a participar da memória congregada no Museu do Palácio Rio Branco que continuando desta forma, a beneficiar em sua grande maioria apenas as camadas sociais detentoras do poder político e/ou econômico, as mesmas em que atualmente tem privilégios dos quais a sociedade não pode usufruir, aspectos dos quais serão abordados no próximo capítulo.

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CAPITULO III

ENTRE SONHOS, PAREDES E ESQUECIMENTOS: MEMÓRIAS E SUJEITOS SOCIAIS DO MUSEU DO PALÁCIO RIO BRANCO.

Neste último capítulo de monografia pretendo abordar as questões em torno da (re) significação do Palácio Rio Branco enquanto um dos espaços responsáveis pela transmissão da memória social acreana, discutindo suas múltiplas relações com o poder e intercalando as memórias que transcorrem no tempo mantendo-se vivas em histórias isoladas, enquanto o poder político as omite e implanta uma nova história desvinculada da cena do Museu do Palácio Rio Branco, ícone do poder e da identidade acreana.

3.1 MUSEU PALÁCIO RIO BRANCO: LEMBRANÇAS E ESQUECIMENTOS.

Falar das memórias que compõem a história e significado do Museu do Palácio Rio Branco é antes de mais nada realizarmos uma viagem prazerosa sobre o mundo onde se dividem e misturam-se história e imaginação, um espaço com uma trajetória que compõe mais de 80 anos de vivências e acontecimentos, misturando-se com o cotidiano, com a vida política e social que muitas vezes simbolizaram o sonho das mais variadas classes vinculadas a cidade de Rio Branco.

Ao mesmo instante, também não podemos adentrar ao tocante do Palácio Rio Branco sem lembrarmos da história da Praça Eurico Dutra, da Fonte Luminosa e do Obelisco, pois os três juntos atuam com um ser indivisível, vivenciando praticamente o mesmo tempo e simbolizando também as esferas do poder.

Da mesma forma, ao nos depararmos com a história do Palácio Rio Branco, nos confrontamos com os jogos políticos e com as múltiplas facetas que envolvem sonhos e interesses, tornando-o ícone da sociedade e do poder político acreano.

Ao relembrarmos a década de 50 e voltarmos ao momento de nostalgia do Palácio Rio Branco e seu entorno, podemos observar que ambos tornaram-se uma fonte viva e dinâmica de referência nas atividades culturais, cívicas e oficiais da sociedade acreana, pois era no Palácio Rio Branco e em seu entorno que aconteciam das coisas mais simples às histórias

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