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Gestão de paisagem cultural da imigração alemã utilizando método multicritério de apoio à decisão

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL. Douglas Emerson Deicke Heidtmann Junior. GESTÃO DE PAISAGEM CULTURAL DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ UTILIZANDO MÉTODO MULTICRITÉRIO DE APOIO À DECISÃO. Florianópolis 2013.

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(3) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL. Douglas Emerson Deicke Heidtmann Junior. GESTÃO DE PAISAGEM CULTURAL DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ UTILIZANDO MÉTODO MULTICRITÉRIO DE APOIO À DECISÃO. Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do grau de DOUTOR em Engenharia Civil. Orientador: Prof. Dr. Carlos Loch. Florianópolis 2013.

(4) Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. Heidtmann Junior, Douglas Emerson Deicke Gestão de Paisagem Cultural da Imigração alemã utilizando Método Multicritério de apoio à decisão / Douglas Emerson Deicke Heidtmann Junior ; orientador, Carlos Loch Florianópolis, SC, 2013. 281 p. Tese (doutorado) Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Inclui referências 1. Engenharia Civil. 2. Gestão Territorial. 3.Preservação do Patrimônio. 4. Paisagem Cultural. 5. Imigração alemã. I. Loch, Carlos. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. III. Título..

(5) DOUGLAS EMERSON DEICKE HEIDTMANN JUNIOR GESTÃO DE PAISAGEM CULTURAL DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ UTILIZANDO MÉTODO MULTICRITÉRIO DE APOIO À DECISÃO Esta tese foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de DOUTOR em Engenharia Civil, área de concentração Cadastro Técnico Multifinalitário, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, sessão pública de 08 de Março de 2013. ______________________________ Prof. Roberto Caldas de Andrade Pinto, Ph.D. Coordenador do PPGEC ____________________________________________________ Prof. Carlos Loch, Dr.- UFSC - Orientador BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Prof. Carlos Loch, Dr.- UFSC – Moderador UFSC ___________________________________________________ Prof. Andrey Rosenthal Schlee, Dr. - Universidade de Brasília Diretor do DEPAM-IPHAN ____________________________________________________ Prof. Antonio Nelson Rodrigues da Silva, Dr-Universidade São Paulo ____________________________________________________ Prof. Jurgen W. Philips Ing. Dr. - UFSC ____________________________________________________ Prof. Marcos A. Noronha, Dr.- UFSC ____________________________________________________ Prof. Francisco Henrique de Oliveira, Dr.- UDESC.

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(7) Dedico este trabalho aos meus pais, meus incondicionais professores..

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(9) AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Deus pela saúde e pelas pessoas que colocou no meu caminho, as quais contribuíram tanto para minha vida. Ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Loch, verdadeiro “pai científico”, que tanto me ensinou sobre a carreira de professor universitário e sobre a capacidade de superação mas, que acima de tudo, me emprestou seu “olhar” sobre os descendentes de alemães, em especial os originários do meio rural catarinense, como ele próprio, fazendo com que eu aprendesse a ver o território e a cultura das pessoas que nele trabalham como a verdadeira riqueza de um povo. Aos professores da banca examinadora, por suas valiosas contribuições. À Universidade Federal de Santa Catarina, que possibilitou a realização deste doutorado. Aos amigos e professores das universidades européias (Université Jean Monnet de Saint Etienne, França, Universitá Federico II de Napoli, Itália e Universitat Stuttgart, Alemanha), que tanto me ensinaram durante o período da bolsa Erasmus Mundus Maclands, no curso de mestrado “Formation des experts internationaux en Conservation, gestion et valorisation durables des Paysages culturels et des systemes et sites patrimoniaux” (2008-2010), especialmente à Prof. Arch. Marina Fumo e ao Prof. Urbanista/Ingegnere Ferruccio Ferrigni. À Universidade do Estado de Santa Catarina, em especial ao CERES-Laguna, meu local de trabalho em que aprendo tanto a cada dia, como servidor público docente nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia de Pesca. Aos professores Ester Judite Bendjouya Gutierrez e Sylvio Arnoldo Dick Jantzen, por terem aberto, cada um a seu tempo e a seu modo, meus olhos para a importância do Patrimônio Histórico e Cultural. Aos alunos da disciplina de Técnicas RETROspectivas do curso de Arquitetura e Urbanismo da UDESC-Laguna que, com seu entusiasmo, acabaram sendo incentivadores deste trabalho, em seus estágios finais..

(10) Ao IPHAN, pela inspiração e exemplo de luta pela preservação do Patrimônio Cultural de nosso país, em especial à servidora pública arquiteta/urbanista Maria Regina Weissheimer por toda a paciência, disponibilidade e atenção dispendida ao desenvolvimento desta pesquisa. À ex-Superintendente do IPHAN/SC e minha amiga arquiteta/urbanista Marina Cañas Martins, por ter incentivado o retomada deste trabalho. Aos amigos, colegas de curso e do Laboratório de Fotogrametria, Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da UFSC, arquitetos/urbanistas Prof. Dr. Geraldo Almeida, Prof. Dr. Fernando Guajará e Yuzi Zanardo, pelo companheirismo e inúmeras discussões sobre nossos respectivos temas de pesquisa. Aos amigos, arquitetos/urbanistas Ana Paula Cittadin, Vladimir Stello do ETEC-Laguna/IPHAN-SC e Matilde Villegas, por compartilharem tantos momentos de conversa sobre Patrimônio, no inspirador centro tombado de Laguna. À minha colega do Laboratório de Geoprocessamento da UDESC-Laguna Profa. Patrícia Becker pelo incentivo nos momentos finais desta tese. Aos meus familiares, que sempre me incentivaram para a realização deste trabalho, em especial meus pais Douglas Emerson Deicke Heidtmann e Maria Regina Rosinha Heidtmann. À minh’Ana Elise, por seu amor incondicional, por sua presença constante, pelos inúmeros diálogos sobre as questões que envolviam a tese e por nunca ter deixado de acreditar em minha capacidade de finalizar este trabalho. Agradeço a todos que, de alguma forma, contribuiram direta ou indiretamenta para o desenvolvimento desta pesquisa..

(11) Porém, ao ver a primeira vez a família Schultz em plena atividade, Rodrigo parou, admirou e ficou confuso: Aquilo era até bonito (...) Era bom a gente ver aquelas gentes de pele clara e roupas de muitas cores inclinadas a virar a terra, com a cara escondida pela sombra dos chapéus. (...) Toda a família tinha parado de trabalhar, voltava-se para Rodrigo e, tirando os chapéus, acenava-lhe (...) E de repente, sem ele mesmo saber por quê, sentiu um nó na garganta e uma vontade de chorar. Ficou com raiva de si mesmo e meio ressentido com aquela ‘alemoada do diabo.’ (O Continente, p. 254/5). E o Padre Lara, pressentindo que iria rebentar a guerra civil e “vendo a família de Hans Schultz passar em fila indiana, de volta do trabalho a cantar uma cantiga alemã”, refletiu: “esses sim é que são felizes” (O Continente, p. 256). Referências à laboriosidade dos imigrantes alemães na obra “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo.

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(13) RESUMO HEIDTMANN JUNIOR, Douglas Emerson Deicke. GESTÃO DE PAISAGEM CULTURAL DE IMIGRAÇÃO ALEMÃ . Florianópolis. 281 p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-graduação, UFSC, 2013. O tema do Patrimônio Histórico e Cultural deve ser considerado para a gestão do território e a presente tese propõe a possível e necessária aproximação entre tais temas, a partir do conceito de Paisagem Cultural. O reconhecimento do Patrimônio pelo conceito de Paisagem Cultural já é difundido na Europa desde a Convenção da UNESCO de 1992, mas ainda é recente no Brasil, onde alcançou relativo impulso em 2009 com a chancela do IPHAN e sua aplicação em 2011, nos núcleos rurais de imigração alemã de Rio da Luz em Jaraguá do Sul e de Testo Alto em Pomerode, no Estado de Santa Catarina. A tese tem como objetivo evidenciar alternativas possíveis para que a gestão das áreas protegidas como Paisagem Cultural da imigração alemã alcance êxito e para que tal paisagem seja efetivamente preservada e valorizada. Os métodos incluem revisão bibliográfica, análise de três exemplos europeus de Gestão de Paisagens Culturais UNESCO em vales de rios similares à situação catarinense, o emprego de método de apoio à decisão, através de Modelo Multicritério desenvolvido junto ao decisor (Superintendência do IPHAN-SC) para evidenciar as principais áreas de preocupação e estimar o impacto de seus respectivos critérios e alternativas de Gestão, além de uma pesquisa junto aos moradores de um dos núcleos para levantamento sobre os critérios obtidos no Modelo MCDA-C. Os Resultados da pesquisa demonstraram a importância de novas estratégias de gestão na Europa e evidenciaram a importância do envolvimento das entidades para que esta nova categoria de Patrimônio se insira nas decisões de gestão territorial no Brasil, possibilitando a Continuidade da atividade familiar rural, o Controle da expansão urbana, a gestão da mobilidade e do Patrimônio. Palavras-chaves: Gestão Territorial, Preservação do Patrimônio, Paisagem Cultural..

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(15) ABSTRACT HEIDTMANN JUNIOR, Douglas Emerson Deicke. MANAGEMENT OF CULTURAL LANDSCAPE OF GERMAN IMMIGRATION. Florianópolis. 281 p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-graduação, UFSC, 2013. The theme Historical and Cultural Heritage should be considered for Territory management and this thesis proposes the possible and necessary approach between these themes, through the concept of Cultural Landscape. The recognition of Heritage by the concept of Cultural Landscape is already widespread in Europe since the 1992 UNESCO Convention, but it is still recent in Brazil, where it reached relative impulse in 2009 with the approval of an instrument by IPHAN and its application in 2011, in two German immigration rural neighborhoods: Rio da Luz in Jaraguá do Sul and Testo Alto in Pomerode, State of Santa Catarina. The thesis aims to highlight possible alternatives to achieve success in the management of protected areas as Cultural Landscape of German immigration and for this landscape be effectively preserved and valued. The methods include literature review, analysis of three European examples of UNESCO Cultural Landscapes Management located in river valleys like the situation in Santa Catarina State, the use of decision support method through Multicriteria Model developed by the decisionmaker (IPHAN-SC Superintendence) to highlight the main areas of concern and to estimate the impact of criteria and their respective management alternatives, as well as a survey with residents of one of the rural neighborhoods to survey the criteria obtained in MCDA-C Model. The research results have demonstrated the importance of new management strategies in Europe and highlighted the importance of entities involvement to make this new Heritage category be considered in Territory management decisions in Brazil, enabling the continuity of rural family activity, the control of urban sprawl, the Mobility and Heritage Management.. Keywords: Territory management, Heritage Preservation, Cultural Landscape..

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(17) ZUSAMMENFASSUNG HEIDTMANN JUNIOR, Douglas Emerson Deicke: MANAGEMENT DER DURCH DEUTSCHE EINWANDERUNG GEPRÄGTEN KULTURLANDSCHAFT, Florianópolis, 281 S., Dissertation (tese de doutorado) – Postgraduierten-Programm im Bauingenieurwesen, UFSC, 2013. Das Thema „historisches und kulturelles Erbe“ sollte bei der Betrachtung des Landmanagements mit einbezogen werden um die mögliche und notwendige Annäherung zwischen den verschiedenen Aspekten der Kulturlandschaft herzustellen. Die Anerkennung der Denkmalpflege im Konzept Kulturlandschaft ist in Europa seit Inkrafttreten der UNESCOKonvention von 1992 bereits weit verbreitet, in Brasilien jedoch noch relativ neu. Ein wesentlicher Impuls kam 2009 durch den Erlass des IPHAN zustande und seit dem Jahr 2011 durch dessen Umsetzung in den von deutscher Zuwanderung geprägten, ländlichen Gebieten Rio da Luz, Jaragua do Sul und Testo Alto in Pomerode, alle im Bundesstaat Santa Catarina. Gegenstand der Untersuchung ist es, mögliche Alternativen aufzuzeigen, damit die Verwaltung der von deutschen Einwanderern geprägten und geschützten Kulturlandschaft erfolgreich betrieben und diese entsprechend bewahrt und geschützt werden kann. Die angewandten Methoden sind sowohl Literaturrecherche als auch die Analyse von drei europäischen Beispielen des „UNESCO Cultural Landscapes Managements“, welche in Flusstälern, ähnlich denen von Santa Catarina durchgeführt wurde. Eine weitere Basis bildet das Multikriterien-Modell, das der Entscheidungsträger (Leitung IPHAN-SC) anwendet, um die wichtigsten Gebiete festzulegen und die Konsequenzen zu bewerten, die die Umsetzung dieser Kriterien und alternative Management-Methoden nach sich ziehen. Ebenso eine Umfrage bei den Einwohnern eines der genannten Gebiete, um gemäß MCDA-C-Modell die richtigen Kriterien auszuwählen. Die Ergebnisse dieser Umfrage bestätigten die Bedeutung neuer ManagementStrategien in Europa und unterstreichen gleichzeitig, wie wichtig es ist, die Behörden mit einzubinden, damit diese neue Art der Denkmalpflege in Entscheidungen über brasilianisches Land einfließt. Somit wird es möglich, sowohl ländliche Familienbetriebe weiterzuführen und städtische Expansion zu steuern – unter Berücksichtigung von Mobilität und Denkmalschutz. Schlüsselworte: Landmanagement, Denkmalpflege, Kulturlandschaft..

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(19) LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Quadro resumo delimitativo da pesquisa Figura 2 - Possibilidade de exploração de produtos: Limoncello e a Costa Amalfitana, Itália. Figura 3 - Campanha contra a instalação de geradores eólicos na região do Mont St Michel, França. Figura 4 - “Os Três Filósofos” e “O Caminhante Sobre o Mar de Névoa” Figura 5 - Campanha Stuttgart Das Neue Herz Europas e Heimat como título de uma consagrada mini-série alemã. Figura 6 - Paisagem Cultural Missioneira: “moldura” para os descendentes Guarani. Figura 7 - Desmontagem e Reconstrução dos templos de ABOU SIMBEL. Figura 8 - Paisagem Cultural de TONGARIRO PARK. Figura 9 - TGV francês, VESPA italiana, VOLKSWAGEN bicicleta elétrica alemã. Figura 10 - Catálogo Manufrance e bicicletas no Musée d’Art et d’Industrie. Figura 11 - Musée des Transports Urbains e o tramway stéphanois. Figura 12 - Vesúvio na baia napolitana, Ônibus Sightseeing e tráfego intenso no centro. Figura 13 - Cartão postal com o funicular vesuviano e novo projeto de funicular vencedor de concurso. Figura 14 - A intermodalidade nos funiculares e o Projeto Stuttgart 21 na estação central de Stuttgart. Figura 15 - Vinhedos à beira do Rio Neckar e Grabkapelle de Württemberg. Figura 16 - Mobilidade em Stuttgart: antigo túnel ao lado do castelo Rosenstein e tunel Kappelberg. Figura 17 - Alterações para vias em Vinhedos Alto Douro Paisagem Cultural UNESCO em Portugal. Figura 18 - Panorama do Rio Elba e a Cidade de Dresden, que perdeu o titulo de patrimônio mundial da UNESCO devido ao projeto de construção de uma ponte para o tráfego de veículos. Figura 19 - Região do Vale do Reno que é Paisagem Cultural UNESCO. Figura 20 - Mobilidade em Paisagem Cultural UNESCO Vale do Loire. Figura 21 - Mobilidade Costa Amalfitana e Cinque Terre, Itália. Figura 22 - Mobilidade no Vale do Reno na Fronteira romana de LIMES na Alemanha. Figura 23 - Mobilidade suave com carro puxado a cavalo (Áustria) e locaçao de bicicletas (Itália). Figura 24 - Localização do Alto Douro, Portugal. Figura 25 - Técnicas de cultivo da vinha no ADV : Vinhas em patamares, Vinhas ao alto e Vinhas sem armação de terreno. Figura 26 - Instrumentos de gestão do Território – planos publicados. Figura 27 - Cruzeiros no Rio Douro, destaque para a largura do barco em relação ao rio e Rede Vitour. Figura 28 - Manifestações contra a construção da barragem e alteração no projeto por Souto Moura. Figura 29 - Delimitação do Vale do Loire – Paisagem Cultural da Unesco. Figura 30 - Divulgação da aprovação do Plano de Gestão na página internet. Figura 31 - A paisagem cultural e seus 4 elementos principais. Figura 32 - Escalas de análise da Paisagem Cultural. Figura 33 - Inúmeros projetos de cruzamento sobre o rio e urbanização difusa em. 38 43 44 44 47 53 56 60 70 71 72 73 74 75 76 77 85 86 88 90 91 91 93 95 98 102 107 107 108 110 112 113 114.

(20) detrimento de espaços naturais ou agrícolas. Figura 34 - Hortas em primeiro plano estão cercadas por floresta de coníferas (superior) e grandes monoculturas (direita) e esquema mostrando a obstrução das visuais causadas pelo plantio de choupos Figura 35 - Recomendações para escolha de cores, construção de extensões em tecido urbano em encosta existente e exemplo de uso de materias e volumetria adequada. Figura 36 - Distritos do Vale do Reno com subdivisões. Figura 37 - Tráfego no Vale do Reno. Figura 38 - Organização da Associação de municípios (Zweckverbandes). Figura 39 - Modificações na Paisagem. Figura 40 - Reuniões de brainstorming para elaboração de plano de turismo e veículo exclusivo. Figura 41 - Produtos agrícolas da região com marcas consolidadas. Figura 42 - Categorização dos tipos de Paisagem Cultural e dos elementos. Figura 43 - Exemplos de como o KLEK foi posto em prática. Figura 44 - Mapa com localização dos municípios e áreas estudadas. Figura 45 - Strassendorf e Angerdorf. Figura 46 - Edificação tombada que abrigava originalmente a antiga queijaria e Projeto de ampliação, com nova edificação. Figura 47 - Evolução do perímetro urbano do município de Jaraguá do Sul. Figura 48 - Municípios integrantes da Associação dos municípios do Vale do Itapocu. Figura 49 - Municípios integrantes da Associação dos municípios do Médio Vale do Itajaí. Figura 50 - Plano indicativo das antigas colônias alemãs no Estado de Santa Catarina e cidades contempladas pelo RNI. Figura 51 - Bacia hidrográfica do Rio Itajaí com Rio Testo em destaque. Figura 52 - Pomerode foto aérea (2007) evidenciando o rio Testo, o centro urbano e o acesso à Paisagem Cultural. Figura 53 - Mapa de Localização da Paisagem Cultural: núcleos Testo Alto e Vale do Rio da Luz com a estrada que atravessa os dois núcleos rurais em evidência. Figura 54 - Mosaico baseado em aerolevantamento (1978) evidenciando o perímetro da área tombada e seu entorno. Figura 55 - Conjuntos Rurais - Arquitetura Residencial e Ranchos no CONJUNTO CASA RUX – Rio da Luz/Jaraguá do Sul. Figura 56 - Arquitetura comercial - CASAS WEEGE E HAUT – Acesso ao Testo Alto/ Pomerode. Figura 57 - Plano de um “sítio” teuto-brasileiro e evolução de um partido arquitetônico pomerano. Figura 58 - Acidentes de trânsito, asfaltamento, e construções incompatíveis. Figura 59 - Sinalização utilizada para o turista - projeto “Rota do Enxaimel”. Figura 60 - O pequeno produtor rural e seus meios de transporte, arquitetura comercial e bicicletas e saída de fábrica e de escola pública em Pomerode. Figura 61 - Reunião com moradores do Rio da Luz em 26-04-2012. Figura 62 - Fases do MCDA-C e ênfase na fase de estruturação Figura 63 - Estrutura Hierárquica de Valor. Figura 64 - Descritor Órgãos Municipais. Figura 65 - Transformação do Descritor Órgãos Municipais em Função de Valor por meio do método MACBETH. Figura 66 - Ações Potenciais para determinação das Taxas de. 114 115 119 121 122 123 123 124 125 126 131 134 137 138 139 141 142 145 146 147 148 149 150 150 151 152 153 154 158 163 164 166 168.

(21) Substituição/Compensação. Figura 67 - Matriz de Roberts da comparação entre os PVE Pesquisa Físicoquímica e Pesquisa Antropológica. Figura 68 - Taxas de substituição calculadas para os PVE Pesquisa Físicoquímica e Pesquisa Antropológica. Figura 69 - Estrutura Hierárquica de Valor com Taxas de Substituição calculadas para os PVE Pesquisa Físico-química e Pesquisa Antropológica. Figura 70 - Estrutura Hierárquica de Valor com Taxas de Substituição calculadas para os PVE Pesquisa Físico-química e Pesquisa Antropológica. Figura 71 - Recomendações – Descritor D. Figura 72 - Caminhão em acidente junto à edificação enxaimel. Figura 73 - Áreas de Preocupação a partir do agrupamento de conceitos. Figura 74 - Mapa de relações Meios-Fins Agroindústria Familiar Rural. Figura 75 - Mapa de relações Meios-Fins Êxodo Rural. Figura 76 - Estrutura Hierárquica de Valor relativa à área de preocupação Continuidade da Atividade Familiar Rural. Figura 77 - Descritores para o PVF Agroindústria Familiar Rural. Figura 78 - Transformação dos descritores (escala ordinal) em Funções de Valor (escala cardinal). Figura 79 - Escala cardinal construída para os descritores do Ponto de Vista Fundamental Agroindústria Familiar. Figura 80 - Alternativas descritores Pesquisa Físico-química e Antropológica. Figura 81 - Alternativas descritores Controle Especialização Produtiva e Identificação Produtores. Figura 82 - Alternativas potenciais para os critérios SUPERIORES. Figura 83 - Descritores para o Ponto de Vista Fundamental Êxodo Rural. Figura 84 - Transformação descritores em Funções de Valor Figura 85 - Escala cardinal construída para os descritores do Ponto de Vista Fundamental Êxodo Rural. Figura 86 - Alternativas potenciais para os descritores Saúde e Lazer. Figura 87 - Alternativas descritores Atividades complement., Visit. e Rotas. Figura 88 - Alternativas potenciais para os critérios SUPERIORES. Figura 89 - Estrutura Hierárquica de Valor para PVF1 (Agroindústria Familiar) e PVF2 (Êxodo Rural) com os PVEs e Taxas de subsituição/compensação. Figura 90 - Avaliação Global - CONTINUIDADE DA ATIVIDADE FAMILIAR Figura 91 - Estrutura Hierárquica de Valor para PVF3 e PVF4 com PVEs e Taxas de subsituição. Figura 92 - Avaliação Global - CONTROLE DA EXPANSÃO URBANA. Figura 93 - Estrutura Hierárquica de Valor para PVF5 (Infra-estrutura Viária) e PVF6 (Escolha Modal) com os PVEs e Taxas de subsituição/compensação. Figura 94 - Avaliação Global - GESTÃO DA MOBILIDADE. Figura 95 - Estrutura Hierárquica de Valor para PVF7 (Preservação do Patrimônio Cultural) e PVF8 (Chancela da Paisagem Cultural) com os PVEs e Taxas de subsituição/compensação. Figura 96 - Avaliação Global - GESTÃO DO PATRIMÔNIO. Figura 97 - Manifestações populares pró e anti-preservação do Patrimônio Figura 98 - Logos concebidos para a presente Tese, representando a Sistematização alcançada pelo Trabalho. 168 168 169 170 172 176 180 182 183 184 185 187 187 188 188 189 189 191 192 193 193 194 195 196 208 209 217 218. 224 225 237 238.

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(23) LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Ocupação profissional. Fonte: elaborado pelo autor a partir de pesquisa de campo, 2012. ........................................................................ 174 Gráfico 2 - Tempo de moradia na localidade. Fonte: Autor ...................... 198 Gráfico 3 - Significado da propriedade p/ o entrevistado. Fonte: Autor ..... 198 Gráfico 4 - Tipo de habitação. Fonte: Autor............................................... 199 Gráfico 5 - Situação da habitação. Fonte: Autor ........................................ 199 Gráfico 6 - Pessoas residentes. Fonte: Autor ............................................ 200 Gráfico 7 - Filhos que moram na propriedade. Fonte: Autor ..................... 200 Gráfico 8 - O que deseja para os filhos. Fonte: Autor................................ 201 Gráfico 9 - Pessoas que trabalham na propriedade. Fonte: Autor............. 201 Gráfico 10 - Preferência por alimentos. Fonte: Autor ................................ 202 Gráfico 11 - Aquisição dos alimentos. Fonte: Autor................................... 202 Gráfico 12 - Local onde compra os alimentos. Fonte: Autor...................... 203 Gráfico 13 - Tipos de alimentos artesanais consumidos. Fonte: Autor...... 203 Gráfico 14 - Preferência por habitação ..................................................... 211 Gráfico 15 - Habitação adequada para o Rio da Luz................................ 211 Gráfico 16 - Imagem do Rio da Luz .......................................................... 212 Gráfico 17 - Eventos realizado no Rio da Luz ........................................... 212 Gráfico 18 - Preservação do Rio da Luz................................................... 213 Gráfico 19 - O que difere o Rio da Luz ..................................................... 213 Gráfico 20 - Veículos utilizados ................................................................ 220 Gráfico 21 - Viagens por dia ...................................................................... 220 Gráfico 22 - Deslocamentos para os eventos ............................................ 221 Gráfico 23 - Preferências por vias ............................................................. 222 Gráfico 26 - Qualidade das vias ................................................................ 222. LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Quadro Objetivos/Método/Resultados, com objetivos destacados Quadro 2 - Técnicas de cultivo da vinha. Quadro 3 - Instrumentos, organismos e programas advindos da inclusão do ADV na UNESCO. Quadro 4 - População residente na região. Quadro 5 - População e nº de domicílios. Quadro 6 - Identificação dos atores envolvidos.. 38 97 101 173 174 177.

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(25) LISTA DE SIGLAS ABNT AOC CIMVI CTM EPA EPAGRI FATMA IBAMA IBGE ICOM ICOMOS ICROM IPHAN MMA MAPA MACBETH. MCDA MCDA C ONG ONU PVF SEBRAE. RNI SIG SPHAN UFPEL UFSC UNESCO UDESC. Associação Brasileira de Normas Técnicas Appellation d'origine contrôlée - Denominação de Origem Controlada Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí Cadastro Técnico Multifinalitário Elemento Primário de Avaliação Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão de Tecnologia de Santa Catarina Fundação do Meio Ambiente Instituto Brasileiro do Meio Ambiente Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Conselho Internacional de Museus (International Council on Monuments and Sites) Conselho Internacional de Monumentos e Sítios Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauração da Propriedade Cultural Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Ministério do Meio Ambiente Ministério Agricultura Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation Technique Medição de atratividade por meio de técnica de avaliação categorizada Multicriterio de Apoio a Decisão Multicritério de Apoio à Decisão Construtivista Organização não Governamental Organização das Nações Unidas Ponto de Vista Fundamental Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Roteiros Nacionais de Imigração Sistema de Informações Geográficas Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Universidade Federal de Pelotas Universidade Federal de Santa Catarina. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization Universidade do Estado de Santa Catarina.

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(27) SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1.1 – A(s) Emergência(s) do tema 1.2 – Caracterização do Problema e Relevância do Tema 1.3 – Justificativas 1.3.1 – Relevância, Ineditismo e Contribuição científica 1.4 – Objetivos 1.4.1 – Objetivo Geral 1.4.2 – Objetivos Específicos 1.5 – Delimitações 1.6 – Estrutura do trabalho. 31 32 34 35 36 37 37 37 38 39. CAPÍTULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 – Enquadramento conceitual: Paisagem Cultural 2.1.1 – Paisagem Cultural em âmbito mundial 2.1.2 – Paisagem Cultural em âmbito brasileiro 2.1.2.1 – O envolvimento institucional 2.1.2.2 – A chancela de Paisagem Cultural brasileira 2.2 – Gestão da Mobilidade e Paisagens Culturais 2.2.1 – Mentalidade européia sobre mobilidade 2.2.2 – O conceito de Gestão da Mobilidade 2.2.3 – A Gestão da Mobilidade como elemento para a preservação de paisagens culturais 2.2.4 - Gestão da Mobilidade: uma aproximação ao turismo. 40 40 55 63 63 67 70 70 78. CAPÍTULO 3 – TRÊS PAISAGENS CULTURAIS EUROPÉIAS: Análise da gestão da Paisagem Cultural em âmbito mundial 3.1 – Paisagem Cultural do Alto Douro Vinhateiro (Portugal) 3.1.1 – Elementos Culturais da Paisagem 3.1.2 – Gestão da Paisagem Cultural 3.2 – Paisagem Cultural do Vale do Loire (França) 3.2.1 – Elementos Cuturais da Paisagem 3.2.2 – Gestão da Paisagem Cultural 3.3 – Paisagem Cultural do Vale do Reno (Alemanha) 3.3.1 – Elementos Culturais da Paisagem 3.3.2 – Gestão da Paisagem Cultural. 84 89. 94 95 97 100 108 110 116 119 120 121.

(28) CAPÍTULO 4 – PAISAGEM CULTURAL BRASILEIRA: O CASO DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SANTA CATARINA 4.1 – Área de estudo: municípios envolvidos 4.1.1 – O município de Jaraguá do Sul – Rio da Luz 4.1.1.1 – Localização da Sede Municipal 4.1.1.2– Síntese Histórica da Formação da cidade 4.1.1.3 – O papel da industrialização 4.1.1.4– Expansão urbana e plano(s) diretor(es) 4.1.2 – O município de Pomerode – Testo Alto 4.1.2.1 – Localização da Sede Municipal 4.1.2.2 – Síntese Histórica da Formação da cidade 4.1.2.3 - A “cidade mais alemã do Brasil 4.2 – Delimitação da Paisagem Cultural 4.2.1 – Elementos Culturais da Paisagem 4.2.2 – Gestão da Paisagem Cultural. 128 131 132 132 132 135 138 140 140 140 140 142 149 151. CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS 5.1 - Método – MCDA-C 5.1.1 – Estruturação 5.1.2 – Avaliação 5.1.3 – Recomendações 5.2 - Método – Pesquisa junto à população. 155 160 160 165 171 172. CAPÍTULO 6 - RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1 – Estruturação do Problema 6.1.1 – Delimitação do contexto decisório 6.1.2 – Elementos Primários de Avaliação (EPA’s) e Conceitos 6.1.3 – Separação em áreas de preocupação 6.2 – Área de preocupação: Continuidade da Atividade Familiar Rural 6.2.1 – Construção dos Mapas de Relações Meios-fins 6.2.2 – Construção da Estrutura Hierarquica de Valor e identificação dos PVFs 6.2.3 – Construção dos Descritores 6.2.4 – Avaliação Global e Perfil de Impacto da Situação Atual 6.2.5 – Resultados Pesquisa agidos 6.2.6 – Discussão dos Resultados. 175 175 175 178 180 181 181 184 184 196 197 204.

(29) 6.3 – Área de preocupação: Controle da Expansão Urbana 6.3.1 – Avaliação Global e Perfil de Impacto da Situação Atual 6.3.2 – Resultados Pesquisa agidos 6.3.3 – Discussão dos Resultados 6.4 – Área de Preocupação: Gestão da Mobilidade 6.4.1 – Avaliação Global e Perfil de Impacto da Situação Atual 6.4.2 – Resultados Pesquisa agidos 6.4.3 – Discussão dos Resultados 6.5 – Área de preocupação: Gestão do Patrimônio 6.5.1 – Avaliação Global e Perfil de Impacto da Situação Atual 6.5.2 – Discussão dos Resultados. 207 209 210 214 216 218 219 223 224 225 226. CAPÍTULO 7 - CONCLUSÃO 7.1 - Recomendações. 228 239. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICE A: Questionários aplicados com a população APÊNDICE B: Quadro com os 110 EPA e os respectivos conceitos gerados ANEXO I: CARTA DE BAGÉ ou CARTA DA PAISAGEM CULTURAL ANEXO II: PORTARIA Nº 127, DE 30 DE ABRIL DE 2009 ANEXO III: TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA. 240 252 254 261 265 271.

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(31) CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO Eu não acredito nas coisas, mas nas relações entre as coisas. Georges Braque. Sustentabilidade tornou-se um dos maiores desafios para o Homem do século XXI. Tal desafio que, segundo o Relatório Brundtland, deve "atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem também às suas" (CMMAD, 1991, p. 9), engloba campos disciplinares os mais diversos. O trabalho desenvolvido nesta pesquisa trata de temas que, segundo seu autor, têm relação com a tentativa das sociedades atuais de se tornarem mais sustentáveis: o reconhecimento e a Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural pela valorização e gestão das paisagens. A Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural pode parecer, a princípio, um tanto distante das ciências que costumam estar envolvidas com a Sustentabilidade, dentre elas as Engenharias. Entretanto, sob a ótica aqui pretendida, entende-se a relação entre tais temas como essencial, visto que, não basta promover a preservação dos vestígios e artefatos representativos de uma cultura e transmiti-los às gerações futuras sem assegurar que os mesmos venham a se reinserir na dinâmica de cada uma dessas gerações. Nesta tese, trabalha-se com um conceito de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural já bastante difundido na Europa, mas considerado recente no âmbito latino-americano: as Paisagens Culturais que, para além de monumentos isolados ou centros históricos urbanos, envolvem áreas maiores que passam a ter necessidade de uma gestão integrada em diferentes níveis. Do geral ao particular, considera-se que é possível, com base nos conceitos e práticas disponíveis, principalmente, os de origem européia, sistematizar procedimentos para a tomada de decisão, visando a Preservação e Valorização do Patrimônio Histórico e Cultural representado pelas Paisagens Culturais. Para tal sistematização, propõe-se o emprego de Método de apoio à decisão, aproximando-se da realidade brasileira e tomando como estudo de caso uma área rural de Santa Catarina que recebeu recentemente a Chancela de Paisagem Cultural do IPHAN.. 31.

(32) 1.1 - A(S) EMERGÊNCIA(S) DO TEMA A escolha do tema de pesquisa surgiu primeiramente a partir de vivências pessoais em Pelotas, cidade-natal do autor, em seu ambiente urbano de desenho reticulado com espaços que permaneceram, se transformaram e foram reutilizados, ao longo de sua história, e que ainda permitem a fruição de grande parte de seu Patrimônio Histórico e Cultural. Algumas oportunidades de pesquisa/trabalho durante e após a Graduação no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas também foram essenciais para que o tema da Tese de doutoramento pudesse “emergir”. Primeiramente, houve a participação, através de bolsa concedida pelo CNPq, na pesquisa de iniciação científica intitulada “Testemunhos Materiais da Charqueada Pelotense (1780-1889)”, sob orientação da Prof.ª Dra. Estér Gutierrez. A pesquisa inventariou, através de instrumento estabelecido pelo IPHAN, as construções originais remanescentes no sítio histórico das charqueadas, às margens do Arroio Pelotas, no município de Pelotas, Rio Grande do Sul. A segunda oportunidade foi a participação na equipe de arquitetos da Secretaria de Cultura de Pelotas, onde foram elaborados os projetos de restauro dos imóveis contemplados pelo Programa Monumenta-BID no município de Pelotas. Após, houve a participação junto ao Escritório Técnico da 12ª Superintendência Regional do IPHAN na cidade de São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul, onde foram desenvolvidos e executados os trabalhos de consolidação de alvenarias das ruínas da redução de São João Batista pertencente aos Sete Povos das Missões e localizada em meio rural, de difícil acesso através de estradas de chão batido. Observou-se que tal sítio não atraía tanto a atenção de turistas quanto São Miguel das Missões, que é protegido como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, ou quanto Santo Ângelo, ambos situados em meio considerado urbano e, portanto, de melhor acesso.. 32.

(33) Tais oportunidades de trabalho tiveram relação direta com o interesse pela problemática da Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural e já sinalizavam a emergência de reflexões sobre a adequação de sítios a serem protegidos às necessidades de mobilidade de seus moradores ou de visitantes. Já o desenvolvimento da dissertação de mestrado “Novos usos para edificações de interesse histórico e cultural: As Lições da produção arquitetônica pelotense”, junto ao Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina, com apoio de bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, possibilitou contato com pesquisadores da Pós Graduação em Engenharia Civil que trabalhavam no nível mais amplo da Gestão Territorial. Após a defesa da dissertação, houve a oportunidade de desenvolver um trabalho junto à Fundação Catarinense de Cultura, referente à capacitação de profissionais sediados em instituições municipais onde se situassem bens imóveis tombados em nível estadual, em sua grande parte, situados em zonas das antigas colônias de imigração européia integrantes do projeto Roteiros Nacionais de Imigração do IPHAN. Por último, já tendo ingressado no curso de doutorado, a experiência de dois anos de estudo na Europa com bolsa ERASMUS MUNDUS (Consórcio de Universidades Européias Université Jean Monnet Saint-Etienne/FRANÇA, Università Federico II NÁPOLES/ITÁLIA e Universitat Stuttgart, ALEMANHA - "Formation des experts internationaux en Conservation, gestion et valorisation durables des Paysages culturels et des systemes et sites patrimoniaux") possibilitaram o amadurecimento das questões a serem desenvolvidas na pesquisa e propiciaram o entendimento da urgência em pesquisar algumas problemáticas que serão evidenciadas ao longo desta tese.. 33.

(34) 1.2 - CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E RELEVÂNCIA DO TEMA O título da pesquisa, “GESTÃO DA PAISAGEM CULTURAL DA IMIGRAÇÃO ALEMÔ, expressa a questão da valorização do patrimônio representado pelas paisagens culturais como ponto central do trabalho, direcionando os esforços para compreender o modo como o emprego de método de apoio à decisão pode contribuir para a gestão de áreas protegidas segundo o conceito de Paisagem Cultural. O título revela ainda a intencionalidade exploratória direcionada ao estudo sobre a viabilidade da preservação e valorização do rico legado cultural desenvolvido pelos imigrantes europeus (mais especificamente, os alemães) e ainda remanescentes, principalmente, no meio rural do estado de Santa Catarina. A abordagem da pesquisa delimita-se disciplinarmente no campo do Cadastro Técnico Multifinalitário e Gestão Territorial, uma vez que, a Paisagem, enquanto portadora de elementos singulares a serem preservados como Patrimônio Cultural, sofre influência direta da conformação do território, de seu parcelamento e de sua gestão por diferentes agentes. Tais fatores levaram à formulação da hipótese primeira desta pesquisa: O Patrimônio Histórico e Cultural representado pela Paisagem Cultural da imigração alemã em Santa Catarina, para ser devidamente preservado e valorizado, deve ser alvo de um plano de gestão que conjugue os objetivos defendidos pelo IPHAN às necessidades da população local. Entende-se que a comprovação de tal hipótese pode ser alcançada pelo estudo dos fatores que podem influenciar a tomada de decisão relativa à gestão da área chancelada situada em territórios mais abrangentes, para além do meio urbano, sobretudo no meio rural.. 34.

(35) A partir de estudos1 desenvolvidos na França, Itália e Alemanha, constatou-se a importância de iniciativas que vêm sendo empregadas para a promoção, principalmente turística, de sítios europeus protegidos como Paisagem Cultural da Humanidade pela UNESCO, visando a adaptação de tais sítios às atuais necessidades de Mobilidade, tanto por parte de moradores quanto de turistas, o que levou à formulação de uma hipótese secundária subordinada à primeira. A Mobilidade é fator a ser considerado para a elaboração do plano de gestão relativo à chancela de Paisagem Cultural na área de imigração alemã em Santa Catarina. 1.3 - JUSTIFICATIVAS Estudar o território, sua gestão, tendo como foco a preservação do Patrimônio Histórico e Cultural é essencial no que se refere à construção científica de conhecimento sobre a dinâmica de elementos constituintes da Paisagem que, a princípio, não são considerados conjuntamente para a tomada de decisão pelos agentes envolvidos em nível federal, estadual e, muito menos, pelas administrações em nível municipal. Apesar do grande número de contribuições produzidas nas áreas do conhecimento relativas à preservação do Patrimônio, não se conhece trabalhos que procurem evidenciar alternativas para a gestão de Paisagens Culturais, ao menos, em nível brasileiro. Estudar tais alternativas, considerando suas particularidades para a valorização do Patrimônio Cultural da imigração em Santa Catarina, torna-se imprescindível dada a necessidade atual de gestão e dos conflitos advindos justamente da tentativa de gestão atual e deverá ajudar a compreender melhor como se planejam e como pensam seus gestores e habitantes. 1. HEIDTMANN JR., Douglas. La mobilité et la valorisation des paysages culturels comme base pour un modèle de gestion territoriale. Dissertação de mestrado - Master in Cultural Landscapes, Maclands: Sttutgart, 2010.. 35.

(36) 1.3.1. Relevância, Ineditismo e Contribuição científica O estudo e o entendimento de como os órgãos e instituições públicas relacionadas ao tema em Santa Catarina, através dos diferentes agentes envolvidos definem suas ações, através da análise dos resultados da pesquisa desenvolvida, é altamente relevante para a posterior definição de um processo metodológico que possa servir de orientação para a tomada de decisão. A tomada de decisão, fato quotidiano presente nas ações desenvolvidas pelos gestores em níveis municipais, estaduais e nacionais quanto às iniciativas com influência na Preservação do Patrimônio (urbano e rural), faz com que estes se defrontem com situações normalmente conflitantes e difusas. A partir da revisão da literatura realizada, este é o primeiro estudo com análise dos elementos presentes na tomada de decisão pelos gestores envolvendo Paisagens Culturais, em âmbito brasileiro. Este tema, com o fenômeno da globalização, que transforma o território rapidamente, principalmente em relação aos seus aspectos paisagístico/culturais, é atual, tendo-se em conta que a busca pela Sustentabilidade de tais sistemas tem sido uma preocupação global. Na realidade brasileira, a Preservação do Patrimônio ainda não é devidamente considerada em nível de gestão do território, devido às diferentes perspectivas e interesses dos atores envolvidos em tal processo. A pesquisa pretende trazer contribuição para o entendimento dos principais critérios envolvidos nas decisões e um possível direcionamento para a solução de alguns dos problemas conflitantes, utilizando-se de um método científico ( MCDA-C ) e contribuindo para a busca de um modelo adequado à realidade catarinense e brasileira. Procura-se sustentar tal busca nos conceitos europeus de Governança Patrimonial (GRAVARI-BARBAS, 2003) e de Planejamento Estratégico aplicado à Gestão Territorial através da Tutela Ativa de Território Histórico (FERRIGNI, 2007), além dos princípios do Cadastro Técnico Multifinalitário (LOCH,1990).. 36.

(37) 1.4 - OBJETIVOS 1.4.1 – OBJETIVO GERAL O objetivo geral da pesquisa é: propor procedimentos de análise, adequado ao contexto escolhido como estudo de caso, que sejam capazes de oferecer suporte à decisão para a Gestão Territorial, visando à valorização de Paisagens Culturais. 1.4.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS Objetivo(s) Especifico(s) 1 - Verificar como os conceitos de Paisagem Cultural e de Mobilidade evoluíram ao longo do tempo, analisando a(s) área(s) de contato e a(s) lacuna(s) para a pesquisa a ser empreendida 2 - Investigar o contexto da Gestão de Paisagens Culturais em âmbito internacional. 3 - Investigar o contexto da Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural na área de estudo. 4 - Investigar a(s) possibilidades(s) de aplicação de princípios e procedimentos da TEORIA DE APOIO À DECISÃO, como subsídio para a Gestão de Paisagens Culturais na área de estudo.. Método(s). Resultado(s). Revisão Bibliográfica e Levantamento de informações em bases nacionais e internacionais. Elementos de discussão e análise de problemáticas relacionadas à gestão de um território considerado Paisagem Cultural bem como uma uniformidade conceitual apropriada à tese pretendida. Revisão Bibliográfica e Levantamento de informações em bases da UNESCO. Elementos de discussão e análise sobre os modelos de gestão adotados em paisagens culturais européias similares ao caso brasileiro escolhido (Vales de rios) Pressupostos que contribuam para a compreensão da área estudada como Paisagem Cultural. Entrevistas com responsáveis nos órgãos competentes Análise dos Planos Diretores da área estudada (Municípios de Pomerode e Jaraguá do Sul) Análise dos dados cadastrais obtidos nos órgãos públicos Entrevistas com responsável nos órgãos competentes (Superintendência do IPHAN SC) Aplicação de método multicritério de apoio à decisão para a avaliação de desempenho (MCDA-C). MODELO multicritério de apoio à decisão que evidencie demandas da Paisagem Cultural e que devam ser consideradas para a gestão territorial. Gerar oportunidade de aperfeiçoamento do instrumento aplicado.. 37.

(38) 5 - Investigar a(s) necessidade(s) e demanda(s) da população residente quanto aos temas relacionados à gestão da PC 6 - Explorar a(s) possibilidades(s) de análise e discussão dos resultados encontrados como subsídio para a Gestão de Paisagens Culturais.. Entrevistas com moradores da área de estudo sobre os critérios obtidos na etapa anterior. ELENCO de elementos que evidenciem a opinião dos moradores quanto aos temas e análise quantitativa. Análise e discussão textual cruzando os resultados obtidos.. Gerar critérios e diretrizes para a Gestão da Paisagem Cultural estudada que contribuam à construção de um CADASTRO TÉCNICO MULTIFINALITÁRIO. Quadro 1- Quadro Objetivos/Método/Resultados, com objetivos destacados Fonte: preparado pelo autor. 1.5 - DELIMITAÇÕES Este trabalho limita-se em buscar o entendimento dos problemas de gestão para a Preservação do Patrimônio de municípios pertencentes a algumas das antigas colônias do Estado de Santa Catarina (integrantes do projeto Roteiros Nacionais de Imigração do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Sendo a diretriz deste trabalho: a análise e a posterior proposição de critérios e diretrizes que possam contribuir para a Valorização deste Patrimônio, como Paisagem Cultural, pretende-se, aqui, tornar ainda mais claro e dinâmico o entendimento de suas delimitações, através de um esquema síntese, mostrado na figura 1.. Figura 1- Quadro resumo delimitativo da pesquisa Fonte: preparado pelo autor, 2013.. 38.

(39) 1.6 - ESTRUTURA DO TRABALHO A partir da problemática evidenciada, a tese, em nível de doutoramento, foi estruturada pelas seguintes definições: a) Temas: Gestão Territorial, Preservação do Patrimônio, Paisagem Cultural. b) Abordagem: As possibilidades de Gestão para a Valorização de Paisagens Culturais; c) Objeto/fenômeno real a ser trabalhado: Estudo da área entre Pomerode e Jaraguá do Sul, chancelada como Paisagem Cultural pelo IPHAN. No Capítulo 1 tem-se a Introdução, a delimitação do problema existente, como também a sua justificativa, o problema da pesquisa, os objetivos gerais e específicos e demais razões que levaram à escolha do tema. No Capítulo 2 apresenta-se, pela Revisão de Literatura, a fundamentação teórica para a estruturação da pesquisa realizada para dar sustentação ao tema, abordando o entendimento sobre Paisagem Cultural, suas tendências atuais, principalmente em âmbito europeu. No Capítulo 3 são analisados três Exemplos de Gestão em Paisagens Culturais UNESCO em âmbito internacional/europeu. No Capítulo 4 é abordado o universo de aplicação do trabalho, evidenciando as realidades dos dois municípios envolvidos. No Capítulo 5 são abordados os Materiais e Métodos conduzindo até os procedimentos metodológicos com as informações relativas ao desenvolvimento da pesquisa. No Capítulo 6 apresenta-se os resultados obtidos na pesquisa e feitas as correspondentes análises sobre o modelo MCDA-C desenvolvido e as entrevistas com residentes em um dos núcleos rurais estudados. Finalizando o trabalho, o Capítulo 7 traz a conclusão do estudo, assim como as recomendações para o direcionamento de futuras aplicações.. 39.

(40) CAPÍTULO 2. REFERENCIAL TEÓRICO O que herdaste de teus pais, conquista-o para fazê-lo teu. Goethe, Fausto, Primeira parte, versos 686-687. O entendimento de que a permanência e/ou persistência de artefatos e suas respectivas configurações tanto em ambiente urbano quanto rural podem evidenciar características culturais próprias da sociedade responsável por produzi-los não é novidade. O que pode ser considerado recente é o fenômeno de preservação desta permanência no âmbito do território e não mais apenas do monumento ou do centro histórico em meio urbano. Neste sentido é que surge o conceito de Paisagem Cultural e, de antemão, entende-se primordial, para o desenvolvimento desta pesquisa em nível de tese de doutoramento, a Mobilidade como elemento essencial para a gestão territorial que vise preservar e valorizar as paisagens. Para o estudo aqui proposto, faz-se necessário um enquadramento conceitual, trazendo a discussão em nível brasileiro, conforme apresentado no presente capítulo. 2.1 – ENQUADRAMENTO CONCEITUAL: PAISAGEM CULTURAL Denkmalpflege que significa "o cuidado dos monumentos, daquilo que nos faz pensar" é termo do idioma alemão utilizado para Preservação do Patrimônio. O termo Patrimônio derivado do latim patrimonium é empregado nas línguas românicas para se referir à "propriedade herdada do pai ou dos antepassados, uma herança". O idioma inglês adotou heritage, na origem, restrito "àquilo que foi ou pode ser herdado", mas que, pelo mesmo processo de generalização que afetou as línguas românicas e seu uso dos derivados de patrimonium, também passou a ser usado como uma referência aos monumentos herdados das gerações anteriores. Em todas estas expressões, há sempre uma referência à lembrança, moneo (em latim, “levar a pensar”, presente tanto em patrimonium como em monumentum), Denkmal (em alemão,. 40.

(41) denken significa “pensar”) e aos antepassados, implícitos na “herança”. O patrimônio cultural é sempre produto da seleção de alguns elementos, enquanto outros seriam passíveis de esquecimento, e consequente destruição. A necessidade de seleção implica em recorrer a valores que dificilmente entram em consenso, principalmente nas sociedades contemporâneas democráticas, marcadas por pautas culturais as mais diversas e fragmentárias. O conceito de patrimônio pode se relacionar a algo que para alguns seja motivo de orgulho, digno de preservação sendo que para outros possa representar motivo de vergonha e, portanto, seja merecedor de destruição. A grande fluidez do conceito forma uma espécie de etiqueta complexa e carregada de ressonâncias afetivas. O que há sob essa palavra? Há diversos significados que se misturam e para os quais deve se buscar um entendimento mais claro. Deve se distinguir, de início, duas intenções intrínsecas ao conceito. A primeira trata ou envia à noção de propriedade. O patrimônio é o conjunto de bens herdados de ascendentes. A segunda remete à noção de transmissão: o patrimônio estabelece realmente ou simbolicamente um elo entre as gerações passadas e as gerações presentes por mediação dos bens transmitidos. O patrimônio cultural é, por sua vez, um termo já consagrado, embora limitado, desde o início, pela sua associação aos bens tangíveis – proteção de grandes monumentos, sítios históricos, obras de arte. A evolução e a extensão do conceito resultam na sua visão contemporânea, através da qual é associado à construção social, reunindo indivíduos e grupos em torno de um sentimento identitário, de uma entidade coletiva, abstrata, mas visível por aqueles que aí se reconhecem2.. 2. A problemática da ampliação do conceito de patrimônio foi estudada pelo autor como parte da dissertação de mestrado “Novos usos para edificações de interesse histórico e cultural: lições da produção arquitetônica pelotense”, na qual são explicitados valores patrimoniais no âmbito da edificação e dos centros históricos, tendo como estudo de caso a cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul.. 41.

(42) O conceito, do modo como vem sendo empregado nas últimas décadas, também se relaciona fortemente com os lugares de memória, de Pierre Nora, que “denunciam a falta de memória do mundo contemporâneo e, por isso, desencadeia uma busca desenfreada pelas coleções, pelos tombamentos, e assim, por diante”. 3 A título de ilustração, a história do patrimônio na França nos ensina como se passou de um patrimônio monumental, com uma gestão de exceção a um patrimônio urbano levando em conta a dimensão da renovação e da reutilização, na perspectiva de gestão e do desenvolvimento local sustentável. O patrimônio não é apenas transmitido, mas também conservado, restaurado, reutilizado. Deste ponto de vista, ele se insere nas funções sociais da cidade e do espaço. Por um lado, ele se identifica a qualquer coisa de sagrado, por outro, ele é apenas instrumento de uma politica de desenvolvimento (urbano)? Mas nos dois casos, poderia ser dito que ele faz as coletividades tornarem-se conscientes que o patrimônio local é um recurso de desenvolvimento econômico e cultural que serve também de suporte à reinvenção de novas formas de sociabilidade intra comunais, intra departamentais, infra regionais e, além disso, à implementação de uma politica de envolvimento e de atratividade de turistas e visitantes. 4 (grifo nosso). Dentro da perspectiva aberta nas últimas décadas, pela ampliação do conceito de patrimônio, algumas ideias têm desempenhado um papel decisivo e inovador, como a de 3. NORA, Pierre. Entre Mémoire et Histoire – La problématique des lieux. In: Les lieux de Mémoire. 1. sous la direction de Pierre Nora. Paris: Éditions Quarto Gallimard. 1997. 4 MICOUD, André. Le bien commun des patrimoines. In: Patrimoine culturel, patrimoine naturel. Paris: La Documentation Française, 1995.. 42.

(43) “PAISAGEM CULTURAL” que, desenvolvida pela UNESCO desde o início dos anos 1990, combina os aspectos materiais e imateriais do conceito, muitas vezes pensados separadamente, indicando as interações significativas entre o homem e o ambiente natural. Com isso, esse conceito, quando aplicado também às ideias tradicionais do campo da preservação, pode servir para ampliá-la sobre os próprios centros históricos, permitindo leituras que compreendem justamente as interações entre os aspectos natural e cultural, material e imaterial desses conjuntos, muitas vezes ignoradas.5 Tal modalidade de patrimônio territorializado aparece como um novo dado da economia regional pelo desenvolvimento local, promoção de produtos artesanais, agrícolas e vitivinícolas, como mostrado na Figura 2, em que o patrimônio é produto e a marca do produto, na realidade italiana em que se dá a patrimonialização dos produtos de limão associados ao território onde são produzidos, em especial a Costa Amalfitana (Paisagem Cultural UNESCO).. Figura 2 – Possibilidade de exploração de produtos: Limoncello e a Costa Amalfitana, Itália. Fonte: autor, 2009.. Ele também pode ser considerado como um registro de reativação dos debates sobre identidade cultural, da democracia local e os conflitos de atores em torno dos problemas que o patrimônio revela, dentre os quais pretende-se evidenciar a Mobilidade. Outros problemas como as recentes polêmicas em 5. FOWLER, P. J., (edited by), World Heritage Cultural Landscapes 19922002, World Heritage Paper No. 6, UNESCO, World Heritage Centre, Paris 2003.. 43.

(44) torno da implantação de geradores eólicos próximo a monumentos em território francês, em especial o Monte Saint Michel, também são suscitados pela preservação do patrimônio, como mostra a Figura 3.. Figura 3 – Campanha contra a instalação de geradores eólicos na região do Mont St Michel, França. Fonte: http://www.epaw.org/. A origem conceitual do termo reside nos escritos de historiadores alemães e geógrafos franceses durante o meio/alto século XIX sendo o termo paisagem um dos conceitos-chave mais antigos da geografia de uso mais generalizado e, talvez, se coloque entre aqueles sobre cujo significado seja mais difícil de alcançar um consenso. Historicamente, a paisagem também esteve diretamente ligada às representações artísticas, especialmente as pinturas, como nos casos mostrados na Figura 4, em que a paisagem é motivo para a reflexão do Homem.. Figura 4 – “Os Três Filósofos” (Giorgione da Castelfranco, 1507-1508, Viena, Kunsthistorisches Museum, Renascimento) e “O Caminhante Sobre o Mar de Névoa” (Caspar David Friedrich, 1818, Hambourg Kunsthalle, Romantismo). Fonte: HEIDTMANN, 2010.. 44.

(45) A partir do séc. XV o seu conceito passou a ser percebido, cada vez mais como um mosaico formado por elementos naturais e não-naturais, passíveis de serem apreendidos pelos sentidos humanos e, já nos séc. XVI e XVII se encontrava destituída de todo o seu senso estético, passando a ser mais identificada com o conceito de natureza. É no séc. XIX que o estudo da paisagem ganha destaque, primeiramente, através de Alexander Von Humboldt, considerado o fundador da geografia moderna e que foi o pioneiro do estudo da natureza sob a ótica geográfica, enfatizando a idéia de paisagem, através de sua concepção holística, mas com um caráter naturalístico. A noção de Paisagem para além da natureza, integrando os elementos de ordem social com os elementos naturais, diferentemente da concepção humboldtiana, considerando que a totalidade da paisagem provém de uma combinação entre natureza e cultura, foi aparentemente inventada na academia no inicio do século XX. O termo e a ideia particular que ele encerra foram promovidos pelo professor Carl Sauer6 e a Berkeley School de geógrafos humanistas nos Estados Unidos durante as décadas de 1920 e 1930, levando em conta a morfologia da paisagem. Para tal autor, a paisagem cultural é modelada por um grupo cultural a partir de uma paisagem natural. Dessa maneira percebe-se a cultura como o agente, a área natural como o meio e a paisagem cultural como o resultado deste processo. Também contribui para o entendimento da paisagem cultural, a abordagem desenvolvida por Augustin Berque7 que se voltou mais à simbologia da paisagem.. 6. SAUER, C. O. A Morfologia da Paisagem. In: CORREA, L. R.; ROSENDAHL, Z. (Orgs.).Paisagem, Tempo e Cultura. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 1998. p.12. 7 BERQUE, Augustin. Paisagem-Marca, Paisagem-Matriz: Elementos da Probemática para uma Geografia Cultural. In: CORREA, Roberto Lobato e ROSENDAHL, Zeny. Paisagem,Tempo e Cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998. p.84.. 45.

(46) O termo só veio a ser aceito para uso profissional nos círculos de Conservação nos anos 1990 e, embora seu uso seja atualmente mais consagrado, por exemplo, pelos políticos, ainda pode ser considerado um termo incomum para um conceito opaco (Fowler 2001). O Comitê do Patrimônio Mundial ( The World Heritage Committee ) foi o pioneiro durante os anos 90 a aplicar de uma maneira prática um conceito tão intelectual dentro do modelo de sua própria missão global. Segundo documento da UNESCO8, ao continuar a fazê-lo e é importante que se faça – também é importante que se mantenha em contato com o meio acadêmico, do qual a entidade tomou emprestado o conceito, informando a academia de sua experiência durante o processo e estando alerta para a investigação que leva a mudanças na ideia de paisagem cultural em si. De periférica, a paisagem tornou-se central, indispensável não só na filosofia e na geografia, como também no centro de teorias sociológicas, antropológicas9 ou arqueológicas. De acordo com SANTIAGO10, o termo paisagem passa a agregar uma noção científica com a consolidação e o avanço dos estudos naturais (biologia, geologia, hidrologia), passando gradativamente a ser relacionado com o ambiente como um todo, em visões que incorporam, ora de modo parcial, ora interrelacionando-os, conceitos de disciplinas sociais (ecologia, geografia, sociologia, antropologia, arquitetura e urbanismo). Esta ascensão recente da paisagem é um fenômeno internacional, que perpassa as fronteiras linguísticas e disciplinárias tradicionais, sendo importante mencionar um pouco da relação da palavra Paisagem, em termos linguísticos, visto que seu uso se acompanha invariavelmente de adjetivos típicos. 8. FOWLER, P. J., (edited by), World Heritage Cultural Landscapes 19922002, World Heritage Paper No. 6, UNESCO, World Heritage Centre, Paris 2003. 9 Como as obras de Marc Augé, cada vez mais interessadas pela paisagem ( Non-Lieux, Paris, 1992 ; L’impossible voyage, Paris 1997 ; Les temps en ruines, Paris, 2003 ) 10 SANTIAGO, Alina G. Environnement, tourisme et aménagement: l’impératif d’une conciliation. L’Ile de Santa Catarina (Brésil). Tese de doutorado. Université de Paris I Panthéon - Sorbonne, Paris. 1995.. 46.

(47) O falar paisagem de todos os dias nunca é neutro e se inscreve em um sistema linguístico específico, a princípio, nacional, em seguida regional e individual. Segundo Jakob11, tal sistema linguístico também pode ser observado nas associações semânticas tipicamente alemãs como o conceito impossível de traduzir Stimmung (mais que atmosfera) ou o de Sehnsucht (mais que nostalgia) mas também os termos próximos do irracional como Gemüt (ânimo), Herz (coração) ou Seele (alma). As categorias ideológicas como Heimat (algo próximo a pátria) ou Tradition também influenciam a percepção da paisagem. Podes-se dizer que a mídia utiliza-se de algumas destas palavras para conectar significados às suas intenções, como nos exemplos alemães mostrados na Figura 5. O primeiro é a Campanha Stuttgart Das Neue Herz Europas, divulgando a remodelação da estação férrea Central da cidade de Stuttgart e o segundo é Heimat como título de uma consagrada mini-série alemã que representa a vida cotidiana dos habitantes de um pequeno vilarejo chamado Schabbach, na Renânia, desde o fim da primeira guerra mundial até a queda do muro de Berlim.. Figura 5 – Campanha Stuttgart Das Neue Herz Europas e Heimat como título de uma consagrada mini-série alemã. Fonte: HEIDTMANN, 2010. 11. JAKOB, Michael, Le paysage, Infolio éditions, Gollion, 2008.. 47.

(48) Em obra12 que analisa a fundo vários aspectos sobre a forma característica como tal palavra é empregada no cotidiano, Gerhard Hard sustenta: Die (wahre) Landschaft“ – so das Ergebnis von Hard – „ist weit und harmonisch, still, farbig, groß, mannigfaltig und schön. Sie ist ein primär ästhetisches Phänomen, dem Auge näher als dem Verstand, dem Herzen, der Seele, dem Gemüt und seinen Stimmungen verwandter als dem Geist und dem Intellekt, dem weiblichen Prinzip näher als dem männlichen. Die wahre Landschaft ist etwas Gewachsenes, Organisches, Lebendiges. Sie ist uns eher vertraut als fremd und dennoch eher fern als nah, eher Sehnsucht als Gegenwart und Sie hebt uns uber den Alltag hinaus und grenzt an die Poesie. Aber so sehr sie uns auch ins Unbegrenzte, ja ins Unendliche weist, so bietet die mütterliche Landschaft dem Menschen doch auch immer Heimat, Wärme und Geborgenheit: Sie ist ein Hort der Vergangenheit, der Geschichte, der Kultur und der Tradition, des Friedens und der Freiheit, des Glücks und der Liebe, der Ruhe auf dem Lande, der Einsamkeit und der Erholung von der Hast des Alltags und dem Lärm der Städte; sie muß erwandert und erlebt werden, versagt aber ihr Geheimnis dem Tourismus und dem bloßen Intellekt. 13 12. HARD, Gerhard. Die 'Landschaft' der Sprache und die 'Landschaft' der Geographen, (A paisagem na língua e a paisagem dos geógrafos. Estudos semânticos e epistemológicos ) 1970, 278 p.( Colloquium Geographicum, vol. 11 ) Bonn. 13 A (verdadeira) paisagem é entendida e harmoniosa, tranquila, colorida, grande, variada e bela. É um fenômeno principalmente estético, mais próximo do olho do que da razão, mais aparente ao coração, à alma, à sensibilidade às suas disposições que ao espírito e ao intelecto, mais perto do princípio feminino que ao princípio masculino. A verdadeira paisagem é resultado de um devenir, qualquer coisa de orgânico e vivo. É-nos mais familiar que estranha, mas mais. 48.

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