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Vista do Educomunicação: um mapeamento do ensino superior de Publicidade e Propaganda | Acta Científica

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do Ensino supErior dE

publicidadE E propaganda

allan macedo de novaes1, lizbeth ojeda de novaes2

resumo: Este trabalho tem como objetivo discursar sobre a importância do estudo do

campo da comunicação/educação no ensino superior de publicidade e propaganda. Será apresentado um mapeamento realizado nas grades curriculares e ementas dos dez cursos de Publicidade e Propaganda mais bem avaliados pelo Conceito Preliminar de Curso (CPC) no Estado de São Paulo para identificar a abordagem do campo da comunicação/educa-ção e como ele se configura.

palavras-chave: Comunicação; Educação; Educomunicação; Publicidade e Propaganda

Educommunication: a mapping of higher education of advertising

abstract: This paper aims to address the importance of studying the field of

communica-tion/education in higher education of advertising. We will present a mapping done in the curriculum of the best ten publicity and advertising courses according to the Conceito Preliminar de Curso (CPC) in the State of São Paulo to identify the approach to the field of communication/education and how it is configured.

Keyword: Communication; Education; Educommunication; Advertising

A partir da revolução tecnológica, os meios de comunicação se tornaram, progressivamente, acessíveis às massas. Este fenômeno se consolidou no século XXI e, hoje, a mídia faz parte das nossas vidas como nunca antes — a comunicação perpassa todos os espaços sociais de tal forma que a sociedade ficou irreversivel-mente imersa na era da informação.

A sociedade contemporânea se considera a mais livre de todas as épocas, contudo o principal uso que demos à nossa liberdade é passar o tempo, inclusive o tempo livre, com meios de comunicação. A imensidade da experiência das mídias, a quantidade absurda de atenção dispensada, as devoções e rituais que absorvem nosso tempo e nossos recursos nos fazem perceber que, hoje, conviver com as mídias é uma das principais coisas que a maior parte dos seres humanos fazem (GITLIN, 2003, p. 13 e 14).

Nesta configuração, os meios de comunicação são reconhecidos como um lu-gar do saber, pois nele circulam signos editados que são ressemantizados pelo

enun-1 Doutorando em Ciências da Religião na PUC-SP. Professor do curso de Comunicação Social do Centro

Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). E-mail: allan.novaes@unasp.edu.br

2 Pós-graduanda lato sensu em Docência Universitária e bacharel em Publicidade e Propaganda pelo Centro

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ciatário no momento de apropriação. O signo emitido pelo enunciador não é monos-sêmico, ele é reconstruído, legitimado ou deslegitimado pelo enunciatário, que neste processo ganha dupla função, tornando-se enunciatário/enunciador (BACCEGA, 2004, p. 390). Através desta perspectiva, a comunicação é dotada de poder legitima-dor do discurso das tradicionais agências de socialização, escola e família, tornando-se uma nova agência de socialização. Estas instituições debatem entre si pela hegemonia na construção da cidadania (BACCEGA, 2009, p. 1).

Educadores, com a motivação de formar cidadãos críticos, participativos e inse-ridos no meio social, identificaram que o “paradigma da educação no seu estatuto de mobilização, divulgação e sistematização de conhecimento implica acolher o espaço inter-discursivo e mediático da comunicação como produção e veiculação da cultura, fundando um novo locus: o da inter-relação comunicação/educação’’ (SCHAUN, 2002, p. 79).

comunicação/educação: surgimento de um novo campo

De um lado, a comunicação é estudada sob o viés dos estudos de recepção e dos estudos culturais, e do outro lado, a educação é entendida de acordo com a pedagogia crítica, tendo base em pensadores e educadores como Paulo Freire.

Pensando a educação a partir da comunicação, são apontadas duas dimensões da inter-relação comunicação/educação: 1) o que significam e quais desafios apresentam à edu-cação as mudanças na comuniedu-cação?; 2) que tipo de eduedu-cação cabe no cenário dos meios de comunicação? A primeira dimensão fala de superar radicalmente a concepção apenas instru-mental dos meios e das tecnologias de comunicação, e passar a entendê-los como um novo sensorium, quer dizer, como descentralizadores da transmissão e da circulação de conheci-mento, constituintes de um ambiente de socialização, de projeção de pautas de comporta-mento, de estilos de vida e de padrões de gostos. Somente assim a escola poderá inserir-se nos processos de mudança que a sociedade atravessa. A segunda dimensão trata os meios de comunicação como ferramentas pedagógicas com caraterísticas próprias do meio, que ultrapassam os limites curriculares, potencializando ao máximo as formas de interatividade, educação cidadã e expressão da comunidade (MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 18-20).

Pensando a comunicação a partir da educação, a inter-relação comunicação/edu-cação considera-se um campo de intervenção social por levar o sujeito a ter consciência do processo de construção do mundo no qual vive, do papel da comunicação nesse processo e, sobretudo, ter conhecimento da sua participação e o seu potencial para contribuir à hegemonia ou à emancipação.

Buscando uma constante reflexão da realidade pode-se definir que a inter-relação em questão dá origem a um novo campo denominado educomunicação. Este campo atua no ensino não-formal, nas empresas, nos meios de comunicação, nos movimentos populares, nas organi-zações não-governamentais e principalmente na educação formal (cursos fundamental, médio e superior) (SCHAUN 2002, p. 82). A educomunicação é um conjunto de ações que permitem que educadores e estudantes desenvolvam um novo gerenciamento, aberto e rico, dos processos co-municativos dentro do espaço educacional e de seu relacionamento com a sociedade (SOARES, 2002, p. 264). As áreas de intervenção social, típicas das práticas educomunicativas são:

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DOSSIÊ

a) A área da educação para a comunicação, trata-se de integrar às práticas educativas

o estudo sistemático dos sistemas de comunicação (relação entre os produtores, o processo produtivo e a recepção das mensagens). b) A área da mediação tecnológica na educação, compreendendo o estudo das transformações trazidas ao cotidiano da vida social pelas tecnologias da informação e por seu uso nos processos educativos. c) A área da gestão da comunicação no espaço educativo, voltada para o planejamento, execução e realização dos processos e procedimentos que se articulam no âmbito da Comunicação/Cultura/Educação, criando ecossistemas comunicativos. d) A área da

reflexão epistemológica sobre a inter-relação Comunicação/Educação, é a reflexão

acadêmica, metodologicamente conduzida, que vem garantindo unicidade às práticas da Educomunicação, permitindo que o campo seja reconhecido, evolua e se legitime. Cada uma dessas áreas tem sido tradicionalmente assumida como espaço vinculado ao domínio, quer da educação quer da comunicação Entendemos, por outro lado, que as quatro áreas não são excludentes, nem são as únicas. Representam, apenas, um esforço de síntese, uma vez que parecem aglutinar as várias ações possíveis no espaço da inter-relação em estudo (SOARES, 2011, p. 22-23).

Dentre as ações citadas, a área da educação para a comunicação, com ênfase no estudo da construção de sentidos sociais que se dá no encontro produtos midiáticos/ receptores, se destaca por providenciar conhecimentos ao sujeito que o capacitem para se tornar um cidadão participativo e deixar de ser um mero espectador.

Entende-se que a educação, em todos os níveis de ensino, não deve ser uma relação entre um polo emissor que detêm e transmite o saber, e um polo receptor, convocado uni-camente a captar a mensagem pedagógica e a reproduzi-la da maneira mais fiel possível. A educação deve capacitar o aluno a desenvolver conhecimentos, habilidades e práticas que o levem a ler a história de modo que seja encorajado a descobrir sua identidade, com o interesse de construir formas de vida que sejam mais democráticas e mais justas.

A comunicação perpassa a malha social contemporânea e ela mesma é a porta-voz das agências de socialização. Dessa forma, a leitura crítica dos meios torna-se uma condição prévia para a leitura do mundo, permitindo que o sujeito possa desconstruir a realidade e tomar partido consciente para manter o status quo ou mudá-lo, defendendo entre outros princípios, a democracia, a livre expressão do pensamento e o exercício total da cidadania. Este é um desafio que convida a todos os cidadãos, mas convoca em tom de urgência aos educadores e comunicadores, pois o campo da comunicação/educação se atomiza neles.

a educomunicação no ensino de publicidade e propaganda

Segundo Baccega (2009, p. 6), a institucionalização adequada dos estudos de mídia na sua conjugação com a educação é um dos principais desafios que a educomunicação enfrenta. O seu estudo deve ser contemplado na formação de comunicadores (publici-tários, no caso do presente estudo), principalmente no ensino superior, pois é ali onde se prevê uma formação crítica e não só técnica. Para reforçar este argumento, a seguir são listadas algumas das recomendações para a formação de comunicadores dadas pelos participantes do I Fórum Nacional sobre Mídia e Educação promovido em São Paulo,

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em novembro de 1999, pelo Ministério da Educação, a Unesco, o Instituto Ayrton Senna e a Agência Nacional de Direitos da Infância, com participação de jornalistas e editores especialmente convidados, representando os mais importantes veículos de informação:

Flexibilizar os currículos de comunicação, inserindo conhecimentos e práticas da área educacional para que o profissional de comunicação tenha possibilidade de ampliar sua atuação como “educomunicador” (o novo profissional, que atua ao mesmo tempo no campo da Educação e da Comunicação, motivado pela formação de cidadãos críticos, participativos e inseridos em seu meio social). Enfatizar disciplinas e conteúdos humanistas, como ética, cidadania, direitos humanos, política, economia, questões ambientais, tecnológicas e de outros temas sociais, como saúde e assistência social (RELATÓRIO, 2000, p. 31).

Na constituição atual da sociedade, se faz necessário promover espaço para a re-flexão teórica sobre a atuação profissional do comunicador, incentivando-o a tomar uma posição crítica a favor da ética, da igualdade e da emancipação, capacitando-o a exercer sua profissão com responsabilidade e consciência.

Segundo Baccega (2007, p. 5) o publicitário é um comunicador, sujeito que assume o discurso da comunicação, com a sua natureza de redesenho dos valores sociais em circulação. Como enunciador dos discursos sociais, mas com fins mercadológicos, tem que reelaborá--los com sensibilidade, visando a divulgação de um produto, de um serviço, uma ideia ou um comportamento, considerando o universo social de seus enunciatários. Sendo seu discurso inteligível, despertará no enunciatário articulações positivas no percurso da interpretação. O publicitário ajuda a construir a edição do mundo, dando destaque a determinados produtos ou serviços, desempenhando papel importante no imaginário social. Com tal configuração, o conceito de publicidade, sua leitura e interpretação e a ressemantização permanente que ela promove tornam-se indispensáveis ao campo da comunicação/educação.

A atividade publicitária tem se convertido numa forma de linguagem que não só comunica informação, mas também é utilizada pelos públicos receptores como suporte para a expressão e legitimação de sua conduta diária (BENAVIDES, 1995, p. 44).

Como mencionado anteriormente, a educomunicação tem várias áreas de interven-ção e desenvolve no indivíduo uma visão crítica através do estudo teórico-prático da relainterven-ção entre os meios e a sociedade. Porém, quando estudada na graduação de Comunicação, o campo em estudo deveria ter ênfase na reflexão teórica, uma vez que devido à natureza mer-cadológica do curso, as matérias técnicas que desenvolvem no aluno habilidades para o uso das tecnologias já são consagradas e previstas com amplo espaço nas grades curriculares.

mapeamento do ensino superior de publicidade e propaganda

A fim de identificar a presença e a configuração da educomunicação no ensi-no superior da Publicidade e Propaganda, será realizado um mapeamento colhendo como amostra os dez cursos do estado de São Paulo mais bem avaliados pelo último Conceito Preliminar de Curso (CPC).

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a escolha do indicador

Para selecionar a amostra das instituições foi escolhido o CPC em detrimento de outros indicadores porque ele é composto por diferentes variáveis que traduzem resul-tados da avaliação de desempenho de estudantes, infraestrutura, instalações, recursos didático-pedagógicos e corpo docente. As variáveis utilizadas em sua composição foram retiradas do desempenho obtido pelos estudantes concluintes e ingressantes no Ena-de, incluindo o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD), o questionário socioeconômico e do Cadastro de Docentes.

O Conceito Preliminar de Curso (CPC) vai de 1 a 5 e, como o próprio nome diz, é um indicador prévio da situação dos cursos de graduação no país. Para que os valores se consolidem e representem efetivamente o que se espera de um curso em termos de quali-dade e excelência, comissões de avaliadores farão visitas in loco para corroborar ou alterar o conceito obtido preliminarmente3.

as instituições

No relatório decomposto do CPC de 2009 constam 375 cursos de Publicidade e Propaganda em instituições públicas e privadas no Brasil, dentre os quais 108 cursos encon-tram-se no Estado de São Paulo.

Com a intenção de colher uma amostra para esta pesquisa foram identificados os dez cursos mais bem avaliados. Nove deles pertencem à rede particular e um à rede pú-blica, dois estão na capital do Estado e os oito restantes estão localizados em cidades do interior, conforme mostra a tabela 1.

Tabela 1 — Top 10

Ranking instituiçãodeensino sigla oRganização Rede Município

1º Faculdade anhangueRade JacaReí Faculdade pRivada JacaReí

2º univeRsidadede soRocaba uniso centRo univeRsitáRio pRivada soRocaba

3º centRo univeRsitáRio adventistade são paulo unasp centRo univeRsitáRio pRivada eng.

coelho

4º Faculdade anhagueRade taubaté Faculdade pRivada taubaté

5º institutos Municipalde ensino

upeRioRde catanduva

iMes

catanduva Faculdade pública catanduva

6º Faculdadede ciências econôMicas FacaMp Faculdade pRivada caMpinas

7º pontiFícia univeRsidade católicade são paulo pucsp univeRsidade pRivada são paulo

8º centRo univeRsitáRio Fecap Fecap centRo univeRsitáRio pRivada são paulo

9º centRo univeRsitáRio centRal paulista unicep centRo univeRsitáRio pRivada são caRlos

10º Faculdades integRadasde Jaú FiJ Faculdade pRivada Jaú

3 Estas e mais informações detalhadas sobre a composição do CPC podem se encontradas na nota técnica do

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Foi feito contato com o coordenador de cada curso convidando a instituição

a participar desta pesquisa. Ao aceitar o convite, a instituição deveria,

indispensa-velmente, disponibilizar o Projeto Pedagógico do Curso (PPC), pois através deste

documento seriam adquiridos os dados necessários para o desenvolvimento da

análise. Cinco das dez instituições convidadas

não puderam participar pelos seguintes motivos: no caso da Faculdade Anhanguera de Jacareí, da Faculdade Anhanguera de Taubaté e do Centro Universitário FECAP, a diretoria não autorizou o envio do PPC para esta iniciativa;

o PPC da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo não pôde

ser disponibilizado no momento em que foi requerido, pois estava em processo

de atualização; a Faculdade de Ciências Econômicas unicamente disponibilizaria

o PPC após reunião presencial para constatar a seriedade e a boa intenção da

pes-quisa, mas a reunião não pôde ser concretizada em prazo hábil.

Embora a amostragem deste trabalho tenha recaído para cinco instituições,

acredita-se que é um número representativo, levando em consideração que os

cur-sos contemplados estão dentre os dez mais bem conceituados pelo governo e que

esta pesquisa objetiva apenas trazer um vislumbre acerca do ensino da

educomu-nicação no estado e instigar discussões sobre este assunto.

As instituições que participaram desta análise se encontram na tabela 2. Das

cinco instituições pesquisadas, quatro pertencem à rede particular e uma pertence

à rede pública. Todas estão localizadas no interior de São Paulo. Apenas uma das

instituições é universidade, duas são centros universitários e duas faculdades.

Tabela 2 — Instituições pesquisadas

Ranking instituiçãodeensino sigla oRganização Rede Município

2º univeRsidadede soRocaba uniso centRo univeRsitáRio pRivada soRocaba

3º centRo univeRsitáRio adventistade são paulo unasp centRo univeRsitáRio pRivada eng.

coelho

5º institutos Municipalde ensino

upeRioRde catanduva

iMes

catanduva Faculdade pRivada catanduva

9º centRo univeRsitáRio centRal paulista unicep centRo univeRsitáRio pRivada são caRlos

10º Faculdades integRadasde Jaú FiJ Faculdade pRivada Jaú

as disciplinas

Sob uma perspectiva pedagógica, pode-se dividir o curso de Publicidade e Propagan-da em duas dimensões que se relacionam entre si. A primeira dimensão é a mercadológica, na qual o aluno recebe do curso, em geral, capacidades instrumentais, habilidades e saberes que o qualificam a exercer a profissão de publicitário segundo as demandas do mercado. Em geral, as disciplinas que enfatizam esta dimensão são as de cunho predominantemente téc-nico e prático. A segunda dimensão é a crítica-reflexiva, na qual o curso oferece aos alunos,

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DOSSIÊ

majoritariamente, saberes e competências que permitem a eles refletir sobre o papel do pu-blicitário, analisar e questionar a legitimidade ética e deontológica das demandas do mercado e desenvolver a capacidade de refletir sobre o impacto do exercício da publicidade na so-ciedade. Nesta dimensão, predominam as matérias majoritariamente teórico-humanísticas.

Com base nas ementas e nas bibliografias, as disciplinas foram categorizadas em 1) plena, 2) semiplena, 3) tangencial e 4) outros conteúdos — independentemente se elas têm dimensão mercadológica ou crítica-reflexiva. Tal categorização é utilizada apenas para efeito de análise neste trabalho.

• Plena: a disciplina existe exclusivamente para o estudo da educomunicação, poden-do inclusive intitular-se educomunicação, educação para a mídia ou semelhantes. • Semiplena: a disciplina oferece espaço para o estudo teórico-reflexivo de

as-suntos contemplados pela educomunicação, mas esse espaço não é majoritá-rio e é integrado a outro tema principal.

• Tangencial: são as disciplinas, na maioria de cunho humanístico, que desen-volvem no aluno uma visão crítica de si mesmo, de sua profissão e do mundo. Mas não há nelas espaço concreto para o estudo da educomunicação. • Outros conteúdos: são todas as disciplinas que não se encaixam nas categorias

anteriores e que, portanto, não têm utilidade imediata na presente pesquisa. Serão escolhidas as disciplinas plenas e semiplenas para mais análises por serem aque-las que trabalham com conteúdos relacionados ao campo da educomunicação. Observamos, assim, que foram analisadas 257 disciplinas, dentre as quais 179 têm dimensão mercadoló-gica, representando 70%, em contraste com as 78 disciplinas de natureza crítica-reflexiva, que representam apenas 30% do total das disciplinas analisadas. Com base nesses dados, contata-se que nos cursos pesquisados há predominância de disciplinas mercadológicas.

Dentre as 179 disciplinas mercadológicas de todos os cursos envolvidos, duas se relacionam de forma tangencial com a educomunicação, e nenhuma de forma semiple-na ou plesemiple-na. Isto nos permite perceber que mesmo em matérias de cunho técnico pode haver espaço para a reflexão.

Todas as disciplinas que se relacionam de forma semiplena e plena com a educomuni-cação são de natureza crítica-reflexiva, e assim mesmo, 97% das disciplinas que se relacionam de forma tangencial. Por tanto, a Educomunicação, dentro da perspectiva abordada neste tra-balho, está majoritariamente presente nas matérias denominadas crítica-reflexivas.

A seguir vamos analisar o Gráfico 1. A maior porcentagem das 257 disciplinas analisadas, independentemente de serem mercadológicas ou critico-reflexivas, se refere a conteúdos não relacionados à educomunicação, representando 77%, algumas destas disciplinas são mídia, planejamento, produção textual e criação. Na sequência, vêm as dis-ciplinas tangenciais, como Teorias da Comunicação, Sociologia da Comunicação, e Ética e Legislação em Publicidade, que representam 18%. Seguidamente, estão as disciplinas semiplenas com 5% de participação no total, algumas delas são Propaganda e Ideologias, Comunicação e Poder e Semiótica Visual. Em último lugar se encontra a categoria plena, com apenas uma disciplina, que representa 0,4% do total das disciplinas pesquisadas.

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Gráfico 1 — Educomunicação nas matrizes curriculares

Disciplinas plenas Disciplinas semiplenas Disciplinas tangenciais Outros conteúdos 77% 18% 5% 0,4%

Disciplinas plenas: o Unasp, pertencente à rede privada e localizado em Engenhei-ro Coelho, é a única instituição que apresenta na sua matriz curricular uma disciplina inte-gralmente voltada ao estudo da educomunicação, cuja nomenclatura adotada é Educação para a Mídia. Esta disciplina é lecionada no oitavo semestre, sob o pressuposto de que com a maturidade do aluno, se pode inferir que o conteúdo é melhor assimilado.

Disciplinas semiplenas: de todas as disciplinas pesquisadas, 13 se relacionam de forma semiplenas com a educomunicação. Estas abordam assuntos como: a inter-relação entre propaganda e agentes de socialização; o mundo editado; o publicitário como agente cultural; estudo do processo de significação da mensagem visual e o papel dos meios de comunicação de massas na formação da subjetividade. Percebemos que a maioria destas matérias são lecionadas entre o 2º e o 3º ano.

Tabela 3 — Disciplinas plenas e semiplenas

plena

ano MatéRia

4º educaçãopaRaaMídia

seMiplena ano MatéRia 1º publicidadeepoRpaganda: categoRiaseconceitos 1º pRopagandae ideologias 1º históRiacontenpoRânea 2º sociologiadacoMunicação

2º teoRiadacoMunicação iii

2º históRiadacoMunicação i 2º hitóRiadacoMunicação ii 2º seMióticavisual 3º coMunicaçãoepodeR 3º políticainteRnacional 3º coMunicaçãocoMpaRada 3º sociologiadacoMunicação 4º éticaeMpublicidade epRopaganda

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DOSSIÊ

considerações finais

Ao se pensar que a nossa sociedade vive por, para e pelas mídias, se faz necessário o surgimento de um campo de estudo que alfabetize o indivíduo midiaticamente. Para aten-der esta demanda, surge a educomunicação, que é um conjunto de ações que permitem que os sujeitos, indispensavelmente educadores e comunicadores, desenvolvam consciên-cia dos meios de comunicação enquanto modificadores da conduta humana.

Esta pesquisa se propôs realizar um mapeamento para vislumbrar como anda o estudo de educomunicação no ensino superior de publicidade e propaganda. De acordo com a classificação realizada para efeito desta pesquisa, contatamos que há uma carência no estudo da educomunicação de forma plena, pois somente uma das cinco instituições pesquisadas apresenta esta disciplina na sua matriz curricular.

Em todas as instituições encontramos matérias que abordam a educomunicação de forma semiplena, ou seja, assuntos estudados nesse campo são vistos perifericamente a um conteúdo principal. No entanto, a porcentagem é pequena, trata-se apenas de 5%: 13 em 257 disciplinas pesquisadas.

O reduzido estudo de assuntos como teoria da enunciação, estudos de recepção, as transformações e o papel da publicidade na sociedade contemporânea, o processo de significação da mensagem, entre outros, tornam a formação do comunicador deficiente. A ênfase no ensino de disciplinas mercadológicas em detrimento das disciplinas de cunho crítico-reflexivo impossibilita o profissional de se posicionar criticamente sobre os dilemas sociais da sua profissão. Pode-se inferir que a maioria dos alunos chega à formatura de nível superior aptos meramente a reproduzir os processos e técnicas comunicacionais, objetivos igualmente atingidos pelo ensino de nível técnico.

Percebe-se uma defasagem no reconhecimento da importância deste campo e na in-clusão dele no sistema educativo quando comparamos o resultado desta pesquisa à literatura que fala sobre o ensino de Educomunicação em países como Canadá, África do Sul, Austrália e Grã-Bretanha (FEILITZEN; CARLSSON, 2002, p. 159-250). Neste último, as primeiras iniciativas de educação para a mídia nas escolas datam da década de 30 e se expandiram signifi-cativamente nos currículos na década de 70 (BUCKINGHAM, 2002, p. 251 e 252).

No Brasil, cabe destacar os esforços do Departamento de Comunicações e Artes da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (CCA-ECA/USP), que desde 1989 pioneiramente iniciava sua trajetória de pesquisas, publicações, ensino e extensão cultural na interface entre comunicação e educação4. Desde então, com intenso e ininterrupto trabalho

vem promovendo parcerias, investigações, cursos, eventos e, talvez ,como um dos seus principais logros, em fevereiro de 2011, o CCA deu início ao curso de licenciatura em educomunicação.

Pesquisas posteriores podem executar um mapeamento mais completo dos cursos de Publicidade e Propaganda no Brasil a fim de identificar se a presença inexpressiva do estudo da Educomunicação, apontada na amostra deste trabalho, também retrata a realidade do ensino de publicidade de todo o país. Além disso, faz-se necessário também identificar as causas e os por-4 Mais detalhes da trajetória da USP a favor da Educomunicação podem ser lidos em Soares (2007, p. 7-12).

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quês da não inserção desse campo de estudo nas grades curriculares dos cursos, o que pode ser feito por meio de entrevistas com professores, coordenadores de curso e diretores de faculdade.

referências bibliográficas

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