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Vista do A importância do limite nas relações sociais e a aprendizagem na educação infantil do aluno com um possível diagnóstico de hiperatividade | Acta Científica. Ciências Humanas

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ZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL DO ALUNO COM UM POSSÍVEL

DIAGNÓSTICO DE HIPERATIVIDADE

Daiana Natália Lourenção

1

Eliane Ester Stegmiller Paroschi

2

Vandeni Clarice Kunz

3 Resumo: No presente estudo, busca-se uma reflexão teórica a respeito da

in-disciplina dos alunos na escola, pois muitos desses casos são diagnosticados como hiperatividade. Delimitou-se a problemática para a educação das séries iniciais, por ser atualmente o campo de atuação com maior incidência de ca-sos. O foco central é mostrar como a indisciplina pode ser confundida com a hiperatividade, trazendo consequências no processo de ensino aprendizagem do aluno, bem como na atuação do professor em sala de aula. Para fundamen-tar as ideias expostas nesse trabalho, contou-se com a teorização de autores como La Taille e Vinha. O estudo defendeu também o fator moral como nor-teador no problema da indisciplina, assim, é necessário que o educador tenha claro que o ideal é a construção da boa conduta baseada no respeito às regras e normas, buscando o desenvolvimento de uma moral autônoma, construída

1 Pos-graduada em Educação Especial/ Inclusão Social pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo. Bacharel

em pedagogia pelo Centro Regional Universitário de Espirito Santo do Pinhal. E-mail: daiana.lourencao@ig.com.br.

2 Mestra em Educacional e Desenvolvimento Psicologico pela Andrews University, A.U., Estados Unidos. Bacharel em

pedagogia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo. E-mail: eliane.paroschi@ucb.org.br.

3 Doutorado em Fisioterapia pela Universidade Federal de São Carlos. Mestra em Fisioterapia pela Universidade

Meto-dista de Piracicaba. Pós-graduada em Fisioterapia Dermato Funcional pelo Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino. Bacharel em Fisioterapia pela Universidade Paranaense. E-mail: vandeni.kunz@ucb.org.br.

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com base na cooperação e solidariedade dentro do ambiente familiar e escolar. O trabalho foi dividido em dois capítulos: no primeiro procuramos interagir com as opiniões de La Taille e Telma Vinha, pois as ideias desses autores vêm ao encontro do objetivo desse trabalho, que é o de levar o leitor a uma reflexão sobre a importância do desenvolvimento da moral, principalmente no am-biente familiar, onde acredita-se ser a base da educação. No segundo capítulo descreveremos o estudo de caso realizado com um aluno da educação infantil da rede municipal, rotulado como uma criança hiperativa. Nas considerações finais foram relatadas a importância de o professor manter uma postura inves-tigativa quanto ao trabalho pedagógico, além de trabalhar com questões sobre disciplina, valores éticos e morais na construção da cidadania.

Palavras-chave: Limite; Indisciplina; Hiperatividade.

Abstract: In this study, we bring about a theoretical reflection about the

indiscipli-ne of pupils at school, because many cases of indiscipliindiscipli-ne are diagnosed as hypera-tivity. The issue was delimited to initial series, with more number of currently the field. The central focus would show how indiscipline can be misanderstood for hyperactivity process, thus bringing many consequences in the teaching-learning pupil’s learning, as well as on the role of the teacher in the classroom. To substan-tiate the ideas exposed in this work we counted with the authors La Taille, Vinha and others. This study considers also the moral factor in the problem of indis-cipline, thus it is necessary that the educator has the ideal is the construction of discipline based on respect for the rules, standards, seeking the development of an autonomous morality of the child, based on cooperation and solidarity within the family environment and also in the school environment. The work was divided into two parts: the first part we interact with the opinions de La Taille and Telma Vinha, because the ideas of these authors meets the objective of this work that is leading the reader to think about the importance of moral development, mainly in the family environment, where it is believed to be the base of education. In the second part we will describe the case study with a student of early childhood edu-cation from the municipal network that was labeled as a hyperactive child. And in closing remarks sought to report the importance of the teacher to keep a posture as for the pedagogical work research as well, working with questions about disci-pline, ethical and moral values in the construction of citizenship.

Keywords: Limit; Indiscipline; hyperactivity.

No cotidiano escolar, nas reuniões de professores e, através de reclamações dos pais, muito se tem falado a respeito de alunos com características e sintomas de hiperatividade:

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agitação demasiada, comportamento impulsivo e até agressivo. Essas características fazem com que crianças sejam julgadas como portadoras de problemas patológicos.

A falta de informações e o despreparo de muitos profissionais da área de educação acabam contribuindo e dificultando o processo de ensino-aprendizagem e as relações sociais dentro e fora do ambiente escolar. Diante dessas questões, o trabalho do docente fica cada vez mais difícil, pois, se por um lado existem avanços tecnológicos e transformações, por outro lado existem as questões burocráticas e a falta de investimentos nas escolas da rede municipal e estadual.

No estudo de caso de L não foi diferente. Pais e professores acreditam que a falta de limites do aluno esteja relacionada com a hiperatividade.Diante desse contexto conturbado, como assegurar o bom andamento da sala de aula com alunos que não têm um autocontrole so-bre si mesmos? Qual o papel dos pais diante de filhos impulsivos, agressivos e indisciplinados? O professor será apenas um mediador dessas relações?

Essas são algumas questões que abordaremos neste trabalho, procurando enfocar, princi-palmente a questão da moral na criança com possíveis distúrbios de impulsividade e agressivida-de. Assim, este estudo delimita-se por desenvolver um estudo mais detalhado do comportamen-to indisciplinar do aluno, visando descobrir os facomportamen-tores que estão intrínsecos nessa problemática. A pesquisa se realizará através do estudo de caso e referências bibliográficas que pos-sam fundamentar as ideias expostas no trabalho.

As duas faces do “limite”

Na vida somos motivados a transpor nossos limites, uma busca constante pela supera-ção. Um bom exemplo para ilustrar isso se dá quando a criança aprende a andar. Os bebês co-meçam a engatinhar e após alguns meses dão seus primeiros passinhos com a ajuda dos pais. Mais pouco tempo até começarem a andar sozinhos. Desta forma estamos ensinando nossos filhos a ultrapassarem seus limites. Entretanto observamos que muitos educadores deturpam um pouco o sentido de superação, fazendo com que filhos e alunos procurem ser sempre me-lhores do que os outros, chamando a atenção só para si, sem respeitar os direitos dos outros. Nesse sentido La Taille (2006, p. 33) complementa que:

procurar a excelência nada mais é senão procurar ir além de si mesmo e tornar-se melhor do que se é. Digo ser melhor do que se é não necessariamente ser melhor que o outro. A excelên-cia implica competição, mas uma competição de alguém consigo mesmo.

Porém, quando falamos que as crianças de hoje “não têm limites”, relacionamos ao fato de não reconhecerem autoridade, não respeitarem regras, transferindo a responsabilidade para os pais, que teriam se tornado muito permissivos.

Muitos professores parecem concordar com a hipótese do “déficit moral” como explicati-va da indisciplina e do desrespeito às regras. Esse tipo de entendimento está ligado a questões

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disciplinares, principalmente dentro do ambiente doméstico, pois, muitas vezes, os problemas diários que os pais enfrentam (falta de dinheiro, desemprego, pouco acesso à cultura, falta de perspectiva de pais e filhos, principalmente em famílias de baixa renda) induzem as crianças a terem comportamento de rebeldia, agressividade, depressão e outros males. Nas famílias de classe média, a situação é inversa: as crianças sofrem pelo excesso de liberdade e pela facilidade de adquirirem tudo o que desejam, sem se preocupar com nada. Com isso acabam adquirindo hábitos e valores distorcidos em relação ao poder. Assim, percebemos que no dia-a-dia vários fa-tores apontam para muitas causas da falta de limites na educação das crianças de um modo geral. Podemos destacar, também, os valores morais que sumiram do nosso cenário, haja vista o enorme número de casos de corrupção na política, empresas, igrejas e etc., apresentados na mídia, onde, dificilmente a lei consegue ser cumprida; os pais precisam trabalhar todo dia, e, para suprir sua ausência, procuram satisfazer todas as vontades dos filhos; profissionais da área da educação despreparados para enfrentar salas com mais de trinta alunos e sem orientação pe-dagógica e material como brinquedos, jogos, livros de leituras e etc., dificultando enfaticamente o processo de ensino-aprendizagem e as relações sociais entre alunos, professores e pais.

Houve um tempo em que o comprometimento com o aspecto acadêmico era suficiente. No entanto, a criança de hoje tem muito mais acesso a informações do que antigamente, pois a infância tem acompanhado ativamente a rapidez dos avanços tecnológicos.

Assim, diante de tantas transformações que vêm ocorrendo na sociedade, de forma con-tinuada e que repercute, sobretudo, na metodologia de organização do trabalho e nas relações sociais, a escola como uma instituição educacional precisa, mais do que nunca, participar dessa transformação. Nesse sentido, La Taille (2006, p. 5) diz que “a formação docente é hoje compreendida como um processo permanente de desenvolvimento profissional: estudos, atu-alizações, discussões e trocas de experiências”.

Percebemos que normalmente o conflito transparece mais na sala de aula porque ali há vários alunos que, às vezes, sofrem do mesmo mal. Em contrapartida, boa parte dos problemas de indisciplina nas escolas decorre do fato de que as relações ali estabelecidas não são de respei-to e sim de obediência ao professor. Entretanrespei-to, na medida em que os instrumenrespei-tos aurespei-toritários vão sendo eliminados, a relação de obediência transparece, porque as relações de fato não estão baseadas no respeito e as pessoas envolvidas não se sentem mais obrigadas a cumprir as regras.

Assim, as crianças precisam aprender as regras. Acreditamos que somente através das interações estabelecidas num ambiente cooperativo de respeito mútuo e reciprocidade é que as regras passam a ser parte da sua realidade. Nesse sentido La Taille (2006) observa que não adianta explicar à criança a razão de ser dos limites morais e das regras que lhes são colocados, se ela verificar que normas não valem para os próprios adultos.

A maneira pelo qual os pais e educadores estabelecem as relações interpessoais com os seus filhos e alunos podem determina-lhes a formação moral heterônoma (relação de coope-ração) e que o sentimento de respeito é primordial na formação dessa moral. Dessa forma, La Taille (2006, p. 47) afirma que:

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Educar moralmente é levar a criança a compreender que a moral exige de cada um o melhor de si, porque conhecer e interpretar princípios não são coisas simples: pede esforço, pede per-severança. Conseguir ser “realmente” justo é empreendimento inatingível para quem limita sua moral à morna obediência à meia dúzia de regras, por melhores que sejam.

Assim, o respeito mútuo passa a ser essencial para o desenvolvimento da autonomia da criança. A criança que se sente respeitada em sua maneira de agir ou pensar, é capaz de res-peitar a maneira com que os outros agem e pensam. Desenvolver a autonomia moral quando se deixa de obedecer um dever imposto externamente, e adquire-se a consciência num processo relacional de cooperação de que as regras existem e são bem-vindas. Comte-Sponville citado por La Taille (2006, p. 49) discorre de maneira belíssima que:

Os direitos do homem podem constituir objeto de uma declaração. A generosidade, não: tra-ta-se de agir, não em função de determinado texto, de determinada lei, mas além de qualquer texto, além de qualquer lei, em todo caso humana, e unicamente de acordo com as exigências do amor, da moral ou da solidariedade.

Assim, percebemos que quando uma decisão é tomada em clima de respeito mútuo, as pes-soas ficam mais abertas a ouvir e refletir, podendo, dentro de um clima favorável e encorajador de cooperação e reciprocidade, construir valores morais que não são facilmente influenciados pelas mudanças dos padrões de seu ambiente, estimulando, o desenvolvimento da autonomia moral.

La Taille (2006) descreve o cenário da educação infantil apontando as duas grandes fontes educacionais da criança, família e escola, como agentes que devem tornar claro os seus valores e definições sobre uma vida plena. A sociedade e a mídia acabam ocupando um espaço considerável na formação desses conceitos fundamentais. Com o passar do tempo, os valores aprendidos na família e na escola foram perdendo terreno, e quem encontrou espaço para im-plantar diferentes valores foi a forte ideia comercial. Tudo parece estar voltado para o mercado, o consumismo e a superficialidade. Muito tem se perdido com essa maneira de formar valores.

Porém, a criança recebe determinada cultura das pessoas que a educam, bem como influências do meio em que vive. Caso ela não obtenha valores de uma vida mais plena, di-ficilmente formará um conceito interno a respeito. A preocupação nesta altura das reflexões alcança os valores que o ser humano formou e os vive a partir de uma condição inerente. Ao contrário de alguém que percebe a necessidade de ter de se adequar às regras e normas

circunstanciais de um dado momento, para uma demanda específica. Temos, então, valores adaptados que não pertencem à sua essência. Assim, seu efeito pode durar tanto quanto o seu interesse (LA TAILLE, 2006).

O papel do professor na questão da indisciplina

Vimos que o aluno traz para a aula os valores e atitudes da educação que recebe, tanto no ambiente doméstico quanto no ambiente escolar. Porém, muitos professores valorizam

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excessivamente a obediência no processo de classificação do bom aluno. Essa “virtude” pare-ce ser pré-requisito essencial do educando. Geralmente punimos o aluno que não “faz como dissemos para ser feito”. Lançamos para ele um olhar de reprovação e nos sentimos desobe-decidos e desrespeitados. A partir desse hábito, altamente comum na prática do professor, proibimos o aluno de nos contradizer, complementar ou até mesmo desafiar. Muitas vezes, rotulamos de “chato” o aluno que insiste em se comportar de forma “desobediente”.

Vinha (2008) discorre que é mais comum ligar a disciplina à obediência e à submissão. Des-sa forma, qualquer comportamento inadequado, um deDes-sacato, rebeldia, questionamentos fora de hora, desatenção, bagunça, movimentação, é traduzida como indisciplina, falta de educação ou de respeito à pessoa que se julga autoridade. Assim, o aluno indisciplinado é visto como aquele que apresenta dificuldades para ajustar-se às normas e padrões de comportamento esperados. Nor-malmente, a fala, se estabelece em sala de aula em via de mão única. O professor fala e o aluno ouve. O diálogo não é prática comum no processo de aprendizagem. Às vezes os professores ficam aborrecidos quando o aluno fala na hora de ele (professor) falar. Esse tipo de escola é a escola da passividade, onde apenas o professor tem voz. Os educadores esperam obter com a disciplina um tipo de comportamento uniforme. Assim, visando o controle, ocorrem o tempo limitado para cada atividade, os conteúdos estagnados e os mesmos tipos de provas. O conhecimento não é construído ou reconstruido, mas sim absorvido, sendo o enfoque principal o trabalho individual (VINHA, 2008). Ainda para esse tipo de escola, a reprodução do que foi ensinado é a demonstração de que houve aprendizagem. Teoricamente o professor ensina e o aluno aprende.

Para Vinha (2008) os alunos precisam participar ativamente no processo de construção do conhecimento, sendo que os debates, movimentações, resoluções de problemas e conversas entre as crianças não sejam vistos como um comportamento indisciplinado, mas sim como uma interação do grupo na aprendizagem e nas relações sociais. Ainda para a autora, o tra-balho docente exige negociação constante, quer com relação às estratégias de ensino ou de avaliação, quer com relação aos objetivos e até mesmo aos conteúdos recomendados.

Muitos professores acreditam que a indisciplina é sempre sinal de desinteresse infun-dado. Os alunos têm que estar sempre dispostos a aprender o que o professor quer ensinar. A falta de interesse do aluno em ouvir o professor é sempre vista como um desrespeito. Assim, o aluno bonzinho é aquele que está sempre disposto a aprender o que o professor tem para ensinar, independente do método, da linguagem ou da motivação que o docente utiliza.

Vinha (2008) acrescenta ainda que escola e professores se sentem vítimas de crianças e jovens que julgam ser inadaptados, mas que na verdade são retratos de uma sociedade violenta. Outros alegam que a responsabilidade é exclusiva da família desestruturada e que não educa e impõe limites aos filhos, ou ainda os pais que são omissos e não participam do modo de vida da criança, deixando-os fazer o que querem. Há também comportamento indisciplinado como de-corrente da personalidade do sujeito, de suas características pessoais. O aluno é inquieto, rebelde ou agressivo, não consegue ficar parado ou sentado na carteira, é taxado como quem “não tem jeito” ou “ele é assim mesmo”. Por outro lado alguns responsabilizam unicamente o professor, alegando que há falta de autoridade, de “pulso” para controlar ou disciplinar os alunos para

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colocar limites e punições. Neste caso, a disciplina também é vista como ordem, submissão e respeito à hierarquia. A ideia de autoridade se confunde com autoritarismo. Percebe-se que mui-tos educadores estão buscando determinantes de um comportamento indisciplinado em fatores externos ao ambiente escolar, como se a conduta do aluno não tivesse nenhuma relação com o ambiente vivenciado por ele na classe ou na escola.

Esse tipo de atitude tira a escola de suas responsabilidades, já que a solução para o pro-blema da indisciplina desvia-se do alcance dos seus professores. Quando também acreditam que a postura do professor tem relação com a indisciplina, julgam, numa visão simplista, que basta o uso da autoridade do professor para resolver o problema. Como já explicamos, um dos principais fatores que promove o desenvolvimento moral é o tipo de experiências que cada pessoa vive em seu círculo familiar, escolar e social, que a moralidade é resultante das inte-rações ou relações estabelecidas pelo sujeito com todos esses ambientes. Entretanto, muitos educadores desconhecem esse fato.

Assim, é preciso entender que, ao contrário do que muitos educadores acreditam, o com-portamento indisciplinado não resulta de fatores isolados (exclusivamente da educação fami-liar, a influência da TV, a falta de autoridade do professor ou da violência da sociedade atual, por exemplo), mas da multiplicidade de influências que recaem sobre a criança ao longo do seu desenvolvimento (e das interações que o sujeito estabelece com elas, pois nesse processo, o indivíduo que as assimila tem um papel ativo e não simplesmente absorve essas influências). Dessa forma, o problema da indisciplina não deve ser encarado como alheio à família, nem, tampouco, à escola, já que, em nossa sociedade elas são as principais agências educativas (VINHA 2008).

Estudo de caso do aluno l

I - Identificação da criança: L, seis anos, sexo masculino, frequentou o pré II em 2011. II - Queixa: Hiperatividade

III - Período de avaliação: Foram realizadas 10 sessões (quarenta horas) no período de Maio a Julho IV - Instrumentos usados:

Perfil da escola

Análise: A escola é acolhedora, bonita, agradável, ampla e localizada em um bairro da periferia. Possui boas instalações atendendo à Educação Infantil. Com estas características suprem as necessidades das famílias que, por sua vez, estão satisfeitas. A rotina da escola é bem planejada e atende as necessidades da crianças de uma forma geral. Quando a criança vai à escola pela primeira vez tudo é muito novo e amedrontador, pois é muita novidade para ser assimilada por ela. Aonde irá se confrontar com fatos, pessoas com as quais possivelmente nunca tenha tido contato anteriormente.

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As entrevistas com o professor

Análise: Norteadas pelas observações visuais, informações e relatos da professora nota-mos que há cooperação, respeito e participação de todos para alcance dos objetivos da escola. O professor demonstrou muito afeto e carinho para com as crianças e preocupação com o lado humano das mesmas, principalmente com o desenvolvimento das crianças que são afetadas pelo comportamento do aluno L. Não há interação com ele, pois L. exerce relação de poder imposto pelo medo conseguindo tudo o que quer dos outros com muita facilidade e isto a incomoda.

Pelo comportamento do professor e sua fala durante a entrevista, ficou claro e evidente que ne-cessita de auxílio, pois está enfrentando uma situação com a qual não está sabendo lidar. Pela fala da professora, analisando o comportamento do aluno, notamos que a criança mostra-se entediada com algumas atividades que para ele são muito fáceis. Terminando com muita rapidez, ficando impaciente à espera dos outros acabarem e é justamente nesse intervalo que ele acaba tumultuando a classe. A professora comentou que o aluno é muito inteligente e possui um vocabulário amplo para sua idade, o que demonstra que o aluno precisa de tarefas com um grau maior de dificuldade; atividades desa-fiadoras que instiguem o interesse e o raciocínio. Observamos que a professora trabalha o método tradicional, sem muita flexibilidade, o que dificulta a aprendizagem dos alunos, pois não existem salas homogêneas, cada criança é diferente em sua maneira de ser e apresenta ritmos diferentes de aprendizagem que devem ser respeitados para que haja interação e troca de aprendizagem.

Diagnóstico do transtorno do déficit de atenção

Análise: A professora apresentou segurança e objetividade em suas respostas, de-monstrando que realmente conhece o comportamento do aluno. Foi visível o alívio da professora em dividir a responsabilidade sobre o aluno com outros profissionais, princi-palmente com o interesse do suporte pedagógico em auxiliá-la nesta tarefa, visto que sua prática pedagógica não está atendendo às dificuldades da criança que termina as tarefas com muita rapidez, não permanece sentado, sobre nas mesas e faz muito barulho tumul-tuando e desestabilizando a sala.

Sondagem

Análise: Percebe-se pelos relatos e pelo protocolo que realmente a criança é muito agitada, nervosa e age por impulsividade, fazendo prevalecer sempre a sua vontade. Notamos que há uma super-proteção dos pais para com a criança que vêm ocorrendo desde o nascimento prematuro. Apesar de a gravidez ter sido planejada e acompanhada houve alguns contratempos devido à criança

ter nascido com 7 meses e precisou ficar internada por mais de dois meses, até atingir peso e condi-ções ideais para ir para casa.

Diagnóstico do transtorno do déficit de atenção

Análise: Notamos que todos os relatos da professora, coordenação e dos pais coincidem e, todos estão apreensivos com o comportamento da criança, pois não sabem como lidar com essa situação nem a quem recorrer.

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Hora lúdica

Análise: O aluno apresentou muita agitação e ansiedade durante a sessão, mostrando--se muito esperto, desembaraçado, extrovertido e sem nenhuma timidez. Não possui dificul-dades no raciocínio e age com muita rapidez. Percebe-se que já se considera muito esperto e melhor do que os amigos. Não desanimou frente aos obstáculos encontrados nos jogos, sendo insistente e determinado, sempre querendo fazer o máximo de pontos e em determi-nados momentos se elogia.

Através da sondagem e das conversas com a professora e a diretora nota-se que o aluno é o centro das atenções em casa, principalmente pelo fato de ser filho único e na escola, sempre recebe elogios da diretora por ser muito “esperto”.

Portanto pode-se observar que esse aluno já está sendo rotulado fazendo por merecer essa afirmação de ser o mais esperto e o melhor em tudo, no qual, na sessão realmente nota-se muita agilidade, atenção, raciocínio rápido. Porém em determinados momentos, através de relatos da família e até do próprio aluno mostra-se malvado e agressivo.

Avaliação do conhecimento operatório e/ou formal

Análise: A criança apresentou segurança em suas respostas, mesmo quando questionado mantinha a sua opinião. Também justificou todas as suas respostas e respondeu a cada uma delas, sendo muito objetivo. Suas respostas foram convincentes para as alunas que observa-ram o comportamento da criança frente às questões sugeridas.

Avaliação psicomotora

Análise: A criança apresentou dificuldades quanto à sua coordenação motora global e consequentemente à coordenação motora fina, pois não foram bem desenvolvidas, não por falta de capacidade pois ao ensinarmos a pular corda ela aprendeu, mas por falta de trabalhar melhor a psicomotricidade na escola.

Sondagem

Análise: A criança possui boa articulação da linguagem, repetiu as palavras sem dificuldades, mas apresentou troca da letra L por R e errou a fala da palavra “constituinte” por “constitunte”, mas nada muito grave. Não apresenta disfluência verbal. Talvez o caso seja encaminhá-lo a uma Fonoaudióloga para diagnóstico mais detalhado ou a um Otor-rino devido à fala anasalada.

A criança possui boa compreensão da linguagem, ótima percepção, retém as informa-ções com facilidade e sabe reproduzir as palavras de acordo com seu conhecimento, quando não se lembra da palavra faz substituições o que acaba alterando um pouco o significado.

Apresentou alguns erros culturais comum entre as crianças que pronunciam e escrevem trocando o E por I, não apresentou dislexia auditiva. Ela possui um bom grau de conhecimento e informação sobre o significado das palavras e tem muita percepção visual, olha todos os detalhes não possuindo dislexia visual. Chegamos à conclusão de que ele não está habituado a

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fazer uso da escrita, por este motivo não reflete sobre a letra que se deve usar, que letra começa e termina, se falta alguma letra etc.

Jogos dirigidos

Análise: O aluno apresenta uma boa compreensão da linguagem escrita, sabe distinguir o icônico (desenhar) e o gráfico (escrever), reconhece a diferença entre letras e números e o que estes representam (quantidades). Já entende que a escrita precisa ter diferenciação para poder se referir a coisas diferentes. Porém não sabe lidar com os conflitos pertinentes deste aprendizado, pois não gosta ou não está acostumado a refletir. Quando está frente a algum obstáculo ou coisas que terá que se esforçar para obter resultado prefere parar, isto ficou claro ao ser questionado sobre a letra L que conhecia, porém não colocou na seqüência do alfabeto; e também nos jogos, quando questionado, ficava irritado, mas com as intervenções ele acabava acertando. Ficou bem acentuada a sua baixa tolerância a frustrações, demonstrou isto claramente quando bocejava fingindo cansaço quando não queria terminar o jogo da leitura e na amarelinha quando jogou a pedra na rua.

Até o momento só havíamos ouvido falar sobre sua agressividade, mas nessa sessão a presenciamos, pois se irritava facilmente frente às coisas que julgava não saber, alterando o tom de voz, encarando as alunas, derrubando os brinquedos e jogando a pedra fora.

Nas atividades da hora lúdica e quando apresentado a jogos que ele dominava como o jogo do boliche e do futebol ele sempre repetia dizendo eu sei, eu sou bom nisso e mostra-se dócil, tranqüilo bem diferente do que presenciamos nesta sessão.

Seu comportamento impaciente começou com a sessão da avaliação da linguagem oral e escrita, quando começou a perceber que havia coisas que ele não sabia, pois até aquele mo-mento a professora, a diretora e os pais afirmavam que ele era inteligentíssimo, que era muito esperto, se abusar, “mais esperto que nós” (fala da diretora) e falavam isso para ele ouvir, o elogiavam, na sala de aula também ele era o primeiro a acabar as tarefas, mas com as sessões de avaliações, ele foi percebendo que não sabia tudo, que nem sempre pode ganhar e isto o irrita pois não sabe lidar com isto. Ficou claro a sua falta de limites.

Avaliação do material escolar

Análise: Através do caderno do aluno observou-se que o professor trabalha com o méto-do tradicional de forma marcante e sem abertura para inovações.

A criança está habituada apenas a reproduzir e não a fazer produções. Percebe-se que provavelmente por este motivo não consegue refletir sobre o erro. Contudo, a criança obteria mais êxito na linguagem escrita se o professora trabalhasse com produções escritas pelos alunos. Sendo assim, a professora não está trabalhando de forma a atender às necessidades do aluno do estudo de caso, uma vez que ele termina suas tarefas com muita rapidez, e seu racio-cínio não está sendo totalmente trabalhado. Com isso, acaba atrapalhando os outros alunos.

Portanto, o aluno em questão aparentemente através dos testes não apresenta nenhum problema significativo de aprendizagem. Necessita somente de atividades desafiadoras que o façam refletir e, dessa forma, despertando sua criatividade.

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Através de atividades de alfabetização desafiadoras e considerando o nível de conhe-cimento de seu aluno a professora obterá resultados satisfatórios em relação à aprendizagem de L. e, dessa forma o aluno se mostrará mais interessado nas aulas e consequentemente seu desempenho e aprendizagem melhorarão significativamente.

Análise dos resultados nas diferentes áreas:

Pedagógica: Através das observações feitas durante as sessões, do material didático apresentado, das falas da professora e do aluno, notamos que a metodologia utilizada pela pro-fessora não está alcançando resultados positivos com o aluno. A propro-fessora utiliza o método tradicional não tendo flexibilidade para as inovações ocorridas na área da educação.

Sabemos que não é fácil trabalhar com classe lotada como é o caso, nem com o método construtivista, nem com o método tradicional. Mas com o método tradicional fica mais difícil atender às necessidades específicas de cada criança, pois o método não dá margens para que se aproveite a bagagem das crianças, desconsiderando as influências familiares, culturais que as mesmas trazem para dentro da sala de aula.

Percebemos que a professora não dá espaço para que a criança faça suas próprias produ-ções (desenho livre, escrita espontânea, verbalização etc.), que crie, que interaja com o objeto de conhecimento, nem tampouco trabalha com o lúdico tão importante nesta fase da vida da crian-ça e com isto acaba pulando etapas de seu desenvolvimento, pois a criancrian-ça deve ser trabalhada de forma global; o cognitivo, o emocional, o social e a psicomotricidade. Tudo está interligado, e qualquer falha em uma dessas áreas poderá afetar seu desenvolvimento cognitivo.

Percebe-se, também, que a professora está preocupada em alfabetizar pois há uma certa “cobrança” de seus superiores sendo que a meta da Educação Infantil é preparar a criança para o Ensino Fundamental e não antecipá-lo. Para isto deve propiciar condições da criança desenhar, construir, recortar, pintar, expressar-se artisticamente, trabalhar a coordenação motora grossa e fina, trabalhar a psicomotricidade, propiciar atividades onde a criança salte, corra, pule, etc.

Trabalhar com o lúdico, deixando a criança brincar, representar pois através das brin-cadeiras as crianças percebem as regras, a realidade ao seu redor, conseguem resolver seus conflitos interiores e a internalizar as regras. O excesso de alunos, as exigências burocráticas, assim como a inadequação do método estão prejudicando a atuação do professor que é propi-ciar o desenvolvimento global da criança.

Cognitiva

Seu desenvolvimento cognitivo condiz com sua faixa etária. Ele está na fase operatório concreto pois analisa os fatos ao seu redor de forma lógica. Quanto ao seu desenvolvimento na linguagem oral e escrita, a criança apresenta um vocabulário amplo para sua idade, apesar de apresentar alguns erros culturais como por exemplo: troca do E pelo I e troca da letra L pelo R, mas ela se expressa com clareza e coerência, tem boa percepção visual e compreensão das pala-vras, sabe recontar fatos, pois retém as informações com facilidade. Quanto à linguagem escrita sabe distinguir o icônico (desenhar) e não icônico (escrever), reconhece a diferença entre letras

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e números e que estes representam quantidades e sons, também entende que a escrita precisa ter diferenciação para poder se referir a coisas diferentes, associando também o som às letras porém não reconhece todas as letras do alfabeto.

Social

Não há interação com seus pares, pois L. exerce relação de poder imposto pelo medo, fazendo prevalecer sua vontade, impondo sua liderança no ambiente escolar, cau-sando certo distanciamento, até mesmo por parte do professor e os envolvidos em seu convívio escolar.

Em outros ambientes, através de relatos dos pais, a criança somente interage com adul-tos e isto é visto como normal pelos mesmos, pois quando há interação com crianças de sua idade resulta em agressividade por parte da criança em questão.

Afetiva

Por seu comportamento ativo e agressivo percebe-se um certo receio no trato por parte da professora visível em suas atitudes e fala, não havendo portanto laços de afetividade entre a criança e o professor, sendo que a afetividade tem papel fundamental para o desenvolvimento do indivíduo influindo sobremaneira na aprendizagem. A aprendizagem depende do vínculo de afetividade que existe entre o professor e aluno, das interações em sala de aula, do modo como é ouvido, respeitado, acolhido, e do modo como olhamos e o tratamos.

Psicomotor

A criança não costuma fazer atividade física na escola nem tampouco em casa, pois passa a maior parte do tempo jogando vídeogame.

Escolar

O ambiente escolar é bem adequado.

Familiar

O fator familiar apresenta-se conturbado, pois de acordo com relatos dos pais jo-vens, trata-se de filho único havendo uma super-proteção por parte da mãe que não sabe valer-se de sua autoridade para com a criança onde sempre prevalece a vontade de L. A responsabilidade de corrigir os erros da criança é atribuída ao pai que permanece muito pouco com a criança e por este motivo talvez não use de severidade e até mesmo faça “vistas grossas” perante seus abusos.

Quanto à mãe, sabemos que mães super-protetoras impedem seus filhos de crescer e também permanecem muito tempo com os filhos, acabando por trata-los de igual para igual, a criança não sentindo o peso da autoridade, segurança nas atitudes da mãe acaba por não respeitá-la, gerando a falta de limites, a crença de que para ela tudo é permitido.

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Síntese dos resultados – hipótese diagnóstica

A criança foi avaliada por um neurologista que, segundo relato dos pais, disse que com a criança está tudo bem, porém os pais não nos apresentaram nenhum laudo.

Através das avaliações percebe-se que a criança possivelmente não apresenta déficit de atenção, pois não é sonhadora, confusa, desmotivada, lenta. Ao contrário, faz as atividades propostas e as termina em tempo hábil, não sendo necessário repetir as perguntas, ela compre-ende rapidamente, possui bom raciocínio e vocabulário amplo para sua idade.

Possivelmente também não apresenta problemas de hiperatividade( queixa principal dos pais, do professor e coordenador), pois consegue permanecer sentada, não muda constante-mente de atividade, conseguindo terminá-las, bem como consegue seguir instruções.

Contudo, a criança do estudo de caso apresentou características marcante de impulsivi-dade: faz barulho na sala de aula, é extremamente excitável, tem inquietações quando espera a vez e perturba as outras crianças.

De acordo com as avaliações de conhecimento operatório formal, psicomotora, avaliação de linguagem oral e escrita, raciocínio aritmético a criança apresentou um resultado satisfatório para sua idade, provavelmente não possui problemas de dislexia auditiva, nenhuma disfluência verbal ( tique, tremores, etc ), nem tampouco problemas que indiquem uma dislexia visual, pois possui ótima percepção visual, boa compreen-são das palavras, retém as informações, apresentando um bom nível de aprendizagem, condizente com seu nível escolar.

Porém, apresenta temperamento explosivo, é agressivo quando contrariado, não intera-ge com seus pares por conta de sua personalidade dominante, quer sempre liderar as brinca-deiras, obedece ao professor quando este lhe chama atenção, porém logo após apronta nova-mente, quer sempre ganhar, ser sempre o primeiro,é autoritário e, às vezes, sarcástico até para com os adultos. Apresenta características de criança sem limites, mimada, pois o excesso de mimo e a falta de limites fez a criança se sentir o centro das atenções, merecedora de elogios, e disto decorre o conceito de que para ela tudo é permitido.

Portanto, as características apresentadas, bem como o relato dos pais e professor, demons-tram que a criança apresenta uma impulsividade, causada provavelmente pela falta de limites, ocasionando indisciplina em sala de aula. Porém, esse diagnóstico é flexível, devendo ser confir-mado ao longo do tempo e com o auxílio de uma equipe multidisciplinar.

Prognóstico

Através dos resultados obtidos na avaliação oral, pode-se sugerir ao professor que enca-minhe a criança para uma avaliação na rede de ensino da cidade denominada CRAEE (Centro de Referência em Atendimento Educacional Especial). Aos pais deve–se conversar sobre a importância de uma orientação de práticas educativas mais consistentes e adequadas às difi-culdades apresentadas pela criança.

Quanto ao professor e coordenador, sugere-se que para melhorar seu desenvolvimento psicomotor e cognitivo trabalhem em parceria com os pais. Quanto ao comportamento do

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aluno, o professor poderá desenvolver dinâmicas, jogos cooperativos, trabalho em grupo para que a criança aprenda a conviver e interagir com seus pares, que perceba a necessidade de respeitar as regras, da cooperação com o outro, pois ele é um ser social, que não pode viver isolado, necessita do outro para viver em harmonia.

Para se trabalhar esses valores há uma vasta quantidade de livros infantis e filmes, os quais o professor poderá utilizar como auxílio.

Apresenta-se algumas sugestões:

Para o desenvolvimento pleno desse aluno sugere-se que o professor trabalhe mais a psicomotricidade através de jogos e brincadeiras, onde o professor estimulará a interna-lização das regras, a tolerância, o respeito ao outro, estimulando também seu desenvolvi-mento físico e mental. Quanto à escrita, o professor poderá trabalhar com duplas produtivas ou em agrupamentos em função do que se sabe sobre a escrita.

Ressaltando a importância de utilizar textos que façam com que o aluno perceba a necessidade da escrita em seu meio como: receitas, pequenas cartas, listas, recontos de his-tórias, produção de textos coletivos, músicas. Porém, para essas atividades bem como para as demais, o professor deve ter em mente qual é o seu objetivo, e, a partir dele, desenvolver uma atividade prazerosa, atuando também com intervenções pedagógicas quando necessá-rio, estimulando o aluno a pensar sobre a escrita, elaborar hipóteses e testá-las, sem receio de estar errado. Pois os desafios nos permite pensar, reorganizar o conhecimento que temos para novas buscas de informações.

A leitura pode ser trabalhada mesmo que o aluno não saiba ler, onde os mesmos utiliza-rão de estratégias de leitura ao seu alcance. Adequando as atividades ao nível em que a criança se encontra, por exemplo: para os silábicos localizar palavras através do banco de palavras, já para os silábicos em transição e alfabéticos apresentar tiras do texto ou da música para colo-carem em ordem, estimulando sempre a utilização do alfabeto móvel.

Em outros momentos o professor poderá trabalhar com escrita coletiva, onde as crian-ças relatam sobre o tema trabalhado e o professor é o escriba, para posteriormente fazerem a leitura de uma produção da própria criança, o que tornará mais prazeroso.

Desse modo, espera-se que a criança ao refletir utilize estratégias de leitura para organi-zar seus pensamentos, adequando-os à escrita.

Considerações finais

De acordo com o estudo de caso do aluno L, as informações coletadas não sugerem um comportamento hiperativo, apesar de algumas características como impulsividade, excessiva atividade motora, certa agressividade fazerem parte do comportamento da criança. Com os dados coletados chegamos à conclusão de se tratar de um comportamento indisciplinar causa-do pela falta de limites, seja pelo ambiente causa-doméstico (excesso de mimo), seja pela ambiente escolar (postura do professor, método utilizado e etc.).

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Vimos que há o excesso de mimos, principalmente pela mãe, que talvez por ser muito jovem e inexperiente não consiga trabalhar regras e limites em casa, o pai sempre ausente, deixa a cargo da mãe a responsabilidade de educar. Na escola o aluno é muito rotulado pelo diretor como um aluno inteligentíssimo e muito esperto. Porém com as sessões de avaliações o aluno provou que não sabia tudo, e por isso ficou muito irritado.

Para La Taille (2006) não se deve entender o excesso de mimo apenas em termos de generosidade material dos pais, o perigo pode estar em passar à criança a idéia de que ela é o centro das atenções. Essa atitude faz com que a criança construa uma auto-estima totalmente artificial, e ao entrar e no processo de socialização com outras pessoas e não há por parte de-las elogios constantes pode acabar sofrendo. Assim ao invés de levar a criança a superar seu complexo de inferioridade, o excesso de mimo acabando reforçando ainda mais o sentimento de inferioridade, pois acabam passando uma imagem artificial do seu super poder.

Foi percebida também a baixa tolerância a frustrações, demonstrando claramente quan-do o aluno bocejava finginquan-do cansaço quanquan-do não queria terminar o jogo da leitura e na ama-relinha quando jogou a pedra na rua. Nesse sentido o trabalho com regras é extremamente necessário para o convívio social dentro e fora do ambiente escolar. Segundo Vinha (2008) ninguém é livre para fazer o quer. Desde cedo é preciso que a criança aprenda as normas de convivência e respeito mútuo nas diversas situações da vida.

A criança que não possui estes limites claramente pode se tornar uma pequena tirana que não aceita ser contrariada. Ela precisa aprender que seu desejo não é lei, que não se pode fazer o que quiser na hora que quiser, pois ao contrário, não saberá conviver com pessoas que tem pontos de vista, hábitos e culturas diferentes das dela.

Ainda para Vinha (2008) frustrações e contrariedades não traumatizam. Esses li-mites servem de parâmetros para os relacionamentos que se estabelecem, garantem a justiça, auxiliam a cooperação e a convivência, preparando-a para viver em um mundo real. Adultos que, por culpa ou por medo de contrariar os filhos e vê-los tristes, atendem a todos os seus desejos, não contribuem para sua educação. É sempre válido recordar que o objetivo do educador não é o de garantir a “felicidade” em tempo integral ou a satisfação das voluntariedades da criança, mas sim, o de educar favoravelmente, possibilitando um ambiente sociomoral adequado.

Para que o indivíduo alcance a autonomia moral, temos claro que é imprescindível que o ambiente a ser propiciado na escola, seja um ambiente cooperativo, pois, as virtudes morais não são transmitidas verbalmente, mas, construídas nas relações interpessoais.

Para La Taille (2006) a educação moral das crianças só terá valor se também for um estí-mulo a superar aqueles que as separam do exercício das virtudes, O autor acredita que nos dias de hoje, a educação moral acaba falhando porque as virtudes, assim como os sentimentos de honra e dignidade andam esquecidos, pois vivemos em um mundo capitalista e de competição onde só é valorizada a superação do outro, e não a superação de si.

Assim é preciso estimular a criança a transpor limites no sentido de crescimento pes-soal e valorizar a moralidade na busca da dignidade e auto-respeito, pois os sentimentos de

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respeito mútuo, cooperação e solidariedade são valores que devem fazer parte das relações sociais dentro e fora do ambiente escolar.

É importante lembrar que é, principalmente, na família que deve-se estimular a criança a compreender e desenvolver tais valores. Pais que dialogam e incentivam seus filhos a ex-pressarem suas opiniões sobre os assuntos que envolvam toda a família demonstrar um maior equilíbrio entre os limites, direitos e deveres, tentando chegar a um consenso do que é melhor para todos. Assim as regras e normas são justificadas e constantes (VINHA 2008).

Nos momentos de conflitos e discordâncias, os pais devem buscar soluções pautadas no dialogo, e essa atitude é obrigatória em qualquer relação. O mais construtivo e é procurar colocar o problema de forma objetiva e procurar que a criança busque e proponha soluções para ajudar saná-lo.

Outro fator muito importante percebido no estudo de caso do aluno L é o método de trabalho do professor, seja por imposição da escola, seja pela falta de opção devido ao grande número de alunos na sala, ou seja, pela falta de habilidade e de um maior conhecimento, é preciso que haja mudanças.

Pelo que percebemos, o professor trabalha de forma tradicionalista, pois não dá espaço para que a criança faça suas próprias produções, que crie, que interaja com o objeto de conheci-mento, nem tampouco trabalha com o lúdico tão importante nesta fase da vida da criança e com isto acaba pulando etapas de seu desenvolvimento, pois a criança deve ser trabalhada de forma global; o cognitivo, o emocional, o social e a psicomotricidade, pois tudo está interligado, sendo que qualquer falha em uma dessas áreas poderá afetar seu desenvolvimento cognitivo.

Há uma preocupação muito grande em alfabetizar e seguir o planejamento devido a cobranças dos superiores, assim o professor, muitas vezes, não tem tempo suficiente para pro-piciar condições da criança desenhar, construir, recortar, pintar, expressar-se artisticamente, trabalhar a coordenação motora grossa e fina, trabalhar a psicomotricidade, propiciar ativi-dades onde a criança salte, corra, pule, etc. E são nessas ativiativi-dades que a criança desenvolve experiências entre seus pares com base na cooperação, limites, regras e podem a partir daí construir um ambiente de respeito mútuo e aprendizagem.

A equipe escolar (direção, coordenação, professores, monitores etc.) tem a função de propiciar a criança um ambiente socializador para que as trocas de experiências tanto de aprendizagem como de socialização possam fluir naturalmente.

La Taille (2006) enfatiza que as renovações pedagógicas podem ser de grande auxilio para um bom projeto educativo. Ao procurar adequar o ensino aos interesses do aluno, buscam o impulso motivacional que ajuda a fazer projetos e crescer, ao procurar uma aprendizagem significativa, respeitam a inteligência da criança e a ajudam na construção do conhecimento.

Vinha (2008) argumenta que, também, é necessário o exemplo dos educadores seguindo os valores que pretendem desenvolver e trabalhando com o conhecimento como algo a ser investigado, reinventado ou descoberto pelo sujeito e não transmitido como verdade absoluta; estimulando a ação sobre o objeto, o estabelecimento de relações, a coordenação de variáveis, a análise de problemas, a identificação das diversas perspectivas envolvidas, a busca de infor-mações e de soluções, a reflexão sobre as conseqüências de cada solução, o debate...

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E não podemos esquecer ainda da importância de se construir uma atmosfera sociomo-ral cooperativa no contexto educativo. Para que possam desenvolver valores morais, nossos alunos (e também os professores, funcionários...) precisam viver situações de respeito, de tolerância, de honestidade, de diálogo... É preciso que a criança possa ter experiências de vida social para aprender a viver em grupo e a escola é um local muito apropriado para essa vivência. A justiça, por exemplo, não se aprende com lições ou teorias sobre o assunto, mas experienciando relações em que as regras são realmente necessárias e valem para todos, em que há vivência de situações de justiça.

Referências

LA TAILLE, Y. Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Ática, 2006.

VINHA T. P, A escola que faz sentido: chaves para transformar o mundo. 2008. Disponível em: <http://bit.ly/1QA6CvKZANDONATO>.

LOPES, Z. Indisciplina escolar e a relação professor-aluno: uma análise sob as óticas moral e institucional. Disponível em: <http://bit.ly/1Q45B23>.

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