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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL

TATIANE ROPCK FÉLIX MENDES DE OLIVEIRA

SERVIÇO SOCIAL E QUESTÃO AMBIENTAL: desafio para a formação profissional na contemporaneidade

CUIABÁ-MT 2012

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SERVIÇO SOCIAL E QUESTÃO AMBIENTAL: desafio para a formação profissional na contemporaneidade

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Política Social da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para obtenção do título de Mestre em Política Social sob a orientação da Dra. Tânia Maria Santana dos Santos.

CUIABÁ -MT 2012

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Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

O48s Oliveira, Tatiane Ropck Félix mendes de.

SERVIÇO SOCIAL E QUESTÃO AMBIENTAL : Desafio para a formação na contemporaneidade / Tatiane Ropck Félix mendes de Oliveira. -- 2012

130 f. ; 30 cm.

Orientadora: Tânia Maria Santana dos Santos.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Programa de Pós-Graduação em Política Social, Cuiabá, 2012.

Inclui bibliografia.

1. Serviço Social. 2. Formação Profissional. 3. Questão Ambiental. 4. Questão Social. I. Título.

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Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito necessário para obtenção do título de Mestre em Política Social.

Apresentação em 26 de setembro de 2012.

Situação: Aprovada

Banca Examinadora:

________________________________________________ Profª Drª Tânia Maria Santana dos Santos – UFMT (Orientadora)

_____________________________________________________ Profª Drª Izabel Cristina Dias Lira – UFMT (Examinadora Interna)

____________________________________________________________ Profª Drª Irenilda Ângela dos Santos - UFMT (Examinadora Interna)

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DEDICATÓRIA

A todos que acreditam que um mundo melhor é possível.

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No final de mais uma jornada, só resta agradecer. Sou imensamente grata a todas e todos que direta ou indiretamente contribuíram para que esse trabalho fosse concluído.

Sou grata:

A CAPES pela viabilização da bolsa acadêmica que contribuiu para o andamento dessa pesquisa.

Aos colegas do mestrado em Política Social que ao longo desses anos dividimos as alegrias e angústias na construção do ato de pesquisar, em especial a Denise e Luciana Trugillo pelos longos anos compartilhados que se iniciaram desde a graduação.

Aos professores do programa que sempre se colocaram a disposição para mostrar o “norte” para as diversas lacunas no trajeto da pesquisa.

As/os amigas/os da IMI pelo carinho e amizade que sempre me deram. Vocês são muito especiais para mim. Não poderia deixar de agradecer as queridíssimas Giulia e a filha do coração, Patrícia, por tudo que fizeram por mim no transcorrer desse percurso.

A Ivone que sempre se mostrou no papel de amiga, apoiando sempre e incondicionalmente todos os projetos por mim encarados, que muito me ajudaram em minha trajetória acadêmica. Sem duvida é o meu referencial de profissional comprometida com as mudanças e lutas que essa profissão nos coloca cotidianamente.

A minha linda e querida mãezinha por todo apoio dado ao longo de minha vida. Te amo muito!

Ao meu querido esposo Gustavo por todo amor, companheirismo, dedicação, cumplicidade que compartilhamos ao longo desses mais de seis anos de convivência e que agora somos brindados com um lindo presente para selar nosso amor: UMA FILHA.

A Deus por ser minha força em todos os momentos e em qual minha fé é inabalável.

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A universidade que se defende é aquela que cultiva a razão crítica e o compromisso com valores universais, coerente com sua função pública não limitada e submetida a interesses particulares de determinadas classes ou frações de classes; uma instituição a serviço da coletividade, que incorpore os dilemas nacionais e regionais como matéria da vida acadêmica, participando da construção e respostas aos mesmos no âmbito de suas atribuições específicas. Enfim, uma universidade plural e democrática, que forme cidadãos participantes e conscientes de seus direitos civis, políticos e sociais; mas que zele por sua autoqualificação acadêmica e permanente aperfeiçoamento, de modo a contribuir na formação de cientistas, pesquisadores e profissionais voltados aos horizontes de amanhã.

Marilda Villela Iamamoto1

1 Iamamoto, Marilda Villela. Serviço Social em tempos de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.

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A dissertação que ora se apresenta fez-se como exigência de titulação do mestrado em Política Social da Universidade Federal de Mato Grosso, vinculado ao departamento de Serviço Social e resulta de um projeto de pesquisa que abordou a temática da questão ambiental relacionando-a as novas demandas postas ao trabalho dos assistentes sociais, requerendo, portanto sua inserção no projeto de formação profissional. O interesse em estudar a questão ambiental partiu do entendimento de que os problemas ambientais vêm se intensificando e atingindo de forma desigual os diferentes setores da sociedade, sendo sentidos com mais intensidade pelos segmentos mais pobres e que, por isso, se tornam mais vulneráveis às especulações realizadas pelo capital, como também às consequências da degradação ambiental, que, muitas vezes, ocasiona a perda dos meios pelos quais realizam sua reprodução social. Isso por si só já justifica a importância que deve ser atribuída à essa temática pelo Serviço Social tendo em vista a centralidade da questão social no projeto de formação em vigor e na intervenção profissional como parte do trabalho especializado que através de sua prática profissional, estabelece relação com as mais variadas formas de expressões da questão social, associadas ao modo como os usuários as vivenciam em seus trabalhos, família, comunidade, moradia, saúde, assistência social pública. O estudo foi baseado numa metodologia qualitativa informada pela perspectiva critico dialética através de revisão teórica e pesquisa documental. O resultado demonstrou um rico debate sobre o tema na literatura das Ciências Sociais. No Serviço Social identificou-se, a partir de uma releitura histórica dos projetos de formação na literatura da profissão, que somente as diretrizes curriculares da ABEPSS (1996) deram abertura para que o tema da questão ambiental fosse inserido na grade curricular dos cursos de Serviço Social. A importância atribuída à questão ambiental pelo Serviço Social tem produzido as primeiras pesquisas o que permite concluir seu conteúdo ainda recente e incipiente na profissão.

Palavras-chave: Serviço Social. Formação profissional. Questão social. Questão ambiental.

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The thesis herein presented was made as a requirement titration MA in Social Policy at the Federal University of Mato Grosso, linked to the Department of Social and results of a research project addressing the issue of environmental issues relating to the new demands made to the work of social workers, requiring therefore their inclusion in the project of vocational training. The interest in studying environmental issues came from the understanding that environmental problems have been intensifying and affecting unequally the different sectors of society, being felt most strongly by the poorest segments and therefore become more vulnerable to speculation performed by capital, but also the consequences of environmental degradation, which often leads to loss of the means by which they carry out their social reproduction. This pro se already justifies the importance that should be given to this issue by the Social Service in view of the centrality of social issues in the design of existing training and professional intervention as part of the specialized work that through their professional practice, establishing relationship with the most varied forms of expressions of social issues, associated with how users experience them in their work, family, community, housing, health, public welfare. The study was based on a qualitative methodology informed by critical dialectical perspective through literature review and desk research. The result showed a rich debate in the literature on the subject of Social Sciences. In Social Services identified himself, from a historical retelling of training projects in the literature of the profession, that only the ABEPSS curriculum guidelines (1996) gave the opening theme of environmental issues was inserted in the curriculum of the courses of Service Social. The importance attached to environmental issues by Social Services has produced the first research which indicates its content still recent and incipient in the profession.

Keywords: Social Service. Vocational training. Social issue. Environmental Issues.

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ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social ABESS - Associação Brasileira Escola de Serviço Social

ABI - Associação Brasileira de Imprensa AIB - Aliança Integralista Brasileira

ALAETS - Associação Latino Americana de Escolas de Trabalho Social APASP - Associação Profissional dos Assistentes Sociais de São Paulo BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CBCISS - Comitê Brasileiro de Conferência Internacional de Serviço Social CEAS - Centro de Estudos e Ação Social

CEDEPSS - Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social

CELATS - Centro Latino Americano de Trabalho Social CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CNE – Conselho Nacional de Educação

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico COHAB/MT - Companhia de Habitação de Mato Grosso

CRESS - Conselho Regional de Assistentes Sociais CUT - Central Única dos Trabalhadores

DC - Diretrizes Curriculares EAD – Ensino à Distância

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente FHC - Fernando Henrique Cardoso

IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis ICLC - Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá

LBA - Legião Brasileira de Assistência

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OAB - Ordem dos Advogados do Brasil ONU - Organização das Nações Unidas PCI – Partido Comunista Italiano

PROUNI – Programa Universidade Para Todos PT - Partido dos Trabalhadores

REUNI – Reestruturação e Expansão das Universidades Federais SEMA – Secretaria Estadual de Meio Ambiente

SESC - Serviço Social do Comércio UAB – Universidade Aberta do Brasil

UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso UNE - União Nacional dos Estudantes

UNIC - Universidade de Cuiabá

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INTRODUÇÃO...14 SEÇÃO I - QUESTÃO AMBIENTAL: EXPRESSÃO CONTEMPORÂNEA DA QUESTÃO SOCIAL ...23 1.1 As raízes da questão ambiental...24 1.2 As contradições presentes na relação capital x meio ambiente...31 1.3 Questão ambiental e questão social: interfaces com a realidade

brasileira...39 1.4 Desenhando o cenário: o papel do Brasil na política pública

ambiental...47 SEÇÃO II - CONDICIONANTES SÓCIO HISTÓRICO, TEÓRICO E METODOLÓGICO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL...53 2 O Serviço Social na história do Brasil...53 2.1 Anos 1930-1940...53 2.2 A contribuição do Movimento de Reconceituação na construção de novas propostas curriculares no Serviço Social brasileiro nas conjunturas de 1960-1980...60 2.3 Os anos de 1990 e seus rebatimentos no projeto de formação profissional...74 SEÇÃO III - A QUESTÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DAS (OS) ASSISTENTES SOCIAIS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL...84 3.1 A formação profissional no contexto da educação superior no Brasil...85

3.2 A questão ambiental no contexto das diretrizes

curriculares...89 3.3 A questão ambiental nos projetos pedagógicos das escolas de Serviço Social da Baixada Cuiabana: construindo elementos para o debate...98 3.3.1 O processo de formação do Serviço Social da Universidade Federal de Mato Grosso: aspectos gerais...98 3.3.2 O projeto pedagógico do curso de Serviço Social do UNIVAG: aspectos gerais...105 3.3.3 O projeto pedagógico do curso de Serviço Social da UNIC: aspectos gerais...108

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INTRODUÇÃO

Nosso interesse em estudar a questão ambiental no processo de formação profissional das/os assistentes sociais partiu do entendimento de que, no atual sistema de organização social, a exploração do trabalho humano exercida pela classe dominante também é constatada em outras formas de exploração, inclusive com a destruição do meio ambiente. Nesse sentido o modo de produção submete os interesses ecológicos aos interesses da extração de lucro e de mais valia.

Cabe ressaltar que o debate em torno da questão ambiental ganhou visibilidade a partir dos anos 1970, com a Conferência de Estocolmo em 1972, seguido pela criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a qual elaborou o Relatório Brundtland e a Rio-92, cujo principal documento foi a Agenda 21, revista na Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de Johannesburgo em 2002, para citar apenas os principais acontecimentos. Em todos esses eventos, percebe-se a preocupação de garantir a todos os seres humanos o direito fundamental a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo aos Estados tomarem as medidas necessárias para garantia de tal direito, bem como do uso sustentável dos recursos naturais em benefício das gerações presentes e futuras.

No entanto, as conseqüências da ação do capital sobre o meio ambiente já são sentidas e percebidas com o advento do processo de industrialização e dos altos níveis de tecnologia utilizada para o desenvolvimento socioeconômico sob a predominância da lógica contraditória do sistema capitalista de produção, impulsionada pelos padrões de consumo insustentáveis que visam à produção ilimitada da riqueza material causando graves desequilíbrios ambientais em escala global, o que nos leva a afirmar que a crise ambiental tem sua origem nos princípios orientadores de funcionamento do capitalismo.

Dentre esses desequilíbrios podemos destacar o aquecimento global, o efeito estufa, o aumento do nível do mar, a desertificação, a escassez de água potável entre outros problemas ambientais que incidem diretamente sobre a qualidade de vida das pessoas, sobretudo, os mais pobres, uma vez que seus

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impactos atingem as populações em grau e intensidades diferentes na sociedade.

Consideramos que a chamada crise ambiental, que se apresenta através de problemas como a pilhagem, degradação e destruição ambiental é a expressão visível do que consideramos como questão ambiental, a qual é intrínseca a uma sociedade de classes, estruturalmente desigual, envolvendo sujeitos antagônicos, que condiciona e restringe as possibilidades de apropriação, domínio e uso dos bens ambientais.

Sob o pretenso discurso do desenvolvimento, a sociedade prioriza uma forma de produção de bens e de exploração dos recursos naturais desconsiderando seu reverso: a destruição ambiental e, conseqüentemente, da própria existência humana. A sede de consumo e acumulação capitalista se utiliza da retórica do progresso para justificar sua forma de dominação e exploração. Nesse sentido, os desequilíbrios ambientais estão sob o efeito das suas formas de produção e consumo, sendo impossível, portanto dissociar a questão ambiental da questão social.

O desenvolvimento econômico a nível mundial alcançou um patamar que ultrapassou os limites da sustentabilidade do planeta, assim, compreende-se que, cricompreende-se ecológica não é apenas uma cricompreende-se da natureza, mas também uma crise da sociedade, ambas enraizadas nas relações de produção do capital, na qual sua incidência não atinge da mesma maneira as classes sociais, sendo esta mais intensificada com os segmentos mais pobres e excluídos da sociedade, caracterizando-a como uma das expressões da questão social contemporânea.

Portanto, a inserção das/os assistentes sociais nesta temática se dá pela centralidade da questão social no projeto de formação profissional em vigor, entendendo-a como constitutiva da formação e, também, da intervenção profissional como parte do trabalho especializado que, através de sua prática profissional, estabelece relação com as mais variadas formas de expressão da questão social, associadas ao modo como os usuários as vivenciam em seus trabalhos, família, comunidade, moradia, saúde, assistência social pública e tendo, também, como desafio contemporâneo o enfrentamento da questão ambiental. No entendimento desse processo, buscou-se saber se a temática

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ambiental tem permeado a formação profissional das/os assistentes sociais, em especial de Mato Grosso, mediante o estudo das diretrizes curriculares e dos projetos pedagógicos das escolas selecionadas.

Cabe ressaltar que nossa preocupação maior partiu da compreensão de que o processo de formação deve qualificar profissionais conscientes de que os desafios continuam cada vez maiores e que os mesmos devem estar preparados para intervir em novos tempos. Tempos esses que renovam os problemas sociais, especialmente em uma sociedade cravejada pelos vícios do passado: escravismo, dependência, colonialismo e dominação; vícios estes renovados apenas com novas roupagens: menos Estado e mais mercado, mais expressões da questão social com o aumento das desigualdades sociais, menos políticas sociais públicas e universais (SILVA, 2008).

Nesse campo, os assistentes sociais devem ter como elemento norteador a busca pela incorporação dos avanços legados pela teoria crítica ao debate sobre o meio ambiente, os quais têm propiciado a problematização da questão ambiental em sua radicalidade histórica ao mesmo tempo que têm favorecido a construção de propostas efetivas de intervenção. E para tal, mostramos nesse trabalho que o projeto ético-político do Serviço Social constitui-se em ferramenta essencial e referência a todas/os as/os profissionais que buscam imprimir um diferencial de qualidade no pantanoso terreno do debate ambiental.

É no contexto dessas discussões que se revelou nosso interesse em pesquisar a relação do Serviço Social com a questão ambiental, uma vez que a entendemos como expressão da questão social, objeto da formação e prática profissional das/os assistentes sociais. Entendendo ainda que essa relação se apresenta, na atualidade, como um novo desafio à profissão.

E é com base neste cenário – momento histórico, econômico, político e social em que se encontra o capital – que possibilitou levantar o seguinte problema de pesquisa: o curso de Serviço Social, em especial as escolas de Mato Grosso têm inserido em seus projetos pedagógicos a temática ambiental, tendo em vista a complexidade que o tema assume na atualidade?

É certo que não se teve a pretensão de esgotar todas as questões, mas identificar à aproximação entre essas duas categorias: formação profissional e

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questão ambiental, objetivando analisar se o debate sobre a questão ambiental está sendo contemplado no projeto de formação profissional e das escolas de Serviço Social de Mato Grosso.

Para tanto foram elencados os seguintes objetivos específicos: identificar como a questão ambiental se apresenta na sociedade capitalista e sua vinculação com a questão social; analisar se o Serviço Social tem inserido em seu projeto de formação a temática ambiental; discutir a relevância atribuída a questão ambiental, enquanto expressão da questão social, nos Projetos Pedagógicos dos cursos de Serviço Social de Mato Grosso, em três unidades de ensino do Estado: Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, Centro Universitário de Várzea Grande - UNIVAG e Universidade de Cuiabá - UNIC.

A escolha dessas escolas recaiu pela referência e pela estrutura que as mesmas oferecem para a formação profissional das/os assistentes sociais do Estado.

Quanto ao método, o presente estudo norteou-se na perspectiva crítico-dialética entendendo-a como a que permite estabelecer uma relação orgânica entre teoria e método e entre o sujeito que investiga e o objeto que é investigado. O método crítico-dialético é ontológico, intrinsecamente voltado para o real e, neste sentido, teoria e prática são concebidas como unidade indissociável.

A função da teoria é, aqui, iluminar as estruturas, os processos sociais dissolvendo a objetividade dos fatos pela sua negação. O objetivo do método crítico-dialético é reproduzir, no pensamento, o movimento real do objeto, tornando-o concreto pensado. Parte-se da aparência dos fenômenos sociais com o intuito de desvelar a processualidade histórica deles, por meio de inúmeras e sucessivas aproximações. Essas aproximações se iniciam por questões simples para as mais complexas, do particular para o genérico, da aparência para a essência dos fatos.

Desde o primeiro instante que nos propomos a fazer pesquisa um desafio é certo: pensar a priori os caminhos metodológicos que requer a construção de uma pesquisa. Várias são as literaturas sobre esse assunto em que alguns aspectos são consensuais na maioria dos autores(as) pesquisados:

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escolha do tema, delimitação do objeto, justificativa, objetivos, hipóteses, quadro teórico e os instrumentos e técnicas no levantamento dos dados, que segundo Minayo (1994) deve ter pertinência com o quadro teórico.

Conforme a mesma autora, metodologia é

[...] o caminho e o instrumental próprios de abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa lugar central no interior das teorias sociais, pois ela faz parte intrínseca da visão social de mundo veiculada na teoria (1994, p. 22).

Cabe destacar aqui que o que nos move a atuar sobre a realidade é o que nos conduz ao conhecimento. No entanto, para intervir nessa realidade é preciso conhecer, o que requer procedimentos adequados. Através de uma mediação privilegiada entre conhecimento e realidade, o resultado da pesquisa será um conhecimento sempre provisório, parcial, histórico (relativo a um tempo e espaço sociocultural e historicamente determinado).

Dito isso, a pesquisa primou pelo formato qualitativo devido ao caráter histórico e provisório do objeto mediante estudo documental dos Projetos Pedagógicos das escolas selecionadas. Nossa intenção foi jogar luz, elucidar, apontar vieses, enfim dar conta do objeto. Para tanto, identificamos no real as seguintes categorias de análise: questão ambiental, questão social, formação profissional e Serviço Social.

E como procedimentos operacionais deram-se os seguintes passos: levantamento bibliográfico em fontes documentais escritas, sobretudo, livros e artigos científicos concernentes ao tema, entendendo este procedimento como um processo contínuo na pesquisa; levantamento da produção teórica do Serviço Social referente a questão ambiental; localizar nos Projetos Pedagógicos das escolas selecionadas as disciplinas que trabalham a questão ambiental e o resultado dessa pesquisa foi construído no corpo do trabalho por uma introdução, três seções de desenvolvimento do tema e um comentário final.

A primeira seção traz uma análise teórica da relação entre questão ambiental e questão social como produto da sociedade capitalista que, em sua versão contemporânea, agrava e aprofunda essas questões, acarretando para sociedade dano irreversíveis, numa dinâmica destrutiva imposta pelo consumo exacerbado dos recursos naturais.

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Outra questão importante faz referência ao descarte da imensa quantidade de mercadorias consumidas, transformadas em lixo urbano produzido pelo consumo exagerado e, igualmente alarmante. Essa, sem dúvida, configura uma das expressões mais dramáticas da questão ambiental, pois reflete a tendência de reprodução da desigualdade que marca “o imperialismo ecológico”.

Respondendo às novas tecnologias de tratar o meio ambiente surgem a reciclagem e com ela a figura do catador de lixo, “que se apresenta alheio à rentabilidade desse setor, sendo insuficientemente atendido pelos programas assistenciais do governo e estando apartado das condições legais de proteção do “trabalhador” e de sua família, considerados excluídos sociais”. Essa figura não é considerada trabalhador formal, mas sua atividade é valorizada no sentido de que contribui para diminuir o desemprego. O texto refere-se ainda a dissociabilidade entre sustentabilidade ambiental e sustentabilidade social. A primeira implica na reprodução da questão ambiental e a segunda na reprodução das desigualdades amenizadas por políticas compensatórias.

Outra questão importante abordada nesta seção refere-se ao papel do Estado na garantia e institucionalização da política ambiental de forma que não sofra fragmentação e descontinuidade como as demais políticas públicas e sociais, referindo ao tradicional tratamento fragmentário até então predominante na gestão pública. Para que isso ocorra é preciso redefinir a relação Estado sociedade civil envolvendo a população de forma efetiva na formulação de políticas públicas, tendo na questão ambiental uma expressão renovada da questão social

A segunda seção trata da relação entre questão social e Serviço Social no processo de formação profissional, nos marcos do capitalismo moderno que subjaz a história da profissão no Brasil, historicizando seu desenvolvimento em cada conjuntura histórica.

Os anos de 1930 e 1940 foram marcados por uma conjuntura política e econômica que exigiu do Estado e da sociedade a implantação de um conjunto de profissões na área social, dentre elas o Serviço Social. Foi o tempo das pioneiras e sua busca de entender a realidade para intervir de acordo com os princípios cristãos, tendo a Igreja Católica protagonizado um papel, ainda que

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conservador, bastante intenso no enfrentamento da questão social o que deu origem as primeiras escolas. O projeto pedagógico desse período seguiu o modelo franco belga que formava profissionais para atuarem de forma fragmentária na questão social. Esse modelo teve como diretriz a duas encíclicas papais Quadragésimo Anno e Rerum Novarum.

Para Yasbek (2009) é na relação com a Igreja Católica que o Serviço Social formulou seus primeiros objetivos defendendo posicionamento humanista e conservador, contrários ao liberalismo e ao marxismo. Esse conservadorismo vai ser acrescido, nos anos de 1940 e 1950, de uma postura mais tecnicista, produto da relação que o Serviço Social brasileiro manteve com o Serviço Social norte americano, permeada pelos fundamentos teóricos metodológicos do positivismo.

Nos anos de 1960 a formação profissional respondeu à novas mudanças conjunturais da sociedade mundial e brasileira seguindo um movimento latino americano de renovação do Serviço Social. O projeto pedagógico de então, propôs-se a uma ruptura com o pensamento conservador positivista e fez sua iniciação teórico metodológica com as correntes do marxismo.

Essa “ruptura” não se deu sem problemas, e nos anos de 1980, a profissão encaminhou novas mudanças para formação profissional mediante a implantação do Currículo de 1982. Mesmo assim, inúmeras críticas foram traçadas e esse currículo, que se mostrou como uma espécie de “acordo” capaz de acolher diversas tendências da época e concepções diferenciadas de profissão. O resultado não podia ser outro – o ecletismo e a possibilidade de recriação, no âmbito privado das escolas, da mesma lógica do currículo anterior. Mesmo com alguns equívocos esse currículo expressou a tentativa de construção e de afirmação de uma nova tendência profissional: a do/a assistente social comprometido/a com a classe trabalhadora.

Nos anos de 1990 o Curso de Serviço Social sofreu novas inflexões em função das mudanças sociais que começaram ocorrer desde a década de 1970, fruto das transformações do mundo do trabalho sob o imperativo do projeto neoliberal. Essas mudanças têm sido objeto de várias crises no capital. Crises que tem exigido da profissão um novo perfil profissional. O cenário desse período foi marcado pelos altos índices de desemprego e precarização

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do trabalho, pela minimização do Estado e do campo das políticas públicas, e pelo adensamento das expressões da questão social. De forma madura e consciente de suas possibilidades e limites profissionais e políticos, e o Serviço Social conseguiu, diante dessa adversa conjuntura, aprimorar suas conquistas no campo da ética, da fiscalização do exercício e da formação profissional.

A resposta da profissão a esse quadro danoso veio através das entidades: ABESS/ABEPSS, CFESS e a elaboração das novas diretrizes curriculares (DC) em vigor. As diretrizes aprovadas pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), em 1996, expressam o acúmulo da categoria profissional dos assistentes sociais do país no campo da formação profissional. Busca uma formação crítica, qualificada a partir das demandas das classes subalternas, na direção de uma educação emancipatória.

A última seção apresenta uma discussão sobre a importância de se introduzir na formação profissional o tema da questão ambiental na medida em que se expressa como uma nova manifestação da questão social, objeto da formação e prática das/os assistentes sociais, criando condições para que o tema seja introduzido nos projetos pedagógicos, a partir de uma análise detalhada dos princípios das diretrizes. No intuito de averiguar se o debate sobre a questão ambiental tem sido permeado pelas escolas de Serviço Social de Mato Grosso, fez-se um estudo dos projetos pedagógicos das escolas selecionadas, sendo elas: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade de Cuiabá (UNIC) e Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG).

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SEÇÃO I

QUESTÃO SOCIAL E QUESTÃO AMBIENTAL

No fundamento do sistema capitalista, que extrai seu lucro na exploração do homem e na depredação do planeta, que mercantilizou tanto o homem quanto a terra, está a raiz tanto da questão social quanto da ambiental.

Nesta seção procuraremos compreender como a questão ambiental assume, na atualidade, a configuração de questão social. Esta é aqui compreendida como confronto de forças antagônicas, como embate entre diferentes projetos societários, como luta e contradição entre capital e trabalho, tendo sua gênese na apropriação privada dos bens socialmente produzidos.

No momento em que o debate ambiental se introduz nas arenas de discussão da sociedade, representando um campo de interesses conflituosos e divergentes, representando o antagonismo de interesses contraditórios de parcelas da sociedade que lutam pela decisão sobre a apropriação e uso dos bens e recursos naturais, a questão ambiental se apresenta como uma expressão contemporânea da questão social.

Questão social entendida como a expressão do conjunto das desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais, que se manifesta, por exemplo, na pobreza, exclusão, fome, violência, desemprego e ameaça ao meio ambiente. Manifesta-se, também, na subtração do protagonismo político dos sujeitos e nas estratégias de resistência e de organização. A questão social revela-se nas formas objetivas de vivenciar suas contradições como a subalternidade e a revolta. (SILVA, 2008).

Com isso, essa seção tem por objetivo apresentar os elementos constitutivos que tornam a questão ambiental uma expressão contemporânea da questão social, perpassando pelas dimensões econômica, política e social que a justificam como tal.

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1.1 As raízes da questão ambiental

É notório que, na atualidade, a questão ambiental ganhou uma visibilidade ora vista. A todo tempo é noticiado na mídia nacional e internacional o colapso no qual se encontra a natureza: enchentes, aquecimento global, escassez de água potável no planeta, para citar alguns. Isto se deve a crise ambiental1 instaurada pelo modo capitalista de produção que, para garantir sua (re) produção, subordina o homem e a natureza a um processo contínuo de exploração desmedido e alienante. Como bem nos lembra Chesnais e Serfati (2003) “a crise ecológica planetária tem sua origem nos fundamentos e nos princípios de funcionamento do capitalismo” (p. 3).

Não que em outros momentos históricos a exploração da natureza não existisse, mas é inegável sua agudização no estágio atual do capitalismo. Silva (2010) aponta que

Decerto que os níveis de degradação ambiental nas sociedades anteriores ao capitalismo não chegaram a configurar um quadro de ameaças à sustentabilidade planetária, tendo em vista que o objetivo precípuo da produção não residia na formação de excendente com vistas ao mercado e, consequentemente, à obtenção do lucro (p. 48).

A pouca técnica utilizada pelas sociedades que antecederam o mundo burguês, não possibilitou o efetivo domínio da natureza. O trabalho não era realizado com vistas à obtenção do valor, sendo que todo o excedente era destinado à troca, visando assegurar a manutenção do trabalhador e de sua família, além da comunidade em que estava inserido (CHESNAIS; SERFATI, 2003). Podemos então afirmar que nas sociedades assentadas na propriedade da terra e na agricultura como base econômica, prevaleceu o valor de uso, sendo a produção dos indivíduos e de sua comunidade o fim último da produção.

A economia mercantil muda, transforma, subverte esse quadro.

No percurso de seu desenvolvimento histórico, o capital centraliza os meios de produção, converte-os (de meios

1

Vários autores utilizam de designações como crise ecológica, crise ambiental, questão ambiental, questão ecologica, campo ambiental (às vezes simultaneamente) para apontar o mesmo processo: a exploração desenfreada do meio ambiente. Ver: Foladori (1997, 1999, 2001a, 2001b), Löwy (2000, 2005), Chesnais e Serfati (2003), Foster (2010), Foster e Clarck (2006), Wallis (2009), Sweezy (2008), entre outros.

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individuais de produção) em meios sociais, conferindo natureza social ao processo produtivo, o qual passa a realizar-se a partir de uma “coletividade de homens”, postos em atividade de forma articulada (SILVA, 2010, p. 50).

No capitalismo, a produção inaugura uma nova relação do homem com a natureza, onde os recursos naturais deixam de ser apropriado apenas para atender as necessidades humanas como valor de uso, para se transformarem em mercadoria, assumindo assim valor de troca. O modo capitalista de produzir, baseado na lógica do mercado e acompanhado pelo desenvolvimento econômico, gera uma produção ilimitada mediante a exploração dos recursos naturais não renováveis para atender às necessidades do capital: expandir-se, gerar lucro e acumular riquezas.

A especificidade dessa forma de produzir implica na transformação dos elementos naturais em elementos úteis (mercadorias) através da dominação da natureza, na utilização irracional dos seus recursos e na conseqüente exacerbação da questão ambiental (CHESNAIS; SERFATI, 2003). Esse processo concentrador de riqueza tende a alterar as relações entre sociedade e natureza.

Todo o processo de acumulação primitiva –incluindo, nas palavras de Marx, “a expropriação sangrenta das terras do povo”, e em termos de Malthus a “varredura” destes para a cidade– teve profundas implicações ecológicas. Já sob a forma de propriedade feudal, a terra tinha sido transformada no “corpo inorgânico de seus senhores”. No capitalismo, com a conseqüente alienação da terra (e da natureza), o domínio do homem sobre o homem estendeu-se. “A terra como o homem”, assinalava Marx, tinha se reduzido “ao nível de um objeto venal” (FOSTER; CLARK, 2006, p. 229).

Para o capital, pouco importa as seqüelas deste movimento, importando apenas e tão somente as vantagens econômicas que a utilização demasiada dos recursos naturais possa lhe trazer. No capitalismo é inaugurada uma nova etapa na relação com o meio ambiente2 onde do domínio da terra passa-se ao domínio da natureza (em escala planetária) e da própria humanidade.

Chesnais e Serfati (2003) apontam ainda que, além da expulsão dos campesinos da terra e a submissão da atividade agrícola ao capital, dois

2

Cabe ressaltar que outros estágios de produção, anterior a capitalista, se ergueram a pilhagem de recursos minerais, como o ouro e a prata, além de vegetais e animais, arrasando, ao mesmo tempo, com o modo de vida dos povos pré capitalistas (SILVA, 2010).

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mecanismos completam o processo que funda as bases do modo de produção burguês e das formas de dominação que lhe são imanentes: a propriedade privada dos recursos do subsolo, permitindo a apropriação das rendas, e a gratuidade dos demais recursos naturais. E continuam:

[...] os elementos do mundo natural, outros que a terra e o subsolo, inicialmente abundantes em demasia para serem submetidos, como hoje, a um mecanismo de apropriação ou de exploração privada – a água, o ar e, por extensão a biosfera – seriam inesgotáveis e, portanto, gratuitos (p. 2-3).

Podemos dizer que isto acarretou largas conseqüências para as gerações futuras. E esse processo de uso indiscriminado dos recursos naturais pelo modo capitalista de produção é tido por estudiosos e especialistas como causas fundamentais da “questão ambiental”.

[...] é suficiente apontar que uma parcela considerável do problema tem sua origem no funcionamento da economia mundial, na forma como se desenvolveu nos últimos três ou quatro séculos. Esse, obviamente, tem sido o período da emergência do capitalismo, da burguesia e das revoluções industriais, do carvão, do vapor e das ferrovias, do aço, da eletricidade e da química, do petróleo e do automóvel, da agricultura mecanizada e dos produtos químicos – e da rápida urbanização e crescimento da população mundial, como resposta à massiva expansão das forças produtivas à disposição da humanidade (SWEEZY, 2008, p. 120).

O domínio da tecnologia em poder do capital possibilitou que o mesmo se apropriasse gradativamente e gratuitamente desses recursos de tal maneira que acabaria por evidenciar a fragilidade do princípio da finitude destes.

Silva (2010) aponta que é sob essas bases que o modo de produção capitalista promove a ruptura na “relação metabólica” entre homem e natureza, como expressão da alienação material dos seres humanos do processo de transformação dos elementos naturais em bens sociais necessários à sua própria manutenção.

Em Marx, temos que o metabolismo social ocorre quando o homem, ao transformar a natureza externa por meio do processo de trabalho, transforma a si mesmo:

O trabalho é, antes de qualquer outra coisa, um processo entre o homem e a natureza, um processo pelo qual o homem, através de suas próprias ações, medeia, regula e controla o metabolismo ente ele e a natureza. Ele põe em movimento as forças naturais que pertencem ao seu próprio corpo, aos braços, pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar os materiais da natureza de uma forma adaptada às suas próprias

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necessidades. Através deste movimento, ele atua sobre a natureza externa e a modifica, e assim simultaneamente altera a sua própria natureza... Ele [o processo de trabalho] é a condição universal da interação metabólica entre o homem e a natureza, a perpétua condição da existência humana imposta pela natureza (MARX, 2001, p. 217).

Assim, o processo de trabalho é algo inerente à existência humana e sua relação com a natureza.

[...] o trabalho não é apenas uma atividade especifica de homens em sociedade, mas é, também e ainda, o processo histórico pelo qual surgiu o ser desses homens, o ser social. Em poucas palavras, estamos afirmando que foi através do trabalho que a humanidade se constituiu como tal (NETTO; BRAZ, 2006, p.34, grifos do autor).

O homem, visando satisfazer suas necessidades, relaciona-se com a natureza em uma perspectiva transformadora. É, portanto, uma atividade dirigida a um fim: atender determinada necessidade humana não se restringindo a esse ou aquele modo de produção.

O processo de trabalho [...] é atividade dirigida com o fim de criar valores de uso, de apropriar os elementos naturais às necessidades humanas, é condição necessária do intercâmbio material entre o homem e a natureza; é condição natural eterna da vida humana, sem depender, portanto de qualquer forma dessa vida, sendo antes comum a todas as suas formas sociais (MARX, 2001, p.218).

Como já foi mencionado, na sociedade capitalista o processo de trabalho tem uma característica específica. Seu objetivo é produzir mercadorias com valor de uso e com valor de troca superior ao daquele que foi investido pelo capitalista no início do processo de produção, considerando todos os gastos com matéria-prima, meios de produção e mão-de-obra; objetiva um valor excedente e é justamente no marco desta mudança de relação entre homem e natureza, na alienação imposta pela sociedade capitalista ao intercâmbio, ou nos termos de Marx, no metabolismo entre homem e natureza, que se estrutura a chamada falha metabólica, precursora da atual crise ambiental (MÉSZAROS, 2002).

Marx utilizou-se do conceito de metabolismo social não só para referir-se a real interação metabólica entre sociedade e natureza por meio do trabalho humano, atribuindo a este, um sentido mais amplo, utilizando-o, conforme

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Foster, “para descrever o conjunto complexo, dinâmico e interdependente das necessidades e relações geradas e reproduzidas de forma alienada no capitalismo” (2010, p. 222).

Na medida em que o trabalhador, no modo de produção capitalista, é expropriado dos frutos de seu trabalho, em que o resultado do processo de trabalho passa a ser algo estranho ao seu realizador, o trabalhador passa a corresponder, nas palavras de Foladori (2001), ao processo de ruptura de seu metabolismo com a natureza, já que não dispõe da propriedade, nem dos meios, nem dos recursos necessários à produção e à sua própria reprodução.

O próprio trabalho transforma-se, pois em mercadoria, tem seu preço, pode ser empregado por quem o comprar como desejar. Aí se sustenta a exploração capitalista. Na realidade, o vendedor da força de trabalho, como o de qualquer outra mercadoria, realiza seu troca e aliena seu valor-de-uso. Não pode receber um sem transferir o outro. [...] O possuidor do dinheiro pagou o valor diário da força de trabalho; pertence-lhe, portanto, o uso dela durante o dia, o trabalho de uma jornada inteira. A manutenção quotidiana da força de trabalho custa apenas meia jornada, apesar de a força de trabalho poder operar, trabalhar, uma jornada inteira, e o valor que sua utilização cria num dia é o dobro do próprio valor-de-troca. Isto é uma grande felicidade para o comprador, sem constituir injustiça para o vendedor (MARX, 2001, p. 227).

Desta forma, no modo de produção capitalista, o valor pago ao trabalhador corresponde aos meios necessários à reprodução de sua força de trabalho. Tal valor é definido considerando a necessidade de subsistência desse trabalhador e a necessidade de valorização do capital para obtenção da mais valia em uma escala cada vez mais ampla, que se expande a todos os âmbitos da vida em sociedade, não só nas relações de trabalho, mas em todas as relações sociais.

Existe, pois, uma indissociável relação entre a produção dos bens materiais e a forma econômico-social em que é realizada, isto é, a totalidade das relações entre os homens em uma sociedade historicamente particular, regulada pelo desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social (IAMAMOTO, 2010, p. 11).

É a partir da alienação do trabalho, momento em que o homem não reconhece mais a transformação que ele mesmo impôs à natureza e que não

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se reconhece mais naquilo que produziu, perdendo a consciência de todo o processo de trabalho, que ele e a própria natureza se separam e passam a constituir-se como mercadoria, ocasionando, conforme Marx, a falha metabólica (MARX, 2001; MÉSZÁROS, 2002; FOSTER, 2010).

A contribuição de Marx para o debate ambiental, utilizando-se do conceito de falha metabólica, consiste no entendimento de como se deu esta separação. O que exige explicação não é a unidade de seres humanos vivos e ativos com as condições naturais e inorgânicas de seu metabolismo com a natureza e, portanto, sua apropriação da natureza; nem isto é resultado de um processo histórico. O que tem de ser explicado é a separação entre essas condições inorgânicas da existência humana e a existência ativa, uma separação somente completada, plenamente, na relação entre o trabalho assalariado e o capital (FOSTER, 2010).

A partir dessa concepção da relação entre seres humanos e natureza e da falha metabólica ocorrida nesta relação, fruto das relações sociais da sociedade capitalista, é que a contribuição de Marx se torna fundamental para que se compreenda o processo de degradação ambiental na qual hoje se encontra a sociedade e sua vinculação com a questão social.

Degradação é fruto de relações sociais que se estruturam em necessidades de reprodução do capital e não em necessidades humanas ou sociais, influenciada por critérios econômicos que se pautaram ao longo dos tempos na crença descabida e inverídica de que a natureza é uma fonte inesgotável de recursos a serem explorados pelo homem, crença que Marx já apontava em sua época, como insustentável ao desenvolvimento e manutenção das gerações futuras (FOSTER, 2010).

Sob o pretenso discurso do desenvolvimento, a sociedade prioriza uma forma de produção de bens e de exploração dos recursos naturais desconsiderando seu reverso: a destruição ambiental e, conseqüentemente, da própria existência humana (WOOD, 2010). A sede de consumo e acumulação capitalista se utiliza da retórica do progresso para justificar sua forma de dominação e exploração.

No atual estágio de desenvolvimento, a expansão do capital toma proporções mundiais através da globalização do mercado e da financeirização

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do capital, ocasionando uma exploração exorbitante das bases materiais indispensáveis à relação sóciometabólica entre os seres humanos e a natureza (MÉSZÁROS, 2002). Esta, por vez, também se mundializa para atender as necessidades globais do sistema produtivo vigente, acentuando as expressões da questão ambiental, a extração da mais valia através da extrema precarização do trabalho e, concomitantemente, as contradições intrínsecas ao próprio sistema.

[...] entramos numa fase da história do capitalismo em que as conseqüências ambientais da acumulação no quadro da dominação mundial do capital financeiro tendem a materializar-se sob formas extremamente graves e num ritmo que materializar-se acelera, os mecanismos que levaram a essa situação estavam presentes desde sua origem no funcionamento do capitalismo (CHESNAIS; SERFATI, 2003, p. 2).

A depredação da natureza não é própria do capitalismo, mas seu aumento, sem dúvida, se deu em seu atual estágio, tornando assim a questão ambiental uma problemática para a humanidade. Parafraseando Löwy (2000) “estamos enfrentando uma crise de civilização que exige mudanças radicais” (p.233).

Portanto, analisar a questão ambiental nos dias de hoje sem considerar a particularidade do modo de produção social capitalista, ignorar as contradições próprias que esse tipo de produção altamente destrutiva impõe à relação ser humano/natureza, resulta numa síntese no mínimo simplista ou até mesmo equivocada das causas, tendências e possíveis alternativas para a destruição e dilapidação das bases materiais da reprodução social.

O modo de produzir capitalista não mede esforços para se manter como modo de produção hegemônico, não considerando as conseqüências que acarrete para a vida no planeta, ou até mesmo para suas próprias condições de produção. Essa é uma das mais agudas contradições do sistema capitalista.

E é por essa razão que as alternativas direcionadas para o trato da questão ambiental pouco tem avançado na direção de uma concreta transformação do quadro devastador no qual se encontra a sociedade atualmente, uma vez que a maioria das análises relativas à situação do planeta apenas apontam para as expressões de tal problemática sem mencionar (se

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menciona é de maneira muito sutil) as causas reais do iminente colapso do planeta. É o que será tratado a seguir.

1.2 As contradições presentes na relação capital x meio ambiente

O capitalismo do século XXI é presidido pela acumulação financeira. O processo de acumulação atual, assim como as respostas do capital, entre as quais, o neoliberalismo e a reestruturação produtiva, vêm trazendo graves implicações sociais, econômicas e ambientais. Dentre outras podem ser apontadas: instabilidade monetária permanente; transformação do mercado de câmbio em mercado especulativo, dos quais os capitais financeiros procuram obter lucros financeiros, mantendo o maior grau de liquidez possível: ausência de moeda internacional, exceto o dólar.

No mundo do trabalho, as consequências são danosas, como o grande desemprego estrutural, trabalhadores em condições precarizadas. Em relação ao meio ambiente pode-se apontar a destruição da natureza em escala globalizada com vários problemas ambientais: aquecimento global, desflorestamento, contaminação de rios e mares, desertificação, extinção de fauna e flora, entre outros. Tudo isso vem demonstrando a lógica destrutiva do processo de acumulação do capital, um processo que destrói o trabalho, a natureza, a vida ocasionando uma crise estrutural do capital.

No entender de Mészáros (2002), não se está diante de uma crise cíclica do capitalismo, como vividas no passado, mas sim, de uma crise estrutural, profunda, do próprio sistema do capital, no qual o sistema encontra com seus próprios limites intrínsecos. Para o referido autor, a crise atual é sistêmica, orgânica, endêmica, permanente e se manifesta na destruição da força humana de trabalho em escala global. Uma prova disso é a presença do trabalho precário em todos os países. É uma crise sistêmica por que o nível de destruição ambiental atual coloca no horizonte a possibilidade do fim da vida humana.

O atual estágio de produção se torna cada vez mais incompatível com a sobrevivência da espécie humana na medida em que o processo de exploração

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da natureza atingiu seu estágio de crise. Wallis (2009) ressalta que “como era de esperar, a ideologia capitalista encara os componentes dessa crise de modo fragmentado, obscurecendo, assim, sua natureza sistêmica” (p.58).

A depredação da natureza bem como o movimento empreendido pelas classes no seu enfrentamento tem sido objeto de intensos debates entre intelectuais, movimentos sociais e agências internacionais, obtendo ampla cobertura dos meios de comunicação.

A centralidade e divulgação deste debate são amparadas pela emergência de fenômenos como a escassez dos recursos não renováveis, as mudanças climáticas, o volume de dejetos industriais e poluentes, somando a quantidade de lixo doméstico urbano, resultado, dentre outros, da descartabilidade dos produtos. No entanto, o debate muitas vezes se dá sem de fato apresentar as contradições da sociedade de classes, tendo em vista que o que se defende é a sustentabilidade econômica, sem alterar a relação sociometabólica que rege as relações sociais de produção, reproduzindo uma verdadeira insustentabilidade social. Mota e Silva (2009) são emblemáticas ao assinalar que

Embora ganhe espaço e notoriedade, as referências críticas à problemática ambiental se voltam mais para a adoção de práticas poupadoras de recursos naturais – de que são exemplos os processos de reciclagem e a utilização de produtos biodegradáveis – do que para o enfrentamento do produtivismo e do consumismo que marcam as sociedades contemporâneas. [...] Neste sentido, chamamos a atenção para a necessidade de ultrapassagem desta cultura dos “efeitos” da produção destrutiva que se revela insuficiente para instrumentalizar ações que, efetivamente, ponham em xeque os determinantes da “questão ambiental” (p. 38-39).

As autoras (idem) apontam este cenário de exacerbação da questão ambiental como sendo revelador da destrutividade inerente ao modo de produção capitalista, cujas crescentes necessidades de produção e acumulação de riqueza, vêm se defrontando com os seus próprios limites de expansão.

O desenvolvimento das forças produtivas (conforme seu conteúdo, utilização, acesso e distribuição global) demonstra que a sociedade industrial capitalista não tem condições de solucionar os problemas ecológicos e sociais que gera. Especialmente nos países do assim chamado Terceiro Mundo,

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os efeitos negativos do modelo industrial induzido ficam evidentes no crescimento da desigualdade social e da destruição ambiental. A grave destruição ambiental em nível mundial e a crescente exclusão social são, entretanto, externalizadas pelo processo de produção dominante e, em grande parte, ignoradas. A externalização de custos sociais e ambientais atinge mais fortemente os países mais pobres, predominantemente rurais, onde a maioria dos agricultores passa a ser submetida ao capital como trabalhadores, enquanto pioram suas condições de existência pela crescente destruição ambiental (ANDRIOLI, 2008, p. 25).

Este cenário é marcado por um processo contraditório no qual os países capitalistas são os maiores responsáveis pela destruição do meio ambiente e quem paga a conta são os países periféricos. Esse modelo, em que países centrais esgotam suas fontes de matérias primas e de energia e também a de outras nações, tem aprofundado as desigualdades entre campo e cidade e entre os países do Norte e do Sul, numa relação em que o último subsidia o primeiro e assegura sua expansão3.

As forças imperialistas impõem regimes de produção sócioecológicos no mundo, aprofundando assim a divisão antagônica entre o campo e a cidade, por um lado, e entre o Norte e o Sul, por outro (FOSTER; CLARCK, 2006, p. 235). E essa dinâmica destrutiva do sistema se mantém e se aprofunda no que diz respeito a iniciativas e prescrições sobre a necessidade de preservação/conservação dos bens naturais, tais como a adoção das “tecnologias limpas”, os processos de educação ambiental ou, mesmo, a incorporação de indicadores socioambientais no cálculo e na especificação de alguns produtos e processos produtivos nas transações comerciais4 (SILVA, 2010).

Isso fica claro no relatório produzido por 1.350 especialistas a pedido da Organização das Nações Unidas (ONU) no qual identifica que a ação humana e o consumo irracional dos recursos naturais são os principais causadores da insustentabilidade no planeta. Sinalizam ainda, para um colapso futuro na capacidade de fornecer recursos naturais aos seres humanos, o que implica na

3 Os países do Norte, com aproximadamente 25% da população do planeta, consomem 75%

dos recursos globais (Dupas, 2008; Foster e Clarck, 2006).

4

É o caso dos “ISOs”, que, mediante as estratégias de competitividade ganham expressão na introdução dos chamados ‘selos verdes’ como é o caso das ISOs 9002 e 14000 (SILVA, 2010).

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impossibilidade de atingir as metas das Nações Unidas de combate à fome em 20155.

A imposição do consumo em larga escala é determinante para a existência do capital como modo de produção. É através do estimulo ao consumo exacerbado de mercadorias que a produção capitalista se intensifica no intuito de superar seus percentuais de acumulação e atingir níveis mais altos de lucratividade. E o impacto causado pelo consumismo acarreta sérios riscos aos indivíduos e ao meio ambiente, seja na produção, seja no descarte do produto consumido.

A questão não é o “consumo excessivo” em abstrato, mas, antes, o tipo de consumo dominante cujas características principais são: a propriedade ostensiva, o desperdício maciço, a acumulação obsessiva de bens e a aquisição compulsiva de pseudonovidades impostas pela “moda” (LÖWY, 2009, p.46). Para sustentar esse consumo excessivo assinalado por Löwy (2009), a quantidade de bens naturais extraídos para atender os anseios capitalistas ignora o ritmo da natureza para a recomposição de seus recursos. Dupas (2008) aponta um declínio de 35% do equilíbrio ecológico do planeta, desde a década de 1970, devido à extração exacerbada dos recursos naturais. Outro estudo aponta que

O relatório “Planeta Vivo”, produzido pelo WWF em 2008, revela que 20% da população mundial consome entre 70% a 80% dos recursos no mundo. Esses 20% comem 45% de toda a carne e de todo o peixe, consomem 68% de eletricidade, 84% de todo o papel e possuem 87% de todos os automóveis. Diante desses números uma das conclusões presentes no relatório é: “caso o modelo atual de consumo e degradação não seja superado, é possível que os recursos naturais entrem em colapso a partir de 2030, quando a demanda pelos recursos ecológicos será o dobro do que a terra pode oferecer” (ZACARIAS, 2009, p.68).

No tocante ao descarte da imensa quantidade de mercadorias consumidas, o lixo urbano produzido pelo consumo exagerado é igualmente alarmante. Esta sem dúvida configura uma das expressões mais dramáticas da questão ambiental, pois reflete a tendência de reprodução da desigualdade que

5

ONU. “Vivendo além dos nossos meios”. Disponível em: www.cebds.org.br. Acesso em: 22 jun. 2009.

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marca o imperialismo ecológico6. Isto é apontado por Silva (2010) ao mencionar que são produzidas cerca de dois milhões de toneladas de lixo domiciliar por dia (o equivalente a 730 milhões de toneladas ao ano), evidenciando sinais de esgotamento da capacidade do planeta absorver os dejetos da produção humana.

Essa desigualdade é intensificada ao passo que os dejetos são mediados pelo capital como fonte de geração de mais valia.

[...] a indústria capitalista, preservando a sua finalidade precípua que é o lucro, desenvolve um conjunto de iniciativas, dentre elas a reciclagem de produtos industrializados ou a chamada gestão empresarial ambiental com o intuito de recriar o processo de produção de mercadorias, redefinindo seus processos produtivos (MOTA et al, 2005, p.3).

Dita como alternativa ambiental, o capital se beneficia da reciclagem, diretamente, tanto da produção descartável quanto do discurso que refuta. Do ponto de vista ecológico, a reciclagem configura um ícone das práticas sustentáveis, tendo em vista que contribui para a redução do volume dos resíduos sólidos depositados no meio ambiente, como também ameniza os efeitos da poluição, economiza matérias primas e insumos para a fabricação de novos produtos. Por isso é valorizado pela sociedade, em especial pelos veículos de comunicação, que se apresentam ‘preocupados’ em disseminar uma cultura ambientalista. Porém, há contradições.

A especificidade da indústria de reciclagem consiste em transformar as seqüelas do processo de destruição ambiental em um novo objeto de produção mercantil, estruturando o seu processo produtivo através da adoção de novas tecnologias, do uso de materiais recicláveis e da organização de uma determinada forma de cooperação entre trabalho que começa na rua e termina na fabrica (MOTA, 2002, p.10).

Ao utilizar matéria prima obtida no lixo, a indústria da reciclagem impulsiona um processo de trabalho atípico. Nesse, o trabalhador é reconhecido ironicamente como um ‘agente ambiental’, seja pelo Estado ou

6

Imperialismo ecológico é o termo utilizado por Foster e Clarck (2006) para sinalizar a disputa entre os Estados nacionais, reveladores da desigualdade entre países de centrais e periféricos. O conceito de imperialismo ecológico denuncia a desigualdade estrutural entre nações do centro e da periferia do sistema.

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pela sociedade civil, sendo destituído da condição de produção da riqueza (SILVA, 2010).

A indústria de reciclagem [...] ao mesmo tempo em que contribui para a redução dos resíduos sólidos, este ramo da produção – ancorado no discurso da sustentabilidade e integrado às práticas inscritas no âmbito da responsabilidade social – impulsiona o seu processo de produção mediante a utilização de matérias-primas obtidas com trabalho informal, superexplorado, realizado sob condições subumanas (MOTA; SILVA, 2009, p. 39-40).

Prova disso é que esse trabalhador se apresenta alheio à rentabilidade desse setor, sendo insuficientemente atendidos pelos programas assistenciais do governo e estando apartado das condições legais de proteção do trabalhador e de sua família, considerados excluídos sociais. E as contradições desse processo não param por ai. O Estado, as empresas e a sociedade entendem as ações desenvolvidas pelo catador como uma alternativa ao crescente desemprego, tornando-se objeto de uma política de geração de renda. E mais: a realização da catação é absorvida como parte da política ambiental para a minimização dos efeitos causados pela gigantesca produção de resíduos sólidos em ambientes urbanos.

No entanto, não é reconhecida a centralidade do papel do catador na “cadeia de lixo”, fato que o destitui do estatuto de trabalhador, e portanto, gerador de riqueza socialmente produzida, reforçando um dos traço centrais do capitalismo reestruturado (SILVA, 2010, p. 132).

Este processo tende a reforçar a questão ambiental na perspectiva do indivíduo, criando no plano ideológico o fetiche da humanização do capital, a partir de mudanças atitudinais. Só que o outro lado da moeda é completamente inverso: o ciclo de exploração do ser humano e da natureza torna-se cada vez mais predatórios, que os indivíduos não se reconhecem dentro do processo produtivo, sendo inevitável sua alienação.

Além disso, estudos científicos têm apontado que os níveis de depredação do planeta se intensificam, mesmo após a introdução de tecnologias de produção menos absorventes de recursos naturais e com mecanismos de poluentes mais eficazes.

À medida que se expande a escala da economia global, mais resíduos são gerados, os sistemas naturais são

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comprometidos, deterioram-se os direitos das gerações futuras e estoques de conhecimentos de recursos genéticos são perdidos. As novas tecnologias eventualmente atenuam o problema, mas somente depois de já terem causado muita destruição (DUPAS, 2008, p. 29, grifos nossos).

É inegável que o desenvolvimento e o progresso da ciência e da tecnologia representam avanços civilizatórios na contemporaneidade, como também uma via para a erradicação do reino da escassez. Contudo, as pesquisas científicas e a descoberta de novas tecnologias estão mediadas pela multiplicação dos lucros do mercado. Para Mészáros (2002), esse é o motivo pelo qual a ciência e a tecnologia tiveram de ser utilizadas com enorme seletividade, a disposição do capital. Continua ainda afirmando que mesmo as tecnologias que poderiam combater a degradação ambiental ou compensar os danos causados por ela, não podem ser utilizadas caso interferiam na expansão do capital. Mota e Silva (2009) completam a analise ao afirmar que

O desenvolvimento científico e tecnológico destinado a assegurar os mecanismos de apropriação da natureza e do trabalho alienado, também tem revelado que os níveis de esgotamento da natureza não só coloca em risco a existência de inúmeras espécies vivas, como também indica um agravamento das condições materiais para a reprodução do sistema. Dessa forma, a efetiva apropriação da natureza pelo capital manifesta uma modalidade de desenvolvimento das forças produtivas, na qual os avanços científicos e tecnológicos subordinam-se às necessidades da acumulação (p. 44).

E essa tendência destrutiva do capital diante da questão ambiental só tende a aumentar. Silva (2010) apresenta em seu estudo que cientistas afirmam que os próximos 40, 50, 60 anos sofrerão profundas transformações, sobretudo nos países e continentes onde vive a parcela mais pobre da população mundial. Isto se deve ao fato de que em regiões prejudicadas pela falta de água devido às secas, como é o caso do sertão nordestino e partes da África e o excesso dela em áreas sujeitas a inundações, como os superpopulosos deltas de rios asiáticos, colocarão em risco milhões de pessoas.

A natureza contestatória dos discursos e movimentos voltados para a problemática ambiental, paulatinamente vêm se subsumindo às necessidades da acumulação de capitais, impulsionando a integração à ordem, naturalizando a “questão social” e, por conseqüência, a “questão ambiental” (MOTA;SILVA, 2009, p. 42).

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A programática ambientalista posta em ação a partir da lógica de reprodução do capital acaba por aprofundar a contradição entre sustentabilidade ambiental e sustentabilidade social. Verifica-se, nesses casos, que avanços na sustentabilidade ambiental se colocam lado a lado com os retrocessos na sustentabilidade social, a exemplo dos agrocombustíveis, do biodiesel e sua contribuição para a intensificação da crise dos alimentos e precarização das condições de trabalho.

Desta forma, a racionalidade do capital manifesta suas profundas contradições: a busca da sustentabilidade ambiental, guiada pelo cálculo financeiro, acaba por aprofundar a insustentabilidade social, agravando as já precárias condições de vida e trabalho nas sociedades atuais.

A própria ONU alerta para a questão ao denunciar o fato de 100 milhões de pessoas já estarem sendo afetadas pela alta nos preços dos alimentos, observada nos últimos meses, e chama a atenção para o aprofundamento da pobreza em todos os continentes.

Embora não se trate de um fenômeno exclusivamente afeto à produção de agrocombustíveis, o fato – relatado por especialistas – é que a expansão desordenada de plantios destinados à produção de novas fontes de energia tem agravado a questão social. Na outra ponta encontram-se o aumento dos preços do petróleo, utilizado tanto na produção quanto no transporte de alimentos, e as mudanças climáticas que vêm afetando o rendimento da terra seja pelas estiagens ou pelas inundações (Dupas, 2008; Mészáros, 2002). Assim, a fome do século XXI exibe novas causas, dentre elas, os aumentos especulativos de mercadorias determinados pelo movimento do capital financeiro, através dos bancos, fundos de pensões, dentre outros, que investem especulativamente nos mercados internacionais de produtos agrícolas (WALLIS, 2009; MÉSZÁROS, 2002; SILVA, 2010).

Estas determinações conjunturais inscrevem-se em um contexto histórico de progressiva substituição da agricultura familiar, camponesa – voltada para a auto suficiência alimentar e para os mercados locais – pela agroindústria, orientada para a monocultura de produtos de exportação, fato que, além de não resolver a questão da fome no mundo, a tem agravado.

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Fica claro que a unidade entre sustentabilidade ambiental e social é impossível na dinâmica sociometabólica do capital, pois, ao mesmo tempo que assegura a contínua produção e reprodução da questão ambiental, “ o capital se empenha em atenuar as suas manifestações, administrando suas contradições através do impulsionamento de programas compensatórios, lastreados pelo discurso do solidarismo, do respeito aos direitos humanos e da defesa do meio ambiente” (MOTA; SILVA, 2009, p. 40).

As soluções para os problemas ambientais ou ecológicos têm sido pensadas também nos termos de uma possibilidade revolucionária no sentido de transcender os níveis de degradação e aprofundamento da questão ambiental. Hoje mais do que nunca, o mundo necessita daquilo por que os primeiros pensadores socialistas, incluindo Marx, lutavam: a organização racional do metabolismo do homem com a natureza por meio de produtores associados livremente. A maldição fundamental a ser exorcizada é o próprio capitalismo (FOSTER; CLARCK, 2006, p.239).

A luta por uma sociedade onde a sustentabilidade ambiental também garanta uma sustentabilidade social é urgente e necessária.

1.3 Questão ambiental e questão social: interfaces com a realidade brasileira

Uma das novas configurações assumidas pela questão social atualmente é na degradação ambiental. Ao ocupar posição central nas arenas de discussão da sociedade, a temática ganhou visibilidade social, enveredando-se pelos movimentos sociais sob a face do novo ecologismo, incorporada não só por instituições governamentais, mas por Organizações Não Governamentais (ONGs) e instituições privadas. Expandindo-se para diversificadas áreas, a temática ambiental é introduzida ao lado de outros temas como a pobreza e as formas de exploração do trabalho, problemas urbanos de moradia e crescimento desordenado do espaço urbano, objeto de discurso dos trabalhadores rurais na luta pelo fim da propriedade privada da terra, principalmente no que se refere aos grandes latifúndios.

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Identificando-se com os problemas sociais, a temática ambiental transcende as discussões sobre devastação ambiental ou escassez dos recursos naturais ultrapassando-as e assumindo uma intrínseca correlação com a forma desigual pela qual se estabelecem as relações sociais,

No que tange ao campo ambiental a desigualdade se perpetua, a apropriação privada dos recursos existentes na natureza, bem como a maior exposição da população pobre aos riscos ambientais dá origem ao que Acselrad (2009) chamou de desigualdade ambiental, afirmando que a mesma configura-se no Brasil como uma expressão da desigualdade social.

Segundo o autor, a degradação ambiental tem sua gênese na desigualdade social. Ao concentrar nas mãos de uma minoria os benefícios do uso dos recursos naturais e ao possuir o poder de direcionar os “custos ambientais” para a população pobre estabelece-se uma relação de desigualdade e injustiça social e ambiental ocasionando uma pressão sobre o meio ambiente.

Assim, somente se poderia pensar em proteção do meio ambiente ou em igualdade ambiental com a promoção da justiça social,

[...] pois a exploração ambiental das populações mais desprotegidas faz da concentração dos males sobre os mais pobres um meio de extração de uma espécie de mais-valia ambiental pela qual os capitais se acumulam pela apropriação dos benefícios do ambiente e pela imposição do consumo forçado de seus efluentes indesejáveis aos mais pobres. Configura-se assim uma relação lógica entre a acumulação de riqueza e a contaminação do ambiente: certos capitais lucram com a transferência dos males ambientais para os mais desprotegidos (ACSELRAD, 2009, p. 77).

Dessa forma, configura-se também no campo ambiental uma injustiça que se estrutura, não só na apropriação dos recursos naturais, mas também na distribuição dos riscos inerentes na forma com que vêm sendo explorados. A injustiça ambiental representaria então, o modo como as populações mais vulnerabilizadas social e culturalmente, sofreriam os efeitos da danosa relação entre homem e meio ambiente oriunda da sociedade capitalista contemporânea (ACSELRAD, 2004).

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