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Cópia da sentença do Tribunal de Comércio de Lisboa proferida no processo de registo da marca nacional n

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Cópia da sentença do Tribunal de Comércio de Lisboa proferida no processo de registo da marca nacional n.° 336 811.

I - Relatório. - Jorge Fernando dos Santos Capinha Marques Rosa, residente no Largo da República da Tur- quia, 5, 1.°, C, em Lisboa, e Carlos Manuel Godinho Coin- cas, residente na Avenida de Pedro Álvares Cabral, 64, em Évora, vieram, ao abrigo do disposto nos artigos 38.° e seguintes do Código da Propriedade Industrial, interpor recurso do despacho do Sr. Vogal do Conselho de Admi- nistração do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) que concedeu o registo da marca nacional n.° 336 811, D'Arrasar.

Alegam, em síntese, que integram o conhecido grupo musical D'Arrasar, cujo primeiro álbum foi lançado em Fe- vereiro de 1999, com o mesmo nome, sendo a existência deste grupo com este nome artístico facto público e no- tório.

O despacho recorrido afastou a reivindicação do direito de prioridade do pedido de registo da marca n.° 336 998, efectuado pelos ora recorrentes, apresentado em 5 de Maio de 1999, e no qual foram surpreendidos com uma reclama- ção da ora titular do sinal registando, vendo-se então obri- gados a reivindicar a prioridade do mesmo por referência ao primeiro uso do nome artístico, na qual juntaram prova documental, a qual foi ignorada no despacho recorrido, pelo que carece de fundamento legal.

Os contratos de management e agenciamento celebra- dos com a G2N - Produções e Gestão Artística, L.da, ver- saram a criação do nome D'Arrasar, mas esta designação não é uma criação intelectual artística na acepção prevista no artigo 2.° do CDADC, mas, sim, um nome artístico, pelo que é irrelevante se foi criado por terceiro, uma vez que é usado pelos recorrentes desde 8 de Fevereiro de 1999.

Rege no caso, uma vez que embora o pedido de registo por si formulado o foi em data posterior ao pedido de re- gisto ora decidido, por si foi reivindicada prioridade por referência à data do lançamento do primeiro álbum, 8 de Fevereiro de 1999, desde a qual usam o nome artístico D'Arrasar, o disposto nos artigos 11.°, n.° 1, e 171.° do Código da Propriedade Industrial.

O despacho recorrido ignorou por completo os docu- mentos juntos pelos recorrentes no sentido da violação do direito de prioridade e não foi considerada a protecção ao nome artístico D'Arrasar dos ora recorrentes, que foi erra- damente qualificado como uma criação intelectual, sendo que a forma de aquisição de direitos sobre tal não são adquiridos pela forma prevista no artigo 11.° do CDADC, estando aos nomes artísticos também associados direitos de personalidade, ao abrigo das disposições combinadas dos artigos 72.° e 74.° do Código Civil e da própria presta- ção do intérprete, no domínio dos direitos conexos (título III do CDADC), gozando os primeiros de protecção na Constituição da República Portuguesa (CRP), tendo ocorrido violação do disposto no artigo 29.°, n.° 1, do CDADC.

O registo da marca em apreço deveria também ter sido recusado nos termos do disposto no artigo 189.°, n.° 1, alínea g), do Código da Propriedade Industrial.

Pedem a revogação do despacho recorrido.

Juntaram documentos - d e fl. 28 a fl. 65 dos autos. Cumprido o disposto no artigo 40.° do Código da Proprie- dade Industrial, o INPI remeteu o processo administrativo.

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Notificada a parte contrária, G2N - Produções e Gestão Artística, L.da, nos termos do disposto no artigo 41.° do Código da Propriedade Industrial, veio responder, alegan- do, em síntese, quanto à prioridade do registo requerido pelos recorrentes que são apenas os factos publicitados na publicação oficial que valem para efeitos de prioridade de apresentação, não tendo os recorrentes, no pedido de registo da marca nacional n.° 336 898, reivindicado qualquer prioridade ao abrigo do artigo 171.°, sendo pois a data de prioridade do pedido de registo em causa 5 de Maio de 1999, conforme resulta da conjugação do disposto nos ar- tigos 28.°, n.° 1, 287.°, n.° 1, alínea m), 171.° 181.° e 185.°, to- dos do Código da Propriedade Industrial.

Os recorrentes e as demais pessoas identificadas vincularam-se contratualmente com a recorrida, sendo o objecto desses contratos regular o uso do sinal D'Arrasar por aqueles, os quais foram por si seleccionados para um projecto musical por si concebido e executado e intitulado D'Arrasar, sendo, quer a obra quer o título, criação sua. Quanto à questão dos nomes artísticos, os aqui recor- rentes identificam-se, respectivamente, com os nomes ar- tísticos de Kapinha e CC e não pelo nome artístico invo- cado.

Pede a manutenção do despacho recorrido. Juntou documentos - d e fl. 102 a fl. 114.

2 - Saneamento. - O Tribunal é competente em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia.

Não existem nulidades que invalidem todo o processa- do.

As partes têm personalidade e capacidade judiciárias e são legítimas.

Não há outras excepções ou questões prévias que cum- pra conhecer e que impeçam o conhecimento do mérito.

3 - Fundamentos:

A) De facto. - Face à prova documental junta encontram-se assentes, com interesse para a decisão do recurso, os seguintes factos:

3.1 -Por despacho de 19 de Março de 2001, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 3/2001, de 29 de Junho, o Sr. Vogal do Conselho de Administração do INPI, por delegação de competências, concedeu o registo de marca nacional n.° 336 811, D'Arrasar, pedido em 30 de Abril de 1999.

3.2 - Tal marca destina-se a assinalar os seguintes ser- viços da classe 41.ª: actividades culturais, grupo musical. 3.3 - A marca em causa é composta pelo vocábulo «d'arrasar», impresso em letras de imprensa estilizadas, sendo o «d» inicial minúsculo e as demais letras maiúscu- las, inserido em cercadura cinzenta sobre um «d» maiús- culo em negro com apóstrofo estilizado inserido num cír- culo atravessado por um raio em obliquo, e não reivindicou cores.

3.4 - Os recorrentes apresentaram em 5 de Maio de 1999 pedido de registo da marca D 'Arrasar, com a confi- guração descrita no n.°3.3, assinalando grupo musical na classe 41.ª, constando da respectiva publicação no Bole- tim da Propriedade Industrial como data de prioridade 5 de Maio de 1999.

3.5 - Em exposição apresentada em 10 de Fevereiro de 2000 no respectivo processo de registo vieram reivindicar o uso da marca em causa no período compreendido entre 8 de Fevereiro de 1999 e 5 de Maio de 1999.

3.6 - Em 9 de Fevereiro de 2000, a EMI - Valentim de Carvalho, Música, L.da, declarou que Ricardo Nuno de

Mongiardim Flor e Malainho Garcia, Carlos Manuel Godi- nho Coincas, Jorge Humberto Cascais da Silva, Jorge Fer- nando dos Santos Capinha Marques Rosa e Jorge Hum- berto Baltazar Lopes, na qualidade de únicos e actuais componentes do grupo artístico denominado D'Arrasar, celebraram consigo um contrato de exclusividade de gra- vação em 19 de Outubro de 1998 e que, ao abrigo de tal contrato, gravaram para e por sua conta o fonograma de longa duração com o título D 'Arrasar, por si pela primeira vez editado e publicado em 8 de Fevereiro de 1999.

3.7-No jornal 24 Horas, de 26 de Dezembro de 1998, foi publicada uma notícia com o título «Eles prometem ar- rasar o mercado» e o lead «Sem medo da concorrência, os D'Arrasar, a nova boys band portuguesa, querem seguir à [...] o nome do grupo e seduzir o público».

3.8-No jornal 24 Horas, de 13 de Fevereiro de 1999, foi publicada uma notícia com o título «Festa d'Arrasar» e o lead «Elementos de outros grupos do género não falta- ram à apresentação oficial da nova banda. Mas os D'Arrasar foram, naturalmente, os reis da noite».

3.9 - Foram publicadas outras referências à banda D'Arrasar em publicações e datas não identificadas.

3. 1 0 - E m 23 de Setembro de 1998 entre a recorrida e Ricardo Nuno de Mongiardim Flor e Malainho Garcia, que usa o nome artístico de Ricardo, Carlos Manuel Godinho Coincas, que usa o nome artístico de CC, Jorge Humberto Cascais da Silva, que usa o nome artístico de Joca, Jorge Fernando dos Santos Capinha Marques Rosa, que usa o nome artístico de Kapinha, e Jorge Humberto Baltazar Lo- pes, que usa o nome artístico de Jimmy, estes na qualida- de de actuais membros do grupo musical provisória ou definitivamente intitulado D'Arrasar, foi celebrado um acor- do intitulado «contrato de management», nos termos do qual o grupo nomeou a recorrida sua manager, tendo ain- da sido estipulado que «o nome (expressão figurativa e nominativa), do grupo provisória ou definitivamente intitu- lado D'Arrasar foi criado pelo manager e é propriedade do mesmo, aceitando desde já o grupo não o usar, isolada- mente» (cláusula 4.ª).

3.11 - Em 23 de Setembro de 1998, entre a recorrida e Ricardo Nuno de Mongiardim Flor e Malainho Garcia, que usa o nome artístico de Ricardo, Carlos Manuel Godinho Coincas, que usa o nome artístico de CC, Jorge Humberto Cascais da Silva, que usa o nome artístico de Joca, Jorge Fernando dos Santos Capinha Marques Rosa, que usa o nome artístico de Kapinha, e Jorge Humberto Baltazar Lo- pes, que usa o nome artístico de Jimmy, estes na qualida- de de actuais membros do grupo musical provisória ou definitivamente intitulado D'Arrasar, foi celebrado um acor- do intitulado «contrato de agenciamento», nos termos do qual ficou estipulado que «o nome (expressão figurativa e nominativa) do grupo provisória ou definitivamente intitu- lado D'Arrasar foi criado pelo agente e é propriedade do mesmo, aceitando desde já o grupo não o usar, isolada- mente ou em conjunto, se por algum meio o grupo termi- nar a sua carreira ou se algum membro do grupo denun- ciar o contrato ora celebrado» (cláusula 3.ª).

B) De direito. - Marca é, em termos genéricos, «o si- nal distintivo que serve para identificar o produto ou o serviço proposto ao consumidor» (Carlos Olavo in Proprie- dade Industrial, p. 37)-artigos I 65.° e 167.° do Código da Propriedade Industrial, ou, e na definição ainda actual de Oliveira Ascenção (in Direito Comercial, vol. II, Pro- priedade Industrial, p. 139), «um sinal distintivo na con- corrência de produtos e serviços».

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A função essencial da marca é a sua função distintiva, ou seja, a marca distingue e garante que os produtos ou serviços se reportam a uma pessoa que assume pelos mesmos o ónus de uso não enganoso, nessa medida cum- prindo uma função de garantia de qualidade dos produtos e serviços, por referência a uma origem não enganosa e podendo, ainda, contribuir por si só para a promoção dos produtos ou serviços que assinala - cf. Luís Couto Gon- çalves, in Direito de Marcas, pp. 17 a 30.

É integralmente aplicável aos autos, não obstante a entrada em vigor em 1 de Julho de 2003 do novo Código da Propriedade Industrial, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 36/ 2003, de 5 de Março, o Código da Propriedade Industrial de 1995 (designado infra apenas por Código da Proprieda- de Industrial), atento o disposto no artigo 10.° do já citado Decreto-Lei n.° 36/2003, de 5 de Março.

Os artigos 188.° e 189.° do Código da Propriedade In- dustrial assinalam fundamentos de recusa de registo que consubstanciam proibições ao registo de marca e restrin- gem a sua composição, que é em princípio livre.

No caso concreto dos autos face aos argumentos ex- pendidos pelos recorrentes, pela recorrida e pelo INPI, na decisão sob recurso há que aquilatar se a marca nacional pedida pelos recorrentes é prioritária relativamente à marca concedida pelo despacho recorrido e se no despacho re- corrido terá sido violado nome artístico titularidade dos recorrentes.

Estabelece o artigo 189.°, n.° 1, alínea m), do Código da Propriedade Industrial: «Será recusado o registo das mar- cas [...] que, em todos ou alguns dos seus elementos con- tenham:

m) Reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de marca anteriormente registada por outrem para o mesmo produto ou serviço, ou produto ou servi- ço similar ou semelhante, que possa induzir em erro ou confusão o consumidor.»

A usurpação pode revestir duas espécies, a contrafac- ção - reprodução total de marca anterior - e a imitação - reprodução aproximada de marca anterior.

Se a contrafacção não reveste dificuldades de maior na sua determinação e subsunção à disposição supratranscri- ta, já a imitação oferece maior complexidade.

O nosso Código da Propriedade Industrial optou por fornecer um conceito de imitação previsto no artigo 193.°, n.° 1. Nos termos deste preceito existe imitação ou usurpa- ção no todo ou em parte quando, cumulativamente:

1.° A marca imitada tiver prioridade;

2.° Exista identidade ou afinidade manifesta dos pro- dutos ou serviços assinalados;

3.° Tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou fo- nética que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de associação com a marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão de depois de exame atento ou confronto.

O primeiro requisito, a prioridade, é precisamente a pri- meira questão a dilucidar e analisar nos presentes autos, já que, sem qualquer dúvida, existe manifesta afinidade e identidade entre os serviços assinalados pela marca regis-

tanda e os serviços visados assinalar pela marca cujo pe- dido de registo é invocado pelos recorrentes - respecti- vamente actividades culturais e grupo musical na classe 41.ª e grupo musical na mesma classe 41.ª- e as expressões que compõem os sinais em confronto apresentam total si- militude gráfica, figurativa e fonética, ou seja, apresentan- do tal similitude de sinais que a possibilidade de erro e confusão é certa.

Ou seja, no caso concreto temos, sem qualquer dúvida, preenchidos os 2.° e 3.° requisitos do conceito legal de imitação, apenas havendo que analisar da existência do 1.° requisito.

O pedido de registo ora titularidade da recorrida foi apresentado em 30 de Abril de 1999.

Os recorrentes apresentaram o seu pedido de registo no dia 5 de Maio de 1999.

Tratando-se o pedido de registo apresentado pela recor- rida de uma marca nacional, atento o disposto no arti- go 70.° do Código da Propriedade Industrial, regula o dis- posto no artigo 11.° do mesmo diploma, onde se estabelece, no seu n.° 1, que, salvo os casos previstos neste diploma, o registo será concedido àquele que primeiro apresentar regularmente o pedido com os respectivos documentos.

A questão a dilucidar é de se a reivindicação de priori- dade por uso de marca livre, nos termos do disposto no artigo 171.° do Código da Propriedade Industrial tem de ser feita desde logo, no pedido original e sujeita a publicação, ou se, pelo contrário, pode ser feita no decurso do pro- cesso de registo, no caso por meio de uma exposição su- plementar.

Estabelece o artigo 181.°, n.° I, do Código da Proprieda- de Industrial que o pedido de registo de marca deve ser feito por requerimento, formulado em impresso próprio, redigido em língua portuguesa, que contenha, entre outros elementos, os produtos ou serviços a que a marca se des- tina, agrupados pela ordem das classes da classificação internacional dos produtos e serviços, designados em ter- mos precisos, de preferência pelos termos da lista alfabéti- ca da referida classificação e o país onde se tenha apre- sentado o primeiro pedido de registo da marca e a data e número dessa apresentação, no caso de o requerente pre- tender reivindicar o direito de prioridade - cf. alínea h) - disposição esta que é consequência da disposição conti- da no artigo 12.°

Excepções à regra geral contida no artigo 11.°, n.° 1, encontramo-las nomeadamente nos n.os 7 e 9 do artigo 12.° e artigo 13.° do Código da Propriedade Industrial.

A previsão do artigo 171.° não consagra precisamente uma prioridade alargada, mas, sim, apenas um direito à prioridade para no prazo de seis meses ali previsto efectu- ar o registo ou reclamar contra o registo requerido por outrem.

Ou seja, a prioridade de apresentação de registo é re- gulada pelo artigo 11.°, e o direito de prioridade para efec- tuar o registo, pelo artigo 171.°-cf a redacção da alínea b) do artigo 33.°, n.° 1, e do artigo 12.°, n.° 1, do Código da Propriedade Industrial.

Voltando à nossa questão concreta parece-nos eviden- te que a prioridade - data da apresentação regular do pedido de registo que os recorrentes ora invocam - foi devidamente publicitada. E o direito à prioridade? Esse não foi sequer invocado no pedido de registo, como ambas as partes concordam, e não foi mencionado na publicação do pedido.

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Sem este dado - não se trata de prioridade mas de di- reito a prioridade que, para terceiro interessado tem o má- ximo interesse - que pode, como vemos no caso concre- to, ver postergada a prioridade de um pedido apresentado regularmente primeiro por pedido posterior com reivindica- ção de direito de prioridade - como assegurar os direitos de terceiros?

Não resulta, porém, da enumeração do artigo 181.° a necessidade na instrução do pedido da reivindicação de prioridade nos termos do artigo 171.° Não nos parece, em- bora reconheçamos que se trata de matéria muito sensível, que tenhamos uma lacuna, isto porque há que interpretar a lei seguido os ditames do artigo 9.° do Código Civil e o legislador acabara de regular a matéria 10 preceitos atrás. Acresce que a reivindicação de prioridade com base em registos não nacionais não foi esquecida-alínea g), já citada, pelo que também a interpretação sistemática favo- rece esta ideia.

E assim sendo, podiam os recorrentes, como o fizeram, invocar posteriormente direito de prioridade diverso da prioridade resultante da apresentação regular do pedido. Resta, pois, apreciar tal reivindicação, nos termos do disposto no artigo 171.°, n.°2, do Código da Propriedade Industrial.

Resulta dos factos dados como provados nos n.os 3.6 a 3.9 que o nome artístico de um grupo musical D'Arrasar foi usado, em relações contratuais com terceiros pelo me- nos desde Outubro de 1998 (contrato com a EMI-Va- lentim de Carvalho) e para o público pelo menos desde 26 de Dezembro de 1998.

A marca, tal como foi requerido o seu registo pelos re- correntes, não a vemos porém usada nem na sua configu- ração cujo registo se pediu nem como marca assinalando um produto «grupo musical». Quanto muito, o sinal simi- lar (e ainda assim sem a mesma configuração exacta) apos- to nas capas de CD que se acham reproduzidas por foto- cópia sem qualquer outra referência de data pode ser entendido como assinalando os próprios CD, por referên- cia à sua fonte produtiva (o grupo?) e não ao grupo em si. Ou seja, a conclusão a que chegamos é a mesma a que chegou o INPI - não podemos ter por verificada a reivin- dicação de prioridade por uso de marca livre, pelo que a prioridade pertence ao sinal registando, apresentado em data anterior.

Passemos à análise do segundo argumento avançado pelos recorrentes- n o m e artístico, violação do dispos- to no artigo 189.°, n.° 1, alínea g), do Código da Proprieda- de Industrial, de disposições do CDADC, do Código Civil e da CRP.

Estabelece o artigo 189.°, n.° 1, alínea g), do Código da Propriedade Industrial: «Será recusado o registo das mar- cas [...] que, em todos ou alguns dos seus elementos, con- tenham:

m) Nomes individuais ou retratos sem obter permis- são das pessoas a quem respeitam e, sendo já falecidos, dos seus herdeiros ou parentes até ao 4.° grau e, mesmo quando obtida, se produzirem o desrespeito ou desprestígio daquelas pessoas;» A primeira questão a resolver abstractamente é a de se a protecção conferida neste preceito inclui o nome ar- tístico, não obstante a referência literal a nomes indivi- duais.

Estabelece o artigo 29.°, n.° 1. do C D A D C que: «Não é permitida a utilização de nome literário, artístico ou cientí- fico susceptível de ser confundido com outro anteriormen- te usado em obra divulgada ou publicada, ainda que de género diverso, nem como nome de personagem célebre da história das letras, das artes ou das ciências.»

Este preceito protege a identificação do autor, enquan- to tal - cf. artigo 28.°

A protecção conferida ao nome civil apenas é extensí- vel ao pseudónimo (artigos 72.° e 74.° do Código Civil), quando notório, o que todo foi sequer invocado, sendo que a protecção do nome artístico deriva dos preceitos citados do C D A D C e não destes-cf. neste sentido Pires de Lima e Antunes Varela, in Código Civil Anotado, i vol., 4.ª ed., pp. 106 e 107.

Os recorrentes não esclarecem a que título invocam o nome artístico do grupo - se como autores ou intérpre- tes-mas partindo do princípio que se tratam de intérpre- tes, uma vez que é invocada a protecção dos direitos co- nexos e não é indicada qualquer obra, rege o disposto no artigo 180.° do CDADC.

Não vemos objecção à protecção, nos termos do dis- posto no artigo 189.°, n.° 1, alínea g), do Código da Proprie- dade Industrial do nome artístico do autor, previsto nos artigos 28.° e 29.° do CDADC. Tratam-se ainda de nomes individuais, mesmo tratando-se de obras colectivas, pelo que nenhum problema levanta a literalidade do preceito, sem prejuízo de mais aprofundada reflexão.

Mas este concreto nome surge invocado como um nome de um grupo ou banda musical, e tanto quanto nos aper- cebemos enquanto pseudónimo de artista, cuja protecção se limita ao artigo 180.° do C D A D C citado, nos termos do artigo 176.°, n.os 1 e 2, do mesmo diploma.

Merece este nome «colectivo» a mesma protecção que um nome artístico individual? Não vemos sequer necessi- dade de responder a esta questão, devido à circunstância de resultar abundantemente dos elementos juntos aos au- tos e, consequentemente, da matéria de facto provada que, a existir enquanto nome artístico de intérpretes, D'Arrasar não pertence aos recorrentes mas a cinco pessoas, de entre as quais os recorrentes.

Ou seja, na impossibilidade de aplicação do disposto no artigo 181.° do CDADC, por falta de elementos para tanto, não podemos reconhecer aos recorrentes legitimidade subs- tantiva (a adjectiva é-lhes garantida pelo facto de serem titulares de um registo de marca idêntico) para defender este concreto nome artístico.

Ou seja, entendendo o sinal como nome artístico de uma colectividade de intérpretes, é extremamente duvidoso que no caso concreto caiba na previsão do artigo 189.°, n.° 1, alínea g), do Código da Propriedade Industrial e, por outro lado, mesmo que assim se não entendesse, os recorrentes não têm legitimidade substantiva para nesta sede o defender.

Entendemos que a protecção como marca de outro tipo de sinais é aliciante sob determinadas perspectivas, mas a verdade é que os sujeita às regras próprias destes sinais distintivos do comércio, não pensados de todo para cer- tas situações e não adequados a resolver determinados conflitos.

Caso se entendesse o sinal registando, ele próprio uma criação, uma obra merecedora de protecção - questão que não é levantada nos termos do recurso - a solução dada pelo INPI afigura-se acertada face à prova produzida-fac- tos n.os 10 e 11.

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Uma última palavra sobre a questão da constitucionali- dade levantada pelos recorrentes.

Em sede de conclusões referem que o despacho recor- rido é inconstitucional, sem referir porém qualquer argumen- to que não que o nome (artístico) dos recorrentes gozam da correspondente protecção na CRP.

A inconstitucionalidade é um vício privativo de normas ou de interpretação das mesmas, nunca de decisões con- cretas.

Não é invocado qualquer preceito constitucional que tenha sido violado por qualquer destas formas (aplicação de norma inconstitucional ou interpretação de norma em desconformidade com a lei fundamental) e compulsada a decisão e seus fundamentos também nele não discernimos qualquer inconstitucionalidade no sentido referido.

O despacho recorrido, não tendo incorrido em violação de qualquer dos preceitos analisados, deve, pois, ser man- tido.

4 - Decisão. - Pelo exposto, negando provimento ao recurso, mantém-se o despacho recorrido que concedeu o pedido de registo da marca nacional n.° 336 81 D'Arrasar, concedendo-se assim protecção jurídica nacional à referi- da marca.

Fixo ao recurso o valor tributário de 80 UC - artigo 6.°, alíneas a) e q), do Código das Custas Judiciais.

Custas pelos recorrentes - artigos 446.°, n.°S 1 e 2, do Código de Processo Civil e 14.°, alínea j), do Código das Custas Judiciais.

Registe e notifique.

Após trânsito, devolva o processo apenso ao INPI, re- metendo cópia da sentença - artigo 44.° do Código da Propriedade industrial.

Lisboa, 12 de Janeiro de 2004 (acumulação de serviço). - O Juiz de Direito, (Assinatura ilegível.)

Referências

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