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INFLUÊNCIAS DE BLOOMFIELD SOBRE A LINGUÍSTICA MODERNA Hely D. Cabral da Fonseca*

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Academic year: 2021

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INFLUÊNCIAS DE BLOOMFIELD SOBRE A

LINGUÍSTICA MODERNA

Hely D. Cabral da Fonseca*

RESUMO — Este artigo tem como objetivo principal mostrar a influência de Bloomfield sobre a Lingüística Moderna. Procedemos a uma leitura comentada do artigo A Set of Postulates for the Science of Language1

escrito por Bloomfield em 1926, procurando relacioná-lo à obra de Chomsky Current Issues in Linguistics, escrita em 1970.

PALAVRAS-CHAVE: Postulados. Categorias. Morfemas.

I - INTRODUÇÃO

O artigo “A Set of Postulates for the Science of Language”1,

escrito por Bloomfield em 1926, foi originalmente publicado pela revista Language em 1926 e reeditado posteriormente por M. Joos em 1966.

No texto Bloomfield procura usar dados empíricos como suporte para suas afirmações teóricas, elabora, justifica os conceitos teóricos e procura estabelecer universais. A respeito da ordenação de regras em fonologia muito se escreveu e encontramos em Bloomfield um texto clássico, precursor da Lingüística Moderna.

Os comentários seguem os tópicos do artigo: I - Introdu-ção, II - Forma e Significado, III - Morfema, palavra, frase, IV

*Prof. Titular. (DLA/UEFS). E-mail: cabral@uefs.br

1A responsabilidade da tradução do original em inglês para

o português é da autora. A tradução não é literal e não é integral. Somente os pontos considerados relevantes a esse trabalho foram traduzidos.

Universidade Estadual de Feira de Santana – Dep. de Letras e Artes. Tel./Fax (75) 3224-8265 - Av. Transnordestina, S/N - Novo Horizonte - Feira de Santana/BA – CEP 44036-900. E-mail: dla@uefs.br

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- Exemplo especial de axioma, V - Fonemas, VI - Construção, categorias e partes do discurso, VII - Alternância, VIII - Linguística histórica.

Devemos notar que o artigo contém definições e axiomas, seguindo uma ordem numérica, sem repetições. Além de pro-curar relacionar a influência de Bloomfield em Chomsky, vamos eleger alguns pontos considerados relevantes para este tra-balho.

Na introdução Bloomfield discorre sobre a vantagem de se adotar postulados matemáticos como instrumento para análi-ses lingüísticas porque, segundo o autor, as definições e postulados ajudam o pesquisador a bem delimitar seu campo de estudo.

O autor acrescenta que o método de postulados pode fazer avançar o estudo das línguas porque nos força a estabelecer explicitamente o que se assume, a definir nossos termos, e a decidir que coisas podem existir independentemente e quais são interdependentes.

No 4o parágrafo, a delimitação do seu campo de estudo fica

bem claro: The physiologic and acoustic description of acts of

speech belongs to other sciences than ours” (Joos, p.26), A

fisiologia e descrição acústica dos atos de fala pertencem a outras ciências que não a nossa (tradução da autora).

Continuando a direcionar o campo de estudo da lingua-gem, Bloomfield afirma que a existência e interação de grupos sociais unidos pela língua podem ser estudados pela psicologia e pela antropologia. Colocando à parte campos que seriam de outras ciências, como a psicologia e antropologia, Bloomfield sente-se livre para falar de traços vocálicos ou sons.

No 5o. Parágrafo, Bloomfield faz um resumo do

pensamen-to behaviorista em prática na época, citando a fala como estímulo e reação, pensamento dominante na época. Fala da língua como hábito social prenunciando o surgimento da Sociolin-guística. Cita a aquisição da língua como herança dos mais velhos, abrindo caminho para o que hoje é o campo da aqui-sição da linguagem.

A imensa contribuição de Bloomfield é atestada pelo de-senvolvimento da linguística de campo (field linguistics), com

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a valorização do trabalho de investigação linguística com base nos relatórios de exploradores, viajantes e missionários. Os pesquisadores europeus estavam familiarizados com o sistema de estudos da gramática greco-latina. Começaram a surgir estudos sobre línguas que não se encaixavam nos moldes dominantes da época. Franz Boas (1858-1942) Edward Sapir (1884-1939) e Bloomfield são os introdutores dos novos estu-dos sobre as línguas.

II - FORMA E SIGNIFICADO

Retomarei aqui algumas definições de Bloomfield que repercutem até nossos dias na Lingüística de um modo geral, e no campo de estudos específicos da Fonética e da Fonologia.

Def. 1 - Um ato de fala é um enunciado (sentença) O exemplo dado como ato de fala é o caso de uma criança que querendo adiar a hora de ir para a cama, diz: “estou com fome”.

No uso da expressão da língua inglesa “speech acts” e os exemplos que usou para elucidar esse conceito Bloomfield foi muito feliz, pois sua influência se fez sentir muito no campo da Lingüística. Searle (1969) escreveu um livro sob a influência deste conceito presente inicialmente na obra bloomfieldeana. Def. 4 - A totalidade de expressões que podem ser pro-duzidas em uma comunidade lingüística é a língua daquela comunidade.

Essa definição 4 é retomada pela Sociolingüística com pequenos ajustes de vocabulário.

Def. 6 - Os traços vocálicos comuns a expressões idênticas são formas: os traços correspondentes ao estímulo-reação compõem o significado.

Esse posicionamento behaviorista de Bloomfield direcionou a noção que se teve do que era aprendizagem em línguas até por volta da década de 60.

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III - MORFEMA, PALAVRA, FRASE

Def. 9 - Uma forma mínima é um morfema que não pode ser analisado em formas menores recorrentes e a unidade mínima do significado desse morfema é um semema.

Def. 10 - Uma forma que pode ocorrer livremente como expressão é forma livre e a que não pode ocorrer livremente é uma forma presa.

Essa noção se usa na gramática gerativa . Como exemplo temos Ouhalla (1991, p. 141) que toma para seus trabalhos essa mesma definição de Bloomfield.

Def.11 - Uma forma mínima livre é uma palavra.

O exemplo utilizado por Bloomfield vem da língua inglesa, blackbird [ _/ _ ], que diferencia-se da frase “black bird” por possuírem diferentes acentuações e por terem significados diversos. Esse mesmo exemplo é retomado para explicação de acentuação de palavras compostas na obra The Sound Pattern

of English (1968), de Chomsky e Halle. Uma palavra é definida

como a forma que pode ser proferida por si só, com significado próprio, mas que não pode ser analisada em partes que pode-riam ser proferidas separadamente. Cada parte tem um signi-ficado próprio.

Ainda a respeito do significado próprio das palavras, Bloomfield cita o exemplo das palavras da língua inglesa “quick” que não pode ser segmentada e “quickly” que pode ser segmentada em duas partes (quick+ly) chamando, porém, a atenção para o fato que “ly” como forma presa não tem significado próprio se isolada.

Def. 13 - A noção de ‘formativo’ como os elementos que compõem uma palavra.

Essa terminologia é retomada pela lingüística atual, em SPE (op.cit.) por exemplo.

Def. 14 - As formas de uma língua são finitas em número. Chomsky parece ter se inspirado nesta definição para

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preparar a definição que ele mesmo apresenta em “Aspects of Syntact Structures (1957).

IV - EXEMPLO DE UM AXIOMA ESPECIAL

Nesta parte do artigo Bloomfield abre espaço para acomo-dar as diferenças entre as línguas, mencionando o fato de que algumas inovações se farão necessárias em suas definições e axiomas. Como exemplo podemos citar o estudo que o autor fez da língua Menomin, a qual não se acomodaria bem dentro da terminologia de origem greco-latina disponível para descrição na época.

O fenômeno de línguas diferentes, para ele, iriam requerer novos modelos de análise, novas afirmações e novos axiomas. Tudo isso poderia abalar as crenças estabelecidas no campo de estudos da linguagem àquela época.

V - FONEMAS

A noção de ‘alofone’ estaria por vir, mas o fenômeno como tal já é reconhecido pelo autor.

A forma como ele trata a acentuação de palavras e os tons do chinês abrem caminho para a teoria gerativa dos tempos atuais. Segmentos de uma língua com tom (tones) e acentua-ção (stress) já constavam nesse artigo.

Bloomfield procura explicar a razão pela qual os lingüistas daquela época, quando confrontados entre a forma e o signi-ficado, acabavam elegendo a forma como objeto de estudo. Segundo ele, a escolha estaria relacionada aos métodos de análise lingüística disponíveis até então.

Def. 20 - As ordens que ocorrem na língua são os padrões sonoros de uma língua.

Ex. Do inglês /st/ em início de palavra e nunca /ts/. O conceito de “sound patterns” foi bem aceito e incorpo-rado pela linguística moderna. Sabemos que Sapir utiliza os mesmos termos na sua obra “Sound Patterns in Language”

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escrito em 1925. Então, a célebre obra SPE já referida neste trabalho é um exemplo do uso da expressão “Sound Pattern” encontrada em Sapir e em Bloomfield.

VI - CONSTRUÇÃO, CATEGORIAS E PARTES DO

DISCURSO

22 - Axioma 8 - Formas e constituintes, ordens de cons-tituintes foram termos explicados por Bloomfield e que foram adotados pela teoria gerativa em sintaxe por Chomsky na Teoria de Princípios e Parâmetros.

Def. 23- Significados construcionais

Considero importante que Bloomfield tenha reservado uma definição para significados construcionais, porque tendo ele agido assim, torna-se difícil justificar a posição de exclusão da semântica por parte dos neo-bloomfieldeanos.

Def. 24 - Construção morfológica

Para Bloomfield a palavra se constituía de formativos. Por exemplo, a forma “books” do Inglês seria composta por dois formativos. Um formativo “book” mais um formativo “s” que traz o significado de objeto em número.

Def. 25 - A construção de formas livres (e formativos de frases) em uma frase é uma construção sintática.

Exemplo do inglês “the man is beating the dog” é anali-sado por ele da seguinte forma:

The man is beating the dog

‘O homem está batendo no cachorro’ forma livre forma livre forma livre ator agindo com objetivo

Com esta definição Bloomfield atinge a área da sintaxe, parte das idéias que ele lançou estão presentes na gramática gerativa moderna, com a teoria dos casos por exemplo.

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Def. 27 - A forma máxima de um enunciado é uma sentença. Assim, uma sentença é uma forma que, em um enunciado, não é parte de uma construção maior.

28 - Axioma 9 - O número de construções em uma língua é um sub-múltiplo de um número de formas.

30 - Axioma 10 - Cada posição em uma construção pode ser preenchida somente por certas formas.

Ex. Book + s

formativo + formativo

(significado = objeto em número)

A primeira posição pode ser preenchida somente por ra-dicais de nome (noun-stems) e, a segunda, somente por afixos de número, tal como o afixo de plural /s/ exemplificado no caso acima.

Def. 31 - O significado de uma posição é um significado funcional.

O significado construído de uma expressão pode ser di-vidido em partes, sendo um significado para cada posição; essas partes são as partes funcionais. Essa idéia de partes e funções está preente na gramática gerativa em Chomsky.

Def. 35 - Os significados funcionais e significados-classe de uma língua são as categorias da língua.

Assim, Bloomfield prossegue determinando as categorias da língua inglesa partindo de significados funcionais: objeto, número, ator, ação, fim; de significados- classe: objeto, núme-ro, predicativo, action (expressões de verbo finito).

Bloomfield, ao estabelecer categorias e funções de uma língua, é precursor da noção de categorias funcionais presen-tes hoje na gramática gerativa de Chomsky.

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VII - ALTERNÂNCIA

39 -Axioma 11 - Em uma construção, um fonema pode alternar com outro fonema de acordo com os fonemas acom-panhantes. Podemos constatar esse axioma bloomfieldeano no caso de alternâncias fonéticas como no exemplo da Def.45 abaixo.

41 - Axioma 12 - Em uma construção, uma forma pode alternar com outra de acordo com as formas acompanhantes. 43 - Axioma 13 - Ausência de som pode ser uma alternância fonética ou de formas.

Def. 44 - Tal alternância é um elemento zero. Def. 45 - Alternância automática

Se uma alternância de forma é determinada pelos fonemas das formas acompanhantes, trata-se de uma alternância auto-mática.

Ex. A alternância de [-s, -z, -ez] no sufixo regular de plural dos substantivos em Inglês é automática, sendo determinada pelo fonema final do radical do nome (noun-stem).

Isso difere da alternância fonética, uma vez que nem todo [-s] em inglês está sujeito a essa alternância; mas só as formas citadas acima.

Def.46 - A classificação de fonemas implícitos no padrão de sons [par.20], as alternâncias fonéticas [par.40] e alternâncias automáticas de formas [pár. 45] de uma língua são o padrão fonético (sound pattern) daquela língua.

VIII - LINGÜÍSTICA HISTÓRICA

Nessa parte final Bloomfield expõe conceitos que hoje se enquadram dentro da Sociolínguística. O autor parece descre-ver métodos desse campo de estudo. Ele define dialeto, língua padrão, conseqüências de língua em contato, mudança de som

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e mudança contínua, esclarecendo que os fonemas e classes de fonemas podem mudar gradualmente.

Para Bloomfield, os axiomas e as definições por ele formu-lados facilitariam a melhor definição de fenômenos gramaticais de qualquer língua, tanto no campo da morfologia como no caso de reduplicação, como na sintaxe a respeito de concordância, regência, ordem de palavras; embora ele não pudesse garantir que definições extras fossem aplicáveis universalmente. Ou-tras noções, tais como sujeito, predicado, verbo, nome, seriam adequadas a algumas línguas e poderiam até necessitar de novas definições que se adequassem a línguas desconheci-das. Quanto a esse particular, acreditamos não haver até hoje um consenso quanto a que termos usar para bem descrever os diferentes fenômenos lingüísticos.

CONCLUSÕES

Pela da leitura do artigo “A Set of Postulates for the Science of Language” podemos afirmar que Bloomfield domi-nou todos os campos dos estudos da linguagem. Ele teve influência dominante sobre o desenvolvimento da Fonética e Fonologia, principalmente sobre a última. Em sua prática de pesquisa, Bloomfield usou sistemas derivacionais com regras ordenadas. A melhor relação que posso fazer entre Bloomfield e Chomsky pelas leituras realizadas foi justamente nessa prá-tica de uso de sistemas derivacionais e na introdução do ordenamento da aplicação de regras, onde Bloomfield mais fez sentir sua influência na Lingüística Moderna.

A respeito dessa forte influência bloomfieldiana nos estu-dos modernos citaremos o capítulo 4 de Current Issues in

Linguistic Theory de Chomsky (1970). O capítulo trata do

componente fonológico da gramática gerativa. Podemos notar claramente a influência de Bloomfield em Chomsky em vários pontos como, por exemplo, na seleção do vocabulário utilizado “string of formatives” (pág. 65). Chomsky ainda menciona: segmentos, categorias, traços distintivos, enunciado, traços binários, constituinte derivado, termos que aparecem nos tra-balhos de Bloomfield e que são adotados por Chomsky.

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Na pág. 70, Chomsky refere-se a Bloomfield, quando das questões de ordenamento na teoria de morfofonêmica em Menomin (1939), língua estudada por Bloomfield, como sendo o primeiro exemplo moderno de um segmento de uma gramática gerativa com regras ordenadas.

Podemos afirmar, portanto, que o conceito de ordenamento de regras tão difundido nos estudos lingüísticos modernos tem Bloomfield como seu referente principal.

BLOOMFIELD’S INFLUENCES ON MODERN LINGUISTICS

ABSTRACT — This paper has as its main objective to show Bloomfield’s influence on Modern Linguistics. We present a commented reading of “A Set of Postulates for the Science of Language” written by Bloomfield (1926), trying to relate it to Chomsky’s Current Issues in Linguistics written in 1970.

KEY WORDS: Postulates. Categories. Morphemes.

REFERÊNCIAS

BLOOMFIELD, L. “A Set of Postulates for the Science of Language”. In: JOSS, M. (Ed.). Readings in Linguistics I. 1966.

CHOMSKY, N. Current Issues in Linguistic Theory. Chapter 4. Paris: Moulton, Paris, 1970.

OUHALLA, J. Functional Categories and Parametric Variation. New York, USA: Routledge, 1991.

HOCKETT, C. “Leonard Bloomfield: After fifty years”. Historiogra-phia Linguistica. ano 26, v. 3, p. 295-311, 1999.

Recebido em: 23/08/2010 Aprovado em: 24/08/2010

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