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EMENTA: Greve dos servidores. Aplicação do Parecer 004/2016/GCU/AGU.

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Parecer 271/2016

EMENTA: Greve dos servidores. Aplicação do Parecer 004/2016/GCU/AGU.

1 - A Consulta

Por meio de despacho datado de 22.12.2016 o Assessor de Desenvolvimento Institucional da Reitoria da UTFPR solicita pronunciamento desta Procuradoria acerca de dois documentos protocolados pela Coordenação Geral do SINDITEST abordando as possíveis formas de negociação em função da recente greve dos servidores técnico-administrativos.

2. O presente Parecer Jurídico se emite na forma da Portaria n° 1.399, de 05.10.2009, da

Advocacia-Geral da União.

II -Apreciação da consulta II. A- Questões preliminares

II.A.1 - Juntada de parecer apócrifo

3. Ao compulsar o parecer jurídico encaminhado para conhecimento pelo Coordenar do SINDITEST, observa-se que tal documento encontra-se sem assinatura, o que o torna sem qualquer validade jurídica. Apesar deste impeditivo, considerando a solicitação da Reitoria desta Universidade, passo a tecer as necessárias considerações.

II.A.2 - Finalidade de abrangência deste parecer

4. Preliminarmente, cabe o registro de que a presente manifestação jurídica tem por escopo assistir a autoridade assessorada no controle interno da legalidade administrativa dos atos a serem praticados

ou daqueles já efetivados.

5. Assim, insere-se nas atribuições funcionais dos membros da Procuradoria Federal, a indicação ao gestor de possíveis riscos do ponto de vista jurídico na prática de atos administrativos e, em seqüência, a recomendação de providências que possam salvaguardar a autoridade assessorada, a quem. por sua vez, competirá avaliar a real dimensão do risco e a necessidade de adotar ou não a precaução recomendada.

6. Neste sentido, vale trazer a presente manifestação o que dispõe o Enunciado n° 7, do Manual de

Boas Práticas Consultivas da Advocacia Geral da União, abaixo transcrito:

BPC 7 - "O Órgão Consultivo não deve emitir manifestações conclusivas sobre lemas

não jurídicos, tais como os técnicos, administrativos ou de conveniência ou

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oportunidade, semprejuízo da possibilidade de emitir opinião oufazer recomendações sobre tais questões, apontando tratar-se dejuízo discricionário, se aplicável.

Ademais, caso adentre em questão jurídica que possa ter reflexo significativo em aspecto técnico deve apontar e esclarecer qual a situação jurídica existente que

autoriza sua manifestação naquele ponto ".

7. E dever salientar que determinadas observações são feitas sem caráter vinculativo, mas em prol

da segurança da própria autoridade assessorada a quem incumbe, na margem de discricionariedade

que lhe é conferida pela lei, avaliar e acatar, ou não, tais ponderações. Não obstante, em relação às

questões de cunho legal que porventura venham a ser apontadas, estas sim devem ser objeto de correção, hipótese em que o prosseguimento do feito sem a observância e/ou atendimento dos respectivos apontamentos gera responsabilidade exclusiva para a Administração.

II.B - Mérito da consulta

8. A matéria referente aos efeitos da greve no serviço público é regulada indiretamente pela Lei n.

8.112/90 da seguinte forma:

"Art. 44. O servidor perderá:

I - a remuneração do dia em que faltar ao serviço, sem motivo justificado;

II - a parcela de remuneração diária, proporcional aos atrasos, ausências justificadas, ressalvadas as concessões de que trata o art. 97, e saídas antecipadas, salvo na hipótese de compensação de horário, até o mês subseqüente ao da ocorrência, a ser estabelecida pela chefia imediata.

Parágrafo único. As faltas justificadas decorrentes de caso fortuito ou de força maior

poderão ser compensadas a critério da chefia imediata, sendo assim consideradas

como efetivo exercício. (...)

Art. 97. Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor ausentar-se do serviço: I - por 1 (um) dia, para doação de sangue;

II - pelo período comprovadamente necessário para alistamento ou recadastramento eleitoral, limitado, em qualquer caso, a 2 (dois) dias; (Redação dada pela Lei n°

12.998, de 2014)

III - por 8 (oito) dias consecutivos em razão de: a) casamento;

b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou padrasto, filhos,

enteados, menor sob guarda ou tutela e irmãos.

(...)

Art. 102. Além das ausências ao serviço previstas no art. 97, são considerados como

de efetivo exercício os afastamentos em virtude de: I - férias;

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II - exercício de cargo em comissão ou equivalente, em órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, Municípios e Distrito Federal;

III - exercício de cargo ou função de governo ou administração, em qualquer parte do território nacional, por nomeação do Presidente da República;

IV - participação em programa de treinamento regularmente instituído ou em programa de pós-graduação stricto sensu no País, conforme dispuser o regulamento; (Redação dada pela Lei n° 11.907, de 2009)

V - desempenho de mandato eletivo federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, exceto para promoção por merecimento;

VI -júri e outros serviços obrigatórios por lei;

VII - missão ou estudo no exterior, quando autorizado o afastamento, conforme dispuser o regulamento; (Redação dada pela Lei n° 9.527, de 10.12.1997)

VIII - licença:

a) à gestante, à adotante e à paternidade;

b) para tratamento da própria saúde, até o limite de vinte e quatro meses, cumulativo ao longo do tempo de serviço público prestado à União, em cargo de provimento efetivo; (Redação dada pela Lei n° 9.527, de 10.12.1997)

c) para o desempenho de mandato classista ou participação de gerência ou administração em sociedade cooperativa constituída por servidores para prestar serviços a seus membros, exceto para efeito de promoção por merecimento; (Redação dada pela Lei n° 11.094, de 2005)

d) por motivo de acidente em serviço ou doença profissional;

e) para capacitação, conforme dispuser o regulamento; (Redação dada pela Lei n° 9.527, de 10.12.1997)

f) por convocação para o serviço militar;

IX - deslocamento para a nova sede de que trata o art. 18;

X - participação em competição desportiva nacional ou convocação para integrar representação desportiva nacional, no País ou no exterior, conforme disposto em lei específica;

XI - afastamento para servir em organismo internacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere. (Incluído pela Lei n° 9.527, de 10.12.1997)"

9. Como se observa, o servidor perde a remuneração em relação ao dia que faltar ao serviço sem motivo justificado, não sendo a greve justa causa legal para a ausência ao serviço, com a decorrente perda da remuneração dos dias em que o servidor faltar ao serviço (art. 44, inc. I, da Lei n.° 8.112/90).

10. O não pagamento de servidores grevistas já estava suficientemente pacificado na jurisprudência dos tribunais superiores. Com efeito, no julgamento do MI n.° 708/DF, o Supremo Tribunal Federal concluiu que a paralisação por greve é uma hipótese de suspensão de contrato de trabalho, sem remuneração. E, portanto, como regra geral, os salários dos dias de paralisação não devem ser pagos. Neste sentido, trecho do voto do Min. Gilmar Mendes no mencionado MI n.° 708/DF:

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"(...) 6.4. Considerados os parâmetros acima delineados, a par da competência para o dissídio de greve em si, no qual se discuta a abusividade, ou não, da greve, os referidos tribunais, nos âmbitos de sua jurisdição, serão competentes para decidir acerca do mérito do pagamento, ou não, dos dias de paralisação em consonância com a excepcionalidade de que esse juízo se reveste. Nesse contexto, nos termos do art. 7o da Lei no 7.783/1989, a deflagração da greve, em princípio, corresponde à suspensão do contrato de trabalho. Como regra geral, portanto, os salários dos dias de paralisação não deverão ser pagos, salvo no caso em que a greve tenha sido provocada justamente por atraso no pagamento aos servidores públicos civis, ou por outras situações excepcionais que justifiquem o afastamento da premissa da suspensão do contrato de trabalho (art. 7o da Lei no 7.783/1989, in fine)". (Trecho do acórdão - MI 708, Relator: Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 25/10/2007, DJe de 30/102008).

11.0 fato de se admitir a aplicação da Lei n° 7.783, de 1989, à greve no serviço público enquanto esta não for devidamente regulamentada por lei específica não se constitui em impedimento à possibilidade de corte de salários dos servidores grevistas, referente aos dias parados. Observe-se a decisão proferida no MI n° 708/DF:

"EMENTA: MANDADO DE INJUNÇÃO. GARANTIA FUNDAMENTAL (CF, ART. 5o.

INCISO LXXI). DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS (CF, ART.

37, INCISO VII). EVOLUÇÃO DO TEMA NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL (STF). DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIA

CONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL E DA

JUSTIÇA ESTADUAL ATÉ A EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE,

NOS TERMOS DO ART. 37, VII, DA CF. EM OBSERVÂNCIA AOS DITAMES DA

SEGURANÇA JURÍDICA E À EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL NA INTERPRETAÇÃO

DA OMISSÃO LEGISLATIVA SOBRE O DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES

PÚBLICOS CIVIS, FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60 (SESSENTA) DIAS PARA QUE O

CONGRESSO NACIONAL LEGISLE SOBRE A MATÉRIA. MANDADO DE INJUNÇÃO

DEFERIDO PARA DETERMINAR A APLICAÇÃO DAS LEIS Nos 7.701/1988 E

7.783/1989.

1. SINAIS DE EVOLUÇÃO DA GARANTIA FUNDAMENTAL DO

MANDADO DE INJUNÇÃO NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL (STF). (...) 6. DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIA

CONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO DO TEMA NO ÂMBITO DA JUSTIÇA

FEDERAL E DA JUSTIÇA ESTADUAL ATÉ A EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

PERTINENTE, NOS TERMOS DO ART. 37, VII, DA CF. FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60

(SESSENTA) DIAS PARA QUE O CONGRESSO NACIONAL LEGISLE SOBRE A

MATÉRIA.

MANDADO

DE

INJUNÇÃO

DEFERIDO

PARA DETERMINAR A

APLICAÇÃO DAS LEIS Nos 7.701/1988 E 7.783/1989. 6.1. Aplicabilidade aos servidores

públicos civis da Lei no 7.783/1989, sem prejuízo de que, diante do caso concreto e mediante solicitação de entidade ou órgão legítimo, seja facultado ao juízo competente a fixação de regime de greve mais severo, em razão de tratarem de "serviços ou atividades essenciais" (Lei no 7.783/1989, arts. 9o a 11). (...) Considerados os parâmetros acima delineados, a par da competência para o dissídio de greve em si, no qual se discuta a abusividade, ou não, da greve, os referidos tribunais, nos âmbitos de sua jurisdição, serão competentes para decidir acerca do mérito do pagamento, ou não, dos dias de paralisação em consonância com a excepcionalidade de que esse juízo se reveste. Nesse contexto, nos termos do art. 7o da Lei n° 7.783/1989, a deflagração da greve, em princípio, corresponde à suspensão do contrato de trabalho. Como regra geral, portanto, os salários dos dias de paralisação não deverão ser pagos, salvo no caso em que a greve tenha sido provocada justamente por atraso no

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pagamento aos servidores públicos civis, ou por outras situações excepcionais que justifiquem o afastamento da premissa da suspensão do contrato de trabalho (art. 7o da Lei n° 7.783/1989, in fine). (...) (MI n° 708/DF, Rei. Min. Gilmar Mendes, Dje-206 Publicação: 31-10-2008)

12. Tem-se que a regra vigente é no sentido de que toda e qualquer deflagração de greve suspende o contrato de trabalho, e, consequentemente, sem prestação de serviço não há que se falar em pagamento de salários, salvo em situações excepcionais que justifiquem o afastamento desta premissa, fato que não restou comprovado na situação em análise.

13. Neste sentido também as decisões proferidas pelo Ministro Gilmar Mendes nas STVs 207/RS e 229/RS, onde foi reafirmada a possibilidade dos descontos dos dias parados, por analogia com a Lei n° 7.789/89, bem como este entendimento foi reiterado nos julgamentos dos RE n° 538923/PA (relatora Min. Carmen Lúcia, DJe de 16/03/2010), RE n° 539042/DF (rei. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 18/02/2010). No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, no mesmo sentido, tal possibilidade também foi admitida nos julgamentos no MS n° 17.405-DF e do pedido de suspensão de segurança n° 2606-DF.

14. Saliente-se, ainda, que o Conselho Nacional de Justiça, ao ser questionado no Pedido de Providência n° 0003909-31.2010.2.00.0000, sobre a legalidade de descontos dos dias não trabalhados foi categórico ao afirmar sua possibilidade, tendo em vista o art. 7o da Lei n° 7.783/89, que autoriza o desconto dos dias não trabalhados em razão da suspensão do contrato de trabalho, ainda que o movimento paredista seja considerado lícito.

15. Ressalte-se, ademais, que o mesmo Supremo Tribunal Federal adotou o entendimento de que a própria Administração, seguindo o princípio da autoexecutoriedade dos atos administrativos, deve realizar diretamente o procedimento para não pagamento da remuneração relativa aos dias de falta ao trabalho dos servidores públicos grevistas.

16. Esse posicionamento está consignado nas conclusões exaradas pelo Exmo. Min. Cezar Peluzo, do STF, na RCL n. 6200/RN (DJ 15/12/2008), oportunidade na qual o STF suspendeu decisão liminar concedida por juízo federal nos autos do mandado de segurança coletivo impetrado pela UNAFISCO contra ato do Delegado da Receita Federal que havia determinada o desconto dos dias não trabalhados por servidores grevistas. Transcreve-se trecho da decisão proferida na RCL n. 6200/RN:

"Cumpre ressaltar que a adesão a um movimento grevista pressupõe riscos em relação à sua legitimidade e à sua legalidade. Dessa forma, ao aderir à greve, também o servidor público deve assumir os ônus financeiros dos dias não trabalhados. Não se discute aqui o fato de o Poder Público ter que suportar os prejuízos inerentes à deflagração de um movimento grevista, ante a insuficiência de servidores em atividade, para a regular prestação de serviços públicos. Esta é uma conseqüência inerente ao exercício do direito de greve pelos servidores públicos. Entretanto, não se inclui nesta perspectiva a imposição de ônus adicionais ao Poder Público para promover os descontos relativos aos dias não trabalhados no período de greve, tal como o desconto condicionado à instauração e finalização prévias de processo administrativo individualizado a cada servidor grevista, que pode desbordar.

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inclusive, pela via judicial, por tempo indeterminado. Tal situação implica, por completo, o esvaziamento dos efeitos da regra geral de suspensão de contrato de trabalho, prevista no julgamento dos mandados de injunção (n° 670/ES, n° 708/DF e n° 712/PA). Ao mesmo tempo, enseja uma inoperância e desordem administrativa. Portanto, a determinação de instauração e finalização prévias de processo administrativo individualizado a cada servidor grevista, como condição à realização dos descontos, em princípio, viola a regra geral de que a greve implica a suspensão do contrato de trabalho e, por conseguinte, a inexistência de prestação de serviço impõe o desconto dos salários dos dias não trabalhados. (...)"

17. Adotando entendimento semelhante, os seguintes julgados: AI 799041/MG rei. Min. Ricardo Lewandowski, DJ 15/10/2010; RE 476314/RS, Rei. Min. Joaquim Barbosa, DJ: 13/05/2010; RE 399322/SC, Rei. Ministro Dias Toffolli, DJ: 16/04/2010. De tal orientação não destoa o e. Superior Tribunal de Justiça:

"PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL - SÚMULA 266'STF - MANDADO

DE SEGURANÇA CORTE DO PONTO DE SERVIDORES GREVISTAS

-MEDIDA QUE PODE SER LEVADA A TERMO PELA ADMINISTRAÇÃO. 1. O

mandado de segurança não é sucedâneo de ação direta de inconstitucionalidade. Aplicação da Súmula 266'STF. 2. O Pretório Excelso, a partir do julgamento do MI n° 708DF, firmou entendimento de que a paralisação de servidores públicos por motivo de greve implica no conseqüente desconto da remuneração relativa aos dias de falta ao trabalho, procedimento que pode ser levado a termo pela própria Administração. Precedentes. 3. Segurança denegada. (STJ, Primeira Seção, MS 15.272/DF, Rei. Min. Eliana Calmon, j. 29/10/2010, DJe de 07/02/2011).

ADMINISTRATIVO.

GREVE.

SERVIÇO

PÚBLICO.

DESCONTO.

DIAS

PARALISADOS. POSSIBILIDADE. SUSPENSÃO. CONTRATO DE

TRABALHO. PRECEDENTES. 1. A Primeira Seção, após o julgamento do MS 15.272/DF, tem reconhecido que é lícito o desconto dos dias não trabalhados em decorrência de movimento paredista. Naquela ocasião, acolheu-se a tese de que a greve acarreta a suspensão do contrato de trabalho, consoante o disposto no art. 7o da Lei 7.783/1989 e, salvo acordo formulado entre as partes, não gera direito à

remuneração. 2. Desse modo, acham-se autorizados os descontos remuneratórios

pelos dias não trabalhados, a menos que haja entendimento entre os interessados para assegurar a reposição. 3. Agravo regimental não provido." (STJ, Primeira Seção, AgRg na Pet 8.050/RS, Rei. Min. Castro Meira, j. em 24/11/2010, DJe de 25/02/2011).

18. Corroborando com os entendimentos aqui mencionados, na última quinta-feira, dia 27 de outubro de 2016, o STF, julgando o Recurso Extraordinário 693456-RJ. que tinha repercussão geral reconhecida, decidiu por maioria que a Administração Pública deve fazer o "corte do ponto" dos servidores grevistas. Nesse sentido, confira-se trecho do voto do Relator, Ministro Dias Toffolli (disponível em http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE693456.pdf):

"[...] a aplicação do art. 7o da Lei n° 7.783/89 - determinada por esta Corte -, que estabelece que a "participação em greve suspende o contrato de trabalho", induz ao entendimento de que, em princípio, a deflagração de greve corresponde à suspensão do contrato de trabalho. Isso porque, na suspensão não há falar em prestação de

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serviços, tampouco no pagamento de sua contraprestação. Desse modo, os servidores que aderem ao movimento grevista não fazem jus ao recebimento das remunerações dos dias paralisados, salvo no caso em que a greve tenha sido provocada justamente por atraso no pagamento ou por outras situações excepcionais que justifiquem o afastamento da premissa da suspensão da relação jurídica de trabalho e, por

conseqüência, da atividade pública.

Com efeito, conquanto a paralisação seja possível, porque é um direito constitucional, ela tem conseqüências. Esta Corte Suprema já assentou o entendimento de que o desconto dos dias de paralisação é ônus inerente à greve, assim como a paralisação parcial dos serviços públicos imposta à sociedade é conseqüência natural do movimento. Esse desconto não tem o efeito disciplinar punitivo. Os grevistas assumem os riscos da empreitada. Caso contrário, estaríamos diante de caso de enriquecimento sem causa a violar, inclusive, o princípio da indisponibilidade dos bens e do interesse público. Isso não significa que o legislativo não possa, com a edição de lei regulamentadora, entender por configurar o movimento grevista como hipótese de interrupção do contrato de trabalho.

É certo que, para o caso do servidor estatutário, não existe propriamente um

"contrato de trabalho". Entretanto, a leitura do dispositivo não impede sua plena adequação e a aplicação de seus efeitos jurídicos indistintamente ao empregado público e ao servidor público (em seu sentido estrito), mesmo porque, para esse último, sua participação no movimento paredista não pode ser considerada como gozo de férias, licença, abono ou compensação.

Podemos concluir, portanto, que se trata de um "afastamento" não remunerado do servidor, na medida em que, embora autorizado pela Constituição Federal, essa não lhe garantiu o pagamento integral de seus proventos. Assim, em razão da ausência de prestação específica do serviço por parte do grevista, os descontos devem ser realizados, sob pena de se configurar, como frisado, hipótese de enriquecimento sem c a u s a .

[•••]

Ante o exposto, aderindo à proposta formulada pelo Ministro Roberto Barroso, voto

para que seja fixada a seguinte tese de repercussão geral: "A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita

do Poder Público".

19. Especificamente em relação a greve, objeto do presente pronunciamento a Advocacia-Geral da União exarou o Parecer n° 004/2016/CGU/AGU, publicado no Diário Oficial da União de 13.12.2016, cuja aprovação presidencial datada de 12.12.2016 foi publicada no Diário Oficial da União de 15.12.2016.

20. Referido parecer uma vez publicado, toma-se de cumprimento obrigatório no âmbito da Administração Pública Federal.

21. Tal pronunciamento é claro ao determinar que "o corte do ponto é um dever, e não uma faculdade, da Administração Pública Federal, que não pode simplesmente ficar inerte diante de situação de greve" e continua, observando que "a Administração Pública Federal possui a faculdade

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de firmar acordo para, em vez de realizar o desconto, permitir a compensação das horas não

trabalhadas pelos servidores". " '—• —

22. Assim restou clara a orientação de que o gestor pode sim realizar acordo para não desconto dos

dias parados, limitando este acordo a reposição das horas não trabalhadas. Qualquer acordo

diferente dos limites então estabelecidos no parecej^vincjiiajiteda AGU será irregular.

23. E certo que o parecer em comento foi proferido com a finalidade de firmar posicionamento

acerca da recente greve então deflagrada pelos servidores público federais, iniciada em outubro do corrente ano, portanto, não há que se falar em início de sua aplicação somente a partir da

publicação. " **• •

III - Conclusão

24. Diante do exposto, entendo irretocável o aludido Parecer n° 004/2016/CGU/AGU, sendo que o

acordo possível a ser firmado está na opção de a Administração descontar os dias parados ou

aprovar a compensação das horas não trabalhadas, no interesse da Administração.

À consideração superior.

Curitiba, 22 de dezembro de 2016.

LESLIE DE OLIVEIRA BOCCHINO PROCURADORA FEDERAL

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