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0021939-78.1998.4.05.8100 (98.0021939-0) Classe: 240 - AÇÃO PENAL

Processo nº. 98.21939-0

Classe: 31 - Ação Penal Pública Autor: Ministério Público Federal Réu: A.D.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. DENUNCIADO PELOS CRIMES TIPIFICADOS NOS ART. 288 E 231, AMBOS DO CP. INCIDÊNCIA DA PRESCRIÇÃO PELA PENA EM ABSTRATO, QUANTO AO CRIME DO ART. 288. PRESCRIÇÃO VIRTUAL (OU EM PERSPECTIVA) QUANTO AO DELITO DO ART. 231 DO CP. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.

Como a pena máxima em abstrato cominada ao crime do art. 288 do CP é de 3 (três) anos, o delito prescreve pela pena abstrata em 8 (oito) anos, na forma do artigo 109, inciso III, do Código Penal. Transcorrido tempo superior a 8 (oito) anos.

No tocante à infração do art. 231, tendo em vista as condições jurídicas do réu, bem como as normais circunstâncias e conseqüências do ilícito, o réu não seria condenado à pena máxima de 8 (oito) anos, cuja prescrição ocorreria em 12 (dezesseis) anos.

O recebimento da denúncia ocorreu em 26.11.1998. Passaram-se, portanto, quase 11 (onze) anos, fato que impõe a extinção da punibilidade pela ocorrência do fenômeno da prescrição em perspectiva, considerando a fase atual do processo. Reconhecimento da prescrição com base nos arts. 107, IV; 109, III, todos do Código Penal c/c art. 61 do Código de Processo Penal.

I - RELATÓRIO (incisos I e II, do art. 381, do CPP)

O MPF ofereceu denúncia (fls. 4-10) em face de SILVÂNIA CLEIDE BARROS VASCONCELOS, já qualificada, e A.D., natural de Tel-Aviv/Israel, nascido aos 20.12.1973, filho de Isak Dafan e Yafa Dafan, residente na Rua Shilen Shas, 5º andar, apto. 28, Bairro Haidar Josef, em Tel-Aviv, em Israel, como incurso nas penas dos crimes capitulados nos artigos 288 e 231, § 3º, ambos do Código Penal brasileiro.

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Esclareço, de início, que a ação principal que apurava os fatos era a de nº. 98.21262-0, e, posteriormente, houve decisão de desmembramento do feito quanto ao referido acusado A.D., que é estrangeiro, dando ensejo, portanto, a formação dos presentes autos, de nº. 98.21939-0 (decisão de fl. 74).

Asseverou o MPF na denúncia, lastreada em IPL nº. 613/98 - fls. 12/71, que SILVÂNIA CLEIDE BARROS VASCONCELOS (que respondeu pelo mesmo fato em outro feito - proc. nº. 98.21262-0), foi presa em flagrante no dia 27 de outubro de 1998, portando documentação reveladora de suposto crime de tráfico de mulheres para o exterior. Cuidou-se de uma operação policial, que contou com o auxílio da INTERPOL, visando à investigação de uma suposta quadrilha especializada em aliciamento de mulheres para a prática de prostituição em Israel. Segundo interrogatório na Polícia Federal, Silvânia Vasconcelos afirmou que viajara, em três ocasiões, para Israel com o intuito de trabalhar em casas de prostituição, tendo lá conhecido A.D., ora denunciado, que era segurança de uma das casas de programa em que trabalhou. Com ele manteve relacionamento amoroso. Também foi ouvida na Polícia Federal Marlene Silva do Carmo, que houvera retornado de Israel e trabalhara nessas casas de programas, tendo a mesma confirmado a eventual existência de uma rede de exploração da prostituição em Israel, cujos integrantes seriam ASAF, SHUKY, YGAL MIZAHA, ZAHAVA e seu marido.

Denúncia recebida em 26 de novembro de 1998 (fl. 76).

Dada a pertinência, esclareço alguns incidentes nesta ação penal. O processo que ensejou a apuração dos presentes fatos foi, inicialmente, distribuído para a 5ª Vara Federal/CE, sendo redistribuído para esta unidade 12ª Vara Federal/CE -especializada em matéria criminal, em 23.6.1999 (fl. 77). Quesitos do MPF às fls. 113-115. Em 7 de julho de 2009, expediu-se Carta Rogatória para Tel-Aviv, em Israel (fls. 143-217). Ressalto, por oportuno, que a demora na expedição da Rogatória deveu-se à grande dificuldade de se encontrar um tradutor da língua hebraica no Ceará e, até mesmo, no Brasil (vide fls. 82, 85, 88, 91, 99, 127v., 131, 133-34, 135).

Relatado. Passo à fundamentação.

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A prescrição, como questão preliminar, constitui exame prejudicial ao deslinde do mérito, ou seja, antes de decidirmos sobre a condenação ou absolvição, cabe analisarmos se já está fulminada pelo decurso do tempo a pretensão punitiva estatal. Se estiver, alternativa não cabe ao juiz, senão declará-la de ofício ou a requerimento das partes.

Fernando Capez diz que:

"(...) o reconhecimento da prescrição impede o exame do mérito, uma vez que seus efeitos são tão amplos quanto os de uma sentença absolutória. Ademais, desaparecido o objeto do processo, este não encontra justificativa para existir por mais nenhum segundo."1

No caso em apreço, verifico a possibilidade de reconhecimento da prescrição em perspectiva. Justifica-se.

O estrangeiro A.D. foi denunciado como incurso nas penas previstas dos art. 288 e art. 231, §3º, ambos do CP. O art. 288 prevê pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos. Por sua vez, a antiga redação do art. 2312 (nova redação deste dispositivo foi dada pela Lei nº. 11.106/2005), que vigorava à época dos fatos, previa a pena de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos. De acordo com o art. 119 do CP, a análise da prescrição incidirá sobre a pena de cada delito, isoladamente considerado. Sendo assim, no tocante ao art. 288 do CP, como o máximo da pena é de 3 (três) anos, a prescrição se opera em 8 (oito) anos. Quanto ao art. 231 do CP3, a pena máxima é de 8 (oito) anos, prescrevendo a ação em 12 (doze) anos.

Entre o recebimento da denúncia, 26 de novembro de 1998 (fl. 76), e a presente data, decorreram, aproximadamente, 11 (onze) anos.

Deveras, há de se reconhecer o fenômeno da prescrição da pena em abstrato, quanto ao delito previsto no art. 288 do CP, porque já decorridos mais de 8 (oito) anos desde a data do recebimento da denúncia (26.11.1998) até o dia de hoje.

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Outrossim, no tocante ao crime tipificado no art. 231, observa-se que, a par das circunstâncias e peculiaridades do caso, verifica-se que a quantidade de pena a ser aplicada, certamente, não chegaria ao seu máximo, que é de 8 (oito) anos, e, ainda que chegasse, fazendo apenas um exame de cogitação, o prazo prescricional seria de 12 (doze) anos. Ora, é pertinente registrar que já se passaram quase 11 (onze) anos, o processo se encontra no início, o denunciado sequer foi citado, não se iniciou a instrução processual (ainda não houve oitiva de testemunhas das partes, interrogatório do denunciado e etc.), e que o réu é domiciliado no estrangeiro (Tel-Aviv, em Israel), ensejando a expedição de Carta Rogatória para a intimação e realização de alguns atos processuais. Deveras, tais circunstâncias, certamente, acarretarão um considerável transcurso temporal até o deslinde da causa (sentença), lapso temporal esse que fatalmente acarretará a prescrição da pretensão punitiva estatal.

Com efeito, em respeito ao princípio da economia processual, que, no caso, não traz nenhuma conseqüência negativa para o denunciado, reconheço a incidência da prescrição virtual, quanto ao delito do art. 231 do CP, declarando, antecipadamente, algo que seria reconhecido em futuro próximo, evitando-se a morosidade de um processo que não tem mais razão para prosseguir. Em outras palavras, fundamenta-se no principio da economia processual, uma vez que de nada adianta movimentar inutilmente a máquina jurisdicional com processos que já nascem fadados ao insucesso, nos quais, após condenar o réu, reconhece-se que o Estado não tinha mais o direito de puni-lo, devido à prescrição.

É certo que a maioria da jurisprudência dos Tribunais orienta no sentido de que o magistrado não deve, na própria sentença, reconhecer a prescrição da pretensão punitiva estatal retroativa em perspectiva.

Porém, a decretação da prescrição virtual torna-se imperiosa em face dos princípios da celeridade e da efetividade da prestação jurisdicional. A prescrição virtual, ou em perspectiva, como se deduz da própria nomenclatura, toma por base a quantidade de pena a ser aplicada em caso de condenação, mesmo quando ainda não se chegou à fase de dosimetria.

Essa forma de cálculo da prescrição é perfeitamente possível e correta porque, em que se estabelece o quantum da reprimenda, já se pode ter certeza, senão da

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fixação exata, das circunstâncias e das causas de aumento e de diminuição que deverão ser computadas, notadamente já tendo transcorrido um lapso temporal considerável, no caso, quase 11 (onze) anos.

Sobre o reconhecimento excepcional da prescrição antecipada, trazemos à colação as decisões do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul e do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo:

TARS: "Prescrição antecipada ou em perspectiva. Criação pretoriana. Riscos de sua adoção. Acolhimento, no caso concreto, à vista das peculiaridades do feito e da vontade manifestada pelo embargante, conformando-se com a prescrição da pretensão punitiva" (JTAERGS 99/21 - grifamos). No mesmo sentido, TARS: RT 733/692;

TACRSP: "De nenhum efeito a persecução penal, com dispêndio de tempo e desgaste do prestígio da Justiça Pública, se, considerando-se a pena em perspectiva, diante das circunstâncias do caso concreto, se antevê o reconhecimento da prescrição retroativa na eventualidade de futura condenação. Falta, na hipótese, o interesse teleológico de agir a justificar a concessão ex officio de habeas corpus para trancar a ação penal" (RT 669/314). No mesmo sentido, TACRSP: RT 668/289.

Não diverge o colendo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, in verbis:

"CRIMINAL. ADVOGADO QUE CONCORDA COM CÁLCULO ABSURDO DO VALOR REQUISITADO POR PRECATÓRIO E SE APROPRIA DO DINHEIRO. DESCLASSICAÇÃO DO ART. 171 PARA O ART. 169. PRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA. PUNIÇÃO PELA TENTATIVA. (...) 3. A prescrição pela pena em perspectiva pode ser reconhecida, em face do caráter finalístico do processo e da utilidade do seu resultado. Estando demonstrado nos autos que as circunstâncias judiciais e legais não justificam a exasperação da pena além do máximo legal, pode ser reconhecida antecipadamente a extinção da punibilidade. (...)" (TRF 4ª região, ACR 4467/RS, 2.ª Turma, DJ 17.1.2001, p. 278, Relator Juiz João Pedro Gebran Neto, grifei).

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Tal entendimento predomina na doutrina penal brasileira. Veja-se o ensinamento do autor Fernando Capez, acerca da prescrição projetada:

"Fundamenta-se no princípio da economia processual, uma vez que de nada adianta movimentar inutilmente a máquina jurisdicional com processos que já nascem fadados ao insucesso, nos quais, após condenar o réu, reconhece-se que o Estado não tinha mais o direito do puni-lo, devido à prescrição."4

Com efeito, admitir que o processo siga tramitando mesmo quando já se sabe que a prestação jurisdicional final não logrará nenhuma efetividade, pela ocorrência da prescrição da pretensão de punir, é prestar um desserviço à coletividade, vez que somente contribuirá para aumentar o volume de processos que enchem as prateleiras das varas judiciárias, o que pode atrasar o curso dos processos em que a pretensão estatal subsiste e precisa ser concretizada com a maior celeridade possível.

Avaliando os elementos constantes dos autos, entendo que o magistrado pode e deve decretar a extinção da punibilidade do agente, em razão de ocorrência da prescrição antecipada.

Destarte, outro caminho não há, senão reconhecer a prescrição da pretensão punitiva do Estado, quanto ao crime tipificado no art. 231 do CP, e declarar a extinção da punibilidade do réu A.D.. Recordo que, quanto ao delito previsto no art. 288 do CP, impõe-se o reconhecimento da causa extintiva da punibilidade, na forma do artigo 109, inciso IV, do Código Penal.

III - DISPOSITIVO (inciso V, do art. 381, do CPP)

Diante do exposto, julgo, por sentença, para que possa produzir seus jurídicos e regulares efeitos, EXTINTA A PUNIBILIDADE atribuída ao acusado A.D., já qualificado, pelo reconhecimento do instituto da prescrição, quanto ao delito previsto no art. 288 do CP, de acordo com o disposto no art. 107, IV c/c art. 109, IV, todos do CP; bem como pelo reconhecimento da prescrição em perspectiva, no tocante ao delito tipificado no art. 231 do CP, de conformidade com os arts. 107, IV; 109, III, todos do Código Penal c/c art. 61 do Código de Processo Penal.

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Transitada em julgado e feitas as necessárias anotações e comunicações, arquivem-se os presentes autos com baixa na distribuição.

Oficie-se ao Ministério da Justiça, solicitando a devolução da Carta Rogatória expedida (fls. 143 e seguintes).

Sem custas. P.R.I. Fortaleza/CE, 15 de outubro de 2009.

JOSÉ DONATO DE ARAÚJO NETO Juiz Federal da 12ª Vara/CE

1 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, parte geral. Vol.01. Saraiva, 2004, pág.539.

2 "Art. 231 - Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de mulher que nele venha exercer a prostituição, ou a saída de mulher que vá exercê-la no estrangeiro: Pena - reclusão, de três a oito anos."

3 Insta consignar que o réu foi incurso na pena prevista no §3º do art. 231, todavia tal parágrafo, que previa também a pena de multa, restou revogado pela Lei nº. 11.106/2005.

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