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CAPACITAÇÃO DE PAIS DE CRIANÇAS COM TDAH EM UM PROGRAMA DE HABILIDADES SOCIAIS: IMPLICAÇÕES PARA A INCLUSÃO DE SEUS FILHOS

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CAPACITAÇÃO DE PAIS DE CRIANÇAS COM TDAH EM UM

PROGRAMA DE HABILIDADES SOCIAIS: IMPLICAÇÕES PARA

A INCLUSÃO DE SEUS FILHOS

NATÁLIA ROSOT1 MARCELA MIYUKI CAVAMURA ENDO 2

MARIANA CAROLINA BATISTA FERREIRA3 NATÁLIA GOMES SOARES4 MARGARETTE MATESCO ROCHA5

Universidade Estadual de Londrina (UEL) Introdução

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é caracterizado pelo DSM-IV-TR (2002) como sendo um transtorno cujas principais características são a hiperatividade, a impulsividade e a desatenção em níveis mais acentuados que a população em um mesmo nível de desenvolvimento. Estes padrões de comportamento devem estar presentes em pelo menos dois ambientes (casa, escola, relações sociais, trabalho etc).

Na escola, a maioria das crianças que têm TDAH apresentam prejuízos nas interações sociais e desempenho acadêmico que dizem respeito à execução das tarefas escolares. A pesquisa realizada por Rodhe et al. (1999) apontou que dentre os alunos com diagnóstico de TDAH, 87% apresentavam mais de uma reprovação de série, 48% já haviam sido suspensos da escola ao menos uma vez e 17% tinham história de expulsão. Comparativamente, os alunos sem esse diagnóstico apontavam somente 30% de reprovação, 17% de suspensão escolar e 2% de expulsão.

Para ter a garantia de permanência na escola, com a eliminação de barreiras que impedem a permanência na escola, essas crianças precisam ser atendidas a partir das ações, seguindo os pressupostos da educação especial, que respeitem as suas especificidades e garantam progressões para níveis mais elevados de ensino.

Dentre as diversas ações destaca-se o papel da família como componente ativo na inclusão escolar dos seus filhos. No entanto, segundo Brasil (2004, p. 7) essa participação dos pais atualmente ainda não pode ser caracterizada como uma parceria:

É muito comum ver famílias se movimentando, em busca de atendimento ou mesmo frequentando serviços diferentes, sem ter noção do que é que estão fazendo. Constata-se que a relação entre a família e profissionais tem sido uma relação de poder do conhecimento nas decisões do que é melhor para seus filhos. Faz-se necessário que a família construa conhecimentos sobre as necessidades especiais de seus

1 Graduanda em Psicologia (UEL). E-mail: natalia@rosot.com.br

2 Graduanda em Psicologia (UEL). E-mail: marcela.endo@gmail.com 3 Graduanda em Psicologia (UEL). E-mail: mariana_baptistta@hotmail.com 4 Graduanda em Psicologia (UEL). E-mail: natigsoares@gmail.com

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3827 filhos, bem como desenvolva competências de gerenciamento do conjunto dessas necessidades e potencialidades.

Essa constatação sugere a necessidade dos pais serem capazes de se lidar, apropriadamente, com profissionais que interagem com seus filhos de modo a favorecer atitudes de enfrentamento relacionadas a pedido de esclarecimentos, reivindicações de seus direitos e formas de comunicação mais efetivas com diversos grupos com os quais interage cotidianamente.

Considerando especificamente pais de crianças com TDAH, Bellé et al. (2009, p. 322) demonstrou que mães de crianças com TDAH apresentam grande sobrecarga emocional devido ao cansaço e à tensão em função dos comportamentos dos filhos, preocupação com o futuro deles e ressentimento na família. Essa sobrecarga emocional, segundo os autores, é decorrente da maior assistência que essas crianças demandam, às frequentes queixas com relação aos comportamentos do filho e a responsabilização dessa mãe pela falta de controle sobre o mesmo.

Para amenizar essa sobrecarga e desenvolver atitudes enfrentamento considera-se importante o treinamento de habilidades sociais para que essas mães lidem melhor com seus filhos e com outras pessoas e melhorarem a sua própria qualidade de vida, diminuindo o estresse diário. É importante também que desenvolvam repertório para conversar com os diversos profissionais que estão em contato com a criança e refutar críticas sem fundamentos.

O termo Habilidades Sociais pode ser definido como sendo um conjunto de comportamentos que são apresentados na interação com os outros de forma a maximizar reforçadores positivos para aquela interação. Para Del Prette e Del Prette (2010) um comportamento social somente é classificado como habilidade social quando contribui para a competência social em uma tarefa de interação social. A importância dessas habilidades reside no fato de que as pessoas dedicam maior parte de seu tempo se relacionando interpessoalmente, desse modo, quando são socialmente habilidosas, originam interações sociais satisfatórias, aumentam as chances de produzir reforçadores, diminuindo as chances de desenvolver problemas psicológicos no futuro (CABALLO, 1997 apud BOLSONI-SILVA, 2002).

A maioria dos estudos na área de Habilidades Sociais e que enfatizam os pais ou a relação pais-filho (com ou sem TDAH ou outros transtornos de comportamento) geralmente focam as habilidades sociais educativas dos pais (CIA et al., 2006; BOLSONI-SILVA; DEL PRETTE, 2002; BOLSONI-SILVA et al., 2008; PINHEIRO et al., 2006). Entretanto o presente trabalho foi realizado enfatizando as habilidades sociais cotidianas, partindo do pressuposto de que as mães além de lidarem com seus filhos (utilizando as habilidades sociais educativas), também precisam lidar com outras pessoas (profissionais que atendem seus filhos, parentes etc).

Dentre as habilidades sociais cotidianas, aquelas denominadas assertividade, saber lidar com críticas, elogio e feedback foram as mais treinadas em diferentes programas para pais (ROCHA; ANDRADE; DOURADO, 2011). A assertividade, segundo Del Prette e Del Prette (1999), está relacionada a saber expressar seus sentimentos, pensamentos, crenças e assegurar seus direitos de uma maneira adequada, direta, sincera, sem que viole os direitos do outro. “Ao defender seus direitos e expressar seus sentimentos de maneira contida, o indivíduo age como se estivesse demarcando seu espaço e estabelecendo até

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3828 onde o grupo pode controlar seu comportamento” (MARCHEZINI-CUNHA; TOURINHO, 2010, p. 298).

Saber lidar com críticas é importante, tanto para essas mães como para a população em geral, visto que todo tipo de crítica é difícil de ser manejada, mesmo com aquelas em que há concordância. Para essa habilidade recomenda-se ouvir atentamente a crítica adequada, refletindo a respeito do que deve ser mudado. Com relação à crítica verdadeira, mas inadequada, também é recomendado que ouça atentamente e reflita, mas que além disso, peça para o interlocutor mudança de comportamento. E quanto à critica falsa aconselha-se que a refute e esclareça ao interlocutor firmemente, sem hesitações, dando exemplos dos seus equívocos, esperando que o interlocutor mude sua opinião (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999).

Del Prette e Del Prette (1999, p. 62) também afirmam que o feedback “operam na manutenção ou alteração de um padrão de comportamento”, isto porque ao se pedir ou dar um feedback a pessoa permite que a outra mude seu padrão de comportamento conforme exige a interação. Sendo assim, o feedback exige do emissor um detalhamento a respeito do comportamento do outro, visto que aquele deve descrever o que ele gostou (feedback positivo) ou não (feedback negativo) no comportamento do outro. O elogio, por sua vez, é um comentário positivo direcionado a uma pessoa ou a respeito de algo que ela fez.

Dada importância das habilidades sociais cotidianas, este trabalho teve como objetivo apresentar os efeitos de um programa para mães de crianças com TDAH sobre o seu repertório de habilidades sociais cotidianas e discutir importância para a inclusão escolar e social de seus filhos.

Método

A pesquisa foi conduzida sob um delineamento pré-teste - pós-teste em três grupos de pais sendo cada grupo controle dele próprio. O grupo denominado “G1” foi conduzido no ano de 2010, o denominado “G2” no ano de 2012 e “G3” no ano de 2013. A ação da variável independente foi analisada a partir da comparação das diferentes medidas intragrupo.

1. Participantes

Participaram deste estudo 10 pais de crianças de Escolas Estaduais de um município localizado no norte do Paraná com avaliação médica indicando diagnóstico de TDAH. A Tabela 1 apresenta a caracterização dos participantes.

Tabela 1. Relação dos pais participantes em cada grupo.

Participantes Grupo Sexo Idade Escolaridade

P1 G3 Feminino 45 Ensino médio incompleto

P2 G2 e G3 Feminino 35 Ensino médio incompleto

P3 G2 e G3 Feminino 52 Ensino fundamental

incompleto

P4 G2 Masculino 49 Ensino superior incompleto

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P6 G2 Feminino 40 Ensino fundamental

incompleto

P7 G1 Feminino 59 Ensino superior completo

P8 G1 Feminino 45 Ensino superior completo

P9 G1 Feminino 31 Ensino superior incompleto

P10 G1 Masculino 37 Ensino médio completo

2. Recursos Humanos

O estudo foi conduzido pela pesquisadora e três estudantes do 3º, 4º e 5º ano do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

3. Local de Atendimento

O atendimento ao primeiro grupo foi realizado em uma clínica-escola de uma universidade do norte do Paraná, mas devido as dificuldades dos participantes de acesso a clínica os grupos seguintes “G2” e “G3” foram conduzidos nas escolas em que os filhos estudavam, geralmente, nas proximidades da residência dos participantes.

4. Instrumentos

Inventário de Habilidades Sociais – IHS-Del-Prette (DEL PRETTE, DEL PRETTE,

2001): Foi utilizado nesta pesquisa para avaliar o repertório de habilidades sociais dos pais e, embora não específico para educadores, envolve diversas habilidades necessárias para interações satisfatórias dos pais com pessoas significativas do ambiente da criança. É um instrumento de autorrelato, composto por 38 itens, cada um deles descrevendo uma situação social e uma possível reação para a qual o respondente faz uma estimativa da frequência com que reage daquela maneira (em uma escala Likert de cinco pontos). O teste possui estudos de análise de itens (correlação item total e índices de discriminação), consistência interna (Alfa de Cronbach = 0.75), teste-reteste com o Inventário de Rathus (r=0.71, p=0.01) e outros estudos indicando validade e confiabilidade da escala. Portanto, é um teste com qualidades psicométricas consideradas satisfatórias, o qual foi aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia.

5. Procedimento

O procedimento foi dividido em cinco etapas:

Etapa 1 - Seleção dos participantes

Os participantes foram indicados pelas equipes das escolas. As equipes identificavam as crianças com diagnóstico de TDAH e que faziam tratamento com medicação. Após a identificação, foram passados os contatos dos pais aos estagiários que entravam em contato por telefone e os convidavam a participar de uma reunião para esclarecer os objetivos e os procedimentos da pesquisa. Para aqueles pais que aceitavam participar era solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

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Etapa 2- Avaliação pré-intervenção.

Foi agendado um encontro em grupo para responder o instrumento IHS-Del-Prette. Esta avaliação foi realizada pelos alunos estagiários que orientaram os participantes como proceder para o preenchimento do inventário e ainda esclareceram as dúvidas referentes aos enunciados das questões quando solicitado.

Etapa 3- Planejamento da intervenção

A partir da avaliação de pré-intervenção, foram priorizados os comportamentos avaliados como menos frequentes no IHS- Del-Prette (2001) e levantados na literatura com importantes para pais de crianças com necessidades educacionais especiais (ROCHA; ANDRADE; DOURADO, 2011).

Etapa 4- Intervenção

A intervenção foi realizada por meio de sessões de Treinamento de Habilidades Sociais Cotidianas consideradas essenciais para a interação social dos pais tanto no âmbito familiar como extrafamiliar (DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2001).

Sendo assim, as habilidades abordadas neste estudo foram divididas em duas grandes classes: 1) habilidades de enfrentamento com risco (Fator 1 do IHS-Del-Prette) e 2) habilidades de autoafirmação na expressão de afeto positivo (Fator 2 do IHS-Del-Prette). A partir destas duas classes, especificam-se as seguintes habilidades, trabalhadas ao longo do treinamento de pais: dar elogio e feedback (fator 2), assertividade e lidando com críticas (fator 1). A Tabela 2 resume os objetivos e atividades propostas para as sessões durante o período de 2010-2012.

Tabela 2. Descrição dos objetivos propostas nas sessões. Habilidade

treinada

Objetivos Elogio e

Feedback

- Propor a vivência das dificuldades em observar os aspectos positivos do desempenho do outro e descrevê-los;

- Descrever as habilidades de fornecer elogio, incentivo e feedback, bem como suas topografias;

- Alertar para cuidados importantes no desempenho das habilidades; - Realizar role-play das habilidades.

Assertividade

- Descrever aos participantes o conceito de “assertividade”.

- Descrever comparativamente as características das condutas classificados como: “passivas”, “assertivas” e “agressivas”, identificá-las em situações fictícias com múltipla escolha e desempenhá-las.

Lidar com Críticas

-Descrever aos pais critérios para avaliar a aceitação ou não de uma crítica; bem como formas de se lidar com críticas adequadas e com críticas verdadeiras, mas realizadas de forma inadequada.

-Descrever formas de refutar críticas falsas ou injustas;

-Descrever comportamentos que podem parecer críticas, mas não o são; -Apresentar instruções de como e em que momento fazer críticas;

-Treinar o comportamento de fazer e receber críticas adequadas, refutar críticas falsas e pedir adequação para críticas inadequadas.

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Etapa 5- Avaliação pós-intervenção

Nessa fase foi utilizado o mesmo instrumento e procedimento descrito na fase de pré-intervenção.

Tratamento de dados

Os dados obtidos por meio do inventário padronizado IHS-Del-Prette foi tratado conforme as especificações do seu manual. A significância das alterações nos escores foi analisada por meio do Método JT (JACOBSON; TRUAX, 1991).

Resultados

A Tabela 3 apresenta os Escores Globais e os Escores obtidos nos Fatores de Habilidades Sociais na avaliação dos pais através do Inventário de Habilidades Sociais (IHS-Del-Prette) nas fases pré e pós-intervenção durante o período de 2010-2012.

Tabela 3 - Escores Globais e fatoriais obtidos por meio do IHS-Del-Prette nas fases pré e pós-intervenção.

Habilidades Sociais Cotidianas

Participantes

Enfrentamento com riscos (F1) Expressão de afeto positivo (F2) Escore Global Pré Pós Pré Pós Pré Pós P1 90 60 70 20 45 75 P2 1 1 03 01 25 3 P3 10 70 3 25 10 45 P4 20 65 45 55 30 40 P5 25 80 15 80 15 50 P6 20 60 10 40 75 80 P7 20 60 10 25 45 45 P8 60 95 60 97 45 65 P9 30 10 25 20 70 35 P10 15 15 20 45 55 95

Nota: Escores < 25%: necessidade de treino; Escores > 25%: bom repertório de Habilidades Sociais, porém abaixo da média; Escores = 50%: repertório mediano; Escores > a 50%: bom repertório (acima da média) e Escores > 75%: repertório bastante elaborado.

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3832 Como demonstrado na Tabela 3, os pais P3, P4, P5, P6, P7 e P8 apresentaram aumento no escore referente ao Fator 1: Habilidades de enfrentamento com risco (assertividade e lidando com críticas). Os escores iniciais dos participantes P4, P5, P6, P7 indicaram que apesar de apresentarem as habilidades os pais se situavam abaixo da média (escore inferior a 50% e superior a 25%) o que apontava a necessidade do treino. Após a intervenção os escores obtidos apontaram que os participantes situaram-se acima da média (superior a 50%), apresentando um bom repertório acerca desta habilidade treinada. Um dos pais (P3) apresentou na fase pré-intervenção um escore que indicou extrema necessidade para treinamento (inferior a 25%) e após a intervenção o mesmo apresentou um escore acima da média, indicando mudança positiva. Notou-se ainda, que o participante P8 ao iniciar o grupo apresentou um escore acima da média e na fase pós-intervenção, observou-se uma mudança, na qual o escore obtido nesta avaliação indicou que o mesmo desenvolveu um excelente repertório de enfrentamento (superior a 75%). Quanto aos outros quatro pais (P1, P2, P9 e P10), P1 e P9 obtiveram redução nos escores durante a fase pós-intervenção e P2 e P10 mantiveram a mesma pontuação nas duas fases. Ambas as situações indicaram necessidade de encaminhamento para treinamento, ressaltando que os participantes P2, P9 e P10 obtiveram escore inferior a 25% sugerindo déficit significativo nesta habilidade.

Referente ao Fator 2, ou seja, as habilidades de autoafirmação na expressão de afeto positivo (elogio e feedback), verificou-se na Tabela 3 que os pais P3, P4, P5, P6, P7, P8 e P10 apresentaram mudança positiva, sendo que os pais P3, P6, P7 e P10, na fase pré-intervenção haviam obtido escore baixo (inferior a 25%) indicando a necessidade de treino. Enquanto na fase pós-intervenção, os escores indicaram mudança positiva, todavia, verificou-se que os mesmos permaneceram na faixa abaixo da média, sinalizando que houve aquisição das habilidades, porém com necessidade de mais treinamento. Um dos pais (P4) obteve escore na fase pré que o situou abaixo da média, já na fase pós o escore indicou colocação acima da média (superior a 50%), sinalizando o desenvolvimento de um bom repertório de habilidades sociais. Notou-se ainda que os pais P5 e P8 apresentaram um escore na fase pós-intervenção que sugeriu que estes desenvolveram um excelente repertório referente às habilidades (acima de 75%). Em relação aos pais P1, P2 e P9, todos apresentaram uma redução nos escores na fase pós-intervenção que indicaram deficiência no repertório destas habilidades (escore inferior a 25%) demonstrando a necessidade de encaminhamento para um novo treino destas habilidades.

No que concerne ao Escore Global, observou-se que os pais P1, P3, P4, P5, P6, P8 e P10 que participaram do treinamento apresentaram mudança positiva, após a fase de intervenção, sugerindo melhora não somente nos fatores abordados neste estudo, mas também em pelo menos um dos outros três fatores: Fator 3: Habilidades de Conversação e Desenvoltura Social; Fator 4: Habilidades de Autoexposição a Desconhecidos e a Situações Novas; Fator 5: Habilidades de Autocontrole da Agressividade a Situações Aversivas. A diferença observada para P1 no escore geral ocorreu devido a ganhos nesses fatores não apresentados no estudo.

Ainda referente ao Escore Global, dois pais (P3 e P4) apesar de relatarem mudança positiva na fase pós-intervenção, os escores ainda permaneceram abaixo da média indicando necessidade de treino para um desenvolvimento mais eficiente das habilidades avaliadas pelo inventário. Notou-se também que P5 e P8 obtiveram um escore na fase pré

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3833 que os situaram abaixo da média (superior a 25%), enquanto na fase pós os escores sugeriram uma mudança indicando que ambos os pais se encontravam acima da média (superior a 50%), apresentando um bom repertório. Os participantes P1, P6 e P10 apresentaram um escore na fase pós-intervenção indicando que os mesmos desenvolveram um excelente repertório referente a estas habilidades (superior a75%). No que tange aos participantes P2, P7 e P9, estes apresentaram redução nos escores na fase de pós-intervenção, sendo que um obteve escore inferior a 25% (déficit significativo) e o outro obteve escore inferior a 50% (repertório abaixo da média). Já o terceiro pai (P7) manteve a pontuação em ambas as fases, cujo percentil encontrado foi superior a 25%. Em todos esses casos, verifica-se a relevância de retomar o treino a fim de desenvolver de forma mais efetiva as habilidades contempladas nestes cinco fatores.

A Figura 1 apresenta a Significância Clínica e o Índice de Mudança Confiável, a partir da aplicação do método JT, dos Escores Globais alcançados pelos pais durante a avaliação de pré e pós-intervenção.

FIGURA 1. Dispersão das diferenças entre a pré e a pós-intervenção nos escores gerais de habilidades sociais dos participantes

Foi possível observar na Figura 1 que os escores obtidos pelos participantes P1, P3, P4, P5, P6, P8 E P10 indicaram que a intervenção mostrou mudança positiva confiável, sugerindo que o treinamento se fez um meio satisfatório para desenvolver o repertório de habilidades sociais, revelando a relevância desse programa.

Com relação a S3 e S5, os dados indicaram que ambos saíram da população clínica para não clínica. Quanto aos pais P2 e P9, os escores de ambos sugeriram mudança negativa confiável, bem como foi possível observar que os escores do participante P7 sinalizou ausência de mudança, o que evidencia a necessidade de um novo encaminhamento para o treinamento visando desenvolver essas habilidades de forma mais efetiva.

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3834 Discussão e Conclusão

Através da interação com os pais e de suas respostas ao IHS-Del-Prette, observou-se a carência de habilidades sociais cotidianas no repertório comportamental dos mesmos. Dessa maneira, há maiores dificuldades para o indivíduo expressar atitudes, sentimentos (positivos e negativos), opiniões e desejos, respeitando a si próprio e aos outros. Estas são respostas que podem ser emitidas nos mais variados contextos, tais como ambientes familiares, de trabalho, de consumo, de lazer, de transporte público, de formalidade etc. (CABALLO, 1996). Este fato aponta para a necessidade e relevância de treinamento a pais enfocando em habilidades como as de fazer elogio e dar feedback, ser assertivo e lidar com críticas.

O desenvolvimento e o aperfeiçoamento das habilidades sociais cotidianas de pais de filhos com TDAH torna-se ainda mais importante quando considera-se que famílias de crianças com esse transtorno vivenciam uma maior sobrecarga emocional se comparadas às famílias de crianças com desenvolvimento típico, como apontado Bellé et al. (2009) e Johnston e Mash (2001). O treinamento de pais e mães de crianças com TDAH voltado para habilidades sociais cotidianas mostrou-se eficaz, considerando os escores gerais obtidos por cinco participantes.

Através dos escores do IHS-Del-Prette, pôde-se notar que o Fator 1 apresentou melhoria na maioria dos pais. Este fator faz referência às habilidades de enfrentamento de risco, que envolvem a assertividade e controle de ansiedade em situações como lidar com críticas injustas e discordar de outras pessoas. Esse dado é importante visto que pais de crianças com TDAH são, com frequência, alvos de vários juízos errôneos, inclusive por professores que lidam essas crianças, que sugerem que os pais são responsáveis pelo transtorno da criança e que poderiam controlar a tríade sintomática apenas através de uma dieta e outros “tratamentos” para controle da hiperatividade e desatenção dos filhos (NORVILITIS, SCIME e LEE, 2002). Nesses casos, é imprescindível que os pais saibam como combinar as habilidades de responder a uma crítica e a de ser assertivo, juntamente com o conhecimento do transtorno. Segundo Del Prette e Del Prette (2010), a habilidade de lidar com críticas faz parte de um comportamento assertivo, apontando, portanto, esta relação entre as duas habilidades.

Considerando a habilidade assertividade, que também engloba comportamentos como o de lidar com críticas, manifestar opinião, expressar raiva e pedir mudança de comportamento, observou-se nos resultados pré-intervenção que os pais vieram, em sua maioria, com um repertório deficitário nesses aspectos. Justifica-se este fato ao considerar a complexidade da habilidade assertiva: é necessário ter uma compreensão das noções de direitos e de cidadania, um repertório de componentes comportamentais e uma discriminação acurada da situação, avaliando as consequências que sua expressão pode trazer aos indivíduos envolvidos (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010).

O Fator 2 que faz referência a comportamentos de autoafirmação e expressão de afeto positivo e, portanto, engloba as habilidades de fazer e receber elogios e dar feedback. Estas são habilidades essenciais para que os pais consigam reforçar e aumentar a probabilidade de que comportamentos adequados voltem a acontecer. Então, por

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3835 exemplo, pais podem elogiar, além dos comportamentos do próprio filho, o desempenho de professores, a preocupação de parentes, o empenho e dedicação do parceiro.

Dentre essa classe de comportamentos foi verificado a dificuldade dos pais para dar feedback. Este é um dado também apontado pela literatura, que afirma que há uma ausência da prática cultural do feedback (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010). Dessa maneira, a implantação do uso do feedback no cotidiano dos pais encontra obstáculos na falta de familiaridade com a topografia do comportamento, bem como no desconhecimento da sua função.

Acredita-se que ensinar pais como agir de acordo com essas habilidades, favorece os seus relacionamentos com outras pessoas com as quais interage no dia-a-dia: tanto com aquelas pessoas relacionadas à problemática da criança, quanto àquelas alheias aos comportamentos do filho, mas que interferem de maneira indireta nas interações da criança (ROCHA, 2009). Uma pesquisa realizada por Bolsoni-Silva, Del Prette e Oishi (2003) apontou que os pais da amostra que apresentavam melhor repertório de habilidades, tinham os filhos com maior frequência de comportamentos adequados comparados àqueles pais com um repertório mais pobre dessas habilidades, interferindo, também, em déficits interpessoais e comportamentos desadaptativos.

Assim, quando os pais tiverem seus repertórios ampliados com o treinamento de pais poderão estabelecer contatos mais bem sucedidos com médicos, psicopedagogos, professores, parentes próximos e vizinhos. Segundo Rocha (2009) é comum que pessoas que pouco conhecem sobre o TDAH critiquem o comportamento de pais e forneçam consequências punitivas às suas ações em relação ao filho. Todas essas interferências podem causar efeitos colaterais danosos para a interação familiar, principalmente o isolamento social da família como apontado por Wells et al (2000) e diminuindo ainda mais as oportunidades de aprendizagem das habilidades sociais.

O TDAH, enquanto um transtorno funcional específico (BRASIL, 2008), também exige adaptações no contexto escolar para crianças com esse transtorno. As dificuldades de aprendizagem e de adaptação escolar desses alunos não são decorrentes somente de um planejamento educacional rígido e inadequado quanto aos objetivos e metodologia, mas também da falta de interação apropriada com o professor ou com o grupo de iguais (FRICK, 2001). Essas dificuldades, além de consequências para a criança, influenciam, também, na relação da família com a escola, interferindo em uma relação saudável. Lake e Billingsley (2000) apontam que conflitos nessa relação são comuns, principalmente para pais de crianças que necessitam de uma educação especial.

Nesse sentido, o treinamento de habilidades sociais cotidianas instrumentaliza pais para que possam atuar como agentes ativos e de maneira adequada nos contextos envolvidos no desenvolvimento do filho.

Algumas das limitações deste estudo estão relacionadas à carência da literatura ao discutir sobre a importância e implicações de habilidades sociais cotidianas. Além disso, a amostra de participantes do treinamento de habilidades sociais é considerada pequena, impossibilitando generalização destes resultados.

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Referências

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