A I Conferência Livre de Mobilidade do Recife, que aconteceu nos dias 9 e 10
de julho nas dependências da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE), encerrou sua primeira edição com a participação de 180 participantes,
representando 79 grupos, coletivos, movimentos e organizações sociais locais e
nacionais.
A Conferência teve como objetivo expor a fragilidade dos espaços
democráticos de participação sobre mobilidade na Região Metropolitana do Recife,
criar elementos para subsidiar a elaboração do Plano de Mobilidade, propondo
soluções e pautando assim os programas de governo das(os) candidatas(os) às
eleições municipais de 2016 da cidade do Recife.
A relevância da Conferência deuse principalmente por duas razões:
primeiramente devido ao modelo destrutivo de planejamento urbano que está
atualmente em curso na cidade do Recife, que prioriza o automóvel, favorecendo
uma minoria que utiliza o veículo individual motorizado em detrimento da maioria
que utiliza formas de deslocamento ativas e públicas, elevando os gastos públicos
com saúde e e realizando obras viárias que já nascem ineficientes.
Em segundo lugar por conta da falta de diálogo com a sociedade civil, visível
no esvaziamento dos espaços de consulta pública e no caráter apenas consultivo
das conferências e conselhos e sua parca divulgação. Um exemplo disso é que, há,
no Recife, um espaço construído para possibilitar a participação popular no
planejamento das políticas de mobilidade do município: o Conselho Municipal de
Trânsito e Transporte (CMTT) . Criado em 2002 pela Lei Municipal nº. 16.748/2002,
tem entre suas atribuições, a deliberação sobre a política de trânsito e transporte,
além de acompanhar, avaliar e exigir a adoção de medidas que visem a criação de
políticas públicas sobre mobilidade. Porém, o desconhecimento da população
acerca da existência do CMTT e a falta de acesso a informações sobre o
funcionamento dos espaços de participação tornam o conselho inoperante em sua
função.
Além disso, desde 2007 o Recife não realiza sua Conferência Municipal de
Trânsito e Transporte, que deveria acontecer no máximo a cada dois anos, para
eleger os dois representantes dos usuários que têm assento no Conselho. Neste
contexto, a população, espontaneamente ou organizada em movimentos sociais,
tem buscado participar, agir e cobrar soluções para uma mobilidade de fato
sustentável na cidade, refletindo sobre a temática e organizando ações em rede,
assim como discutindo sobre o tema participação popular nas políticas de
mobilidade do Recife.
O Plano Municipal de Mobilidade do Recife, que ainda está em construção,
representa o cumprimento do Política Nacional de Mobilidade Urbana (12.587/2012),
que dispõe como obrigatoriedade para sua elaboração a participação efetiva dos
principais interessados, a sociedade civil. Apesar de algumas reuniões públicas
setorizadas, não houve nenhum processo amplo de escuta às demandas e anseios
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Plano de Mobilidade, Participação e Cidadania
escuta ativa, buscando assim exercer a participação social que lhe é de direito.
Divididos em seis grupos temáticos (meios de transporte de massa; transparência,
participação e controle social; meios de transporte ativo; mobilidade no contexto de
gênero e diversidade; acessibilidade e gestão e tecnologia da mobilidade), os
integrantes concluíram 59 propostas como sugestão para a mobilidade da cidade,
com a seleção de 30 propostas prioritárias, que compõem o presente documento.
São destaques das propostas o desejo por mais participação ativa da
sociedade civil e transparência na gestão municipal, além da necessidade de
garantir a acessibilidade universal no planejamento e na execução de projetos pelo
município. A necessidade de segurança é outro tema trabalhado em vários grupos
de trabalho, tendo sido proposto uma meta: a redução da taxa de violência no
trânsito para 6 mortos por 100 mil habitantes até 2020.
Considerando a importância da Conferência como local de debate e escuta
ativa de segmentos da população que atuam com mobilidade sobre o Plano
Municipal de Mobilidade, utilizaremos o período eleitoral para estimular as
discussões sobre a cidade que precisamos e queremos.
Esta carta também será apresentada para todos os candidatos a prefeito do
Recife. Na ocasião, será recolhida a assinatura dos prefeituráveis, que se
comprometem, desta maneira, a executar as 30 propostas da I Conferência Livre de
Mobilidade do Recife, demandas da sociedade civil recifense para a mobilidade da
cidade.
Atenciosamente,
Participantes da I Conferência Livre de Mobilidade do Recife
Propostas Prioritárias da
I Conferência Livre de Mobilidade do Recife
TEMA: Transparência, Participação e Controle Social
PROPOSTAS
Publicizar por meio de Transparência Ativa e Acessibilidade Universal todos os
pedidos de informação protocolados e seus respectivos conteúdos incluindo
ferramenta de geração, em tempo real, de relatórios quantitativos e qualitativos dos
órgãos e secretarias municipais e assuntos referidos em cada pedido.
Publicizar por meio de Transparência Ativa e Acessibilidade Universal todos os
documentos e dados relativos a planos, projetos, obras, serviços e sistemas de
mobilidade urbana sob responsabilidade direta ou compartilhada com a Prefeitura do
Recife, ou aprovados por ela, discriminando suas planilhas de orçamento, despesas e
receitas.
Garantir a participação popular, com poder deliberativo e não apenas consultivo, na
elaboração e aprovação do Plano de Mobilidade do Recife.
Garantir a ampla participação popular, com poder deliberativo e não apenas
consultivo, na elaboração e aprovação de projetos e intervenções de mobilidade
urbana que não estejam expressamente aprovados em Plano específico em vigor
elaborado com ampla divulgação e através de participação popular.
Convocar a Conferência Municipal de Mobilidade do Recife para realização em 2017,
e posteriormente realizandose a cada 3 anos coincidente à Conferência Municipal
das Cidades, precedendoa.
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Plano de Mobilidade, Participação e Cidadania
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TEMA: Acessibilidade
PROPOSTAS
Obrigatoriedade dos projetos para espaços públicos de acessibilidade serem
aprovados e acompanhados pela CPA (Comissão Permanente de Acessibilidade) e
pelo COMUDE (Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência no Recife);
Garantir o cumprimento, pelos poderes executivo e legislativo municipais, da Lei
Brasileira de Inclusão da pessoa com deficiência (N. 13.146, de julho de 2015).
Cobrar maior fiscalização ao Grande Recife para que não seja permitida a circulação
de ônibus com elevadores quebrados ou sem elevadores, garantindo, sob pena de
multa, a sua substituição por ônibus com acessibilidade universal (como os de piso
baixo) ou com equipamentos aptos ao uso, além da capacitação dos (as) motoristas,
cobradores (as) e fiscais de terminais na operação das plataformas veiculares
elevadas.
Garantir a instalação e a manutenção de sinais com acessibilidade universal e
travessias elevadas prioritariamente em frente a escolas, locais de atendimento à
saúde e grandes cruzamentos de pedestres;
Criação da Comissão de Acessibilidade na Câmara Municipal do Recife.
Propostas Prioritárias da
I Conferência Livre de Mobilidade do Recife
TEMA: Meios de Transportes Ativos
PROPOSTAS
Criar comitê tripartite na proporção e composição do Conselho da Cidade, incluindo
obrigatoriamente a Comissão Permanente de Acessibilidade da PCR, com poder
deliberativo para discussão e elaboração de projetos municipais e metropolitanos
que envolvam mobilidade ativa, com aprovação no Conselho da Cidade.
Inclusão no Plano de Mobilidade do Recife de metas, com definição de orçamento
específico para transportes ativos, com foco na redução de mortes no trânsito, de
maneira a reduzir em 20% ao ano chegando a no máximo 6 mortes por 100 mil no
trânsito até 2020, e aumento da participação de modos ativos na divisão modal.
Implementar o Plano Diretor Cicloviário (PDCRMR) priorizando a rede que conecta
periferia e região central.
Elaborar uma política de redução de velocidade em toda a cidade estabelecendo
como limite máximo 50 km/h, ampliando zonas de acalmamento de tráfego (zonas
30), com medidas de redesenho urbano.
Garantir a atualização e regulamentação da legislação municipal, desenvolvendo
programa de padronização e unificando a gestão operacional de calçadas,
arborização, iluminação (priorizando o embutimento de fiação conforme a lei
municipal 17.984) e acessibilidade universal, com indicadores de qualidade,
programas de fiscalização (com multas e inscrição na dívida ativa), fontes de
financiamento e incentivos fiscais (pagamentos de serviços ambientais, redução de
IPTU, ISS, entre outros).
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TEMA: Meios de Transporte de Massa
PROPOSTAS
Criação de um fundo, com orçamento próprio, para a execução das políticas públicas
de mobilidade urbana e transporte público e coletivo na RMR gerido pelo CSTM.
Adoção de uma política de transparência ativa com dados abertos para as
informações do sistema de transporte público coletivo e individual, incluindo a abertura
das licitações, concessões e permissões, especialmente para dados de utilização,
arrecadação e ganhos do sistema e Relatórios de Análise de Qualidade e
Desempenho atualizados em tempo real.
Adoção na revisão da Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS) instrumentos de
Desenvolvimento Orientado ao Transporte (DOT) com adensamento populacional ao
longo de corredores de transporte público e coletivo e próximo a estações de metrô,
com prioridade para habitação social e uso misto.
Implementação da integração intermodal temporal para todas as linhas do STPP e
STCP e consolidação do tarifa única para o transporte rodoviário.
Em 2 anos, implantar faixas exclusivas para o transporte público e coletivo nos
corredores de transporte e nas vias que passem pelo menos 30 ônibus em um
intervalo de uma hora.
Propostas Prioritárias da
I Conferência Livre de Mobilidade do Recife
TEMA: Mobilidade no contexto de Gênero e Diversidade
PROPOSTAS
Exigir que as políticas públicas de mobilidade sejam transversalizadas pelo debate de
gênero e diversidade, sendo um diálogo intersetorial (educação, planejamento urbano,
segurança pública, assistência, cultura, etc), desconstruindo estruturalmente o
machismo, discriminação e intolerância na sociedade para o fim dos assédios,
estupros e outras violências vividas por mulheres cis e trans e outros grupos sociais.
Garantir orçamento transparente para ações voltadas para as questões de
gênero e
diversidade nas políticas públicas de mobilidade.
Criar ou adotar ferramentas (como aplicativos) para garantir uma maior segurança
para as mulheres no transporte público, incorporandoas como políticas públicas.
Promover, mediante liderança da Secretaria Estadual da Mulher, ciclos de formação
com trabalhadores (as) do transporte público e privado para o enfrentamento a
violência de gênero e diversidade e garantir a efetividade da Parada Segura entre
outras legislações que garantam a mobilidade de gênero e diversidade nas cidades.
Inserção da discussão de gênero e diversidade no debate e nas ações de mobilidade
e transporte nas escolas.
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TEMA: Gestão e Tecnologia da Mobilidade
PROPOSTAS
Criar mecanismos para articular e integrar as políticas setoriais (mobilidade,
habitação, saúde, meio ambiente, segurança pública, etc.) e instrumentos de
planejamento (plano diretor, plano de mobilidade, etc.) em escala municipal e
metropolitana.
O Plano de Mobilidade deve conter indicadores para acompanhamento de sua
gestão, implementação e execução orçamentária, com a participação da sociedade
civil em seu monitoramento no Conselho da Cidade.
Regulamentar instrumentos do Plano Diretor (Operações Urbanas, Outorga Onerosa,
entre outros) e da Política Nacional de Mobilidade Urbana (estacionamento rotativo,
multas, etc.) para que sejam destinados as políticas locais mobilidade urbana, dando
preferência a transporte coletivo e transportes ativos.
Dados sobre operação do transporte público coletivo e individual, de emissões de
GEE e outros indicadores ambientais devem ser amplamente publicizados, com
acessibilidade universal e fácil leitura,
por meio de monitoramento periódico e
transparência ativa.
Revisar e auditar o modelo de remuneração das empresas de transporte coletivo
urbano de modo a desonerar os usuários e garantir a inclusão social.