ENCEFALITE VIRAL
ENCEFALITE VIRAL
Paulo Pereira ChristoSanta Casa de Belo Horizonte Hospital Eduardo de menezes
Roteiro de apresentação
– Definir encefalite
– Apresentar as características epidemiológicas – Mostrar as várias etiologias
– Discutir sobre o diagnóstico e diagnóstico diferencial
– Abordagem das encefalites
– Especial atenção à encefalite herpética
Encefalites agudas
– Inflamação do parênquima cerebral associada a evidências clínicas de disfunção cerebral
– 18 a 29% das infecções neurológicas agudas – Síndrome
• Febre • Cefaléia
• Alteração do nível de consciência • Desorientação
• Distúrbios comportamentais
• Sinais focais ou difusos (convulsão, déficts sensorial ou motor, perda visual, afasia, etc)
Encefalites agudas
• Raramente
– Status epilepticus não convulsivo – Hemibalismo – Distonia focal – Diplegia facial – Disautonomia – Diabetes insipidus – SSIHAD
Encefalites Agudas
– Parte de um espectro
• Meninges (meningoencefalite) • Medula (encefalomielite)
• Raízes espinhais (encefalomieloradiculitis)
– Isolada
• Cerebelo (cerebelite)
• Tronco encefálico (romboencefalite)
Síndromes Clínicas Infecciosas
• Meningite – Febre – Cefaléia – Meningismo – Vômitos – Fotofobia – Alteração do nível de consciência • Encefalite – Febre – Cefaléia
– Alteração (nível de consciência) – Alteração (estado de consciência) – Distúrbios comportamentais – Sinais neurológicos difusos ou
focais (convulsão, afasia, hemiparesia)
Encefalites Agudas
MENINGO
- ENCEFALITE
x
MENINGO -
ENCEFALITE
Objetivos
1 - Encefalite infecciosa X Encefalopatia
2 - Encefalite por dano direto do vírus
X
Processo imune-mediado pós-infeccioso
3 - Difusa X Focal
Achados Clínicos e Laboratoriais de Encefalopatia e Encefalite
Anormalidades focais Normal
RNM
Lentificação difusa com achados focais Lentificação
difusa EEG
“linfócitose com glicose normal” Ausência pleocitose LCR Leucocitose comum leucócitos normais Sangue periférico Achados laboratoriais
Comuns, generalizadas ou focais Variáveis Convulsões Frequente Rara Sinais focais Frequente Rara Cefaléia Frequente Rara Febre Achados Clínicos Encefalite Encefalopatia
Objetivos
1- Encefalite infecciosa X Encefalopatia
2- Encefalite por dano direto do vírus
X
Processo imune-mediado pós-infeccioso
3- Difusa X Focal
ADEM
Encefalite pós-infecciosa
Encefalite aguda - etiologia
• Infecciosas
– Viral (90% casos) – Não viral
• Bactéria: (Tbc, Sífilis, listeria, endocardite, leptospirose, micoplasma, meningite bacteriana parcialmente tta, doença da arranhadura do gato, whipple, brucelose)
• Fungos:(criptococose, blastomicose, histoplasma)
• Parasitas: (malária, toxoplasma, Chagas, esquistossomose, cisticercose)
Encefalite aguda - etiologia
• Viral
– Grupo herpes
– Arbovírus (encefalite japonesa B, West Nile , dengue ) – Enterovírus
– Sarampo, Caxumba, Rubéola – Coriomeningite linfocítica – Raiva
– HIV – Adenovírus – Influenza
Encefalite por arbovirus
Doença neurológica Descob.
Sitio latência Vírus
? Detectado gânglio da raiz dorsal e LCR 1994
? HHV- 8
Convulsões febris, hemiplegia aguda, encefalite, mielite, exantema súbito 1990
Linfócitos CD4 ? HHV- 7
Convulsões febris, hemiplegia aguda, encefalite, mielite, EM, ADEM, Exantema Súbito
1986 Linfócitos CD4 ? HHV- 6
Encefalite, paralisia de Bell, neurite óptica, Guillain-Barre, ataxia aguda
1964 Linfócitos B EBV
Inf.intrauterina, encefalite, sínd. Guillain-Barre, espasmos infantis, mielopatia, retinite 1905
Monócitos ? Neutrófilos ? CMV
Ataxia aguda, AVC, encefalite, mielite, sínd. Ramsey-Hunt
1888 Neurônio sensorial VVZ
Encefalite, meningite, mielite, infecção intrauterina
Século 18 Neurônio sensorial HSV-2
Encefalite, meningite, mielite, paralisia de Bell Era grega Neurônio sensorial HSV-1
Encefalite viral
• Incidência:
– 3,5 a 7,4 casos/100.000 hab. » CDC, 1994• Etiologia
– 66% casos não foram identificados
» Meyer HM et al, Am J Med 29:334-47, 1960 – 50 a 70% casos não são identificados
2574 (40)
941 (47) 814 (35)
851 (40) Total de inf.por vírus específicos (%)
Total (%) Vírus inespec.(%) Outros*** Adenovírus LCMV** Rubéola Caxumba Sarampo Varicella zoster Herpes simples Diagnóstico 6414 (100) 2107 (100) 2306 (100) 2108 (100) 3840 (60) 1059 (53) 1492 (65) 1223 (60) 480 141 274 178 129 29 45 55 7 5 0 2 26 7 8 11 30 7 4 19 86 16 38 32 333 273 22 38 1419 433 515 471 total 1995-98 1992-95 1989-92
Data da admissão pelo ano
Hospitalizações de pacientes com encefalite viral pelo diagnóstico nos anos de 1989 a 1998 - Inglaterra
Davison KL et al. Emerg Infec Dis. 2003: 9(2);234-40
Achados importantes no diagnóstico
de encefalite aguda
História Clínica
•Idade do paciente • Época do ano
•Doenças recentes da família ou comunidade
•Exposições, viagens •Eventos recentes ( doenças, vacinação) •História médica Exame Físico •Febre •Alterações do estado mental •Achados neurológicos focais X difusos •Achados meníngeos •Achados sistêmicos •Lesões de pele Laboratoriais •Exames de sangue •Rotina •Sorológicos •LCR •TC, RNM •Eletroencefalograma
Caso Clínico
• Adolescente, 13 anos iniciou com febre, vômitos, sonolência e confusão mental há 3 dias. Relato de lesões pápulo-eritematosas difusas há 15 dias com melhora espontânea
• Ao exame: torpor, tetraparesia > D, Babinski bilateral e dificuldade do olhar conjugado para esquerda. Sem rigidez de nuca • HD: encefalite focal ?
Caso Clínico
Conduta ?
1- Isolamento
2- LCR
3- RNM
4- Iniciar acyclovir
Tempo é cerebro
Caso Clínico
Conduta ?
1- Isolamento
2- LCR
3- RNM
4- Iniciar acyclovir
5-
Inciar acyclovir e clorafenicol
Causas de Encefalite com exantema
• Rickettsia
• Lyme
• Varicela Zoster
• Enterovirus
• HHV-6
• Meningococcemia
Caso clínico
• Exames:– Hemograma (leucocitose: 25.000 / 20 % eosinófilos) – LCR:
• células: 5 céls/campo • proteinas: 65 mg/dl, • glicose: normal
– RNM: lesões hipointensas subcorticais parietal direita e frontal esquerda, Gd
-• História pregressa: contato com água de lagoa há 40 dias e relato de primos e colegas com sintomas semelhantes • Imunof. indireta para esquistossomose no sangue: 1:80
Encefalite esquistossomótica
Encefalite Herpética - epidemiologia
• 5 a 10% dos casos
» (CDC, 1981)
– 1/3 casos < 20 anos, – 1/2 casos > 50 anos (60-65)
» Koskiniemi M et al J Neurol Neurosurg Psychiatry 60:174-8, 1996
HSV-1 90% casos HSV-2 10% casos
• Características clínicas semelhantes
Infecção Primária – Via Olfatória – 1/3 dos casos
Patologia -EHS
Reativação de vírus latente – 2/3 dos casos
Infecção Primária – HSV-1
Vírus transportado do sítio inicial da infecção para o gânglio trigeminal
Assintomático
DNA viral reside na célula sensorial do gânglio trigeminal
Infecção recorrente
Sob stress, vírus replica e é transportado pelas fibras do nervo sensorial para as células epiteliais ao redor do nariz e boca
Sintomas mais leves que na infecção primária
Reativação do HSV-1 para SNC
Infecção Primária
HSV – 2
Infecção latente – HSV-2
• DNA viral reside nos gânglios sacrais das células sensoriais
• Sem produção viral
• Lesão genital mais leve que a infecção primária
Encefalite herpética
• Não há característica clínica específica
• Vários estudos são úteis para mostrar
caráter focal: EEG e RNM
Comparação dos Achados de pacientes com e
sem encefalite herpética
38/82 (46) 51/111 (46) Vômitos 9/47 (19) 19/71 (26) 48/81 (59) 44/65 (68) 56/73 (77) 66/85 (78) 71/82 (87) 82/84 (98) Biopsia negativo Biopsia positivo 14/59 (24) Perda de memória 33/100 (33) Hemiparesia 73/109 (67) Convulsões 62/87 (71) Alteração de personalidade 89/110 (81) Cefaléia 101/112 (90) Febre 107/110 (97) Pleocitose no LCR 109/112 (97) Alteração da consciência Número (%) de pacientes Historia Clínica
Whitley RJ et al. JAMA. 1982: 247:317-320
Encefalite Herpética
• Formas leves ou atípicas (16 a 25 %)
– Associadas a infecções HSV-1 ou HSV-2 – Imunossupressão com corticóide e ou HIV – Envolvendo lobo temporal não dominante
» Domingues et al 1997 , Fodor et al 1998
1 Lúpus eritematoso sistêmico
2 Panencefalite subaguda esclerosante 2 Hematoma subdural 1 Coriomeningite linfocítica 5 Tumor 1 Leucoenfefalopatia progres. multifocal 8 Outros vírus 1 Adenovírus 1 Meningite meningocócica 3 Vírus da caxumba 1 Mucormicose Outros vírus 1 Toxoplasmose 8 vírus Epstein-Barr 2 Riclettisia Outros herpevírus 3 Criptococo 16 Infecção por arbovírus
6 Tuberculose Viral (n=40) 2 Micoplasma 1 Síndrome de Reye 2 Fungo 5 Encefalopatia tóxica 1 Listeria 11 Doença vascular 5 Abscesso Bacteriano
Doenças não tratáveis (n=49) Doenças tratáveis (n=46)
PCR (Polymerase Chain Reaction)
• Sensibilidade 98% e especificidade 94%
• Lakeman FD et al, J Infect Dis 171:857-63,1995– Falso positivo: raro
– Falso negativo: raro
1 0 0 % 9 8 % 4 7 % 2 1 % 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% <0 0-7 8 a 14 >15
Uso de PCR HSV para monitorizar terapia
(% de Pacientes PCR positivos)
Caso clínico
• Homem, 38 anos admitido alcoolizado e com relato de crise convulsiva. Há 2 dias febre, cefaléia, vômitos e agressividade. Iniciado Fenitoina. Evoluiu com baixa do sensório sendo transferido para o CTI. • Conduta ?
– 1- RNM encéfalo – 2- Punção Lombar – 3- EEG
– 4- Acyclovir
Tempo é cerebro
Prognóstico - Grupo de estudo francês para
encefalite herpética
• 85 pacientes ttos com acyclovir e seguidos por 6 meses (Glasgow Outcome Scale)
– 12 (14%) completa recuperação- vida independente sem dano neurológico – 19 (23%) leve incapacidade- alt. Cognitivas minimas ou convulsão controlada
sem consequências na vida socio-profissional
– 24 (28%) moderada incapacidade- com consequências na vida socio-profissional – 17 (20%) grave incapacidade- perda da autonomia, requer constantes cuidados – 13 (15%) óbitos
» Raschilas F et al. Clin Infect Dis:2002;35:254-60
Caso clínico
Conduta ?
– 1- RNM encéfalo – 2- Punção Lombar – 3- EEG – 4- AcyclovirCaso clínico
• 30 dias após, apresentou dois episódios de
convulsão tônico clônica generalizada,
confusão mental e cefaléia
• TCC: lesão temporal E com captação de
contraste
• LCR: “pleocitose linfocítica com glicose
normal”
Recorrência / reativação
• 5 a 10% dos casos
• Pacientes pediátricos: 5 a 26%
– Replicação ou reativação viral • PCR +
– Mecanismos imune-mediados • PCR –
» De Tiege X et al. Brain Dev 2005;27:284-91 » Tyler KL, Herpes:11 suppl 2, 57A
Tratamento – medidas gerais
• Não requer isolamento, exceto as exantemáticas
• Cuidados Gerais:
– Hidratação adequada
– Correção de eletrólitos e distúrbios metabólicos – Manutenção de bom estado nutricional – Manutenção da Respiração e ritmo cardíaco – Prevenção de TVP e embolia pulmonar – Prevenção de contraturas e Úlceras de decúbito – Prevenção de aspiração - Pneumonias
– Prevenção e tto de ITU e outras infecções bacterianas – Prevenção de sangramentos GI
Tratamento
• Controle
de
complicações
neurológicas
associadas
– HIC – Convulsões
– Distúrbio de sódio (Monitorar eletrólitos e função renal)
• Se baixo nível de consciência – UTI
• Reabilitação
Tratamento Precoce
A causa mais comum de retardo no início
do tratamento é demorar para realizar a
punção lombar pensando que o quadro
confusional se deve a doença sistêmica
Tratamento
• Acyclovir
– Adultos:10 mg/kg TID por 14 a 21 dias – Cças: 20mg/Kg 21 dias
• Infusão lenta e hidratação adequada para reduzir risco de nefrotoxidade com precipitação da droga. • Efeitos adversos da droga: hematúria, uremia e
neutropenia e flebites
• Monitorizar hemograma e creatinina e função hepática
Tratamento
• Corticóide – se edema vasogênico devido a processo inflamatório causando efeito de massa e risco de herniação. Curta duração 3 a 5 dias. Metilpredinosolona ou dexametaxona
– Benefício quando combinado com antiviral ?
– Estudos com animais –
– Meyding-Lamade UK et al. J Neurovirol 2003;9:118-25. – Pior prognóstico
• Mais velhos
• Menor score Glasgow ao iniciar acyclovir • Não administrar corticoide
» Kamei S et al. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2005;76
Esquema de conduta para suspeita de EHS
EHS suspeito Acyclovir
TC/
RNM Sem lesão mas
grave edema Nenhuma lesão ou grave edema PL Diagn.suportivo ou alternativo Manitol e/ou esteróides EHS provado 14 a 21 dia curso EHS possível 10 dia curso Outro diagn. Parar Acyclovir
Influencia 3 escolhas acima mais outros dados
Referências recomendadas
• Steiner I, Budka H, Chaudhuri A et al. Viral encephalitis:
a review of diagnostic methods and guidelines fo management. European Journal of Neurology. 2005,
12:331-43.
• Kennedy PGE and Chaudhuri A. Diagnosis and
treatment of viral encephalitis. Postgrad. Med. J. 2002,
78:575-583.
• Whitley RJ and Gnann JW. Viral encephalitis: familiar
infectious and emerging pathogens. Lancet. 2002,
359:507-13.
• Roos KL. Encephalitis. Neurol Clin NA. 1999, 17: 813-33.
Sequelas
Avaliação evolutiva de 42 pacientes
• Alteração de memória recente - 70% • Alteração de memória antiga - 69%
• Alterações de comportamento e personalidade - 45 % • Epilepsia - 24%
• Anosmia - 65% • Afasia - 41%