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A PRODUÇÃO DO BULLYING NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA 1

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Academic year: 2021

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A PRODUÇÃO DO BULLYING NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA

1

COSTA, Fernanda dos Santos

2

;CAMILLO, Camila Righi Medeiros

3 1

Trabalho Final de Graduação I - UNIFRA 2

Acadêmica do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil

3

Professora do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil

E-mail: fercosta20@gmail.com; camilacamillo1@yahoo.com.br

RESUMO

Este trabalho diz respeito a uma pesquisa de Trabalho Final de Graduação I do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano que encontra-se em andamento e tem como objetivo problematizar a produção do bullying na escola contemporânea. Além disso, pretende conhecer as estratégias docentes frente às práticas de bullying na sala de aula e discutir a formação do professor diante desse novo cenário. Para isso será realizada uma entrevista com seis professores, três de uma estadual e três de uma particular de Santa Maria, além de observações dos alunos que previamente foram indicados pelos professores como envolvidos nesse contexto. Nesse sentido, pode-se inferir que a escola é lócus importante para pensar e desenvolver estratégias que tendem a diminuir essas atitudes entre os alunos, pois o medo e as agressões sofridas pelos mesmos podem ter consequências tanto no desenvolvimento escolar quanto no pessoal, como evasão escolar e alteração no ritmo de aprendizagem.

Palavras-chave: Bullying; Escola contemporânea; Sujeitos escolares.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo refere-se a uma pesquisa que está sendo desenvolvida no Trabalho Final de Graduação I do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, que tem como tema o bullying nas escolas. Com o intuito de conhecer como o

bullying vem sendo produzido na escola hoje, esta pesquisa será desenvolvida em duas

realidades distintas, quais sejam uma escola estadual e uma escola particular, localizadas no centro da cidade de Santa Maria/RS.

Tendo em vista o cenário atual da escola, em que os sujeitos escolares são interpelados por práticas excludentes em decorrência de diferenças raciais, étnicas, religiosas, culturais, entre outras, interessa saber, de que forma o bullying está sendo produzido na escola contemporânea.

Brincadeiras de mau gosto, ou que de alguma forma tendem a ofender, estão presentes no cotidiano das salas de aula. A partir disso as consequências dessas

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brincadeiras podem ser observadas tanto no âmbito afetivo ou na aprendizagem, tornando esse sujeito vítima das práticas do bullying.

Brigas sem razão, paqueras, disputa de poder ou até mesmo por um olhar atravessado, esses grupos geram polêmica e atitudes de intolerância com seus pares. Essas crianças ou adolescentes ditos “populares”, a fim de manter sua reputação perante o grupo, costumam ser bastante violentos, capazes de agredir física e psicologicamente. Um dos motivos de tanta violência na escola parece refletir as experiências trazidas de casa. Por outro lado, as mídias têm grande influência nessas atitudes, uma vez que crianças e adolescentes são interpelados diariamente por suas produções.

Pode-se observar que as práticas de bullying são evidentes não apenas no ambiente escolar. A sociedade atual institui padrões sociais de “normalidade”, os quais apontam situações econômicas estáveis, corpos bonitos e magros, além de coeficientes de inteligência como lógicas aceitáveis. Ao contrário, aquelas pessoas que fogem ou não se enquadram nesses padrões estabelecidos se tornam alvo dos processos de exclusão, e tendem a ser capturadas por estratégias que objetivam regular suas diferenças.

A partir desses indícios escolheu-se a temática do bullying para pensar a produção desse campo no espaço escolar atual, onde observam-se muitas atitudes excludentes e por vezes até mesmo violentas.

2. BULLYING: A PRODUÇÃO DE OUTROS SUJEITOS ESCOLARES

Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) (MOZ, 2007) que se refere

a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder. Segundo Moz (2007, p. 21):

O bullying envolve atos, palavras ou comportamentos prejudiciais intencionais e repetidos. Os comportamentos incluídos no bullying são variados: palavras ofensivas, humilhação, difusão de boatos, fofoca, exposição ao ridículo, transformação em bode expiatório e acusações, isolamento, atribuição de tarefas poucas profissionais ou áreas indesejáveis no local de trabalho, negativa de férias ou feriados, socos, agressões, chutes, ameaças, insultos, ostracismo, sexualização, ofensas raciais, étnicas ou de gênero.

Considerando o conceito atualmente utilizado para caracterizar as práticas de bullying, podemos entender que na sociedade moderna ele torna-se uma ficção, ou seja, uma invenção moderna produtiva, uma vez que é responsável pela produção de novas

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identidades no contexto da escola, identidades estas perpassadas pelos modos contemporâneos de vida, alicerçados numa razão de normalidade de status social, condição financeira, culturas aceitáveis, entre outros padrões sociais.

Por fazer parte desse tempo pode-se dizer que esse assunto é, e poderá continuar sendo, constantemente debatido, com ênfase na escola como local onde as práticas de discriminação são observadas de maneira regular e frequentes, tendo em vista que nela as diferenças e as relações de poder são permanentes. Ao estabelecer essas fronteiras delimitando quem está dentro ou fora dos padrões sociais construídos, há sempre o perigo do “borramento”, pois o outro pode atrever-se, e até mesmo deseja, invadir o espaço de quem está dentro, a fim de tornar-se aceitável, dentro da normalidade.

Pode-se dizer que o sujeito normal vive uma posição considerada adequada aos olhos da sociedade moderna e deseja que quem estiver do outro lado, ou seja, os anormais, permaneçam no lugar em que estão. Nesse sentido, compreende-se que os sujeitos da diferença ou da anormalidade estão sempre sendo inventados, e presentes, para reafirmar a normalidade, uma vez que um depende do outro para existir. Nesse contexto, infere-se que o agressor, ou seja, a pessoa que pratica o bullying também pode ser considerada como aquela que foge aos padrões sociais, as regras estabelecidas como normais para a convivência em sociedade, visto que não é considerado natural ou normal agredir o outro.

Ressaltando que a escola é o espaço importante e escolhido para problematizar o bullying e a produção dos sujeitos escolares, compreender quais as relações de poder e saber que estão em jogo nas práticas excludentes é imprescindível para entender como professores e alunos relacionam-se com tais ações e que estratégias estão sendo pensadas frente a produção de novos sujeitos escolares. Assim, tendo em mente que as normas não deixarão de existir, ao contrário, são elas que constroem a lógica social moderna, ou seja, os modos pelos quais vivemos em sociedade.

3. NORMAL/ANORMAL, INCLUSÃO/EXCLUSÃO: QUEM ESTÁ DENTRO E QUEM

ESTÁ FORA?

Entre muitas invenções modernas que surgem no ambiente escolar, o bullying faz parte de uma delas. Portanto, torna-se uma verdade na sociedade atual, produzida por discursos que o constituem como uma “grande verdade”, possível de ocupar um lugar no contexto social e escolar, já que “nada pode ser inventado se não estiver garantido um lugar para a invenção” (LOPES, 2004, p. 03).

A sociedade que cria seus padrões de normalidade definindo como os sujeitos devem ser, se portar, se vestir, também exclui esse outro. Assim, ao mesmo tempo em que cria “o normal”, produz estratégias para acabar com o mesmo, ou seja, “a normalidade que

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inventa a si mesma para, logo, massacrar, encarcerar e domesticar todo o outro (SKLIAR, 2003, p. 153)”. Ao inventar a “normalidade” os sujeitos voltam seus olhares apenas para aquilo que é aceitável, ou seja, para sujeitos que se encontram dentro do que se constitui como normal.

E é para essa normalidade que devemos voltar a olhar a fim de compreender como o

bullying passa a ser produzido na escola, enredado nas relações de saber e poder que

definem o que é verdadeiro, normal, o que está dentro, ou deveria estar, no espaço escolar. Entende-se que a normalidade procura capturar os sujeitos da diferença com o objetivo de torná-los homogêneos, apagando sua alteridade (identidade do outro), sua estranheza, ou ainda, reforçando-a.

Portanto, conviver em sociedade remete seguir normas e padrões impostos por ela mesma, o que significa sermos constantemente cobrados por isso, caso contrário, ao ser diferente do que é aceitável pela sociedade sofreremos as consequências da nossa estranheza. Como nos diz SKLIAR (2003), somos produtos e produtores dessa “invenção maléfica”.

Se pensarmos na temática desse trabalho, o bullying, nos reportamos aos sujeitos da diferença, dito de outro modo, sujeitos que se encontram fora dos padrões sociais; o outro que não tem solução, a ser corrigido, resgatado – o pobre, o negro, o gordo, o deficiente, o disléxico, com dificuldade de aprendizagem, entre tantos outros. Portanto cabe pensar: quem são esses outros do bullying? A normalidade e o anormal se naturalizaram de tal forma que só se pode inferir que existe aquele que está dentro e aquele que está fora, não sendo possível um meio termo, ou seja, “o outro foi naturalizado como anormal. E a normalização foi naturalizada” (SKLIAR, 2003, p. 178).

Contudo, problematizar as práticas de bullying na sociedade contemporânea, e a própria naturalização da normalidade, requer entender as relações de saber e poder que estão em jogo. Poderes e saberes que instituem o dentro e o fora, quem está incluído e quem está excluído, logo, uma norma como instância maior que coloca tudo no seu devido lugar, que assegura uma ordem social.

4. METODOLOGIA

Fazer uma pesquisa é o mesmo que entrar em um labirinto, pois não sabemos o que vamos encontrar; e por mais que acreditemos que ela se dê por encerrada, há sempre algo novo a descobrir. Nesse sentido, os problemas de pesquisa também não existem em si mesmos, até porque não há onde procurá-los, nem mesmo um manual de como fazer. O que existem são caminhos que permitem chegar a uma ideia, a um desejo de pesquisa, e

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como numa grande “fábrica de conhecimento” nós os inventamos (os problemas) e a partir disso começando “os caminhos da investigação”.

... o problema (o tal objeto) de pesquisa da prática educacional e pedagógica só é constituído como problema – configurado, delineado, esclarecido, produzido, iluminado, feito visível e enunciado -, desde as práticas teóricas que o tornam problemático, que o criam enquanto problema (CORAZZA, 2002, p. 115).

Portanto, é necessário fazer a seleção de uma temática que seja útil e que cause inquietação ao pesquisador. Nesse caso, o bullying é o tema em questão e sua produção na escola moderna é a problemática. A partir de uma abordagem qualitativa entendida aqui “como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida” (MINAYO, 2007, p. 21), esta pesquisa será desenvolvida em duas escolas de Santa Maria/RS, uma estadual e outra particular, ambas localizadas no centro da cidade.

Os sujeitos da investigação serão seis professores, três de cada escola, os quais serão escolhidos a partir de uma particularidade: a diferença de tempo de atuação na escola. Portanto, dois que estejam há mais tempo no exercício pedagógico e um que esteja recente na atividade escolar. Para fazer essa coleta de dados os instrumentos de pesquisa serão: observação durante o intervalo (recreio) dos alunos que previamente foram indicados pelos professores como envolvidos nas práticas de bullying e entrevista com os professores que atuam junto a esses alunos. Tal instrumento conterá as seguintes questões:

- O que você compreende por bullying? - De que forma as práticas de bullying aparecem no seu espaço de atuação pedagógica? - O que você apontaria, ou quais fatores, como “estimuladores” das práticas de bullying na atualidade? - Que estratégias você adota, ou adotaria, para diminuir as práticas de bullying na escola em que trabalha? - Como se dá a formação do professor frente ao bullying? - Em que momentos ou espaços de formação você participa ou participou em que a violência escolar, exclusão social e o bullying são discutidos?

Em primeiro lugar, entra-se em contato com os professores a fim de uma conversa que esclareça previamente alguns aspectos e características dos alunos envolvidos no

bullying, assim identificando-os. Em seguida, realiza-se as observações no intervalo das

aulas (recreio) em dois momentos diferentes (dias diferentes), onde serão apontadas atitudes e comportamentos dos alunos. Logo, far-se-á a entrevista com os professores.

De posse das observações e das entrevistas com os professores serão realizadas as análises dos discursos, articulando as bases teóricas selecionadas com os instrumentos da pesquisa.

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5. CONCLUSÃO

Este trabalho não pretende enunciar conclusões definitivas, uma vez que a pesquisa ainda está em fase de coleta de dados, porém é importante apontar algumas ideias preliminares que localizam este estudo como uma problemática atual nas discussões da escola de hoje.

Uma delas localiza o bullying como uma verdade contemporânea produzida por inúmeros discursos que surgem daqueles que o praticam; uma verdade que o próprio sujeito vítima dessa ação passa a acreditar, subjetivando-se de acordo com o que dele falam e pensam. Assim, pode-se observar que o bullying demarca fronteiras que separam quem está dentro/fora, portanto, o norma/anormal. Ou ainda, pode-se compreender que quem está dentro – o dito normal – encontra-se privilegiado, e o que está fora – dito anormal – encontra-se numa posição de excluído; portanto, o sujeito do bullying.

Compreende-se que o ambiente escolar é propício para que atitudes excludentes sejam realizadas, pois nele há uma grande diversidade cultural, social, econômica, religiosa, física, entre outras. Nesse espaço formam-se os chamados “grupos”, seja por pertencerem a mesma classe ou cultura. A partir dessas diferenças um grupo tende a se mostrar “melhor” que o outro a fim de se destacar, ou mesmo, para demarcar uma posição de poder em relação ao outro, intimidando-o verbalmente ou por meio de ações violentas. Essas situações podem ocorrer, principalmente, no ambiente escolar por vários motivos cotidianos, que surgem por parte dos grupos que se apresentam “mais fortes” ou também ditos “os populares”.

Assim, este estudo busca legitimar a relação escola-bullying como aquela que merece destaque, cuidado, um voltar a olhar bem. Olhar bem para os sujeitos produzidos por essas práticas, para as noções de normal e anormal, pelas novas configurações que a escola desenha diante desse cenário.

REFERÊNCIAS

CORAZZA, Sandra Mara. Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos. In: COSTA, Marisa Vorraber. (Org.). Caminhos Investigativos I – novos olhares na pesquisa em educação. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p. 105-131.

LOPES, Maura Corcini. A inclusão como ficção moderna. In: LOPES, Maura Corcini. Pedagogia: a Revista do Curso. v. 3, n. 6, jul/dez. São Miguel Oeste, UNOESC, 2004.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. (org.) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis/Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

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MOZ, Jane.; ZAWADSKI, Mary Lee. Bullying: estratégias de sobrevivência para crianças e adultos. São Paulo: Artmed, 2007.

SKLIAR, Carlos. Pedagogia (improvável) da diferença: e se o outro não estivesse aí? Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

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