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ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE MINAS GERAIS SOCIEDADE DE TANATOLOGIA E CUIDADO PALIATIVO DE MINAS GERAIS

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Academic year: 2021

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ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE MINAS GERAIS

SOCIEDADE DE TANATOLOGIA E CUIDADO PALIATIVO DE MINAS GERAIS

CRIANÇA TAMBÉM FICA DE LUTO

CURSO DE TANATOLOGIA – 2016 ALUNA: CRISTINA PINTO COELHO

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“Tenho medo de morrer”, disse a folha a Daniel. “Não sei o que tem lá embaixo.” “Todos temos medo do que não conhecemos. Isso é natural”, disse Daniel para animá-la. “Mas você não teve medo quando a primavera se transformou em verão. E também não teve medo quando o verão se transformou em outono. Eram mudanças naturais. Por que deveria estar com medo da morte?” (Leo Buscaglia, História de uma folha)

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A criança também fica de luto

Se para um adulto é difícil encarar a ausência e as mudanças que a morte impõe, para a criança pode ser ainda mais complicado. Momentos difíceis só são superados com compreensão e acolhimento – em casa e na escola. Conversar sobre a morte é a melhor maneira de ajudar os pequenos quando perdem alguém próximo.

Por luto entende-se o amplo leque de processos psicológicos que são desencadeados pela perda de uma pessoa amada, independente do resultado final desses processos.

As reações de uma criança frente à morte são muito semelhantes às de um adulto: choro, silêncio, agressões, medo. Pode até aparecer a culpa; a partir dos dois anos, muitas acreditam que sentimentos como a raiva desencadeiam fatos concretos e, por isso, acreditam que o parente morreu devido ao que pensaram ou disseram.

A partir do 2º ano de vida, a criança pode sentir profunda falta do falecido, dependendo do vínculo amoroso estabelecido com ele. Até, por volta, dos cinco anos, devido principalmente à reversibilidade, característica dessa faixa de idade, há desejo de que o morto volte acompanhado por uma esperança real de que isso aconteça. Quando percebe, no dia a dia, que não há volta, há sensações de muita tristeza e raiva.

Como diz a psicóloga Maria Júlia Kovács, do Laboratório de Estudos sobre a Morte, da Universidade de São Paulo; “é importante respeitar as reações, mas sem mascarar os fatos.” Ela aconselha a nunca usar metáforas (“foi viajar”, “está descansando”), mas apenas as palavras corretas.

Desde que tenham apoio e permissão para tanto, as crianças não se esquecem com facilidade, e gostam de conversar sobre a pessoa morta e episódios relevantes de sua vida, com o objetivo de afirmar e ampliar a figura guardada na memória. Muitas crianças (assim como adultos) gostam de guardar fotografias do morto ou objetos que lhe pertenceram.

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A resposta inicial das crianças, quando têm conhecimento da morte, é muito variada.

Algumas crianças choram muito, outras parecem não ter nenhuma reação (o que nem sempre é relacionado ao não entendimento do acontecido). Em geral, quanto mais velha é a criança, maior é a tendência para chorar ao receber a notícia. Muitas se tornam, nas semanas seguintes, retraídas e pouco sociáveis. Quanto maior a criança, maior a probabilidade de guardar na memória a figura do morto por um longo tempo.

É normal que a ansiedade da criança aumente enormemente. Ela se torna sensível aos primeiros indícios de afastamento das figuras de apego e, em geral, a qualquer ameaça de separação. Aumentam as demandas de presença constante, portanto o grude com os familiares é excessivo, assim como aumenta também a dependência de objetos intermediários (necessidade de travesseirinho, ursinho de pelúcia, etc.). Outro fato notório é a existência de raiva, seja ela manifestada claramente ou de maneira indireta, ou deslocada para outros objetos.

É muito comum que as notícias sobre a morte para as crianças sejam omitidas, retardadas ou distorcidas. A criança tem menos poder e recursos para obter as informações verdadeiras, portanto, a probabilidade de se sentir confusa e sem saber no que acreditar é maior.

Quando se diz para a criança pequena que o falecido “foi para o céu”, a criança, a menos que se lhe explique com clareza, vai imaginar que o céu é um lugar como qualquer outro e que, portanto, o falecido voltará. Quando é dito que o falecido foi “dormir para sempre” ou “descansar”, a criança toma as coisas ao pé da letra e pode desenvolver medo de descansar ou dormir e não mais voltar.

Quando morre alguém, a criança deve ser informada prontamente e com clareza que a morte é irreversível, ou seja, que a pessoa morta nunca mais vai voltar.

A criança é sempre mais dependente de seus familiares, precisa deles para obter atenção, apoio e amparo em sua tristeza.

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A criança vive mais no presente; momentaneamente se esquece da morte e age como se nada tivesse acontecido, tendo repentinamente crises de tristeza e de choro. Portanto, seu estado de humor é mais oscilante e frequentemente incompreensível.

É muito doloroso para um adulto dar a notícia de morte para uma criança e isso é totalmente compreensível, pois além da própria torrente de emoções, há as demandas que são normais e frequentes à criança enlutada. É necessário que a criança possa compartilhar seus sentimentos de tristeza, desespero, raiva ou culpa. É necessário ao adulto ser continente ao excesso de demandas de atenção, presença constante, solicitações contraditórias, assim como um aumento de dependência e ansiedade de se separar das figuras de apego restantes. Assim, é importante também ao adulto algum tipo de amparo, seja familiar ou profissional.

É frequente os adultos tentarem esconder sua dor frente à morte, por meio de impressionar a criança ou mesmo reprimirem consciente ou inconscientemente as respostas de dor que ela manifesta; por exemplo, mudando de assunto cada vez que a criança fala na pessoa falecida. Assim, em vez de ajudar a criança a expressar seus sentimentos, uma boa parte dos adultos dificulta ou impossibilita essa expressão. Mesmo sendo doloroso, é o compartilhamento dessa perda, de ambos os lados, que permite crianças e adultos melhores recursos às vivências envolvidas num curso de um luto.

O processo de luto requer que a pessoa enlutada possa falar sobre o morto, fazer perguntas, relatar casos e partilhar sua dor, ânsia e raiva com outras pessoas com quem tenha vínculos afetivos. Muitos adultos negam-se a conversar com a criança sobre a morte, argumentando que as crianças nada sabem a respeito dela; porém o escamoteamento da verdade provoca um sentimento de estarem sendo enganadas ou consideradas ingênuas, o que causa um sentimento de profunda solidão.

Falar da morte não significa criar ou aumentar a dor, pelo contrário, pode aliviar a criança e o adulto e facilitar a elaboração do luto.

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De acordo com Maria Julia Kovács, “a questão da origem da vida e da morte está presente na criança, principalmente no que concerne à separação definitiva do corpo. Ela tem uma aguda capacidade de observação e quando o adulto tenta evitar falar sobre o tema da morte com ela, a sua reação pode ser a manifestação de sintomas. Ao não falar, o adulto crê estar protegendo a criança, como se essa proteção aliviasse a dor e mudasse magicamente a realidade. O que ocorre é que a criança se sente confusa e desamparada sem ter com quem conversar.” (Morte e desenvolvimento humano – pág.49)

Perante a morte existe o desejo de proteger as pessoas do contato com a dor e o sofrimento, principalmente as crianças, justificando-se que devem ser poupadas da informação já que não vão compreender. Acredita-se que, ao não falar, a criança não perceberá que uma dada morte ocorreu. A criança é muito observadora: sente que a rotina de casa se alterou, nota os olhos vermelhos e inchados, e percebe que todos estão agindo de maneira diferente da corriqueira. Vê-se confrontada com mensagens contraditórias: uma afirmando que está tudo bem e outra, não verbal, que indica que algo muito dramático está acontecendo.

É útil fornecer explicações religiosas somente quando o adulto realmente acredita nelas, caso contrário isso pode gerar ambigüidade e confusão.

Quando as mensagens comuns de desamparo e tristeza de uma criança enlutada não são entendidas e respondidas adequadamente, é frequente o sofrimento ser expresso através de crises de agressividade e hiperatividade, sem nenhum sinal claro de desejar conforto.

Algumas crianças não tomam consciência do sofrimento e da perda: ficam como que anestesiadas para a dor da morte, e apresentam sintomas de picos de euforia inexplicáveis, seguidos de sensações também inexplicáveis de depressão. Em ambos os casos há uma desconexão do sentimento com suas causas: a criança não percebe, a nível consciente, o quanto está sofrendo com a morte. Também ocorre em alguns casos sensações de despersonalização, de não ser ela a pessoa que está ali, de

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estar desligada da realidade, onde percebe o mundo externo como irreal ou vazio.

Na infância o contato com a morte vem através dos desenhos, das histórias ou dos jogos. As crianças desde pequenas precisam e gostam de ouvir histórias, músicas e convivem afetivamente com as pessoas. As crianças percebem fatos que lhe são ocultados e, embora possam não expressá-los verbalmente, os seus conhecimentos aparecem em seus jogos, desenhos ou outras formas de expressão. Entre os jogos infantis em que ocorre a simbolização da morte estão os jogos de esconde-esconde, mocinho e bandido.

Na escola, a criança enlutada, deve também ser recebida com acolhimento. Não se deve forçar a criança a falar nem a participar das atividades, mas nunca deixá-la sozinha. O professor deve manifestar à criança que sabe o que aconteceu, perguntando se ela quer falar sobre o assunto com os colegas, se não quer ou se quer que o professor conte à turma. Se o ocorrido for dito é importante que o professor reúna as crianças em roda e pergunte se alguém já passou pela mesma situação ou quer dizer algo – a troca de experiência conforta e é um incentivo para deixar aflorar os sentimentos. Juntos, o professor pode sugerir que cada colega lhe dê um abraço e que o chamem para brincar, mas sem insistir. Ler livros ou ver filmes como O Rei Leão e Bambi, que têm cenas de morte, ajudam a introduzir a conversa. Atividades físicas e artísticas são propostas para extravasar a energia e expressar as emoções.

Os professores não podem impor nenhum procedimento baseado na própria fé. O melhor é abordar o tema de forma imparcial.

É importante aproximar-se da criança sempre que ela chorar ou sentir medo ou culpa para verificar o que a aflige. Se ocorrer um conflito entre os colegas, o professor deve agir naturalmente, mediando as conversas e as relações entre causa e consequência.

De acordo, com Maria Júlia Kovács, “o processo de luto está finalizado quando existe a presença da pessoa perdida internamente em paz, e há um espaço disponível para outras relações. A criança pode simbolizar esta ausência / presença, através de jogos e brincadeiras.”

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BIBLIOGRAFIA:

KOVÁCS, MARIA JÚLIA. Morte e Desenvolvimento Humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2015.

KOVÁCS, MARIA JÚLIA. Educação para a Morte – Desafio na formação de profissionais de saúde e educação. São Paulo: Casa do Psicólogo, FAPESP, 2012.

FRANKLIN, SANTANA SANTOS. Tratado Brasileiro sobre Perdas e Luto. São Paulo: Atheneu Editora, 2014

DVDs

 Falando de Morte na Escola;

 Falando de Morte: a criança; o adolescente; o idoso; os profissionais da saúde;

 Cuidados Paliativos.

LEM – IPUSP – Laboratório de Estudos sobre a Morte. www.lemipusp.com.br

Anotações e apresentação (Power Point) da aula de Maria Emidia de Melo Coelho: A CRIANÇA E A MORTE.

Referências

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