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ROBERTO DE ABREU E SILVA

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Academic year: 2021

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NONA CÂMARA CÍVEL

Apelação Cível nº 2008.001.61200

Apelante: CARLOS AURELIO LIMA E SILVA Apelado: MARIA VANDA DE SOUZA CAMPOS

Relator: Desembargador ROBERTO DE ABREU E SILVA

REINTEGRAÇÃO DE POSSE CUMULADA COM FIXAÇÃO DE ALUGUERES. DROIT DE SAISINE. LEGADO. ART. 1.923, §2º CC/02. A autora é legatária do bem, sendo possível o legado de posse de acordo com a melhor doutrina. A despeito da transmissão do bem operar-se com a abertura da sucessão, o art. 1923, §1º do CC/02, antigo art. 1690, parágrafo único do CC/1916 impede o deferimento imediato da posse. O art. 1.784 do CC/02 institui o princípio de saisine como regra geral havendo, quanto ao legado especificamente, regramento próprio, que há de ser observado. Assim, enquanto não se cumprir o procedimento legal exigido pelo ordenamento jurídico, não há que se falar em posse da autora, não sendo possível o manejo da presente reintegração de posse. Por outro vértice, a própria autora alega em sua petição inicial que nunca teve a posse do bem. Por isso, também não é possível o ajuizamento da reintegração de posse por ausência de um de seus requisitos essenciais. O réu, por sua vez, encontra-se com o imóvel, dando-lhe destinação econômica e social de moradia. Embora sem justo título posto que celebrou contrato de locação apenas com a legatária do 1º pavimento, exerce uma situação fática passível de proteção pelo direito, tendo em vista o direito social de moradia que exerce (art. 6º, caput da CRFB/88), tendo ali fixado suas ocupações habituais e de sua família, sem qualquer ato de violência ou clandestinidade, mediante contrato de locação. Os aluguéis são devidos à autora uma vez que, embora não tenha posse do bem desde o falecimento, possui direito aos seus frutos e rendimentos, nos termos do art. 1.923, §2º do CC/02 que determina: “o legado de coisa certa existente na herança transfere também ao legatário os frutos que produzir, desde a morte do testador.” PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Apelação Cível nº 2008.001.61200, A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO, nos termos do voto do relator. Decisão UNÂNIME.

VOTO

Integra-se ao presente o relatório constante dos autos.

Conheço e admito o recurso, tendo em vista a presença dos pressupostos de admissibilidade.

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pena pecuniária em caso de novo esbulho, com condenação do réu no pagamento das indenizações decorrentes de perdas e danos materiais, que se apurarem em liquidação de sentença, bem como a fixação de valores referentes aos aluguéis durante o período do esbulho, além de outros danos verificados no imóvel. Alega a autora, em síntese, que se trata de imóvel de dois andares sem matrícula no RGI e que pertencia a uma única pessoa – Josefa Maria da Silva, falecida em 27 de agosto de 2000. Por testamento, deixou a parte superior do bem para a autora e a parte inferior para Valeria Gomes do Nascimento. O imóvel da autora estava em comodato para Grinauria Custodio de Souza que há dois anos veio a falecer, consolidando-se a posse nas mãos da autora. Há mais ou menos 6 meses, a autora descobriu que o réu invadiu a parte superior do imóvel, aproveitando-se de sua condição de possuidor da parte inferior do bem, utilizando-o como escola e depósito de material de construção.

A r. sentença julgou procedentes os pedidos para reintegrar a suplicante na posse do segundo pavimento do imóvel, abrangido pela acessão existente e terraço. Arbitrou multa de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), por cada novo ato de esbulho praticado pelo suplicado. Condenou o suplicante a efetivar pagamento de aluguel mensal pelo uso integral do segundo pavimento do imóvel, desde o óbito da Sra. Grinaura, a se verificar seu valor em liquidação de sentença por arbitramento.

Pugna o réu pela reforma do decisum afirmando, resumidamente, que: a) a r. sentença reconheceu a posse do imóvel à apelada com base em apenas um documento, de instrumento público de testamento, que é nulo; b) ainda que o ato não fosse nulo, não teria a apelada legitimidade para a propositura da ação de reintegração de posse, exceto com o cumprimento do referido testamento, na pessoa do testamenteiro legal; c) no mencionado documento, foi nomeada testamenteira Valéria Gomes do Nascimento; d) o apelante é locatário do imóvel; e) é possuidor de boa-fé; f) a proprietária do imóvel, que alugou o imóvel ao apelante, é que tem legitimidade para responder à ação; g) a apelada não comprovou posse; h) nota-se ainda no documento de fls. 10 e 16 testamento e fotografia, reclama a apelada pelo terraço, mas conforme se vê no documento acostado, não declara que o terraço pertence a apelada, e veja que o imóvel residencial é fora da área do terraço (textual); i) a multa em R$ 30.000,00 encontra-se elevada.

Assiste razão ao apelante, em parte.

Com efeito, o conjunto probatório carreado aos autos evidencia que o imóvel objeto da demanda não possui proprietário segundo a certidão de RGI acostada às fls. 10, tendo sua legítima possuidora falecido em 27 de agosto de 2000 (fls. 11), sem deixar filhos. Conforme testamento público acostado às fls. 12/15, sua disposição de última vontade quanto ao bem objeto da presente reintegração de posse foi o seguinte:

1ª) Declara a testadora, ser proprietária do imóvel localizado na Rua Francisco Dias, 199, em Marechal Hermes, nesta cidade, composto de dois (02) pavimentos, ou seja térreo e pavimento superior; 2º) Lega o pavimento inferior do imóvel acima descrito, para sua sobrinha Valéria Gomes do Nascimento...; 3º) Lega o pavimento superior do imóvel acima descrito, para Maria Vanda de Souza Campos...

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Assim, tem-se que a autora é legatária do bem, sendo possível o legado de posse de acordo com a melhor doutrina, tendo em vista que o imóvel não se encontra ainda registrado na serventia competente:

É possível o legado de posse (CC 1.196) principalmente para efeitos de usucapião. É que para a aquisição da propriedade o sucessor singular tem a faculdade de unir sua posse à do antecessor (CC 1.207).1

No entanto, a despeito da transmissão do bem operar-se com a abertura da sucessão, o art. 1923, §1º do CC/02, antigo art. 1690, parágrafo único do CC/1916 impede o deferimento imediato da posse.

O art. 1.784 do CC/02 (art. 1572 do CC/16) institui o princípio de saisine como regra geral havendo, quanto ao legado especificamente, regramento próprio, que há de ser observado.

Nesse sentido:

Tal como acontece com a herança, também o legado se transmite ao beneficiário quando da abertura da sucessão. A transmissão é imediata e não depende de qualquer manifestação do legatário. Diz a lei (CC 1.923): desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa certa. Tal ocorre quando o legado é puro, ou seja, de bem infungível, que não pode ser substituído por outro da mesma espécie, quantidade e qualidade.

Ainda que adquira a totalidade do legado, de forma pra lá de injustificável, ao legatário não se transmite a posse do bem (CC 1.923 §1º). Incide o princípio de saisine quanto ao domínio, não quanto à posse, nem quando o legado se constitui de bem certo. A posse é transferida ao legatário pela pessoa que tem a incumbência de executar o legado: o onerado (CC 1.934, parágrafo único). Nada explica tratamento diferenciado entre herdeiro legítimo, herdeiro testamentário e legatário. A posse não vai do testador ao legatário, mas do testador ao herdeiro, e do herdeiro ao legatário.2

Assim, enquanto não se cumprir o procedimento legal exigido pelo ordenamento jurídico, não há que se falar em posse da autora, não sendo possível o manejo da presente reintegração de posse.

Por outro vértice, a própria autora alega em sua petição inicial que nunca teve a posse do bem, assim narrando: “Há mais ou menos seis meses, quando a autora foi ao imóvel para planejamento das obras necessárias para ocupação da casa, deparou-se com o imóvel invadido pelo réu.”

1 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões.Editora Revista dos Tribunais, 2008. Pág. 389. 2 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões.Editora Revista dos Tribunais, 2008. Pág. 383.

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Nesse diapasão, não há que se falar nos interditos proibitórios, mas sim imissão na posse.

8. Imissão na posse: ação petitória. Ação de imissão na posse não é possessória. É ação do proprietário, fundada no ius possidendi. O CPC/39 382 exigia que o autor da imissão juntasse com a inicial o título de propriedade, reconhecendo, pois, o caráter dominial de que era revestida aquela ação (Nery, RP 52/170). Deve ser intentada pelo procedimento comum (CPC 272). Aquele que nunca teve a posse, não poderá servir-se dos interditos possessórios para obtê-la. O adquirente que não recebe a posse do vendedor poderá utilizar-se da ação de imissão na posse.3

Por isso, também não é possível o ajuizamento da reintegração de posse por ausência de um de seus requisitos essenciais.

Requisitos da reintegração de posse: a posse, ter o possuidor sofrido esbulho em sua posse (= privação da posse); não pode ter como fundamento (causa de pedir) a propriedade. Não admite, como defesa do réu, a exceptio proprietatis (CC 1210)

Requisitos da Imissão na posse: título de propriedade (ação de quem nunca possuiu a coisa); nunca ter tido posse4

O réu, por sua vez, encontra-se com o imóvel, dando-lhe destinação econômica e social de moradia. Embora sem justo título posto que celebrou contrato de locação (fls.62 e 62v) apenas com a legatária do 1º pavimento, exerce uma situação fática passível de proteção pelo direito, tendo em vista o direito social de moradia que exerce (art. 6º, caput da CRFB/88), tendo ali fixado suas ocupações habituais e de sua família, sem qualquer ato de violência ou clandestinidade, mediante contrato de locação.

Assim, impõe-se a improcedência do pedido de reintegração de posse, mas condenação do réu no pagamento dos aluguéis devidos à autora, até que esta regularize sua situação nos termos acima delineados.

Os aluguéis são devidos à autora uma vez que, embora não tenha posse do bem desde o falecimento, possui direito aos seus frutos e rendimentos, nos termos do art. 1.923, §2º do CC/02 que determina: “o legado de coisa certa existente na herança transfere

também ao legatário os frutos que produzir, desde a morte do testador.”

3 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado e Legislação extravagante, 9ª edição. Editora Revista dos Tribunais. 2006. Pág. 989.

4

NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado e

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A partir da morte do testador pertencem ao legatário os frutos e rendimentos do legado recebido (CC 1.923, §2º.), quer se trate de bem certo, quer de bem fungível.5

Considerando o comodato existente, sendo comodatária a Sra. Grinaura Custodia de Souza que ocupou o segundo pavimento do imóvel até o seu óbito, impõe-se o pagamento dos alugueres desde então, data esta de extinção do contrato real e personalíssimo celebrado.

Por tais razões, voto no sentido de DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO, para julgar improcedente o pedido de reintegração de posse e julgar procedente o pedido para condenar o réu no pagamento dos alugueres vencidos e vincendos à autora, devidos pela ocupação do segundo pavimento do imóvel desde a morte da Sra. Grinaura, a ser apurado o valor em liquidação de sentença, arbitrando-o, em caráter provisório, em R$ 50,00, com vencimento todo dia 10, até que se encontre o real valor devido.

Rio de Janeiro, 10 de março de 2009.

Desembargador ROBERTO DE ABREU E SILVA – Relator

5

DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões.Editora Revista dos Tribunais, 2008. Pág. 384.

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NONA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº 2008.001.61200

Apelante: CARLOS AURELIO LIMA E SILVA Apelado: MARIA VANDA DE SOUZA CAMPOS

Relator: Desembargador ROBERTO DE ABREU E SILVA

RELATÓRIO

Cuida-se de ação objetivando a reintegração de posse da autora e cominação de pena pecuniária em caso de novo esbulho, com condenação do réu no pagamento das indenizações decorrentes de perdas e danos materiais, que se apurarem em liquidação de sentença, bem como a fixação de valores referentes aos aluguéis durante o período do esbulho, além de outros danos verificados no imóvel. Alega a autora, em síntese, que se trata de imóvel de dois andares sem matrícula no RGI e que pertencia a uma única pessoa – Josefa Maria da Silva, falecida em 27 de agosto de 2000. Por testamento, deixou a parte superior do bem para a autora e a parte inferior para Valeria Gomes do Nascimento. O imóvel da autora estava em comodato para Grinauria Custodio de Souza que há dois anos veio a falecer, consolidando-se a posse nas mãos da autora. Há mais ou menos 6 meses, a autora descobriu que o réu invadiu a parte superior do imóvel, aproveitando-se de sua condição de possuidor da parte inferior do bem, utilizando-o como escola e depósito de material de construção.

A r. sentença de fls. 80/84 julgou procedentes os pedidos para reintegrar a suplicante na posse do segundo pavimento do imóvel, abrangido pela acessão existente e terraço. Arbitrou multa de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), por cada novo ato de esbulho praticado pelo suplicado. Condenou o suplicante a efetivar pagamento de aluguel mensal pelo uso integral do segundo pavimento do imóvel, desde o óbito da Sra. Grinaura, a se verificar seu valor em liquidação de sentença por arbitramento.

Recurso de apelação do réu (fls. 86/88) pugnando pela reforma do decisum afirmando, resumidamente, que: a) a r. sentença reconheceu a posse do imóvel à apelada com base em apenas um documento, de instrumento público de testamento, que é nulo; b) ainda que o ato não fosse nulo, não teria a apelada legitimidade para a propositura da ação de reintegração de posse, exceto com o cumprimento do referido testamento, na pessoa do testamenteiro legal; c) no mencionado documento, foi nomeada testamenteira Valéria Gomes do Nascimento; d) o apelante é locatário do imóvel; e) é possuidor de boa-fé; f) a proprietária do imóvel, que alugou o imóvel ao apelante, é que tem legitimidade para responder à ação; g) a apelada não comprovou posse; h) nota-se ainda no documento de fls. 10 e 16 testamento e fotografia, reclama a apelada pelo terraço, mas conforme se vê no documento acostado, não declara que o terraço pertence a apelada, e veja que o imóvel residencial é fora da área do terraço (textual); i) a multa em R$ 30.000,00 encontra-se elevada.

Contra-razões (fls. 92/95).

Rio de Janeiro, 01 de dezembro de 2008.

Desembargador ROBERTO DE ABREU E SILVA – Relator

Certificado por DES. ROBERTO DE ABREU E SILVA

A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br.

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