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QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE MUNICIPAL DO MUNICIPIO DE BOA VISTA-RR

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Academic year: 2021

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QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE MUNICIPAL DO MUNICIPIO DE BOA VISTA-RR

O trabalho na vida dos indivíduos assume muitos significados, por um lado, faz o ser humano sentir-se feliz e realizado, por outro, por inadequações e excessos, pode se transformar em um elemento patogênico, tornando-se nocivo à saúde. Estudos realizados em todo o mundo apontam que os educadores correm o risco de sofrerem esgotamento físico e mental, levando-se em consideração as dificuldades materiais e psicológicas associadas ao exercício da docência. No ambiente de trabalho os processos de desgaste do corpo e da mente são determinados pelo tipo de trabalho e pela forma como o mesmo está organizado1.

O aumento das demandas sociais influenciou significativamente o trabalho do professor, que passou a ter que demonstrar maior eficiência e qualidade de ensino, mesmo frente à piora de suas condições de trabalho, marcada pelo número excessivo de alunos por turma, precarização do espaço escolar, aumento da violência, baixos salários, subcontratações, alto índice de desemprego, dentre outros pontos de conhecimento comum que poderiam ser destacados. Condições estas, presentes não só no sistema público de educação formal, mas também no sistema privado2. Vale destacar, ainda, o fato de a própria

formação do professor, por vezes, não oferecer a este os conhecimentos necessários ao exercício de uma prática pedagógica de qualidade.

Com as condições de trabalho inadequadas, aliadas a grandes cobranças por resultados, o adoecimento entre professores tem se tornado comum. Pode-se compreender que tal realidade contraditória seja reflexo do fato de, por um lado, o professor, predominantemente no âmbito da educação estatal, apresentar-se como trabalhador improdutivo ao capital, não atuando diretamente na produção de mais-valia e, por outro, ser ator central na tarefa de “internalização” dos valores sociais e morais, próprios da sociedade capitalista, no campo da educação formal, processo este fundamental para a reprodução social7.

Ao trabalho docente regular, pode-se somar o fato comum, na vida do professor, de que parte de seu tempo livre, em geral de 10% a 20%, acaba sendo utilizada em trabalhos extraclasse3. Com isso, muitas atividades importantes e inerentes ao ensino são realizadas no

período extraclasse, em casa, em seu horário de descanso. Esta sobrecarga de horas extraordinárias, não remuneradas, tem efeitos particularmente nocivos sobre as condições de

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trabalho e de saúde dos educadores, uma vez que tornam ainda mais acentuadas as condições já estressantes de trabalho.

Estas atividades extras, que representam uma sobrecarga de trabalho, que ocorrem inclusive em feriados, finais de semana e nas férias, retiram do professor a oportunidade de convivência com seus familiares, amigos ou mesmo realizar outros tipos de atividades físicas, culturais e sociais, comprometendo assim sua qualidade de vida.

A vida estressante, a agitação típica dos ambientes escolares, os prazos, as metas, as jornadas duplas e até triplas de trabalho, a complexidade que envolve o cotidiano dos professores acaba, por vezes, não permitindo que estes profissionais consigam dispor de tempo para cuidar de suas atividades pessoais e de sua saúde. Esses indivíduos constantemente estão preocupados com o aprendizado dos alunos, com a elaboração das aulas, com a correção dos trabalhos e provas, com atividades extracurriculares, previstas ou não no calendário escolar, com os prazos e metas, o que pode provocar o deslocamento para segundo plano ou mesmo abandono da preocupação com sua qualidade de vida, podendo prejudicar sua saúde3.

Partindo da ideia de que ser saudável, entre outros aspectos, significa ter a possibilidade de avaliar a realidade, reconhecendo e dando visibilidade às suas potencialidades a partir do que já se possui para construir um cenário melhor. Ser saudável não significa estar acima dos problemas cotidianos, mas conseguir problematizar uma determinada situação, percebendo como o entorno atua sobre ela. A educação é uma área que possui características particulares e peculiares, geradoras de estresse e de alterações do comportamento dos que nela trabalham, devido à tensão do próprio ambiente escolar e às relações que se operam nele, dentre elas, as relações competitivas, de poder, de relacionamento com a comunidade escolar e com o próprio conhecimento abordado e trabalhado nesse ambiente4.

Os professores representam cerca de dois milhões de trabalhadores no Brasil, sendo uma categoria predominantemente feminina na educação básica, devido a fatores históricos, que atualmente tem sido acometida por patologias que tem afetado a qualidade de seu trabalho e consequentemente sua qualidade de vida e saúde4.

Nesse contexto, de predomínio da orientação neoliberal, a educação, ao mesmo tempo em que foi precarizada pelas reformas neoliberais e adaptada aos novos padrões de exploração do trabalho, passou a ser vista como peça chave para melhorar as condições de vida da população, ideário constitutivo da Teoria do Capital Humano, que propõe a ascensão social por meio da educação5. Nesse sentido, a partir dos anos de 1990, especialmente após

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a Conferência Mundial sobre “Educação para Todos”, desencadeou-se um amplo processo de reformas educacionais em todo o mundo, incentivado por organismos multilaterais, tais como a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL) e Banco Mundial, para que a educação fosse adaptada às suas novas funções, como a de alívio da pobreza6.

Mesmo com todas as precarizações ocorridas na Educação, o professor continua sendo, por vezes, responsabilizado pelo sucesso ou insucesso escolar. Constata-se, desse modo, uma constante em nossa realidade social, onde problemas com raízes e causas sociais são vistos como responsabilidade de determinados indivíduos, neste caso, os professores. O que pode ser perfeitamente entendido em nossa sociedade capitalista, considerando que a transferência da “culpa”, pelo insucesso do sistema educacional, ao indivíduo/professor é uma estratégia necessária e comumente utilizada neste tipo de sociedade, como uma forma de maquiar a realidade concreta e manter a harmonia social.

No Brasil, atualmente, observa-se um grande número de professores readaptados e direcionados para as atividades administrativas, por afastamentos temporários ou permanentemente, sendo afetados por uma ou mais doenças da área da psiquiatria, neurologia, otorrinolaringologia, reumatologia ou mesmo por sucessivas licenças de saúde, por razões diversas7.

O Município de Boa Vista - RR conta com 2.464 professores que atuam na Educação Básica, sendo que 582 destes profissionais foram afastados por licenças médicas, ocorridas entre janeiro de 2008 a dezembro de 2016, o que totalizou 23,62% dos educadores8. Estes

resultados apontam uma situação preocupante, pois os professores tem se afastado cada vez mais da sala de aula, gerando não só transtornos à Educação Municipal como também aos cofres públicos, com despesas com os profissionais afastados e com a contratação de temporários para substituí-los.

Portanto, as informações e dados aqui reunidos nos permitem concluir que a qualidade de vida e de saúde dos professores está diretamente relacionada ao excesso de trabalho, associado às más condições do ambiente escolar e à baixa qualidade de vida desses profissionais. Melhorar a qualidade de vida e realizar ações preventivas com estes profissionais, preparando-os para o dia-a-dia escolar, bem como reduzir as situações geradoras de estresse, podem ser alternativas para a redução dos índices atuais. Fornecer elementos para se traçar estratégias que busquem a prevenção aos afastamentos por motivo de saúde e a demonstração da necessidade de implantação de políticas de valorização do

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trabalhador em educação são produtos esperados como resultado desta análise, visando-se minimizar os índices de afastamentos do trabalho.

Para Reflexão:

1) Como mudar a percepção negativa das condições de trabalho do professor e atrair jovens para o magistério?

2) Qual a relação entre a qualidade do ensino, a qualidade de vida e de saúde do professor e a necessidade de discussão e definição sobre temas como: Formação continuada do professor; meios, equipamentos e tecnologias mínimas necessárias em salas de aula; carga horária semanal máxima em sala de aula por professor; tempo para planejamento e para atividades extracurriculares; limite máximo de alunos por turma?

3) A quantidade de profissionais da educação, acometidos de doenças relacionadas ao trabalho que afetam essa categoria profissional, justificaria a criação de um programa de saúde, com especialidades e especializações médicas, voltadas para este público?

REFERÊNCIAS

1. Delcor NS, Araújo TM, Reis EJFB, Porto LA, Carvalho FM, Silva MO, et al. Condições de trabalho e saúde dos professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Cad Saúde Pública. 2004; 20:187-96.

2. Costa, R. Professor, profissão perigo - aumentam os casos de agressão física e psicológica a docentes brasileiros nas escolas particulares e nas universidades. 2014. Revista Istoé.

3. Mészáros, I. Educação para além do capital. São Paulo: BOITEMPO, 2008.

4. Amorim, S., N., M., C. et al. Implicações do trabalho na saúde de professoras de ensino fundamental. Goiânia. I Seminário Nacional de Trabalho e Gênero. Sessão Temática: Trabalho, Gênero e Educação. P.1-14.

5. Toledo, C. A. A.; RUCKSTADTER, V. C. M. Apontamentos sobre o princípio da gestão democrática na educação brasileira. In: LARA, A. M. B.; TOLEDO, C. A. A.; MOREIRA, J. A. S. et al. Gestão educacional.Maringá: Eduem, 2011.

6. Trojan, R. M. Teoria e prática na formação docente: estudo das políticas educacionais brasileiras e cubanas. Práxis Educativa, Ponta Grossa, PR, v. 3, n. 1, jan.-jun. 2008, p. 29 - 42. 7. Apeoesp- Associação dos Professores do estado de São Paulo. [Acessado em 20 de abril de 2017]. Disponível em: www.apeoesp.gov.br.

8. Prefeitura Municipal de Boa Vista. [Acessado em 20 de abril de 2017]. Disponível em: www.boavista.rr.gov.br/noticias.

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Autores Land Mary Freitas Peres Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis na Universidade Estadual de Roraima. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Doutorado em Enfermagem e Biociências (PPGENFBIO) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E mail: landmary1982@hotmail.com

Joanir Pereira Passos Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP). Coordenadora do Curso

de Doutorado PPFENFBIO-UNIRIO. Professora Titular do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (UNIRIO). Líder do Grupo de Pesquisa PENSAT.

Como citar esse post (Vancouver adaptado): Peres, LMF, Passos JP. Qualidade de Vida e Saúde de Professores da Educação Básica da Rede Municipal do Município de Boa Vista. [internet]. Rio de Janeiro (BR); 2017 [Acesso em: dia mês (abreviado) ano]. Disponível em: http://www... (completar com os dados do site).

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