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UMA MEDIDA CERTA RESUMO

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Academic year: 2021

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UMA MEDIDA CERTA

Marcelo Calixtro Haubert Universidade Federal do Rio Grande do Sul - marcelo.haubert@gmail.com

RESUMO

Este relato apresenta o trabalho interdisciplinar desenvolvido pelas disciplinas de Matemática e Educação Física com 110 alunos dos segundos anos do Ensino Médio de uma escola da cidade de Taquara. As áreas específicas envolvidas foram a Estatística, em Matemática, e a Antropometria, em Educação Física. O trabalho teve como objetivos iniciais verificar a ocorrência de semelhanças e/ou discrepâncias nos problemas de saúde associados ao perfil corpóreo verificado quando comparados a padrões de saúde ideais e destacar a importância da estatística como ferramenta de análise de dados. Os alunos que participaram do trabalho tiveram suas medidas de massa, altura, índice de massa corporal, relação cintura-quadril, percentual de gordura e perfil somatotípico realizadas pelos professores de Educação Física. Os dados foram tabulados e analisados sob um olhar estatístico nas aulas de Matemática. Os resultados obtidos foram divulgados em uma mostra cultural em que a comunidade escolar pôde realizar uma avaliação antropométrica.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Estatística; problemas de saúde.

1. INTRODUÇÃO

O ensino de estatística que realizei, ao longo de 14 anos, para o Ensino Médio, sempre me trouxe uma insatisfação e um sentimento de tarefa incompleta. Este sentimento provinha do fato de que, sendo a Estatística um conteúdo riquíssimo de aplicações e de presença no cotidiano, vinha sendo trabalhado de forma mecânica. Os conceitos fundamentais, as medidas de tendência central e as medidas de variabilidade eram “apresentados” e não construídos. Nem mesmo exemplos práticos que viessem a mostrar a necessidade desses conceitos eram apresentados.

No ano de 2013, durante o intervalo, surgiu uma conversa despretensiosa com o professor de Educação Física para os meninos. Ele disse que havia terminado de fazer as medições de todos os alunos de suas turmas. Fiquei curioso sobre quais as medições e para que estes dados seriam úteis. Ele me disse que foram feitas medições de massa, altura, índice de massa corporal, relação cintura-quadril, percentual de gordura e estimativa de perfil somatotípico. Essas medições, após tabuladas através de uma planilha eletrônica que eu havia

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ajudado a construir alguns anos antes, serviriam para estimar um perfil corpóreo e, assim, poder compreender problemas de saúde existentes e até mesmo prever possíveis problemas de saúde vindouros. Comentei com este colega que a Estatística poderia colaborar para uma melhor análise dos dados e que gostaria de ajudar, trabalhando com as fichas de avaliação existentes nas aulas de matemática. Assim nasceu o projeto interdisciplinar “Uma Medida Saudável”.

Figura 1 – Logomarca do Projeto

2. ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO

Na escola em que trabalho há dois professores de Educação Física1, um responsável

pelas aulas para os meninos e outra para as meninas. Uma vez que as aulas de Educação Física foram planejadas pelos dois professores de forma cooperativa, se fez necessário pedir a permissão e participação da professora das meninas no projeto que estávamos começando a planejar. Marcamos uma reunião com a professora de Educação Física e ela gostou muito da ideia. Sendo assim, começamos a estruturar os objetivos, turmas a trabalhar, momentos de trabalho, ações e responsabilidades e a duração que este projeto teria.

Após alguns encontros, estabelecemos a estrutura de trabalho seguinte. Objetivos

- Relacionar conhecimentos da Matemática e da Educação Física para estimar o perfil corpóreo dos indivíduos;

- Destacar a importância dos conceitos de estatística na avaliação física voltada para a saúde;

- Conscientizar sobre a necessidade do conhecimento corporal, sobretudo de sua composição, para a manutenção da saúde e da qualidade de vida.

1 A publicação deste trabalho foi autorizada pelos professores Joseni Marlei Paula Braga e Luís Roberto dos

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Turmas e alunos

- 5 turmas do segundo Ano do Ensino Médio, que estavam começando a ter aulas de estatística;

- 110 meninas e 75 meninos;

- Momentos de Trabalho e Responsabilidades.

Aulas de Educação Física

- Apresentar a proposta e pedir a autorização de uso das medições realizadas (de forma anônima).

- Apresentar dados mundiais – Organização Mundial de Saúde(OMS) – que mostram a relação entre o perfil corpóreo e saúde (ou as doenças).

- Apresentar dados regionais – Projeto Esporte Brasil(PROESP) – que mostram dados relacionados à faixa etária dos alunos (7-17 anos).

Aulas de Matemática

- Trabalhar conceitos de Estatística - Universo e Amostra

- Elaboração de tabelas e gráficos - Medidas de Tendência Central - Medidas de Variabilidade - Tabular os Dados

Duração do Projeto

- 3 semanas, perfazendo um total de 4 encontros nas aulas de Educação Física e 12 encontros nas aulas de Matemática e mais 3 encontros gerais.

3. DESENVOLVIMENTO

De forma paralela foram desenvolvidos os aspectos da Estatística e os aspectos da importância de se ter um perfil corpóreo definido através de medições. Nas aulas de Matemática eram explicitados exemplos simples de construção de tabelas (com e sem dados

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agrupados), gráficos e cálculo de medidas de tendência central (moda, média, mediana). Nas aulas de Educação Física os professores começaram explicando ou relembrando aos alunos a importância de ter hábitos corretos para a boa manutenção da saúde.

Após três aulas de Matemática e duas aulas de Educação Física o projeto foi proposto aos alunos. Alguns, especialmente as meninas, demonstraram certo receio de que suas medidas como peso, altura e índice de massa corporal fossem reveladas. Foi combinado que as fichas seriam fotocopiadas e ocultadas as informações de nome e turma. Após esta explicação, nenhum aluno apresentou queixas ou motivos para não participar do trabalho.

As fichas (figura 2) foram fotocopiadas, misturadas e divididas por 5(número de turmas) e, após, novamente por 5(números de assuntos/grupos por turmas). Os grupos foram orientados a separarem as fichas primeiramente por idade e depois por sexo.

Os assuntos/grupos ficaram divididos da seguinte forma: Grupos A - Análise dos resultados de massa.

Grupos B - Análise dos resultados de Índice de Massa Corporal(IMC). Grupos C - Análise dos resultados de Relação Cintura-Quadril(RCQ). Grupos D - Análise dos resultados de percentual de gordura.

Grupos E – Somatotipos

Figura 2 – Modelo de Ficha

Os grupos denominados Cs fizeram as medições da cintura e quadril primeiramente no próprio grupo e, depois, nos componentes da sala que decidiram participar.

Os grupos denominados Ds tiveram que fazer as medições das dobras cutâneas (Figura 3) e, após, usaram os protocolos de Boileau, Lohman e Slaughter (1985), que apresentam as equações para cálculo – Polinômios de 2º Grau (Figura 4).

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Figura 3 – Dobras Cutâneas

Figura 4 – Protocolos (Equações) de Boileau, Lohman e Slaughter (1985)

Os grupos denominados Es acabaram não seguindo em frente em seu assunto, sendo incorporados a outros grupos. Foi percebida uma grande resistência de utilizarem os protocolos de Heath-Carter que usam equações quadradas e cúbicas.

No primeiro encontro, os grupos demoraram mais do que o previsto para realizarem as atividades de medição e tabulação, uma vez que havia cerca de 35 fichas por turma. Por isso foi tomada a decisão de que os grupos denominados As, Bs e Cs trabalhariam com 10 fichas apenas (escolhidas aleatoriamente) e os grupos Ds com 5 medições de dobras cutâneas e cálculos através de protocolos (dos integrantes do próprio grupo).

Após mais 4 aulas, as tabelas estavam prontas e foram comparadas com os dados da Organização Mundial de Saúde(OMS).

Neste momento, foi percebido que os dados eram muito diferentes e foram levantadas algumas hipóteses:

- medições não precisas; - amostra “pequena”;

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Nesse momento o conceito de desvio médio, variância e desvio padrão foi explicado aos alunos. Esta explicação foi feita através de exemplos com um pequeno conjunto de dados não relacionado ao trabalho. Esta decisão foi tomada devido ao fator tempo e pelo fato de que acreditou-se ser melhor para a compreensão dos alunos do que se fosse utilizada a grande quantidade de dados tabuladas até o momento. Após esta explicação inicial, foram escolhidas as variáveis massa (grupos As) e índice de massa corporal (grupos Bs) para serem efetuados os cálculos. O resultado foi mais desanimador ainda, pois essas medidas também foram diferentes das apresentadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Os professores se reuniram e perceberam que os números que constam nas tabelas da Organização Mundial da Saúde são para público adulto e generalizado e decidiram então usar os valores existentes do Programa Esporte Brasil como referência (Figura 5). Este programa não mostra tabelas com os valores considerados ideais para todas as variáveis pesquisadas, mas apenas tem dados com relação ao Índice de Massa Corporal (IMC). Nesse contexto os valores médios foram próximos e, após cálculo, através de planilhas eletrônicas (feito pelos professores), de todos os 185 alunos, os dados foram mais próximos ainda dos dados do Programa Esporte Brasil (PROESP).

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao se considerar os objetivos iniciais, este projeto não pôde alcançar o que era esperado no seu planejamento inicial. As questões de saúde não puderam ser contempladas pela grande complexidade de se relacionar os dados tabelados com tabelas consideradas ideais. O problema se dá pelo fato de que as medidas que influenciam e por vezes determinam no aparecimento de doenças (cardíacas, de pressão, diabetes, etc.) são a Relação Cintura-Quadril (RCQ) e o percentual de gordura e estas não devem ser consideradas sem levar em conta o gênero, a idade, a raça e o protocolo utilizado como referência.

Por outro lado, o da matemática em si, a dimensão que este projeto alcançou foi bem maior que a prevista, pois os alunos tiveram que rever conceitos de equações do primeiro e segundo graus, utilizar instrumentos de medida, trabalhar com arredondamentos, aprender a utilizar calculadoras com aptidão, e decidir qual é a medida estatística que mais bem reflete os dados analisados.

Outro aspecto que jamais se imaginou foi o fato de que este projeto alcançasse outras turmas, pois alguns alunos, de forma totalmente voluntária, começaram a pedir para suas turmas participarem ou até mesmo a reclamar, caso de alguns alunos dos terceiros anos, dizendo que na vez deles este projeto não havia acontecido.

As mudanças de postura e comportamento foram muito marcantes durante e após a realização deste projeto, especialmente a maior participação com perguntas e hipóteses. Após uma avaliação de forma informal, foi possível perceber, através de relatos orais, que os alunos perceberam a importância dos seguintes aspectos: das medições com a maior precisão possível, da escolha da amostra, da base teórica (especialmente com relação aos protocolos de medição e as tabelas utilizadas – OMS ou PROESP) e do aprofundamento em estatística (uso de medidas de variabilidade).

Também trouxe muita satisfação aos alunos a participação do projeto na Mostra Cultural - “Um mundo de conhecimentos ao seu alcance há 85 anos”, que fez parte das comemorações do aniversário da escola (figura 2). Nessa Mostra, os alunos prepararam um circuito em uma sala no qual os visitantes (pais, colegas e comunidade em geral) recebiam um folder (figura 3) com explicações gerais e um espaço para registrarem as medições de massa, altura, índice de massa corporal, relação cintura-quadril e percentual de gordura a serem feitas

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por eles mediante treinamento anterior e supervisão. Para esse dia, os alunos produziram banners com uma bela arte e boa fundamentação teórica (figura 4).

Após o desenvolvimento deste trabalho, houve uma melhor disposição perante o estudo da matemática, e grande parte disto se deve ao aprendizado construído de forma prática e cotidiana em uma dimensão que avança para além das grades da escola e consegue trazer utilidade e razão para alunos e comunidade.

Também houve um pequeno movimento por parte de alguns alunos com relação à busca de uma melhor qualidade de vida. A relação professor-aluno ficou profundamente melhor, a ponto da avaliação corpórea realizada com os professores ser assunto de aulas posteriores.

Figura 6 – Alunos na Mostra Cultural

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Figura 8 – Banners confeccionados para a Mostra Cultural

REFERÊNCIAS

BENEDETTI, T.; PINHO, R. A.; RAMOS, V. M. In: PETROSKY, E. L. (Ed.). Antropometria: técnicas e padronizações. Porto Alegre: Pallotti, 2003. p. 127-140.

DUTRA, Alexander S.; Valença, Ingrid R. Sistema Interativo de Ensino. CPB, 2013.

PROJETO ESPORTE BRASIL: banco de dados. Disponível em: <http://www.proesp.ufrgs.br>. Acesso em: 25 mai. 2014.

Referências

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